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Quando

o nosso mundo
se tornou cristão
Paul Veyne

Quando
o nosso mundo
se tornou cristão

O livro de boa-fé de um descrente que


procura compreender como o Cristianismo,
obra-prima da criação religiosa,
consegue impôr-se a todo o Ocidente.
Ouvrage publié avec le soutien du Centre National du Livre
– Ministère Français Chargé de la Culture –

Obra publicada com o apoio do Centro Nacional do Livro


– Ministério Francês da Cultura –

Título Original: Quand notre monde est devenu chrétien (312-394)


Autor: Paul Veyne
Tradução: Artur Morão
Grafismo: Cristina Leal
Paginação: Vitor Pedro

© Éditions Albin Michel, 2007

Todos os direitos reservados para


Edições Texto & Grafia, Lda.

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Impressão e acabamento:
Papelmunde, SMG, Lda.
1.ª edição, Janeiro de 2009

ISBN: 978-989-95884-2-4
Depósito Legal n.º 286921/09

Esta obra está protegida pela lei. Não pode ser reproduzida
no todo ou em parte, qualquer que seja o modo utilizado,
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Qualquer transgressão à lei do Direito de Autor
será passível de procedimento judicial.
C O L E C Ç Ã O

O panorama das ideias, do pensamento e das transformações


culturais avulta e recorta-se, rico e diverso, na mole de obras e de
acontecimentos com que a humanidade foi deixando a sua incisão no
corpo irrequieto da história.

Neste contexto, a colecção PILARES publicará trabalhos que,


além do seu valor intrínseco, encerrem uma garantia de perenidade
temática que os possam inscrever no rol de textos fundamentais para
a articulação e a conversação, cada vez mais urgente, dos saberes
entre si.
Para Lucien Jerphagnon
e em memória de Claude Roy
I.

O salvador da humanidade:
Constantino

Um dos acontecimentos decisivos da história ocidental e mesmo


mundial deu-se em 312 no imenso Império romano. O século IV
da nossa era mal começara para a Igreja Cristã: de 303 a 311, ela
suportara uma das duas piores perseguições da sua história, que fizera
milhares de mortos. Em 311, um dos quatro co-imperadores que
partilhavam o governo do Império tinha-se resignado a pôr-lhes fim,
reconhecendo amargamente, na sua lei de tolerância, que perseguir
de nada servia; de facto, os numerosos cristãos que haviam renegado
a sua fé para salvar a vida não tinham voltado ao paganismo. Havia,
pois (e nesta época era um motivo de inquietação para um chefe),
lacunas no tecido religioso da sociedade.
Ora, no ano seguinte, em 312, irrompeu o mais imprevisível
dos acontecimentos: outro dos co-imperadores, Constantino, o herói
desta grande história, converteu-se ao cristianismo no seguimento
de um sonho (“com este sinal vencerás”). Nesta época, pensa-se que
apenas cinco ou dez por cento da população do Império (talvez 70
milhões de habitantes) eram cristãos 1. “É preciso nunca esquecer”,
escreve J. B. Bury 2, “que a revolução religiosa feita por Constantino
em 312 foi talvez o acto mais audacioso alguma vez levado a cabo
por um autocrata, desafiando e desprezando o que pensava a grande
maioria dos seus súbditos”.

1) Ou o dobro em certas regiões amplamente cristianizadas, sobretudo na África


e no Oriente grego, onde se pode supor uma difusão por “placas de vizinhança”
e imitação de próximo para próximo. Cf. recentemente Klaus M. GIRARDET
num bom livro, Die konstantinische Wende: Voraussetzungen und geistige Grundlagen
der Religionspolitik Konstantins des Großen, Darmstadt, 2006, p. 82-83.
2) A History of the Later Roman Empire, reed. 1958, New York, Dover Books, vol.
I, p. 360. Citado por Peter BROWN, Society and the Holy in Late Antiquity,
Berkeley/Los Angeles, University of California Press, 1982, p. 97 (La Société
et le sacré dans l’Antiquité tardive, trad. fr. A. Rousselle, Paris, Seuil, 1985, reed.
2002).

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QUANDO O NOSSO MUNDO SE TORNOU CRISTÃO

BANALIDADE DO EXCEPCIONAL

Oitenta anos mais tarde, como mais à frente se descobrirá, nou-


tro campo de batalha e ao longo de outro rio, o paganismo ver-se-á
proibido e, sem ter sido perseguido, saber-se-á vencido. Durante
todo o século IV a Igreja, deixando de ser perseguida, como o fora
frequentemente desde há três séculos, terá sido amparada de todas as
maneiras pela maioria dos Césares, convertidos ao cristianismo; de
tal forma que, no século VI, o Império será quase só povoado por
cristãos e, nos nossos dias, há um bilião e meio de cristãos no nosso
planeta. Também é verdade que, depois dos anos 600, metade das
regiões cristãs que tinham pertencido ao Império se tornará muçul-
mana sem dificuldade aparente.
Que homem foi, pois, este Constantino cujo papel foi decisivo?
Longe de ser o calculador cínico ou supersticioso, como ainda recen-
temente se dizia, foi, na minha opinião, um homem que pensava à
grande; a sua conversão permitia-lhe participar no que ele tinha por
uma epopeia sobrenatural, tomar a sua direcção e assegurar assim
a salvação da humanidade; tinha o sentimento de que, para esta
salvação, o seu reinado era, do ponto de vista religioso, uma época
charneira, onde ele próprio tinha um imenso papel a desempenhar.
Mal se tornou senhor do Ocidente romano (devia ter então 35 anos),
escreveu em 314 aos bispos, “seus queridos irmãos”, que “a santa
eterna e inconcebível piedade do nosso Deus se recusa absolutamente
a suportar que a condição humana continue por mais tempo a errar
nas trevas” 1.
Constantino foi, decerto, sincero – o que é dizer muito pouco e,
no seu caso, é preciso enfrentar o excepcional. Os historiadores estão
menos habituados à excepção do que ao sadio método de “seriação”;
além disso, têm o sentido da banalidade, do quotidiano, ausente em
tantos intelectuais que acreditam no milagre em política ou que, pelo
contrário, “caluniam o seu tempo por ignorância da história” (dizia
Flaubert). Ora Constantino pensava ter sido escolhido, destinado
por Decreto divino, para ter um papel providencial na economia
milenar da Salvação; assim o disse e escreveu num texto autêntico,
que leremos mais à frente, mas tão excessivo que a maior parte dos
historiadores, no seu embaraço, o desdenhou e não fala dele.

1) EUSÉBIO, Vida de Constantino, II, 56.

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O SALVADOR DA HUMANIDADE: CONSTANTINO

Este exagero nada tem, no entanto, de inacreditável, inscreve-se


na série; pois acontece que um soberano, um pensador, um líder reli-
gioso ou político se julgam chamados a salvar a humanidade, a revolu-
cionar o curso do mundo; o pior erro seria duvidar da sua sinceridade.
Esta é tanto mais incrível quanto em Roma o papel imperial era, por
vezes, interpretado muito mais livremente do que o dos nossos reis:
nesses tempos longínquos, quando a imaginação estava no poder não
era entre os estudantes, era no soberano. Mas Constantino, potentado
imaginativo e até megalómano, era também um homem de acção,
modelado pela prudência e pela energia 1; alcançou pois os seus pro-
pósitos: o trono romano tornou-se cristão e a Igreja transformou-se
numa potência. Sem Constantino, o cristianismo teria permanecido
uma seita de vanguarda.

BREVE RESUMO DOS FACTOS

Comecemos por saldar em duas páginas o relato dos aconte-


cimentos. A conversão de Constantino foi um episódio num desses
monótonos conflitos entre generais, sem outro fim a não ser a posse
do trono, que preenchem uma boa metade da história política romana.
Ora, no início do século IV, o Império romano estava dividido entre
quatro co-imperadores que, supostamente, reinariam de modo frater-
nal; dois deles partilhavam o rico Oriente romano (Grécia, Turquia,
Síria, Egipto e outros lugares), enquanto o vasto Ocidente (regiões
do Danúbio, e ainda incluído o Maghreb) estava repartido entre um
certo Licínio, de que voltaremos a falar, e o nosso Constantino que,
por seu lado, governava a Gália, a Inglaterra e a Espanha.
Deveria ter governado também a Itália, mas um quinto ladrão cha-
mado Maxêncio entrara no jogo: usurpara a Itália e Roma. Mais tarde,
os cristãos, para louvar Constantino, pretenderão falsamente que ele
persistira como perseguidor. Foi para arrebatar a Itália a Maxêncio que
Constantino entrou em guerra contra ele, e foi no decorrer desta cam-
panha que se converteu, pondo a sua confiança no Deus dos cristãos

1) “Um grande homem que tudo fez para realizar o que no seu ânimo determinara
fazer” (vir ingens et omnia efficere nitens quae animo simul praeparasset), escreve
EUTRÓPIO (X, 5), que é um patriota religiosamente indiferente entre Cons-
tantino e Juliano (X, 16).

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QUANDO O NOSSO MUNDO SE TORNOU CRISTÃO

para ter a vitória. Esta conversão confluiu num sonho que ele teve na
noite anterior à batalha e no qual o Deus dos cristãos lhe prometeu a
vitória, se ele proclamasse publicamente a sua nova religião.
Com efeito, no dia seguinte, no dia memorável de 28 de Outu-
bro de 312, Deus concedeu-lhe nos arredores de Roma, ao longo do
Tibre, a célebre vitória da Ponte Milvius; Maxêncio foi esmagado e
morto pelas tropas de Constantino, que ostentavam a religião pessoal
do chefe de que elas eram instrumento 1: os seus escudos 2 estavam
marcados por um símbolo novo 3 que, na véspera da batalha, fora
revelado ao imperador durante o sono 4 e que ele mesmo trazia no
seu capacete 5; era aquilo que se iria chamar o “crisma”, formado
pelas duas primeiras letras do nome do Cristo, a saber, as letras gregas
“X” e “P”, sobrepostas e cruzadas.
E no dia seguinte, a 29, Constantino, à frente das suas tropas,
fazia a sua entrada solene em Roma pela Via Lata, que é o actual Corso.
É na data de 29 de Outubro de 312 (e não na do pretenso “édito de
Milão” em 313) que se pode situar o marco-fronteira entre a antigui-
dade pagã e a época cristã 6. Não nos enganemos: o papel histórico de
Constantino não será pôr fim às perseguições (haviam cessado há dois
anos, tendo o cristianismo sido reconhecido lícito, juntamente com o
paganismo), mas fazer do cristianismo, a religião que adoptara, uma
religião favorecida de todas as maneiras, ao contrário do paganismo.

1) O crisma no escudo não implicava de forma alguma que o soldado, detentor


desse escudo, fosse pessoalmente cristão; pelo contrário, o exército perma-
necerá durante muito tempo um foco de paganismo: Ramsay M ACMULLEN,
Christianizing the Roman Empire, A. D. 100-400, New Haven/Londres, Yale UP,
1984, p. 44 -47.
2) In scutis, escreve Lactâncio, pouco depois de 312, no seu De mortibus persecutorum,
XLIV, 5. Na sua carta ao Xá da Pérsia, o próprio Constantino escreverá que
“os seus soldados levam no ombro o sinal consagrado a Deus” (EUSÉBIO, Vida
de Constantino, IV, 9).
3) Sobre este sinal inventado por Constantino, ver Ch. PIETRI em Histoire du
christianisme (dir. J.-M. MAYEUR, Ch. e L. PIETRI, A. VAUCHEZ e M.
VENARD), Paris, Desclée, 1995, vol. II. Naissance d’une chrétienté (250-430), p.
194 -197; o crisma acabou por se tornar uma insígnia mais militar do que cristã:
ver R. MACMULLEN, Christianizing the Roman Empire, op. cit., p. 48 e n.23.
4) Ver Notas complementares, p. 181.
5) EUSÉBIO, Vida de Constantino, I, 31, 4.
6) Ver Notas complementares, p. 181.

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O SALVADOR DA HUMANIDADE: CONSTANTINO

RESUMO DA SUA ACÇÃO

No resto do império, no ano seguinte, em 313, Licínio, que


permaneceu pagão, mas sem ser perseguidor, venceu o co-imperador
perseguidor que reinava no Oriente. Também ele tivera um sonho:
na véspera da batalha, um “anjo” tinha-lhe prometido a vitória se ele
dirigisse uma prece a um certo “deus supremo”; mandou, pois, o seu
exército rezar a este deus supremo 1. Alcançou a vitória, tornou-se
senhor do Oriente e fez aí afixar um édito de tolerância, libertando
assim os cristãos orientais do seu perseguidor. Postos frente a frente,
o pagão Licínio e o cristão Constantino, que doravante partilhariam
o reinado sobre o Império indivisível, tinham-se posto de acordo
em Milão para tratar os seus súbditos pagãos e cristãos em pé de
igualdade; era um compromisso, uma concessão contrária a todos os
princípios, mas indispensável numa época que se queria futuramente
pacífica (pro quiete temporis) 2.
Depois da vitória da Ponte Milvius, os pagãos poderiam supor
que em relação ao deus que lhe dera a vitória, Constantino teria a
mesma atitude que os seus predecessores: depois da sua vitória em
Actium sobre António e Cleópatra, Augusto tinha pago a sua dívida a
Apolo consagrando-lhe, como se sabe, um santuário e um culto local.
Ora, o crisma que figurava nos escudos do exército de Constantino
significava que a vitória fora conseguida graças ao Deus dos cristãos.
Era desconhecer que entre este Deus e as suas criaturas a ligação era
permanente, apaixonada, mútua e íntima, ao passo que entre a raça
humana e a raça dos deuses pagãos, que viviam sobretudo para si mes-
mos, as relações eram, por assim dizer, internacionais 3, contratuais

1) LACTÂNCIO, De mortibus persecutorum (Morte dos perseguidores), XLVI, 3. Com


este “deus supremo” que permanece indeterminado, Licínio evitava contrapor-
-se ao deus cristão, e Lactâncio esquiva-se a mentir e a fazer de Licínio um
cristão: todos, pagãos e cristãos, estavam de acordo sobre a existência de um
deus supremo, no qual cada um podia reconhecer o seu deus preferido.
2) LACTÂNCIO, Morte dos perseguidores, XLVIII, 6 (“édito” de Milão).
3) Permito-me remeter para o meu Empire gréco-romain, Paris, Seuil, 2005, p.
421-428. Dois exemplos: à morte de um príncipe muito estimado, Germani-
cus, a plebe romana destruiu os templos e derrubou os altares, como entre nós
manifestantes assolam uma embaixada estrangeira; no fim da Antiguidade, um
passadista, o imperador Juliano, indignado por ter sofrido uma derrota militar,
recusou-se doravante a sacrificar a Marte.

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QUANDO O NOSSO MUNDO SE TORNOU CRISTÃO

e ocasionais; Apolo não se tinha antecipado em relação a Augusto que


a ele se dirigira e não lhe havia dito que venceria sob o seu sinal.
Nada de mais diferente do que a ligação dos pagãos com as
suas divindades e as dos cristãos com o seu Deus: um pagão estava
contente com os seus deuses se obtivesse socorro pelas suas preces e
pelos seus votos, enquanto um cristão agia antes de modo a que o seu
Deus estivesse contente com ele. Augusto não era o servo de Apolo,
tinha-se dirigido a ele, e os seus longínquos sucessores pagãos também
não serão os servos do Sol Invencível, seu protector ou sua imagem
celeste; ao passo que, no decurso dos vinte e cinco anos seguintes,
Constantino não deixará de repetir que ele é o servo de Cristo, que
o tomou ao seu serviço e lhe concede sempre a vitória.
Sim, eram bem as iniciais do nome de Cristo que ele vira em
sonho; enquanto Licínio havia escutado “o deus supremo” de um
monoteísmo anónimo e santo-e-senha, a cujo respeito todos os espí-
ritos esclarecidos da época podiam estar de acordo. Com a vitória
de 312, o discurso “religioso” do poder sofrera, pois, uma mudança
plena. No entanto, Constantino não pretendia, nunca pretenderá, e
também não os seus sucessores, impor aos seus súbditos pela força a
nova fé. O cristianismo era ainda menos, aos seus olhos, uma “ideo-
logia” para inculcar nos povos por cálculo político (voltaremos in fine
a esta explicação aparentemente profunda, que emerge, de forma
espontânea, no espírito de muitos de entre nós).
Dez anos mais tarde, em 324, a religião cristã tomava de uma
assentada uma dimensão “mundial” e Constantino revestia a estatura
histórica que será doravante a sua: acabava de esmagar no Oriente a
Licínio, outro pretenso perseguidor, de restabelecer em seu proveito a
unidade do Império romano, de reunir as suas duas metades sob o seu
ceptro cristão. O cristianismo tinha doravante, por carreira, o imenso
império que era o centro do mundo e que se considerava como co-ex-
tensivo à civilização. Acabava de nascer o que, durante longos séculos,
se chamará o Império cristão, a Cristandade. Constantino apressou-se
a tranquilizar os seus novos súbditos e a prometer-lhes, invertendo os
termos de 312, que os pagãos do Oriente seriam tratados em pé de
igualdade com os cristãos: que eles permaneçam estupidamente pagãos,
“que possuam, se o desejarem, os seus templos de mentira 1”, que

1) EUSÉBIO, Vida de Constantino, II, 56.

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O SALVADOR DA HUMANIDADE: CONSTANTINO

nunca serão destruídos. O tempo avançara: em 312 a religião tolerada


era o cristianismo, em 324 era o paganismo 1.
Desde o primeiro ano da sua vitória, em 312, a política reli-
giosa do imperador tinha-se tornado visível e não mais mudaria;
pormenorizá-la-emos ao longo deste livro. 1.º Na parte do Impé-
rio de que se tornou senhor e que libertou da perseguição, todas
as grandes decisões, “literalmente todas 2”, que ele toma desde o
Inverno de 312-313 visam preparar o mundo romano para um futuro
cristão. 2.º Mas, demasiado prudente, demasiado pragmático, para
ir mais longe, Constantino será o soberano pessoalmente cristão de
um império que integrou a Igreja, continuando oficialmente pagão;
o imperador não perseguirá nem o culto pagão nem a larga maioria
pagã; limitar-se-á a repetir nos seus documentos oficiais que o paga-
nismo é uma superstição desprezível. 3.º Como o cristianismo era a
convicção pessoal do soberano, instalará fortemente a Igreja como que
por um imperial capricho e porque ele se chamava leão: um César
não se apoiava tanto, como os nossos reis, numa tradição dinástica
e em “leis fundamentais do reino”, e é por isso que houve célebres
“Césares loucos”. Em contrapartida, ele não imporá a sua religião a
ninguém. 4.º Excepto num ponto: por ser pessoalmente cristão, não
tolerará paganismo algum nos domínios que tocam à sua pessoa, como
o culto dos imperadores; igualmente, por solidariedade com os seus
correligionários, dispensará estes do dever de executar ritos pagãos
a título das suas funções públicas. 5.º Apesar do seu profundo desejo
de ver os seus súbditos tornarem-se todos cristãos, não se prenderá à
tarefa impossível de os converter. Não perseguirá os pagãos, não lhes
tirará a palavra, não os desfavorecerá na sua carreira: se estes supers-
ticiosos quiserem condenar-se, são livres de o fazer, é lá com eles;
os sucessores de Constantino também não os contrariarão e deixarão
o cuidado da sua conversão à Igreja, que recorrerá mais à persuasão
do que à perseguição. 6.º O mais urgente, aos seus olhos, não seria
converter os pagãos, mas abolir os nefastos sacrifícios de animais aos
falsos deuses, simples demónios; prometerá um dia fazê-lo, mas não
se atreverá e deixará esse cuidado ao seu devoto filho e sucessor. 7.º
Por outro lado, este benfeitor e paladino leigo da fé, desempenhará,
perante os “seus irmãos, os bispos”, com modéstia, mas sem hesitação,

1) A. ALFÖLDI, The Conversion of Constantine, op. cit., p. 88.


2) Aderimos à tese de Klaus M. GIRARDET, Die konstantinische Wende, op. cit., p. 48.

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QUANDO O NOSSO MUNDO SE TORNOU CRISTÃO

a função inédita e inclassificável, autoproclamada, de uma espécie de


presidente da Igreja 1; imiscuir-se-á nos assuntos eclesiásticos e não
agirá contra os pagãos, mas contra os maus cristãos, separatistas ou
heréticos.

UMA TOLERÂNCIA INSINUANTE

Converter os pagãos? Vasto programa. Constantino reconhece


que a sua resistência (epanastasis) é tal que renuncia a impor-lhes a Ver-
dade e continuará tolerante, apesar dos seus anseios; depois das suas
duas grandes vitórias, em 312 e em 324, tem o cuidado de tranquilizar
os pagãos das províncias que acabara de adquirir: “Que aqueles que se
enganam gozem da paz, que cada um conserve o que a sua alma quer
ter, que ninguém atormente ninguém 2.” Manterá as promessas, o
culto pagão só será abolido meio século depois da sua morte e apenas
Justiniano, dois séculos mais tarde, começará a querer converter os
últimos pagãos, tal como os Judeus.
Tal foi o “pragmatismo de Constantino 3”, que teve uma grande
vantagem. Não obrigando os pagãos à conversão, Constantino evitou
virá-los contra si e contra o cristianismo (cujo futuro estava bem
menos assegurado do que se crê e que quase sossobrou em 364, como
se verá). Frente à elite partidista que era a seita cristã, as massas pagãs
puderam viver na incúria, indiferentes ao capricho do seu imperador;
só uma pequena elite de letrados pagãos sofria.

1) Ver, por exemplo, a carta de Constantino ao concílio de Arles em 314, em H.


VON SODEN, Urkunden zur Geschichte des Donatismus, Kleine Texte, CXXII,
Bona, 1913, n.º 18; ou em Volkmar KEIL, Quellensammlung zur Religionspolitik
Konstantins des Grossen, übersetzt und herausgegeben, Darmstadt, 1989, p. 78.
2) Em EUSÉBIO, Vida de Constantino, II, 56, 1 e 60, 1. Pelo que H. A. DRAKE
pôde afirmar que o desígnio de Constantino era “criar um consenso duradoiro
entre pagãos e cristãos num espaço público religiosamente neutro” (Constantine
and the Bishops: the Politics of Intolerance, Baltimore, Johns Hopkins University
Press, 2000, p. XV e 401-409). Talvez, mas o desprezo oficialmente alardeado
pelo imperador em face da tolice do paganismo concilia-se mal com esta visão
demasiado generosa.
3) Segundo a expressão de Pierre CHUVIN, Chronique des derniers païens: la dispa-
rition du paganisme dans l’Empire romain, du règne de Constantin à celui de Justinien,
Paris, Les Belles Lettres/Fayard, 1990, p. 37-40.

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O SALVADOR DA HUMANIDADE: CONSTANTINO

Constantino, dizíamos nós, deixou em paz os pagãos e os seus


cultos, mesmo depois de 324, quando a reunificação do Oriente e
do Ocidente, sob o seu ceptro, o tornou todo-poderoso. Neste ano,
dirige proclamações aos seus novos súbditos orientais e, em seguida,
a todos os habitantes do seu império 1. Escritas num estilo mais
pessoal do que oficial, saem da pena de um cristão convencido que
exprime em palavras a ignomínia do paganismo, que proclama que o
cristianismo é a única boa religião, que argumenta neste sentido (as
vitórias do príncipe são uma prova do verdadeiro Deus), mas que não
toma nenhuma medida contra o paganismo: Constantino não será,
por seu turno, um perseguidor, o Império viverá em paz. Melhor
ainda, proíbe formalmente a quem quer que seja de se dar mal com
o seu próximo por motivos religiosos: a tranquilidade pública deve
reinar – o que visava, sem dúvida, cristãos demasiado zelosos, prontos
a arremeter contra as cerimónias pagãs e os templos.
O papel do imperador romano era de uma ambiguidade de
enlouquecer (três séculos antes de Constantino, arrastou para a para-
nóia o primeiro sucessor, Tibério, do fundador do regime imperial).
Um César devia ter quatro linguagens: a de um chefe cujo poder
civil é de tipo militar e que dá ordens; a de um ser superior (mas
sem ser um deus vivo) em relação ao qual aumenta o culto da per-
sonalidade; a de um membro de um grande conselho do Império, o
Senado, onde ele é apenas o primeiro entre os seus pares, que nem
por isso deixam de recear pela sua cabeça; a do primeiro magistrado
do Império, que comunica com os seus concidadãos e diante deles se
explica. Nas suas ordenanças ou proclamações de 324, Constantino
escolheu esta linguagem misturando-a a uma quinta, a de um príncipe
cristão convicto, propagandista da sua fé e que vê no paganismo uma
“superstição desvantajosa”, enquanto o cristianismo é a “santíssima
Lei” divina 2.
Manteve igualmente as suas promessas de tolerância religiosa e de
paz civil, que nenhuma perseguição ensanguentará; tão-só a perturba-
rão as querelas entre cristãos. Não força ninguém a converter-se 3,

1) EUSÉBIO, Vida de Constantino, II, 24 -42 e 48-60.


2) Código Teod., XVI, 2, 5: aliena superstitio, sanctissima lex (em 323).
3) R. MACMULLEN, Christianizing the Roman Empire, op. cit., p. 86 -101.

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QUANDO O NOSSO MUNDO SE TORNOU CRISTÃO

nomeia pagãos para os mais altos cargos das funções do Estado 1,


não faz nenhuma lei contra os cultos pagãos (mesmo depois dos seus
triunfos de 324, embora por vezes tal se afirme) 2 e deixa o Senado
de Roma continuar a atribuir créditos aos sacerdotes oficiais e aos
cultos públicos do Estado romano, que permanecem como antes e
perdurarão até cerca do final do século.
Será a palavra tolerância a adequada? Com risco de se ser inu-
tilmente didáctico, distingamos. Poderia ser-se tolerante por agnos-
ticismo, ou ainda por se pensar que vários caminhos levam à pouco
acessível Verdade 3. Podemos tornar-nos tolerantes por compro-
misso, porque se está cansado das guerras de Religião ou porque a
perseguição falhou. Pode também supor-se, como os Franceses, que
o Estado não tem de conhecer a eventual religião dos cidadãos, que
é um assunto privado seu, ou, como os Americanos, que os Esta-
dos não devem reconhecer, proibir ou favorecer nenhuma confissão.
Constantino, porém, acreditava na única Verdade, sentia-se no direito
e no dever de a impor 4, mas, sem se arriscar a passar aos actos,
deixava em paz aqueles que se enganavam, no interesse, escrevia
ele, da tranquilidade pública; por outras palavras, porque embateria
numa forte oposição. Por isso, o seu império será, ao mesmo tempo,
cristão e pagão.
Mas Constantino afirma, aliás, que existe a seu favor um domí-
nio reservado: como o cristianismo é a sua religião pessoal (e, em
seguida, tornar-se-á praticamente, sob os seus sucessores cristãos, a
do trono), não permite que a sua própria pessoa seja maculada pelo
culto pagão 5. Vem a Roma em 315 para celebrar o seu décimo ano

1) Ver uma lista de nomes em A. ALFÖLDI, The Conversion of Constantine, op. cit.,
p. 119.
2) Entre 324 e a sua morte em 337, Constantino não promulgou nenhuma lei
antipagã (K. M. GIRARDET, Die konstantinische Wende, op. cit., p. 124).
3) Só no fim do século é que o pagão Símaco alegará frente aos cristãos: “Não é
possível, só por um caminho, chegar a tão grande mistério” (Relatio, III, 10).
4) Porque o Senhor Jesus confiou aos seus discípulos a missão de converter toda
a terra.
5) Recordemos o texto muito discutido de Zósimo, II, 29, 5, onde se depara com
a mesma conduta dupla: permitir aos pagãos realizar as suas cerimónias, não se
manchar a si mesmo; numa data muito discutida, Constantino “participou na
festividade (heortê)”, mas “manteve-se apartado do santo sacrifício (hierá hagis-
teia)”. Ver a erudita nota de Fr. PASCHOUD na sua edição, vol. I, p. 220 -224,

18
O SALVADOR DA HUMANIDADE: CONSTANTINO

de reinado. Estas festas decenais eram celebrações patrióticas onde,


após dez anos do mais feliz dos reinos, se cumpriam, mediante sacri-
fícios, os “contratos” de votos concluídos dez anos antes pela salvação
do soberano e se renovava, por meio de outros sacrifícios, a garantia
para os dez felizes anos vindouros; Constantino deixou o povo alegrar-
-se em grandes festas, mas proibiu todo o sacrifício de animais 1,
desinfectando assim (como diz Alföldi) os ritos pagãos.
Por brevidade, atenhamo-nos a um documento célebre onde se
encontra o mesmo paganismo desinfectado e o mesmo horror sagrado
pelo sangue dos sacrifícios. A cidade de Spello, na Úmbria, pediu a
Constantino autorização para ali instituir uma grande festa anual,
cujo pretexto obrigatório seria o culto dos imperadores; chegava até a
propor-se erigir um templo aos imperadores mortos e divinizados da
dinastia reinante (incluindo o próprio pai de Constantino) 2. Como
toda a festa de culto imperial, comportava combates de gladiadores,
prazer supremo, raro, custoso e puramente secular.
Constantino autoriza a festa, os gladiadores (que ele hesitou
sempre em proibir, tanto os seus combates eram populares), o templo
dinástico, o sacerdote imperial, mas proíbe a este último infligir à sua
dinastia a mácula dos sacrifícios: será culto imperial, sem o sangue das
vítimas. Já que o sacerdote imperial, pela sua função, depende do pró-
prio imperador, Constantino serve-se deste laço pessoal para proibir
um culto pagão. Só proíbe o paganismo e favorece o cristianismo na

e a discussão de K. M. GIRARDET, Die konstantinische Wende, op. cit., p. 61, n.


77 (e todo o contexto deste sábio).
1) EUSÉBIO, Vida de Constantino, I, 48, cuja linguagem rebuscada não é clara,
decerto propositadamente. Será preciso supor que Constantino fez celebrar
os seus dez anos de reinado com uma eucaristia cristã, como parecem pensar
Cameron e Hall no seu comentário da Vida de Constantino? Mas Eusébio seria
menos arrevesado em dizê-lo. Suponho antes que Constantino autorizou ritos
pagãos, mas reduzidos a grinaldas, libações e incenso, sem imolação de animais
(“sem fogo nem fumo”, escreve Eusébio). Ver-se-á, com efeito, que o sangue
do sacrifício é que era, para um cristão, a abominação da desolação. Quanto
às festas dos vinte e trinta anos de reino, serão celebradas respectivamente em
Niceia e até em Jerusalém (onde então se encontrava Constantino), decerto sem
o menor rito pagão. Em contrapartida, a festa dos dez anos de reino oferecera
menos facilidades, porque tinha sido celebrada na própria Roma, que era então
“o Vaticano do paganismo”.
2) Constâncio Cloro tem o título de divus em certas moedas póstumas.

19
QUANDO O NOSSO MUNDO SE TORNOU CRISTÃO

esfera (ampla, é verdade) que rodeia a sua pessoa; do mesmo modo,


recorde-se, fez gravar o crisma nos escudos dos seus soldados, porque
o exército é o instrumento do imperador, seu chefe directo.
Por solidariedade com os seus correligionários, teve o cuidado
de os poupar, como a si mesmo, ao contacto impuro do sangue das
vítimas sacrificiais: os magistrados cristãos são dispensados de cum-
prir, como o exigiam as suas funções, o rito pagão das lustrações
que terminavam num sacrifício; a lei ameaça com bastonadas ou com
multa quem quer que forçasse os conselheiros municipais cristãos a
cumprir esta “superstição 1”. Duplo e até triplo benefício: os cristãos
ricos ficavam assim privados deste pretexto, para recusar os custosos
encargos municipais 2, e a cristãos pouco escrupulosos sugeria-se ter
uma conduta mais conforme à sua fé.
Constantino poupa assim aos cristãos, fossem eles criminosos,
a obrigação legal de pecar. Alguns culpados eram condenados a com-
bater como gladiadores forçados. Ora, a Lei divina diz “não matarás”
e, desde sempre, os gladiadores não eram admitidos na Igreja. Cons-
tantino decidiu que, no futuro, as condenações aos combates da arena
seriam substituídas, para os cristãos, pelo trabalho forçado nas minas
e pedreiras, “de modo que os condenados experimentem o castigo dos
seus crimes sem derramamento de sangue”; os sucessores do grande
imperador observarão a mesma lei 3.
Convém precisar que os condenados à morte, aos trabalhos for-
çados ou à arena se tornavam propriedade do Fisco imperial 4 e, neste
sentido, do próprio imperador; Constantino respeita, pois, o seu
princípio de impor a sua religião só no interior da sua esfera pessoal.
Em virtude do mesmo princípio, o seu filho Constâncio II proibirá aos
altos magistrados pagãos, que continuam a dar a Roma espectáculos

1) Código Teod., XVI, 2, 5, em 323.


2) Ch. PIETRI, “Constantin en 324”, in Crises et redressements dans les provinces
européennes de l’Empire, Actes du colloque de Strasbourg édités par E. Frézouls,
Estrasburgo, AECR, 1983, p. 75.
3) São as leis, Código Teod., IX, 40, 8 e 11 (em 365 e 367).
4) O Fisco pertencia ao imperador. As minas e as pedreiras eram também pertença
do imperador e dependiam do Fisco; os condenados eram nelas escravos do
Fisco, uma espécie de Gulag, que possuía campos de trabalho e não era apenas
uma administração dos impostos.

20
O SALVADOR DA HUMANIDADE: CONSTANTINO

de arena, utilizar como gladiadores soldados (o exército é coisa do


príncipe) ou oficiais do Palácio imperial 1.
Em suma, Constantino respeitou, mais ou menos, o seu prin-
cípio pragmático de tolerância. No entanto, aconteceu-lhe, em 314,
“esquecer-se” de celebrar 2 os muito solenes jogos Seculares que, uma
vez em todos os cento e dez anos, festejavam, durante vários dias e
noites de cerimónias pagãs e de sacrifícios, a data lendária da fundação
de Roma. Aconteceu-lhe igualmente tomar algumas medidas muito
astuciosas, tais como instituir o repouso dominical, o que pormeno-
rizaremos mais à frente; ver-se-á também que uma lei onde Constan-
tino impunha a abolição total dos sacrifícios pagãos não foi aplicada.
O culto pagão só começará a ressentir-se com o seu sucessor.
Constantino violou em parte o equilíbrio entre as duas religiões,
não por atacar o paganismo, mas por favorecer os cristãos: mostrava
a todos os seus súbditos que o seu soberano era cristão, apodava o
paganismo de baixa superstição nos seus textos oficiais e reservava
as tradicionais liberalidades imperiais para a religião cristã (mandou
construir muitas igrejas e nenhum templo). Embora o paganismo
continue a ser uma religio licita e Constantino seja, como todo o
imperador, o Sumo Pontífice do paganismo, conduz-se em todos os
domínios como protector dos cristãos, e somente deles.
Graças a ele, a lenta mas completa cristianização do Império
pode começar; a Igreja, de “seita” proibida que fora, era agora mais
do que uma seita lícita: estava instalada no Estado e acabará, um dia,
por suplantar o paganismo como religião costumeira. Durante os três
primeiros séculos, o cristianismo permanecera uma seita, no sentido
nada pejorativo que os sociólogos alemães dão a esta palavra: um
grupo, onde indivíduos decidem entrar, um conjunto de crenças a que
alguns se convertem, por oposição a uma “igreja”, a um conjunto de
crenças nas quais se nasce e que são as de todos. “Tornamo-nos cris-
tãos, não se nasce cristão”, escrevia Tertuliano 3 em 197. Esta lenta
passagem da seita ao costume será a obra do enquadramento clerical
da população, tornado possível porque a Igreja será apoiada e favore-
cida fiscalmente pelos imperadores, e também porque o cristianismo

1) Código Teod., XV, 12, 2.


2) ZÓSIMO, II, 7.
3) TERTULIANO, Apologético, XVIII, 4.

21
QUANDO O NOSSO MUNDO SE TORNOU CRISTÃO

era a religião do próprio governo, que desprezava publicamente o


paganismo.
Um cristão poderá assim, cerca do ano 400, ter um senti-
mento de triunfo iminente: “A autoridade da Fé expande-se no mundo
inteiro 1.” Mas onde é que a nova religião ia buscar o seu poder sobre
os espíritos? A sua superioridade espiritual sobre o paganismo era
irrecusável, como se verá, mas só uma elite religiosa podia ser sensível
a isso. E porque é que o Imperador em pessoa se tinha convertido?
Quando Constantino veio ao mundo, o cristianismo tinha-se
tornado “a questão quente do século 2”; quem possuísse alguma
sensibilidade religiosa ou filosófica estava preocupado com isso e
vários letrados já se haviam convertido. É preciso pois, com temor
e tremor, tentar esboçar um quadro do cristianismo ao longo dos
anos 200 -300, para enumerar os motivos muito diversos que podiam
tornar tentadora uma conversão. O motivo da conversão de Constan-
tino é simples, diz-me Hélène Monsacré: aquele que queria ser um
grande imperador carecia de um deus grande. Um Deus gigantesco
e amante que se apaixonava pela humanidade despertava sentimentos
mais fortes do que a grei dos deuses do paganismo, que viviam só
para si; este Deus desenrolava um plano não menos gigantesco para
a salvação eterna da humanidade; imiscuía-se na vida dos seus fiéis,
exigindo deles uma moral estrita.

1) SANTO AGOSTINHO, Confissões, VI, XI, 19.


2) Como escrevia em 1887 V. SCHULTZE, citado por A. ALFÖLDI, The Conver-
sion of Constantine, op. cit., p. 10.

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Índice

I. O salvador da humanidade: Constantino ....................... 9


II. Uma obra-prima: o cristianismo ................................. 23
III. Outra obra-prima: a Igreja ........................................ 41
IV. O sonho da Ponte Milvius,
a fé de Constantino, a sua conversão ............................ 55
V. Pequenos e grandes motivos da conversão de Constantino ... 69
VI. Constantino “presidente” da Igreja ............................... 83
VII. Um século duplo: o Império pagão e cristão .................. 93
VIII. O cristianismo vacila, em seguida triunfa ...................... 107
IX. Uma religião de Estado e mesclada. A sorte dos Judeus .... 115
X. Existe a ideologia? ................................................... 129
XI. Tem a Europa raízes cristãs? ...................................... 143

Apêndice .............................................................. 157


Notas complementares ............................................. 181

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