Você está na página 1de 41

PSICOMOTRICIDADE:

ASPECTOS TEÓRICOS
E PRÁTICOS

Professora Me. Márcia Gomes E. da Luz


FATECIE Unidade 1 Diretor Geral
Rua Getúlio Vargas, 333, Gilmar de Oliveira
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898 Diretor de Ensino e Pós-graduação
Daniel de Lima
FATECIE Unidade 2
Rua Candido Berthier Diretor Administrativo
Fortes, 2177, Centro Eduardo Santini
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898 Coordenador NEAD - Núcleo
de Educação a Distância
FATECIE Unidade 3 Jorge Van Dal
Rua Pernambuco, 1.169,
Centro, Paranavaí-PR Coordenador do Núcleo de Pesquisa
(44) 3045 9898 Victor Biazon

FATECIE Unidade 4 Secretário Acadêmico


BR-376 , km 102, Tiago Pereira da Silva
Saída para Nova Londrina
Paranavaí-PR Projeto Gráfico e Editoração
(44) 3045 9898 Douglas Crivelli

www.fatecie.edu.br Revisão Textual


Leandro Vieira

Web Designer
Thiago Azenha

FICHA CATALOGRÁFICA

FACULDADE DE TECNOLOGIA E
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ.
Psicomotricidade:
Aspectos Teóricos e Práticos
Márcia Gomes E. da Luz
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2018. 41 p.
As imagens utilizadas neste Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
livro foram obtidas a partir
do site ShutterStock Zineide Pereira da Silva.
PALAVRA DA DIREÇÃO

Prezado Acadêmico(a),

É com muita satisfação que inauguramos um novo mundo de oportunidades e


expansão de nossa instituição que estrapolam os limites físicos e permite por
meio da tecnolgias digitais que o processo ensino educação ocorra de formas
ainda mais dinâmicas e em consonância com o estilo de vida da sociedade
contemporânea.

Empregamos agora no Ensino a Distância toda a dedicação e recursos para


oferecer a você a mesma qualidade e excelência que virou a marca de nosso
grupo educanional ao longo de nossa história.

Queremos lembrar a você querido aluno, que a Faculdade Fatecie nasceu do


sonho de um grupo de professores em contribuir com a sociedade por meio da
educação. Motivados pelo desafio de empreender, tornaram o sonho realidade
com a autorização da faculdade fatecie no ano de 2007. Desde o princípio a
fatecie parte da crença no sonho coletivo de construção de uma sociedade
mais democrática e com oportunidades para todos, onde a educação prepara
para a cidadania de qualidade.

Toda dedicação que a comunidade acadêmica teve ao longo de nossa história


foi reconhecido ao conquistarmos por duas vezes consecutivas o título de
Faculdade Número 1 do Paraná. Um feito inédito para paranavaí e toda
região noroeste. No ranking, divulgado pelo mec em 2014 e 2015, a Fatecie
foi destaque como a faculdade melhor avaliada em todo o estado. Posição
veiculada em nível nacional pela Revista Exame e Folha de São paulo,
apontando a Fatecie como a 1ª colocada no Paraná.

Essas e outras conquistas que obtivemos ao longo dos nossos 10 anos de


história tem como base a proposta global da faculdade fatecie, que consiste
em criar um ambiente voltado para uma abordagem multidisciplinar, crítica e
reflexiva, onde se desenvolvem as atividades ensino, pesquisa e extensão.
Para isso, a Fatecie conta com um corpo docente composto, em sua maioria,
por professores com mestrado e doutorado e com ampla experiência
profissional nas mais diversas áreas do mercado e da educação.

Seja bem-vindo!

Direção
Faculdade Fatecie
AUTOR

Profa. Me Márcia Gomes E. da Luz

Especialista em Psicologia e Doutoranda em Educação pela


Universidade Estadual de Maringá (UEM). Coordenadora do
curso, de estágios e docente do curso de Psicologia de uma
Instituição de Ensino Superior. Professora de pós-graduação
presencial e semipresencial e ministrante de palestras e cursos
de capacitação para professores.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/9106813768384390
APRESENTAÇÃO

Olá, Caro (a) Aluno (a)!!

É um grande prazer tê-lo por perto. Espero que juntos possamos conhecer um
pouco mais sobre a Psicomotricidade, uma área do conhecimento que vem
crescendo a cada dia mais. Estudos sobre este tema tornam-se de grande
importância para profissionais que almejam trabalhar com o desenvolvimento
infantil numa perspectiva da Psicomotricidade. Nossa disciplina buscou apre-
sentar sobre a importância da psicomotricidade, suas implicações e os ganhos
acarretados ao desenvolvimento infantil. Ela foi desenvolvida da seguinte for-
ma: Na primeira Unidade apresentamos os conceitos históricos da Psicomotri-
cidade e a importância do afeto. Na segunda Unidade, falamos sobre os ele-
mentos básicos da Psicomotricidade. Na terceira Unidade, apresentamos a im-
portância das relações interpessoais e a Psicomotricidade. E na quarta e última
Unidade, discorremos sobre a importância da Psicomotricidade em crianças
com idade pré-escolar.

Bem, Caro (a) aluno (a), nossa disciplina é composta por essas temáticas.

Espero que você goste e aproveite bastante.

Boa leitura e um ótimo estudo!!!


SUMÁRIO

CAPÍTULO 1
07 | Psicomotricidade: Considerações históricas e a Importância do afeto

CAPÍTULO 2
16 | Psicomotricidade e seus Elementos Básicos

CAPÍTULO 3
25 | A Importância das Relações para o Desenvolvimento Infantil

CAPÍTULO 4
32 | Psicomotricidade na Pré-Escola
1
PSICOMOTRICIDADE:
CONSIDERAÇÕES
HISTÓRICAS E A
CAPÍTULO
IMPORTÂNCIA DO AFETO

1. Histórico da Psicomotricidade

Caro (a) Aluno (a), o termo psicomotricidade tem sua origem no grego e no la-
tim. Em que psyché (grego) significa “alma” e o verbo moto (latim) significa
“mover, agitar fortemente”. Para a Associação Brasileira de Psicomotricidade
(ABP), ela é uma concepção de movimentos integrados e organizados, por
meio das experiências vividas pelo indivíduo, cuja ação é resultado de sua sub-
jetividade, linguagem e socialização (OLIVEIRA, 2017).

A psicomotricidade originou-se da palavra “psicomotor”, criada por um médi-


co francês chamado Phellipe Tissié (1852-1935) no final do século XIX, “que o
lançou para designar a área cortical correspondente à junção entre as funções
do pensamento e do movimento corporal, ou seja, o córtex frontal do cérebro”
(OLIVEIRA, 2017, p. 16). A psicomotricidade passou a existir enquanto área de
investigação científica e intervenção profissional nas primeiras décadas do sé-
culo XX. Seu pioneiro foi o neurologista francês Ernest Drupé (1862-1921).

Dupré utilizou o termo psicomotricidade pela primeira vez no ano de 1909, ao


estudar a “Síndrome da debilidade motora” e na sequência estudou a “Síndro-
me da debilidade mental”. Dupré denominou seu estudo de “Psicomotricidade
da criança”. Levin (1995, apud Oliveira, 2017, p. 16) nos informa sobre a última
Síndrome mencionada:

Foi caracteriza por Drupé como um estado patológico


congênito da motilidade, frequentemente hereditário, ca-
racterizado pelo exagero dos reflexos tendinosos, pertur-
bação do reflexo da planta do pé, sincinesia, torpeza dos
movimentos voluntários e, finalmente, por uma variedade
hipertonia muscular difusa em relação aos movimentos in-
tencionais e que têm impossibilidade de realizar volunta-
riamente resolução muscular.

Podemos compreender Caro (a) Aluno (a) que neste contexto já existia uma vi-
sível relação entre anomalias motrizes e anomalias psicológicas, fato este que
contribuiu para a formulação do termo psicomotricidade.

PÁGINA 7
Oliveira (2003) pontua que desde a Antiguidade é possível observarmos indí-
cios de preocupação com esta temática. Aristóteles (filósofo grego) já procla-
mava um primórdio de pensamento psicomotor ao enfatizar sobre a importân-
cia da ginástica para um melhor desenvolvimento do espírito. Compreendia que
o homem era constituído de alma e corpo, sendo que a primeira deveria co-
mandar. Ele valorizava muito a ginástica porque considerava que ela era es-
sencial para a educação do corpo. A ginástica deveria ser praticada até o pe-
ríodo da adolescência para não prejudicar o desenvolvimento do espírito. Ele
advertia que a ginástica deveria ser algo mais do que apenas exercício pelo
exercício. O jovem deveria procurar o melhor exercício para seu tipo de tempe-
ramento.

A psicomotricidade teve influência da visão dualista cartesiana, que compreen-


dia o homem como ser fragmentado entre mente e corpo. Para o filósofo René
Descartes o corpo era separado da mente e consequentemente do pensamen-
to. Aos poucos essa concepção foi modificando e sendo trocada pela ideia de
que o homem era um ser global e por isso por meio dos movimentos corporais
demonstraria seus sentimentos.

No século XX, na França, os estudos sobre a psicomotricidade foram impulsio-


nados após aparecerem distintas linhas de pensamentos, entre elas: Psico-
pedagogia, Biomedicina e Psicanálise. No início, esta área esteve fortemente
vinculada à biomedicina já que a motricidade humana está diretamente ligada à
maturação. Por muitos anos a psicomotricidade compreendia que havia o mes-
mo padrão de maturação para todas as pessoas. A partir dessa ideia, vários
testes que mensuravam a maturação foram desenvolvidos. Alguns autores fo-
ram fundamentais para a desvinculação entre psicomotricidade e biomedicina,
entre eles: Dupré, conforme já mencionado, Piaget, Wallon e Guilmain.

Com o passar dos tempos outros profissionais foram se interessando pela psi-
comotriciade: psicólogos, pedagogos e professores de educação física. Em
meados da década de 70, estudiosos começaram a conceituá-la como uma
motricidade relacional. Neste momento, mente e corpo foram sendo conside-
rados indissociáveis. Os aspectos físicos e psíquicos passaram a serem traba-
lhos em conjunto. Ela passou de uma perspectiva clínica para outra educativa.

PÁGINA 8
2. Períodos da Psicomotricidade

A seguir mencionaremos outros dois estudiosos que se destacaram na História


da Psicomotricidade. Eles influenciaram não somente a Europa, mas também a
América, especialmente a América Latina, foram eles: André Lapierre e Bernard
Aucouturier:

André Lapierre: É considerado o pai da psicomotricidade relacional, pois foi


a partir de seus trabalhos, na década de 1970, que essa vertente surgiu na
França. Em um primeiro momento, trabalhou com reeducação psicomotora
de crianças que apresentavam “inadequação escolar”. Com base nessa
experiência, Lapierre propôs que os problemas emocionais seriam uma das
causas do fracasso escolar.
Bernard Aucouturier: Ao lado de Lapierre, é também considerado o criador
da psicomotricidade relacional. Formou-se em Educação Física em 1959. Em
1961, foi nomeado professor de um liceu em Lyon. Teve início, então, seu
interesse em relação a reeducação de crianças surdas. Em 1962, tornou-se
professor do Centro de Reeducação Física de Tours, que acolhia crianças
que apresentavam distúrbios morfológicos e funcionais e graves distúrbios de
comportamento. Foi então que Aucouturier iniciou sua prática psicomotora nos
campos educativo e terapêutico.
Quadro 1 – História da Psicomotricidade. Fonte: Oliveira (2017, p. 19)

Sob a influência desses dois profissionais da educação física, a psicomotricida-


de passou por três períodos, entre eles: “continuador, inovador e ruptura”.

Período continuador: É caracterizado pela primeira vertente utilizada pe-


los autores. Suas publicações apresentavam uma linha teórico-metodológica
funcionalista, como campo de estudo e prática pedagógica. Neste período as
crianças realizavam testes de avaliação do perfil psicomotor. A partir dos resul-
tados obtidos, eram indicados exercícios às famílias para desenvolver as capa-
cidades e habilidades da criança. O trabalho desenvolvido focava os déficits da
criança e não suas potencialidades. Nesse período, outros pesquisadores tive-
ram importância significativa: Jean Le Boulch, Pierre Vayer e Louis Picq.

Período inovador: Neste período ocorreu uma evolução na linha relacional.


Lapierre e Aucouturier consideravam que a psicomotricidade funcional não era
adequada quando se relacionava a educação e reeducação. Esses autores
postulavam suas teorias baseando-se em prática psicomotriz tanto em criança
como adultos. Essa nova concepção era exclusividade desses dois autores, os
demais continuavam a trabalhar com enfoque funcional. Eles observavam que
seus alunos apresentavam melhoras após as relações afetivas estabelecidas
com o facilitador. Nesse período o trabalho focava nas potencialidades dos alu-
nos.

PÁGINA 9
Período de ruptura: Os trabalhos de Lapierre e Aucouturier acabaram tendo
seus trabalhos distanciados. Aucouturier defendia a capacidade do jogo sen-
sório-motor e Lapierre compreendia que o adulto intervia no jogo simbólico da
criança.

Podemos perceber que muitos pesquisadores se interessaram e ainda se in-


teressam pelo estudo da psicomotricidade. Oliveira (2003) adverte que muito
se tem escrito sobre sua importância e significado. Esta apresenta mais dois
autores que estudaram o assunto de forma bastante esclarecedora, embora
em perspectivas de áreas distintas: O primeiro foi Merleau-Ponty (1971) que
com uma visão muito específica, supera a divisão dualista entre mente e corpo.
Para ele, o homem é uma realidade corporal, é seu próprio corpo. Chamava de
subjetividade encarnada. Compreendia que na ação a espacialidade do corpo
se completava e uma análise do movimento se fazia necessária.

O segundo autor, mencionado por Oliveira (2003) é Harrow (1972) que fez um
estudo sobre o homem primitivo, enfatizando como sua sobrevivência estava
vinculada ao desenvolvimento psicomotor. As atividades básicas da vida eram
pesca, caça, colheita e só se tornavam possíveis pela capacidade psicomotora
do sujeito. Necessitavam de destreza, coordenação, força, velocidade para sua
sobrevivência.

Atualmente o homem também necessita dessas habilidades, embora tenha


evoluído a ponto de uma melhor adaptação ao meio. Mesmo assim necessita
de boa percepção auditiva e visual, lateralização, faculdade de simbolização,
poder de concentração, entre outros elementos da psicomotricidade.

3. O desenvolvimento da Psicomotricidade no Brasil

Os primeiros trabalhos desenvolvidos no Brasil foram realizados por professo-


res de Educação Física. Eles lutaram para que a psicomotricidade se tornasse
disciplina obrigatória nos currículos de seu curso e também nos de pedagogia.
Até então ela era aplicada somente à área clínica e reeducativa. Outro pes-
quisador que contribuiu com os estudos e a evolução da psicomotricidade no
Brasil foi Airton Negrine. Este mudou do partido da linha funcionalista para um
defensor da relacional. Hoje atua em espaços abertos e fechados com crianças
e adultos.

A psicomotricidade deve buscar estratégias que impulsionem o desenvolvimen-


to de alunos com dificuldades. É importante que se observe a todo instante o
que o aluno quer dizer por meio de seu corpo. Nesse sentido, a observação e
escuta são essenciais. Prefere-se adotar os termos “brincar e atividade lúdica”.
Considera que a criança brinca com os objetos a sua volta desde os primeiros

PÁGINA 10
anos de vida. Passa de brincadeiras simples até atividades mais complexas e
elaboradas como jogos, dança, etc.

Outro fator que influenciou os estudos da psicomotricidade no contexto educa-


cional no mundo, inclusive posteriormente no Brasil, foi a classificação de in-
teligência. Ela teve sua gênese na concepção cartesiana sobre o ser humano.
Esse método propunha que o homem fosse qualificado com base em um pa-
drão de homem e inteligência na sociedade. Os testes de Binet e Simon, no
início do século XX, determinavam se o indivíduo estava apto ou não a ir à es-
cola.

Esse foi o motivo pelo qual muitos alunos foram encaminhados à escola espe-
cial. Nesse contexto, se classificava o aluno por “falta” de inteligência e não por
suas capacidades.

As classes especiais passaram a aumentar significativamente e o ensino regu-


lar não tinha preocupação com a defasagem do aluno, uma vez que esta era
vista como sendo de origem orgânica. Inicialmente era a área de medicina que
se envolvia com a educação do indivíduo. Durante certo tempo, os neurologis-
tas se ocuparam das causas dos distúrbios de aprendizagem, mas aos poucos
foi percebendo que não conseguiam encontrar respostas para todas as causas
dos distúrbios de aprendizagem. Passaram a perceber que as dificuldades de
aprendizagem não estavam relacionadas somente às disfunções cerebrais e
que outros fatores também estavam envolvidos. Que as pessoas tinham suas
diferenças e cada um apresentava suas causas distintas.

Sabemos hoje que as dificuldades estão ligadas a vários aspectos, como: emo-
cionais, cognitivos e motores. A psicomotricidade que considera a importância
do corpo em movimento trouxe uma contribuição significativa para os estudos
voltados à construção da aprendizagem. Ela está vinculada ao movimento, ao
intelecto e ao afeto. Relaciona-se a processos maturacionais, onde o corpo é o
espaço onde surgem as aquisições afetivas, cognitivas e orgânicas, segundo
Oliveira (2017).

PÁGINA 11
LEITURA COMPLEMENTAR

A representação mental do movimento é, a princípio, uma representação do


deslocamento dos objetos em relação ao corpo; depois, a visualização de seus
próprios deslocamentos, segundo os eixos do espaço e numa certa direção.
Mas o corpo humano é um conjunto de segmentos articulados; assim, ele não
se desloca em bloco, como um projétil, mas de maneira descontínua com a
tomada de uma série de apoios globais ou parciais que constituem outros
tantos tempos sucessivos, verdadeiros divisões naturais do movimento.

A representação mental de um movimento, indispensável ao ajustamento com


representação mental, supõe a visualização das atitudes sucessivas, segundo
seu desenvolvimento rítmico. A percepção e a memorização das estruturas
rítmicas são, portanto, um apoio funcional indispensável.

Texto retirado do livro: Educação psicomotora: a psicocinética na idade escolar.


Jean Le Boulch, Porto Alegre: Artes médicas,1987

PÁGINA 12
4. Psicomotricidade e a importância do afeto

Wallon considerava que o aspecto afetivo era essencial como sendo anterior a
todo tipo de comportamento. Compreendia que existe uma evolução corporal e
tônica denominada pelo “diálogo corporal” e que constitui o “prelúdio da comu-
nicação verbal”. Essa comunicação corporal é essencial para a psicomotora. A
ação tem papel fundamental na estruturação cortical e da representação.

Desta forma, o movimento tem papel significativo. Primeiramente a criança


apresenta hipertonicidade global e agitação motora, o que acarreta uma rela-
ção desorganizada com o meio. Aos poucos, começa a se expressar por meio
dos gestos que estão diretamente ligados ao afeto e que servem como escape
das emoções vividas. Posteriormente este mundo de emoções dará origem a
um mundo de representações. O movimento aparece depois como um elemen-
to básico de reflexão do sujeito fundamentando numa relação sociocultural.

É por meio do movimento que a criança integra a relação das primeiras formas
de linguagem, o simbolismo. A significação evolui com a maturidade motora e
corticalização contínua. Nesse sentido, é de extrema importância a representa-
ção simbólica da criança para a psicomotricidade.

SAIBA MAIS

UMA CAMINHADA É UMA ATIVIDADE PSICOMOTORA?

A resposta certa é: “depende”.

Se a pessoa realiza uma caminhada sem estar consciente, ou seja, sem


perceber o movimento de seu corpo, ela estará realizando uma atividade
motora (que não deixa de ser benéfica à saúde), no entanto, não uma atividade
psicomotora. Para que uma caminhada seja considerada atividade psicomotora
ela deve estar associada à percepção, ou seja, andar e perceber o movimento
de seu corpo.

REFLITA

Estudos apontam que bebês que recebem afeto de seus cuidadores,


desenvolvem mais conexões neuronais no cérebro, as quais são a base do
desenvolvimento, das habilidades e da inteligência humana.

PÁGINA 13
MATERIAL COMPLEMENTAR

FILME

Filme/ série: “O Garoto Selvagem”

Discorre sobre um menino que foi


capturado aos 11 anos de idade em uma
floresta. Ele havia sido criado por lobos e
era incapaz de falar, andar, ler, escrever.
Foi atendido por um médico que buscou
desenvolver seu potencial cognitivo para
que conseguisse adquirir as habilidades
próprias do ser humano.
Trata-se de um filme muito interessante para refletirmos sobre a capacidade
magnífica da plasticidade do cérebro humano.

PÁGINA 14
REFERÊNCIAS

BOULCH, Jean Le. Educação psicomotora: a psicocinética na idade escolar.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

OLIVEIRA. A. C.; SILVA. K. C. Ludicidade e psicomotricidade. Curitiba: Inter-


saberes, 2017.

OLIVEIRA. G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psi-


copedagógico. 8 ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

PÁGINA 15
2CAPÍTULO
PSICOMOTRICIDADE
E SEUS ELEMENTOS
BÁSICOS

1. Elementos básicos da Psicomotricidade

Para que o educador possa realizar um trabalho com a psicomotricidade é es-


sencial que conheça seus elementos. Somente assim, compreenderá qual área
psicomotora seus alunos apresentam habilidades e/ou déficits que devem ser
devidamente considerados e analisados caso a caso. São eles: coordenação
motora, fina e óculo-manual; esquema corporal; lateralidade; estruturação es-
pacial; estruturação temporal; discriminação visual e auditiva. Na sequência,
discorreremos sobre cada um deles.

1.1. Esquema corporal

Meuer e Staes (1991) enfatizam que o esquema corporal é um elemento in-


dispensável na formação da personalidade da criança. É a forma como ela vê
e sente seu próprio corpo. Ela se percebe e percebe tudo ao seu redor tendo
como referência sua pessoa. Ela desenvolverá sua personalidade com base na
gradativa consciência de seu corpo, de suas possibilidades de ser e agir no
mundo a sua volta. Ele se sentirá bem à medida que tem domínio sobre seu
corpo, se conhece bem e pode utilizá-lo não somente para se movimentar, mas
também para agir.

Para que uma criança possa agir através de seus aspectos psicomotores, psi-
cológicos, cognitivos, emocionais e sociais ela necessita de um corpo organiza-
do. Essa organização possibilita que ela descubra diversas formas de ação e,
por isso, precisa levar em consideração os aspectos mecânicos, anatômicos,
neurofisiológicos e locomotores, explica Oliveira (2003).

A estrutura espaço-temporal se fundamenta nas bases do esquema corporal.


Uma criança que não se reconhece, dificilmente conhecerá o espaço a sua vol-
ta. Desta forma, a psicomotricidade deve trabalhar primeiramente essa estrutu-
ra para depois a estruturação temporal e espacial. A maneira como o indivíduo
se expressa com o corpo traduz sua disposição em relação a sua volta. Esse
aspecto psicológico deve auxiliar o educador a identificar melhor as perturba-
ções provenientes de fatores afetivos.

PÁGINA 16
A criança com boa percepção de seu corpo fará uma transposição de suas des-
cobertas. Gradativamente localizará as pessoas, objetos, acontecimentos em
relação a si próprio e depois aos outros.

O desenvolvimento do esquema corporal passa por algumas etapas. A primei-


ra é o “corpo vivido”. Nesta fase, a criança faz exercícios motores em forma
de jogos. Essas atividades vão passando de espontâneas (que usa em seus
brinquedos) para outra integrada (respondendo a orientações verbais, como:
“Ande! Corra! Pule!), a sensações (parada, equilíbrio, etc.), até chegar a uma
representação nítida (andar de cócoras, etc.). A segunda etapa é do conheci-
mento das partes de seu corpo. Nesse momento a criança passa a tomar cons-
ciência de cada segmento corporal. Ocorre de forma interna (sente cada parte
do corpo) e externa (olhando no espelho, vendo em outra criança ou figura).
Aqui a criança consegue apontar, nomear partes de seu corpo e ter uma per-
cepção tátil.

A terceira etapa é a da orientação espaço-corporal. Nessa fase ela passa a


uma atividade sensorial mais elaborada. Associa componentes do corpo a ob-
jetos da vida cotidiana, passa a ter uma compreensão mais analítica do espa-
ço dos gestos, ou seja, compreende as distintas posições das partes do cor-
po. A quarta e última etapa é a de organização espaço-corporal. Nessa fase a
criança consegue exercitar todas as partes do corpo. Conhece todas as partes
do corpo, as posições. Movimenta-se de forma analítica, sintética. Conseguirá
descrever um movimento, situações reflexivas sobre atitudes e expressões de
um personagem, expressar-se por meio de um desenho e compreender o diá-
logo corporal, cita Meuer e Staes (1991).

Oliveira (2003) frisa que é comum encontrarmos crianças que não possuem co-
nhecimento de seu próprio corpo. Tem dificuldade para representar e nomear
as partes do corpo. Confundem ou não localizam as partes. Não percebem a
localização de seus membros e como consequências acabam fazendo dese-
nhos da figura humana pobre. Podem apresentar dificuldades de locomoção e
em se situar no tempo. Podem ter dificuldades para abotoar roupa, jogar bola,
andar de bicicleta. Confundem noções de espaço como: cima, baixo, lado, etc.
Dificuldade para diferenciar direita e esquerda. Na escrita podem não obedecer
aos limites da linha, chegando a ter dificuldades nas relações pessoais e com o
meio e consequentemente mau desenvolvimento da linguagem.

PÁGINA 17
REFLITA

Vivemos em uma era marcada significativamente pela tecnologia. A cada dia


que passa nossas crianças estão tendo acesso aos meios tecnológicos mais
cedo. É comum vermos crianças que ainda nem adquiriram a linguagem manu-
seando jogos eletrônicos, assistindo vídeos por aparelhos celulares, etc. Crian-
ças que não brincam mais na terra e nem na rua, não sobem mais em árvores,
enfim, passam a maior parte do tempo executando atividades que não neces-
sitam de uma movimentação corporal. Então, devemos refletir: “Como faremos
para desenvolver as áreas psicomotoras de nossas crianças, uma vez que são
essenciais para o processo de ensino e aprendizagem?”

Precisamos inovar!!!

1.2. Lateralidade

A lateralidade é a tendência que o ser humano tem de usar um lado preferen-


cialmente ao outro lado do corpo, em três níveis: olho, mão e pé. Existe uma
predominância em um dos lados, o qual apresenta força muscular, rapidez e
precisão. Este lado inicia e executa a atividade principal, no entanto, um com-
plementa o outro, uma vez que nenhum funciona de forma isolada. Um exem-
plo bastante claro é uma pessoa que está pregando um prego na parede. Sua
mão auxiliar segura o prego e a outra, com força muscular e precisão bate o
martelo ou quando alguém escreve algo em uma folha de papel, a mão segura
a folha e a outra escreve, entre outros inúmeros exemplos, como: bordar, atirar
em um alvo, dar cartas de baralho, etc., explica Oliveira (2003).

Meuer e Staes (1991), enfatizam que não podemos confundir lateralidade (do-
minância de um lado sobre o outro no que diz respeito à precisão e força) e
conhecimento “direita-esquerda” (conhecimento dos termos “direita” e “esquer-
da”). O conhecimento do conceito “direita-esquerda” provem da dominância la-
teral. É a percepção generalizada do eixo corporal, em relação ao que cerca a
criança. Esse tipo de conhecimento se tornará mais fácil de ser adquirida quan-
to mais homogênea e acentuada for a lateralidade da criança.

Se a criança trabalha com mais facilidade com determinada mão, saberá se ela
é a direita ou a esquerda. Do mesmo modo em caso de lateralidade cruzada,
a criança irá confundir facilmente os termos, uma vez que ora é mais forte do
lado direito (ex: o pé) e ora mais o lado esquerdo (ex: a mão).

PÁGINA 18
Esse conhecimento faz parte da estruturação espacial. Refere-se à situação
das coisas e seres, mas também está associada à noção de dominância late-
ral. Só ocorre aos 4 ou 6 anos de idade e a possibilidade de reconhecer a mão
direita ou esquerda na outra pessoa, habilidade chamada de reversibilidade,
não pode ser adquirida antes dos 6 anos ou 6 anos e meio.

Quando a criança apresenta mal lateralização ou lateralidade cruzada vários


efeitos negativos podem ocorrer, dentre eles: dificuldade em aprender a direção
gráfica; aprender a noção de direita e esquerda; pode não perceber o eixo do
próprio corpo; comprometimento na leitura e escrita (ritmo da escrita mais len-
to); má postura; dificuldade de coordenação motora fina; dificuldade de discri-
minação visual; sincinesias; distúrbios da linguagem e sono; baixa autoestima;
perturbações afetivas, entre outros, segundo Oliveira (2003).

1.3. Estruturação espacial

A estruturação espacial é imprescindível para que o homem viva em sociedade.


É por meio dela que nos situamos em nosso meio, estabelecemos relações en-
tre coisas, comparando-as, observando semelhanças e diferenças, entre outros
fatores essenciais. Por intermédio da comparação constatamos as caracterís-
ticas comuns e as não comuns entre as coisas que nos permite classificarmos
e chegamos aos conceitos dos objetos. Ela permite a tomada de consciência
do seu corpo em relação ao ambiente, ou seja, relacionar às pessoas a coisas,
tomada de consciência entre os objetos entre si, organizar-se perante o mundo
que o cerca; organizar objetos e/ou outros elementos entre si; colocá-las em lu-
gares distintas, movimentá-las.

A estruturação espacial não nasce com o sujeito. É uma elaboração e cons-


trução mental que ocorre por meio de movimentos em relação aos objetos do
meio. “Desde muito cedo a criança escolhe e ordena seus objetos. Ela veste-
-se, come, brinca, coloca e amarra o sapato. Estes atos de seu dia-a-dia obri-
gam-na a executar gestos diferenciados para sua realização. Essa ordenação
já envolve atividades concretas de classificação” (FONSECA, 2011, p. 78).

Para que a criança perceba os objetos ao seu redor deve ter uma boa imagem
corporal, já que usa seu corpo como referência. Ela aprende o espaço por meio
de sua movimentação de si em torno do mundo. Para uma exploração motora é
necessário pegar objetos, jogá-los, agarrá-los, colocar dentro e fora, etc.

A organização deste elemento psicomotor ocorre por volta dos 8 ou 9 anos,


época em que é capaz de situar esquerda e direita sobre os objetos em re-
lação a um ponto de vista externo. A orientação espacial possibilita à criança
organizar-se diante do mundo que o cerca, prevendo e antecipando os fatos
em seu meio. São inúmeros os motivos que prejudicam o desenvolvimento da

PÁGINA 19
criança, dentre eles: limitação do desenvolvimento cognitivo, crianças privadas
de oportunidades de manipular objetos a sua volta, que não desenvolveram a
noção de esquema corporal, que não desenvolveu a lateralidade, déficit na fun-
ção simbólica, dificuldade de representação mental.

1.4. Estruturação temporal

A noção de espaço e tempo estão diretamente ligadas. O corpo se movimenta


se coordena em função do tempo e um sistema de referência. Por este motivo,
muitas vezes nos referimos à orientação espaço-temporal.

Vivemos em um tempo dinâmico, onde o “fluxo” do tempo perpassa pelas no-


ções de presente, passado e futuro. Isso significa que este fluxo de tempo per-
mite compreender que os acontecidos passados são conhecidos, os do pre-
sente são experimentados imediatamente e os do futuro podem ser previstos,
mas são desconhecidos. Nesse sentido, o fluxo é contínuo: o futuro passa pelo
presente e se torna passado.

Piaget (s/d, apud OLIVEIRA, 2003, p. 86) afirma que defrontamos com três si-
tuações em relação a nossa noção de tempo: “o tempo está ligado à memória
ou a um processo causal complexo, ou a um movimento bem delimitado”. A
memória possibilita uma reconstituição do passado que faz apelo à causalidade
no momento em que relaciona dois acontecimentos interligados entre si. Para
captar o tempo é imprescindível que se dirija às operações de ordem causal.

Podemos dizer que a estruturação temporal é a habilidade de situar-se em fun-


ção: da sucessão do que acontece (antes, durante e depois); da duração dos
intervalos (uma hora, um minuto); noção de ritmos regulares (freada, acelera-
ção); cadência lenta e rápida (diferença entre andar e correr); mudança cíclica
de períodos (dias da semana, estações do ano); caráter irreversível do tempo
(já passou, etc.).

Noções de tempo são muito abstratas e de um nível de dificuldade de com-


preensão maior. A criança consegue compreender a estruturação temporal por
volta dos quatro ou cinco anos de idade. Para que uma criança aprenda a ler é
preciso que domine o ritmo, sucessão de sons, diferenciação de sons, memori-
zação auditiva, reconhecimento das frequências e duração dos sons. Desta for-
ma, este elemento da psicomotricidade também é imprescindível para a apren-
dizagem da criança, explica Oliveira (2003).

PÁGINA 20
1.5. Coordenação motora global, fina e óculo-manual

Para que uma pessoa manipule objetos de sua cultura necessita ter algumas
habilidades essenciais. Precisa ser capaz de se movimentar com desenvoltura,
equilíbrio e habilidade, ter domínio do gesto e instrumento (coordenação moto-
ra fina). Tais movimentos exigem uma maturação do sistema nervoso central
(SNC), pois necessitam de movimentos desde os menos até os mais comple-
xos, que são possíveis pelas contrações musculares, controladas pelo SNC.

A coordenação global está relacionada a atividades que envolvem grandes


músculos. Ela depende da potencialidade de equilíbrio postural do sujeito. Por
meio do movimento e experimentação, ele busca seu eixo corporal, e adqui-
re um equilíbrio cada vez melhor. Quando mais equilíbrio o indivíduo adquire,
menos energia será dispensada na atividade e mais coordenadas serão suas
ações. Essa coordenação possibilita ao sujeito a aquisição de dissociação de
movimentos, o que garante que tenha múltiplos movimentos ao mesmo tempo.
Por exemplo: quando alguém toca piano, uma mão executa a melodia e a outra
o acompanha e o pé direito a sustenta. São três movimentos que ocorrem ao
mesmo tempo para executar uma única ação.

Várias atividades permitem à conscientização global do corpo: andar, correr,


pular, etc. Nesse sentido, uma criança que desde cedo pratica atividades que
envolvem o desenvolvimento de sua habilidade global, chega à escola com
uma coordenação motora global mais avançada do que crianças mais ociosas.

Apenas possuir uma coordenação motora fina não é suficiente. É imprescindí-


vel que haja um controle ocular, ou seja, que a visão acompanhe os gestos rea-
lizados pela mão. A esse fenômeno chamamos de “coordenação óculo-manual
ou viso-motora”. Ela exige uma precisão sobre a base de um domínio visual
ligado aos gestos realizados. Essa coordenação é necessária para a escrita
(OLIVEIRA, 2003).

Para a aprendizagem da escrita é necessário também coordenação motora glo-


bal ao sentar. Para favorecer a aprendizagem o aluno precisa estar em uma
posição cômoda, uma postura correta para auxiliar na realização dos movimen-
tos gráficos. Necessita também dissociar e controlar os movimentos, controlar
a pressão gráfica. Esses fatores são favorecidos quando a criança possui uma
boa lateralidade.

O grafismo e o desenho preparam a criança para a escrita. Auxiliam a forma


correta de pegar o lápis, facilitando os movimentos de forma mais harmonio-
sa. A escrita necessita de a aquisição de destreza manual organizada a partir
de alguns movimentos que servirão como modelo. Para que a criança execute
preensão correta, com pouco esforço, de forma precisa, necessita adquirir pa-
drões de movimentos.

PÁGINA 21
1.6. Discriminação visual e auditiva

Para lermos um texto necessitamos contar com uma sucessão de movimentos


oculares coordenados. Um pré-requisito muito importante para a aprendizagem
da leitura é um aparelho visual e auditivo íntegro. Existem crianças que mesmo
ouvindo e enxergando bem não conseguem discriminar os sons e as formas.
Ela tem os órgãos sensoriais íntegros, mas não consegue transmitir as informa-
ções corretas para o SNC. Por esse motivo, é essencial que a criança adquira
o controle ocular. Ele deve ser capaz de seguir um objeto ou direcionar o olhar
para as suas mãos quando apanham um objeto. No caso da escrita, é neces-
sário que os olhos sigam as mãos que escrevem.

Para que a criança fixe seu olhar para algo, é necessário que aprenda a contro-
lar rigoroso e preciso dos músculos extra-oculares. É necessário construir um
padrão de impulsos neurológicos que a capacitem a controlar esses mecanis-
mos com precisão. Outra habilidade relacionada à discriminação visual é que a
criança precisa reter os símbolos visuais apresentados, tais como: palavras, le-
tras, sinais, ou seja, desenvolver a memória visual. Ela possibilitará condições
para que a criança forme uma imagem visual das palavras e facilitará o reco-
nhecimento dos símbolos impressos de forma rápida.

Quando a criança adquire condições de discriminar as distintas letras, desen-


volver a memória visual, integrar os símbolos, ela atinge a etapa de organiza-
ção visual. Crianças com discriminação visual empobrecida podem confundir
letras simétricas, como por ex: “d” e “b”; “n” e “u”; “p” e “q”, ou letras que se
diferem por pequenos detalhes: “f” e “t”; “h” e “b”, etc.; podem apresentar su-
pressão de letras e deformações; leitura hesitante e monótona, etc. Crianças
que apresentam dificuldade de discriminação auditiva também devem ser ob-
servadas.

A acuidade auditiva é a habilidade do sujeito de captar e perceber a diferença


entre os sons e intensidades diferentes. O professor deve auxiliar seu aluno a
discriminar os sons de forma adequada. Ao serem alfabetizados terão que as-
sociar o som a uma grafia. Para isso terão que contar com boa discriminação
auditiva, capacidade de decodificação, simbolização e memorização. Nesse
sentido, a memória auditiva é muito importante, uma vez que favorece a re-
tenção e recordação das palavras ouvidas. Muitos apresentam dificuldades de
discriminação porque se esquecem do som que determinada letra representa.

PÁGINA 22
MATERIAL COMPLEMENTAR
FILME

O quarto de Jack
Discorre sobre um menino que foi criado, juntamente
com sua mãe, em um cativeiro desde que nasceu
até os 5 anos de idade. Ele acreditava que o único
mundo que existia era o quarto em que vivia. Não
tinha contato nenhum com o mundo externo.
Após esta idade, Jack foge e se depara com um
mundo do qual nunca imaginou existir. Passa a
gradativamente fazer suas descobertas.
Trata-se de um filme muito interessante para
refletirmos sobre a importância da psicomotricidade,
da qual Jack foi privado em muitos aspectos, para o
desenvolvimento da criança.

LIVRO

Livro: Psicomotricidade: educação especial e inclusão social.


Autor: Carlos Alberto de Mattos Ferreira e Maria Inês Barbosa Ramos
Editora: Wark.

SAIBA MAIS

Os dois primeiros anos de vida da criança são cruciais para um bom


desenvolvimento cognitivo, psicológico e físico.

Nessa fase é muito importante que a criança seja incentivada a praticar


exercícios físicos diversificados.

PÁGINA 23
REFERÊNCIAS

FONSECA. V. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neu-


ropsicológica e psicopedagógica. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

MEUER. A.; STAES. L. Psicomotricidade: educação e reeducação: níveis ma-


ternal e infantil. São Paulo: Manole, 1991.

OLIVEIRA. G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psi-


copedagógico. 8 ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

PÁGINA 24
3CAPÍTULO
A IMPORTÂNCIA DAS
RELAÇÕES PARA O
DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
1. Relação professor X aluno

O papel fundamental do processo educacional é provocar situações desafiado-


ras aos alunos. A educação deve propor uma estimulação adequada ao seu ní-
vel de desenvolvimento, possibilitando a ele construir progressivamente as no-
ções e operações de forma intensa, intelectual e afetiva, com base nas etapas
de seu desenvolvimento. Para Piaget (1973f, p.69 apud MIZUKAMI, 1986, p.
70-71), a educação tem dois elementos fundamentais que são indissociáveis:
moral e intelectual.

O objetivo da educação é favorecer para que o próprio aluno aprenda a con-


quistar suas verdades e não transmitir verdades, modelos, demonstrações, etc.
A autonomia que o aluno conquistará será assegurada pelo desenvolvimento
da personalidade e aquisição de instrumental lógico-racional em um contexto
afetivo, mediado adequadamente.

Quando pensamos nas práticas psicomotoras, torna-se essencial pensarmos


na prática do professor. Atividades que realmente levam em consideração as
potencialidades do aluno de uma forma afetiva e significativa. A emoção tem
papel essencial no desenvolvimento do indivíduo. Varia de pessoa para pessoa
e é resultado de vários aspectos envolvidos que a formam. A emoção constitui-
-se por alterações fisiológicas, cognitivas, excitação do sistema nervoso, etc.

O resultado da afetividade é percebido nas posturas, comportamentos e ativi-


dades que as crianças desempenham. Uma criança introspectiva não adquire
espontaneidade e acaba por “fechar” seu próprio corpo, ou seja, passa a apre-
sentar tônus muscular rígido, esticado.

Um educador comprometido com seu trabalho pode auxiliar de forma significa-


tiva seu aluno. Pode por exemplo, exigir que o aluno a aja de forma correta no
ambiente, buscando maior desenvolvimento funcional. Pode ajudar seu aluno a
tomar consciência de suas próprias limitações, buscar suas origens e realizar
atividades adequadas para um desempenho de seu esquema corporal. Poderá
estimular de forma que suas áreas, como: cognição, afetividade, psicomotrici-
dade e linguagem se conectem entre si, afirma Oliveira (2003).

PÁGINA 25
Para Wallon (2005 apud RICARTE, et al, 2013) as emoções e afetos vão evo-
luindo e a manifestação do pensamento subjetivo do ser humano é influenciado
pelas interações sociais, por meio de um processo histórico, representações de
algo que seja significativo para seu contexto cultural no qual está inserido.

Desta forma, podemos perceber que a emoção também é um fator imprescin-


dível e diretamente ligado ao processo de ensino e aprendizagem do sujeito e
não pode ser desconsiderada, inclusive nas práticas relacionadas à psicomotri-
cidade.

A educação é um processo de socialização (equilíbrio nas relações interpes-


soais e ausência de ordens externas), enfim, um espaço de democratização
dos saberes, das relações em uma condição de cooperação. A aquisição das
operações depende de colaboração, cooperação, trocas e intercâmbios entre
os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. A atividade em
grupo é muito importante. O aspecto grupal tem caráter integrador, uma vez
que cada um dos membros apresenta um recorte da realidade. Tal educação
provocará nos alunos, constantemente a procura por novas soluções, criando
situações que exijam a exploração e estimulação de novas formas de com-
preender a realidade.

Fonseca (2011) adverte que aqueles que têm inteligência para assimilar, reme-
morizar e usar posteriormente a informação têm êxito garantido, independente
dos métodos curriculares e professores. Já aqueles que não têm as funções
cognitivas desenvolvidas e trabalhadas estão sendo condenados pelo sistema
de ensino. Somente a exposição da informação não é suficiente para desenvol-
ver a potencialidade de pensar e aprender a aprender. Ele precisa ser estimula-
do e treinado.

A Escola deve oferecer oportunidades de investigação, possibilitando tentati-


vas, ensaios que uma atividade real. Isso demanda que a motivação não venha
do externo, mas que seja intrínseca, possibilitando a construção de estruturas
do ponto de vista endógeno. Deve facilitar o desenvolvimento das potenciali-
dades motoras, mentais e verbais, para que posteriormente o aprendiz consi-
ga intervir sobre a sociedade. Deve estimular para que o aluno tenha interesse
intrínseco à sua própria atuação. O trabalho em grupo pressupõe uma coope-
ração, com pessoas que se agrupam espontaneamente e que estudam, inves-
tigam, pesquisam um verdadeiro problema para o grupo, para motivá-lo de for-
ma intrínseca (MIZUKAMI, 1986).

A relação entre professor e aluno deve ser diferente da tradicional, onde há um


receptor e outro transmissor de informações. O professor precisa criar situa-
ções de reciprocidade intelectual, cooperação moral e racional. Precisa evitar
rotinas, hábitos, fixação de respostas. Antes, deve propor problemas e não dar
a solução. Sua função deve ser provocar desequilíbrios, propor desafios. Orien-

PÁGINA 26
tar e proporcionar autonomia e autocontrole. Permitir que o aluno trabalhe o
mais livre possível. Deve ter uma boa convivência, observando os seus com-
portamentos, conversando, perguntando, sem interrogatórios.

Um ambiente desafiador motivará o aprendiz. Causa desequilíbrio e desperta


seu desejo intrínseco. O jogo é essencial ao ensino. Cabe ao educador plane-
jar suas aulas com base no desenvolvimento da inteligência da criança e não
por idade cronológica. Para que o professor possa instigar o aluno sem dar
as respostas prontas a ele, necessita conhecer o conteúdo de sua disciplina,
sua estrutura, senão não será possível propor situações que irão causar dese-
quilíbrio aos aprendizes (MIZUKAMI, 1986, P.79).

A psicomotricidade auxilia a criança a viver em grupo. A convivência coletiva


favorece a interiorização das regras, convívio social e aprendem a conviver em
sociedade. As atividades psicomotoras em grupo ensinam o respeito mútuo,
autofiança, etc.

O relacionamento entre o professor e aluno deve ser positivo e influenciar o


processo de ensino e aprendizagem. O professor precisa ouvir seus alunos,
tratá-los com respeito, sem controles rígidos que punem as crianças que não
conseguem realizar as tarefas de forma favorável. Na maioria das vezes o úni-
co responsabilizado é o aluno que é considerado como sendo aquele que “não
quer aprender”. Ele geralmente é castigado por professores e família. A base
que a escola oferece depende também do que a criança traz como bagagem
de seu meio. Mas a escola deve mostrar à família e à sociedade que é eficiente
e eficaz em seus objetivos.

Uma ressalva temos que fazer quanto à responsabilidade da


escola diante das dificuldades acadêmicas do aluno. [...] a es-
cola tem sua parcela de culpa, mas não pode arcar sozinha
com mas desadaptações encontradas em suas classes. Alguns
alunos vêm para as escolas com diversas deficiências, com ní-
veis de maturidade desiguais ou inferiores ao que se espera
em sua idade cronológica. Muitos trazem uma bagagem cultu-
ral, social, intelectual, neurológica muito defasada em relação
aos seus companheiros e isto se constitui em desvantagens às
vezes cruciais para a aprendizagem da leitura, escrita e cálculo
(OLIVEIRA, 2003).

Essa situação é uma realidade que muitas vezes o educador se esbarra e não
está preparado para enfrentar. O ideal é que todos: escola, família e socieda-
de estejam unidos no mesmo propósito: o desenvolvimento integral de nossas
crianças. A seguir discorreremos sobre a importância da família nesse proces-
so.

PÁGINA 27
2. Relação família X aluno

Rica (2013) sinaliza que há algumas décadas atrás a participação dos pais na
vida dos filhos era mais comum. Atividades como: jogos, adivinhações, brin-
cadeiras, contação de estória, etc. eram frequentes. Com o aparecimento da
modernidade, e com ela a tecnologia, cada vez mais está ocorrendo um dis-
tanciamento entre pais e filhos. As crianças focam mais em atividades solitá-
rias, como: jogos em internet, brinquedos eletrônicos, etc. Com isso, percebe-
mos cada vez mais crianças carentes e com dificuldade de se relacionar com o
mundo. A psicomotricidade tem papel importante no resgate a relação afetiva,
por meio de atividades lúdicas e afetivas, que favorecerá o vínculo entre pais e
filhos.

Desde o útero materno o bebê desenvolve redes neurais – sistema límbico,


que determina a sensorialidade do feto, responsáveis pela sensação de dor e
prazer. Quanto maior a afetividade e estímulo dispensado ao bebê, maior será
sua reorganização neuronal e produção de substâncias (neurotransmissores)
responsáveis pelas emoções. A psicomotricidade pode e deve ser estimulada
desde muito cedo. Quanto antes a criança for estimulada, melhor seu desen-
volvimento, haja vista maior plasticidade cerebral e quantidade maior de neurô-
nios.

Fonseca (2011) enfatiza que embora a mediatização seja distinta entre profes-
sores e família, apresenta algumas afinidades e especificidades próprias:

1) Já que os professores trabalham com seus alunos após a interação dos


pais, eles lidam com crianças que já trazem um conjunto de habilidades
próprias: linguísticas, motoras, sociais, cognitivas, etc. Esse fato permite
ao professor mover-se a um ritmo mais rápido e pensarem em interven-
ções mais ricas e elaboradas aos alunos. Também implica que as crian-
ças podem ser mais predispostas a participar intencionalmente e ativa-
mente da mediatização.

2) Como os professores trabalham com várias crianças e/ou adolescentes


ao mesmo tempo, criam suas próprias situações para essa finalidade.
Já a família utiliza de recursos naturais como oportunidades para fazer a
mediatização. Então, a mediatização do professor se torna mais formal.

3) Família tem maior dificuldade em generalizar as situações, tendo em vis-


ta que lidam com situações reais, concretas do cotidiano. Já os profes-
sores fazem uso de estratégias e atividades estruturadas o que permite
maior facilidade de generalização, oferecendo um pensamento de repre-
sentação lógico.

4) Professores realizam situações sociais com crianças da mesma fase


de desenvolvimento, enquanto que em outros espaços isso dificilmente

PÁGINA 28
ocorre. A presença de outras crianças na escola favorece para que elas
se identifiquem e facilita o processo. Importante mencionar que intera-
ções sociais negativas podem se caracterizar como desvantagem para o
processo.

5) Embora a mediatização do professor é mais elaborada, com objetivos


mais definidos e específicos, ambas (família e escola) podem se com-
pletar e interligar.

Embora sejam distintas, todas devem focar no desenvolvimento da potenciali-


dade cognitiva do aluno. Quando escola e família caminham juntas, o resultado
é significativamente melhor.

SAIBA MAIS

MISTÉRIOS DO CÉREBRO

Desde o início da gestação, o bebê é afetado pelo humor e sentimentos da


mãe. Ambos estão expostos aos mesmos hormônios. Diante de inúmeros
ruídos ouvidos pelo bebê: batimento do coração da mãe, borbulho do intestino,
ruídos vindos de fora, o som que predomina é a voz da mãe porque alcança
os seus ouvidos por dois canais distintos: vindo de fora (propagada pelo ar) e
transmitido pelo próprio corpo dela, por meio de suas cordas vocais. Por isso
ao nascer, o som que mais o acalma é o que ele ouviu ao longo dos 9 meses
de gestação. Isso só é possível devido às comunicações neuronais.

REFLITA

Como a neurociência pode auxiliar a escola tornar o aprendizado mais


interessante e proveitoso para o aluno?

Estudos mostram que quanto mais sentidos forem estimulados, melhor será
a aprendizagem. Sendo assim, a importância de o professor diversificar
metodologias que estimule o máximo possível as áreas sensoriais de seus
alunos.

PÁGINA 29
MATERIAL COMPLEMENTAR

FILME

Sugestão de filme: Como Estrelas na Terra: toda criança é especial.

Filme que trata da importância do vínculo afetivo e estimulante entre professor,


aluno e família.

Esse filme indiano apresenta a trajetória de um aluno com muita dificuldade


para se concentrar nos estudos e mal conseguia escrever as letras do alfabeto.
Depois de diversas reclamações da escola, o pai, decide levá-lo a um colégio
interno. A vivência com profissionais despreparados agrava ainda mais a
dificuldade de aprendizagem do aluno. Até o momento em que encontra um
professor que faz toda a diferença em sua vida.

LIVRO

Psicomotricidade: perspectivas multidisciplinares.


Autor: Vitor da Fonseca
Editora: Artmed.

PÁGINA 30
REFERÊNCIAS

FONSECA. V. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neu-


ropsicológica e psicopedagógica. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2011

MIZUKAMI. M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU,


1986.

OLIVEIRA. G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psi-


copedagógico. 8 ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

RICA. D. A psicomotricidade e o vínculo afetivo pais/filhos. 2013. Dispo-


nível em: <https://www12.senado.leg.br/institucional/programas/primeira-infan-
cia/artigos/artigos-ano-2013-1/a-psicomotricidade-e-o-vinculo-afetivo-pais-fi-
lhos-daniela-rico-ano-2013>. Acesso em: 18/07/2018.

RICARTE. M. D. Emoções: contextos e patologia. In: MINERVINO. C. A. S. M.;


NÓBREGA. J. N. Aprendizagem e emoção: estudos na infância e adolescên-
cia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2013.

PÁGINA 31
4CAPÍTULO
PSICOMOTRICIDADE
NA PRÉ-ESCOLA

1. Pré-escola: atividades e recreação

Na fase pré-escolar (4 a 7 anos), a criança por meio da psicomotricidade e do


simbolismo, transforma o real por meio das múltiplas necessidades do “eu”. Os
jogos passam a ter caráter importante na vida deles e um sentido utilitário e
funcional. Nesta fase, a criança prefere jogos que permitem uma movimenta-
ção do corpo, o que possibilita seu crescimento físico de forma saudável. Assim
como correr, pular, nadar, etc. são atividades que estimulam o desenvolvimento
musculares, ações como: rasgar, rabiscar, desenhar, pintar, amassar, etc. esti-
mulam os músculos finos, necessários para o processo de alfabetização.

É uma fase em que a cresce imita muito as pessoas. Piaget menciona que
é muito difícil ensinar as operações a crianças nesta fase. Elas as elaboram
por si próprias, por meio de suas ações: jogando e brincando. Todos os jogos
que as crianças se interessam e participam são estímulos que enriquecem
seus esquemas perceptivos (auditivos, visuais e cinestésicos); operativos
(imaginação, lateralidade, causa, efeito, análise, sistema, representação,
síntese, memória); funções que ao serem combinadas com as psicomotoras
(coordenação fina), dão condições para o domínio da leitura e da escrita,
coloca Almeida (2003).

Nesta fase o pensamento não está dissociado da linguagem. A criança gosta


de contar suas experiências, ser ouvida, fazer perguntas, ouvir estórias, etc.
Ela aprende muito mais rápido quando pode dar nomes ao que está a sua vol-
ta, aprende conversar sobre o que acontece e quando a linguagem ao seu re-
dor é mais rica. Reúne-se com outras crianças para brincar, mas ainda não é
capaz de internalizar as regras e por isso, sempre acabam brigando entre si.
No entanto, gostam de estar em companhia de outras crianças.

PÁGINA 32
Até os seis, sete anos, aproximadamente, a criança define
praticamente grande parte de seu desenvolvimento físico,
mental, afetivo (equilíbrio emocional e social). A participa-
ção e a postura do adulto (pais e professores) são impor-
tantíssimas. Nessa fase, a criança adora movimentar-se e
a família – bem como a pré-escola – não podem imobilizá-
-las com determinações que castrem esse tipo de ação. A
criança adora ajudar os pais e participar de pequenas ta-
refas, e isso não deveria ser descartado com a justificativa
de que atrapalha. Ela adora ouvir estórias, desenhar, “es-
crever” e brincar com brinquedos que possa operar, montar
e desmontar. Por isso não deveria ficar sentada diante da
TV ou ter brinquedos em que não possa tocar por medo
de quebrá-los. É importante que o adulto compreenda tam-
bém que o excesso de atividade “imposta” nessa fase faz
a criança se sentir escrava, podendo deprimi-la e levá-la a
perder o gosto e paixão pelas coisas. É fundamental que
a família e a pré-escola proporcionem um ambiente rico
em informações que possa estimular o desenvolvimento, e
nunca força-la a assimilar nada além daquilo que é capaz
de fazer naturalmente e com prazer (ALMEIDA, 2003, p.
49).

Por isso a necessidade da pré-escola, creches que auxiliam a educação fami-


liar, estarem preparadas e qualificadas para essa função. Compreender que a
infância é a idade das brincadeiras. Estas satisfazem grande parte de seus de-
sejos, estimulam a criatividade, libera energias e estimula liberdade de desem-
penho. No brincar a criança conjuga seu mundo de fantasia e o mundo real,
transitando livremente de uma situação a outra (CÓRIA-SABINI, et al, 2005, p.
28).

[...´] as atividades lúdicas infantis oferecem uma fonte para


estudos em diferentes direções: do ponto de vista socio-
lógico, da perspectiva psicológica, numa abordagem an-
tropológica. Na abordagem sociológica, os aspectos ana-
lisados nas brincadeiras são: o processo de socialização
infantil, a interação entre as crianças, as formas de parti-
cipação de cada elemento, o desempenho dos papéis, o
nível de aceitação de cada participante do grupo lúdico, as
atitudes e os preconceitos, o surgimento de lideranças, en-
tre outros. Na abordagem psicológica, as brincadeiras são
analisadas de acordo com o significado dos objetos e das
ações para cada criança, das expectativas, do grau de es-
forço realizado para que as ações sejam valorizadas pelo
grupo, dos papéis desempenhados e de como são desem-
penhados, etc. Na abordagem antropológica, procura-se
acompanhar a trajetória dos jogos infantis em relação às
influências étnicas, à zona de dispersão, às variações que
ocorreram em virtude de tempos e espaços, etc. Tais enfo-
ques combinam as brincadeiras, relacionando-as a inúme-

PÁGINA 33
ros aspectos: recreação, desenvolvimento de habilidades
sociais, projeções psíquicas, contribuição para o desenvol-
vimento físico e mental da criança.

Sendo assim, a recreação na pré-escola torna-se de extrema relevância. Uma


atividade prazerosa, devidamente mediada auxilia no desenvolvimento integral
do aluno. Um professor que vislumbra uma aprendizagem de excelência não
pode desconsiderar essa premissa.

Nas próximas páginas apresentaremos algumas sugestões de jogos e percur-


sos de psicomotricidade que podem ser aplicados em crianças de pré-escola
que visam o desenvolvimento das áreas psicomotoras. As atividades foram re-
tiradas do livro: “120 jogos e percursos de psicomotricidade: crianças em movi-
mento”. Essa obra apresenta 30 jogos de cada categoria (jogos de percepção
corpórea, jogos de percepção espacial, jogos de equilíbrio e percursos psico-
motores).

Os jogos de percepção corpórea englobam vários exercícios que permite com


que a criança adquira consciência de seu próprio corpo. Conhecer o esquema
corporal significa primeiramente conhecer o corpo de forma integral e depois
de maneira analítica, em suas distintas partes. Para que adquira movimentos
mais complexos, é essencial que tenha conhecimento e familiaridade com seu
corpo. Tal conhecimento melhora a autoestima, segurança, postura, equilíbrio e
coordenação motora global.

Os jogos de percepção espacial buscam permitir que a criança adquira percep-


ção de espaço, senso de orientação. Permite conhecer o espaço em relação a
seu próprio corpo e isso favorece sua confiança e domínio de maneira espon-
tânea e agradável. A percepção espacial é percebida por meio do movimento,
dos sentidos e de todas as vivências corporais. Desenvolve a consciência de
espaço, sua abstração e representação gráfica. Para essa área necessita-se
de um espaço mais amplo e uma realização mais livre.

Os jogos de equilíbrio são voltados para a aquisição de equilíbrio. Proporcio-


narão uma progressiva percepção de uma correta postura corporal a permite
com que a criança brinque com a força da gravidade por meio das posições de
equilíbrio estático. É divertido, uma vez que permite que a criança experimente
posições que comumente não faz. É essencial para a tonicidade muscular, do-
sar a energia motriz, reflexos, segurança e coordenação em geral. Reforça a
lateralização e percepção do eixo de simetria.

PÁGINA 34
Os percursos psicomotores compreendem sempre mais de um objetivo: coor-
denação geral, capacidade sensorial, equilíbrio estático e dinâmico, destreza,
elevação, velocidade, prontidão de reflexos, orientação espacial. Geralmente
são necessários espaços amplos para a execução, como: salões, ginásios, jar-
dins, para melhor liberdade de movimentos. Sempre antes de iniciar o percurso
é importante avaliar o grau de dificuldade. Caso não esteja adequado para a
faixa etária, é possível simplificá-lo e adaptá-lo. Com crianças menores não se
deve fazer competição nos circuitos. A atividade deve ser apresentada de for-
ma divertida, para que a criança possa executar de forma serena e apresente
entusiasmo e vontade de obter sucesso, explica Paesani (2014). Selecionamos
algumas atividades de cada categoria, a qual apresentaremos na sequência:

Jogo de percepção corpórea

1- Toca, toca...
• Idade recomendada: 3-4 anos
• Objetivo: perceber o corpo integralmente
• Dificuldade: 1
• Materiais: um livro sobre o corpo
• Tempo: 20 minutos

Desenvolvimento: As crianças folheiam, com o educador, um livro sobre o


corpo humano e mencionam suas várias partes. Em seguida, o educador as
convida para ficarem de pé e tocarem com as mãos as várias partes, uma de
cada vez. A partir da cabeça, depois descendo para o pescoço, os ombros,
os braços, e assim por diante, até chegar aos pés. Para cada movimento se
dirá: “Vamos jogar o toca, toca... a cabeça!” Em seguida, o educador dirá:
“Agora vamos tocar de alto a baixo todas as partes do corpo, do rosto aos
pés”, e “Agora a parte de trás do corpo”. As crianças são convidadas a fechar
os olhos e o exercício é repetido de olhos fechados, parando no instante em
que o educador chama a atenção: “Toca, toca... o nariz”. Por fim, em duplas,
uma criança por vez tocará as partes do corpo do companheiro à sua frente,
indicadas pelo educador.

Jogo de percepção espacial

1- Serpentes venenosas.
• Idade recomendada: 3-5 anos
• Objetivo: adquirir domínio no espaço
• Dificuldade: 1
• Materiais: espaço amplo
• Tempo: 15 minutos

PÁGINA 35
Desenvolvimento: O educador guia as crianças rumo a uma aventura perigo-
sa: “Imaginem dever atravessar um campo coberto de serpentes venenosas!
Vocês devem prestar muita atenção para não pisar em nenhuma, senão...” As
crianças se deitam por terra, transformando-se em serpentes. Uma criança de
cada vez deve atravessar a área rapidamente sem encostar em ninguém. Po-
derá passar por cima, ou ao redor das serpentes, que se arrastarão lentamente
por baixo dos seus pés. O jogo termina quando todos tiverem realizado o per-
curso.

Jogo de equilíbrio

1- Duplas em equilíbrio.
• Idade recomendada: 4-8 anos
• Objetivo: reforçar o equilíbrio estático
• Dificuldade: 2
• Materiais: nenhum
• Tempo: 15 minutos

Desenvolvimento: O educador forma duplas de crianças, se possível da


mesma altura, depois diz: “Agora coloquem-se uma de frente para a outra
e segurem-se pelas mãos”. As crianças deverão levantar uma perna de
cada vez, esticada para trás, ao mesmo tempo, sem cair e sem fazer cair o
colega. A mesma coisa, com a perna esticada para o lado. Na medida em que
adquirem segurança, devem manter as posições por mais tempo. Em seguida,
o educador dirá: “Agora coloquem-se de costas uma contra a outra, segurando-
se pelos braços entrelaçados”. O educador mostra a posição. Nessa posição
levantam a perna para frente e depois a outra.

Percurso psicomotor

1- Percurso sensorial: olfato


• Idade recomendada: 4-8 anos
• Objetivo: desenvolver a capacidade olfativa
• Dificuldade: 3
• Materiais: café, perfume, limão, chocolate em pó, cebola, laranja,
lavanda, várias caixinhas, pedaços de gaze, papel, canetinhas.
• Tempo: 1 hora

PÁGINA 36
Percursos sensorial: olfato
Fonte: Livro: 120 jogos e percursos de psicomotricidade. Giovanna Paesani (2014).

Desenvolvimento: Preparação: organizar em uma cartolina as imagens dos


sete odores presentes no jogo (veja a imagem); fazer no chão sete círculos,
colocar os odores dentro de caixinhas e cobri-las com gaze, de maneira
que deixe exalar o cheiro, mas não possa ser visto o conteúdo. Colocar as
caixinhas dentro dos círculos (dois cheiros diferentes para cada círculo),
levando em conta que para cada odor deverão estar presentes duas caixinhas
para formar par. Convide então as crianças para sentar-se em volta dos
círculos.

Execução: alternadamente, cada criança se levanta, escolhe um recipiente,


cheira e informa o odor; depois escolhe outro recipiente e cheira. Se encontra
o cheiro certo que forma o par (dois odores iguais), vence e toma o seu par de
odores; caso contrário, recoloca as caixinhas de volta no seu lugar e se senta.
Assim por diante, na medida em que vão sendo identificados, torna-se mais
fácil encontrar os pares certos. Vence quem conseguir pegar mais pares.

PÁGINA 37
SAIBA MAIS

ATIVIDADES DE MODELAGEM SÃO DE EXTREMA IMPORTÂNCIA PARA A


PSICOMOTRICIDADE.

PODE-SE USAR (massinha, argila ou papel de seda)

• Deve-se começar fazendo bolinhas de qualquer tamanho. Depois o pro-


fessor dará um modelo e as crianças farão bolinhas do tamanho propos-
to. Passar a fazer bolas de tamanho crescente ou decrescente.

• Formar cilindros conforme o modelo dado pelo professor. Repetir os pas-


sos do exercício anterior.

• Fazer os exercícios anteriores, porém com os olhos fechados.

• Preencher desenhos com bolinhas de massa de modelar ou papel de


seda.

• Faz-se uma esfera grande, com mais ou menos 2 cm de diâmetro. Pe-


de-se à criança que pegue a esfera entre o polegar e o indicador; man-
tendo o cotovelo sobre a mesa e o antebraço o mais vertical possível.
Com o auxílio do dedo indicador; a criança deve fazer rolar a esfera vá-
rias vezes no sentido horário. Repetir o movimento no sentido contrário.

• Fazer uma bola grande com massa de modelar e fazer com que as
crianças afundem cada um dos dedos com força.

• Brincar livremente com a massinha de modelar respeitando a criativida-


de de cada um.

Dificuldades de aprendizagem: detectação e estratégias de ajuda. Ana Maria


Salgado Gómez; Nora Espinosa Terán, (1996, p. 246).

PÁGINA 38
REFLITA

Quando uma criança não tem bem desenvolvida sua percepção ao toque
(experiência tátil) as atividades que executa são comparadas a quando
estamos usando luvas de borracha (torna-se tudo mais difícil). Não há nada
errado com as mãos, mas o cérebro não consegue processar corretamente as
informações e seu desenvolvimento motor é prejudicado.

Por isso importância de se trabalhar atividades, como por exemplo, a


“modelagem” mencionada acima.

PÁGINA 39
MATERIAL COMPLEMENTAR
VÍDEO

Aprender a aprender
https://www.youtube.com/watch?v=Pz4vQM_EmzI

Esse vídeo retrata a aprendizagem por meio da mediação. O ato de ensinar


através do amor é um caminho possível. Todos nós somos corpo, cognição e
emoção.

LIVRO

Teoria das emoções: introdução à obra de Henri Wallon.


Autor: M. Martinet.
Ano: 1981.
Livro muito interessante!
Discorre sobre as emoções e sua influência para o desenvolvimento da criança.

PÁGINA 40
REFERÊNCIAS

ALMEIDA. P. N. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo:


Loyola, 2003.

CÓRIA-SABINI. M. A. Jogos e brincadeiras na educação infantil. São Paulo:


Papirus, 2005.

PAESANI. G. 120 jogos e percursos de psicomotricidade: crianças em mo-


vimento. Petrópolis: Vozes, 2014.

PÁGINA 41

Você também pode gostar