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GESTÃO EM SERVIÇO

SOCIAL
Autoras: Rosimere de Souza

Isabel Lopes Monteiro

Dados Pessoais

Nome:__________________________________________________________

Turma:____________ Matrícula:__________ Curso: ___________________

Endereço:______________________________________________________

Cidade: _____________________________________ UF:________________

CEP: ________________ Telefone:__________________________________

E-mail:_________________________________________________________

Programa de Pós-Graduação EAD

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI


Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro
Benedito - Cx. P. 191 - 89.130-000
INDAIAL/SC - Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-
9090 - www.uniasselvipos.com.br
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Ozinil de Souza Martins

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Prof. Marcio Moisés Selhorst

Equipe Pedagógica do IBAM: Anna Marina Fontes Ribeiro
Dora Apelbaum
Mara Darcy Biasi
Márcia costa Alves da Silva

Revisão de Conteúdo: Delaine Martins Costa

Revisão Gramatical: Iara de Oliveira



Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci

Copyright © UNIASSELVI 2013


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

361.307
S729g Souza, Rosimere de
Gestão em serviço social / Rosimere de Souza;
Isabel Lopes Monteiro. Indaial : Uniasselvi, 2013.
89 p. : il

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830- 691-5

1. Serviço social. 2. Estudo – Ensino – Gestão.


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
PARCERIA ENTRE
IBAM E UNIASSELVI
No momento atual, em todos os países, em qualquer instância de governo,
observa-se um movimento de revisão do papel do Estado, somado à exigência
das populações por atuação governamental de qualidade. Esta tendência conduz
à demanda expressiva para que se consolide a existência e o funcionamento de
um sistema qualificado de Gestão para a implementação de políticas públicas.

A institucionalização dos processos de gestão e a profissionalização dos


servidores públicos passam a ser instrumentos estratégicos para alavancar
condições de melhor execução de atividades e projetos, bem como dos meios de
controle necessários para avaliação de resultados da atuação governamental.

Inúmeras iniciativas são implementadas para dar consistência a este


modelo de gestão governamental que se apoia na valorização da transparência,
da participação e do controle social, que não podem existir sem instrumentos
adequados e pessoas qualificadas. É neste contexto que se forma a parceria do
IBAM com a UNIASSELVI.

Aprimorar o sistema de gestão pública, apoiar a formação de profissionais


que queiram ser ou já são do quadro do setor público e ampliar a informação
para o cidadão sobre como deve funcionar o governo são os propósitos iniciais
do MBA em Gestão Pública que passa a integrar o programa de pós-graduação
da UNIASSELVI. A equipe de Professores Autores que o compõe se destaca pelo
desempenho profissional em projetos da Administração Pública e como docentes
universitários.

A experiência da UNIASSELVI em processos educacionais em nível superior,


aliada à do IBAM, que há 60 anos atua, em nível nacional e internacional, para
o aprimoramento da administração pública, é composição de excelência para
enriquecer o cenário que se quer alcançar.

O IBAM e a UNIASSELVI desejam a todos os participantes uma boa jornada


de estudos. Aos que se dirigem ao setor público, que consolidem sua formação;
e, aos demais, que ampliem o nível de informação sobre governo e aprendam a
articular-se com ele como cidadãos.

Paulo Timm
Superintendente Geral do Instituto
Brasileiro de Administração Municipal – IBAM

Prof. Carlos Fabiano Fistarol


Pró-Reitor de Pós-Graduação a Distância
UNIASSELVI
Rosimere de Souza

Mestre em Serviço Social (1997) e


graduada em Serviço Social (1989) pela
PUC – Rio de Janeiro. Tem Experiência na
elaboração, implementação, supervisão e
coordenação de programas e projetos sociais nas
áreas temáticas de direitos humanos, direito da criança
e do adolescente, meio ambiente, gênero, juventude,
enfrentamento à homofobia, combate à violência, entre
outros. Experiência com desenvolvimento de ações de
mobilização de recursos: negociação com financiadores
nacionais e internacionais, órgãos do governo de todas
as esferas, empresariado, agências de cooperação
e fundos internacionais, elaboração de propostas
técnicas e orçamentárias. Experiência em construção e
condução de metodologias de avaliação de programas
e projetos sociais. Experiência com elaboração de
relatórios técnicos. Experiência com moderação de
grupos de discussão em exercícios de avaliação,
planejamento e elaboração de projetos. Docência
livre sobre temas relativos aos direitos
humanos e direitos sociais.

Isabel Lopes Monteiro

Especialista em Políticas Públicas pela


Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC - 1986), em Gerontologia Social
e Violência e Saúde pela Fio cruz (ENSP-1999 e
2006) e Atenção Domiciliar a Pessoas Idosas “Modelo
de Gestão pela Agência Española de Cooperación
Internacional – AECI - Embaixada da Espanha /
Colômbia-2007. Possui graduação em Serviço Social
pela Universidade Gama Filho (UGF - 1982). Atuação
profissional nos seguintes temas: controle social,
negligência e maus-tratos contra idosos e papel do idoso
na sociedade brasileira. Publicou na Revista ENLACE:
Instituto de Mayores y Servicios Sociales (Imserso):
Centro de Atenção e Prevenção a Violência Contra a
Pessoa Idosa (CEPAL/Chile-2007) e Qualificar para
Cuidar: Idosos Residentes em Favelas (Espanha/
IBISS-2012).
Sumário

APRESENTAÇÃO.......................................................................7

CAPÍTULO 1
A Reforma do Estado e os Impactos nas Políticas Públicas
no Brasil......................................................................................9

CAPÍTULO 2
Administração de Programas e
Projetos em Serviço Social.......................................................25

CAPÍTULO 3
Gestão de Serviços Sociais e Gestão Social..............................47

CAPÍTULO 4
Entidades Privadas e Possibilidades de Cooperação com
o Setor Público na Gestão de Serviços Sociais.........................63
APRESENTAÇÃO
Caro (a) pós-graduando (a):

O universo da gestão dos serviços sociais compreende um conjunto de
atividades voltadas para a formulação, organização, financiamento, gerenciamento,
execução, monitoramento e avaliação de ações nas áreas de saúde, educação,
habitação, cultura, lazer, assistência social dentre outras elencadas entre os
direitos sociais.

Destaca-se que este campo teve um desenvolvimento acelerado no contexto


da Reforma do Estado, na conjuntura da democratização pós Constituição Federal
de 1988.

A Gestão Social surge nesta conjuntura em meio ao debate sobre o


desenvolvimento de novas formas de gestão das ações públicas de atendimento
às demandas sociais, capazes de agregar a participação popular nos processos
de decisão, monitoramento e avaliação de serviços, projetos e programas, com
vistas ao aprimoramento das ações e consequente efetividade dos resultados.

A Gestão Social é também um conceito que leva em consideração a estreita


vinculação de micro contextos (as localidades, as comunidades, os grupos) com
ambientes e realidades globais e globalizantes em suas diversas expressões,
social, econômica, cultural, política, dentre outras.

Esta disciplina tem o objetivo de contribuir para a reflexão sobre os diversos


aspectos que envolvem a análise de gestão social de serviços sociais como, por
exemplo, os impactos dos ajustes macroeconômicos e da Reforma do Estado nos
processos de gestão das políticas sociais, bem como facilitar a compreensão dos
processos e as inovações no campo da gestão de serviços sociais, bem como o
papel do gestor neste contexto.

O Caderno de Estudos está dividido em quatro capítulos os quais abordam


os seguintes assuntos dispostos em seguida.

No capítulo 1: A REFORMA DO ESTADO E OS IMPACTOS NAS POLÍTICAS


PÚBLICAS NO BRASIL analisam-se os processos sociais que resultaram
na redução do papel do Estado no campo social e, por conseguinte, de suas
atribuições e responsabilidades frente às desigualdades sociais.

O capítulo 2: ADMINISTRAÇÃO DE PROGRAMAS E PROJETOS EM

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SERVIÇO SOCIAL está organizado em três partes. A primeira analisa a prática
do serviço social, suas derivações e as novas competências profissionais a partir
do resgate do surgimento do trabalho social, os aspectos políticos e sociais que
marcaram as primeiras escolas de serviço social até as práticas institucionais.

A segunda parte promove a reflexão sobre o cotidiano das demandas


institucionais na construção de projetos profissionais críticos, na busca pela
reconstrução do serviço social sobre o entendimento das demandas das classes
trabalhadoras, o significado da profissão e o seu projeto ético político, na esfera
pública e a participação da sociedade. A terceira e última parte deste capítulo
se concentra numa discussão mais ampliada das políticas de seguridade social
e os programas de transferência de renda, os mecanismos de enfrentamento
das desigualdades sociais e suas contradições frente à concepção universal de
proteção social.

No capítulo 3: GESTÃO DE SERVIÇOS SOCIAIS E GESTÃO SOCIAL visa


aprofundar o conceito de Gestão Social e sua interface com o conceito de gestão
de serviços públicos sociais, bem como os diversos agentes e entidades que
interagem neste universo.

Por fim, o capítulo 4: ENTIDADES PRIVADAS E POSSIBILIDADES DE


COOPERAÇÃO COM O SETOR PÚBLICO NA GESTÃO DE SERVIÇOS
SOCIAIS apresenta as características e o ambiente do terceiro setor e aponta
alguns instrumentos e mecanismos que viabilizam a cooperação entre os seus
atores na gestão de serviços sociais.

As autoras.

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C APÍTULO 1
A reforma do Estado e os Impactos
nas Políticas Publicas no Brasil

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Apresentar os impactos dos ajustes macroeconômicos e da Reforma


do Estado nos processos de gestão das políticas sociais.

33 Examinar os novos arranjos introduzidos pela Reforma do Estado nas ações


das políticas sociais dos governos e nos setores não públicos da área social.
Capítulo 1 A Reforma do Estado e os Impactos
nas Políticas Públicas no Brasil

Contextualização

A Reforma do Estado, consolidada pela Constituição Federal de 1988, foi um
marco importante na trajetória das políticas sociais. Muitos dos aspectos dessa
Reforma se refletiram diretamente nas relações entre o Estado e a sociedade, na
participação popular, nas relações de poder e de classe e, por consequência, no
trabalho cotidiano dos profissionais da área social, entre eles, os processos de
gestão das políticas sociais. Por tal motivo, neste capítulo, vamos voltar a atenção
para os processos sociais que resultaram na redução do papel do Estado no
campo social e, por conseguinte, de suas atribuições e responsabilidades frente
às desigualdades sociais.

À luz dos antecedentes históricos serão identificados os principais


Mas o quer
fatores que contribuíram para a Reforma do Estado e suas implicações
dizer Reforma
na gestão social das políticas públicas. do Estado?
Caracteriza-se
Mas, antes de tudo, o que quer dizer Reforma do Estado? pela delimitação do
Caracteriza-se pela delimitação do tamanho do Estado, do ponto de tamanho do Estado,
do ponto de vista
vista administrativo, e de suas responsabilidades, o que se expressa na administrativo,
redução do seu domínio institucional e na redefinição do seu papel. e de suas
responsabilidades,
Nesse contexto, a atuação do Estado nas políticas sociais vem o que se expressa
na redução do
sendo reduzida e, ao mesmo tempo, abre-se espaço para as ações de
seu domínio
natureza privada, empreendidas pelas organizações sociais sem fins institucional e na
lucrativos, pelas fundações e pelas áreas de responsabilidade social de redefinição do
empresas. Para alguns, este processo tem se configurado como uma seu papel.
desresponsabilização do Estado na área social.

Esta estratégia caracteriza-se por ideários liberais e neoliberais, isto é,


o Estado transfere para o mercado e, principalmente, para as organizações
privadas, o trato com a Questão Social.

A expressão Questão Social surge para denominar o fenômeno


do pauperismo da população trabalhadora. Ela resulta do capitalismo
e do aumento da produção industrial, da concentração de renda e do
monopólio do capital. É produto e expressão da contradição entre
capital e trabalho e se corporifica por meio da conscientização da
classe trabalhadora da exploração de sua mão de obra pelo capital.
(SOUZA, 2012, p. 19).

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Gestão em Serviço Social

O impacto das reformas administrativas sobre as políticas sociais é objeto


de interesse de todos aqueles que, direta ou indiretamente, atuam no campo das
políticas públicas. Há diversos profissionais que interagem na implementação
dos serviços de saúde, assistência social, habitação, educação, previdência
social, tornando multidisciplinar o campo de atuação da política social e, portanto,
complexo como veremos a seguir.

A Reforma do Estado e sua


Influência nos Novos Processos de
Gestão Social no Brasil
Os antecedentes históricos que ancoraram a ideologia neoliberal e sua
implementação no mundo, na América Latina e no Brasil são fundamentados
em um modelo de desenvolvimento econômico baseado no fortalecimento do
mercado e do que o movimenta: a lei da oferta e da procura. Um mercado livre e
forte que exonera a ingerência do estado na economia e que se fortalece no final
da década de 1970 em um cenário de recessão econômica. É em tal cenário que
se desenvolvem muitos dos aspectos da Reforma do Estado. Este ator precisa
criar novos mecanismos e arranjos que possam responder às exigências do novo
modelo econômico em curso de forma eficaz, eficiente e efetiva.

Vale destacar que a supremacia do neoliberalismo se fortaleceu a partir do


governo de Margaret Thatcher (1979 a 1990), na Inglaterra, e de Ronald Reagan
(1981 a 1989), nos EUA, e ganhou maior adesão entre os países que, anteriormente,
mantinham seus fundamentos no modelo do Estado de Bem-estar Social (Welfare
State). A proposta neoliberal trazia promessas de liberdade e prosperidade
econômica, ao mesmo tempo em que era contrária aos modelos nacionalistas e
desenvolvimentistas, adotados pela maioria dos governos da América Latina.

Welfare State: “[...] pode ser sintetizado na sistematização


de uma esfera pública, onde a partir das regras universais e
pactuadas, o fundo público, em suas diversas formas, passou ao
pressuposto do financiamento da acumulação do capital, de um
lado, e de outro, o financiamento da reprodução da força de trabalho,
atingindo globalmente toda população por meio de gastos sociais.”
(OLIVEIRA,1998, p. 19-20).

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Capítulo 1 A Reforma do Estado e os Impactos
nas Políticas Públicas no Brasil

Atividade de Estudos:

1) A ideologia neoliberal e sua implementação no mundo, na


América Latina e no Brasil são fundamentados em um modelo de
desenvolvimento econômico baseado no fortalecimento do mercado
e do que o movimenta: a lei da oferta e da procura. Um mercado
livre e forte que exonera a ingerência do estado na economia e que
se fortalece no final da década de 1970 em um cenário de recessão
econômica. Discorra sobre os principais reflexos desse modelo
econômico nas políticas de desenvolvimento social.
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Na década de 1980, sob a chancela de instituições financeiras como o Fundo


Monetário Internacional - FMI - e o Banco Mundial, os prazos de pagamentos das
dívidas externas contraídas em razão da crise fiscal e econômica foram dilatados
e a América Latina precisou adequar-se a esse novo modelo de desenvolvimento
econômico.

No Brasil, a política neoliberal se instalou definitivamente na década de


1990 e foi incorporada pelos governos seguintes. O advento do Plano Real é um
exemplo de iniciativa neoliberal, que buscava combater a inflação, através do
ajuste fiscal, o qual dolarizava a economia, na intenção de que a moeda brasileira
fosse valorizada.

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Gestão em Serviço Social

Não bastou muito para que as exigências advindas desse novo modelo
econômico, naquele período, desencadeassem, entre outros efeitos, um forte
impacto sobre a máquina administrativa. Foi neste período que o Estado transferiu
para o setor privado algumas de suas atribuições.

De acordo com Nogueira (2004), direta ou indiretamente, tudo o que era


estatal foi diminuído: as organizações administrativas, as instituições políticas, os
serviços públicos, o número de funcionários, as escolas e universidades públicas,
a “classe política”, os partidos e o poder Legislativo.

Já nos países da América Latina e, em especial, no Brasil, o advento da


dívida externa agregado aos ajustes da economia, aos cortes nos gastos públicos
e às propostas que apontavam para privatizações das empresas públicas tiveram
grandes repercussões nos sistemas públicos de proteção social que, entre outros
agravos, colaborou para a precarização do trabalho, dando novos contornos para
a Questão Social no país.

Vejamos o que nos diz Iamamoto (2001, p.16 -17):

A questão social expressa, portanto disparidades econômicas,


políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por
relações de gênero, características étnico-raciais e formações
regionais, colocando em causa as relações entre amplos
segmentos da sociedade civil e o poder estatal.

A PARTICIPAÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA

O “Milagre Econômico”, ocorrido no período da ditadura militar


(1968 a 1973), gerou grande euforia da classe média, porém as
classes baixas não alcançaram esse milagre. O milagre durou pouco,
pois a crise do petróleo, em 1973, de dimensões mundiais, elevou a
dívida externa a patamares altíssimos.

A desigualdade social elevada acarretava um alto índice de


mortalidade infantil e de menores abandonados; 30% dos municípios
da federação não tinham abastecimento de água. Nessa época, o
Brasil atingiu o 9º Produto apenas para Índia, Indonésia, Bangladesh,
Paquistão e Filipinas. De acordo com estudo do Banco Mundial, em
1976, 70 milhões de brasileiros eram desnutridos ou subnutridos,
representando cerca de 64,5% da população da época.

No governo do último presidente militar, general João Figueiredo

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Capítulo 1 A Reforma do Estado e os Impactos
nas Políticas Públicas no Brasil

(1979 a 1985), deu-se início ao processo de recessão econômica


que atingiu duramente o país, em especial, os assalariados.

Em 1985 assume o primeiro presidente civil, José Sarney, com a


inflação de 223,8%, herdada do governo anterior.

O Plano Cruzado, em 1986, promoveu um choque na economia.


Criou uma nova moeda; acabou com a correção monetária; congelou
preços e salários. Com medidas destinadas a eliminar a inflação, em
1986, a inflação ficou em 58,5%.

Fonte: Extraído e adaptado de: Disponível


em: <http://www.algosobre.com.br/historia/milagre-
economico-o.html>. Acesso em: 02 mar. 2013.

Apesar da eleição indireta, Tancredo Neves aceitou o desafio de


se candidatar à Presidência da República e, com o apoio de Ulysses
Guimarães, venceu as eleições, sendo eleito o primeiro presidente
civil em mais de 20 anos, no dia 15 de janeiro de 1985.

O ano de 1989 pode ser apontado como o ano da retomada dos sonhos e
da utopia da construção de um país democrático e menos desigual no Brasil. A
ditadura fora extinta quatro anos antes, com a saída de cena do último presidente
general, aquele que dissera “preferir cheiro de cavalo a cheiro de povo”.

Além disso, o ano de 1989 foi coroado de sucessivos fatos marcantes no


mundo, tais como:

–– a queda do muro de Berlim;

–– a morte de três mil manifestantes na Praça Celestial da Paz, em Pequim;

–– o Prêmio Nobel da Paz concedido ao Dalai Lama.

Assim como em toda América Latina, o Brasil passou a aderir, na década


de 1990, aos programas compensatórios, como solução para as vulnerabilidades
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Gestão em Serviço Social

produzidas pelas desigualdades sociais, geradas por este novo modelo capitalista
de produção e desenvolvimento. Nessa mesma época, os programas sociais
compensatórios eram definidos a partir de critérios políticos partidários, emendas
parlamentares, transferência de recursos financeiros aos estados e municípios e
resultava na execução de ações pontuais. Ações que o advento da Lei Orgânica
de Assistência Social – LOAS – buscou mitigar.

Como visto, no período que representa o fim da ditadura militar e dá início


ao processo democrático no país, acentuaram-se as desigualdades sociais. A
pobreza atingiu os maiores patamares, comprometendo, inclusive, o processo
democrático e repercutindo em áreas como as de saúde, educação, moradia,
além da distribuição de renda, o que veio a contribuir para o esgarçamento das
relações sociais.

O prof. de História Social Fábio Pestana Ramos, que escreve sobre o golpe
de Estado e a ditadura militar pelo prisma político-econômico, afirma que no final
da década de 1970, o Brasil era um dos campeões mundiais de mortalidade
infantil e de desnutrição. O número de crianças abandonadas chegou à casa
dos dez milhões; a dívida externa cresceu rapidamente, fazendo o país refém
do Fundo Monetário Internacional (FMI) e das altas taxas de juros cobradas. Os
gastos do governo, a dívida externa e outros problemas estruturais conduziram
a uma inflação que atingiu proporções nunca antes vistas, corroendo o poder de
consumo da população mais pobre e beneficiando os ricos e o capital especulativo.
(RAMOS, 2011).

Havia ainda uma acentuada concentração de renda no período de 1960 a


1985, em que os rendimentos da População Economicamente Ativa - PEA foram
distribuídos em: 50% mais pobres, em 1960, que detinham 17,4%, enquanto o 1%
mais ricos participava com 11,9%. Em 1985, os 50% mais pobres diminuíram sua
participação para 13%, ao passo que o 1% mais ricos superou essa massa de
trabalhadores pobres, pois retinha 14,4% do total dos rendimentos auferidos no
ano. (RAMOS, 2011).

Conforme Nogueira (2004, p. 84): “Falas, promessas e intenções tornaram-


se mais generosas, e importantes avanços legais foram alcançados. A despeito
disso, o fosso permaneceu dilatado.” Ainda de acordo com o autor, os anseios do
povo por melhorias nas áreas setoriais básicas não estavam sendo alcançados.
Ao contrário, instalava-se um novo modelo capitalista de desenvolvimento
econômico globalizado e globalizante, inclusive das desigualdades sociais.

Este cenário e a pressão dos movimentos organizados levaram os


governantes a repensar as consequências da pobreza e as relações entre o
econômico e o social. Com o início da abertura política, no final da década de

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Capítulo 1 A Reforma do Estado e os Impactos
nas Políticas Públicas no Brasil

1970, emergiram novos grupos sociais organizados, que passaram a discutir os


rumos da sociedade frente à proposta de Reforma do Estado, abrindo caminho
para a consolidação de novos direitos na Constituição Federal de 1988. Destaca-
se, por exemplo, a instituição de direitos não consagrados nas Constituições
anteriores – os direitos sociais, por exemplo - e de novas formas de participação
da população na gestão das políticas públicas, na forma dos Conselhos (artigo
204 da CF 1988).

LEGISLAÇÂO DESTAQUE

Vamos ver o que diz a Constituição Federal sobre os Direitos


Sociais!

O artigo 6°, da CF/88, que se encontra dentro do Título sobre


os Direitos e Garantias Fundamentais, trata dos direitos sociais que
devem ser respeitados, protegidos e garantidos a todos pelo Estado:

1. Direito à educação: direito de cada pessoa ao desenvolvimento


pleno, ao preparo para o exercício da cidadania e à qualificação para
o trabalho.
2. Direito à saúde: direito ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde,
bem como à redução do risco de doença e de outros agravos.
3. Direito ao trabalho: direito a trabalhar, à livre escolha do
trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à
proteção contra o desemprego.
4. Direito à moradia: direito a uma habitação permanente que
possua condições dignas para se viver.
5. Direito ao lazer: direito ao repouso e aos lazeres que permitam
a promoção social e o desenvolvimento sadio e harmonioso de cada
indivíduo.
6. Direito à segurança: direito ao afastamento de todo e qualquer
perigo e garantia de direitos individuais, sociais e coletivos.
7. Direito à previdência social: direito à segurança no
desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou
noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias
independentes da sua vontade.
8. Direito à maternidade e à infância: direito da mulher, durante a
gestação e o pós-parto, e de todos os indivíduos, desde o momento
de sua concepção e durante sua infância, à proteção e à prevenção
contra a ocorrência de ameaça ou violação de seus direitos.

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Gestão em Serviço Social

9. Direito à assistência aos desamparados: direito de qualquer


pessoa necessitada à assistência social, independentemente da
contribuição à seguridade social.

Fonte: Extraído e adaptado de: BRASIL. Constituição


Federal de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988.

Com a gradativa transferência da execução das políticas públicas da esfera


federal para as esferas estaduais e municipais – um dos aspectos da reforma
do Estado - começam a surgir e a se desenvolver os diversos pilares que dão
sustentabilidade a essas formas de gestão descentralizadas:

–– aspectos legais: marcados pelas leis complementares que instituem e


regulamentam as políticas públicas e suas descentralizações - como a
Lei nº 8080/1990 que institui o SUS (Sistema Único de Saúde), a Lei nº
8.742/1993 (alterada pela Lei n° 12435/2011) ou LOAS (Lei Orgânica de
Assistência Social) que dispõe sobre a organização da Assistência Social
e institui o Sistema Único de Assistência Social e a Lei nº 9.394/1996
ou LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). Além dessas leis
estruturantes do sistema, são importantes as resoluções dos respectivos
conselhos das áreas afins, as Portarias (incluindo as interministeriais) e as
Normas Operacionais.
–– diversos arranjos institucionais: destinados à prestação dos serviços
públicos, tais como as secretarias de governo, as coordenadorias, as
unidades de atendimento, os programas territorializados, entre outros, e
voltados também para a ampliação da participação da população na gestão
das políticas públicas, a exemplo dos conselhos setoriais, conselhos de
programas e temáticos e as comissões municipais, entre outros.
–– mecanismos e instrumentos de gestão: planos setoriais; consórcios
intermunicipais ou regionais; pactos de adesão, entre outros.

Destaque especial deve ser dado para a área da Assistência Social, cuja
consolidação como política pública na CF de 1988 foi resultado da luta dos
movimentos sociais e de categorias profissionais organizadas.

Vamos ver o que diz a Constituição Federal de 1988 sobre a Assistência


Social. O artigo 203 a define como:

Dever do Estado e direito do cidadão, Política de Seguridade


Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, que

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Capítulo 1 A Reforma do Estado e os Impactos
nas Políticas Públicas no Brasil

se realiza através de um conjunto de ações integradas de


iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento
às necessidades básicas de todos que dela necessitar.

Com o advento da Lei Orgânica de Assistência Social/LOAS - Lei nº


8.742/1993 (alterada pela Lei n° 12435/2011), evidencia-se em seus artigos
a proposta de organização das ações socioassistenciais em Sistema Único de
Assistência Social – SUAS a ser cofinanciado e executado por todos os entes
federados. Esta disposição inaugurou um processo intenso de regulamentações
de conceitos e instrumentos de gestão para a efetiva implementação da política
de forma universal.

A LOAS, Lei no 8042/1993, organiza a Assistência Social no


Brasil, institui o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e
orienta os municípios, os estados e o Distrito Federal a instalar os
Conselhos de Assistência Social.

Atividade de Estudos:

1) O artigo 203 da Constituição Federal de 1988 define como dever


do Estado e direito do cidadão a Política de Seguridade Social
não contributiva, que provê os mínimos sociais, e que se realiza
através de um conjunto de ações integradas de iniciativa pública
e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades
básicas de todos que dela necessitar. Com base nesse artigo
constitucional aponte quais as políticas públicas que compõem a
seguridade social.
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Políticas Sociais e a Contribuição do


Voluntariado e da Sociedade Civil
Vamos agora voltar à atenção para a lógica que permeia as políticas sociais
e a contribuição do voluntariado e da sociedade civil, aspectos importantes no
âmbito do serviço social.

Na atualidade, assiste-se a uma reconfiguração na estrutura da prestação


dos serviços sociais públicos no país:

–– Na década de 1980 observou-se uma grande mobilização da sociedade


civil em torno de ações locais que contribuíram para a emergência de
demandas específicas de diversos grupos sociais e também para a
afirmação das identidades de gênero, étnico/raciais, etárias.
–– Na década de 1990 o país viveu a era da solidariedade com o incentivo do
governo federal na época.
–– Na década de 2010 a institucionalização das diretrizes que orientaram a
organização das políticas públicas impulsionou um amplo processo de
reordenamento institucional das organizações de governo e da sociedade
civil, as ONGs, as OSs, as OSCIPs.

Sociedade civil: É parte de um binômio e faz contraponto com


o Estado. Corresponde à população de cidadãos, ou esfera privada,
e abrange suas variadas formas de organização e expressão, com
ou sem fins lucrativos, podendo ser legalmente constituídas ou
espontâneas e informais.

20
Capítulo 1 A Reforma do Estado e os Impactos
nas Políticas Públicas no Brasil

ONGs: Organizações não governamentais.


OSs: Organizações Sociais.
OSCIP: Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.

Embora o termo “ONG” tenha sido utilizado na década de 1940 pela ONU para
designar diferentes entidades executoras de projetos humanitários ou de interesse
público (LANDIM, 1993), no Brasil, a expressão se referia, principalmente, às
organizações de “Cooperação Internacional”, formada por Igrejas (católica e
protestante), organizações de solidariedade ou governos de vários países. Essas
organizações priorizavam a ajuda às organizações e aos movimentos sociais nos
países do sul, com o intuito de “consolidar a democracia”. (COUTINHO, 2005).

Para Fernandes (1994), as ONGs pioneiras deste país surgem no


contexto da ditadura militar, período em que já vigorava uma nova estratégia
de desenvolvimento latino americana, a Autoritária Modernizante (1964-1978),
a qual dava continuidade ao crescimento econômico advindo do Nacional
Desenvolvimentismo, mas gerava uma profunda repressão política e cultural,
excluindo as classes populares e, até mesmo, as tradicionais autoridades
religiosas, como as da Igreja Católica, dos círculos mais íntimos do poder.

Não por acaso, várias das ONGs que emergiram após os anos de 1970
possuíam não só financiamentos internacionais, mas também “[...] o apoio de alas
progressistas da Igreja Católica, que reviu suas posições quanto à organização
da população para participar de movimentos e mobilizações conscientizadoras.”
(GOHN, 2000, p. 12).

Para muitos autores, esses organismos não governamentais que compõem o


“terceiro setor” vêm ocupando espaços na execução de serviços sociais públicos
devido à retração do poder público.

Terceiro Setor : De acordo com Fernandes (1994, p. 21), o


termo “terceiro setor” significa: “[...] um conjunto de organizações
e iniciativas privadas que visam à produção de bens e serviços
públicos. Este é o sentido positivo da expressão”. Acrescenta: “Bens
e serviços público nesse caso implicam uma dupla qualificação: não
geram lucros e respondem a necessidades coletivas”.

Montaño (1999) destaca que não é a crise do Estado-providência que deriva

21
Gestão em Serviço Social

o surgimento e o crescimento do chamado terceiro setor. Para o autor, “[...] o


crescimento do chamado “terceiro setor” é consequência direta e explícita do
projeto neoliberal” (MONTAÑO, 1999, p. 66), simultaneamente à redução do gasto
social do Estado e a desobrigação do capital do financiamento da política social.

Sobre o novo padrão de intervenção social adotado pelos Estados no


contexto do neoliberalismo, Mota (2008, p.167) assevera que:

Este processo é responsável por um redirecionamento do


papel do Estado que ao invés de políticas sociais públicas,
que garantam a reprodução da força de trabalho, adota a
perspectiva de Estado mínimo para o social e máximo para
o capital, tendo este como pressupostos a desregularização
da força de trabalho, associada a uma desresponsabilização
perante a “questão social”. Esse processo de transformação
do padrão de intervenção do Estado na “questão social” dá
origem a um tipo de intervenção que preconiza a participação
do chamado terceiro setor ou de parte da sociedade civil.

Landim (1993, p.17) chama a atenção para Fórum Global, realizado em


1992, no Rio de Janeiro:

[...] onde a Conferência Paralela à UNCED, ou Conferência


da Sociedade Civil Mundial, demonstrava não só a existência,
mas também a vocação transnacional das ONGs. Ficou
empiricamente provada através da variedade de raças, línguas
e personagens “exóticas” de tudo quanto é parte do mundo
que desembarcou no Parque do Flamengo, convivendo em
um clima de reconhecimento mútuo que conformava certa
idéia de conjunto – diversidade e “unidade” palpável também
para os milhares de brasileiros participantes ou curiosos que
transitaram por ali, nesses dias.

Dessa forma, entende-se que, para a autora, a chamada “década perdida”


- a década de 1980 - não o foi para essas instituições que, de acordo com os
indicativos acima, passaram por um movimento especial de reprodução. “Na
década de 2000 o mundo assistiu às edições do Fórum Social Mundial que
acontecia em paralelo ao Fórum Econômico Mundial.” (LANDIM, 1993, p.17).

22
Capítulo 1 A Reforma do Estado e os Impactos
nas Políticas Públicas no Brasil

Algumas Considerações
O capítulo apresentou os principais fragmentos históricos da política social
e econômica que configuraram as políticas sociais na América Latina e no Brasil.

As análises fundamentaram-se no modelo globalizado instituído pelo projeto


neoliberal, que influenciou as políticas de desenvolvimento econômico, colocando
em xeque os preceitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988.

Foi demonstrado, também, que o corolário de uma política focalizada


no desenvolvimento econômico e na redução dos gastos com políticas de
desenvolvimento social resulta em políticas sociais fragmentadas que fortalecem
o agravamento das desigualdades sociais e abrem espaços para políticas
compensatórias e minimistas.

Por fim, pode-se entender que este modelo de gestão pública globalizada
abre espaço para a entrada de instituições não governamentais, pois o Estado, ao
fracionar suas funções, transfere responsabilidades para a sociedade civil, reduz
seu espectro de atuação, deixando uma lacuna a ser preenchida por entidades
que integram o “Terceiro Setor”.

Para Landim (1993, p. 17):

A chamada “década perdida” pode ser considerada como


uma [...] fórmula que deu certo a qual – a depender do que se
tem escrito e dito sobre a terra – anuncia-se como fenômeno
apropriado para florescer no clima dos anos 90, onde se
tem colocado como questão de peso, nos campos políticos
a intelectuais e a nível mundial, a redefinição dos papéis do
Estado e de uma sociedade civil, nos processos de mudança
política e de desenvolvimento econômico a social.

Referências
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS. Lei no 8042/1993.


Brasília: PR, 1993.

COUTINHO, Joana. ONGs: caminhos e (des)caminhos. Lutas Sociais, São


Paulo, v. 14, n. 13, p.57-65, jul. 2005. Semestral. Disponível em: <http://www.
pucsp.br/neils/downloads/v13_14_joana.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2013.
23
Gestão em Serviço Social

FERNANDES, Rubens C. Privado Porém Público: O terceiro Setor na América


Latina. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume – Dumará, 1994.

GOHN, Maria da G. Os sem terra, ONGs e cidadania. 2 ed. São Paulo: Cortez,
2000.

IAMAMOTO, M. V. Renovação e Conservadorismo: Ensaios críticos. São


Paulo: Cortez Editora, 2001.

LANDIM, L. A Invenção das ONGs: do serviço invisível a profissão sem nome.


Rio de Janeiro: Museu Nacional; Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1993.
MONTAÑO, C.E. Terceiro Setor e Questão Social: Crítica ao Padrão
Emergente de Intervenção Social. São Paulo: Cortez Editora, 1999.

MOTA, Ana E. O Mito da Assistência Social: ensaios sobre Estado, Política e


Sociedade. São Paulo: Cortez Editora, 2008.

NOGUEIRA, Marco A. Um estado para a Sociedade Civil: temas éticos e


políticos de gestão democrática. São Paulo: Cortez Editora, 2004.

OLIVEIRA, Francisco. Os Direitos do Anti-valor: a economia política da


hegemonia imperfeita. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

ONU. La pobreza en America Latina: dimensiones y políticas. Santiago de


Chile. (Estúdios e Informes de la CEPAL). 1985.

RAMOS, Fábio Pestana. 1964: o golpe de Estado e a ditadura militar pelo


prisma político-econômico. 30 de maio de 2011. Disponível em: <http://
fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/05/1964-o-golpe-de-estado-e-ditadura.
html>. Acesso em: 10 jan. 2013.

SOUZA, Rosimere de. Políticas Sociais. Indaial: Uniasselvi, 2012.

24
C APÍTULO 2
Administração de Programas e
Projetos em Serviço Social

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os


seguintes objetivos de aprendizagem:

33 Apresentar uma revisão da trajetória da atuação prática do serviço social e as


novas competências profissionais.

33 Analisar e debater sobre as novas demandas emergentes no contexto da


Questão Social e algumas respostas que podem ser oferecidas para o seu
enfrentamento.
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

Contextualização

Nesta etapa, vamos abordar temas que subsidiarão a sua compreensão
sobre o trabalho social, quais sejam: a genealogia do serviço social, a reprodução
das relações sociais e suas manifestações e os mecanismos de enfretamento das
desigualdades sociais.

Vamos contemplar campos de discussão relacionados às dimensões teórico-


metodológica e operativa do serviço social na administração de programas
e projetos que, ao longo de sua trajetória, vêm sofrendo transformações no
enfrentamento às desigualdades sociais.

O capítulo está organizado em três partes: a primeira se concentra na prática


do serviço social, suas derivações e as novas competências profissionais. Para
compreendê-la vamos partir de um delineamento histórico: o surgimento do trabalho
social, os aspectos políticos e sociais que marcaram as primeiras escolas de
serviço social até as práticas institucionais. A segunda parte nos leva a refletir sobre
o cotidiano das demandas institucionais na construção de projetos profissionais
críticos, na busca pela reconstrução do serviço social e sobre o entendimento das
demandas das classes trabalhadoras e o significado da profissão.

Por último, vamos nos concentrar numa discussão mais ampliada das
políticas de seguridade social e os programas de transferência de renda, os
mecanismos de enfrentamento das desigualdades sociais e suas contradições
frente à concepção universal de proteção social.

Cotidiano das Demandas


Institucionais à Construção de
Projetos Profissionais Críticos
Para iniciar a reflexão sobre as derivações da atuação profissional do serviço
social, vamos retornar à década de 1930, quando surgiram as primeiras escolas
de serviço social, sob a influência da Igreja Católica e das Ligas das Senhoras
Católicas, respectivamente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Tanto a Igreja quanto
as Ligas influenciaram e organizaram a estrutura do Curso Intensivo de Formação
Social para Moças, dividido em três eixos: Formação Científica; Formação Técnica
e Formação Moral e Doutrinária, princípios inerentes à profissão.

27
Gestão em Serviço Social

Em 1936, foi implantado o primeiro Centro de Estudos e Ação Social (CEAS)


de São Paulo, no qual foi oferecido o “Curso Intensivo de Formação Social para
Moças”, ministrado por Mademoiselle Adéle Loneux, da Escola Católica de Serviço
Social de Bruxelas. As atividades do CEAS se orientaram para a formação técnica
especializada de quadros para a ação social e para a difusão da doutrina social
da Igreja. (IAMAMOTO, 2009).

De acordo com Iamamoto (2009), em 1936, a partir dos esforços


desenvolvidos por esse grupo da Igreja e do CEAS, foi fundada a Escola de
Serviço Social de São Paulo. A visão das atividades para o serviço social se
ampliou e foram inseridas outras demandas, que envolviam trabalhos com colonos
e imigrantes, com a finalidade de “[...] realizar o conjunto de trabalhos necessários
ao reajustamento de certos indivíduos ou grupos às condições normais de vida”
(IAMAMOTO, 2009, p. 177), que na época representava um grande avanço para
o serviço social. Novos métodos organizacionais foram inseridos, dando início ao
Serviço Social de Casos Individuais, que oportunizou a criação do Departamento
de Serviço Social do Estado.

No ano de 1898 foi realizado, em Nova York (EUA), o curso


destinado à aprendizagem da ação social. O impulso trazido pela
criação da escola foi muito importante para a sistematização do
ensino do Serviço Social, bem como para o seu processo de
profissionalização e institucionalização. “Na segunda metade do
século XIX, em 1908, fundou-se na Inglaterra a primeira escola de
Serviço Social do mundo”. (MARTINELLI, 2006, p. 106).

Outro aspecto relevante foi o avanço do campo de atuação, como destaca


Iamamoto (2009, p.187-188). Em função do aumento das demandas, o número
de assistentes sociais diplomadas não foi suficiente para dar conta das atividades
requisitadas. Os mecanismos utilizados pelos mantenedores das escolas de
formação foram os de criar cursos intensivos para auxiliares sociais, fornecer
bolsas de estudos para as Assistentes Sociais em formação e acelerar a formação
de profissionais.

Com essas iniciativas, os mantenedores financiavam as bolsas de estudos


para abreviar o tempo de formação de Assistentes Sociais:

28
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

[...] permitiram, ao mesmo tempo, uma “purificação” da


formação técnica especializada enquanto profissão, na medida
em que grande parte dos alunos das escolas de Serviço Social
passou a se constituir de funcionários de grandes instituições
[...]. Nesse momento se instala uma luta no Serviço Social,
não atrelada, apenas, ao mercado de trabalho e, sim, pelo
reconhecimento da profissão e pela exclusividade, para
diplomados, frente o grande número de vagas disponíveis nos
serviços públicos e autarquias. (IAMAMOTO, 1982, p.187).

Atividade de Estudos:

1) De acordo com Iamamoto (2009), a década de 1930 foi marcada por


acontecimentos importantes para o desenvolvimento da profissão
de Serviço Social no Brasil. Descreva esses acontecimentos.

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________ Das atividades
____________________________________________________ doutrinárias e
____________________________________________________ assistenciais
desenvolvidas
____________________________________________________
pelas primeiras
____________________________________________________ Assistentes
Sociais podemos
destacar: plantão
de atendimentos,
visitas domiciliares,
reuniões
Ainda de acordo com a autora, das atividades doutrinárias e educativas,
assistenciais desenvolvidas pelas primeiras Assistentes Sociais tratamento de
podemos destacar: plantão de atendimentos, visitas domiciliares, casos. Além
reuniões educativas, tratamento de casos. Além de inquéritos familiares, de inquéritos
familiares,
pesquisas sobre as condições de moradia, a situação sanitária
pesquisas sobre
econômica e moral do proletariado. as condições
de moradia, a
A atuação das assistentes sociais se ampliava chegando às situação sanitária
empresas, com atendimentos individuais e de grupos, organização de econômica e moral
do proletariado.
atividades de lazer e educativas, benefícios sociais. Também passaram

29
Gestão em Serviço Social

a fazer parte do serviço social médicos, com funções diversas na área de saúde,
voltadas para o atendimento direto aos clientes, com informações, triagem,
orientações e encaminhamentos.

Durante esse período, grandes modificações ocorrem no cenário


O Estado Novo
político e econômico no país, advindas dos avanços da indústria.
varguista procurou
controlar os O êxodo de contingentes da população, vindos da área rural para
movimentos os grandes centros na busca de novas oportunidades, alterou o
de grupos cenário político e econômico da cidade e a crescente autonomia
independentes, das organizações sindicais. Por outro lado, o Estado Novo varguista
formados pelas procurou controlar os movimentos de grupos independentes, formados
classes de pelas classes de proletariados, e criou novas instituições, como:
proletariados, e criou
Seguro Social, Salário Mínimo, Assistência Social, Justiça do Trabalho
novas instituições,
como: Seguro e outras.
Social, Salário
Mínimo, Assistência
Social, Justiça do
Trabalho e outras. O período do Estado Novo foi, a um só tempo, de
grande avanço nas políticas sociais e econômicas, sobretudo
devido à implantação de uma ampla legislação trabalhista - para
os trabalhadores urbanos - e de apoio à industrialização, e de
expressivo retrocesso em termos de liberdade política, com
a extinção dos partidos políticos, a censura e a repressão. O
Tribunal de Segurança Nacional, criado para julgar participantes da
Intentona Comunista, passou a julgar os adversários do regime. (A
CONSOLIDAÇÃO, 2013).

Com o advento da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) e do possível


engajamento do país, o governo criou campanhas assistencialistas, realizadas
pela Legião Brasileira de Assistência – LBA. Sposati (2004, p. 20) aponta para o
fato histórico da criação dessa instituição:

Em outubro de 1942 a L.B.A. se torna uma sociedade civil


de finalidades não econômicas, voltadas para “congregar as
organizações de boa vontade”, aqui a assistência social como
ação social é ato de vontade e não direito de cidadania.

A origem da Legião Brasileira da Assistência está intimamente


ligada à participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Originária
da urgência de mobilizar o trabalho civil em apoio ao esforço de
guerra transformou-se rapidamente na primeira instituição social
30
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

de âmbito nacional. Neste clima de vibração cívica, surgiu a LBA,


sob a inspiração da Primeira Dama do país, Sra. Darcy Sarmanho
Vargas e com o apoio da Federação das Associações Comerciais e
da Confederação Nacional da Indústria.

Para obter mais informações, leia:

LBA – Trajetória de uma instituição no contexto das políticas


Durante a era
públicas. Revista Debates Sociais, Rio de Janeiro, n. 59, p.105,
Vargas, outras
2001. escolas e campos
de atuação do
serviço social
foram surgindo. O
Naquela época, a assistência social desenvolvida pela LBA imprimia Curso de Trabalho
Social, na Escola
a marca do governo federal e era sempre presidida pela primeira dama
de Enfermagem
da república. Como observou Sposati (2004), essa ação da LBA Ana Nery; a
trouxe para a assistência social o vínculo emergencial e assistencial, Fundação Leão
característica que predominou na trajetória da assistência social. XIII, para atender
Iamamoto (2001) complementam que a LBA tinha por objetivo promover as demandas
assistência às famílias cujos chefes encontravam-se mobilizados pela educacionais da
população residente
guerra e desenvolver ações sociais.
em favelas do
Rio de Janeiro, e,
Durante a era Vargas, outras escolas e campos de atuação do ainda, o Serviço
serviço social foram surgindo. O Curso de Trabalho Social, na Escola Social da Indústria
de Enfermagem Ana Nery; a Fundação Leão XIII, para atender as - SESI e o Serviço
demandas educacionais da população residente em favelas do Rio de Social do Comércio
– SESC
Janeiro, e, ainda, o Serviço Social da Indústria - SESI e o Serviço Social
do Comércio – SESC foram as primeiras instituições com recursos e
sob a direção do empresariado que tiveram por objetivo a prestação de serviços
assistenciais, abrangendo, também, uma parcela da população urbana. Voltemos
às palavras de Iamamoto (1982, p. 249) “O Serviço Social deixa de exercer
apenas às atividades de coordenação dos serviços assistenciais para se situar
mais profundamente ao confronto direto entre o capital e o trabalho”.

A profissão de Assistente Social foi regulamentada no Brasil em


1957 através da Lei nº 3.252 de 27.08.1957, sendo revisada para
atender mudanças na legislação e da Constituição Federal de 1988.
Hoje, a Lei nº 8.662 de 07.06.1993 regulamenta a profissão.

31
Gestão em Serviço Social

Os anos 1960 foram considerados por muitos como os “anos dourados”, pois
se tratava de uma época em que a ideologia desenvolvimentista foi amplamente
difundida. Vale lembrar que o governo de Juscelino Kubitschek foi definido
pela expansão econômica, o que dava o sentido de prosperidade, riqueza,
soberania, paz social e segurança. Com a ascensão da indústria automobilística
e os investimentos na educação, acreditava-se que as desigualdades sociais
diminuiriam, uma vez que havia forte investimento na industrialização e, por
conseguinte, o fortalecimento da economia. Porém, isso não ocorreu: ao mesmo
tempo em que a ideologia desenvolvimentista ganhava novas adesões e força
política, as questões que impulsionariam o desenvolvimento social se distanciavam.

Uma das marcas do governo JK foi sem dúvida a construção


da capital brasileira, Brasília. A inauguração da nova capital federal,
em 21 de abril de 1960, foi um dos marcos dos anos JK e um fator
de estímulo à integração nacional a partir do Centro-Oeste brasileiro.

Para obter mais informações sobre este assunto, acesse o site:


www.infoescola.com/historia-do-brasil

Histórico Sintético do Serviço Social

1938 – criação do Conselho Nacional de Serviço Social, no


Estado Novo de Getúlio Vargas (Decreto-lei nº 525).
1946 - inauguração da PUC de São Paulo (Decreto-lei n° 9.632,
de 1946).
1946 – estabelecimento da Associação Brasileira de Escolas de
Serviço Social - ABESS responsável por criar uma metodologia para
o Serviço Social.
1946 – criação da Associação Brasileira de Assistência Social -
ABAS.
1947 - realização do I Congresso Brasileiro de Serviço Social.
1957 – Regulamentação da profissão pela Lei n° 3.252, em 27
de agosto de 1957 que, após 36 anos, em 1993, foi substituída pela
Lei n° 8.662.

Fonte: IAMAMOTO, M. V. Relações Sociais e Serviço


Social no Brasil. 17. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

32
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

Em 1961, foi realizado o II Congresso Brasileiro de Serviço Social com o tema


central “Desenvolvimento Nacional para o Bem-estar Social”. Realizado no ano
em que a vitória de Jânio Quadros representava a possibilidade da formação de
uma nação forte, com atuação especial no social, significava uma nova estratégia
desenvolvimentista. O Serviço Social foi, então, situado como instrumento de
consecução dos objetivos nacionais e teve de organizar diversas modalidades de
atuação em Desenvolvimento de Comunidade. (IAMAMOTO, 1982).

Mota (2008, p. 28) nos remete ao final dos anos 1970 e às crises geradas
pelos “modelos de Welfare State” e pelo exaurimento das experiências do
“socialismo real”, refratando-se a crise, primeiro nos países periféricos capitalistas
centrais e, em seguida, nos periféricos. Esse período vai recolocar a questão
social, ampliada e redefinida, incorporando traços e características reveladoras
de que a desigualdade social é inerente ao desenvolvimento do capitalismo e das
forças produtivas.

Estado de bem-estar social (em inglês: Welfare State), também


conhecido como Estado-providência é um tipo de organização
política e econômica que coloca o Estado como agente da promoção
(protetor e defensor) social e organizador da economia. Nessa
orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda vida e saúde
social, política e econômica do país em parceria com sindicatos e
empresas privadas, em níveis diferentes. (KLAES, 2006).

Para Mota (2008), ocorreu o surgimento de mais um modelo hegemônico,


adotado pelos EUA, que utilizava estratégias para derrubar os ideais dos
opositores, pretendendo instalar uma espécie de governo mundial pautado em
uma ideologia universal, que utilizaria a abertura de mercado para os países
periféricos, por meio do Fundo Monetário Internacional - FMI e da Organização
Mundial do Comércio - OMC. Um novo espaço transnacional foi criado,
englobando desde o patenteamento de pesquisas genéticas até a mercantilização
da natureza, passando pela privatização dos bens públicos e a transformação de
serviços sociais em negócios, a exemplo da saúde, previdência, educação.

Como sintetizou Mota (2008, p. 31) “essas mudanças, mediadas pelo


uso de novas tecnologias e pela redefinição das dimensões de espaço/tempo e
território, convivem com a ampliação do desemprego e com situações de miséria
e indigência”.

33
Gestão em Serviço Social

A seguir, vamos aprofundar a discussão acerca das transformações


ocorridas no serviço social, as dimensões da prática profissional e os movimentos
que impulsionaram a categoria a romper as fronteiras filantrópicas, tutelares e
paternalistas.

O Exercício do Social, suas


Derivações e as Novas Competências
Profissionais
Analisando o período pós-guerra até a década de 1970, vimos que foi
uma época marcada pelo capitalismo econômico, alavancado pelos moldes de
produção taylorista/fordista. Nessa época, o campo do Serviço Social aumentou
o nível de profissionalização e participação no processo de desenvolvimento
social, uma vez que a política intervencionista do Estado submetia-se às regras
do capital econômico.

Taylorismo/ Fordismo:
Esse processo produtivo de trabalho caracterizou-se pela mescla
da produção em série (fordismo) com o cronômetro taylorista, além
da vigência de uma separação nítida entre elaboração e execução.
Para o capital, tratava-se de apropriar-se do savoir-faire do trabalho,
‘suprimindo’ a dimensão intelectual do trabalho operário, que era
transferida para as esferas da gerência científica. A atividade do
trabalho reduzia-se a uma ação mecânica e repetitiva. (ANTUNES,
1999, p.37).

No Brasil, esta época foi marcada pelo desenvolvimento de políticas


compensatórias e assistencialistas nas quais a concepção do trabalho do serviço
social era entendida como benefícios prestados pelo Estado em favor dos mais
pobres em que prevalecia à concepção de assistidos ou tutelados ou beneficiários,
e não de cidadãos de direitos.

Neto (2009, p. 10) destaca que:

34
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

[...] se é verdade que a Assistência Social vincou


historicamente o que alguns analistas visualizam como a
particularidade do Serviço Social, é igualmente verdade que,
dominantemente até os anos 70 do século passado, aquele
vinco estava hipotecado à benemerência, ao favor e a distintas
formas de filantropia.

A operacionalização dos programas e projetos de governo era realizada


regionalmente junto aos governos locais e às entidades filantrópicas. Já a
distribuição dos recursos financeiros se dava através de convênio com a LBA e
outros órgãos do governo ou por repasse às instituições por emenda parlamentar.

Iamamoto (2008) nos convida a pensar mudanças que vêm afetando o


mundo da produção, a esfera do Estado e das políticas públicas e analisar como
elas vêm estabelecendo novas mediações nas expressões da questão social
hoje, nas demandas à profissão e nas respostas do Serviço Social.

Assim, a autora sintetiza o campo atual:

[...] um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no


presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade
e construir propostas de trabalho criativas e capazes de
preservar e efetivar direitos, a partir das demandas emergentes
no cotidiano. (IAMAMOTO, 2008, p. 20).

Nesse novo contexto, as profissionais passaram a assumir atividades


que ultrapassaram os limites antes específicos da esfera profissional e foram
inseridas em equipes interdisciplinares as quais demandavam sua participação na
formulação e na execução de políticas públicas, bem como na gestão de políticas
sociais que, por sua vez, exigiam novas técnicas e abordagens gerenciais. Como
sintetizado pela mesma autora “requer, pois, ir além das rotinas institucionais
e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e
possibilidades nela presentes passíveis de serem impulsionadas pelo profissional”.
(IAMAMOTO, 2008, p. 21).

Para o serviço social, esse momento histórico nos leva a entender o novo fazer
profissional e suas dimensões, que estão intrinsecamente ligadas às pesquisas
investigativas nos campos teóricos, metodológicos, técnicos, operativos, éticos,
políticos e pedagógicos. Como destaca Iamamoto (2005, p. 55):

Essas indicações trazem elementos para compreender


algumas das particularidades do intelectual Assistente Social:
ele não se enquadra na linha dos grandes pensadores
dedicados à atividades de elaboração científica e de criação do
saber. Sendo o Serviço Social uma disciplina de intervenção
da realidade, as atividades teóricas não têm o eixo do labor
profissional.

35
Gestão em Serviço Social

Acrescenta Iamamoto (2008, p. 48) que “aqueles que ficarem prisioneiros de


uma visão burocrática e rotineira do papel do Assistente Social e de seu trabalho
entenderão como ‘desprofissionalização’ ou ‘desvio de funções’, as alterações
que vêm se processando nessa profissão”.

A autora chama a nossa atenção para o Código de Ética Profissional,


instrumento regulador do serviço social como profissão liberal, embora não sendo
essa a prática reconhecida ou utilizada pela categoria. De acordo com a autora, “[...]
o Assistente Social é um trabalhador especializado, que vende a sua capacidade
de trabalho para algumas entidades empregadoras, predominantemente de
caráter patronal, empresarial ou estatal, que demandam essa força de trabalho
qualificada e a contratam. Esse processo de compra e venda da força de trabalho
especializada em troca de um salário faz com que o Serviço Social ingresse no
universo da mercantilização, no universo do valor.” (IAMAMOTO, 2008, p. 23-24).

Iamamoto (2008, p. 215) analisa que:

[...] Os empregadores determinam as necessidade sociais


que o trabalho do assistente social deve responder; delimitam
a matéria sobre a qual incide esse trabalho, interferem nas
condições em que se operam os atendimentos, assim como
os seus efeitos na reprodução das relações sociais. Eles
impõem ainda exigências trabalhistas e ocupacionais aos seus
empregadores especializados e mediam as relações com o
trabalho coletivo por eles articulado [...].

O aperfeiçoamento profissional e as lutas históricas da categoria


tornaram-se instrumentos fundamentais para o projeto ético-político, o qual
tem como respaldo os avanços do Código de Ética Profissional, de 1993; as
Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social (Associação Brasileira de Ensino
e Pesquisa em Serviço Social - ABEPSS), também de 1993, e a Lei Federal nº
8662/93 - que regulamenta a profissão.

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Princípios Fundamentais:

• Reconhecimento da liberdade, como valor ético central e


das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e
plena expansão dos indivíduos;
• Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do
arbítrio e do autoritarismo;
36
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

• Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa


primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis
sociais e políticos das classes trabalhadoras;
• Defesa do aprofundamento da democracia, como socialização
da participação política e da riqueza socialmente produzida;
• Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que
assegure universalidade de acesso a bens e serviços relativos aos
programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;
• Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito
incentivo ao respeito, à diversidade, à participação de grupos
socialmente discriminados e à discussão das diferenças;
• Opção por um projeto profissional vinculado ao processo
de construção de uma ordem societária, sem dominação-exploração
de classe, etnia e gênero;
• Articulação com os movimentos sociais de outras
categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e
com a luta dos trabalhadores;
• Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à
população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva de
competência profissional;
• Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem
discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia,
religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.

Fonte: CFESS. Conselho Federal de Serviço Social.


Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Aprovado
em 15 de março de 1993. Disponível em: <http://www.cfess.
org.br/arquivos/CEP_1993.pdf>. Acesso em: 2 fev. 2013.

Atividade de Estudos:

1) Em que consiste o Art. 2º do Código de Ética Profissional do


Assistente Social, regido pela Lei Federal nº 8662/93 e atualizado
outubro de 2010, sobre o exercício da profissão de Assistente Social?

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37
Gestão em Serviço Social

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Ao refletir sobre o cotidiano da intervenção profissional em diferentes áreas


de atuação, verifica-se que os atendimentos às demandas exigem respostas
concretas e imediatas, uma vez que estão relacionados às necessidades
básicas dos indivíduos, o que implica proporcionar, de imediato, o ingresso aos
direitos acessados.

Contudo, é importante observar que o serviço social, ao ser inserido no


campo universitário, passou a integrar-se aos grupos políticos progressistas,
entre eles, os movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos, na luta em favor
de liberdade civil e política e, assim, os debates da categoria acirraram a batalha
na direção de mudanças que levariam à ruptura com o modelo tradicionalista. A
contribuição histórica que expressou o desejo da categoria de transformação da
práxis político-profissional do Serviço Social na sociedade brasileira ocorreu no
III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), mais conhecido como o
“Congresso da Virada”. (CFESS, 1996, p. 175).

Do ponto de vista de Iamamoto (2006, p. 10), a formação profissional requer:

[...] construir respostas acadêmicas, técnicas e ético-políticas,


calçadas nos processos sociais em curso. Respostas essas
que resultam em um desempenho competente e crítico, capaz
de fazer frente, de maneira efetiva e criadora, aos desafios
dos novos tempos, nos rumos da preservação e ampliação
das conquistas democráticas na sociedade brasileira.

A partir da década de 1990, a formação acadêmica e a prática do serviço


social passaram a incorporar novos instrumentos de investigação e intervenção
crítica sobre a questão social, levando em consideração as dinâmicas das
relações sociais demandadas pela sociedade. Portanto, para o serviço social
conceber novos espaços de intervenção, torna-se necessário acompanhar os
movimentos políticos e sociais que repercutem na sociedade e ter clareza sobre
as representações concretas da realidade social.

38
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

A seguir, vamos analisar as políticas de seguridade social, as quais incluem


a saúde, a previdência e a assistência social, frente ao protagonismo político dos
assistentes sociais na produção intelectual.

As Políticas de Seguridade Social e os


Programas de Transferência de Renda
Você estudou no capítulo anterior que o modelo capitalista baseado no
Welfare State, implementado nos países capitalistas e, em especial, na América
Latina, foi responsável pelo distanciamento entre o entendimento do capital, que
opera sobre as forças trabalhadoras, e as políticas de proteção social universal,
no campo da seguridade social.

Esse distanciamento veio a acirrar as desigualdades sociais, pois a lógica


competitiva, já estabelecida pelo neoliberalismo no mundo capitalista, visava à
expansão e à apropriação de riquezas e deixava o Estado sujeito ao modelo de
desenvolvimento econômico e social.

Vamos voltar à atenção para os sistemas de proteção social, implícitos na


concepção da Constituição de 1988 e suas configurações, na garantia de defesa
de direitos universais, que no campo da seguridade social nunca ocorreu por
falta de integração orçamentária e de gestão das três políticas que a compõem.
(BOSCHETTI; SALVADOR, 2006, p. 43).

Mota (2008) aponta os avanços e conquistas inegáveis na ampliação do


acesso aos direitos sociais no Brasil, após a CF 1988, no que se refere aos
programas e aos benefícios destinados a uma parcela expressiva da sociedade.
Porém destaca outra face da política de proteção social ou seguridade social, de
responsabilidade pública, coletiva e universal, que, ainda, segundo a autora, é um
horizonte que não se concretizou.

De acordo com o texto Constitucional, Seguridade Social é


um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos
e da sociedade, destinado a assegurar os direitos relativos à Saúde,
à Previdência e à Assistência Social. Constituição Federal de 1988
Títulos VIII, Da Ordem Social, artigos 194 a 204.

39
Gestão em Serviço Social

Para Sposati (2007), a realidade institucional da gestão da seguridade não


traduz unidade ou integração para produzir a atenção aos usuários e o acesso a
seus direitos. A previdência social traz à cena o direito do contribuinte. A saúde e
a assistência social se apoiam no direito de todos como direito humano e social,
mas também como condicionado. O direito é de todos desde que: tenham tal
idade, tal moléstia, tal renda, etc. A noção de “direitos de todos” é atravessada
por determinadas condições que podem fragilizar o alcance do direito e que, sem
dúvida, reconstroem com novos elementos a noção de universalidade.

Os princípios universais adotados na CF visam a garantir que todos os


cidadãos de direito tenham acesso a bens e serviços. Portanto, ao estabelecer
critérios de elegibilidade para o acesso de usuários a determinados serviços,
discriminam-se, privam-se os cidadãos e se distorcem os princípios constitucionais
em detrimento da redução dos gastos públicos em programas sociais focados em
ações de enfrentamento a pobreza.

Para Mota (2004), embora a arquitetura da seguridade brasileira pós-1988


tenha a orientação e o conteúdo daquelas que conformam o Estado de Bem-
estar nos países desenvolvidos, as características excludentes do mercado de
trabalho, o grau de pauperização da população, o nível de concentração de renda
e as fragilidades do processo de publicização do Estado permitem afirmar que no
Brasil a adoção da concepção de seguridade social não se traduziu objetivamente
numa universalização dos benefícios sociais.

Nesse cenário, a assistência social assume sua configuração de política


pública, com o advento da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, que
rompe com o caráter de benemerência e assistencialismo, passando a assumir
responsabilidades na garantia de direitos e a garantir padrões de condições
dignas, de acordo com as necessidades humanas básicas ou mesmo os mínimos
sociais. De acordo com Pereira (2000, p. 26):

Mínimo e básico são, na verdade, conceitos distintos, pois,


enquanto o primeiro tem a conotação de menor, de menos,
em sua acepção mais ínfima, identificada com patamares de
satisfação de necessidades que beiram a desproteção social,
o segundo não. O básico expressa algo fundamental, principal,
primordial, que serve de base de sustentação indispensável
ao que ela acrescenta.

Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS nº 8.742, de 7 de


Dezembro 1993.
Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado,
40
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os


mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações
de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às
necessidades básicas.

Sposati (2007) destaca que após todos esses anos de aprovação da LOAS
se alcançou a efetivação do Sistema Único da Assistência Social – SUAS,
baseado no conteúdo da Política Nacional de Assistência Social (PNAS-2004),
que estabelece o campo da proteção socioassistencial com centralidade na
ca¬pacidade protetiva da família. As fragilidades do ciclo de vida, as vitimizações,
as exclusões são objeto da ação a partir da análise de riscos e vulnerabilidades
sociais a que estão sujeitos os indivíduos e as famílias. A direção da política é
afiançar seguranças sociais de acolhida, convívio e capacidade básica de
automanutenção, que possibilitem inclusão e emancipação.

A política de assistência social tem sua organização direcionada


A proteção social
para a realização de três funções: proteção social, vigilância social e
hierarquizada em
defesa de direitos. básica e especial
opera através de
A proteção social hierarquizada em básica e especial opera através benefícios em
de benefícios em pecúnia e em bens e uma rede de serviços de acolhida, pecúnia e em
bens e uma rede
convívio e de desenvolvimento socioeducativo.
de serviços de
acolhida, convívio e
O diálogo entre a produção do conhecimento sobre cada uma das de desenvolvimento
políticas de proteção social (Previdência Social, Saúde e Assistência socioeducativo.
Social) e sua articula¬ção no âmbito da seguridade social é ainda um
campo em construção, conforme destaque de Sposati (2007), pois os nexos
entre as três políticas como modelo de seguridade social ainda são reféns da
dife¬renciação do conhecimento sobre cada uma delas em particular.

Para Sposati (2007), as bases institucionais para a gestão da política de


assistência social são ainda bastante difu¬sas entre os governos municipais
e estaduais. A autora destaca que, no caso dos Governos Estaduais, têm sido
assinados pactos de aprimoramento de gestão entre governo federal e Estados
da federação. Os municípios, por sua vez, têm se vinculado ao SUAS através de
um processo de habilitação que registra graus crescentes de cumprimento das
exigências da implantação desse sistema.

Outro importante destaque da autora refere-se aos gastos com a Política de


Assistência Social que ainda estão na ordem de 1% do PIB (0,82% em 2005),
41
Gestão em Serviço Social

o que corresponde a cerca de 6% do Orçamento da Seguridade Social (OSS),


sendo este percentual semelhante ao gasto social direto.

Ao associarmos as competências dos profissionais do serviço social às


apontadas pelo SUAS nos trabalhos realizados nos Centros de Referência da
Assistência Social - CRAS e nos Centros de Referência Especial da Assistência
Social – CREAS, podemos perceber que a ação profissional requer um
conhecimento prático operativo em face da natureza da ação profissional em que
a ênfase está no saber fazer (MOTA, 2008).

Ainda de acordo com Mota (2008, p.197):

[...] reside neste processo o maior desafio da formação


profissional: instrumentalizar os profissionais a empreenderem
a grande tarefa que é superar a aparência dos fenômenos,
identificando as múltiplas determinações do real. Sem
desconsiderar as condições objetivas que estão envolvidas na
prática profissional e que requerem conhecimentos específicos
que deem conta das singularidades da Assistência Social,
reafirmamos uma célebre citação marxiana para justificar a
importância da formação profissional no desvelamento da
realidade sobre a qual incidirá a política de Assistência Social:
se aparência e essência coincidissem, todo o esforço do
conhecimento seria inútil.

Dessa forma, conclui-se que a CF de 1988 trouxe grandes avanços para a


política de proteção social no Brasil, os quais vêm incidir na prática do profissional
de Serviço Social.

Algumas Considerações
Neste capítulo foram abordados temas que originaram a profissão do
Serviço Social no Brasil, a partir da década de 30, em seu contexto histórico,
que, sob forte influência da Igreja Católica, deu os primeiros passos para uma
formação Científica, Técnica, Moral e Doutrinária, com princípios inerentes a uma
atuação qualificada, num recorte de gênero, ao Curso Intensivo de Formação
Social para Moças.

O primeiro campo de atuação profissional se ampliou e novas demandas que


já apontavam para a relação entre o Serviço Social e a “questão social” foram
incorporadas, uma vez que envolvia grupos de trabalhadores colonos e imigrantes
que não se ajustavam ao sistema da época.
42
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

O período do Estado Novo foi marcante para o Serviço Social, sendo


considerado de grande avanço nas políticas sociais. Porém trazia marcas de um
governo populista, repressivo e cerceador dos direitos políticos.

Durante outras décadas, a profissão passou por grandes desafios e


enfrentamentos, diante do modelo capitalista, das fragilidades econômicas e das
desigualdades sociais, geradas por uma política neoliberal, instalada na América
Latina e adotada no Brasil.

Nesse contexto, as práticas do Serviço Social dos anos 1960, que estavam
sob a orientação de técnicas tradicionais, foram definidas por Neto (2005, p. 5),
como: “[...] prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, claramente
funcionalista que visava a enfrentar as incidências psicossociais da ‘questão
social’ sobre indivíduos e grupos, sempre pressuposta a ordenação capitalista”.
Inicia-se, aqui, o processo de um movimento que buscava romper com a linha
conservadora, a partir de uma reflexão crítica do significado da profissão e seus
pressupostos ideológicos, teóricos e metodológicos.

Outro aspecto a ser considerado, que influenciou a prática do Serviço Social,


foi a Constituição Federal de 1988, que ao incluir a assistência social no campo
da seguridade social abre novas possibilidades de inserção nas políticas de
proteção social. Sobre esse aspecto, retornamos à reflexão de Mota (2008), que
aponta para os desafios no campo da formação profissional: instrumentalizar os
profissionais a empreenderem a grande tarefa que é superar a aparência dos
fenômenos, identificando as múltiplas determinações do real, sem desconsiderar
as condições objetivas que estão envolvidas na prática profissional e que
requerem conhecimentos específicos que deem conta das singularidades da
Assistência Social.

Referências
ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho. São Paulo: Boitempo, 2002.

BOSCHETTI, Ivanete; SALVADOR Evilásio. Orçamento da Seguridade e Política


Econômica: perversa alquimia. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo,
n. 87 – Especial SUAS E SUS, 2006.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política


nacional de Assistência Social. Brasília, 2004.
43
Gestão em Serviço Social

CFESS. Assistente Social: ética e direitos. Coletânea de Leis e Resoluções. 3.


ed. atual. São Paulo: CFESS, 2010.

_____. Serviço social a Caminho do século XXI: o protagonismo ético-político do


conjunto CFESS/CRESS. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 50, 1996.

IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e


formação profissional. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

_____. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. 17. ed. São Paulo, Cortez,
2005.

_____. Renovação e Conservadorismo: Ensaios críticos. São Paulo: Cortez


Editora, 2001.

KLAES, Marianna Izabel Medeiros. O fenômeno da globalização e seus


reflexos no campo jurídico. Jus Navigandi, Teresina, p. 3, 2006. Disponível
em: <http://jus.com.br/revista/texto/8005/o-fenomeno-da-globalizacao-e-seus-
reflexos-no-campo-juridico#ixzz28U7IURlR>. Acesso em: 10 mar. 2013.

MARTINELLI. Serviço Social: Identidade e Alienação. São Paulo: Cortez, 2006.

MOTA, Ana Elizabete. O Mito da Assistência Social: ensaios sobre Estado,


Política e Sociedade. São Paulo: Cortez, 2008.

MOTA, Ana Elizabete. Seguridade Social no Cenário Brasileiro. In:


CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS. 11. ENCONTRO
NACIONAL DE SERVIÇO SOCIAL E SEGURIDADE. 3. 17 a 22 de outubro de
2004. Fortaleza (CE). Texto gentilmente cedido pela autora.

_____. Serviço Social e Seguridade Social: uma agenda recorrente e desafiante.


Revista Em Pauta. Ed. Trabalho e sujeitos políticos, Rio de Janeiro, n. 20, 2007.

NETO, J.P. Ditadura do Serviço Social: Uma Análise sobre o Serviço Social no
Brasil pós 64. São Paulo: Cortez,1990.

_____. O Movimento de Reconceituação 40 anos depois. Revista Serviço


Social e Sociedade, São Paulo, n. 84, 2005.

_____. A construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social. In: MOTA, A. E.

44
Capítulo 2 Administração de Programas
e Projetosem Serviço Social

et al. (Orgs.). Serviço Social e Saúde. 4. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF:
OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2009.

PEREIRA, Potyara Pereira. Necessidades Humanas: Subsídios à crítica dos


mínimos sociais. São Paulo: Cortez, 2000.

SPOSATI, A. (Coord.). Indicadores da gestão municipal da política de


assistência social no Brasil 2005/2006. Brasília, DF: MDS/CNAS, 2007.

45
C APÍTULO 3
Gestão de Serviços Sociais
e Gestão Social

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Facilitar a compreensão dos processos e as inovações no campo da gestão de


serviços sociais, bem como o papel do gestor no contexto apresentado.

33 Aumentar a capacidade do profissional no exercício de suas funções como


gestor de serviços sociais.
Capítulo 3 Gestão de Serviços Sociais e Gestão Social

Contextualização

O universo da gestão dos serviços sociais compreende um conjunto
O universo da
de atividades voltadas para a formulação, organização, financiamento, gestão dos serviços
gerenciamento, execução, monitoramento e avaliação de ações nas sociais compreende
áreas de saúde, educação, habitação, cultura, lazer, assistência social, um conjunto de
atividades voltadas
dentre outras, apontadas entre os direitos sociais.
para a formulação,
organização,
Destaca-se que este campo teve um desenvolvimento acelerado no financiamento,
contexto da Reforma do Estado na conjuntura da democratização pós- gerenciamento,
execução,
Constituição Federal de 1988.
monitoramento
e avaliação de
Estão envolvidas em tais processos entidades públicas e privadas, ações nas áreas de
com destaque para aquelas sem fins lucrativos. Com base nos princípios saúde, educação,
habitação, cultura,
da descentralização e do compartilhamento na prestação dos serviços
lazer, assistência
públicos, o setor público se encarrega de coordenar a organização e a social, dentre
administração dos serviços públicos, utilizando um conjunto de arranjos, outras, apontadas
mecanismos, instrumentos, normas e leis específicas para cada uma entre os direitos
sociais.
das políticas. As entidades privadas em geral atuam na execução dos
serviços, bem como na fiscalização e avaliação das ações por meio
dos conselhos de políticas setoriais ou temáticos, conforme será analisado mais
adiante no texto.

A Gestão Social surge nesta conjuntura em meio ao debate sobre o


desenvolvimento de novas formas de gestão das ações públicas de atendimento
às demandas sociais, capazes de agregar a participação popular nos processos
de decisão, monitoramento e avaliação de serviços, projetos e programas, com
vistas ao aprimoramento das ações e consequente efetividade dos resultados.

A Gestão Social é também um conceito que leva em consideração a estreita


vinculação de micro contextos (as localidades, as comunidades, os grupos) com
ambientes e realidades globais e globalizantes em suas diversas expressões:
social, econômica, cultural, política, dentre outras.

Esses e outros aspectos que abrangem a Gestão Social e a Gestão de


Serviços Sociais serão analisados durante este capítulo no sentido de orientá-
lo(a) na compreensão das novas exigências no campo da gestão dos serviços
públicos sociais.

49
Gestão em Serviço Social

Serviço público Serviços Públicos e Serviços


é todo aquele
prestado pela Públicos Sociais
Administração ou
por seus delegados, Durante a contextualização deste caderno abordamos dois
sob normas e
controles estatais, conceitos cujo entendimento é de fundamental importância para a
para satisfazer continuidade do estudo. São eles: a) serviços públicos; b) serviços
necessidades públicos sociais.
essenciais ou
secundárias da
Segundo assinala Meirelles (2008, p. 294) o “serviço público
coletividade,
ou simples é todo aquele prestado pela Administração ou por seus delegados,
conveniências sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades
do Estado. essenciais ou secundárias da coletividade, ou simples conveniências
(MEIRELLES, 2008, do Estado”.
p. 294)

Alguns serviços são públicos por determinação constitucional,


como, por exemplo, aqueles adstritos à União, constantes da CF de
1988, a saber:

• o serviço postal e correio aéreo nacional;


• as telecomunicações;
• a radiodifusão sonora e de sons e imagens;
• a energia elétrica, a navegação aérea, aeroespacial e a
infraestrutura aeroportuária;
• o transporte ferroviário e aquaviário;
• o transporte rodoviário interestadual e internacional de
passageiros;
• os portos marítimos, fluviais e lacustres;
• a seguridade social;
• a educação. (VIOLIN, 2002)

Muitos serviços públicos são de alçada dos Estados, do Distrito Federal e


dos Municípios, como se pode verificar na CF 1988, no artigo 23, inciso II (saúde),
inciso V (cultura e educação), inciso IX (construção de moradias, habitação e
saneamento básico).

50
Capítulo 3 Gestão de Serviços Sociais e Gestão Social

Os serviços públicos privativos (exclusivos do Estado) são


prestados diretamente ou mediante concessão de serviços públicos.
Todavia, há serviços públicos que podem ser prestados por
particulares sem a necessidade de concessão do Estado, como a
educação e a saúde. São os serviços públicos não privativos (não
exclusivos), chamados também de serviços públicos sociais, aqueles
que têm finalidade exclusiva de satisfazer determinada demanda
social. (VIOLIN, 2002)

Importante dizer que há, ainda, as entidades que integram o Serviço


Social Autônomo. Há um debate jurídico sobre a natureza dos serviços sociais
autônomos, que não serão tratados no presente estudo haja vista a sua amplitude
e complexidade. Aproveitamos a definição de Meirelles (2005 apud FERREIRA,
2013) no âmbito do direito administrativo, a qual nos parece mais apropriada para
o presente estudo:

Serviços sociais autônomos são todos aqueles instituídos


por lei, com personalidade de Direto Privado, para ministrar
assistência ou ensino a certas categorias sociais ou grupos
profissionais, sem fins lucrativos, sendo mantidos por
dotações orçamentárias ou por contribuições parafiscais. [...]
São exemplos desses entes os diversos serviços sociais da
indústria e do comércio (SENAI, SENAC, SESC, SESI), com
estrutura e organização especiais, genuinamente brasileiras.
Essas instituições, embora oficializadas pelo Estado, não
integram a Administração direta nem a indireta, mas trabalham
ao lado do Estado, sob seu amparo, cooperando nos setores,
atividades e serviços que lhes são atribuídos, por considerá-
los de interesse específico de determinados beneficiários.
Recebem, por isso, oficialização do Poder Público
e autorização legal para arrecadar e utilizarem na
sua manutenção contribuições para fiscais, quando Para efeitos do
não são subsidiadas diretamente por recursos presente estudo,
orçamentários da entidade que as criou. o entendimento
de serviços
Tais entidades são consideradas no presente texto pelo seu potencial sociais públicos
compreende as
no campo da prestação de serviços públicos de assistência ou ensino a ações direcionadas
certas categorias sociais ou grupos profissionais sem fins lucrativos, haja para a efetivação
vista ser considerado um ente de cooperação com o Estado. do conjunto dos
direitos sociais
definidos pela
Para efeitos do presente estudo, o entendimento de serviços sociais
Constituição
públicos compreende as ações direcionadas para a efetivação do conjunto Federal, artigo 6°.
dos direitos sociais definidos pela Constituição Federal, artigo 6°.

51
Gestão em Serviço Social

Dos Direitos Sociais

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,


o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta Constituição. (BRASIL, 1988, n.p.)

Atividade de Estudos:

1) Que processos estão compreendidos no campo da gestão das


políticas sociais?

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Gestão de Serviços Sociais e Gestão


Social

O processo de reordenamento, instaurado pela reforma de Estado, que


se desenvolveu a partir dos anos 1980 e resultou na adoção de um modelo de
gestão gerencial com o propósito de atingir maior flexibilidade e efetividade na
prestação dos serviços públicos está em sua segunda geração. Atualmente,
a agenda da reforma do Estado está voltada para a gestão dos resultados e,
também, para a participação cidadã e a transparência governamental, enfim, para
o aprimoramento da dinâmica das relações entre os diversos atores no campo da
gestão das políticas públicas.

52
Capítulo 3 Gestão de Serviços Sociais e Gestão Social

Em sua análise sobre este assunto no texto O Instituto de Governança


Social: Avanços e Perspectivas no Desenho de um Novo Arranjo Organizacional,
apresentado no II Congresso Consad de Gestão Pública, realizado em 2009,
durante o Painel 07: Governança social e reorganização dos espaços públicos
no Brasil, o advogado Flávio Alcoforado (2009, p. 10) chama a atenção para dois
conceitos importantes que aparecem neste novo cenário da reforma do Estado - a
Governança Pública e a Governança Social - os quais tentam criar alguns modelos
interpretativos da gestão social, como se pode verificar na citação a seguir:

Enquanto a governança pública está relacionada ao


aspecto interno da administração pública, à sua máquina
administrativa, a governança social está ligada às relações
formadas entre as instituições do Estado, mercado e terceiro
setor em uma determinada localidade, que se manifesta,
especialmente, pelas inter-relações estabelecidas entre elas
e pela complementaridade de suas ações, tendo sempre o
Estado como coordenador desse processo.

Vale a pena aprofundar o estudo do tema da Governança Social


apresentado por Flávio Alcoforado no II Congresso Consad de
Gestão Pública, realizado em 2009, durante o Painel 07: Governança
social e reorganização dos espaços públicos no Brasil.

Fonte: O Instituto de Governança Social: Avanços e Perspectivas


no Desenho de um Novo Arranjo Organizacional. Disponível
em: <http://www.seplag.rs.gov.br>. Acesso em: 03 fev. 2013.

Pode-se dizer que Governança Social e Gestão Social são conceitos que
trazem aspectos bastante parecidos e apresentam novas agendas para o campo
da gestão de serviços públicos sociais. Os debates e a difusão das ideias contidas
em tais conceitos promoveram mudanças no desempenho dos atores estatais e
de sua capacidade no exercício da autoridade política e um novo modus operandi
das políticas governamentais.

Vale aprofundar o conceito de governance, governança pública


e governança social presente em diversos artigos que tratam do
tema.

53
Gestão em Serviço Social

A Gestão Social é uma questão central atualmente para se pensar o


desenvolvimento das políticas sociais. A gestão social como uma prática vem
progressivamente afirmando-se como território de inovação e colocando-se como
alternativa plausível de modelo de governo dos processos de transformação
social. Sua natureza e dinâmica evolutiva são um episódio e oportunidade de
inovação em políticas públicas.

Vale enfatizar que a expressão gestão social tem sido utilizada para
representar um modelo especial de problematizar e gerir realidades
sociointeracionais complexas no qual a concepção de público não se restringe à
ideia de Estado, mas, mais do que isto, compreende uma perspectiva sociocêntrica
em que a concepção de público é ampliada e se equipara a interesse público.
(KEINERT, 2000 apud BOULLOSA; SCHOMMER, 2009, p. 2).

Nessa perspectiva, o público corresponde a um espaço de interações entre


diversos interesses que, articulados, definem valores e interesses comuns.
(DENHARDT; DENHARDT, 2000 apud BOULLOSA; SCHOMMER, 2009, p. 2).

Este conceito vem extrapolando as fronteiras acadêmicas, sendo incorporado


em discursos e agendas de governo e associado à abertura de mercados
profissionais. Assim, a adoção da expressão ou do conceito gestão social por
diversos grupos estratégicos de atores sociais de diferentes escolas e escalas
impulsionou o avanço do processo de construção da gestão social como um
produto inovador para as políticas públicas e não apenas como um processo
dialógico e relacional como em suas origens.

Outros processos sociopolíticos têm contribuído para o amadurecimento do


tema da gestão social, a exemplo das experiências da Agenda 21; a mobilização
e articulação de movimentos sociais e organizações da sociedade civil no âmbito
mundial, em espaços como o do Fórum Social Mundial, e o engajamento de
empresas e suas lideranças em movimentos pelo desenvolvimento sustentável e
responsabilidade social empresarial, entre outros.

Novos espaços de reflexão sobre o tema vão se constituindo, proporcionados,


também, pela academia, através de eventos científicos, por organizações
da sociedade civil, organismos multilaterais de governos, como o Banco
Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Mundial e mesmo por agências de
governo.

São também relevantes neste contexto as iniciativas de compartilhamento,


reconhecimento e articulação de experiências consideradas bem sucedidas ou
inovadoras em gestão, empreendidas, em especial, a partir da década de 1990,

54
Capítulo 3 Gestão de Serviços Sociais e Gestão Social

como, por exemplo, o Prêmio Nacional da Gestão Pública, do Ministério do


Planejamento, Orçamento e Gestão, uma das ações estratégicas do Programa
Nacional da Gestão Pública e Desburocratização, que tem como finalidade
destacar, reconhecer e premiar as organizações públicas que comprovem alto
desempenho institucional com qualidade em gestão; o Programa Gestão Pública
e Cidadania, promovido pela Escola de Administração de São Paulo da Fundação
Getúlio Vargas, pela Fundação Ford e pelo Banco do Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), as quais reconheceram e premiaram experiências inovadoras
de gestão no âmbito dos governos subnacionais.

O reconhecimento pelo Estado de tais iniciativas impulsiona o movimento


em busca da conceituação e definição das fronteiras da gestão social. Este
processo de institucionalização da gestão social exige um arcabouço institucional,
metodológico e instrumental, a definição de um repertório, símbolos e artefatos
que sustentam uma identidade. Na opinião de Boullosa e Schommer (2009), no
processo de institucionalização e modelização da gestão social, seu potencial
de inovação, em especial na sua dimensão dialógica e relacional, corre grandes
riscos de se perder, uma vez que se contrapõe aos modos de gestão fundados
em hierarquia, controle e racionalização, característicos da gestão privada e da
gestão pública tradicional.

Ao mesmo tempo, com o surgimento do gestor social como um profissional


que se diferencia do gestor público, crescem as oportunidades de formação de
gestores sociais, como os mestrados, especializações, cursos livres, cursos de
extensão, entre outros.

Outros fatores que impulsionaram a definição de um modelo de


A Gestão Social
gestão social foram a diminuição de financiadores do terceiro setor, é uma questão
especialmente de origem internacional, e a retomada da centralidade do central atualmente
Estado na gestão de problemas sociais, notadamente a partir do ano de para se pensar o
2003, e, no âmbito das relações entre organizações da sociedade civil desenvolvimento
das políticas
e o setor empresarial, por sua vez, acentua-se a colaboração em torno
sociais.
de temas como responsabilidade social, desenvolvimento sustentável,
investimento social privado e empreendedorismo social.

A Participação Popular na Gestão


Pública
Pedro B. de Abreu Dallari (1996 apud ROCHA, 2011, p.1) afirma que a
participação popular, conforme apresentada na Constituição Federal de 1988,

55
Gestão em Serviço Social

é um princípio intrínseco à Democracia que visa a garantir aos indivíduos, aos


grupos e às associações o direito de representação política, mas avança para
além desta concepção liberal de titularidade de direitos civis e políticos, pois
assegura, também, o direito à informação e à defesa de seus interesses.

A Carta Magna de 1988 promove, ainda, a atuação e a real interferência


popular na gestão dos bens e serviços públicos em diversos de seus dispositivos,
seja através da participação da comunidade, no sistema único de saúde e na
seguridade social (art. 198, III e art. 194, VII), seja como participação efetiva dos
diferentes agentes econômicos envolvidos em cada setor da produção (art. 187,
caput) e, ainda, nos casos da assistência social e das políticas referentes aos
direitos da criança e do adolescente (art. 204, 22).

Esta participação pode acontecer mediante conferências setoriais ou


temáticas, como nas áreas de saúde, assistência social, direitos humanos,
integração da pessoa com deficiência, de segurança pública, de meio ambiente
entre outras; nos conselhos de políticas e programas; na gestão do ensino
público na forma definida pela Lei de Diretrizes e Bases/LDB; no monitoramento
das políticas sociais; nos planejamentos municipais, com destaque para os
orçamentos participativos e as audiências públicas, conforme estabelece a Lei de
Responsabilidade Fiscal.

Esses processos trouxeram também novos atores sociais para o cenário


das políticas públicas, novos agentes públicos que inauguraram espaços de
participação e distintos formatos de relações entre as entidades públicas e as
entidades privadas na prestação dos serviços públicos sociais.

O gestor público é um agente importante neste novo cenário institucional,


pois é responsável por coordenar o processo do ponto de vista do governo. É
sobre ele que falaremos no tópico seguinte.

Responsabilidade Social

A Responsabilidade Social é entendida como aquela que cuida


dos interesses das pessoas em sentido amplo.

A Responsabilidade Ambiental surgiu com a percepção de que


os recursos naturais podem se esgotar com a ação predadora do
homem. Isso ocorreu quando terríveis acidentes industriais, além
de deixar doente e até matar populações, também degradaram os
recursos naturais que serviam de insumos para a própria indústria.

56
Capítulo 3 Gestão de Serviços Sociais e Gestão Social

Juntando a Responsabilidade Social com a Responsabilidade


Ambiental surgiu a Responsabilidade Socioambiental. Sendo assim,
não basta termos alimentos se estes estão contaminados ou exigir
saneamento básico se as favelas não param de crescer. Para termos
um planeta limpo e com pessoas vivendo dignamente, é preciso uma
nova cultura na qual todos são responsáveis pela conservação da
dignidade humana e dos recursos naturais.

Concluindo, a Responsabilidade Socioambiental não é um


simples jargão do novo século. É apenas a percepção de que tanto
recursos naturais como humanos precisam de cuidados especiais
e que nenhum dos dois pode ser dissociado, pois são parte de um
mesmo ambiente.

Fonte: AUGUSTO, Marcos. Responsabilidade Social e


Ambiental. 2008. Disponível em: <http://www.administradores.
com.br/artigos/administracao-e-negocios/responsabilidade-
social-e-ambiental/22264/>. Acesso em: 04 abr. 13.

O Papel do Gestor na Gestão dos


Serviços Sociais
Com a retomada da centralidade do Estado na gestão de problemas sociais,
notadamente a partir do início da década de 2000, quando a gestão social passa a
assumir com mais vigor parte da sua herança de gestão pública, o gestor público
torna-se um agente indispensável.

Vale destacar que na Política de Assistência Social, por exemplo, os agentes


públicos têm papel de destaque:

–– Na condução do Sistema Único de Assistência Social/SUAS, o agente


público desempenha um papel estratégico, sendo o principal responsável
pelas funções de execução, articulação, planejamento, coordenação,
negociação, monitoramento e avaliação dos serviços desenvolvidos em
consonância com sistema nacional unificado de gestão.

–– Por sua vez, a valorização do gestor público com a implantação do


SUAS em todo território nacional está pautada no pressuposto de que a
assistência social é política pública de Estado e um direito de cidadania.

57
Gestão em Serviço Social

Agentes Públicos
Na visão do Direito Administrativo, o agente público é a pessoa
física incumbida do exercício de uma função pública. No caso em
pauta, são os gestores das políticas sociais, os técnicos das unidades
de atendimento, os conselheiros da assistência social e outros que
se enquadrem no principal requisito descrito no conceito anterior no
que diz respeito à função.

Mas o que é ser um gestor?


Para o Direito Administrativo, pode-se definir o gestor público ou administrador
público como aquele que é designado, eleito ou nomeado formalmente, conforme
previsto em lei e/ou em regulamento específico, para exercer a administração
superior de órgão ou entidade integrante da Administração Pública. Para efeitos
deste estudo, são os secretários, coordenadores, diretores de áreas responsáveis
pelos serviços públicos sociais.

–– Ele é a pessoa a quem compete a interpretação dos objetivos propostos


pela entidade e atuar, através do planejamento, da organização, da
liderança ou direção e do controle em direção ao alcance dos objetivos
das políticas públicas.

Pode-se definir –– É alguém que desenvolve os planos estratégicos e operacionais


o gestor público que considera mais eficazes para atingir os objetivos propostos,
ou administrador
conduz a concepção das estruturas e do estabelecimento das regras,
público como aquele
que é designado, políticas e procedimentos mais adequados aos planos desenvolvidos
eleito ou nomeado e, por fim, implementa e coordena a execução dos planos através de
formalmente, um determinado tipo de comando (ou liderança) e de controle.
conforme previsto
em lei e/ou em
regulamento
Conclui-se que o papel do gestor, no âmbito da política
específico,
para exercer a governamental, é organizar e preparar as estruturas e integrar os
administração recursos aos órgãos incumbidos da administração, estabelecendo as
superior de órgão ou atribuições e a relação entre eles, além de garantir a funcionalidade
entidade integrante e a continuidade das ações e monitorar os resultados de forma
da Administração articulada com outros setores e instituições. Seus esforços devem
Pública.
estar orientados para dar respostas às demandas dos usuários para

58
Capítulo 3 Gestão de Serviços Sociais e Gestão Social

os quais são direcionados os serviços públicos, garantindo o acesso aos


O papel do
direitos sociais assegurados na Constituição Federal de 1988.
gestor, no âmbito
da política
Uma primeira consideração a ser feita é que para uma boa gestão governamental,
é importante que o gestor de ações públicas, em qualquer nível dentro é organizar e
da escala hierárquica do serviço público, tenha um bom conhecimento preparar as
dos instrumentos que orientam a gestão das políticas sob sua estruturas e integrar
os recursos aos
responsabilidade.
órgãos incumbidos
da administração,
Existem diretrizes de caráter geral na Constituição Federal de 1988 estabelecendo
que orientam a organização e a administração das políticas sociais e outras as atribuições e a
normas complementares e regulamentadoras relativas à gestão dos serviços relação entre eles,
públicos, em especial nas áreas de assistência social, saúde e educação. além de garantir a
funcionalidade e a
Em tais áreas setoriais são definidos diversos espaços de deliberação e
continuidade das
aprimoramento de diretrizes, princípios, mecanismos e instrumentos de ações e monitorar
gestão das políticas e de pactuação quanto à forma de operacionalização os resultados de
das ações, como, por exemplo, os conselhos setoriais, as comissões, forma articulada
os fóruns e os colegiados de gestores, abrangendo representantes dos com outros setores
três entes federados e do Distrito Federal, os quais enunciam novas leis, e instituições. Seus
esforços devem
portarias, resoluções, normas operacionais, entre outros documentos.
estar orientados
para dar respostas
Essas três políticas citadas como exemplo possuem, também, às demandas
sistemas informatizados de gestão bastante estruturados, abrangentes e dos usuários
dinâmicos, por meio dos quais os gestores podem acessar informações para os quais são
sobre atendimento, aplicação de recursos e, assim, construir indicadores direcionados os
serviços sociais
e estratégias de aprimoramento das ações sociais.
públicos, garantindo
o acesso aos
A gestão social requer ainda do gestor público a constante análise direitos sociais
do contexto, levando-se em conta os aspectos multidimensionais que assegurados
envolvem os problemas atendidos por determinada área das políticas na Constituição
sociais. Na prática, isso significa assumir uma postura mais aberta para Federal de 1988.
a ação cooperativa e intersetorial na dinâmica de desenvolvimento
das políticas públicas, pois somente dessa maneira será possível aproximar-
se de uma solução mais efetiva e para as situações atendidas. Esta visão está
associada, também, às noções de interdependência e indivisibilidade dos direitos
(humanos) a partir do que se entende que não há liberdade em seu sentido pleno
(direito civil), não há dignidade, sem a garantia do acesso à proteção social, ao
trabalho, à renda, à educação, à saúde, à segurança alimentar, entre outros.

É importante que o gestor seja sensível às demandas locais e à importância


de que sejam mobilizadas formas de diálogo e interação entre os diversos atores
que interagem no campo das políticas sociais: setor público, setor privado,
comunidades, grupos de interesse.

59
Gestão em Serviço Social

Vale lembrar os exemplos que já foram apresentados acerca das formas


de participação popular na gestão pública existentes na Constituição Federal
vigente. Mas é importante dizer que novas experiências surgem a cada momento,
circunscritas a determinados contextos locais que podem servir de exemplo e
inspiração para outras realidades, mas nunca como modelos prontos a serem
seguidos de forma manualizada, sob o risco de se perder a essência principal
da gestão social que é contribuir para o aperfeiçoamento da democracia e
promover a transformação social, levando em consideração a pluralidade social,
cultural e política.

Atividade de Estudos:

1) Quais as funções básicas desempenhadas por um gestor?


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Algumas Considerações
Como vimos no texto, a fase atual do processo de reforma do Estado
se desenvolve na direção do aperfeiçoamento de formas de gestão mais
democráticas, cooperativas e associativas, que envolvem entidades públicas e

60
Capítulo 3 Gestão de Serviços Sociais e Gestão Social

privadas, entre elas as empresas privadas por meio da Responsabilidade Social


e, ainda, os beneficiários dos diversos serviços públicos.

Procuramos destacar neste capítulo que os aspectos que envolvem estas


novas formas de gestão conformam o campo da Gestão Social ou Governança
Social no qual importam, principalmente, as relações formadas entre as instituições
do Estado, mercado e terceiro setor em uma determinada localidade, que se
manifesta, especialmente, pelas inter-relações estabelecidas entre elas e pela
complementaridade de suas ações, tendo sempre o Estado como coordenador
desse processo.

Em que pese o fato de a Gestão Social ainda ser um campo em construção,


existem experiências bem sucedidas que envolvem atores estatais, empresas e
sociedade civil, que resultam em impactos positivos para a população.

Vale continuar experimentando e contribuindo para o desenvolvimento desta


nova forma de gestão. A gestão democrática faz parte do processo que conduz
para a efetivação dos direitos sociais dos indivíduos, assim como também para a
sua emancipação e transformação social e, para isso, requer uma competência
profissional propositiva, que saiba agir inerente aos interesses de seus usuários,
em qualquer campo de trabalho.

Referencias
ALCOFORADO, Flavio. O Instituto de Governança Social: avanços e
perspectivas no desenho de um novo arranjo organizacional. 2009. Disponível
em: <http://www.seplag.rs.gov.br>. Acesso em: 03 fev. 2013.

AUGUSTO, Marcos. Responsabilidade Social e Ambiental. 2008. Disponível


em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/responsabilidade-
social-e-ambiental/22264/>. Acesso em: 19 fev. 2013.

BOULLOSA, Rosana F.; SCHOMMER, Paula C. Gestão social: caso de


inovação em políticas públicas ou mais um caso de Lampedusa? 2009.
Disponível em: <http://institutofonte.org.br/artigo-gestao-social-inovacaoenigma-
de-lampedusa>. Acesso em: 03 fev. 2013.

BRASIL Constituição da República Federal do Brasil. Brasília, DF: Senado,


1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituicao.htm>. Acesso em: 03 mar.2013.
61
Gestão em Serviço Social

FERREIRA, Sérgio de Andréa. Os Serviços Sociais Autônomos como entes


de cooperação. Disponível em: <https://www.gespublica.gov.br/>. Acesso em: 03
fev. 2013.

JUNIOR, Gil S. Alianças Público-Públicas e Público-Privadas Atores e


Mecanismos. 2012. Disponível em: <http://www.aliancaspublicoprivadas.org.br/
app/wp-content/uploads/2012/06/aliancas_publico-publicas_e_publico-privadas-
vs_final.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2012.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 34. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008.

ROCHA, José Cláudio. A participação popular na gestão pública no Brasil.


2011. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19205/a-participacao-
popular-na-gestao-publica-no-brasil>. Acesso em: 08 fev. 2013.

VIOLIN, Tarso Cabral. A terceirização ou concessão de serviços públicos sociais.


A privatização de creches municipais. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60, 1
nov. 2002 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/3515>. Acesso em: 04
abr. 2013.

62
C APÍTULO 4
Entidades Privadas e Possibilidades
de Cooperação com o Setor Público
na Gestão de Serviços Sociais

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Analisar o desenvolvimento do Terceiro Setor no contexto da reforma do


Estado, implementada a partir da década de 1980, e das inovações trazidas
pela CF 1988.

33 Aumentar a capacidade do profissional de mapear e identificar o papel dos


diversos atores privados que interagem no campo da gestão dos serviços
sociais, bem como dos instrumentos que podem ser adotados para a celebração
de alianças e parcerias.
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

Contextualização

Como já estudado no capítulo anterior, a Gestão Social é uma questão
central atualmente para se pensar o desenvolvimento das políticas sociais e tem
sido considerada por diversos atores como alternativa plausível de modelo de
governo dos processos de transformação social. Surge em meio ao debate sobre
o desenvolvimento de novas formas de gestão das ações públicas de atendimento
às demandas sociais, capazes de agregar a participação popular nos processos
de decisão, monitoramento e avaliação de serviços, projetos e programas, com
vistas ao seu aprimoramento e consequente efetividade dos resultados.

Nesse contexto, interagem e cooperam entidades públicas e privadas (com


ou sem finalidade lucrativa), inseridas nesta última categoria as Organizações
Sociais / OSs, as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público/OSCIPs,
as associações civis e as empresas por meio de suas áreas de responsabilidade
social, sustentabilidade e economia solidária, dentre outros personagens.
(KANITZ, 2008). Importante evidenciar que desde o início de sua intervenção no
campo social, o Estado conta com a colaboração de entidades privadas sem fins
lucrativos, bem como com as entidades religiosas na prestação de serviços sociais.
Com o avançar das décadas e o aprimoramento das formas de colaboração entre
os organismos do setor público e as entidades privadas, impulsionados pelo
redesenho institucional proposto pela Constituição Federal de 1988, consolida-
se no cenário das políticas públicas sociais um campo específico de atuação que
passou a ser denominado, a partir da década de 1980, de Terceiro Setor.

Para o desempenho dos papéis desses diversos atores na gestão e


execução dos serviços públicos sociais mobilizam-se diversos arranjos,
mecanismos e instrumentos que são organizados e administrados com base nos
princípios constitucionais da descentralização e do compartilhamento. Parte-se
do princípio de que a descentralização promove o estreitamento e intensificação
da cooperação, associação e incorporação dos diversos agentes que se inter-
relacionam em determinados espaços socioterritoriais.

Este capítulo visa a identificar determinados aspectos que caracterizam


este ambiente e apontar alguns instrumentos e mecanismos que viabilizam a
cooperação entre os seus atores na gestão de serviços sociais.

65
Gestão em Serviço Social

Setor Público, Setor Privado e


Prestação de Serviços Públicos
Desde o início de sua intervenção no campo social (ainda no final do século
XIX), o Estado conta com a colaboração das entidades privadas na prestação de
serviços sociais. Com o passar dos anos e aprimoramento dos instrumentos que
viabilizam as formas de participação dessas entidades na gestão dos serviços
públicos, em especial na década de 1980, conformou-se um novo setor no âmbito
do Estado: o Terceiro Setor.

Vale destacar que o Estado conta, também, no campo social, com a


cooperação de entidades privadas com fins lucrativos (as empresas) por meio
da Responsabilidade Social da Sustentabilidade e da Economia Solidária, como
será estudado mais adiante no texto, quando abordaremos as possibilidades de
cooperação entre os entes federados e as entidades privadas, através de um novo
conceito que vem sendo desenvolvido: o das Alianças Público Privadas/APPs.

O Terceiro Setor
No que consiste o terceiro setor?

Quais são as entidades que compõem o terceiro setor?

Quais as formas de cooperação existentes entre as entidades do terceiro


setor e o setor público estatal?

É importante que você compreenda que este é um tema que tem provocado
muitas reflexões, resultando em diferentes percepções acerca da funcionalidade,
objetivos e características do terceiro setor. Alguns conceitos são trabalhados por
diferentes autores, que têm se destacado entre os estudiosos do assunto, dentre
os quais distinguimos o sociólogo Rubem Cesar Fernandes, que apresenta a
seguinte análise:

[...] o Terceiro Setor é composto de organizações sem fins


lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação
voluntária, num âmbito não governamental, dando
continuidade a práticas tradicionais de caridade, da filantropia
e do mecenato e expandindo o seu sentido para outros
domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de
cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade
civil (FERNANDES, 1997, p.27).

66
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

Em outra obra sobre o mesmo tema, Rubem Cesar Fernandes (1994)


discrimina os setores que compõem o Estado, dentre os quais estão as atividades
filantrópicas:

–– Primeiro setor (Estado): Corresponde ao poder público e é representado


pelos serviços e instituições governamentais das esferas, federal, estadual
e municipal.

–– Segundo setor – (mercado) – Ocupado por empresas privadas com fins


lucrativos.

–– Terceiro setor – Formado por organizações privadas, sem fins lucrativos,


desempenhando ações de caráter público.

Posta essa definição, Rubem Cesar Fernandes observa que a ideia de


um “terceiro setor” supõe um “primeiro” e um “segundo” e, nesta medida, faz
referência ao Estado (agente público com finalidade pública) e ao mercado
(agente privado com finalidade privada). A referência ao terceiro setor, no entanto,
é indireta, obtida pela negação – “nem governamental, nem lucrativo”. Em termos
explícitos e positivos, o conceito designa um conjunto de iniciativas particulares
com um sentido público – conjunto de organizações e iniciativas privadas que
visam à produção de bens e serviços públicos.

Genericamente, a literatura agrupa, nessa denominação, todas as entidades


privadas, sem fins lucrativos, e que visam à produção de um bem coletivo.
(COELHO, 2000), conforme apresentado no quadro seguinte:

Quadro 1 - Caracterização dos setores econômicos e sociais do Estado

AGENTES FINS SETOR


Públicos Públicos Estado (primeiro setor)
Privados Privados Mercado (segundo setor)
Privados Públicos Terceiro setor

Fonte: Adaptado de Fernandes (1994).

Em direção similar, Fernando Tenório (2001, p. 7) salienta o caráter público


da atuação dessas entidades na seguinte definição:

Essas organizações não fazem parte do Estado, nem a ele estão vinculadas,
mas se revestem de caráter público na medida em que se dedicam a causas e
problemas sociais e em que, apesar de serem sociedades civis privadas, não têm
como objetivo o lucro, e sim o atendimento das necessidades da sociedade.

67
Gestão em Serviço Social

Assim, em linhas gerais, podemos afirmar que o terceiro setor é


Assim, em linhas
constituído por instituições (associações ou fundações privadas) não
gerais podemos
afirmar que o governamentais, que expressam a sociedade civil organizada para
terceiro setor ações de interesse público em diversas áreas e segmentos. Reflexo
é constituído do progresso da perspectiva filantrópica e caritativa para uma atuação
por instituições profissional e técnica, em que os usuários são considerados sujeitos
(associações ou
de direitos, com vistas à universalização efetiva da cidadania.
fundações privadas)
não governamentais,
que expressam Maria Lúcia Prates Rodrigues (1998, p. 31) ressalta neste cenário
a sociedade civil um ator essencial, a sociedade civil, que “[...] organiza-se e busca
organizada para soluções próprias para suas necessidades e problemas, fora da lógica
ações de interesse
do Estado e do mercado.”
público em
diversas áreas e
segmentos. Reflexo Sobre o conceito de sociedade civil, vejamos a definição da
do progresso London School of Economics, apresentado por Scholte (2002, p. 20):
da perspectiva
filantrópica e Sociedade civil refere-se à arena de ações coletivas voluntárias
caritativa para uma em torno de interesses, propósitos e valores. Na teoria, as suas
atuação profissional formas institucionais são distintas daquelas do estado, família
e técnica, em e mercado, embora na prática, as fronteiras entre estado,
que os usuários sociedade civil, família e mercado sejam frequentemente
são considerados complexos, indistintos e negociados. A sociedade civil
sujeitos de direitos, comumente abraça uma diversidade de espaços, atores e
formas institucionais, variando em seu grau de formalidade,
com vistas à
autonomia e poder. Sociedades civis são frequentemente
universalização povoadas por organizações como instituições de caridade,
efetiva da cidadania. organizações não governamentais de desenvolvimento,
grupos comunitários, organizações femininas, organizações
religiosas, associações profissionais, sindicatos, grupos de
autoajuda, movimentos sociais, associações comerciais,
coalizões e grupos ativistas.

Existe uma infinidade de definições acerca da “sociedade


civil”, algumas delas antagônicas, inclusive, sendo possível eleger
quatro matrizes teóricas que se destacam contemporaneamente
neste assunto: neotocquevilliana, neoliberal, habermasiana e
gramsciana. Trata-se de um debate complexo, que requer um maior
aprofundamento, para tanto, indicamos a leitura do texto de Paulo
Sérgio Pinheiro (In: AVRITZER, 1994): “Sociedade civil: a mágica e a
sedução do conceito”.

Conheça a normativa que trata da certificação de entidades


beneficentes de assistência social, emitidas pelo Ministério do
Desenvolvimento Social/MDS (www.mds.gov.br), e as orientações
68
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

para a tipificação dos serviços socioassistenciais, no âmbito da


Política Nacional de Assistência Social!

Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social

A certificação das entidades beneficentes de assistência social,


que é um requisito para a isenção de contribuições para a seguridade
social, pode ser concedida às pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos, reconhecidas como entidades beneficentes de
assistência social, com a finalidade de prestação de serviços nas
áreas de assistência social, saúde ou educação.

A certificação é concedida pelo Ministério do Desenvolvimento


Social e Combate à Fome (MDS) para entidades que tenham atuação
preponderante na área de assistência social, e pelo Ministério da
Educação e pelo Ministério da Saúde, para entidades com atuação
preponderante nas áreas de educação e saúde.

Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, no âmbito da


Política Nacional de Assistência Social.

Por meio da Resolução no 109 de 2009 do CNAS aprovou-se


a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, organizados
por níveis de complexidade do Sistema Único de Assistência Social/
SUAS: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média
e Alta Complexidade, trazendo também uma matriz padronizada para
a organização das fichas de serviços socioassistenciais.

Tipos de Entidades que Integram o


Terceiro Setor
As entidades privadas sem fins lucrativos que integram o terceiro setor são de
diversas naturezas jurídicas, como veremos adiante. Há alguns autores (KANITZ,
2008) que percebem outros personagens gravitando neste universo além das
Fundações, ONGs e Entidades Beneficentes, como, por exemplo, os Fundos
Comunitários, as empresas doadoras, a elite filantrópica, as organizações de
cooperação internacionais, que apoiam financeiramente as entidades privadas
sem fins lucrativos brasileiras, e as pessoas físicas que doam aos fundos recursos
69
Gestão em Serviço Social

dedutíveis no imposto de renda ou para as campanhas nacionais de apoio a


determinadas causas ou mesmo diretamente para as entidades.

Veja a descrição dos personagens que gravitam no campo do


terceiro setor no artigo de Stephen Kanitz O que é o Terceiro Setor?
Disponível em: <http://www.filantropia.org/OqueeTerceiroSetor.htm>.

Nesse paradigma, é válido ressaltar o papel exercido por algumas entidades


que compõem o terceiro setor, tais como as Cooperativas, as Associações e as
Fundações. Terão também destaque especial neste tópico as Organizações Não
Governamentais, as Organizações Sociais/OSs e as Organizações da Sociedade
Civil de Interesse Público/OSCIPs. aluno.

As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no


Brasil.

A Pesquisa Fasfil 2010, que apresenta números e dados das


fundações e associações privadas sem fins lucrativos no Brasil,
lançada em dezembro de 2012, traz as seguintes informações sobre
a quantidade e o perfil das entidades privadas sem fins lucrativos:

–– Em 2010, havia 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem


Fins Lucrativos (Fasfil) no Brasil, voltadas, predominantemente, à
religião (28,5%), associações patronais e profissionais (15,5%) e ao
desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%).

–– As áreas de saúde, educação, pesquisa e assistência social (políticas


governamentais) totalizavam 54,1 mil entidades (18,6%).

–– 72,2% (210,0 mil) não possuíam sequer um empregado formalizado,


apoiando-se em trabalho voluntário e prestação de serviços autônomos.

–– Nas demais, estavam empregadas, em 2010, 2,1 milhões de pessoas,


sendo intensa a presença feminina (62,9%).

70
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

–– A remuneração média das mulheres (R$ 1.489,25) equivalia a 75,2% da

–– remuneração média dos homens (R$ 1.980,08), sendo para o total dos
assalariados, R$ 1.667,05 mensais naquele ano.

Quanto ao nível de escolaridade, embora 33,0% dos


assalariados dessas entidades possuíssem nível superior, quase
o dobro do observado para o total das organizações (16,6%), sua
remuneração era de 5,8 salários mínimos, bem menor do que a dos
assalariados do total das organizações do CEMPRE - 7,6 salários
mínimos”.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.


Disponível em: <http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=not
icia&id=1&busca=1&idnoticia=2278>. Acesso em: 05 abr. 2013.

a) Cooperativas, Fundações e Associações

Veja nos dois quadros seguintes uma rápida comparação entre as


associações e as cooperativas e entre as fundações privadas e as fundações
públicas sistematizadas por Gil Soares Júnior (2011) no texto Alianças Público-
Públicas e Público-Privadas Atores e Mecanismos:

71
Gestão em Serviço Social

Quadro 2 - Comparação entre Associações e Cooperativas

Características Associações Cooperativas


DEFINIÇÃO LEGAL Sociedade Civil sem fins Sociedade Civil e Comercial
lucrativos sem fins lucrativos.
FINALIDADE Interesses dos associados Atividades de consumo, pro-
e/ou iniciativas de promo- dução, prestação de serviços,
ção, educação e assistên- crédito, comercialização.
cia social. Formação e capacitação dos
integrantes.

AMPARO LEGAL CF (Art. 5º) e Código Civil. CF (Art. 5º), Código Civil e Lei
5.764/71.
COMPONENTES Mínimo de 2 (duas) pesso- Mínimo de 20 (vinte) pessoas
as físicas. físicas.
LEGALIZAÇÃO Ata de Assembleia Geral/ Ata de Assembleia Geral e
Estatuto. Estatuto.
Eleição de Diretoria e Eleição de Diretoria e Conselho
Conselho Fiscal. Fiscal.
Registros: Cartório, INSS e Registros: Junta Comercial,
MT. CNPJ-Receita Federal. INSS, MT. CNPJ-Receita Fede-
ral, Alvará.

CRITÉRIOS DELIBERATIVOS Assembleia: uma pessoa = Assembleia: uma pessoa = um


um voto. voto.
Decisões participativas. Decisões participativas.

RESPONSABILIDADES Associados não são res- Associados são responsáveis


ponsáveis diretamente por no limite de suas quotas-parte
obrigações contraídas pela e nos casos em que aceitam
associação. responsabilidade ilimitada.
REMUNERAÇÃO Dirigentes não são remu- Dirigentes podem receber pró-
nerados. -labore.
DESTINO FINANCEIRO Não há rateio de sobras. Rateio de sobras entre os
Superávit é reaplicado nas associados, após atendimento
finalidades. a fundos legais.

TRIBUTAÇÃO Declaração de Isenção de Recolhe IR sobre operações


IR. com terceiros. Paga taxas
e impostos por operações
comerciais.
DISSOLUÇÃO Definida em Assembleia Definida em Assembleia Geral
Geral ou por intervenção ou intervenção judicial (insol-
judicial (MP). vência).

72
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

Fonte: Alianças Público-Públicas e Público-Privadas Atores e Mecanismos


(modificado). Disponível em: <http://www.aliancaspublicoprivadas.
org.br/app/wp-content/uploads/2012/06/aliancas_publico-publicas_e_
publico-privadas-vs_final.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2013.

b) Fundações Públicas e Privadas

Quadro 3 - Comparação entre Fundações Públicas e Privadas

Instituída pelo Poder Público. Instituída por Particular.


Lei Específica de Criação. Estatutos Sociais.
Mantida pelo Poder Público. Não é mantida pelo Poder Público.
Patrimônio formado por bens públicos. Patrimônio formado por dotações dos Institui-
dores.
Bens e renda é patrimônio público. Bens e Direitos vinculados ao Código Civil.
Contratos estão sujeitos a licitações. Não são alcançadas pelas licitações.
Pessoal sujeito ao regime jurídico único do Pessoal vinculado ao regime da Consolidação
Poder Público. das Leis do Trabalho - CLT.

Fonte: As autoras.

c) Organizações Não Governamentais (ONGs)

As organizações não governamentais (ONGS) são, por definição jurídica,


entidades privadas sem fins lucrativos, incluindo-se as cooperativas e fundações,
tudo o que é não governamental, privado e com caráter social. Igualmente, as
ONGs têm se destacado por suas especificidades:

Entre os pontos que distinguem as ONGs, estão: a autonomia
de seu caráter alternativo em contraposição as organizações
burocráticas; a auto postulação de seu caráter alternativo
em contraposição às organizações burocráticas; o fato de
não buscar lucro; não admitir apropriação privada de seu
patrimônio; não pertencer ao setor governamental; manter
um compromisso com a transformação social, (e com a
construção de uma sociedade “melhor”, principalmente
através da democracia, do pluralismo, da autonomia, e da
participação) e de estar em convergência com os movimentos
sociais. (COSTA; NEVES, 1995, p 71).

Ainda nesse sentido, Fernandes (1988) considera o trabalho realizado pelas


ONGs em sua “originalidade” e ressalta os principais pontos que as diferenciam
das demais instituições. Segundo o autor:

73
Gestão em Serviço Social

A autonomia institucional que diferenciou as ONGs das


igrejas e dos partidos coincidiu com o traçado de certo corte
horizontal no verticalismo das relações entre Estado e Povo
(ou sociedade civil). As ONGs estimularam uma variada
gama de iniciativas dirigidas às bases da sociedade com o
objetivo explícito de torná-las (as iniciativas e as bases) mais
independentes em relação ao Estado. Tornaram-se nessa
medida, um fator de organização das classes populares ou da
cidadania) diferente, pois não definiam a sua atividade como
um meio para conquista do poder. A originalidade das ONGs
foi justamente esta: dedicar-se, por definição institucional, aos
movimentos que ocorrem nos níveis intermediários e inferiores
no corpo político social. (FERNANDES, 1988, p. 20).

É válido mencionar que, para o citado autor, a “originalidade” do papel exercido


pelas ONGs não implica a substituição das instituições tradicionais promotoras
de uma integração vertical. Noutros termos, as ONGs não podem, nem devem,
substituir as empresas, partidos políticos, igrejas e tampouco o Estado.

Registra-se a existência de organizações não governamentais voltadas para


a defesa dos mais diversos interesses dos diferentes grupos sociais (crianças e
adolescentes, pessoas com deficiência, idosos, negros, mulheres) e temas (direito
à saúde, incluindo aquelas voltadas para os direitos das pessoas vivendo com
HIV e AIDs, direitos sexuais e reprodutivos, educação, moradia, etc.).

Essas organizações sobrevivem com recursos de diferentes fontes, tais


como doações oriundas de pessoas físicas, entidades e fundos nacionais e
internacionais; de contribuições dos associados; de recursos públicos através dos
convênios com os governos e, mais atualmente, de contratos com empresas pela
via da Responsabilidade Social Empresarial e da Sustentabilidade.

Existe uma vasta literatura que aborda o conceito, a natureza,


o surgimento e o desenvolvimento das organizações não
governamentais no Brasil. Dentre elas sugerimos a obra de Fernando
Tenório, Gestão de ONGs, principais funções gerenciais.

d) As entidades com qualificação especial – as Organizações Sociais (OSs)


e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs)

74
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

Adquiriram grande relevância nos últimos anos as Organizações Sociais


(OSs) e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs),
nomeadamente, na prestação de serviços públicos nas áreas de saúde e
educação.

Nos termos da
e) Organizações Sociais (OSs) Lei Federal no
9.637/1998, o
Poder Executivo
A Organização Social (OS) é uma qualificação, um título, que a poderá qualificar
Administração outorga a uma entidade privada, sem fins lucrativos, para como organizações
que possa receber determinados benefícios do Poder Público (dotações sociais pessoas
orçamentárias, isenções fiscais etc.), realizando, assim, seus fins, que jurídicas de direito
privado, sem fins
devem ser necessariamente de interesse da comunidade.
lucrativos, cujas
atividades sociais
Nos termos da Lei Federal no 9.637/1998, o Poder Executivo sejam dirigidas ao
poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito ensino, à pesquisa
privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sociais sejam dirigidas ao científica, ao
ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção desenvolvimento
tecnológico, à
e à preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos os proteção e à
requisitos previstos nesta mesma lei. preservação do
meio ambiente, à
A criação de organizações sociais atendeu à necessidade do Estado de cultura e à saúde,
encontrar um instrumento que permitisse a transferência para as entidades atendidos os
requisitos previstos
privadas da execução de certas atividades que vêm sendo exercidas pelo
nesta mesma lei.
Poder Público sem necessidade de concessão ou permissão.

Pessoas jurídicas de direito privado são aquelas previstas no


Código Civil, sociedades civis, religiosas, científicas, literárias e
até mesmo as fundações (art. 16, Inciso I da referida lei), as quais
podem já existir ou ser criadas para o fim específico de receberem o
título de organização social e prestarem os serviços desejados pelo
Poder Público.

Para serem consideradas organizações sociais, conforme


legislação específica, as entidades privadas precisam se ajustar aos
seguintes requisitos entre outros:

a) não podem ter finalidade lucrativa e todo e qualquer legado


ou doação recebida deve ser incorporado ao seu patrimônio; de igual
modo, os excedentes financeiros decorrentes de suas atividades;

75
Gestão em Serviço Social

b) finalidade social em qualquer das áreas previstas na lei:


ensino, saúde, cultura, ciência, tecnologia e meio ambiente;

c) possuir órgãos diretivos colegiados, com a participação de


representantes do Poder Público e da comunidade;

d) publicidade de seus atos;

e) submissão ao controle do Tribunal de Contas dos recursos


oficiais recebidos (o que já existe);

f) celebração de um contrato de gestão com o Poder Público


para a formação da parceria e a fixação das metas a serem atingidas
e o controle dos resultados.

Atendendo a essas exigências e com a qualificação de


Organização Social, a entidade poderá contar com os recursos
orçamentários e os bens públicos (móveis e imóveis) necessários ao
cumprimento do contrato de gestão. Os bens ser-lhe-ão transferidos
mediante permissão de uso e os recursos serão liberados de
acordo com o cronograma de desembolso estabelecido no contrato
de gestão.

Fonte: Azevedo, Eurico de Andrade. Organizações Sociais.


Disponível em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/
revistaspge/revista5/5rev6.htm>. Acesso em: 05 abr. 2013.

Existem muitos estudos sobre o impacto da atuação das


organizações sociais na área da saúde. Procure textos e notícias
sobre o assunto e formule a sua própria opinião!

f) Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPs

Os anos 2000 registram a proliferação de OSCIPs no atendimento às


demandas sociais, em especial, nas áreas de saúde e assistência social. Atribui-

76
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

se a isto algumas facilidades no que diz respeito à permissão de remuneração


da diretoria, a possibilidade de estabelecimento de parcerias/cooperação entre
o setor público e o setor privado e uma agilidade maior na gestão dos recursos
financeiros.

OSCIP é uma qualificação decorrente da Lei nº 9.790/99 (regulamentada


pelo Decreto nº 3100/99 e alterada pela Lei nº 10.539/02). Trata-se de um título,
um certificado e não um tipo específico de entidade.

A qualificação de pessoas jurídicas como OSCIP gera alguns benefícios, tais


como: i) incentivo fiscal a doações; ii) estabelecer termo de parceria com o Estado;
iii) possibilidade de remuneração de dirigentes e para aqueles que a ela prestem
serviços específicos e iv) podem receber bens apreendidos, abandonados ou
disponíveis, administrados pela Receita Federal.

Existem diversos estudos, manuais e cartilhas sobre este


assunto. Faça uma busca na internet e você saberá muito mais sobre
as diferenças entre a gestão de uma OSCIP, de uma Organização
Social e de uma Associação Civil sem Fins Lucrativos!

Por ser uma qualificação, e não uma forma de organização


em si mesma, vários tipos de instituições podem solicitar ao poder
público a qualificação como OSCIP. As OSCIPs são sociedades civis,
sem fins lucrativos, de direito privado e de interesse público, ou são
entidades privadas atuando em áreas típicas do setor público. Ou
seja, uma ONG (uma associação civil), conforme visto anteriormente,
pode receber a qualificação de sociedade civil de interesse público.
Mas para isso deve comprovar o cumprimento de certos requisitos
e se enquadrar em alguns dos objetivos sociais e finalidades, já
estabelecidos na lei, conforme discriminado a seguir:

• Promoção da assistência social;

• Promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio


histórico e artístico;

77
Gestão em Serviço Social

• Promoção gratuita da educação, observando-se a forma


complementar de participação das organizações;

• Promoção gratuita da saúde, observando-se a forma


complementar de participação das organizações;

• Promoção da segurança alimentar e nutricional;

• Defesa, preservação, conservação do meio ambiente e


promoção do desenvolvimento sustentável;

• Promoção do voluntariado;

• Experimentação, sem fins lucrativos, de novos modelos


socioprodutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio,
emprego e crédito;

• Promoção de direitos estabelecidos, construção de novos


direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;

• Promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos


humanos, da democracia e de outros valores universais;

• Estudos e pesquisas, desenvolvimento de


tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações
É importante e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às
mencionar que
atividades mencionadas acima.
em uma OSCIP
os benefícios não
são os mesmos
que para entidades Fonte: SEBRAE. Organização Da Sociedade Civil De
filantrópicas, de Interesse Público. Disponível em: <http://www.biblioteca.
utilidade pública, as sebrae.com.br/bds/BDS.nsf/323AD621AEF940FA8325766A0
quais não podem 0545687/$File/NT00042C3A.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2013.
remunerar seus
dirigentes sob pena
de não ter mais
direito a alguns
É importante mencionar que em uma OSCIP os benefícios não
benefícios, como
imunidade tributária são os mesmos que para entidades filantrópicas, de utilidade pública,
e isenção do as quais não podem remunerar seus dirigentes sob pena de não ter
imposto de renda. mais direito a alguns benefícios, como imunidade tributária e isenção
do imposto de renda.

Diferentemente dos títulos de Utilidade Pública, a qualificação como OSCIP

78
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

é um direito da pessoa jurídica, desde que esta cumpra os rigorosos requisitos


do Ministério da Justiça e esteja apta a dar publicidade à sua movimentação
financeira (eis aqui um importante diferencial destas com relação às ONGs).

Utilidade Pública

O título de Utilidade Pública garante às entidades, associações


civis e fundações o reconhecimento como instituições sem fins
lucrativos e prestadoras de serviços à sociedade.

Somente as entidades legalmente constituídas no Brasil


podem obter o título de Utilidade Pública. As exigências incluem a
necessidade de funcionamento da instituição há pelo menos dois
anos, sem a remuneração dos seus dirigentes, e a promoção de
atividades compatíveis com o Título.

O primeiro passo no processo de formalização: a instituição


deve encaminhar pedido de aquisição ao Ministério da Justiça.
Há uma série de requisitos que devem ser cumpridos pelas
entidades para o reconhecimento da utilidade pública federal.

Do mesmo modo devem ser apresentados documentos


que comprovem tais requisitos no pedido de concessão e para a
manutenção do certificado.
Apesar da concessão da isenção às entidades, o título de
Utilidade Pública não assegura ao titular quaisquer direitos e
vantagens na relação com o município, com exceção em celebrações
de convênios. O Estado e os Municípios devem definir os critérios
para o reconhecimento de utilidade pública em seu âmbito.

Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte. Saiba o que é e como


adquirir o Título de Utilidade Pública. Disponível em: <http://
portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&p
IdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=governo&tax=15748&la
ng=pt_BR&pg=5660&taxp=0&>. Acesso em: 05 de abr. 2013.

79
Gestão em Serviço Social

A Área de Responsabilidade Social


das Empresas

Conforme analisado no início deste caderno de estudos, o Estado conta


também no campo social com a cooperação de entidades privadas com fins
lucrativos (as empresas) por meio da Responsabilidade Social da Sustentabilidade
e da Economia Solidária.

A responsabilidade social das organizações nasce de um contexto


internacional em que diversos temas emergentes e transversais, tais como:
direitos humanos, direitos do trabalho, meio ambiente e desenvolvimento
sustentável alcançam prestígio na discussão entre os países membros da
Organização das Nações Unidas, originando diretrizes que orientam a formulação
conceitual da responsabilidade social em âmbito empresarial. Tais orientações
foram expressas em padrões, acordos, recomendações, códigos unilaterais e
multilaterais, princípios que estabelecem o mínimo aceitável para as operações
das empresas, conforme veremos mais adiante.

Ou seja, além da modernização das formas de gestão empresarial,


impulsionadas pela abertura do mercado para os investimentos internacionais
(a globalização da economia), passou-se a exigir da iniciativa privada um
comportamento social responsável e ambientalmente sustentável, que resultasse
na garantia da sobrevivência desta geração e das gerações futuras.

A responsabilidade social nos negócios é um conceito que


se aplica a toda a cadeia produtiva, deve ser de interesse comum
e ser difundido ao longo de todo o processo produtivo. Nessa
concepção, as empresas também são responsáveis por seus
fornecedores e é importante que envidem esforços para fazer valer
seus códigos de ética aos produtos e serviços usados ao longo de
seus processos produtivos.

Fonte: Disponível em: <http://www.responsabilidadesocial.com/


institucional/institucional_view.php?id=1>. Acesso em: 05 abr. 2013.

80
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

Entende-se a partir da perspectiva da responsabilidade social a importância


de que os grandes empreendimentos voltados para o desenvolvimento
econômico cumpram com alguns requisitos fundamentais que garantam que os
impactos advindos dos processos de obras ou de implementação dos negócios
não afetem as condições de vida das populações. Tais garantias estão previstas
em preceitos nacionais e internacionais, que estabelecem algumas diretrizes a
serem observadas no que diz respeito aos impactos socioambientais, como, por
exemplo:

• Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU;


• Declaração da Organização Internacional do Trabalho/OIT sobre os
Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho e seu Seguimento;
• Declaração Tripartite sobre Empresas Multinacionais da OIT;
• Diretrizes para Empresas Multinacionais da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico/OCDE;
• Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988;
• Leis internas que regulamentam alguns dispositivos da referida CF de
1988, entre outras, a Lei Orgânica de Assistência Social, o Estatuto da Criança e
do Adolescente, o Estatuto do Idoso;
• Princípios do Equador;
• Diretrizes do World Comission Dams (WCD);
• International Finance Corporation;
• Diretrizes Operacionais do Banco Mundial e do Banco Interamericano de
Desenvolvimento.

Procure na Internet esses documentos e conheça as inúmeras


orientações em relação a como deve ser um comportamento social e
ambientalmente responsável!

Tais documentos são amplamente aceitos no mundo empresarial, porquanto


são condicionantes para a concessão de financiamentos e subsídios e alcançam
a atividade das empresas, suas obrigações sociais e ambientais no contexto do
empreendimento em desenvolvimento, atribuindo-lhes responsabilidades na
promoção e no cumprimento de direitos.

Muitos empresários já estão sujeitos à pressão do mercado externo para


manterem altos padrões de respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos, o
que se reflete na organização de procedimentos de trabalho e modernização de
81
Gestão em Serviço Social

equipamentos e práticas menos prejudiciais aos ecossistemas e à sociedade e


também mais participativos.

Com efeito, a postura das empresas em relação à população e ao


meio ambiente é monitorada pelos governantes, pela sociedade civil e pelos
financiadores internacionais e podem, por exemplo, afetar a valoração da ação da
empresa na bolsa de mercados.

Vejamos alguns exemplos de aspectos da realidade que estão sendo


monitorados:

• Trabalho escravo: existe um monitoramento constante das empresas que


empregam mão de obra escrava nos seus processos de produção. Os resultados
deste monitoramento são amplamente divulgados para toda a sociedade por meio
da mídia oficial e a sua constatação implica sanções por parte do Estado. Há
uma campanha oficial explícita para a não comercialização de produtos que se
utilizam de mão de obra escrava. Conheça a atuação do governo brasileiro e da
Organização Internacional do Trabalho nesta temática! Existem planos e políticas
desenhados para o enfrentamento desta questão.

• Madeira ecológica: há uma campanha forte de preservação das árvores


em extinção e de todo o sistema ecológico. Por esta razão, são difundidas no
mercado madeiras ecológicas e outros materiais na mesma linha. Conheça a
atuação do governo brasileiro sobre este assunto! Visite os sites das agências
governamentais do nível federal, como, por exemplo, o do Ministério do Meio
Ambiente.

• Trabalho infantil: do mesmo modo que o trabalho escravo, estão sendo


monitoradas as situações de utilização de mão de obra infantil nos processos
de produção e realizadas campanhas em defesa dos direitos de crianças e
adolescentes e contra a exploração do trabalho. Conheça a atuação do governo
brasileiro e da Organização Internacional do Trabalho nesta temática! Existem
planos e políticas desenhados para o enfrentamento desta questão. Visite
também o site da Procuradoria Geral da República e encontre diversas ações
nesta linha!

82
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

Novos Instrumentos para a


Cooperação entre o Setor Público
e o Setor Privado na Gestão e
Execução dos Serviços Sociais
A Constituição Federal de 1988 instituiu a descentralização e a participação
como eixos centrais do processo de democratização da gestão pública brasileira
nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal.

Soares Júnior (2011) comenta que a busca constante pela ampliação dos
espaços para a adequada prestação de serviços, alicerçada no espírito da
descentralização e do compartilhamento, demandou o trespasse da esfera
pública para fora de suas fronteiras, acolhendo a colaboração da iniciativa privada
com fins lucrativos (2º setor) ou sem fins lucrativos (3º setor), produzindo trabalhos
cooperativos de impacto nos diferentes aspectos ligados ao desenvolvimento da
prestação de serviços públicos.

DESCENTRALIZAÇÃO E COMPARTILHAMENTO

A descentralização, entendida como um princípio favorecedor


da delegação de competências, é elemento essencial para que o
espírito da repartição presida a execução da prestação de serviços
públicos. Ela se fundamenta na expansão natural da prestação de
serviços e em pressupostos ligados ao princípio da subsidiariedade,
tais como o da possibilidade de maior qualidade na prestação do
serviço quando ele se dá com maior proximidade com o beneficiário.

O compartilhamento é princípio estimulador da cooperação para


que o caráter associativo que promove a incorporação de outros
agentes e atores no processo da prestação dos serviços enriqueça
a ação administrativa e propicie maior eficácia no atingimento
dos resultados. Destacam-se, neste caso, as formas de “Gestão
Associada de Serviços Públicos”, nas quais as exigências da
prestação de serviços demandam o trespasse da estrutura de um
Ente Federado para criação de espaços de atuação conjunta entre
as estruturas de Entes Federados de um mesmo nível ou entre

83
Gestão em Serviço Social

estruturas de Entes Federados de diferentes níveis. As formas de


gestão associada de serviços públicos estão definidas na Lei no
11.705, de 06/04/2005 e são duas: os Consórcios Públicos e os
Convênios de Cooperação.

Fonte: Soares Júnior (2011, p. 7-8).

Ainda conforme definição de Gil Soares Júnior (2011) são exemplos de


descentralização dos Entes Federados:

• A criação de mecanismos de expansão horizontal de suas respectivas


organizações por meio da constituição por lei de outras pessoas jurídicas de
direito público ou de direito privado com o intuito de alcançar maior eficiência na
prestação de serviços, tais como as autarquias, autarquias especiais, fundações,
empresas públicas, sociedades de economia mista.

• Os contratos de gestão vinculados aos espaços e regras de gestão. Eles


possibilitam maior autonomia de execução para o prestador de serviços em troca
do controle dos resultados e do compromisso com metas de desempenho.

• Os convênios já aparecem no Decreto-lei no 200/67 como instrumento


para efetivar a descentralização das atividades da Administração Federal e
têm sido objeto de alguns diplomas legais, tendo em vista a importância de
regular a transferência de recursos entre entidades do setor público. O Decreto
no 93.872/1986 já estabelecia regras para os convênios dizendo que “[..] os
serviços de interesse recíproco dos órgãos e entidades da administração
federal e de outras entidades públicas ou organizações particulares, poderão
ser executados sob regime de mútua cooperação, mediante convênio, acordo
ou ajuste”.

O autor avalia ainda que:

A utilização simultânea destes instrumentos amolda


constantemente o aparato da administração pública às
necessidades administrativas crescentes, possibilitando uma
resposta mais flexível aos desdobramentos que vão sendo
cobrados da ação do Estado, em todas as suas dimensões.
Num país de dimensões territoriais e demográficas do
Brasil, a incorporação destes princípios ao cotidiano
administrativo permitiu que o Poder Público dispusesse das
condições mínimas de funcionamento da máquina estatal,
independentemente da convivência com diferentes posturas

84
Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

ideológicas sobre o alcance e a dimensão do poder e do


tamanho do Estado. (SOARES JÚNIOR, 2011, p. 8).

Nessa direção, estão em desenvolvimento, sob os auspícios de organismos


como o Banco Interamericano de Desenvolvimento Social/BID, novas formas
de cooperação entre as entidades públicas nos diferentes níveis e as entidades
privadas com ou sem fins lucrativos.

Tratam-se das Alianças Público Privadas, as quais consistem em trabalhos


cooperativos que abarcam diferentes escalas – do ponto de vista político e
geográfico - e compreendem também arranjos criados para dar conta das
demandas que trespassam a estrutura de um ente federado. Pode-se destacar a
existência de alianças entre:

a) as entidades público-estatais e as entidades privadas com


fins lucrativos (empresas) que se caracterizam por relações
contratuais privadas, baseadas em alguns mecanismos de
cooperação, como: 1) a autorização, 2) a permissão, 3) a
concessão (comum, patrocinada e administrativa) e 4) os
contratos;

b) as entidades público-estatais e as entidades privadas sem fins


lucrativos que são formalizadas na convergência de interesses
entre as partes em torno de atividades de relevância pública
de interesse social, tendo como principais mecanismos de
celebração da aliança os convênios, os contratos de gestão e os
termos de parceria.

Existem possibilidades concretas de atuação do Terceiro Setor no que se


refere à efetivação dos direitos sociais, consistindo em uma alternativa de resposta
à questão social que atua como uma terceira via ou “uma terceira possibilidade”
com subsídios para uma efetiva transformação.

O segmento de resíduos sólidos é um exemplo clássico


desta participação e integração, sobretudo no âmbito municipal,
abrangendo os aterros sanitários – que podem ou não envolver a
produção de gás de aterro e/ou de compostagem – a coleta seletiva
e a reciclagem, já em forte expansão, sem contar a preocupação com
os resíduos da construção civil, que inicia a sua busca por alternativas
viáveis. Pelo volume de investimentos requerido, a participação
85
Gestão em Serviço Social

privada social e comunitária se faz mais do que necessária. Há,


ainda, um longo caminho a ser percorrido na busca e na promoção
da sustentabilidade.

Esta iniciativa, portanto, do IBAM com o FOMIN (Fundo


Multilateral de Investimentos, do Banco Interamericano de
Desenvolvimento – BID), de estruturar um Projeto de APPs
Municipais, tem se revelado valiosa e relevante no atendimento a
demandas específicas municipais. Os temas, muitos deles críticos,
vão desde a coleta seletiva, passando por saúde, parques e praças,
pequenas unidades de produção e beneficiamento agroindustriais,
até bens públicos em ambientes de fronteira, alcançando ações
com o terceiro setor (associações, cooperativas) e com o setor
privado (pequenas, médias e grandes empresas), em municípios de
pequeno, médio e grande porte.

Fonte: Disponível em: <http://www.


aliancaspublicoprivadas.org.br/>. Acesso em: fev. 2013.

Após esta extensa apresentação sobre as diversas possibilidades de


colaboração das entidades privadas na prestação de serviços públicos sociais, é
importante reafirmar que os princípios constitucionais que orientam a organização
e gestão dos serviços púbicos sejam seguidos, em especial, aqueles que versam
sobre a participação da população, a transparência, o controle social. Mas
também é essencial que o Estado garanta a sua primazia no controle e gestão dos
serviços essenciais, coletivos e voltados para o interesse público, em destaque,
os serviços privativos e os serviços sociais expressos no Capítulo 6 da CF de
1988, que define os Direitos Sociais.

Atividade de Estudos:

1) Quais as duas qualificações especiais para as entidades privadas


introduzidas pela reforma do Estado, destacadas no texto?
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Capítulo 4 Entidades Privadas e
Possibilidades de Cooperação Com o
Setor Público na Gestão de Serviços Sociais

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Algumas Considerações
Este capítulo teve como objetivo apresentar o terceiro setor como um espaço
dinâmico, no qual se desenvolvem as relações entre o Estado e as entidades
privadas sem fins lucrativos, bem como as parcerias e alianças público privadas
como uma possibilidade de cooperação entre esses mesmos atores, orientadas
por novas formas de gestão, com destaque para o que traz a perspectiva
da Gestão Social. Assim sendo, observa-se, por exemplo, o crescimento da
participação das empresas nos projetos de desenvolvimento econômico e o
avanço dos instrumentos de monitoramento e controle da ação empresarial
no meio ambiente e social. Destaca-se, neste campo, o desenvolvimento de
inúmeros documentos e acordos internacionais que já estão sendo alinhados às
políticas sociais brasileiras. Este universo precisa ser conhecido pelos gestores e
futuros gestores.

De acordo com o exposto, buscamos chamar a sua atenção para o fato


de que o debate em torno do terceiro setor engendra diferentes concepções,
especialmente no que tange a sua funcionalidade e objetivos. Acreditamos que
é importante que você, como estudante, tenha ciência dos principais conceitos
que gravitam em torno do tema e aprofunde suas investigações a partir da
bibliografia sugerida.

Conclui-se que é inegável que as entidades que voltam sua ação para o
Terceiro Setor apresentem um excelente potencial de mobilização da sociedade
civil, haja vista as suas diferenciadas estratégias de comunicação, de sensibilização
e discussão com a população sobre as possibilidades de cooperação mútua na
solução dos problemas que afetam uma determinada comunidade ou grupo.

87
Gestão em Serviço Social

Porém, é necessário cautela ao avaliar os impactos de ações como estas, a


fim de que o Estado não seja desresponsabilizado, tampouco se facilite o caminho
para o mau uso de recursos públicos.

Todos estes temas, Gestão Social, terceiro setor e Alianças Público Privadas
são bastante vastos e este texto não tem a intenção de esgotar todos os seus
aspectos, mas apenas introduzir alguns conceitos que devem ser aprofundados
por você, acadêmico(a).

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Capítulo 4 Entidades Privadas e
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