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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MARCELA MARY JOSÉ DA SILVA

CONSERVADORISMO E O PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO


SOCIAL DE 2006-2016: O QUE SE PRODUZIU SOBRE ISSO?

Orientadora: Profa. Dra. Andrea Moraes Alves

RIO DE JANEIRO
2018
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MARCELA MARY JOSÉ DA SILVA

CONSERVADORISMO E O PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO


SOCIAL DE 2006-2016: O QUE SE PRODUZIU SOBRE ISSO?

Tese apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Serviço Social da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de
Doutora em Serviço Social sob orientação da
Profas. Dra. Andrea Moraes Alves.

RIO DE JANEIRO
2018
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MARCELA MARY JOSÉ DA SILVA

CONSERVADORISMO E O PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO


SOCIAL DE 2006-2016: O QUE SE PRODUZIU SOBRE ISSO?

Tese de doutorado submetida à comissão


julgadora, apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Serviço Social da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte integrante dos requisitos
necessários à obtenção do título de
Doutora em Serviço Social.

Aprovada em: 31 de junho de 2018

Aprovada por:

Profa. Dra. Andrea Moraes Alves (Orientadora)


Universidade Federal do Rio de Janeiro

Profa. Dra. Rosana Morgado


Universidade Federal do Rio de Janeiro

Profa. Dra. Myriam Lins de Barros


Universidade Federal do Rio de Janeiro

Profa. Dra. Carla Almeida


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Profa. Dra. Rita Freitas


Universidade Federal Fluminense
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Dedico esta tese á minha família, aos


antepassados, a todos que participaram
da minha formação e aos estudantes aos
quais eu tive a honra de ensinar algo.
5

AGRADECIMENTOS

Agradecer para mim é uma forma de reconhecer...


Agradeço....
A Deus Supremo e todas as suas expressões, vibrações e manifestações.
A meus pais Walmir (in memoriam) e Marli e a meus irmãos Walmir e Marcia.
À Jeane, companheira, pelo apoio mesmo em ondas baixas;
A Ivanildo pela atenção e chamadas;
Minha prima Magali (Liliu) e meu primo Marcelino e meus parentes que me
acolheram nos Rio de Janeiro em especial meus tios Mariza e Jorge e aos primos
Emerson e Célia, em especial a Neném;
A UFRB pela experiência do DINTER que permitiu junto com a UFRJ que novos
doutores nascessem na área de serviço social para o estado da Bahia;
Aos professores da UFRJ que participaram do desafio do DINTER;
Aos meus colegas de DINTER, em especial “meu marido de Doutorado” José
Santana.
Aos membros de todas as gerações do GRUPO DE TRABALHO DE SERVIÇO
SOCIAL NA EDUCAÇÃO – GTSSEDU e GRUPO DE TRBALHO DE
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL DO RECÔNCAVO – GTENPO cujas
trajetórias me trouxeram até aqui.
Aos meus amigos “de todos os cantos, encantos e axé” por terem entendido meus
processos e tempo.
À equipe que construiu o DINTER desde a comissão que o elaborou até os
momentos finais. Em especial agradeço às coordenadoras do DINTER: Valéria
Noronha e Silvia Pereira;
Aos estudantes que tive a oportunidade de ensinar;
A Zé Miúdo (PQTRLV) pela ajuda de sempre;
Por fim, agradeço a minha orientadora Professora Andrea por ter equilibrado amor e
rigor em suas orientações e disponibilidade em lidar com a delicadeza do tema
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RESUMO

Esse trabalho tem por objetivo analisar a produção acerca do conservadorismo e o


projeto ético político do serviço social em quatro frentes de produção da categoria e
da academia: os Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais-CBAS; os Encontros
Nacionais de Pesquisadores em Serviço Social-ENPESS; os Relatórios dos
Encontros nacionais da Categoria e os artigos da Revista Serviço Social e
Sociedade no período compreendido entre 2006-2016. O ponto de partida foi
compreender o serviço social como campo, à luz da discussão de Bourdieu e, a
partir daí, elencando os elementos que fazem parte desse campo, discutir a história
do serviço e a construção do projeto ético político, em situação de oposição ao
conservadorismo. Para isso discutiu-se o que é conservadorismo e como ele é para
ao serviço social. Caminhou-se pela história do serviço social brasileiro, observando
alguns momentos em especial: o movimento de reconceituação, o congresso da
“Virada”, as regulamentações da profissão em sua trajetória histórica, buscando
observar a formação dos intelectuais do Brasil e no serviço social e o processo de
construção do projeto ético político. Para tanto, usamos autores como IAMAMOTO,
BARROCO, NETTO, SCRUTON, GRAMSCI, MICELI, dentre outros para marcarmos
como se “virou a pagina” do conservadorismo para o PEP. Nossa perspectiva é que
ambos são faces da mesma moeda. Os resultados sinalizam que não há uma
preocupação da categoria em tematizar e produzir sobre o conservadorismo e o
PEP nos eventos e no período pesquisados. Da mesma forma há uma baixa
discussão que é alimentada via academia, o que sinaliza que o processo de disputa,
ainda é “por cima” e não se espraiou para os demais membros da categoria
profissional. Também concluiu-se que há muito que se produzir acerca do
conservadorismo e do Projeto ético político como elementos de um cultura do
serviço social.

PALAVRAS-CHAVE: CONSERVADORISMO, PROJETO ÉTICO POLÍTICO, CAMPO


CIENTÍFICO, PRODUÇÃO ACADÊMICA; HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL.
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ABSTRACT

This paper aims to analyze the production about conservatism and the ethical
political project of social service on four fronts of production of the category and the
academy: the Brazilian Congresses of Social Assistants (CBAS); the National
Meetings of Researchers in Social Work-ENPESS; the Reports of the National
Meetings of the Category and the articles of the Journal Social and Society in the
period between 2006-2016. The starting point was to understand social service as a
field, in the light of Bourdieu's discussion, and from there on, to list the elements that
are part of this field, to discuss the history of the service and the construction of the
political ethical project in opposition to conservatism. For this we discussed what is
conservatism and how it is for social service. He went through the history of the
Brazilian social service, observing some moments in particular: the
reconceptualization movement, the "Virada" congress, the regulations of the
profession in its historical trajectory, seeking to observe the formation of the
intellectuals of Brazil and in the social and the process of construction of the political
ethical project. To do so, we use authors such as IAMAMOTO, BARROCO, NETTO,
SCRUTON, GRAMSCI, MICELI, among others to mark how we turned the page of
conservatism for the PEP. Our perspective is that both are faces of the same coin.
The results indicate that there is no concern of the category to thematize and
produce about conservatism and PEP in the events and period studied. In the same
way there is a low discussion that is fed through the gym, which signals that the
dispute process is still over and did not spread to other members of the professional
category. It has also been concluded that there is much to be done about
conservatism and the Ethical Political Project as elements of a social service culture.

KEYWORDS: CONSERVATIVES, POLITICAL ETHICAL PROJECT, SCIENTIFIC


FIELD, ACADEMIC PRODUCTION; HISTORY OF SOCIAL SERVICE.
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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Número de Trabalhos Publicados no CBAS de 2006-2016. .............. 123

GRÁFICO 2. Número de Trabalhos Publicados no XII CBAS de 2007, Foz do


Iguaçu. .................................................................................................................... 126

GRÁFICO 3. Número de Trabalhos Publicados no XIII CBAS de 2013, Brasília .... 127

GRÁFICO 4. Número de Trabalhos Publicados no XIV CBAS de 2013, Águas


de Lindóia. ............................................................................................................... 129

GRÁFICO 5. Número de Trabalhos Publicados no XV CBAS de 2016, Olinda ...... 130

GRÁFICO 06-Número de Trabalhos Publicados nos ENPESS de 2006-2016........ 139

GRÁFICO 07-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2006 .................. 140

GRÁFICO 08-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2008 .................. 141

GRÁFICO 09-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2010 .................. 142

GRÁFICO 10-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2012 .................. 143

GRÁFICO 11-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2014 .................. 143

GRÁFICO 12-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2016 .................. 144


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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Comparação entre ruptura e proposta do movimento de


reconceituação........................................................................................71
Quadro 02 - Tracejado do processo de teorização do serviço social no Brasil.........75
Quadro Panorâmico – Disciplina que eu teve acesso ao projeto ético politico
.............................................................................................................100
Quadro 03 – Fragmento de pensamentos dos autores sobre conservadorismo e
PEP......................................................................................................102
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LISTA DE TABELAS

TABELA 1. CRONOLOGIA DOS CÓDIGOS DE ÉTICA DA PROFISSÃO DE


SERVIÇO SOCIAL E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS, 2010. ................... 86

TABELA 2. AUTORES/AS E PRODUÇÕES SOBRE CONSERVADORISMO E


PEP ........................................................................................................................... 98

TABELA 3. AUTORES/AS E QUANTIDADE DAS PRODUÇÕES SOBRE


CONSERVADORISMO E PEP................................................................................ 101

TABELA 4.PERFIL DOS MEMBROS TITULARES E SUPLENTES DAS


GESTÕES CFESS 2005 A 2017 ............................................................................. 109

TABELA 5. REVISTA SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE ARTIGOS


DISCUTINDO CONSERVADORISMO E O PEP 2006-2016 .................................. 114

TABELA 6. REVISTA SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE ELEMENTOS DOS


ARTIGOS 2006-2016 ............................................................................................. 115

TABELA 7. TODOS OS CBAS DA CATEGORIA .................................................... 121

TABELA 8. TODOS OS ENPESS NO PERÍODO DE 2006 A 2016 ........................ 136

TABELA 9. RELATÓRIOS DOS ENCONTROS NACIONAS DA CATEGORIA


DE 2006 A 2016 ...................................................................................................... 146

TABELA 10. ARTICULAÇÃO ENTRE OS EVENTOS DA CATEGORIA, 2006-


2016. ....................................................................................................................... 149
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais


CBCISS Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
CRESS Conselho Regional de Serviço Social
ENESSO Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social
ENPESS Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social
PEP Projeto Ético Político
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Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar


Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar...

(Disparada, Geraldo Vandré e Théo de Barros, 1966)


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................14

CAPITULO I – DA FORMAÇÃO DA INTELECTUALIDADE À FORMAÇÃO DE UMA


PROFISSÃO. ............................................................................................................ 25

1.1 Primeiros passos para a compreensão ............................................................ 29

1.2 Sobre a ciência, os saberes e os que não sabem............................................ 30

1.3 Os intelectuais e o serviço social ..................................................................... 47

CAPITULO II - INTELECTUAIS, INSTITUIÇÕES, HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL


NO BRASIL: UM PONTO DE VISTA. ........................................................................ 69

2.1 O pré congresso e pós congresso da “Virada” ................................................. 83

2.3 O conservadorismo e o PEP: o pensamento e os pensadores ........................ 85

2.3.1 O pensamento............................................................................................... 89

2.3.2 Os pensadores.... .......................................................................................... 97

CAPITULO III - DEZ ANOS DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO NOS CELEIROS


SIMBÓLICOS DA PROFISSÃO: CBAS, ENPESS, ENCONTROS NACIONAIS E
REVISTA SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE ........................................................ 111

3.1 Revista Serviço Social e Sociedade: veio com a “Virada” .............................. 113

3.2 Os Congressos Brasileiros de Assistenets Sociais-CBAS: o espaço da base


sem a base – de 2006 a 2016 .............................................................................. 120

3.3 Os Encontros Nacionais de Pesquisadores de Serviço Social-ENPESS: espaço


de ordenamento dos pesquisadores, professores e intelectuais do serviço social –
de 2016 a 2016.... ................................................................................................ 135

3.4 Encontros Nacionais da Categoria: da categoria?.... ..................................... 145

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 154

REFERENCIAS .......................................................................................................161
14

INTRODUÇÃO

No mundo há muitas armadilhas.


E o que é armadilha pode ser refúgio.
E o que é refúgio pode ser armadilha.
No mundo há muitas armadilhas...
E é preciso quebra-las.

Ferreira Gullar

Sou uma assistente social que se tornou professora. O elo entre uma experiência e
outra é a vontade de pensar sobre questões que sempre me atormentaram a vida
por conta de serem apresentadas como já resolvidas, consumadas, definidas. Sou
assistente social formada pelo currículo de 1986 e tornei-me docente das novas
Diretrizes Curriculares de 2000.

A discussão que ora apresento: CONSERVADORISMO E O PROJETO ÉTICO


POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL DE 2006 A 2016: O QUE SE PRODUZIU SOBRE
ISSO? Aparece em muitos momentos como refúgio e outras como armadilha. Seja
como for, é um caminho que precisa ser explorado. Dentro do serviço social, a
dinâmica histórica entre o conservador e o progressista clama por maior visibilidade
e discussão. Na contemporaneidade, o máximo de visibilidade que se dá ao tema
tem a ver com o medo da onda conservadora. Com os riscos que se corre no
embate entre o conservadorismo e o projeto ético político-PEP do serviço social,
mas, pouco se tem produzido sobre essa questão e, principalmente pouco se
produziu sobre o solo, o chão, o campo onde essas duas dimensões, o
conservadorismo e o PEP coexistem.

O termo conservador é polissêmico. Tanto na literatura quanto no cotidiano


profissional. Aquele que recebe esse rótulo, por que não dizer estigma, de
conservador, pode seguramente também receber um desses nomes: positivista;
funcionalista; tradicional; fenomenólogo; assistencialista; pós-moderno; neo-
conservador; neo-desenvolvimentista; regressivo; burguês; acrítico; direita;
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capitalista; patriarcalista; moralizador; religioso; pragmático dentre outros. O


conservadorismo é uma categoria acusatória, no meio do serviço social. A
polissemia demonstra um conhecimento que requer debate. Da mesma forma, aderir
ao PROJETO ÉTICO POLÍTICO, a partir de agora chamado por nós de PEP. Isso
não é automático e também requer mais espaço para a discussão. No elo entre o
PEP e o conservadorismo, quem determinou o status de desqualificação dos
conservadores foram os empreendedores do PEP. A relação dicotômica entre o
conservadorismo e o PEP gerou uma mútua análise simplificada dos dois
elementos. O que é ser conservador ou ter uma prática conservadora para o serviço
social? É retomar as compreensões do mundo e o modus operandi anteriores ao
Movimento de Reconceituação? Como distinguimos saberes e fazeres
conservadores de saberes e fazeres não conservadores? E qual a diferença entre
esses dois movimentos da profissão: o conservadorismo e o Projeto Ético Político?
A investigação sobre o que é o conservadorismo para os assistentes sociais e a
ligação desse conservadorismo com o Projeto Ético Político é uma grande demanda
a ser construída e respondida. Tanto um quanto outro são práticas sociais que não
estão dadas e a escolha entre essas praticas sociais não é simples nem automática.
É certo que no material que se apresenta não se dará conta de todas as dimensões
que envolvem essa discussão. Uma tese não dará conta disso. O que está contido
nas nossas reflexões pode ser chamado de “primeiros passos para um debate”. Um
dos pontos de partida foi a seguinte questão: é o enfrentamento entre o
conservadorismo e o PEP um problema para a categoria? Dessa, surgiram outras:
Existe enfrentamento entre o conservadorismo e o PEP? O que se tem produzido
sobre o PEP e o conservadorismo dentro do serviço social? Quem são os sujeitos
dessas possíveis produções? Como foi a história e a transição, ou transposição
entre o conservadorismo e o PEP? Quem são os pensadores conservadores dentro
do serviço social?

Para nos aproximarmos das respostas possíveis foi necessário: identificar as


características do que é conservador para o serviço social; identificar quem ou o que
determinou o que é conservadorismo; quem são os pensadores do conservadorismo
em serviço social; e qual a relação entre o conservadorismo e o PEP. A primeira
constatação é a tensão que esse debate provoca: isso exigiu revisitar a narrativa da
profissão. Revisitar a narrativa é revisitar os narradores em suas circunstâncias
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históricas. Esse percurso acabou por nos colocar “a disputa” existente como uma
expressão dialética da pluralidade, outra palavra “maldita” em serviço social. O chão,
a base desse debate é a disputa pelo lugar-sentido que “a profissão” deve adotar,
embora nem“ uma profissão” nem “uma categoria” possa adotar algo. São as
pessoas, sujeitos que adotam ou não algo. Isso parece óbvio, mas não é.

No percurso percebeu-se que essa discussão é mais presente na academia do que


no exercício profissional direto (“na ponta”), lugar onde a maioria dos profissionais
de serviço social, logo, não docentes, se encontram. Ainda assim esse tema é pouco
corporificado nas produções científicas embora o conservadorismo vague por entre
os discursos de algumas profissionais, da academia e das instituições
representativas da categoria. A discussão desse tema passa obrigatoriamente pelas
instâncias de formação, e de organização da categoria posto que essas instâncias
sinalizam o sentido ou a direção social da profissão.

Tomando a história do serviço social como elemento fundante de nossa discussão,


destacamos que existe um conservadorismo para o serviço social e este é posto em
nossa gênese, e tratado como uma “uma herança”: Sendo assim, onde estão as
publicações dos conservadores? Onde estão os espaços de disputa entre os
conservadores e os não-conservadores? Existe a disputa dentro da categoria? Em
que parte dela? Que sujeitos da categoria estão na disputa?

Na nossa compreensão é impossível estudar a relação entre o conservadorismo e o


PEP abstraindo-se do cotidiano de formação e atuação profissional, cuja trajetória
histórica operou com vários fenômenos sociais que determinaram e determinam a
dimensão profissional da profissão. O cotidiano de formação e atuação profissional
opera vários conceitos: história, luta de classes, processo de trabalho, espaços
sócio-ocupacionais, questão social, usuários/demandatários/trabalhadores, políticas
sociais, Estado, apenas para citar alguns. Todos estes têm a potencialidade de
servir a um ou a outro ethos. Não é o verbete que define o ethos. É a práxis.

É na realidade concreta que a história da formação e da prática profissional colidem,


entre si e entre os demais sujeitos e vetores da sociedade. É nessa encruzilhada
que reside o chão e o centro do nosso objeto de pesquisa: como se deu a
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construção do conservadorismo e do PEP na formação e na atuação profissional.


Num lugar que chamo um “senso comum acadêmico científico” afirma-se que a
categoria, aliás, a única que tem um PEP, tem esse projeto e o defende.

Na trajetória da construção do serviço social enquanto profissão, pela


comunicabilidade entre a profissão e o mundo, os profissionais já adotaram posturas
que renderam alguns rótulos que a nosso ver, tem relação com o tema proposto: os
assistentes sociais já foram reconhecidos com posturas “messiânicas”, “fatalistas” e
“militantes”. Tais adjetivos estão inscritos no processo de construção da profissão
enquanto profissão num movimento bilateral: dos profissionais para si e dos
profissionais para o mundo. Isso acontecendo pelo fio da história num esforço
contínuo de teorização da profissão, que parece consumado com o PEP. Nossa
hipótese é que existe um discurso do Projeto Ético Político, que marca um certo
ritual de passagem, ainda não concluso, de práticas denominadas de conservadoras
para uma nova orientação ético-teórico-política que se coloca na atualidade como
hegemônica. Cabe destacar que a hegemonia supõe supremacia de um grupo social
sobre os demais, ou por força ou por direção intelectual e moral, como afirma
Gramsci.

Dessa forma, é possível delinear a história da profissão como uma superação do


projeto ético político conservador para outro projeto ético político. Isso se
apresentará como uma mudança na cultura profissional. A transformação na cultura
da profissão requer uma nova forma de ler e compreender o mundo e de intervir
nele. Assim sendo, deve se mudar as bases de leitura da realidade, as demandas
postas pelo capital para a categoria, as demandas postas pelos usuários para
a categoria, as demandas da categoria para ela mesma, e a orientação diretiva
da categoria.

Sobre o Projeto Ético Político que surge na história do serviço social (como opositor
às velhas práticas e orientador de novas ações profissionais) é importante explicitar
seus elementos impulsionadores. Na constituição do serviço social enquanto
profissão, o Código de Ética veio antes da regulamentação da Profissão. O primeiro
aconteceu em 1947, enquanto a segunda, a regulamentação só em 1957. O avançar
dos Códigos de Éticas da profissão (1947, 1965, 1975, 1986, 1993), o esforço de
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auto organização, ainda que de forma superficial da categoria, foi construindo o que
se apresenta na contemporaneidade como uma escolha da categoria por se
comprometer, em tese, com um dos lados da luta de classes. O serviço social,
enquanto categoria (genérica), se posicionou então ao lado dos trabalhadores e, a
partir daí, elaborou o chamado Projeto Ético-Político que se sustenta a partir de três
documentos históricos: A Lei de Regulamentação da Profissão de 1986, O Código
de Ética – o primeiro em 1947 e o mais recente adotado de 1993 – e as Diretrizes
Curriculares da ABEPSS de 2002; Não à toa, são esses três documentos que se
colocam como orientadores da formação e do exercício profissional dos assistentes
sociais. Ainda assim, em nenhum desses documentos são mensionados os temas
conservadorismo e do PEP.

A discussão sobre o PEP está imbricada com os desafios não enfrentados: a


questão do serviço social como profissão e do assistente social como militante. A
formação profissional não tem a obrigação de formar militantes, mas nos parece que
o projeto ético-político tem essa obrigação. A partir de 1975 estabelece-se um
processo histórico que NETTO (1999) denominou de “Intenção de Ruptura” que
buscava “romper substancialmente com o tradicionalismo e suas implicações
teórico-metodológicas e práticas profissionais”. (1998, p. 250). A “intenção de
ruptura” fez a base do que hoje é chamado de PEP, e essa “pretensão de ruptura”
reordenou a formação, o ethos, as organizações diretivas da categoria, mas,
também, construiu um estranhamento no que se refere às praticas profissionais, à
intervenção profissional. Ainda assim, o discurso oficial da categoria muda e o PEP
constrói sua centralidade no seio da categoria: torna-se pensamento matriz e o
conservadorismo vira pensamento periférico.

O termo conservador tem imprecisões na sua utilização no seio da categoria: tudo


que não é convergente com o PEP sofre condenação. Em serviço social, o
conservador pode ser: tradicional, assistencialista, positivista, eclético, acrítico, pós-
moderno, holista, dentre outros. Dentro do termo conservador cabem todas, várias e
as mais diferentes denominações. Já o PEP não passa por imprecisão alguma:
adotá-lo é ser partidário da teoria social crítica, do marxismo. Donde podemos inferir
que no termo conservador estão todas as demais expressões teóricas: as
divergentes. Enquanto que na defesa do PEP há uma identidade única,
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compartilhada, comum, no conservadorismo, há um “complexo” disforme de muitas


expressões.

Embora, como já falamos, tenhamos pouca produção sobre essa temática, no pouco
que existe, vemos uma preocupação com a “disputa” de projetos profissionais. A
discussão sobre a existência de projetos profissionais diversos é alimentada pela
relação conservadorismo/PEP. Projetos profissionais para o serviço social, segundo
NETTO:

Inscrevem-se no marco dos projetos coletivos aqueles relacionados


às profissões – especificamente as profissões que, reguladas
juridicamente, supõem uma formação teórica e/ou técnico-
interventiva, em geral de nível acadêmico superior. Os projetos
profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem
os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus
objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e
institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o
comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas
relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões
e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas
(inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos
estatutos profissionais). Tais projetos são construídos por um sujeito
coletivo – o respectivo corpo (ou categoria) profissional, que inclui
não apenas os profissionais “de campo” ou “da prática”, mas que
deve ser pensado como o conjunto dos membros que dão efetividade
à profissão. É através da sua organização (envolvendo os
profissionais, as instituições que os formam, os pesquisadores,
os docentes e os estudantes da área, seus organismos
corporativos, acadêmicos e sindicais etc.) que um corpo
profissional elabora o seu projeto. (1999, p.21-22) Grifos meus.

A passagem do texto de NETTO explicou o projeto profissional que hoje é chamado


de PEP. BARROCO, noutro momento explicitou como era o projeto profissional
anterior, chamado de conservador:

Na origem da profissão, no contexto de expansão do capital


monopolista, em estreita vinculação com o projeto social da Igreja
Católica, o Serviço Social construiu um projeto profissional de
caráter moralizante e pretensamente apolítico. Contribuindo,
através da viabilização de políticas sociais, para a obtenção do
consenso, o Serviço Social executava ações de cunho moralizador,
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voltadas à disciplinarização da força de trabalho para o capital e à


colaboração entre as classes.[...] O conservadorismo herdado pela
profissão instituiu um ethos defensor de formas de vida e de
sociedade fundadas na hierarquia, na ordem, na tradição e na
autoridade. [...].(2010, p.32).

O que Barroco afirma, traz uma riqueza ao explicitar elementos constitutivos do


conservadorismo dentro do fazer do assistente social: hierarquia, ordem, tradição e
a autoridade. Com exceção da tradição, não será possível ver essas outras
características presentes nas políticas públicas e sociais?

O fato é que essas expressões têm seus destinos combinados na história e estão
intimamente ligadas pela luta de ordenação da sociedade seja na dimensão
ideológica, cultural, ética, política ou econômica. Aqui se trata de relações de poder,
como afirma VELHO:

Na sociedade complexa contemporânea existem tendências,


hierarquias e domínios onde se evidencia a procura de contestar e
redefinir hierarquias e distribuição de poder (....). Existe um dissenso
em vários níveis, a possibilidade de conflito é permanente e a
necessidade está sempre sendo negociada entre atores que
apresentam interesses divergentes. (2008, p 127).

É possível que esteja havendo uma confusão entre projeto societário, projeto
coletivo e projeto profissional bem como temáticas igualmente pouco
problematizadas no processo de formação e exercício profissional, e isso gere uma
certa confusão não só pratica mas teórica entre o PEP e o conservador. É
fundamental construir a capacidade de perceber não só as diferenças entre os
projetos, mas reconhecer quem os lidera, mantem, organiza e determina.
Acrescento aqui uma discussão que parece escondida: o PEP seria para os
assistentes sociais um projeto de esquerda enquanto o projeto, se assim
consideramos, conservador seria então da direita? Isso reforça a confusão sobre o
que são os projetos e suas dimensões, ao mesmo tempo que nos leva a
problematizar se, cabe aos partícipes da profissão a exigência de seguir uma
orientação política alinhada aos projetos conservador ou progressista.
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O desafio que se impõe é responder as questões inicialmente levantadas e construir


a ponte entre a força das práticas conservadoras produzidas e reproduzidas no fazer
profissional e a ação concreta do PEP, passando pelas demandas do capital, do
estado e políticas públicas. Tanto o PEP como o conservadorismo são marcados por
essa mesma origem: responder às demais societárias definidas pela ordem
societária capitalista. Talvez isso explique a “convivência” entre o PEP e o
conservadorismo na contemporaneidade. Uma expressão da boa convivência entre
o conservadorismo e o PEP no atualidade é a concepção do estado e das políticas
neoliberais como avanço e pela formação profissional centrada na execução dessas
políticas, afastadas das reais demandas da classe trabalhadora. Sei que esse é um
outro terreno movediço e como dizemos no nordeste “arriscoso”, delicado, diria a
academia, mas, é inegável a necessidade de se trazer à tona evidencias para essa
discussão. Por ser uma discussão eixo e como tal ela pode ganhar duas
intervenções: sendo eixo, não é uma discussão para muitos sequer para todos. Ou,
por ser eixo é melhor não ser tematizada. Não tematizando não se instabiliza. Esse
é um tema crítico para o serviço social. Essa discussão problematiza e questiona os
três níveis da construção dos assistentes sociais enquanto categoria: a formação, a
ação profissional e sua auto-organização: os sujeitos, seus percursos formativos e
as entidades de representação.

Hoje há a combinação entre silêncios e discursos oficiais relacionados a este tema.


As observações e escutas me fizeram constatar que temos conhecimentos
estereotipados tanto do que é conservador quanto do que é progressista na
sociedade burguesa em sua versão atual.

Nossa trajetória metodológica priorizou a pesquisa bibliográfica e documental, no


seio dos elementos que estabelecem o serviço social como campo. Utilizamos a
história do serviço social como veio principal de compreensão do nosso objeto.
Compreender o serviço social enquanto campo, à luz do conceito de Bourdieu, bem
como a discussão a formação do intelectual de Miceli como a abordagem de
Gramsci sobre os intelectuais orgânicos e a intelligentzia, possibilitou entender com
maior alcance os elementos que compõem o campo e, observando a produção
circulante nesses lugares dentro do campo, olhando a quantidade e a qualidade
22

dessa produção, traçar o caminho necessário para entender a relação entre o


conservadorismo e o PEP no serviço social e suas relações.

A cada elemento encontrado nesse percurso, foi feita uma exposição de seu lugar
nessa trama. Como dito anteriormente, não se tem a pretensão de dar conta de
todos os silêncios existentes no que se refere à temática escolhida, mas, levantar
dados tentando dar conta, unicamente, das lacunas que muito interferem na forma
de compreender o conservadorismo e o PEP. Essas lacunas criam hiatos tanto na
formação, quanto no exercício e na organização profissional. Onde se chegou e, até
onde se construiu sobre a temática tratada nessa tese, serve para abrir
possibilidades de novos pontos de partida para o debate, no espaço transitório que é
a produção de conhecimento, sem medo sobre o tema.

A tese desdobrou-se em três capítulos, fruto do levantamento bibliográfico e


documental. Essa escolha exigiu uma sistematização dos dados encontrados que
não utilizassem os verbetes: conservadorismo e PEP, mas que discutissem a
temática. Olhando a produção dos CBAS, do ENPESS s relatórios dos Encontros
Nacionais e os artigos da Revista Serviço Social e Sociedade, chegamos a esse
corte: muitos trabalhos citam os termos, mas poucos trabalhos discutem a temática.
O período elencado para a coleta dos dados foi de 2006 a 2016. Esse percurso foi
escolhido por confluir várias datas importantes para a trajetória histórica do serviço
social brasileiro: o ciclo dos 80 anos da profissão; 50 anos do Movimento de
Reconceituação; 70 anos da ABEPSS; 30 anos do Congresso da “Virada”; 25 anos
do Código de Ética e 20 anos das Diretrizes Curriculares; 30 anos da Revista
Serviço Social e Sociedade.

Embora, o conservadorismo e o PEP sejam experiências sonoramente familiares


tanto na formação quanto na ação profissional, elas não se configuram em
realidades conhecidas. A convivência com o familiar nem sempre se traduz em
conhecimento. A afirmação de BECKER nos convida a esse desafio: “Ignoramos o
que vemos porque não é abstrato, e perseguimos as “forças” e as “condições”
invisíveis que aprendemos a pensar que são tudo que interessa (...)”. A nossa
discussão olhou para o que nós, assistentes sociais, produzimos sobre o tema.
23

No primeiro capitulo, trazemos os conceitos básicos para entendermos o


conservadorismo e o a construção do PEP a partir da discussão do campo cientifico.
Trazemos o debate sobre os elementos do campo, resgatamos a trajetória histórica
da formação dos intelectuais no Brasil, a reorganização do Estado, a necessidade
do Estado em formar seus intelectuais, a ligação entre intelectuais e o Estado pode
deixar mais claro este período. Por consequência, o debate sobre a questão da
formação da intelligentzia e através do reconhecimento dos elementos do campo e,
assim olhar a trajetória do serviço social.

No segundo capitulo, usando a história do serviço, observamos em que momento e


de quais formas deu-se o deslocamento, a transição ou a transposição do esquema
do conservadorismo para a articulação inovadora do projeto ético político do serviço
social. Discutimos o esforço de teorização do serviço, o Movimento de
Reconceituação na América Latina e sua experiência brasileira procurando os
elementos que são, a partir daí, o argumento de “ruptura” com o serviço social
tradicional, protoformas do que mais tarde será chamado de conservadorismo e será
o arqui-inimigo do PEP. Daí origina-se nossa discussão sobre a total impossibilidade
de se falar do modelo PEP sem se ter incrementado o PEP. A discussão travada
nesse capitulo dá conta do objetivo da pesquisa de observar quando o
conservadorismo aparece na história do serviço social e como o PEP foi construído.

No terceiro capítulo, trazemos as produções dos CBAS (Conjunto CFESS-CRESS),


ENPESS (ABEPSS), Relatórios dos Encontros Nacionais da Categoria (Conjunto
CFESS-CRESS) e os artigos da Revista Serviço Social e Sociedade (Editora Cortez)
para apresentação e posterior analise, observado os a presença do debate sobre o
conservadorismo, o PEP e a articulação entre ambos. Nesse capítulo damos conta
de um dos objetivos da investigação que foi o mapear a produção compreendida
entre 2006-2016, destacando o quanto e o como os sujeitos em formação, os
profissionais, os pesquisadores e as instancias organizativas produziram sobre a
temática.

Esse percurso exigiu especial esforço. Tanto o que foi chamado de conservador
quanto o PEP parecem temas intocáveis por já bem definidos. Discutir um tema que
24

tem sido “indebatível” de forma crítica e aberta nos espaços de formação e de


atuação profissionais é um grande desafio. Becker (2008, p.119) afirmou que “uma
resposta para o dilema é evita-lo”. O que está exposto nas páginas seguintes é fruto
de uma decisão de não evitar o dilema. Assumir que existe a tensão. Entender que
ter a tensão não é o problema, mesmo porque sabemos que sem tensão não a
dialética e sem esta, a história se move. O resultado de uma investigação, de uma
produção de conhecimento é concretizar sua função social de contribuição para o
debate e para a ação.

Esse tema também nos reporta à discussão no seio da profissão sobre a relação
entre técnica, a política e a ética, três dimensões do trabalho profissional em serviço
social. Nessa compreensão tanto o conservadorismo quanto o PEP se colocam
como respostas a partir da categoria profissional às demandas, caracterizando
ambas como práticas sociais e sendo assim, são práticas aprendidas em relações
sociais. O fato das práticas e dos discursos terem sido aprendidos – e até repetidos
– não evidencia que eles sejam profundamente conhecidos.

Convido a todos e todas à leitura de nossas reflexões!


25

CAPITULO I – DA FORMAÇÃO DA INTELECTUALIDADE À


FORMAÇÃO DE UMA PROFISSÃO.

O Serviço Social é uma profissão de caráter sociopolítico,


crítico e interventivo, que se utiliza de instrumental científico
multidisciplinar das Ciências Humanas e Sociais para análise e
intervenção nas diversas refrações da “questão social”. Isto é,
no conjunto de desigualdades que se originam do antagonismo
entre a socialização da produção e a apropriação privada dos
frutos do trabalho. Assistentes sociais se inserem nas mais
diversas áreas: saúde, previdência, educação, habitação, lazer,
assistência social, justiça etc. Com papel de planejar,
gerenciar, administrar, executar e assessorar políticas,
programas e serviços sociais, atuam nas relações entre os
seres humanos no cotidiano da vida social, por meio de
uma ação global de cunho socioeducativo e de prestação
de serviços.
É uma das poucas profissões que possui um projeto
profissional coletivo e hegemônico, denominado projeto
ético-político, que foi construído pela categoria a partir das
décadas de 1970 e 1980. Ele expressa o compromisso da
categoria com a construção de uma nova ordem societária.
Mais justa, democrática e garantidora de direitos universais. Tal
projeto tem seus contornos claramente expressos na Lei
8662/93, no código de Ética Profissional de 1993 e nas
Diretrizes Curriculares. (Texto do CRESS do Rio de janeiro).
(Grifos da autora) http://www.cressrj.org.br/site/servico-social/

Em termos gerais, a epígrafe acima resume os “mantras-respostas” as questões


fundamentais que se impõem a qualquer profissional ou estudante de serviço social:
o que é o serviço social? E, o que um assistente social faz? Por trás dessas
questões se encontra toda a história já contada e compartilhada, as questões limites
da profissão e diversos atores. Embora possamos concordar com essa sinopse da
história, observamos que ainda há muito que discutir acerca principalmente da
“virada” em serviço social que nos trouxe um binômio conservadorismo x projeto
ético político para espaços da formação e da atuação da profissão. A relação de
superação ou manutenção desse binômio se tornou a pedra angular dos discursos
na profissão, sejam estes sediados na academia ou em espaços academicizados da
26

prática profissional. Todo o processo de teorização da profissão centrou-se e ainda


centra-se nessa questão.

Para o doutorado nos é cobrado pelas instituições – programas – que o tema, o


objeto, mais do que o método e os resultados, sejam inovadores. É exigido, de
forma oficial ou velada, que o produto, a tese, contribua com a inovação da
discussão ou tema. A grande questão que se impõe é: Como inovar sem romper?
Como inovar sem mudar? Como inovar sem tocar o status quo da produção corrente
sobre determinado tema ou objeto? Por fim, como inovar sem mexer em nada,
deixando as coisas como elas são? Esse, a meu ver, é o maior mistério imposto à
produção cientifica moderna.

O esforço nesse primeiro capítulo é para tentar desvelar, revelar ou, simplesmente
mostrar um certo mecanismo de organização, disposição, apresentação e
construção da discussão sobre o Projeto Ético-Político do Serviço Social-PEP e sua
relação intrínseca com o conservadorismo. Falamos de um certo mecanismo por
aceitarmos e reconhecermos que este, certamente, não é o único, mas é sobre este
que nossa discussão debruçar-se-á.

Dar visibilidade a alguns aspectos – marcos para entendermos a relevância da


discussão – são necessários para constatarmos o quão complexa é a discussão
sobre as experiências conservadoras e o projeto ético político da categoria. Na lista
abaixo apenas sinalizamos alguns desses aspectos que ora fazem superfície de
contato com nossa discussão, ora apresentam-se como pano de fundo para a
temática. O que queremos é desinvisibizá-los. A aproximação continua com a
interface histórica entre o que se chama conservadorismo e o que se chama de
projeto ético político. Assim elencamos alguns elementos pertinentes ao debate:

1. É preciso reconhecer que existem lacunas e saltos históricos na apreensão


da trajetória do serviço social brasileiro. Sabemos que a história não é
construída apenas de fatos e registros. A história, principalmente a oficial,
também exigiu e requereu silêncios e não registros.
2. Ainda há muito a ser discutido sobre a temática do serviço social ser ou não
ser trabalho (IAMAMOTO e LESSA polarizaram essa discussão) e, mais
27

recentemente, vem tangenciando algumas falas se o serviço social é uma


profissão ou não; essa é uma boa discussão: o que faz do serviço social uma
profissão e o que a especifica? Ter um PEP não define uma profissão. Ter um
PEP não substitui os elementos fundamentes de uma profissão e sua
inserção na divisão sócio técnica do trabalho como uma especificidade do
mundo do trabalho.
3. Temos poucas discussões acerca da trajetória da formação da
intelectualidade no serviço social, e dessa intelectualidade sequer ser
entendida na trajetória da profissão ora como militantes ora como
messiânicos e agora conservadores ou progressistas; Os termos militantes,
messiânico, fatalistas, conservadores ou progressistas, na literatura
profissional, são mais nitidamente atribuídos aos profissionais não
pensadores (pertencentes à academia). Mas na literatura da profissão, quem
se coloca como conservador e quem se coloca como progressista? Essa
experiência dá a entender que “todos” os pensadores/da academia de serviço
social são, naturalmente, progressistas; e mais ainda: que há uma
unanimidade automática nesse processo.
4. A questão sobre se o serviço social tem uma teoria ou não; essa discussão
recai diretamente sobre o ponto anterior na medida em que, para se ter teoria
é preciso ter teóricos (intelectuais);
5. A questão de onde estão os intelectuais do serviço social e sua participação
nas instancias organizativas da profissão e qual sua função e preocupações
acaba por interferir nos espaços coletivos da categoria, nas temáticas e na
escolha de quem fala sobre as determinadas temáticas;
6. A discussão sobre o PEP e o conservadorismo tem fortes implicações na
discussão dos elementos do processo de trabalho nos espaços sócio-
ocupacionais dos/das assistentes sociais: a definição de um objeto, (que é a
questão social), a compreensão do que são meios e os instrumentos(
técnicas, fundamentação teórica) e qual é o resultado/produto do fazer do
assistentes social tem muito a ver com a discussão proposta nessa tese: onde
e como se diferenciaria o PEP ou o conservadorismo nessa tríade de
elementos? Uns hão de dizer que pelo fato de concebermos o “processo de
trabalho” já se diferencia. Mas não é assim que o mundo concreto se mostra.
28

Não basta dizer, mesmo que esse dizer seja cientifico, universitário e
acadêmico;
7. Por fim, o aparentemente óbvio, que é o reconhecimento de que a produção
científica do serviço social está nos trilhos capitalistas da organização,
difusão, hierarquização, reprodução e produção do conhecimento;

A discussão sobre a relação entre o conservadorismo e o projeto ético político,


embora faça fronteira com todas essas questões não pode ser esmiuçada em uma
única tese. Mas, ainda assim, não vamos escondê-las nem escamoteá-las, como
estratégia metodológica. Isso conduziu-me a construir uma estratégia que chamei
de: um passo atrás, fazendo o movimento de Ariadne dentro do Labirinto, tentado
sair dele, refazendo o caminho de volta.

Como profissional-estudante do serviço social em diversos espaços de formação


sócio-ocupacionais, encaro como relevante responder essas questões que, aos
olhos de alguns, já se encontram resolvidas e absorvidas. Para mim não. São elas:

1. O que é o conservadorismo?
2. O que é o conservadorismo para o serviço social? Assumindo aqui que há
uma diferença entre o que a base da categoria, as instancias organizativas
e as instancias pensadoras da profissão pensam sobre isso;
3. Qual a relação entre a produção acadêmica do serviço social nos últimos
10 anos e o conservadorismo e o PEP? Quem e quais são os intelectuais
dessas duas forças – o conservadorismo e o PEP – no seio do serviço
social?
4. É o PEP fruto das reflexões da base da categoria e são as diretrizes
curriculares capazes de garantir de forma automática a aderência dos
formandos ao PEP?
5. É o PEP fruto das reflexões da base da categoria e são as diretrizes
curriculares capazes de garantir de forma automática a aderência dos
formandos ao PEP?
29

Olhando a história produzida desejo conhecer não só os trilhos onde a locomotiva da


história anda. O trilho não sabe o que são as paradas. O trilho não sabe da
locomotiva e do entra e sai das pessoas. Esses aspectos que queremos capturar:
identificar sujeitos, “malas”, “mercadorias”, reconhecer funcionários e diferenciá-los
dos passageiros, compreender os pontos de paradas, ver o entre e sai de pessoas.
Estando e olhando tudo a partir dos trilhos, não será possível ver. A proposta é sair
dos trilhos, não nega-los, mas olhar os demais elementos.

1.1 Primeiros passos para a compreensão

Marcela, quem vai te orientar?


Cuidado para você não se tornar
conservadora ou produzir uma tese
conservadora!
(Chamamento de um professor a mim. Rio de
Janeiro, 2017).

A epígrafe me encheu de certeza de que o que eu queria estudar existe: existe um


processo automático de diferenciação, de distinção e de compreensão, e
logicamente de premiação ou punição, de quem são os conservadores e os
progressistas no interior do espaço sagrado dos pensadores. Destaco o termo
“automático” para não usar o termo “natural”. Uma de minhas suspeitas na
discussão desse tema tem a ver com a questão da “falsa naturalidade” da existência
do PEP não no que se refere aos esforços histórico dos antepassados da categoria
no desenho e na tentativa de implementação desse PEP. Refiro-me ao trato dado a
este e ao seu opositor, o conservadorismo, na contemporaneidade. Mas, para isso é
preciso evidenciar ao mesmo tempo, os elementos da história e novos elementos de
analise. Disso que se tratam as próximas páginas: discussão da história e dos
conceitos.
30

Alertamos que para nós é impossível dissociar a história do serviço social e desse
elemento na trajetória da profissão, da própria formação dos seus pensadores, dos
intelectuais, dos profissionais e das suas discussões sobre teoria, ciência e
conceitos.

É importante para o exercício e o avanço da ciência e das profissões, que elas


subsidiem as reflexões sobre o mundo e as coisas desse mundo e, sobretudo, que
seja capaz de fazer auto-analises sobre suas trajetórias e elementos. Para isso, é
fundamental acolher outras vias de analise observando os textos e os contextos.

Na concepção do que é a ciência, ou a razão, e a quem ou ao que essa ciência


serve, é bom explicitar que o mercado é favorável ao progresso do que ele deseja
da razão, entenda-se ciência, e, que outros e muitos elementos sociais estão a
aparecer e a desaparecer também observando o movimento e o jogo do mercado,
fruto de relações de produção e reprodução social. A ciência nunca esteve nem
imune nem acima das relações societárias. Essa afirmação, óbvia, consegue indicar
o que chamei de processo de aparecimento/desaparecimento de elementos nas
trajetórias de diversos fenômenos sociais que envolvem o serviço social, com
características especificas, mas, com certa imprecisão no que se refere ao quando
esses elementos apareceram ou desapareceram. A discussão a partir do conceito
de campo científico (Bourdieu, 2005) pode nos dar elementos para entender esse
fenômeno.

1.2 Sobre a ciência, os saberes e os que não sabem

(...) essa reformulação implica em ao menos, começar a


refletir sobre quem são realmente os personagens da
História, sobre quem faz concretamente a História. O
tipo de história vulgarmente cultivado exclui da
discussão histórica uma grande maioria da população,
como se essa não estivesse envolvida na realização da
História. E essa perspectiva é a que está com grande
frequência presente no ponto de vista de quem organiza
e ministra o conhecimento. Na verdade, há aí uma
concepção elitista de História, que não é apenas
31

resultante de uma deformação ideológica do


conhecimento, mas de uma prática intelectual
conservadora e, até reacionária. (MARTINS, 1980).

A produção de saber – ou saberes – tem lugar determinado na sociabilidade


capitalista. Se assim o é, a produção e reprodução dos que produzem os saberes
também tem suas regras, seus determinantes exógenos e endógenos de
reprodução. Possuem, portanto, espaços definidos, institucionalizados, dotados de
regras, com sujeitos ativos, agentes dos processos que disputam entre si e que
determinam rituais de entrada, não-entrada e saída desse lugar. Isso é o campo.
Nas palavras de Bourdieu (2004):

O campo (...) é o universo no qual estão inseridos os agentes, as


instituições que produzem, reproduzem e difundem a arte, a literatura
ou a ciência. Esse universo é um mundo social como os outros, mas
que obedece a leis sociais mais ou menos especificas. A noção de
campo está ai para designar esse espaço relativamente autónomo,
esse microcosmo dotado de suas leis próprias (p.20). O campo
científico é um mundo social e, como tal, faz suas imposições,
solicitações etc., que são, no entanto, relativamente independentes
das pressões do mundo social global que o envolve. De fato, as
pressões externas, sejam de que natureza forem, só se exercem por
intermédio do campo, são materializadas pela lógica do campo. Uma
das manifestações mais visíveis da autonomia do campo é sua
capacidade de refratar, retraduzindo soba forma específica as
pressões e as demandas externas. (p.21-22).

Bourdieu, além de reforçar as características do campo como sendo um universo


social, evidencia seus agentes, a relação desse universo com as instancias
externas, a relativa autonomia, nos traz algo muito caro para nossa discussão que é
a capacidade de refração do campo e sua relação direta com a autonomia. Bourdieu
chega a afirmar que há mais autonomia quanto maior seja a capacidade de receber
a demanda externa e refratá-la de tal modo que ela chega a se tornar irreconhecível
de tanta transmutação sofrida no interior do campo. O campo metaboliza de forma
específica seus objetos, demandas e temas e, nessa capacidade de metabolização,
reside sua autonomia e o reconhecimento dela pelos outros campos.
32

Esse caminho de construção do campo que se confunde com o caminho de


construção da autonomia pode também ser aplicado na leitura de aparecimento de
profissões que surgem com um saber ou fazer específicos, querendo constituir-se
como campo ou subcampo, a depender das disputas inter-campos e intra-campo.
Há um aspecto relevante para discussão dessa disputa, observando que as regras
são construídas, constituídas e institucionalizadas por quem chegou primeiro, é
fundamental a observação da dinâmica dos agentes dentro do campo. Sem agentes,
não há campo. Para Bourdieu (2004):

Os agentes (indivíduos ou instituições) caracterizados pelo volume


de seu capital determinam a estrutura do campo em proporção ao
seu peso, que depende do peso de todos os outros agentes. (p.24)
(...) os agentes fazem os fatos científicos e até mesmo, em parte, o
campo científico, mas a partir de uma determinada posição nesse
campo – posição essa que não fizeram – e que contribui para definir
suas possibilidades e suas impossibilidades. (p.25).

É possível que nessa condição resida a necessidade de reprodução de


determinados discursos para manutenção dos agentes nos seus lugares dentro do
campo, como dependa igualmente a manutenção do próprio campo. A relação entre
o aparecimento ou desaparecimento de discussões na trajetória o serviço social é
elemento de perenidade tanto do campo quanto dos agentes. A manutenção do
status do campo e dentro dele depende das relações produzidas e reproduzidas
pelos agentes e, sobre o que eles se debruçam. Mudar o status de um campo
envolve grande quantidade de carga intelectual, simbólica e de poder. Requer uma
grande carga de capital que para Bourdieu não limitam só a dimensão econômica do
termo, mas, também outras esferas: capital cultural, capital social e o capital
simbólico. Para ele, o capital tem a ver com a quantidade de força, recurso, poder e
lugar que os agentes ocupam dentro do campo.

Para qualquer discussão dentro do campo se requer uma grande quantidade e


qualidade do capital científico e são os agentes que ordenam sua organização,
atribuem valor ao capital e o distribuem no interior do campo. Tornar-se agente, ser
reconhecido ou negado, momentânea ou definitivamente, tem a ver com o quanto de
capital esses agentes tem ou não tem e do seu lugar e trajetória no mundo social.
33

Os agentes sociais, evidentemente, não são partículas passivamente


conduzidas pelas forças do campo (mesmo se as vezes se diz que
há essa semelhança: caso se observem algumas evoluções politicas,
como a do numero de nossos intelectuais, como não dizer que a
limalha segue realmente as forças do campo?). Eles têm disposições
adquiridas - não desenvolverei aqui esse ponto - que chamo de
habitus, isto e, maneiras de ser permanentes, duráveis que podem,
em particular, leva-los a resistir, a opor-se às forças do campo.
Aqueles que adquirem, longe do campo em que se inscrevem, as
disposições que não aquelas que esse campo exige, arriscam-se,
por exemplo, a estar sempre defasados, deslocados, mal colocados,
mal em sua própria pele, na contramão e na hora errada, com todas
as consequências que se possa imaginar. Mas eles podem também
lutar com as forças do campo, resistir-Ihes e, em vez de submeter
suas disposições às estruturas, tentar modificar as estruturas em
razão de suas disposições, para conforma-las às suas
disposições.(BOURDIEU, 2004, p.29).

Fundamental para entender essa questão trazida por Bourdieu sobre aqueles que
estão dentro do campo e daqueles que chamo de “renegados” desse campo é que
em ambas as situações, as regras do campo não são negadas e nem modificadas. É
possível a entrada e a saída de agentes no campo. É possível lutar e a disputa
existe no interior do campo, mas isso não muda a estrutura nem a dinâmica do
campo. O que certamente institui a possibilidade de disputa, de luta no interior do
campo tem a ver com a trajetória dos agentes, com a quantidade e a qualidade de
capital acumulada por eles. Para Bourdieu (2004):

Os agentes sociais estão inseridos na estrutura e em posições que


dependem do seu capital e desenvolvem estratégias que dependem,
elas próprias, em grande parte, dessas posições, nos limites de suas
disposições. Essas estratégias orientam-se seja para a conservação
da estrutura seja para a sua transformação, e pode-se
genericamente verificar que quanto mais as pessoas ocupam uma
posição favorecida na estrutura, mais elas tendem a conservar ao
mesmo tempo a estrutura e sua posição, nos limites, no entanto, de
suas disposições (isto e, de sua trajetória social, de sua origem
social) que são mais ou menos apropriadas a sua posição.(p.29).

A formação dos intelectuais do campo, os temas alvo de produções, os objetos


dignos de serem estudados, conhecidos, sistematizados e os estudos distribuídos
estão ligados a essa rede de composição dos tipos de capital presentes no campo
34

através dos agentes. Compreender os tipos de capital existentes potencializa a


compreensão da dinâmica da disputa no interior do campo.

(...) em primeiro lugar o capital econômico, em suas diversas formas;


em segundo lugar o capital cultural, ou melhor, o capital
informacional também em suas diversas formas; em terceiro lugar,
duas formas de capital que estão altamente correlacionadas: o
capital social, que consiste de recursos baseados em contatos e
participação em grupos e o capital simbólico que é a forma que os
diferentes tipos de capital toma uma vez percebidos e reconhecidos
como legítimos. (BOURDIEU, 1987. p.4)

A ideia de capital trazida por Bourdieu e as suas diversas manifestações não


afastam uma máxima do campo: “cada campo é o lugar de constituição de uma
forma específica de capital” (2004, p.26). As especificidades do capital determinam o
campo, que co-determina a posição dos agentes que por sua vez determinara mais
redes e formas de ser e estar no campo, chancelando os objetos, as produções e os
produtores dignos de pertencer ao campo especifico. Resumindo, o capital define as
relações de produção e reprodução do poder. É a dinâmica do poder e o capital
envolvido nisso que nos interessa. Para nosso objeto a discussão sobre o capital
cientifico que estabelece relações de poder.

As relações objetivas de poder tendem a se reproduzir nas relações


de poder simbólico. Na luta simbólica pela produção do senso
comum ou, mais exatamente, pelo monopólio da nominação legítima,
os agentes investem o capital simbólico que adquiriram nas lutas
anteriores e que pode ser juridicamente garantido. Assim, os títulos
de nobreza, bem como os títulos escolares, representam autênticos
títulos de propriedade simbólica que dão direito às vantagens de
reconhecimento. (Bourdieu, 2004, p. 168).

Na nossa discussão temos o campo cientifico, o campo universitário e, dentro deste,


o campo intelectual; todos eles imersos e sensíveis ao espaço social, todos
produtores de um senso comum, seja ele: cientifico, acadêmico ou intelectual. A
produção de sensos comuns científicos, acadêmicos e intelectuais determinam a
perenidade do campo: o que e até quando conservar e o que e até quando inovar
35

atribui movimento ao campo e fundam novos momentos, fases, etapas. Para inovar
é necessário outro caldo cultural, com nova rede linguística, semântica, simbólica.

O campo é uma construção social que só existe por conta do poder simbólico
acumulado e reproduzido. Determinados rituais de passagem, de entrada e saída,
só são possíveis pela existência dos símbolos e do poder simbólico que é estrutural
e desigualmente distribuído. Para Bourdieu (2005, p.10):

Os símbolos são instrumentos por excelência da “integração social”:


enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação (cf. a
analise durkheimiana da festa), eles tornam possível o consensus
acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente
para a reprodução da ordem social: a integração “lógica” é a
condição da integração- “moral”.

A utilização e o trato dado aos símbolos promovem experiências de pertencimento


ou de preconceito, de aceitação ou negação, de reconhecimento ou de exclusão. E
numa sociedade ordenada em classes, isso é fundamental para o estabelecimento
de uma dada ordem.

As diferentes classes e fracções de classes estão envolvidas numa


luta propriamente simbólica para imporem a definição do mundo
social mais conforme aos seus interesses, e imporem o campo das
tomadas de posições ideológicas reproduzindo em forma
transfigurada o campo das posições sociais. Elas podem conduzir
esta luta quer diretamente, nos conflitos simbólicos da vida
quotidiana, quer por procuração, por meio da luta travada pelos
especialistas da produção simbólica (produtores a tempo inteiro) e na
qual está em jogo o monopólio da violência simbólica legitima (cf.
Weber), quer dizer, do poder de impor – e mesmo de inculcar-
instrumentos de conhecimento e de expressão (taxinomias)
arbitrários – embora ignorados como tais- da realidade social. O
campo de produção simbólica é um microcosmo da luta simbólica
entre as classes: é ao servirem os seus interesses na luta interna do
campo de produção (e só nesta medida) que os produtores servem
os interesses dos grupos exteriores ao campo de produção.
(Bourdieu, 2005, p. 11 -12).

Da existência dos símbolos à criação dos sistemas simbólicos o poder se auto-


organiza, cria-se.
36

Os “sistemas simbólicos distinguem-se fundamentalmente conforme


sejam produzidos e, ao mesmo tempo, apropriados pelo conjunto do
grupo ou, pelo contrário, produzidos por um corpo de especialistas e,
mais precisamente, por um campo de produção e de circulação
relativamente autónomo:(...) (p.12).

O poder simbólico e os sistemas simbólicos são elementos de um poder que


“constrói realidades”, roubando do mundo concreto o tempo, o espaço, os agentes, a
história. Isso coloca a realidade social com uma ortodoxia, como natural, e, é nessa
condição que se expressa a força do poder simbólico: em seu ar de naturalidade. Os
sistemas simbólicos fundamentam a divisão sócio-técnica do trabalho, onde o poder
é hierarquizado. Ele é resultante das demais relações de poder e sua especificidade
reside no fato de ser capaz de estabelecer uma nova crença, uma conversão, via
ideologia, que é capaz de tornar experiências sociais em experiências típicas,
naturais. É parte fundamental do poder simbólico, essa sutileza de existir sendo um
grande desconhecido. Nessa sua característica reside sua eficácia e consequente
permanência.

O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação,


de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do
mundo e, deste modo, a acção sobre o mundo, portanto o mundo;
poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é
obtido pela força (física ou econômica) graças ao efeito específico de
mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado
como arbitrário. (p.15)

Ignorar que algo é arbitrário é fundamental para a aceitação e a manutenção da


ordem social, externa aos campos, bem como é necessário para a construção de
todos e qualquer campo. O poder simbólico está presente nos campos e é
disputado. Sobre o campo, Bourdieu afirma que ele é:

(...)o universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições


que produzem, reproduzem ou difundem a arte, a literatura ou a
ciência. Esse universo e um mundo social como os outros, mas que
obedece a leis sociais mais ou menos especifica. A noção de campo
esta aí para designar esse espaço relativamente autônomo, esse
37

microcosmo dotado de suas leis próprias. Se, como o macrocosmo,


ele e submetido a leis sociais, essas não são as mesmas. Se jamais
escapa as imposições do macrocosmo, ele dispõe, com relação a
este, de uma autonomia parcial mais ou menos acentuada. (2004,
p.20-21)

Uma característica importante do campo é a autonomia relativa. Bourdieu afirma que


um campo é mais autônomo quanto mais refratário, eu diria “parcialmente sensível”
às pressões externas ele for. Um campo, via seus agentes e instituições, deve ser
capaz de resignificar demandas, de forma tal que, como afirma Bourdieu, ao final
dessa metabolização feita pelo campo, ela “se torne irreconhecível”. A isso ele
chama de “refração”. (2004, p.22). A capacidade de refração está diretamente ligara
à questão do poder simbólico. A participação dos sujeitos no campo depende do
quanto de capital simbólico ele conseguiu acessar e amealhar e de sua capacidade
de aprender os principais pontos de valor. A esse percurso, Bourdieu chamou de
habitus:

Como em Chomsky – o habitus, como indica a palavra, é um


conhecimento adquirido e também um haver, um capital ( de um
sujeito transcendental na tradição idealista) o habitus, a hexis, um
sujeito transcendental na tradição idealista) o habitus, a hexis indica
a disposição incorporada, quase postural -, mas sim o de uma agente
em acção: tratava-se de chamar a atenção para o “primado da razão
da prática” de que falava Fichte, retomando ao idealismo, como Marx
sugeria nas Teses sobre Feuerbach, o “lado activo” do conhecimento
prático que a tradição materialista, sobretudo com a teoria do
“reflexo”, tinha abandonado. (1989, p.61)

O habitus é um elemento importante do campo e vai situar o grau de pertença e


localização do sujeito nesse. As respostas – “certas” – do sujeito determinará seu
lócus criando o circuito que liga o nome, a uma escola, vinculada a uma visão de
mundo (teoria), que segundo Bourdieu é “a moeda miúda da ambição positivista
tradicional)(p.63).

Cattani apud Lahire (2002, p. 47-48) indica algumas características do campo:

 Um campo é um microcosmo incluído no macrocosmo constituído


pelo espaço social (nacional) global.
38

 Cada campo possui regras do jogo e desafios específicos,


irredutíveis às regras do jogo ou aos desafios de outros campos (o
que faz “correr” um matemático – e a maneira como “corre” – nada
tem a ver com o que faz “correr” – e a maneira como “corre” – um
industrial ou um grande costureiro).
 Um campo é um “sistema” ou um “espaço” estruturado de posições.
 Esse espaço é um espaço de lutas entre os diferentes agentes que
ocupam as diversas posições.
 As lutas dão-se em torno da apropriação de um capital específico do
campo (o monopólio do capital específico legítimo) e/ou da
redefinição daquele capital.
 O capital é desigualmente distribuído dentro do campo e existem,
portanto, dominantes e dominados.
 A distribuição desigual do capital determina a estrutura do campo,
que é, portanto, definida pelo estado de uma relação de força
histórica entre as forças (agentes, instituições) em presença no
campo.
 As estratégias dos agentes são entendidas se as relacionarmos com
suas posições no campo.
 Entre as estratégias invariantes, pode-se ressaltar a oposição entre
as estratégias de conservação e as estratégias de subversão (o
estado da relação de força existente). As primeiras são mais
frequentemente as dos dominantes e as segundas, as dos
dominados (e, entre estes, mais particularmente, dos “últimos a
chegar”). Essa oposição pode tomar a forma de um conflito entre
‘antigos’ e ‘modernos’, “ortodoxos’ e ‘heterodoxos” (...).
 Em luta uns contra os outros, os agentes de um campo têm pelo
menos interesse em que o campo exista e, portanto, mantêm uma
“cumplicidade objetiva” para além das lutas que os opõem.
 Logo, os interesses sociais são sempre específicos de cada campo e
não se reduzem ao interesse de tipo econômico.
 A cada campo corresponde um habitus (sistema de disposições
incorporadas) próprio do campo (por exemplo, o habitus da filologia
ou o habitus do pugilismo). Apenas quem tiver incorporado o habitus
próprio do campo tem condições de jogar o jogo e de acreditar n(a
importância d)esse jogo.
 Cada agente do campo é caracterizado por sua trajetória social, seu
habitus e sua posição no campo.
 Um campo possui uma autonomia relativa; as lutas que nele ocorrem
têm uma lógica interna, mas o seu resultado nas lutas (econômicas,
sociais, políticas...) externas ao campo pesa fortemente sobre a
questão das relações de força internas. (2011, p.192)

Dessas características comuns a todos os campos, destacamos aquela que


estabelece um campo como espaço de confronto de forças, “de lutas para conservar
ou transformar esse campo de forças” (2002, p.22-23). Assim sendo há dentro do
campo a hierarquização dos poderes resultante do quantum de capital cultural foi
amealhado, acumulado pelos agentes e é tutelado pelas instituições. Há dominantes
e dominados cujas relações determinam seus lugares dentro do campo,
39

determinado assim, quem pode e quem não pode fazer, falar, produzir, da mesma
forma que, também determinam os objetos mais legítimos a serem tematizados.
Essas vivências no interior do campo indicam o nível de sobrevivência dos agentes,
estabelece concorrências, indicam o grau de força de cada um. Força que se
sustenta pela distribuição desigual do capital dentro do campo.

Uma outra característica do campo é o fato dele ser resultado de uma “constituição
especifica de capital”. Esse capital especializa o campo e garante a construção de
certas fronteiras. Cada campo tem seu capital simbólico próprio. Isso faz parte de
sua especificação, cria sua identidade e diferencia um campo dos demais. Isso só é
possível pela disposição especifica dos capitais simbólicos. Os detentores dos
capitais simbólicos são os agentes sociais que:

(...) estão inseridos na estrutura e em posições que dependem do


seu capital e desenvolvem estratégias que dependem, elas próprias,
em grande parte, dessas posições, nos limites de suas disposições.
Essas estratégias orientam-se seja para a conservação da estrutura
seja para a sua transformação, e pode-se genericamente verificar
que quanto mais as pessoas ocupam uma posição favorecida na
estrutura, mais elas tendem a conservar ao mesmo tempo a estrutura
e sua posição, nos limites, no entanto, de suas disposições (isto e,
de sua trajetória social, de sua origem social) que são mais ou
menos apropriadas a sua posição. (2002, p.29).

Embora haja confronto no interior do campo, existe também um certo pacto de


manutenção. Nenhum confronto dever ser forte o suficiente que permita a
desestruturação do campo. Afinal de contas, todos que habitam um determinado
campo além de concorrerem entre si, são ao mesmo tempo, produtores e
consumidores de seus objetos. Esse aspecto implica na garantia de movimento no
interior do campo, mas também de uma certa estabilidade. As regras que
determinam a forma de se confrontar e as partes obedecem a essa “forma”. Isso é
comum a todos os campos, mas no campo cientifico essa mediação é estabelecida
através daquilo sobre, segundo Bourdieu,
40

(...)o que os concorrentes estão de acordo acerca dos princípios de


verificação da conformidade ao "real", acerca dos métodos comuns
de validação de teses e de hipóteses, logo sobre o contrato tácito,
inseparavelmente político e cognitivo, que funda e rege o trabalho de
objetivação. (2004, p.33).

No campo científico as regras do jogo são estabelecidas através da referencia da


razão, exigindo de seus participantes argumentos, lógica, referências (obviamente
aceitas pelo e no campo), uma memória acumulada sobre a especificidade do
campo. A combinação desses fatores garante a permanência e a impermanência
nas relações de produção e reprodução no interior do campo cientifico,
concentrando ou distribuindo poder através das relações. O campo científico ainda
explicita a ocupação nos espaços institucionalizados de poder e o prestígio pessoal,
ambos os lugares expressam a ideia de reconhecimento e poder e exigem graus
determinados de capital específicos. Bourdieu os diferenciou como “capital cientifico
puro” e “capital cientifico institucionalizado”. O puro tem a ver com as inovações e as
descobertas e atribui um crédito pessoal a quem o acumula. O segundo tipo, transita
via burocracia que institucionaliza os processos de trabalho dos agentes: estar em
comissões, bancas, reuniões, conselhos etc, indicando um domínio dos processos,
mas que não acumula nenhum crédito nem prestígio pessoal. O fiel dessa balança é
o acumulo do “credito científico”. Onde os agentes estão, o quanto de capital e que
tipo de capital cientifico ela acumulou os colocará em condições de promover a
manutenção ou a superação dos padrões. Quão maior for o grau de diferenciação
de funções e de estruturas no interior do campo, menor será a capacidade de se
estabelecer um projeto comum. Essa distribuição que parece aparentemente de
tarefas, na verdade são formas de distribuição de poder e do estabelecimento de
sistemas de controle que vão determinar o grau de ortodoxia e de heterodoxia no
interior do campo cientifico e quem serão seus representantes, os intelectuais.

Eles, os intelectuais, produzem para dar conta de sua entrada, localização e


manutenção no campo, por isso o esforço em universalizar desde o processo, os
procedimentos até os achados. E associa-se a isso a questão fundamental do
campo cientifico: sua existência está ligada diretamente ao fato de ser sustentado
pelo Estado.
41

A noção de campo evidencia que o que está em jogo dentro do campo é a disputa
do capital do poder simbólico. A disputa é sobre o manuseio de “uma categoria
particular de sinais e, deste modo, sobre uma visão e o sentido do mundo natural e
social” (1989, p.72). Daí a necessidade no campo intelectual de fundar novos
capitais simbólicos, buscando instituir um novo poder Na instituição do novo poder,
novos elementos são necessários e exigidos dos agentes. É preciso uma
diferenciação e aí reside a diferença entre história objetiva e história incorporada O
hábitos é a história incorporada pelo agente.

(...) Do mesmo modo que o escrito só escapa ao estado de letra


morta pelo pacto de leitura o qual supõe uma atitude e uma aptidão
para ler e para decifrar o sentido nele inscrito, também a história
objectivada, instituída, só se transforma em ação histórica, isto é, em
história “actuada” e actuante, se for assumida por agentes cuja
história a isso os predispõe e que, pelos seus investimentos
anteriores são dados a interessar-se pelo seu funcionamento e
dotados das aptidões necessárias para a pôr a funcionar. A relação
com o mundo social não é a relação de causalidade mecânica
frequentemente se estabelece entre o <meio>e a consciência, mas
sim, uma espécie de cumplicidade ontológica: quando a história que
frequenta o habitus e o habitat, as atitudes e a posição, o rei e a sua
corte, o patrão e a sua empresa, o bispo e a sua diocese, é a
mesma, então é a história que comunica de certo modo com ela
própria, se reflecte nela própria, se reflete ela própria. A história
“sujeito” descobre-se ela mesma na história “objeto” ela reconhece-
se nas “sínteses passivas”, “ante predicativas”, estruturas
estruturadas antes de qualquer operação estruturante ou de qualquer
expressão linguística. A relação dóxica com o mundo natal, essa
espécie de empenhamento ontológico que o senso prático instaura, é
uma relação de pertença e de posse na qual o corpo apropriado pela
história se apropria, de maneira absoluta e imediata, das coisas
habitadas por essa história. (1989, p.83)

A questão para nós é se a história do serviço social que muitas vezes parece
centrar-se na história do conservadorismo e na história do PEP, traz em si esses
elementos descritos. De que os agentes se apropriaram? Quais os investimentos
feitos por esses agentes? Há uma disputa ou há uma crença na disputa e essa
crença é o fator de inserção e permanência no campo do serviço social?
42

Até agora vimos os intelectuais numa perspectiva de dentro do campo. Agora


vejamos esses mesmos sujeitos observando o campo em relação ao contexto. Para
CATTANI, (2011, p.195):

Os intelectuais, enquanto possuidores de capital cultural, integram a


fração dominada das classes dominantes, mantendo relações
ambivalentes com as frações dominantes das classes dominadas e
com as classes dominadas. Assim, é nesta posição estruturalmente
ambígua que se deverá buscar a explicação de suas tomadas de
posição no campo político.

Os intelectuais são agentes que disputam entre si, no campo cientifico, e o fazem
em situações desiguais de disputa dentro do campo. Ser intelectual, fazer parte
desse campo, implica no compartilhar, num certo momento de um ponto de vista. E
deter o monopólio de bens culturais. Assim sendo, ser intelectual é partilhar de um
ponto de vista que é ou que se quer monopolista, exclusiva, majoritária ou como
diria Gramsci, hegemônica. Essa busca pelo discurso hegemônico, ou seja,
monopolista é a criação da cultura legítima, que não é nem definida nem defendida
pela base. A inovação obriga os intelectuais a saírem dos limites do campo:

(...) o campo intelectual, da mesma maneira que o campo magnético,


constitui um sistema de linhas de força: isto é, os agentes que o
compõem podem ser descrito como forças que se dispondo, opondo
e compondo, lhe conferem sua estrutura especifica num dado
momento do tempo. Por outro lado, cada um deles é determinado
pelo fato de fazer parte dêsse campo: a posição particular que êle aí
ocupa deve com efeito, propriedades de posição, irredutíveis as
propriedades intrínsecas, e, particularmente, um tipo determinado de
participação no campo cultural enquanto sistema de relações entre
temas e problemas e, por isso mesmo, um tipo determinado de
inconsciente cultural, ao mesmo tempo que é, intrinsecamente,
dotado, daquilo que chamaremos peso funcional, porque sua “
massa” própria, isto é, seu poder ( ou melhor, sua autoridade) dentro
do campo, não pode ser definido independentemente da posição que
ocupa no campo.

Eis aqui características do posicionamento dos sujeitos no campo que nos interessa:
os agentes no campo intelectual: se dispõem, compõem e opõem-se, obviamente, a
43

depender da questão dos interesses em jogo. O campo intelectual é fruto da


diferenciação societária, tratado em serviço social como divisão sócio técnica do
trabalho, o que atribuiu a cada atividade um quantum de legitimidade diferenciado.
Mesmo com a concorrência existe uma interdependência funcional no interior do
campo, consequência da diferenciação interna do campo. Todos nunca estão no
mesmo lugar, num mesmo tempo e com a mesma tarefa. Essa é uma forma
organizada esteticamente de nos referirmos à desigualdade.

(...) De fato, a estrutura dinâmica do campo intelectual não é outra


coisa senão o sistema de interações entre uma pluralidade de
instancias, agentes isolados, como criador intelectual, ou sistema de
agentes, como sistema de ensino, as academias ou círculos
literários, que são definidos, ao menos no essencial, no seu ser e na
sua função, por sua posição nesta estrutura e, pela autoridade, mais
ou menos reconhecida, isto é, mais ou menos forte e mais ou menos
extensa, e sempre mediatizada por sua interação, que elas exercem
ou pretendem exercer sobre o público, ao menos tempo capital e, em
certa medida, árbitro da competição pela consagração e legitimidade
intelectuais. (Bourdieu. p.126).

Na diferenciação houve uma amplitude. Um círculo fechado de produtores fechados


neles mesmos acabou com o avanço e distribuição das universidades escrevendo e
produzindo para uma “massa indiferenciada, impessoal e anônima” (Bourdieu. p.
106). Todo campo intelectual é um campo cultural, e como tal, está submetido a
padrões de consagração e de difusão. No evoluir dos campos científico, intelectual
(cultural) as publicações, de qualquer ordem, tornam-se fonte de autoridade. Assim
sendo, as editoras despontam como vetores de disputa e vias de poder desses
campos. A autonomia de um campo está condicionada à autonomia dos membros
desse campo em relação ao seu público, que também se encaixam no conceito de
pressões externas. Nesse sentido, autonomia e autoridade convergem como fontes
de poder no interior do campo. Terá mais autoridade quem mais autônomo for. Isso
marca tanto a dinâmica interna do campo quanto sua relação com o mundo externo.
Esse padrão de relações intra e inter campos resultará numa condição de proteção
de auto-abrigamento dos intelectuais denominada de “sociedade de admiração
mútua” (Bourdieu, apud Schucking, p. 112). Essa experiência cria dois movimentos
no círculo de produção e reprodução dentro do campo: o primeiro cria um pacto
44

entre os intelectuais de uma mesma temática, garantindo o abrigamento. O segundo


refere-se a criação da instância dos excluídos, intelectuais que instabilizam o campo.
Essas forças colidem em algum momento.

Esse movimento é descrito por Bourdieu da seguinte forma (p.127):

(...) Quando elas se defrontam, é ainda em nome da pretensão a


deter a ortodoxia, e quando são reconhecidas, é sua pretensão à
ortodoxia que é reconhecida. Qualquer ato cultural, criação ou
consumo, encerra a afirmação implícita do direito de se exprimir
legitimamente e com isso compromete a posição do sujeito no campo
intelectual e o tipo de legitimidade que êle exige.

Esse confronto parece ser de uma “nova” ortodoxia – regularmente encarada como
revolucionária – tentando substituir outra que quer permanecer no mesmo lugar. Na
dinâmica desse “confronto” encontra-se a tríade de transmissão, difusão e
legitimação e que resulta na conquista da consagração no campo. A disputa é pelo
controle dessa tríade. No entorno dela criam-se instituições, agentes, espaços,
regras e critérios. Esses elementos são constitutivos do processo de legitimação.
Atendê-los é ter um passaporte para circular no campo sem ser marginal. A
condição de marginal no campo refere-se ao lugar não legitimado.

(....)Vê-se que a forma da relação de participação que cada sujeito


mantém com o campo das obras culturais e, particularmente, o
conteúdo de sua intenção artística ou intelectual e a forma de seu
projeto criador (por exemplo, o grau em que êle é pensado e
explicitado) dependem estritamente de sua posição no campo
intelectual. O mesmo acontece com a temática e a problemática que
definem a especificidade do pensamento de um intelectual e que
uma análise lexicológica, entre outras técnicas, poderia retomar;
segundo a posição que ocupa no campo intelectual, cada intelectual
é levado a orientar sua atividade para essa ou aquela região do
campo cultural, que é em parte legada pelas gerações passadas, em
parte recriada, reinterpretada e transformada pelos contemporâneos,
e a estabelecer um certo tipo de relação, mais ou menos fácil ou
trabalhosa, natural ou dramática, com as significações mais ou
menos nobres, mais ou menos marginais, mais ou menos originais,
enfim, que formam essa região campo cultural. Bastaria submeter a
uma análise metódica as referências a autores, sua frequência, sua
homogeneidade ou sua disparidade (próprias para revelar o grau de
45

autodidatimos), a extensão e a diversidade das regiões do campo


designadas por elas, a posição na hierarquia dos valores legítimos
das autoridades ou das cauções invocadas, as notas tácitas ou não (
suprema elegância ou suprema ingenuidade), estando especialmente
atento à modalidade particular da citação, impecavelmente
universitária ou negligente, humilde e soberana, ostentatória ou
necessária, para fazer surgir “ famílias de pensamento”, que na
realidade são famílias de cultura e que deixariam ligar facilmente a
posições típicas, atuais ou potenciais, adquiridas ou professadas no
campo intelectual e, mais precisamente, a revelações típicas
passadas e presentes , com a instituição universitária. (p. 131- 132)

O campo impõe uma luta que é classificatória tanto interna quanto externamente. A
discussão do conservadorismo e do PEP tem a ver com esse sistema que
estabelece lugares para seus agentes, instituições. O que podemos afirmar é que a
discussão da presença, permanência ou prevalência do conservadorismo no campo
do serviço social e os riscos existentes – ou não – ao Projeto Ético Político - PEP
não são oriundos da base da categoria e nem nela parece ter esteio – isso será
melhor evidenciado no capítulo 3 –, mas, os elementos presentes no campo já
sinalizam identificam os elementos que integram dentro do campo ora competindo,
ora combinando.

Entendendo o campo como esse espaço onde os agentes ocupam espaços


diferentes e que estabelecem regras especificas podemos afirmar que a discussão
do PEP serve como uma regra do jogo de posições dentro do serviço social. Uma
das características de se definir um campo é ter sua especificidade, algo que o
diferencia dos demais. O PEP em serviço social é tido como uma especificidade da
profissão. O PEP é então um capital simbólico a ser assimilado. Como a distribuição
é sempre desigual tanto dentro quanto fora dos campos, essa desigualdade na
apropriação do capital simbólico define os dominados, os dominadores, o objeto de
dominação e a história de como o campo se estruturou. No caso do serviço social já
havia uma discussão que dominava o campo que era o fazer profissional,
obviamente nutrido em um projeto ético político hegemônico na sociedade, no
campo intelectual e no serviço social.

Em posições diferentes e sintonizando com processos diferentes, dentro do campo


pode haver um espaço para revolução, um momento para subversão da ordem que
46

se coloca como hegemônica. O serviço social brasileiro toma a elaboração do PEP


como essa “subversão” à ordem denominada pelos inovadores como conservadora.
A disputa, por cima, no primeiro escalão do campo intelectual do serviço social,
propunha-se a uma nova hegemonia. Ai inicia-se a disputa “em linha reta” na busca
de se tornar o PEP “sem título” do serviço social como hegemônico, capaz de
exercer uma nova força sobre a formação, a organização e o fazer profissional.

Dentro campo, os eventos como o CBAS e o ENPESS, as entidades dirigentes da


categoria como a ABEPSS e o Conjunto CFESS/CRESS e as demais vias de
transmissão desse novo capital fortaleceram-se como agentes do campo para a
construção do monopólio do “novo capital simbólico” que passaria a circular e se
enraizar. Na disputa entre o novo – que aspira mudanças – e o velho – que se quer
conservar – são criadas duas bandeiras: o conservadorismo e o PEP.

A relação entre “os dois caminhos” do serviço social, é colocada de forma pendular,
polarizada e binária. O marco nacional dessa polarização é o III CBAS, que entrou
para a história como o Congresso da “Virada”, em 1979. Boschetti (2015, p.641)
bem sintetiza esse processo.

A reação a essa herança conservadora, nomeada pelo autor como


“intenção de ruptura”, começa a se gestar timidamente nos anos
1960, ganha densidade a partir do final dos anos 1970, e forja
coletivamente o Projeto Ético-Político, que tem no Congresso da
Virada de 1979 sua mais emblemática expressão. Conforme sinaliza
o autor, a reação ao conservadorismo e a construção do Projeto
Ético-Político Profissional só foram possíveis pela conjunção de
importantes processos. Primeiro, pela incorporação da teoria
crítica marxista no âmbito da pesquisa e da produção de
conhecimento pelo Serviço Social, que alçou a profissão à
estatura das melhores produções críticas existentes sobre
questão social, política social, direitos e emancipação, fundamentos
do Serviço Social, ética, e lhe permitiu romper com o pensamento
conservador predominante nas ciências sociais. Segundo, pela
articulação do Serviço Social com movimentos sociais e
partidos políticos anticapitalistas, o que lhe atribui um
compromisso ético-político e profissional com as classes
trabalhadoras, incrustado em nosso Código de Ética Profissional.
Terceiro, pela superação do até então monopólio conservador
que orientava a formação e o trabalho profissional, por meio do
confronto crítico de ideias, valores, princípios e teorias. E quarto,
pela construção de uma organização teórica-política-
47

profissional — Conjunto CFESS/Cress, Abepss e Enesso —


comprometida com valores e lutas anticapitalistas (Netto, 2009, p.
149). Grifos meus.

Reagir, romper, superar e construir foram verbos que marcaram essa situação
“divisora das águas” no serviço social expressa pela autora acima. Ela coloca os
vários agentes envolvidos nessa transposição de hegemonia. Toda transposição de
hegemonia requer diferenciação, inovação, rotulação e, por consequência, pode
gerar estigmas: novo e o velho; o progressista e o tradicional; o crítico e o
conservador, todas as formas de organizar os sujeitos nas posições determinadas
dentro do campo.

O novo ciclo inovador iniciado pelo PEP quer ser hegemônico e para tanto segue os
mesmos caminhos da construção da hegemonia dentro do campo e formaliza-se.
Estabelecer-se hegemonicamente é querer ser matriz do pensamento, perdurar,
permanecer. A atitude de querer-se centro é comum tanto aos conservadores
quanto àqueles que se dizem progressistas; está presente nas esferas pública e
privada; é arma da ciência e do dito senso comum.

No próximo item, trabalharei também com a noção de intelectual para pensar o


campo do serviço social. Basear-me-ei em Gramsci, (citar autores escolhidos) para
essa discussão.

1.3 Os intelectuais e o serviço social

Todos os homens são intelectuais, poder-se-ia


dizer então: mas nem todos os homens
desempenham na sociedade a função de
intelectuais.
GRAMSCI
48

A formação de intelectuais no Brasil não parece seguir essa máxima de Gramsci


(1985). Há, pois, uma dicotomia, entre os que sabem e os que fazem reproduzida
das mais diversas maneiras na forma como o Brasil construiu e fomenta a
organização de sua cultura. Essa dicotomia é necessária para o aprofundamento de
algumas relações e a superficialização de outras, para que haja uma diferenciação e
o consequente sistema de distinções no sistema que vivemos. Embora no discurso
oficial todos possam “usar a toga” de intelectual, todos seriam intelectuais por conta
de suas vivencias e experiências, sem ter adquirido alguns comportamentos, falas e
verbetes, não se seria considerado intelectual a não ser como um intelectual
“atípico”, “pitoresco”, “exótico”. Intelectual mesmo é aquele que dentro do campo
assimilou as regras de inserção, de manutenção e de reprodução.

Os agentes dentro do campo serão por nós definidos como os intelectuais. Esses
intelectuais a partir de Gramsci são formados por duas vias: Uma consequente da
condição da inserção na gestão direta da economia geral, podendo ser intelectuais
de primeira e de segunda camadas, mas assim sendo por ocuparem o local de
classe dirigentes e com conhecimentos técnicos.

Pode-se observar que os intelectuais "orgánicos", que cada nova


classe cria consigo e elabora em seu desenvolvimento progressivo,
são, no mais das vezes, "especializações" de aspectos parciais da
atividade primitiva do tipo social novo que a nova classe deu à luz.'
(1985, p.4).

Ou podem pertencer a um segundo grupo que veio

(...) surgindo na história a partir da estrutura econômica anterior e


como expressão do desenvolvimento desta estrutura, encontrou –
pelo menos na história que se desenrolou até aos nossos dias
categorias intelectuais preexistentes, as quais apareciam, aliás,
como representantes de uma continuidade histórica que não fora
interrompida nem mesmo pelas mais complicadas erradicais
modificações das formas sociais e políticas. (1985, p.6).
49

Gramsci refere-se aqui ao grupo dos intelectuais eclesiásticos que monopolizaram


durante uma parte significativa da história e, em diversos lugares do mundo “alguns
serviços importantes: a ideologia religiosa, isto é, a filosofia e a ciência da época,
através da escola, da instrução, da moral, da justiça, da beneficência, da
assistência, etc.” (1995, p.5). Não à toa a história de acumulação e de
desenvolvimento das nações nutriu-se da combinação desses dois grupos de
formação de intelectuais que, atravessando momentos históricos diferentes, o lugar
desses intelectuais ainda se constitui e mantem-se de forma ou de estamento,
olhando o caso do Brasil a partir de Faoro ou, de aristocracia togada, como afirma
Gramsci. Falamos aqui do lugar, mas, o que deveria definir o intelectual e distingui-lo
segundo Gramsci não é sua atividade em si, mas defini-lo “no conjunto do sistema
de relações no qual estas atividades (e, portanto, os grupos que as personificam) se
encontram, no conjunto geral das relações sociais.” (p.7).

A obtenção do título de intelectual segundo Gramsci não pode ser dado àquele que
“só pensa” ou “só escreve” e nisso se encerra a sua produção no mundo. Nessa
questão o autor resolve uma dicotomia muito popularizada, uma crença moderna:
que o intelectual exerce essa forma única especifica e exclusiva. Segundo Gramsci:

Quando se distingue entre intelectuais e não-intelectuais, faz-se


referência, na realidade, tão-somente á imediata função social da
categoria profissional dos intelectuais, isto é, leva-se em conta a
direção sobre a qual incide o peso maior da atividade profissional
específica, se na elaboração intelectual ou se no esforço muscular-
nervoso. Isto significa que, se se pode falar de intelectuais, é
impossível falar de não-intelectuais, porque não existem não-
intelectuais. Mas a própria relação entre o esforço de elaboração
intelectual-cerebral e o esforço muscular-nervoso não é sempre
igual; por isso existem graus diversos de atividade específica
intelectual. Não existe atividade humana da qual se possa excluir
toda intervenção intelectual, não se pode separar o homo faber do
homo sapiens. Em suma, todo homem, fora de sua profissão,
desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é um
"filósofo", um artista, um homem de gosto, participa de uma
concepção do mundo, possui uma linha consciente de conduta
moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção
do mundo, isto é, para promover novas maneiras de pensar. (p 7-8)
50

Isso só é possível em outra base social. Entendendo o intelectual como um agente


do campo intelectual, não é possível detectar essa horizontalidade sinalizada pelo
autor. Não se trata só de uma horizontalidade colocando quem faz e quem pensa
num mesmo lugar. Trata-se também da negação da hierarquização existente no
mundo da produção e reprodução das relações sociais. Hierarquização essa que
estabelece relação de desigualdade dentro de cada campo como também entre os
campos. Existem campos que produziram e produzem mais intelectuais que outros.
Campos que produziram tardiamente seus intelectuais e viveram à reboque da
produção de outros intelectuais.

Reconhecendo a relação de produção dos intelectuais como uma produção que tem
nas relações sociais sua raiz, o autor sinaliza a existência de duas fontes uma
privada e um a pública de origem/destino desses sujeitos na sociedade, que
Gramsci chamará de “planos superestruturais” (1995, p. 10): uma, a sociedade civil e
a outra, a sociedade política ou estado. Esta segunda exercendo o papel de
hegemonia, domínio direto ou comando.

Em seu texto Gramsci vai usar a questão da formação dos intelectuais em nível
macro, na relação entre as sociedades civil e política. Eu usarei essas mesmas
características para olhar o movimento do serviço social e dos seus intelectuais,
reconhecendo que dentro do campo há a materialização dessa correlação de forças.
O autor detalha qual a função dos intelectuais:

Estas funções são precisamente organizativas e conectivas. Os


intelectuais são os "comissários" do grupo dominante para o
exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo
político, isto é: 1)do consenso "espontâneo" dado pelas grandes
massas da população à orientação impressa pelo grupo fundamental
dominante à vida social, consenso que nasce "historicamente" do
prestígio (e, portanto, da confiança) que o grupo dominante obtém,
por causa de sua posição e de sua função no mundo da produção; 2)
do aparato de coerção estatal que assegura "legalmente" a disciplina
dos grupos que não "consentem", nem ativa nem passivamente, mas
que é constituído para toda a sociedade, na previsão dos momentos
de crise no comando e na direção, nos quais fracassa o consenso
espontâneo.
51

Os intelectuais operam tanto na elaboração, produção e fabricação do consenso


quando da coerção, meios necessários para a manutenção e para a disputa tanto da
ordem nos seus níveis macro quanto nos níveis micro perpassando todos os níveis
de organização do modo de produção capitalista. São os agentes fundamentais para
a reprodução cultural da realidade. Ter intelectuais dentro do modo de produção
capitalista é atribuir a eles a tarefa de formação das massas, sobre as quais podem
vir exercer ou não uma força política-social. Os intelectuais, de forma genérica, são
aqueles que são profissionais mediadores da relação entre as massas e o Estado.
Uns oriundos das demandas industriais, ou urbanas, outros mais ligados aos
campos, denominados de tradicionais, pelo autor. Essa distinção entre o industrial e
o tradicional, entre a cidade e o campo promovem um compreensão das massas
habitantes nesses territórios e sua relação com esses intelectuais. A massa
camponesa percebe os intelectuais, em suas profissões, como ao mesmo tempo
dirigentes e possibilidades, criando uma relação de dependência entre ambos,
mediada pela dimensão política dos intelectuais sobre as massas. Já a massa
urbana, industrializada, esse nível de dependência inexiste: o profissional,
intelectual, não imprime essa dependência em relação à massa urbana. Enquanto
que os intelectuais tradicionais influenciam diretamente aqueles sob sua
responsabilidade, os intelectuais urbanos não têm essa certeza.

É nesse momento de compreender o lugar e a forma de direção dos intelectuais que


Gramsci evoca a questão dos partidos políticos e sua organização. Dessa discussão
queremos destacar o que o autor coloca como função do partido no que se refere a
formação dos intelectuais:

(...)o partido politico, para todos os grupos, é precisamente o


mecanismo que representa na sociedade civil a mesma função
desempenhada pelo Estado, de um modo mais vasto e mais
sintético, na sociedade política, ou seja, proporciona a fusão entre
os intelectuais orgânicos de um dado grupo -- o grupo
dominante -- e os intelectuais tradicionais; e esta função é
desempenhada pelo partido precisamente em dependência de sua
função fundamental, que é a de elaborar os próprios componentes,
elementos de um grupo social nascido e desenvolvido como
"econômico", até transformá-los em intelectuais políticos
qualificados, dirigentes, organizadores de todas as atividades e
52

funções inerentes ao desenvolvimento orgânico de uma


sociedade integral, civil e política. (1985, p.14). Grifos meus.

O partido “mistura” os tipos de intelectuais para dar uma certa “homogeneidade”, ou


pasteurização das diferenças entre os intelectuais, “garantindo” uma única direção.
Essa questão da direção única dos partidos políticos com a estandardização dos
intelectuais vai trazer elementos para a discussão da questão das disputas que são
marcadas pelo pêndulo entre a permanência e a mudança, movimento que põe em
cheque a questão da supremacia e/ou do monopólio do produto dos intelectuais: a
produção da direção do saber. A esse fenômeno podemos chamar de processo de
industrialização da formação de intelectuais. Isso acontece não só com os partidos,
mas com as estruturas outras construídas e ou desenvolvidas via processo de
industrialização do capital que permitiu essas estruturas ou surgissem como as
instâncias de representação profissional ou fossem mais desenvolvidas em
qualidade e em quantidade, como as universidades.

A altura da industrialização do capital, a organicidade do intelectual não se definiria


única e exclusivamente por sua nascença no mesmo território industrial, ora vetor do
desenvolvimento econômico, mas, sobretudo por sua ligação ao processo de
acumulação anterior, calcado na terra, que permitiu um acúmulo a formação política
intelectual mais adensada que nos primeiros anos de industrialização reafirmando o
já posto por Miceli (2011). No caso do Brasil esse ritual de passagem da base
fundiária para a base industrial proporcionou, assim como noutros países, a
coligação entre os intelectuais do campo, tradicionais com as classes dominantes,
que tomam o Estado e suas funções. Nasce aí uma aristocracia. A aristocracia
intelectual profundamente ligada ao Estado e suas funções. Por consequência, essa
vinculação da existência dos intelectuais ao Estado produz e atribui argumentos
para o fenômeno social do “nacionalismo” que se organiza desde a base de trato à
economia como todos os elementos da superestrutura. É preciso ter uma ciência e
intelectuais que desenvolvam as bases imateriais dessa prática social que se
manifesta. Romper com a dependência intelectual, científica, e teórica de alguns
centros do exterior, em especial em países colonizados, torna-se uma questão de
identidade discursiva para a auto-organização do poder para os Estados-nação. E a
53

existência de intelectuais é um elemento fundamental para esse ordenamento do


poder, apresentando novas formas de relação de dominação não calcadas na força
e violência clássicas, mas iniciando um novo perfil de dominação via “consenso”.

Com o paragrafo anterior explicitamos alguns elementos sem falar de outros que
dão sentido a sua existência. Gramsci articulou conceitos que dão sentido às minhas
afirmações: a construção do Estado moderno, a definição da sociedade civil, as
novas relações sociais menos calcadas na força, embora não menos violentas, e
mais na construção de “pactos”, a emergência da hegemonia, as novas estruturas
sociais que nascem da combinação desses fatores; todos esses elementos, de
forma combinada favoreceram um novo ordenamento à tessitura social,
experimentada de formas e tempos diferentes na construção dos estados no mundo
ocidental, pós Revolução Francesa.

Segundo Coutinho (2011), Gramsci explicita da seguinte forma a combinação entre


esses elementos:

(...) a sociedade civil tem, por um lado, uma função social própria: a
de garantir (ou de contestar) a legitimidade de uma formação
social e de seu Estado, os quais não tem mais legitimidade em si
mesmos, carecendo do consenso da sociedade civil para se
legitimarem. E, por outro, que ela tem uma materialidade social
própria: apresenta-se como um conjunto de organismos ou de
objetivações sociais, diferentes tanto das objetivações da esfera
econômica quanto das objetivações do Estado stritu senso. Digamos
que, entre o Estado que diz representar o interesse público e os
indivíduos atomizados no mundo da produção, surge uma esfera
pluralista de organizações, de sujeitos coletivos, em luta ou em
aliança entre si. Essa esfera intermediária é precisamente a
sociedade civil, o campo dos aparelhos privados de hegemonia, o
espaço da luta pelo consenso, pela direção político-ideológica (não é
aqui necessário falar sobre o papel dos partidos políticos nesse
quadro: o de agregar as correntes dominantes na sociedade civil, de
promover uma síntese política que sirva como base para a
conservação da velha dominação ou para a construção de um novo
poder de Estado). Quando surge esse mundo intermediário da
"sociedade civil", e quando ele não está totalitariamente subordinado
a um Estado despótico, podemos dizer que a sociedade passou de
seu período meramente liberal para um período liberal-democrático.
(2011, p.16). Grifos meus
54

Destaco alguns pontos: a condição de ser a sociedade civil uma esfera


intermediária, logo especializada, acima de outra, ou outras, pouco diferenciadas e
que embora seja intermediária, pode não fazer mediações. Gramsci ainda se refere
à sociedade civil como “aparelhos privados de hegemonia”. Há uma confusão entre
intermediário e mediador. Essa confusão influencia a compreensão sobre o que é a
representação e a direção das organizações, como são nas sociedades capitalistas
liberais modernas. Outra questão que se apresenta é que embora essas
organizações gozem de certa autonomia, podem não gozar de independência em
relação ao Estado do qual elas se diferenciam, mas seguem os marcadores,
inclusive de auto-organização e enfrentamento, demonstrando o quanto o consenso
foi assimilado. Autonomia e independência não são sinônimas em nenhuma esfera
do campo das relações sociais. Destaco ainda dois outros elementos dessa
combinação: a presença de intelectuais ou por origem ou por adoção nesse
processo, e a combinação entre consenso e hegemonia.

Em Gramsci, no livro Intelectuais e Organização da Cultura, busquei algumas


características do que seria hegemonia, obviamente articulada ao conceito de
intelectuais. Ele afirma que a hegemonia:

1. É função da relação entre sociedade civil e sociedade política e realiza as


funções organizativas e conectivas, via estrutura jurídica (p.11);
2. Não é individual. A influência é como grupo (p.77);
3. Pressupõe reformas, mudanças em relação ao estágio anterior de
organização; (p.103)
4. Conquistada via finalidades praticas (p.101)
5. Acontece via serviços públicos, serviços intelectuais (p.153)

Para que um elemento seja considerado hegemônico esses elementos precisam


estar presentes e, ao mesmo tempo, são esses elementos que garantem um
elemento fundamental do reconhecimento, o consenso que é uma das formas de
dominação. A outra é a coerção. Ambas convivem no campo social.

Nossa trama societária construiu dois tipos de consenso: um ativo, de aderência


consciente e um passivo, determinado pela omissão ou não aderência consciente.
55

Mas algo os iguala: as vias formais de participação em todos os níveis de


organização. A obrigatoriedade jurídica da participação dá ao consenso um corte
democrático que mascara a inexistência de diferenças e discordâncias. O consenso
inventa uma igualdade muda, passiva, que espera a direção, ao mesmo tempo em
que mimetiza a ideia de homogeneidade de pensamento. O consenso é uma nova
forma de coerção na organização do Estado, da sociedade civil, da organização da
cultura. Nesse sentido, ser hegemônico implicará em alguma forma de coerção,
ainda que pelas vias formais seja chamada de consenso, mesmo que passivo.
Consenso é objetivo e é através do qual o mundo moderno conquista o poder – a
hegemonia. Uma vez conquista da a hegemonia, o lugar de influencia social. O que
era fim torna-se meio para a manutenção desse poder e uma atividade para que os
opositores só possam substituir a velha hegemonia por uma nova, se aglutinarem
consenso. O fato é que nesse jogo entre coerção e consenso, tendo a hegemonia
como objeto a ser conquistado, os intelectuais tem papel significativo por conta da
diversificação que a hegemonia, na ordem burguesa, instituiu:

Pode-se observar que, em geral, na civilização moderna, todas as


atividades práticas se tornaram tão complexas, e as ciências se
mesclaram de tal modo à vida, que toda atividade prática tende a
criar uma escola para os próprios dirigentes e especialistas e,
consequentemente, tende a criar um grupo de intelectuais
especialistas de nível mais elevado, que ensinam nestas
escolas. (p.117). Grifos meus

Essa citação traz outra discussão à tona: os intelectuais do serviço social


reconhecem a profissão como uma atividade prática na medida em que a colocam
como uma profissão interventiva. Essa característica não muda estando presente
tanto no conservadorismo quanto no PEP, mudando seus parâmetros de
materialização em cada uma dessas expressões. Esse fluxo trazido por Gramsci:
atividade pratica-escola para dirigentes e especialistas-intelectuais parece não ter
sido o fluxo seguido pela formação de intelectuais em serviço social. A trajetória no
caso do serviço social seguiu a formação traçada por Miceli (2011) marcada mais
pela aproximação com o Estado e suas funções. Nisso se reconhece o papel
organizador do Estado e sua função civilizatória na história. Essa linha de raciocínio
56

pode, por sua vez, explicar a “mesclagem” entre o serviço social e as politicas de tal
forma, via Estado, que a profissão tem se confundido com as politicas públicas, ou
melhor, tem se confundido com as tarefas das politicas públicas. Essa “mesclagem”
só se tornou possível via produção intelectual e ocupação de espaços públicos-
estatais por parte dos intelectuais do serviço social. Assim sendo, os intelectuais
trouxeram para dentro do campo do serviço social o Estado não como ente a ser
superado, como colocado no pensamento marxista, mas como ente a ser ocupado e
administrado numa determinada perspectiva de classe não compatível com a própria
existência do Estado.

No cooptação das atividades da vida prática das pessoas pelas estruturas


controladas pelo Estado, foram os detentores do saber prático, os ocupadores dos
espaços de formação? Nessa questão reside um debate antigo em serviço social
que é o debate sobre prática e teoria. Esse debate parece ser uma cortina de
fumaça para uma questão maior: os intelectuais do serviço social estão, ou sabem,
as questões práticas e estão a pensa-las? Estão a buscar respostas sobre elas? O
que se produz dá conta do que o mundo cotidiano da profissão enfrenta? Isso une a
discussão sobre os intelectuais, à produção científica na área e o PEP. Gramsci diz
que os intelectuais orgânicos podem ser de origem ou de adesão, observando ele a
questão dos intelectuais a partir das classes subalternas. Tanto a questão da origem
quanto da adesão sofrem interferência das relações de poder dentro do campo.

Entendendo que dentro do campo cientifico, coube à universidade e seus


intelectuais a produção do capital cultural de todas as atividades científicas,
entender como os intelectuais se formaram no Brasil pode indicar sinais de como o
campo científico, a ordenação e do poder simbólico e os campos de conhecimento
foram se estruturando.

Os intelectuais nacionais foram se constituindo como um grupo, desenhando sua


“atividade de simbolização mediante a qual esses grupos manifestam sua existência
material, política e intelectual” (MICELI, 2001, p. 349). O acervo produzido pelos
intelectuais de qualquer área, e também do serviço social, são a expressão do que
Miceli (2001) chamou de “marca dos interesses, dos valores e das estratégias” que
são desenvolvidas por esse grupo.
57

Obviamente que nos primeiros anos não tínhamos intelectuais do serviço social
brasileiro atuando nem na formação nem na produção de materiais que orientassem
a formação. As fontes intelectuais originais do serviço social brasileiro vieram de
início da Europa e depois dos Estados Unidos como já documentado nas vias
formais de transmissão de conhecimento em serviço social.

Miceli destaca que todos aqueles que quisessem postular a condição de intelectuais,
àquela época pertenceriam a três grupos:

1) As organizações partidárias e as instituições dependentes dos


grupos dirigentes de São Paulo, bem como de frentes de mobilização
política ideológica em que se refugiariam inúmeros intelectuais até
então vinculados à oligarquia(o movimento integralista e o circuito de
entidades filiadas à Igreja Católica; 2) o mercado de livro, cujo
florescimento resultou da constituição de um novo público composto
de funcionários, profissionais liberais, efetivos de carreiras docentes,
empregados do setor privado etc., grupos quanto tamanho e
importância tendiam a aumentar cada vez mais em função da
industrialização e da urbanização; 3) por fim, o serviço público, no
qual uma quantidade apreciável depostos foi entregue a intelectuais,
escritores e artistas. (2001, p.76).

Ou seja, os primeiros intelectuais brasileiros estavam inseridos na “elite burocrática”,


e pessoal ou politicamente estavam associados às frações econômicas dominantes
e à cúpula eclesiástica. O autor ainda afirma que:

As décadas de 1920, 1930 e 1940 assinalaram transformações


decisivas nos planos econômico ( crise do setor agrícola voltado par
a exportação, aceleração de processos de industrialização e
urbanização, crescente intervenção do Estado em setores-chaves da
economia etc), social (consolidação da classe operaria e da fração
de empresários industriais, expansão das profissões de ensino
superior, de técnicos especializados e de pessoal administrativo nos
setores público e provado etc.), político (revoltas militares, declínio
político da oligarquia agrária, abertura de novas organizações
partidárias, expansão de aparelhos do Estado etc.) e cultural(criação
de novos cursos superiores, expansão da rede de instituições
culturais públicas, surto editorial etc.). (2001, p.77).
58

Nas primeiras décadas de surgimento do Serviço social, uma série de


transformações de ordem econômica, social, política e cultural estavam em curso,
iniciadas a partir do final da Primeira Guerra Mundial reconfigurando a relação de
produção e de uso de bens culturais. E é nesse esquema de diversas alterações do
plano real no Brasil que o serviço social aparece como uma prática necessária
para o Estado, que institucionalizou a profissão, num primeiro momento, através do
processo de abertura de espaço no ensino superior e posterior diplomação dos
novos profissionais, mas que só regulamentaria a profissão a partir de 1957, 21 anos
depois. Ainda que não regulamentada a profissão criou-se e criou as instâncias de
controle profissional. Esse movimento aconteceu com o serviço social e com todas
as demais novas profissões que apareceram na divisão do trabalho de dominação.
O trabalho de dominação tem uma dimensão externa, que se refere ao lugar
determinado para a profissão e uma interna, já que se reproduz o processo de
dominação, os lugares de quem pode ou não pode ocupar determinados espaços
tanto entre as instituições quanto entre os sujeitos. Ou seja, é a apropriação dos
símbolos que emergem com a criação da profissão no serviço social que são criados
desde a gênese da profissão e vão até o movimento de reconceituação e, do
momento da inovação que vai desde o movimento de reconceituação até o presente,
tivemos e temos a disputa pelos símbolos vigentes na profissão. Os símbolos, sua
permanência ou mudança, marcam os movimentos de formação dos intelectuais: os
forma, os une, os separa, criam sub-grupos, instâncias e instituições, estabelecendo
o esquema de disputa.

É possível então afirmar que o surgimento da formação em serviço social foi uma
demanda da atualização das forças econômicas, políticas sociais e culturais daquele
momento que gestavam o poder na época. Também é possível afirmar que a tutela
do estado estava presente, desde a autorização para a formação e futuro espaço de
empregabilidade, embora os espaços que sediassem a formação guardassem, em
sua maioria, franca relação com a organização católica, uma das vias já instituídas
de formação de pensamento e de pensadores.

Ainda que recebendo a tarefa de formar esses profissionais, toda a memória da


formação e atuação profissional era estrangeira, exógena ao Brasil. Paulatinamente,
foi havendo a substituição, dessa memória pela produção, ainda que iniciante de
uma literatura local, e adesão a pensadores brasileiros, frutos de um nacionalismo
59

aristocrático. A formação desse nacionalismo aristocrático, funcional à classe


dominante, ligado ao Estado, certamente pode ser considerado um avanço na
expansão de algumas estruturas do Estado. Na educação, a reforma Benjamin
Constant (1891) permitiu que qualquer indivíduo ou associação particular pudesse
abrir cursos ou estabelecimento de ensino jurídico (decreto n. 1232 de 2 de janeiro
de (1891). Em 1892 todos os demais cursos superiores ganharam essa
possibilidade. Na década de 1920 houve uma expansão significativa do ensino
universitário. Em 1931, via Getúlio Vargas, a reforma Francisco Campos organizou a
expansão das universidades. Entre 1931 e 1945 houve grande disputa entre as
lideranças laicas e religiosas pela educação do pais.

Eis o avanço do Ensino Superior no Brasil. Avanço esse aproveitado pelos grupos
particulares, e, em particular, a Igreja Católica que segundo Miceli:

Desde o início da década de 1920, a Igreja Católica aferra-se ao


projeto de ampliar suas esferas de influência mediante a criação de
uma rede de organizações paralelas à hierarquia eclesiástica e
geridas por intelectuais leigos. A amplitude desse projeto resultava
não apenas das diretrizes do Vaticano, então preocupado em sustar
o florescimento dos movimentos operários de esquerda na Europa,
mas também da tomada de consciência por parte do episcopado
brasileiro com a crise com que se defrontavam os grupos dirigentes
oligárquicos.

Ao mesmo tempo que procuravam reformar as obras tradicionais da


caridade, as associações leigas, as ligas destinadas ao culto e à
oração, os círculos n e as congregações votados ao recrutamento de
“vocações”, os altos dignitários do clero empenharam-se em
preservar e expandir a presença da Igreja em áreas estratégicas
como o sistema de ensino, produção cultural, o enquadramento
institucional dos intelectuais etc. Em troca da manutenção de seus
interesses em setores em que a intervenção do Estado se fazia sentir
de modo palpável (o sistema educacional, o controle dos sindicatos
etc.) (...). (2001, p.127-128).

A igreja Católica anfitriã da formação de diversas categorias de ensino superior,


dentre elas o serviço social, assumiu ao mesmo tempo a formação da grande massa
de profissionais e de alguns intelectuais. O mesmo autor ainda destaca a intimidade
de Igreja Católica com alguns intelectuais da época:
60

Dessa forma a Igreja Católica se organizava para a nova fase de sua coligação com
o poder. Esse movimento tem alta influencia na história do serviço social. A gênese
da profissão no Brasil é por dentro da Igreja e de sua auto-organização junto ao
estado e suas demandas. E coube a igreja uma tarefa. Essa coligação acabou por
exigir uma atualização interna da Igreja enquanto instituição que estava ocupando
espaços que o regime vigente estava disposto a ceder. A criação da Ação Católica
em 1935, “moldada segundo padrões italianos”, mostrou que a intelligentzia leiga
precisava ser re-organizada, agrupada. Essa intelligentzia leiga é essa fração não
econômica da classe dominante “que vem especializando desde os tempos do
Império, no desempenho das funções política e intelectuais”. (Miceli, p133). Já
Raimundo Faoro (2002) se refere a essa fração da sociedade, tinha grande
influencia social, como o estamento burocrático que mesmo não sendo uma classe e
estando a serviço dos donos do poder e de suas organizações. Isso explicaria o
monopólio burguês e urbano na formação e na chancela da condição de intelectual
no Brasil, já que precisam ser profissionais liberais ligados direta ou indiretamente a
alguma estrutura estatal. Quanto a esse movimento Miceli destaca:

(...) é bastante provável que inúmeros membros da liderança


integralista tenham passado a manejar sua filiação ao movimento em
termos de uma identidade que servia à sustentação de seus
interesses do que seriam então incipientes anéis burocráticos de
formação. (2001, p.139)

Cabe fazer uma consideração ao texto de Miceli. Embora ele centre sua discussão
nos intelectuais da literatura, muitos elementos históricos e algumas análises são
úteis para a discussão que propomos. Um dessas passagens refere-se a um
fragmento de poema de Drummond (apud Miceli) em que ele afirma:

A organização burocrática situa-o, protege-o, melancoliza-o e inspira-


o. Observe que quase toda literatura brasileira, no passado como no
presente, é uma literatura de funcionários públicos (...) as letras
devem à burocracia, e como esta se engrandece com as letras. (p.
195-196).
61

Essa ligação entre o Estado (via funcionalismo público) e a produção intelectual é


estruturante da história do poder no Brasil. E no que se refere ao serviço social: os
intelectuais, a igreja e o estado são elemento do mesmo campo. Os intelectuais tem
função político-ideológica de construção das expressões ideo-culturais no momento
histórico em que está, de revisão do momento em que se esteve e, às vezes, de
criadores de onde se anuncia que se estará. Outro aspecto dessa relação entre o
estado e intelectuais é que o autor chamou de “dependência material e institucional”
já que os intelectuais formados nesse período eram servidores públicos. Isso parece
uma verdade em serviço social onde os produtores de conhecimento (de auto
alcance/reconhecimento, de primeira ou segunda linha) são, ou foram, em sua
maioria servidores públicos por concurso ou por ocupação de cargos de direção.

Outro aspecto trazido da análise de Miceli faz referência ao processo de formação


dos intelectuais brasileiros associados aos grupos dirigentes observando que essa
aproximação acabou por firmar “uma rede de instâncias de produção, difusão e
consagração cujos padrões de legitimidade perduram até hoje” (p. 238). Desde as
suas protoformas, a intelectualidade brasileira esteve ao serviço das demandas da
burguesia visto que no início, foi essa burguesia que recrutou esses intelectuais para
que estes se engajassem na intelligentzia que se formava e já tinha tarefas a realizar
dentro e fora das estruturas do Estado.

No período de Vargas no poder, a partir de 1930, Miceli destaca que institui-se o


modelo de “o domínio da cultura como negócio oficial”. (p.198) implicando isso em
um orçamento próprio e a criação de uma intelligentzia. Essa orientação foi
crescendo nas décadas seguintes: O Estado definia a regulamentação das
profissões; definia as exigências para habilitação, ordenava os nichos de formação;
regulava a presença da categoria em espaços públicos e privados; definia as
atribuições privativas e ainda regulava a existência dos práticos ou “rábulas”,
cercando todo o processo de formação. Esse processo de disciplinamento
profissional já é, a nosso ver, o processo de institucionalização da profissão. Para o
serviço social esse processo de institucionalização é mais um processo de
reconhecimento da especificidade e da necessidade da categoria profissional dentro
das ações do próprio Estado.
62

As décadas de 1930 e 1940 deixaram os alicerces necessários da


infra-estrutura necessária à produção de livros na escala industrial,
sendo que os padrões de legitimidade que norteavam o perfil de
investimento das editoras ainda influenciam os empresários atuais do
setor . p 242

Isso influenciava a via de produção e de distribuição de conhecimento. Miceli


também sinalizou em seu trabalho o quanto os serviços burocráticos interferem no
trabalho intelectual condicionando o perfil de investimentos culturais dos diversos
tipos de escritores.

(...) as maneiras como os encargos burocráticos interferem no


trabalho intelectual, condicionando o perfil de investimentos culturais
dos diversos tipos de escritores, definindo os conteúdos da condição
intelectual e delineando as pretensões políticas e intelectuais dos
letrados conforme a posição que ocupavam na hierarquia burocrática
e o vulto da colaboração que prestavam. São essas algumas das
condições que permitiram ao poder público arvorar-se ao arbítrio da
concorrência intelectual, montando instâncias próprias de
consagração de autores e obras e ampliando as garantias de
continuidade da atividade cultural. (2001, p. 242).

Essa prática tornou-se perene e via órgãos de representação do estado ou da


categoria, e esse “determinismo” ganhou e mantem seu vigor histórico: o que se
escreve, o quanto se escreve, quem publica quem poderá consumir e em que lugar
a produção do conhecimento. Criam-se os pólos difusores e os pólos consumidores
de conhecimento e os sensores de produção. Sobre esse aspecto, um trato maior
será dado a ele noutro capitulo. Mas podemos garantir que essa conduta define a
produção intelectual e científica de uma categoria. Ou seja, define quem fará parte
da intelligentzia de um determinado campo de conhecimento. Esse processo define
que letrados poderão produzir – ou reproduzir – as letras e quais só podem
consumir. Isso estabelece uma disputa no interior do campo de conhecimento.
Disputa por lugar de poder, por status, por reconhecimento que, muitas vezes, pode
ser interpretada por disputa de hegemonia. A disputa por lugar pode confundir-se
com disputa de projetos, de perspectivas teóricas, por visões de mundo, disputa por
diferenças.
63

Para permanecer num lugar interessante do campo, cada letrado, quem produz,
cada intelectual, cada pesquisador, em linguagem contemporânea, precisa atender a
demandas político-ideológicas para que sejam alçados à condição de membros da
classe dirigente. Membros da classe que acabam por criar regras e critérios de
ascensão, de manutenção ou de barragem de movimentação dos sujeitos,
orquestrando as diferenças. No caso do serviço social, essa experiência a nosso
ver, condicionou a produção intelectual da categoria a sua prestação de serviços
públicos estatais. A produção científica em serviço social está condicionada, em sua
maior parte, às atividades do estado. Pode estar aí uma das confusões que a
atividade profissional criou – e mantem – posto que tanto os profissionais, que
parecem não se ver fora da estrutura do Estado, quanto os usuários confundem a
profissão com o próprio estado, suas funções e práticas.

A trajetória de uma profissão constitui a sua biografia coletiva. A classe dirigente é


apenas uma, e a menor porção, de qualquer categoria. A falta de acesso a dados
documentais sobre a formação desses intelectuais que acabam por se tornar a
classe dirigente da categoria, no caso dos assistentes sociais, serve menos à
produção de conhecimento e mais às apologias de pensamentos ou pessoas, de um
ponto de vista global.

A produção intelectual de uma determinada classe dirigente diz tanto de seus


valores, interesses e estratégias quando dos grupos sociais a que se referem (p.
349). Assim sendo, é uma produção intelectual de uma categoria que só pode
atestar suas preocupações, inserções e discursos. Segundo Miceli esses grupos
manifestam sua existência material, política e intelectual aí. Podemos dizer que
observando as obras, seus temas, podemos entender que aspectos estão a
estruturara a classe dirigente e seus seguidores. Ao mesmo tempo, observando as
produções é possível observar o que mais preocupa a classe dirigente que tenta
problematizar o fazer. Algo que cabe discutir é se a produção de conhecimento, no
caso do serviço social, é oriunda da base, quando esta consegue acessar espaços
de debate profissional, ou seja, fruto do movimento de confronto diário com as
manifestações, expressões e refrações da questão social, ou são resultados do que
a classe dirigente/intelectual da categoria já instituiu como alvo de produção. Ou
64

seja, há convergência entre o que preocupa a base e o que preocupa a classe


dirigente seja ela acadêmica e ou corporativa.

Destaco que os pensadores ou intelectuais dão um contribuição intangível ou seja,


ideológica-cultural através da produção de conhecimento. Isso tanto para dentro do
grupo ou campo ao qual pertence como para fora destes. Eles tornam-se os
emanadores de estratégias de entrada e manutenção, ou não, das pessoas e do
grupo diretivo. No caso do serviço social, temos uma confluência entre os que são
os pensadores e dirigentes. Há, por tanto, uma concentração do poder intelectual e
diretivo da categoria.

É possível nos perguntarmos se o processo de adesão ao Estado via tarefas


públicas, se essa vinculação do serviço social ao Estado não demonstra uma
adesão a um programa de modernização que nasceu nos anos de 1930 e que ainda
ecoa até hoje? Estar nas políticas públicas, estar nos braços do Estado expressa
que tendência política? Bastou ou ainda basta para a categoria estar na estrutura
estatal para ser um campo de conhecimento, uma profissão? Miceli nos acena com
um traço de resposta:

A reiterada retomada de um projeto político por parte dos intelectuais


habilidosos em ajustar os contornos doutrinários de seus programas
ao receituário de prioridades da coalizão de forças no poder, constitui
um dos traços de sua prática social, partilhando com outros setores
atuantes das elites civis e militares. (2001, p. 375-376).

O autor refere-se aqui ao período histórico entre 1970 e 1995, tecendo análises
acerca do contexto e da produção intelectual da ciência social brasileira. Nesse
período, o serviço social teve o Congresso da Virada, em 1979, a profissão teve a
sua mais atual Lei de Regulamentação, em 1993, e seu Código de Ética Profissional
também em 1993, que vige até hoje. Esses três elementos são símbolos no e do
serviço social que constituem o projeto ético político. Usando o movimento de
reconceituação como marco, tivemos, para consumar o projeto inovador, que ter
novo currículo, nova lei de regulamentação e novo código de ética: resignificamos os
símbolos. Houve uma apropriação destes e sua renovação.
65

Foi ainda nesse período descrito por Micele que houve o período da dissolvição da
ditadura militar, o início do processo de democratização, em 1985, houve a escrita
da nova Constituição Federal, em 1988, e o início dos seus desdobramentos,
desencadeando uma série de políticas públicas e sociais na linha dos direitos na
perspectiva burguesa, mesmo com o Estado assumindo responsabilidades antes
não existentes.

Todos esses processos, mediados ora pela classe dirigente acadêmica e ou


profissional, com a participação de membros da base, teve, na militância política, o
denominador comum. Essa militância acabou por consumar e consolidar a ligação
da profissão com as estruturas do Estado. Miceli, referindo-se a esse aspecto e
ainda com o corte temporal entre 1970-1995 afirmou:

Esse envolvimento incontornável dos intelectuais pelas engrenagens


da militância política, ou melhor, pelos grupamentos e organizações
políticas que competiam pelo controle do Estado, parecia se
consolidar como um padrão estrutural de comprometimento que
tendia a se enrijecer tanto mais por conta de um incipiente e pouco
diferenciado sistema de instituições culturais. Na falta de uma vida
cultural pujante, que fosse vigorosa, a ponto de suscitar um campo
próprio de concorrência, em condições de propiciar gratificações
materiais e simbólicas, os intelectuais estariam quase sempre
propensos a redefinir e reorientar seus investimentos e projetos
na direção da atividade política. Eis a moldura interativa
responsável pela subalternização da atividade intelectual, segundo
as lentes dessa abordagem. (2001, p.376) (Grifos meus)

Pode estar nesse aspecto histórico uma pista para entendermos a influência da
militância politizadora na direção da formação dos profissionais e na criação da
classe dirigente e intelectual da categoria. Podemos perguntar se foi essa
característica a responsável, no caso do serviço social, por criar a direção do Projeto
Ético Político. Ainda segundo Miceli, existiam a essa época dois modos de enxergar
os intelectuais. O primeiro consistia em entende-los como:

(...) uma camada social sem vínculos”: livres da canga oligárquica do


passado, do seu enraizamento clientelístico dependente na estrutura
66

social, e por esse motivo aptos a formular e assumir um “projeto” de


comando do Estado. (....) O segundo modo de enxergar essa
vinculação matricial consiste em salientar as modalidades precisas
por intermédio das quais os intelectuais vão armando múltiplas redes
no interior do setor publico, trampolim em que se alicerçam as
instituições, os nichos organizacionais, as redes de compromisso e
os anéis burocráticos que os acolhem.(2001. p.376)

Esse é mais um aspecto relevante para sinalizarmos algumas variáveis para


entendermos o PEP e o combate ao conservadorismo no serviço social: a primeira é
a formação dos intelectuais no Brasil e as diversas forças que se combinavam; a
segunda é o avanço para dentro da estrutura do Estado dos intelectuais; a terceira
são as novas demandas para o Estado e a forte vinculação dos intelectuais com as
tarefas públicas estatais propiciando um duplo vínculo: a inserção de profissionais
intelectuais em esquemas de poder nas estruturas do estado ao mesmo tempo em
que o Estado e suas tarefas se tornavam “a produção” desses intelectuais. Em meio
a essas variáveis, soma-se, no caso do serviço social o esforço contínuo de
consolidação da profissão enquanto tal e o esquema de reconhecimento interno e
externo. O processo de institucionalização e de profissionalização passou pela
intelectualização e mais tarde por uma academicização da atividade de serviço
social. É claro que a cada fase do processo de consolidação da identidade da
atividade profissional de serviço social, a saber: Tecnicista; Messiânico; Militante;
Fatalista, todos estes considerados hoje de perfil conservador até o contemporâneo,
que chamo de Acadêmico/Crítico, que articulou o Projeto Ético Político, todos
tiveram seus intelectuais de referência, os intelectuais da direção da profissão
naquele tempo e espaço histórico.

Podemos encarar a produção intelectual de cada fase da profissão a uma missão


dada e cumprida pela direção da categoria aquele momento, articulando-se às
necessidades sociais que se apresentavam no campo social. No caso do serviço
social a sua uterina relação com o Estado determinou, como explicitamos
anteriormente, a tendência temática às questões do Estado o que impacta a sua
produção intelectual. A vinculação da classe intelectual ao estado, nas suas mais
diversas formas, igualmente impacta a autonomia e independência dessa produção.
67

No campo do saber e de sua produção todo intelectual assume um lugar sacro. A


cada momento histórico atualiza-se a sua vocação política originária da formação
dos intelectuais no Brasil que se derrama na contemporaneidade. Observemos o
período de ocupação por intelectuais da estrutura do estado, a partir do Estado Novo
(1937-1946). A intelectualidade estava ao serviço das elites de poder do país. Esse
movimento acaba por iniciar a formação de intelectuais que ensaiam uma crítica a
essa postura que mesclava o compadrio e o clientelismo fundando o que se chama
de “dependência insubordinada”. Abre-se ai um caminho para a intelectualidade
brasileira que é estar a serviço das elites ou estar a serviço daqueles que querem
estar nesse lugar de poder, ainda que as “elites” sejam outras, ou a representação
de outras. Observemos que nesse modelo estabelecido, não há mudança da forma
de ordenar o poder. Só altera-se que estar ou não no lugar desse poder. Em
qualquer que seja a situação, o lugar da intelectualidade parece estar definido: a
dispor de quem está na direção do poder, realizando trabalhos, produções e
serviços, “pelo alto” do poder, operando para manutenções do movimento do poder,
sem preocupar-se com a estrutura. Manter é conservar. Conservar é garantir não só
a tradição, velhas ou novas, mas também os tradicionais (novos ou velhos) na
história.

Na área das ciências sociais, espaço da ciência onde o serviço social figura com o
adjetivo de aplicadas, e de onde retira boa parte de conceitos e muitos de seus
pensadores, foi desenhando da seguinte forma, segundo Miceli:

A história social dos cientistas e das ciências sociais no país foi


sendo construída com base em uma tríplice indagação, que incidia:
a) sobre as relações que os cientistas sociais mantinham com os
grupos dirigentes, quer em termos de sua origem social, quer no que
respeita às características econômica e políticas dos mecenas
dessas novas disciplinas intelectuais, quer no tocante à impregnação
desses componentes no interior das instituições então em vias de
constituição, quer, enfim, no relacionamento que essa nova categoria
de produtores intelectuais mantinha com a atividade política; b)sobre
as relações que as novas disciplinas e seus praticantes mantinham
com o sistema acadêmico e universitário já instalado, em especial
com as faculdades de medicina e direito que até então abrigavam a
parcela dominante do pensamento social; c) sobre as modalidades
de inserção da ciência social emergente no contexto mais amplo do
mercado de instituições e empreendimentos voltados para a
68

produção, a difusão e a consagração de obras e bens culturais.


(2001. p. 414).

A trajetória histórica e os elementos trazidos por Miceli no que se refere à


constituição dos intelectuais no Brasil como “especialistas da produção simbólica”
(Bourdieu, 2005, p.5) trouxe elementos preciosos para entendermos a formação dos
intelectuais em serviço social: o resgate histórico da origem desses primeiros
intelectuais, suas funções e frentes de trabalho – entendendo essas frentes como
espaços público-estatais –, juntamente com a compreensão da criação dos
intelectuais a partir da necessidade destes sujeitos existirem para que o Estado
melhor se desenvolvesse são, sem duvida, elementos que sinalizam pontos
importantes para entendermos a trajetória do serviço social brasileiro: a origem dos
nossos intelectuais e a forte ligação do serviço social, sua formação e atuação
profissional intrinsicamente ligada ao Estado. No capitulo 2 aprofundaremos essa
discussão.
69

CAPITULO II - INTELECTUAIS, INSTITUIÇÕES, HISTÓRIA DO


SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: UM PONTO DE VISTA.

O modo de ser do novo intelectual não pode mais


consistir na eloqüência, motor exterior e momentâneo
dos afetos e das paixões, mas num imiscuir-se
ativamente na vida prática, como construtor,
organizador, "persuasor permanente", já que não
apenas orador puro – e superior, todavia, ao espírito
matemático abstra-to; da técnica-trabalho, eleva-se à
técnica-ciência e à concepção humanista histórica, sem
a qual se permanece "especialista" e não se chega a
"dirigente" (especialista mais político). GRAMSCI. ( p.8)

Nesse capítulo, não repetiremos a descrição histórica do serviço social como um


todo, posto que, como disse IAMAMOTO (1992, p. 17): “não se trata de efetuar uma
reconstrução histórica do serviço social, mas apenas resgatar certos traços da
origem para os propósitos (...)”, e, ao mesmo tempo, reconhece-se que já há uma
produção considerável que detalha a história do serviço social. A nós interessa, eis
aqui um dos propósitos, a discussão na história do serviço social em que a chave
conservadorismo e PEP começa a aparecer e desenvolver-se no campo da
profissão. Outro propósito é sinalizar como na formação dos intelectuais e da
intelectualidade do serviço social no Brasil foi se consumando a discussão do
conservadorismo e do PEP. É bom que se destaque que nossa base é a história
oficial do serviço social, o discurso oficial e reconhecido como discurso competente
da profissão.

No Brasil, a regulamentação profissional das assistentes sociais


seguiu uma trajetória semelhante à de outras profissões,
obedecendo ao chamado “processo de profissionalização típico”
(CRAS, 4, 1988). Esse processo teve cinco características básicas:
tornou o trabalho uma ocupação de tempo integral tendo em vista a
“necessidade social” da ocupação; criou escolas de formação e
treinamento; organizou a associação profissional; regulamentou a
profissão e conduziu à elaboração de um Código de Ética (Marinho,
1984:4-5). (BRITO e FERREIRA, 2005).
70

Os autores acima nos indicam o ponto de partida para a compreensão da existência


da nossa profissão, assim como outras, profundamente ligada às exigências da vida
burguesa que se especializava de fora para dentro. A discussão sobre o
conservadorismo e o PEP no serviço social já é uma discussão que expressa a
especialização num movimento de dentro para fora, mas que ainda segue os
marcadores impostos pelo Estado.

No Brasil, temos dois marcadores históricos que nos dão informações sobre a
denominação conservadora bem como da denominação progressista, raiz do PEP
no serviço social. São eles o Movimento de Reconceituação e o Congresso da
“Virada”.

Dando um passo atrás, para observarmos de onde parte a semeadura dessas


discussões que começam separadas e depois, fundem-se é importante entender o
Movimento de Re-conceituação não só como causa, como raiz que desenvolveu
uma diversidade de “renovações” na América Latina, mas também como
consequência. Para MACEDO (1982) a reconceituação foi entendida como:

(...) um movimento de mudança dos fundamentos filosóficos e


científicos do Serviço Social, num esforço de busca de respostas
adequadas à problemática social do contexto latino-americano,
a partir das novas posições epistemológicas e contribuições
das Ciências Sociais contemporâneas. Destacada como época
histórica na evolução do serviço social, a reconceptualização tem
sido objeto de muitos estudos que visam elucidar, no âmbito da
profissão, a estrutura desse período histórico, como tentativa de
exprimir o “ser próprio desta época”. Em todas estas tentativas, é
constante a indicação das insuficiências do período anterior
como fator determinante do período atual. (p.13). Grifos meus.

As partes em negrito destacam dois movimentos: o primeiro, o inicio do que


chamarei de segundo ciclo de transição teórica do serviço social. O primeiro ciclo foi
o afastamento da origem europeia da formação profissional. O segundo, este que a
autora se refere, é o afastamento da herança substituta á europeia, que foi a
71

formação norte-americana. A transição entre a formação eurocêntrica para a


estadunidense, também foi considerado um avanço à época e realizada num curso
espaço de tempo entre a origem do serviço social e seus primeiros anos de
desenvolvimento, ambos sob o governo de Getúlio Vargas. A influência da formação
com bases estadunidenses no inicio do serviço social brasileiro teve seu período
mais forte nos anos 40 e 50 do século passado e os intelectuais, os pensadores do
movimento de reconceituação puseram-se a questionar essa influencia. A isso se
refere á autora a trazer as “novas posições epistemológicas”, da fonte científica do
serviço social, as Ciências Sociais.

O segundo movimento se refere ao diagnóstico feito pela autora ao se referir às


“insuficiências do período anterior” à reconceituação. Essas “insuficiências”, que
deram força ao período de reconceituação, na evolução da história do serviço social
ganharão uma multiplicidade de nomes: os mais conhecidos deles serão, “o serviço
social tradicional” e a “a herança conservadora”. É bom que se destaque que o
movimento de reconceituação não foi homogêneo nem teórica nem ideologicamente
o que sinaliza a pluralidade cientifica dentro e fora do serviço social. Desde o inicio
da reconceituação, o processo de busca de hegemonia estabeleceu um tipo de
disputa: qual seria a linha e consequentemente, quais seriam os intelectuais e
pensadores a serem seguidos.

Macedo (1992, p.26) afirma:

Apesar de se ter consagrado como um movimento, a


reconceptualização do serviço social não se apresenta como um
bloco unitário de ideias; pelo contrário manifesta-se através de
diferentes orientações teóricas que originam concepções distintas, às
vezes, antagônicas do Serviço Social. Nestas concepções, pode-se
perceber como fundamentos correntes epistemológicas também
distintas, constatação que impõe sérias dificuldades à tarefa de
identificação dos elementos comuns e característicos desse
processo na América Latina. Entretanto, tomando como base a
literatura existente sobre o assunto, chegou-se a detectar, de um
lado os elementos que indicam sua proposição básica e, de
outro os elementos com os quais se pretende romper. Grifos
meus.
72

O Livro de Macedo é de 1982, em sua 2ª. edição, utilizada por nós, escrito 3 anos
pós-Congresso da Virada. Destaco essa informação por considera-la fundamental
para nossa discussão: a produção de serviço social, referindo-se à pluralidade de
ideias presentes no campo do serviço social, e vemos a antiguidade disso, não cita
os intelectuais dessas ideias. São “diferentes orientações teóricas”, “concepções
distintas”, “correntes epistemológicas distintas”, mas quem são os intelectuais, os
produtores culturais dessa diversidade na América latina e no Brasil? Esses dados
são invisibilizados. Uso o termo invisibilizados porque não são debatidos na
formação. O debate, que dá visibilidade à diversidade de opiniões parece ter sumido
do campo do serviço social.

Outro elemento importante nos traz a autora quando sinaliza a polaridade: “de um
lado os elementos que indicam sua proposição básica e, de outro os elementos com
os quais se pretende romper” (p.62). A autora sinaliza a criação dos dois grupos,
que gerará a polaridade que marca esse período e arrasta-se na
contemporaneidade: o que se tem e o que se quer mudar. Ao mesmo tempo, a
autora dá uma pista que o segundo grupo é constituído sobre a “pretensão de
ruptura”. O grupo da “pretensão de ruptura” se auto-intitulará como crítico do serviço
social, em oposição aos tradicionais, que só mais tarde serão denominados de
conservadores.

Esses movimentos ocorrem combinando o esforço do serviço social – como se


houvesse um serviço social – em teorizar-se. Não é a profissão que teoriza-se e sim
o serviço social. Parece que o processo de teorização afasta o serviço social da
condição de profissão como até então é concebida.

A partir de Macedo (1982, p. 27) podemos criar um quadro comparativo a partir do


Movimento de Reconceituação traçando linhas gerais sobre: com o que se queria
romper e qual era a proposta:

QUADRO 01 - COMPARAÇÃO ENTRE RUPTURA E PROPOSTA DO MOVIMENTO DE


RECONCEITUAÇÃO
RUPTURA PROPOSTA

REJEIÇÃO DO MODELO ESTADUNIDENSE DO TENTATIVA DE ADEQUAÇÃO À PROBLEMÁTICA


SERVIÇO SOCIAL SEM VISÃO CRÍTICA DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS ATRAVÉS DA
73

DESCOBERTA DE UM CONHECIMENTO NOVO


Tendência a propor, em seus sistemas de prática, Busca de um marco teórico referencial ou de uma
soluções de problemas para os problemas sociais teoria para a prática do Serviço Social latino-
numa perspectiva predominantemente centrada no americano
indivíduo, isolado da estrutura social.
Utilização pelos latino-americanos de um marco Elaboração de uma literatura autônoma, refletindo as
teórico,teórico, concebido “em” e “para” realidades respostas do Serviço Social à realidade latino-
históricas e sociais diferentes das suas. americana.

Emprego de métodos tradicionais de Serviço Social Busca de modelos metodológicos adequados às


de Caso, Grupo e Comunidade como exigências dessa realidade e que possam assegurar a
especializações profissionais, configurando a fase do integração teórico-prática na atividade profissional.
“metodologisismo asséptico” como resultante de uma
visão cientificista no Serviço Social

Apropriação de concepções diagnósticas, peculiares Enfoques principais das tendências presentes na


às disciplinas terapêuticas, com ênfase no tratamento reconceituação até 1970:
e levando a profissão a uma forte tendência  Ênfase no cientifico;
psicologista.  Ênfase no técnico-metodológico;
 Ênfase na profissionalização;
 Ênfase na prática;
 Ênfase no compromisso existencial; (Ander-
Egg)
Realização de uma prática repetitiva, preocupada
com o uso e a eficácia das técnicas sem nenhuma
vinculação coma teoria, impedindo dessa forma o
aproveitamento dessa prática na construção de uma
teoria própria do Serviço Social

Podemos considerar o quadro acima como um ponto de partida para a discussão da


polarização entre o conservadorismo, que nessa época é chamado de tradicional e o
gérmem do que mais tarde será chamado de projeto ético político do serviço social.

Mas cabe destacar alguns aspectos: o primeiro no que se refere à necessidade de


mudança na forma da intervenção (prática) profissional via mudança da formação:
romper com a metodologia de Caso, Grupo e Comunidade, indicando a necessidade
de algo novo sem anuncia-lo; o segundo aspecto, ainda centrado na necessidade da
mudança da prática profissional, no que se refere aos instrumentos da profissão sem
vinculação com a teoria. O projeto de inovação propunha-se mudar isso. Estão no
quadro colocados as protoformas do PEP.

No processo de teorização do serviço social, em 1966 o Centro Brasileiro de


Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais - CBCISS propôs um estudo sério e
tão profundo quanto possível, do serviço social a fim de esclarecer os conceitos
74

aceitos, os valores de base e os conhecimentos necessários para uma prática


eficiente.

Esses seminários foram a consequência assimilada do movimento de


reconceituação na América Latina que foi assim sintetizado por IAMAMOTO (p.165)
por ocasião dos 50 anos do Movimento de reconceituação no Brasil:

O movimento de reconceituação do Serviço Social na América Latina


teve lugar no período de 1965 a 1975, impulsionado pela
intensificação das lutas sociais que se refratavam na Universidade,
nas Ciências Sociais, na Igreja, nos movimentos estudantis, dentre
outras expressões. Ele expressa um amplo questionamento da
profissão (suas finalidades, fundamentos, compromissos éticos
e políticos, procedimentos operativos e formação profissional),
dotado de várias vertentes e com nítidas particularidades nacionais.
Mas sua unidade assentava-se na busca de construção de um
Serviço Social latino-americano: na recusa da importação de teorias
e métodos alheios à nossa história, na afirmação do compromisso
com as lutas dos “oprimidos” pela “transformação social” e no
propósito de atribuir um caráter científico às atividades
profissionais. Denunciavam-se a pretensa neutralidade político-
ideológica, a restrição dos efeitos de suas atividades aprisionadas
em micro espaços sociais e a debilidade teórica no universo
profissional. Os assistentes sociais assumem o desafio de contribuir
para a organização, a capacitação e a conscientização dos diversos
segmentos trabalhadores e “marginalizados” na região. De base
teórica e metodológica eclética, o movimento de reconceituação foi
inicialmente polarizado pelas teorias desenvolvimentistas. Em seus
desdobramentos, especialmente a partir de 1971, este movimento
representou as primeiras aproximações do Serviço Social à tradição
marxista, haurida em manuais de divulgação do marxismo-leninismo,
na vulgata soviética, em textos maoístas, no estruturalismo francês
de Althusser, além de outras influências de menor porte. Registra-se,
entretanto, a ausência de uma aproximação rigorosa aos textos de
Marx. Esse período coincide com a ditadura militar no Brasil, fazendo
com que o debate aqui assumisse outras tonalidades e recebesse
distintas influências, especialmente do vetor modernizador e
tecnocrático, combinado com extratos da filosofia aristotélico-tomista
no âmbito dos valores e princípios éticos. Verifica-se, no Brasil,
nesse período, um pólo de resistência a esta vertente
modernizadora, liderado pela Escola de Serviço Social da
Universidade Católica de Minas Gerais (ESS/UCMG), integrado aos
rumos do movimento de reconceituação latino-americano, tal como
se expressou nos países de língua espanhola. Grifos meus.

Destaco as passagens: “questionamento da profissão (suas finalidades,


fundamentos, compromissos éticos e políticos, procedimentos operativos e formação
75

profissional)” somada ao “propósito de atribuir um caráter científico às atividades


profissionais.” Nesses fragmentos reside uma “refundação” da profissão com forte
influencia acadêmica. A academia nacional do serviço social toma para si a
ressignificação da profissão, como uma devolutiva da ciência às lutas sociais.

Seminários foram desenvolvidos para a construção desse processo de teorização do


serviço social nacional. No quadro abaixo sistematizamos esse momento.

QUADRO 2 - TRACEJADO DO PROCESSO DE TEORIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL


ANO DOCUMENTO CARACTERÍSTICAS CONTEXTO PROMOTORES

1967 ARAXÁ 38 assistentes sociais discutindo a A profissão havia sido O Centro Brasileiro de
“Teorização do Serviço social”. O centro regulamentada, 10 anos antes Cooperação e
do debate era: em 1957. Escolas de Serviço Intercâmbio de Serviços
 Considerações sobre a natureza Social já estavam presentes em Sociais- CBCISS com
do serviço social, todas as regiões do país. 31 cooperação da UNICEF
 Objetivos do serviço social; anos do início da primeira.
 Funções do serviço social Movimento de Reconceituação
avançava na América Latina.
Primeiro esforço de teorização
do Serviço Social durante a
ditadura. Perspectiva
modernizadora da profissão.
Uma tradicionalismo com novas
bases.
1970 TERESÓPOLIS 33 assistentes sociais presentes. Tema: 34 anos depois do inicio da CBCISS
“Metodologia do Serviço Social”: formação de assistentes sócias
 Concepção científica da prática do no Brasil. Perspectiva
serviço social; modernizadora da profissão.
 Aplicação científica da Nele o moderno supera o
metodologia do serviço social; tradicional.

1978 SUMARÉ 25 assistentes sociais. Tema: 42 anos depois da formação. Às CBCISS


“Cientificidade do Serviço Social.”: véspera do III CBAS.Produto de
 O Serviço Social e a cientificidade; 11 anos de esforço de
 O Serviço Social e a teorização da profissão.
fenomenologia Perspectiva modernizadora.
 O Serviço Social e a dialética a perspectivada reatualizarão do
conservadorismo e a perspectiva
da intenção de ruptura foram
discutidas nesse Seminário.
Forte influencia do processo de
sindicalização profissional
1984 ALTO DA BOA 23 profissionais e 1 estudante. Os Primeiro pós “Congresso da CBCISS
VISTA profissionais da área reuniram-se “Virada”. Ainda na reatualização
para debater sobre os fundamentos que do conservadorismo. Em 1982
orientam as práticas mais atuais no IV instituiu-se o Currículo Mínimo
seminário de Teorização de Serviço em Serviço Social pela ABESS;
Social.
Fonte: Base de dados da pesquisa, 2016.

Os dados aqui sistematizados foram retirados do livro: Teorização do Serviço Social


da CBCISS de 1985. Destaco em nosso GRÁFICO a quantidade de profissionais
chamadas a realizar o trabalho de teorização nesses seminários, e, ao mesmo
tempo o fato desse documento, o livro, não se referir a essas pessoas como
intelectuais nem como professores do serviço social em seu registro. Todos são
76

chamados de “participantes”, mas sem dúvida, são estes, os pensadores do serviço


social daquela época.

Destaca-se, embora não esteja relacionado como um elemento de teorização do


serviço social, mas registrado como uma experiência de institucionalização prática
do pensamento crítico num curso de serviço social, o Método BH, como é conhecido
que entre os anos de 1972 e 1975 vigio na escola de Serviço Social da PUC de
Minas Gerais. É possível considera-lo como a experiência de “intenção de ruptura”
dentro da formação profissional.

Segundo entrevista dada por profa. Leila lima Santos à profa. Marilda Iamamoto
(2007):

O Método BH se referia à relação intrínseca entre conhecimento,


processo de pesquisa e intervenção direta com instituições ou grupos
de população. O Serviço Social tradicional, como já foi dito,
ignorava a gênese da “questão social”, porque se centrava em
teorias behavioristas individuais e psicologistas dos problemas
sociais. Além do mais, a sua abordagem de investigação era
apenas pragmática: diagnóstico, estudo e tratamento corretivo, feito
em compartimentos estanques do caso, grupo, comunidade. Em
contraste, o Método BH partia do pressuposto de que os
indivíduos agiam em função do seu momento histórico e das
grandes variáveis econômicas e sociais, e que estavam
condicionados pelas relações de classe e relações externas (em
função da natureza dos nossos Estados Nacionais). Assim mesmo,
pensava-se que a pesquisa era construída através de aproximações
permanentes e sucessivas entre conhecimento e prática, entre
indivíduo e sociedade. Privilegiava-se a influência sobre as
políticas sociais estatais ou sobre as estruturas
socioeconômicas que sobre as pessoas em particular. (...) (2007,
p.167)

(...) Ele se desenvolveu em um período de radicalizações e de


alinhamento à teoria da dependência do continente em relação aos
centros de poder mundial, sobretudo os Estados Unidos, e aos
postulados humanistas marxistas. Tudo isso permeou a experiência
da Escola de Belo Horizonte, que não foi isenta também de
dificuldades e limitações teóricas, práticas, estratégicas e científicas.
De fato, a ditadura militar impunha suas regras e seus limites. E
dentro desse contexto tratamos de reinterpretar o papel da nossa
profissão e sua inserção na sociedade. E sonhamos com um
Serviço Social refundado para um Brasil diferente e
comprometido com a superação dos problemas e condições de vida
das maiorias sociais. Este é, no meu entender, um valor agregado
77

indubitável da experiência da Escola de Belo Horizonte. A


experiência de BH permitiu uma tomada de consciência sobre a
dimensão política da intervenção profissional, sob o ângulo da
esquerda e da identidade com os movimentos de mudança
social e política. E isso nos anos 70, em plena vigência da ditadura,
significou um salto qualitativo de importância considerável no meio
profissional. (2007, p.167). Grifos meus.

Sinalizam-se outras características de distinção entre o tradicional e o crítico. Um


focado no indivíduo, outro focado nas relações sociais. Uma com intervenções
behavioristas e psicologizantes, outra com intervenções via políticas públicas. Uma
pragmática e a outra não. Por fim, “um Serviço Social refundado para um Brasil
diferente”, com a dimensão política através da esquerda. Certamente essa é umas
das variáveis da questão tácita da formação em serviço social “garantir” uma
formação para a esquerda política, naturalmente.

Na mesma entrevista profa. Leila trouxe outras características do que na época era
considerado o serviço social tradicional:

Quando falávamos do esquema tradicional do Serviço Social,


referíamo-nos ao legado europeu de assistência e beneficência aos
necessitados como parte de uma nobre atitude cristã frente à dor
humana. E também aludíamos à corrente norte-americana que
considerava que os problemas e desajustes dos indivíduos, grupos
ou comunidades eram desvios de conduta e de comportamento, em
que as pessoas serão os únicos e principais responsáveis, já que se
assumia que o sistema capitalista dava iguais oportunidades a todos.
(2007, p.166)

Em síntese, referindo-se ao Metodo BH, no Seminário de 30 anos do Congresso da


Virada, Leila Lima afirmou:

A proposta da Escola de SS de MG [PUC-MG, 1972/75) respondeu


aos mutantes ventos do momento e, inspirados nos movimentos
continentais de radicalização daquele período, quisemos romper
com o esquema de formação profissional. Alinhamo-nos a um
novo marco teórico-metodologico, conhecido como Método BH, que
se referia basicamente à relação entre conhecimento, processo
78

de intervenção direta com instituições e grupos de população,


por meio do que chamamos de aproximações sucessivas entre
teoria e prática, entre indivíduo e sociedade. Foi esta também
uma experiência coletiva que reuniu profissionais de SS altamente
qualificados/as e cientistas sociais de ponta em Belo Horizonte (MG).
Uma das principais contribuições desta experiência foi sem dúvida
haver tentado uma reinterpretacão da profissão e sua inserção
na sociedade, desvelando ângulos políticos da ação
profissional. Cultivávamos um espírito de afiliação e identidade a
uma dimensão continental, e sentíamos que consolidávamos nossas
ousadas ideias de um projeto de formação profissional alternativo em
plena vigência da ditadura militar, que terminou por abortar este
fascinante e coletivo processo entre professores/as e estudantes.

O método BH assumiu a experiência de romper com o esquema vigente de


formação, agora designado por tradicional, em oposição ao processo de re-novação,
um processo de reinterpretação da profissão olhando-a pelo “ângulo político”, como
a autora bem destaca.

A década de 1970 para o serviço social juntou a mais densa estratégia de


teorização, e cientificização do “novo” em serviço social. O Método BH (1975),
situado entre as produções dos Seminários de Araxá (1967), Teresópolis (1970),
Sumaré (1978) de um lado e do Congresso da Virada (1979) de outro, sintetizou o
nível de efervescência das discussões e embates dentro e fora da formação
profissional.

Destacamos outros elementos presentes na trajetória da teorização do serviço


social: a dita “intenção de ruptura” já é apresentada ao núcleo de pensadores do
serviço social desde o Seminário Sumaré. A convivência antagônica no interior da
profissão, mesmo que de forma não explicitada, começou não pela base da
categoria, mas pelas instâncias organizativas e seus pensadores imersos uns nas
idéais marxistas que ventilavam pelas estruturas universitárias e movimentos sociais
da América Latina, e outros imersos nas estruturas político-administrativas dos
poderes totalitários e suas funções. Ainda que a ABESS houvesse elaborado o
currículo Mínimo de Serviço Social, em 1982, fruto de discussões em 1977 e 1979, a
ABESS entidade que se auto-responsabilizou para dar conta das questões da
formação profissional não estava presente em nenhum dos Seminários de
Teorização da profissão. Dois pólos estavam por discutir a formação e a teorização.
79

Formação e teorização são, em serviço social, duas faces da mesma moeda, a


profissão. Dessa interface nascem os pensadores, os intelectuais, os professores,
pesquisadores e autores do serviço social. Essa interface está presente tanto
naqueles que se dizem progressistas quanto naqueles que estes chamam de
tradicionais ou conservadores.

Netto (2007) resume esse período com sinalizando a existência de três forças: a
primeira foi a perspectiva modernizadora e aí figuram os documentos de Araxá e
Teresópolis; a segunda a perspectiva de reatualização do conservadorismo, ou um
conservadorismo que queria cientificizar-se; e a terceira que o autor chamou de
“intenção de ruptura”. Nesse lugar ele colocou o método BH e a obra de Iamamoto.
Netto ainda destaca que essa terceira perspectiva: “evidenciou-se e explicitou-se
primeira e especialmente como produto universitário sob o ciclo autocrático burguês”
(p.251). Netto sinaliza os movimentos existentes no interior do serviço social no
caminho de sua teorização e auto-revisão, e, ao mesmo tempo foi hábil em colocar o
termo “intensão de ruptura”. Essa habilidade nos permite inferir a ideia de ruptura
como uma construção, como um movimento e não como uma realidade dada. O
intensão é algo que se quer materializar. A intensão é um produto histórico, mas
ainda não ganhou corpo. O fato do celeiro da “intensão de ruptura” ter sido a
universidade justifica-se por conta de nesse período histórico, ser a universidade um
dos espaços de resistência á ditadura. O esforço de “ruptura” com o tradicional veio
do campo intelectual. Foi uma proposta do campo intelectual à profissão.

Os novos intelectuais que emergiam tinham um alvo par construir a crítica. Segundo
ESCORSIM:

A vinculação do serviço social “tradicional” aos interesses das


classes dominantes, sua legitimação prático-pedagógica da ordem-
burguesa, o seu papel disciplinador e “integrador” frente às classes e
camadas subalternas, a sua função da reprodução do status quo –
estes foram, à época, os alvos prioritários dos intelectuais da
Reconceituação. (2011, p. 24)
80

Ainda que, segundo Escorsim, os “alvos prioritários dos intelectuais da


Reconceituação” fossem a discussão acerca da vinculação do serviço social à
classe burguesa e aos modelos por ela definidos, podemos afirmar que: foi mais
evidenciado na literatura do serviço social a coexistência, nesse período, de várias
linhas teóricas, embora todas sob o mesmo manto da reconceituação, mostrando
um esforço feito pelos intelectuais para definição de um caminho, e que, sempre na
literatura os “ tradicionais” são um bloco único, sem diversidade teórica nem prática.
A adesão às concepções durante e pós-reconceituação aparecem nos livros de
forma mais conscientes pelos intelectuais e ganham status de revelação. Já o
serviço social “tradicional”, semente do conservadorismo, é pouco discutido. Por fim,
como tudo na história, os intelectuais da reconceituação como de outros
movimentos, não eram consensuais.

É bom destacar que os registros oficiais da história do serviço social registram de


forma polarizada antes e depois do Movimento de Reconceituação. Tanto aquela
fase chamada de “tradicional” quanto àquele denominado de “intenção de ruptura”
não se constituíram como blocos monolíticos, uniformes e muito menos
homogêneos. A diversidade de pensamentos e de atitudes foram e são presentes
na trajetória do serviço social.

Retomando a discussão das raízes do serviço social, o CBCISS afirmou em 1986


que:

(...) ao se defrontarem com os Documentos de Araxá, Teresópolis e


Sumaré, as novas gerações poderão compreender o que eles
representavam na época para o Serviço Social. Constituem o
momento em que a profissão, ao refletir sobre a sua prática resolveu
examinar as bases, numa percepção maior da realidade, e ingressar,
assim, no caminho da cientificidade (p. 9).

O seminário de Araxá deu-se 31 anos depois do início da formação de profissionais


que avolumavam, e, por consequência, já se formava uma nata de pensadores do
serviço social no Brasil. Os três documentos foram redigidos no período da ditadura
81

militar imersos no desenvolvimento econômico e na parca liberdade política comum


àqueles tempos. Segundo o CBCISS (1986, p. 7): “Todos esses documentos tem
seu valor, pois sabemos que não há ciência constituída”, mas toda ciência se
elabora aos poucos, acrescentam descobertas ao que já se sabe: é uma ciência
constituinte” (p.9). E esse é o caminho que a teorização do serviço social veio
percorrendo: cada trabalho redigido, desde então, cada pesquisa realizada, cada
experiência, é uma pedra a construir a estrada percorrida de cientificidade da
profissão. Cientificidade explicada historicamente pelo deslocamento dos saberes e
praticas tradicionais, conservadores, travestidos de modernos e finalmente
progressistas.

“Os documentos de Araxá, Teresópolis e Sumaré constituem marcos históricos dos


esforços de sistematização da profissão com corpo teórico”. São produtos de
profissionais competentes reunidos em seminários promovidos pelo CBCISS.
Espelhavam a situação do serviço social de sua época e são o resultado do
processo de desenvolvimento científico, influenciado por acontecimentos das mais
diversas ordens. De fato, desde o inicio o serviço social preocupou-se com
determinadas questões que colocavam em jogo sua própria existência e
sobrevivência (p.7). O esforço nesse momento concentrou-se em criar um escopo
teórico-cientifico para a profissão. O serviço social precisava constituir-se como ente
no campo científico. A apresentação desse processo e a discussão que se colocava
da “necessidade” ou “reinvindicação” do desate do tradicionalismo para outra forma
de pensar e fazer a profissão.

Os fatos históricos de teorização em serviço social ou e cientificidade da profissão


aconteceram concentradamente no período da ditadura militar e movimentado pelas
questões dessa época. Mas nesse período apenas a ideia do tradicional, da
modernização conservadora se tornaram bem explicitadas.

A ideia do PEP tem aí o chão de seu surgimento, mas só aparecerá com certo corpo
a partir dos anos de 1990. A invenção do conservadorismo como objeto científico a
ser combatido no serviço social dá substrato e até cria a necessidade da academia
responder o que “fica no lugar” do que a própria academia critica batizou de
“conservadorismo ou tradicional”. E é nesse período e processo que a expressão
82

Projeto Ético-Politico começa a ser formatada e usada como algo específico do


serviço social. Sabemos que todo projeto social é um projeto ético-político porque
tem intencionalidade sustentada por valores e que conta com uma direção. O PEP
em serviço social marca-se pelo Congresso da Virada, que expressou uma “intenção
de ruptura” como retrata NETTO, e que, se adjetivou, e se auto intitulou de
“vanguarda” do pensamento crítico; também se afirmou com hegemônico não veio
de embates tão objetivos, mas de condições históricas que foram propícias e
aproveitadas para a construção de um espaço novo dentro do serviço social. E para
se considerar como tal, avançou em desenvolver espaços de produção e reprodução
desse empreendimento. Daí vai se constituindo um campo intelectual que vai
definindo, conteúdo, forma e lógica, ou seja, vai formatando os discursos e as
disputas.

Bourdieu (1968, p.113) sinaliza que

(...) Sendo conhecidas as condições históricas e sociais que tornam


possível a existência de um campo intelectual – e definidos, ao
mesmo tempo, os limites da validade de um estado de um estado
dêsse campo – esse estudo adquire então todo seu sentido, porque
pode apreender em ação a totalidade concreta das relações que
constituem o campo intelectual como sistema.

Esse processo foi feito pelo processo de teorização e cientificização do serviço


social e por seus novos intelectuais. A eles coube construir e diferenciar a nova
matriz de pensamento e potencializa-la dentro dos campos intelectual e universitário.

O novo que se quer referência, e aí está o pensamento crítico no serviço social que
se coloca em oposição ao pensamento tradicional, colocou uma questão que é a
diferença entre a história objetivada e a história incorporada. Aí também pode ser
identificado a existência da experiência da “invenção” de novas tradições. É possível
que a história objetivada, por exemplo, afirme que todos e todas as assistentes
sociais, ou que o serviço social, como um corpo monolítico, aderiram à “virada da
profissão”. Mas nos parece que essa não é a história incorporada, embora repetida
seja.
83

Sobre isso Bourdieu (1989, p. 103) afirmou:

As situações revolucionárias e pós revolucionárias oferecem


numerosos exemplos de desvios, patéticos e grotescos, entre a
história objectivada e a história incorporada, entre habitusfeitos para
outros postos e postos feitos para outros habitus,os quais também
observam, numa escala menor, em qualquer ordem social, e muito
especialmente nas zonas de incerteza e estrutura social. Em todos
estes casos, a acção é uma espécie de luta entre a história e
objectivada e a história incorporada, luta essa que dura por vezes
uma vida inteira para modificar o posto ou modificar-se a si mesmo,
para se apropriar do posto ou ser por ele apropriado (nem que seja
no próprio esforço para se apropriar dele, transformando-o). A
história faz-se nesta luta, neste combate obscuro em que os postos
moldam de modo mais ou menos completo os seus ocupantes que
se esforçam por se apropriar deles; em que os agentes modificam de
maneira mais ou menos completa os postos, talhando-os à sua
medida.

Novas formas de ver e fazer a profissão fundaram novos caminhos e sujeitos para a
profissão, mas todas essas mudanças concentraram-se no campo da formação
profissional, principal via de formulação dos discursos profissionais.

2.1 O pré congresso e pós congresso da “Virada”

Afinal, desde Marx sabemos que “A exigência de


abandonar as ilusões sobre a sua situação é a
exigência de abandonar uma situação que necessita de
ilusões”. Então, para sermos fiéis a essa lição de Marx,
cabe pesquisar os caminhos para sair dessa situação
que nutre nossas ilusões. IAMAMOTO (1982, p.125)

O segundo momento em que para nós dá sentido à discussão sobre o


conservadorismo e sua relação com o PEP é o “Congresso da Virada”. Essa é
alcunha dada ao III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em 1979
84

em São Paulo. É possível afirmar que o processo de construção de uma nova


intelectualidade, profundamente marcada pelas primeiras e enviesadas leituras de
Marx ideias marxistas, pela experiência do sindicalismo da categoria, impõe que a
disputa dentro da academia para outros espaços. É importante ter uma nova
bandeira fincada no velho território.

Sobre as referências a esse momento registramos um fragmento da fala de Luiza


Erundina no Seminário dos 30 anos do Congresso da virada realizado pelo
Conselho Federal de Serviço Social-CFESS em 2009, quando tínhamos 30.000
assistentes sociais no Brasil. Para ela: “A “Virada” não foi resultado de uma ação
individual, nem de uma única liderança, mas de uma ação política de entidades
representativas dos/as profissionais do Serviço Social.” (2009, p. 39). As entidades
representativas àquele momento, ou melhor, os representantes das entidades
representativas estavam profundamente ligados ou ao movimento de formação ou
ao movimento sindical da categoria. Muitos podem não saber, mas a “Virada” deveu-
se a tomada da direção do Congresso e a substituição da Comissão de Honra, que
foi mobilizada por ações de diversas entidades no ano de 1979. Uma delas foi a
Associação Profissional de Assistentes Sociais de São Paulo-APASP. Maria Beatriz
Costa Abramides também corrobora a ideia de que o ano de 1979 não começou
nele: “(...) o ano de 1979 não começa em 1979, nem tampouco acaba em 1979.
Temos que pensar que esse ano que foi um marco, no que vem antes dele e a
perspectiva que se configura para frente, depois de 2009.” (2009, p.52). Marcia
Pinheiro, que participou da construção do método BH afirmou: “O que aconteceu,
porém, foi fruto da organização política dos/as assistentes sociais, que realmente
não começou em 1979. A Virada foi produto do movimento dos/as assistentes
sociais que se organizaram em sindicatos e associações profissionais” (2009, p. 72).

Esses três depoimentos colocam o III CBAS como consequência e não com causa.
Foi um marco construído pelas entidades, em especial pela sindical, e teve como
esteio uma nova leitura da realidade, ventilada desde o movimento de
reconceituação, incorporado via ciências sociais, à leitura de intelectuais e
sindicalistas, que colocou a discussão dos assistentes sociais como trabalhadores e
com a inclinação a opção pela classe trabalhadora. Márcia Pinheiro afirmou:
85

Vejo um fio condutor só: aquele grupo que foi influenciado pelo vento
latino-americano, buscando por meio dessa corrente um Serviço
Social situado localmente, ou seja, um Serviço Social latino-
americano sintonizado com a libertação do povo latino-americano e
do povo brasileiro. Esse mesmo movimento gerou companheiros/as
sindicalistas que fizeram e trouxeram para o Serviço Social uma nova
visão de aliança estratégica com os/as trabalhadores/as. E é essa a
grande perspectiva de que esse Congresso consagrou, mudando as
antigas referências práticas e políticas – ainda que tenha que mudar
muito mais. (2009, p.75).

A “Virada” foi consequência da inserção de profissionais num mundo que se


reorganizava frente à pressão da ditadura e a aspiração de outra forma possível de
viver. Foram os ares da renovação da profissão e/ou do serviço social. Coloco dessa
forma, pois parece que o processo do movimento de reconceituação no Brasil criou
um fosso entre a dimensão pratica da profissão e a dimensão política que agora se
apresentava como força inovadora.

A formação da intelectualidade em serviço social nasce com a formação do seu


público de leitores. Formar o campo é ao mesmo tempo formar a plateia e os
censores do campo. O campo precisa ser consumido e um de seus agentes, o
intelectual deve cumprir essa missão diferenciando-se do mundo comum. Só assim
viabiliza a manutenção do campo. Bourdieu sinaliza a construção do processo
criador e sua ambiguidade: a obra criada para formar o público e o publico que
determina a obra.

Sem dúvida o PEP assim como sua crítica, o conservadorismo foi um


empreendimento encampado por alguns intelectuais do serviço social. O
empreendimento é fruto de uma tarefa aceita, acolhida por alguém ou alguns
seguindo o plano de fortalecer o projeto criador – inovador – dentro do campo. No
caso do subcampo do serviço social o projeto criador teve dupla face: construir o
conservadorismo ao mesmo tempo em que se construiu o seu opositor, o PEP. A
“intenção de ruptura” na verdade une esses dois elementos da história do serviço
social.

São as produções intelectuais a partir de 1979 que vão encampar a discussão, a


produção, os meios de disseminação da inovação em serviço social. Ainda não é o
86

PEP. Ele só conseguirá aparecer quando o tradicional for intelectualmente


desarmado, desqualificado e por consequência, temido.

É o processo de inovação, de ruptura (pretensa) que vai caracterizar um olhar


diferente sobre tudo que foi produzido e feito em serviço social até a chegada da
“renovação”. A renovação para NETTO (2007, p.131) é:

Entendemos por renovação o conjunto de características novas, que


no marco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço Social
articulou, à base do rearranjo de suas tradições e da assunção do
contributo de tendência do pensamento social contemporâneo,
procurando investir-se como instituição de natureza profissional
dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas
sociais e da sua sistematização, e de valorização teórica, mediante a
remissão às teorias e disciplinas sociais.

A renovação tem lado. Mas algo permanece: é preciso dar conta do processo de
institucionalização da profissão; é preciso inovar com reconhecimento social da
profissão. Ou seja, é necessário inovar, mas sem perder a legitimação que o próprio
tracejado, tradicional, conseguiu construir.

Se tomarmos por marco o ano de 1979, o serviço social brasileiro já tinha uma
regulamentação profissional de 1957, nenhuma revisão curricular – a primeira ocorre
em1982 – e já tinha passado por 3 dos seus 5 Códigos de Ética, conforme tabela
abaixo:

TABELA 1. CRONOLOGIA DOS CÓDIGOS DE ÉTICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL E


SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS, 2010.
ANO CARACTERÍSTICAS DO CÓDIGO CONTEXTO

1947 Forte carga moral. Crê no desajuste da pessoa. Pós Segunda Grande Guerra Mundial. Não havia
(Introdução, III); Forte carga religiosa cristã. (Seção II, I.1); regulamentação da profissão que só chegaria em
Compreensão privada da categoria profissional.(Seção III, 1957. Aprovado em Assembléia Geral da
I.2).. Associação Brasileira de Assistentes Sociais
(ABAS) – Seção São Paulo, em 29‐IX‐1947

1965 Concepção determinista do homem. (Introdução, 4); Foco Pós Golpe de 1964. Já havia a regulamentação
na família, na estabilidade e integridade, de forma ainda de 1957. O código foi chancelado Conselho
moral. (Capítulo II, art. 6). Foco na integração social. Federal de Assistentes Sociais – CFAS, no uso
(Capítulo II, art. 7), o problema é na pessoa humana. suas atribuições conferidas pelo item IV art. 9° do
Estabelece a metodologia de Caso, Grupo e Comunidade. Regulamento aprovado pelo Decreto 994 de 15
(Capítulo II, art. 7). Compreensão privada da categoria de maio de 1962.
profissional. (Art. 21, inciso único). O profissional de
87

contribuição para o desenvolvimento solidário e harmônico


do país. (Art. 22). Forte noção hierárquica e de ordem (
Artigos de 23 a 29).

1975 Estabelecem-se sinais de articulação entre a formação, a Pleno milagre econômico. Foi aprovado em 30 de
conduta ética profissional e a organização da categoria. janeiro de 1975 em plena ditadura, em meio ao
(Introdução). Foco na pessoa humana. Foco na integração processo que desencadeou o Movimento de
social através dos princípios da autodeterminação, da Reconceituação
participação e da Subsidiariedade. Reconhecimento do
serviço social como profissão liberal (Capítulo I, II a).
Ainda trás a herança moral (Artigo 5, IV a).

1986 Trouxe o reconhecimento do processo histórico. Base marxista de compreensão do


Apresenta-se uma nova ética como conseqüência da mundo.Processo de redemocratização do País.
inserção da categoria nas lutas da classe trabalhadora. Registrou a negação da base conservadora na
Vincula a pratica da categoria profissional à classe teorização e na prática profissional. Estabeleceu a
trabalhadora. (Introdução Aparece a relação com os competência teórica, técnica e política do
usuários (Título III Capítulo I) profissional. Foi publicado no Diário Oficial da
União nº 101, do 02/06/86, Seção I, páginas 7951
e 7952

1993 Sinaliza as mudanças no Brasil articulando-as com as Resultado da reavaliação do Código de 1986.
mudanças da profissão (Introdução). A ética tem como Tem forte carga de lutas democráticas que
suporte a ontologia do ser social. Explicita onze princípios desencadearam na Constituinte de 1988 e suas
fundamentais. Conserva algumas características do conseqüências. Foi aprovado em 15 de março de
código de 1986 1993 com as alterações introduzidas pelas
Resoluções CFESS N.º 290/94 e 293/94.

Fonte: SILVA, 2010.

A “virada” vai chegar aos currículos de serviço social primeiro em 1982 com a
questão do Currículo Mínimo em Serviço Social vigente desde 1982 (Parecer CFE nº
412, de 04.08.1982 e Resolução n.º 06 de 23/09/82) e depois em com as Diretrizes
Curriculares da ABEPSS em 1996, mas instituída pelo MEC em 2000. A mudança
do Código de Ética consonante com “intensão de ruptura” se inicia em 1986, conclui-
se com a revisão do Código em 1993 e depois, junto com a nova Lei n° 8.662, de 7
de junho de 1993queRegulamenta a profissão, convergem-se os 3 elementos que
criam o PEP.

2.1 O conservadorismo e o PEP: o pensamento e os pensadores

O pensamento conservador [...] não é um ‘estilo de


pensamento ’intemporal, a-histórico, encontrável em
qualquer tempo e em qualquer sociedade. Nem se
confunde com quaisquer formas intelectuais e
comportamentais que valorizam, sancionam e defendem
o existente - formas a que cabe a denominação de
88

tradicionalismo. Antes, o pensamento conservador é


uma expressão cultural [...] particular de um tempo e um
espaço sócio-históricos muito precisos: o tempo e o
espaço da configuração e da consolidação da
sociedade burguesa – configuração que deve ser
tomada como ‘uma rica totalidade de determinações e
relações diversas’ [..] e em que operaram movimentos e
tensões em todas as esferas e instâncias sociais.
(ORTIZ apud MACHADO: 124)

2.2.1 O pensamento....

Para nós não há com discutir o PEP sem discutir o conservadorismo. Nisso consiste
a intenção de ruptura: demonstrar o tensionamento e a ligação entre esses dois
elementos. O importante a considerar, observando o trazido por ORTIZ, é que o
conservadorismo tem consistência e sua fonte é a auto-organização do modo de
produção e reprodução de vida burguesa e da cultura burguesa. No âmbito do
serviço social, por imposição da “renovação” é mais provável termos mais detalhes
sobre os elementos do PEP do que sobre os elementos conservadores no serviço
social e suas manifestações.

O conservadorismo é um termo difuso e pouco estudado dentro da literatura em


serviço social. Não há um autor ou autora que o defina, mas autores como GUERRA
(2015); IAMAMOTO (1993); NETTO (1992), ESCORSIM (2011); BOMFIM (2015),
BARROCO (2009) e outros, comungam da ideia de que o conservadorismo no
serviço social está ligada à gênese da profissão e a um certo momento histórico do
seu desenvolvimento. A história do conservadorismo no serviço social é a história do
conservadorismo das relações de produção e reprodução social no modo de
produção capitalistas, que marcaram e marcam as determinações tanto da Igreja, na
sua origem, quanto do Estado no tracejado da profissão.

Vejamos isso em Barroco (2009, p.32):


89

Na origem da profissão, no contexto de expansão do capital


monopolista, em estreita vinculação com o projeto social da Igreja
Católica, o Serviço Social construiu um projeto profissional de caráter
moralizante e pretensamente apolítico. Contribuindo, através da
viablização de políticas sociais, para a obtenção do consenso, o
Serviço Social executava ações de cunho moralizador, voltadas à
disciplinarização da força de trabalho para o capital e à colaboração
entre as classes.[...] O conservadorismo herdado pela profissão
instituiu um ethos defensor de formas de vida e de sociedade
fundadas na hierarquia, na ordem, na tradição e na autoridade[...].

Embora esse seja o mais preciso e repetido elemento do conservadorismo na


profissão, sua ligação com o ethos capitalista, seus elementos constitutivos, suas
expressões, embora rechaçadas pela profissão, não são discutidas.

O conservador ora também chamado de tradicional ganha uma visibilidade quando


sua antítese, o PEP começa a ser desenhado por alguns membros da categoria e
entidades representativas. TEIXEIRA e BRAZ (2010) descrevem esse momento:

Desde os anos 1970, mais precisamente no final daquela década, o


Serviço Social brasileiro vem construindo um projeto profissional
comprometido com os interesses das classes trabalhadoras. A
chegada entre nós dos princípios e ideias do Movimento de
Reconceituação deflagrado nos diversos países latino‐americanos
somada à voga do processo de redemocratização da sociedade
brasileira formaram o chão histórico para a transição para um
Serviço Social renovado, através de um processo de ruptura
teórica, política (inicialmente mais político‐ideológica do que
teórico‐filosófica) com os quadrantes do tradicionalismo que
imperavam entre nós.(p.13). (Grifos meus).

Os autores sinalizam esse momento de descolamento da vertente tradicional para


uma renovação imersas num primeiro momento nas discussões mais político-
ideológica do que teórico-filosófica. Por essa compreensão, é possível identificar o
trabalho empreendido para a construção da ideia de ruptura. Sem as mudanças na
concepção político-ideológica, sob liderança dos intelectuais da época seria
impossível constituir a ideia de renovação, de ruptura. Isso reitera a discussão da
ruptura por cima, da ruptura por representação. Nessa perspectiva, saber mais do
PEP é saber, mas do conservadorismo. Se hoje há uma baixa compreensão do
90

PEP, que muitos sinalizam como risco, penso que tem a ver com nossa baixa
compreensão do conservadorismo e suas potencias.

O Projeto Ético Político da profissão, é definido por NETTO como um projeto


profissional com as seguintes características:

Os projetos profissionais [inclusive o projeto ético-político do Serviço


Social] apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os
valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus
objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e
práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o
comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua
relação com os usuários de seus serviços, com as outras profissões
e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas [...]
(1999, p. 95).

Ou seja: qualquer matriz teórica pode empreender um projeto profissional. O


conservadorismo foi um projeto da profissão. Foi uma proposta de projeto ético
político par a categoria que esta seguiu. A reconceituação, e como ela foi assimilada
no Brasil, está a propor um novo projeto profissional. Essa perspectiva de NETTO
fez VASCONCELOS (2015, p. 169) afirmar que o projeto do serviço social brasileiro
deve ser: “apreendido como um processo histórico em permanente construção
oferece elementos para uma leitura e uma atuação radicalmente críticas e
anticapitalistas (...)”. As características de ser um processo, de ser hegemônico, de
ser resultado de lutas da categoria, de ainda ser alvo de disputas não definem nem o
novo projeto ético político do serviço social, pós-renovação, tão pouco o
conservadorismo.

É preciso definir, precisar, explicitar melhor tanto o conservadorismo quanto o PEP.


Os dois são resultantes da trajetória da profissão. São dois momentos da história da
profissão, ligados pela “intenção de ruptura”. A “intenção de ruptura” que é o
abandonar de práticas conservadoras e o encaminhamento para praticas
progressistas pode ser considerado a transição das práticas moralistas para as
práticas éticas (nova ética).
91

Na origem do serviço social tanto o fazer quanto o pensar eram sustentados por
valores judaico-cristãos, cuja forma sobrenatural de ler o mundo remetia à pobreza a
um castigo, um pecado, cuja intervenção dependia da bondade e da caridade de
outros. Autores como IAMAMOTO e CARVALHO (1989); IAMAMOTO (2004) ,
NETTO (2007) e FALEIROS (2006), debruçaram-se sobre esses aspectos, dentre
outros, produzindo analises sobre a gênese do serviço social. Todos afirmam que
essa discussão contribui para a auto-representação da profissão. O segundo
momento, quando a profissão se institucionalizou, ou seja, quando o fazer
profissional é incorporado pelo Estado como consequência do movimento do capital
monopolista no Brasil (NETTO, 1992) saímos do mandato da Igreja Católica para o
Estado, mas ainda ficamos sob mandato. Apenas mudamos de “senhor” sem que
isso tenha, num primeiro momento alterado o lugar da profissão. O que era caridade
virou política pública, mas conservava a mesma intencionalidade de deixar cada um
em seu lugar. Saímos de um teocentrismo para um antropocentrismo, mudamos a
forma conservadora de ser. Mudamos mas ficamos iguais.

Sendo um fenômeno histórico, o conservadorismo possui diversas interpretações.


Para SCHIMANSKY (2007):

Históricamente, o conservadorismo surge, enquanto doutrina,na


Europa, no século XVIII. Foi através de Edmund Burke, que surgiram
as primeiras ideias e reflexões relacionadas ao tema, fazendo com
que a chamada doutrina conservadora ganhasse o corpo teórico e
conceitual. Exemplo disso é o livro Reflexões sobre a Revolução em
França, escrito por Burke em 1792. Em um esforço teorizante, Burke
expõe nessa obra os princípios básicos do pensamento e da
ideologia conservadores e constrói sua crítica ao iluminismo. (p.35)

Burke fez uma crítica ao ideal iluminista atentando-se aos riscos que este poderia
dar. Criticou a ascensão do racionalismo, cuja força estava nas questões da
liberdade e da igualdade entre os homens criticou o liberalismo que ora se iniciava
como uma nova expressão civilizatória. Naquele momento, a revolução burguesa da
França, sustentou-se na perspectiva liberal, naquele momento progressista e
revolucionária para opor-se ao absolutismo, conservador. Ainda referindo-se a esse
momento marco da história, REIS afirmou que:
92

Historicamente parece ser impossível datar o início do


conservadorismo, visto que traços desta disposição se encontram em
diversas obras de homens dos mais variados tempos. É possível
enxergar princípios conservadores em textos de Aristóteles, de
Cícero e até nos de São Tomás de Aquino. É unânime que o
conservadorismo surge de maneira clara, pela primeira vez, na obra
de um filósofo irlandês, Edmund Burke, em um livro chamado
Reflexões Sobre a Revolução na França (1790). Burke escreve tal
obra na Inglaterra, enquanto informava-se sobre os acontecimentos
da Revolução Francesa. Na obra, o filósofo irlandês adverte sobre os
abusos cometidos pelos revolucionários franceses, que promoveram
verdadeiras carnificinas em nome da liberdade e da igualdade. Pode-
se dizer, então, que conservadores, liberais e revolucionários
são frutos do mesmo tempo e dos mesmos acontecimentos,
visto que existe uma continuidade histórica entre a Revolução
Gloriosa na Inglaterra (1688-1669), de onde surgiram as principais
ideias liberais, e a Revolução Francesa (1789-1799), onde se
esquematizaram os princípios revolucionários e
contrarrevolucionários. Frutos do mesmo tempo, sim, iguais, não.

Desse autor, podemos deduzir e concluir dois movimentos: primeiro que não é
possível perseguirmos na história uma ontologia do conservadorismo e, em segundo
momento que as práticas revolucionárias, liberais e conservadoras embora
confluentes num determinado momento histórico, não são sinônimos.

SCRUTON (2015), filósofo conservador inglês, afirma que:

Há dois princípios tão básicos, que formam axiomas do pensamento


conservador. Em primeiro lugar, o principio de que não há uma
política geral conservadora. As formas de conservadorismo serão tão
variadas quanto as formas de ordem social. Em segundo lugar, o
principio que o conservadorismo se preocupa com a superfície das
coisas, com os motivos, as razões, as tradições e os valores da
sociedade dos quais se obtém a vida. (p. 94-95).

É bom explicitar o que esse autor chama de “superfície das coisas”. Para ele é o
mundo do significado das coisas que só existe pelo ato dos sujeitos incorporarem
esse sentido oriundo do organismo social em que vivem.
93

Já para SILVA:

O conservadorismo pode ser interpretado enquanto uma doutrina


negativa da reação. Esta doutrina expressa o pensamento e os
interesses da aristocracia agrária, semifeudal, diante dos desafios da
Revolução Francesa, portanto, datada historicamente; ela representa
uma postura defensiva negativa de uma classe em decadência. O
conservadorismo também pode ser interpretado enquanto restrito ao
pragmatismo político. Enquanto tal, não é orientado por princípios
ou conteúdo doutrinário: simplesmente se adapta, absorvendo o
ethos político, econômico e cultural dominante. O pragmatismo
induz à legitimação do que mantém a ordem. Portanto, não é
surpresa que o conservadorismo adote ideias que historicamente
combateu – dessa perspectiva, mesmo uma ideologia
revolucionária, na medida em que é integrada à ordem burguesa
ou consolida uma nova ordem política e social, tende a se tornar
pragmática e conservadora. Do ponto de vista do pensamento
conservador, há uma ênfase no aspecto negativo: em última
instancia, tratar-se-ia apenas de estratégias de sobrevivência (2010,
p.54). (grifos meus)

SILVA, como também outros autores igualmente discutem o conservadorismo na


condição de movimento inscrito na história que transpassa vários períodos, mas que
mantém-se vivo como estratégia de sobrevivência das forças outrora
revolucionárias, condensadas na burguesia, referindo-se ao movimento feito pós
Revolução Francesa. Mantendo-se de forma perene e tendo como máxima a
capacidade de redefinir-se, o conservadorismo avança. Esse elemento de
permanência, de adaptação trazida pelo autor ainda evidencia outro aspecto: o
conservadorismo tem duas possibilidades de ser lido: uma enquanto espectro
teórico e outro como um movimento.

Marquemos a afirmação do autor que confere as duas características marcantes do


conservadorismo: sua ligação com o Pragmatismo e a segunda, seu vínculo via
integração com a “ordem burguesa”. Associemos isso às bases do Neotomismo, do
positivismo, teorias que deram suporte a ações do início do serviço social e todos a
serviço de uma lógica de manutenção da relação entre dominadoras e dominados. O
conservadorismo, no serviço social, é tomado, pois por essa confluência de fatores
que combinam moral, poder, ordem e, de certa forma, a expressão de religiosidade.
94

Por essa via, o conservadorismo encerra a ideia de imobilismo, de manutenção, de


preservação.

Para o serviço social a discussão sobre o conservadorismo remete-se à construção


à raiz, à gênese, aos primeiro anos da profissão e, principalmente, remete-se à
aspectos do fazer profissional, até a chegada do Movimento de Reconceituação. É
nesse momento de “virada de página” na orientação da profissão e
consequentemente da formação que as protoformas do PEP começam a aparecer.
Um ponto em comum às duas proposições é a discussão da ética: a velha ética e a
nova ética em construção. Daí a produção e a discussão acadêmica em serviço
social, no que se refere ao combate ao conservadorismo, suas expressões e
avanços, estão centrados na defesa do novo ethos proposto pelo serviço social.
BARROCO, usando outros autores afirma:

Historicamente, desde a sua origem, o Serviço Social se configura


como profissão fortemente influenciada pelo conservadorismo moral
e político. No Brasil, os Códigos de Ética profissionais bem
exemplificam este dado: entre 1947 (data do primeiro código) e 1986
(quando é rompida a concepção tradicional), passaram-se trinta e
oito anos de vigência de códigos na pautados na perspectiva ética
tradicional conservadora. A negação histórica dessa herança coloca-
se como finalidade do projeto profissional, que se caracteriza pela
busca de ruptura com o conservadorismo em suas várias dimensões
e configurações: o projeto de “ intenção de ruptura” (NETTO, 1992),
hoje denominado projeto ético político. Sua construção um processo
inscrito no conjunto de determinações sócio-históricas que –
propiciando a renovação do Serviço Social brasileiro, nos marcos da
autocracia burguesa – viabiliza os suportes históricos para a erosão
do Serviço Social tradicional, tomando possível a existência de um
pluralismo profissional, entre outros aspectos. (NETTO, idem, p.131-
137) . (2010, p.16)

Na literatura acadêmico-cientifica do serviço social o conservadorismo como


definição aparece explicitado poucas vezes. Iamamoto esforçou-se mais nessa
direção desde o livro Serviço social e conservadorismo no serviço social: ensaios
críticos de 1992. Nele, a autora, analisando do conservadorismo moderno, e sua
herança de meados dos anos 40, do século passado, discrimina algumas
características dessa corrente que influenciou substancialmente a gênese do serviço
social:
95

Dentre as características do pensamento conservador, destaca-se


sua vocação para o passado, terreno, germinativo da inspiração para
a interpretação do presente. O passado é experimentado como
virtualmente presente. A sociedade tende a ser compreendida como
constitutiva de entidades orgânicas, funcionalmente articuladas cujo
modelo é a família e a corporação. Os pequenos grupos são tidos
como fonte das relações interpessoais, da sociabilidade e da
moralidade. Os elementos sagrados, irracionais, são utilitários da
existência, são valorizados, em contraposição ao primado da razão.
Tradição e costumes legitimam a autoridade. O conservador pensa à
base do “nós”; o individuo não é uma partícula isolada e atomizada
da sociedade, mas é parte de unidades mais amplas, dos grupos
sociais básicos (...).

O conservador reage aos princípios universalizantes e abstratos do


pensamento dedutivo: seu pensamento tende a aderir aos contornos
imediatos da situação com que se defronta, valorizando os detalhes,
os dados qualitativos, os casos particulares, em detrimento da
apreensão da estrutura da sociedade. A mentalidade conservadora
não tem predisposição para teorizar. (...). O conservador elabora seu
pensamento como reação as circunstancias históricas e ideias que
se afiguram ameaçadoras à sua influência na sociedade. (1992,
p.24).

Essa leitura sobre o conservadorismo é usada pela autora para expor seu ponto de
vista sobre o processo de “renovação” que o serviço social inicia e que tem como
norte o desenvolvimento do PEP. Já em sua produção, O serviço social na
contemporaneidade, de 2000, a mesma autora destaca outras influencias:

O Serviço Social no Brasil nasce e se desenvolve nos marcos do


pensamento conservador, como um estilo de pensar e de agir na
sociedade capitalista, no bojo de um movimento reformista
conservador. Articula elementos cognitivos e valorativos diversos em
um arranjo teórico-doutrinário particular, presidido pela doutrina
social da Igreja e os desdobramentos do neotomismo, pelo moderno
conservadorismo europeu e a sociologia funcionalista, especialmente
em suas versões mais empiricistas norte-americanas, Esse arranjo
teórico doutrinário, matizado em sua evolução por influências
específicas, é o fio que percorre toda a trajetória do conservadorismo
profissional, estreitamente imbricada ao bloco sócio-histórico que dá
sustentação política ao Serviço Social na sociedade brasileira. Esse
fio conservador coesiona tanto as bases de interpretação da
sociedade, o campo dos valores norteadores da ação profissional,
assim como o aperfeiçoamento de seus procedimentos operativos.
Permite à profissão ir evoluindo e atualizando seus fundamentos
científicos e técnico-interventivos sem questionamentos que atinjam
os pilares da ordem burguesa: Enquanto esta é naturalizada, no
campo dos valores preservam-se as suas raízes na filosofia
96

metafísica, alimentando um programa de ação de cunho reformista


conservador, voltado para reformas parciais no nível dos indivíduos,
grupos e "comunidades", na defesa da pessoa humana, do seu
desenvolvimento integral e do bem comum. (p. 88)

Temos ainda poucas produções discutindo tanto o conservadorismo como o PEP, e


isso se apresenta tanto na formação quanto no exercício e na organização
profissional. Embora seja possível ver e reconhecer o temor de algumas instâncias
da categoria ao que se refere como “avanço do conservadorismo” ou “retorno do
conservadorismo”, têm poucas discussões publicizadas que remontem a discussão
do cotidiano profissional à luz do que é vivido, sentido e feito pelos profissionais de
serviço social tematizando os que os intelectuais da categoria colocam como
pensamentos que estão em pólos: conservador e progressista. Esse é o nosso
“senso comum acadêmico”.

Um avanço na discussão teórica sobre o conservadorismo enquanto forma de ver o


mundo, como construção histórica, com intelectuais formuladores foi feita por
ESCORSIM em 2011 no seu livro: O conservadorismo clássico. Nele, a autora para
discutir o conservadorismo no serviço social, discute a trajetória do
conservadorismo, suas características, apresenta seus pensadores clássicos –
Burke, de Maistre, de Bonald, Tocqueville e Durkheim, e seus herdeiros, dentre eles
Nisbet. Mostra os principais argumentos do conservadorismo clássico e, por fim,
utiliza o marxismo para fazer uma crítica ao percurso conservador construído. Uma
das constatações da autora é que há uma diversidade também no que se concebe
como conservadores, no conservadorismo contemporâneo, a grande diferença é que
este conservadorismo não se apresenta como tal, ao contrário do conservadorismo
clássico.

Ainda estudando Nisbet, a autora constata que o conservadorismo nasce como uma
crítica ao Iluminismo, ao capitalismo e a centralização política. Destaca que em
alguns momentos o conservadorismo e o socialismo estão ao mesmo lado, contra o
liberalismo. Das três ideologias que coexistem no mundo: liberalismo,
conservadorismo e socialismo, a menos estudada é o conservadorismo. Isso sem
97

dúvida existe porque reduz-se, típico do suposto saber, o conservadorismo a um


comportamento e não a uma linha teórica-política.

Para o movimento do conservadorismo na história e sua diversidade de


manifestação ressalto que ESCORSIM apud NISBET destaca não como única
condição, mas como uma das mais significativas para essa perenidade do
conservadorismo, “as condições intelectuais para recuperação das ideias
conservadoras”, o “renascer conservador” sustentado por publicações de intelectuais
nos Estados Unidos pós-segunda guerra. O grau de influencia estadunidense no
mundo nesse período funcionou como viabilizador da disseminação desses
pensamentos que foram incorporados por outros intelectuais que tem a missão
produtora e disseminadora de capital cultural. Destaco a questão da função dos
intelectuais nesse processo: tanto de manutenção quanto de inovação de processos
culturais e ideológicos.

Na trajetória da construção do serviço social enquanto profissão, pela


comunicabilidade entre a profissão e o mundo, os profissionais já adotaram posturas
que renderam alguns rótulos que a nosso ver, tem relação com o tema proposto: os
assistentes sociais já foram reconhecidos com posturas “messiânicas”, “fatalistas” e
“militantes”. Em um dado momento na trajetória da profissão, associou-se o fato de
formar assistentes sociais era formar militantes. E ser “militante” era não ser
conservador, ou seja, era ter aderido à compreensão da dimensão política da
profissão. Ser conservador, então, pode ser compreendido como um desprezo a tal
dimensão e suas consequências. As discussões dentro da categoria avançaram
para construção de rótulos que expressam o como ser assistente social: messiânico,
fatalista, militante, revolucionário, permitindo julgamentos e enquadramentos.

Ficou implícito na construção e no atual estágio de desenvolvimento do PEP que ele


aponta para uma formação e exercício profissional que é para além da profissão.

2.2.2 Os pensadores....
98

O que temos de registro indica que os pensadores do serviço social a partir do


movimento de reconceituação determinaram que o que havia no serviço social antes
desse período, era conservador. O serviço social brasileiro fica então com dois
momentos: um tradicional, denominado assim por que não se achava tradicional, e o
seguinte onde habitam aqueles que rotularam o momento anterior como tradicional.
A proposta dos inovadores foi a troca de orientação e fundamentação da profissão.
Mas onde estão os registros do embate entre essas duas diferentes orientações e
no interior do serviço social? Onde estão os registros de professores, autores e
pesquisadores que resistiram à inovação trazida via ciências sociais, movimento
sindical e algum movimento de organização político partidária?

Nesse tópico destacamos alguns dos pensadores que semearam a discussão do


PEP, mas destacamos que não existem “pensadores do PEP” especificamente, da
mesma forma que não temos “pensadores do conservadorismo”. O vetor de
orientação para a busca foi checar que autores em serviço social que discutem o
PEP. Outra variável foi buscar o nome desses autores a partir da discussão do
processo de ruptura do serviço social com a matriz conservadora da profissão. O
foco foi a presença da discussão da temática ou do conservadorismo ou do PEP

Com vistas a mostrar o quanto o conservadorismo e o PEP são explicitados na


produção dos pensadores do serviço social, realizamos um mapeamento a partir de
livros publicados e de registros na Plataforma Lattes. Usamos a Plataforma Lattes
por ela fazer parte das instituições de registro de produção cientifica e intelectual,
funcionando assim como um dos sensores do campo e da produção do campo. O
mapeamento, em ordem alfabética trouxe o seguinte panorama de autores que
discutiram ou sobre o conservadorismo ou sobre o PEP em serviço social:

TABELA 2. Autores/as e produções sobre conservadorismo e PEP


N NOME CONSERVADORISMO PEP
1 Ana Maria de Vasconcelos; X
2 Carlos Eduardo Montaño Barreto; X
3 Ivanete Salete Boschetti; X X
4 Jose Paulo Netto; X X
5 Leila Escorsim Netto X
6 Marcela Mary Jose da Silva. X X
99

7 Marcelo Braz Moraes dos Reis X


8 Maria Carmelita Yazbek; X X
9 Maria Lúcia Silva Barroco; X X
10 Marilda Iamamoto; X X
11 Yolanda Aparecida Demetrio Guerra; X
Fonte: Banco de dados da Pesquisa, 2018.

Dos autores selecionados quatro discutem o PEP especificamente em suas


produções. Os demais produziram trabalhos tanto discutindo o PEP quanto o
conservadorismo. A maioria das produções são participações em eventos com
trabalhos ou mesas, ou capítulos de livros. Com a exceção do Livro de Marilda
Iamamoto: Renovação e conservadorismo no serviço social: ensaios críticos que tem
sua primeira edição em 1982, todas as demais produções vão acontecer na década
de 1990 a partir da segunda metade. Aliás, essa produção é a primeira que discutiu
com maior profundidade o conservadorismo. Essa temática ganhará uma segunda
abordagem em 2011, com o livro O conservadorismo clássico de Leila Escorsim.

A adesão ao pensamento centrado na tradição marxiana que “deixou de ser


estranho ao universo profissional do serviço social” (Netto, 2007,p.148) exigiu um
esforço significativo dos intelectuais emergentes. Não se tratou só de um rearranjo
interno da profissão. Ao mesmo tempo se tratava da ascensão da profissão em
relação aos campos intelectual e profissional: a discussão se o serviço social tinha
ou não um a teoria, sua especificidade enquanto profissão dentre outras questões
também estavam em jogo.

O Movimento de Reconceituação foi deflagrado em 1965; O congresso da “Virada”


aconteceu em 1979; o Currículo Mínimo de Serviço Social foi em 1982; a segunda
Lei de Regulamentação da Profissão foi em 1993 substituindo a de 1957; o último
Código de Ética foi em 1993, substituindo o de 1986. A primeira discussão com o
termo Projeto Ético Político aparece em 1995 feita por José Paulo Netto no trabalho
Serviço Social: Projeto ético-político e enfrentamento da barbárie social. O primeiro
livro sobre o tema só aparecerá em 2012: A materialização do Projeto Ético Político
do Serviço Social de Marcela Mary José da Silva. A segunda publicação foi feita com
a organização do Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro.(2013) A
terceira publicação é o livro Projeto Ético Político do Serviço social: contribuições a
100

sua crítica de 2015 de Valéria Forti e Yolanda Guerra (2015). A primeira publicação
de SILVA (2012) versou sobre uma pesquisa feita com 40 assistentes sociais e
buscou saber a ligação entre formação e intervenção profissional à luz do PEP.
Essas duas últimas, de 2013 e 2015, centram sua discussão nos 11 princípios do
Código de Ética Profissional, um dos elementos do PEP. Existe uma escolha de
centrar a discussão do PEP no Código de Ética, que é um de seus elementos. Na
pesquisa realizada em 2010 por Silva constatou-se que as assistentes sociais
entrevistadas quando chamadas a identificar onde na formação tiveram contato com
o PEP, admitiram vê-lo de forma mais concentrada na disciplina de Ética.

QUADRO PANORÂMICO - DISCIPLINA QUE TEVE ACESSO AO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO


Ética 27
Estágio supervisionado 16
Processo de trabalho 12
FHTM 9
Política social 7
Em todo o curso 5
Movimentos populares/sociais 2
Metodologia 2
Documentação 2
Desenvolvimento psicossocial 2
Trabalho profissional 1
Trabalho e sociabilidade 1
Teoria do serviço social 1
Técnicas de abordagem 1
TCC 1
Sociologia 1
Seminários temáticos 1
Pesquisa social 1
Noções de direito 1
Não tive/currículo antigo 1
Não lembro 1
Monografia 1
Introdução ao serviço social(Chile) 1
Desenvolvimento de comunidade 1
Administração e planejamento 1
Abordagem individual 1
Abordagem grupal 1
Fonte: Banco de Dados, Silva, 2010.
101

Um dos resultados da pesquisa de Silva indicou não só a coexistência de diversas


abordagens curriculares ainda coexistindo como a forma difusa com que aparecia a
problematização do PEP.

A existência do PEP e de ser a única categoria profissional que “tem um projeto” é


propalado dentro e fora dos espaços do serviço social. E, embora apareça como
diferencial, pouco se produziu e se produz sobre ele.

Esse fenômeno pode ter se produzido por conta da forma com que a tradição
marxista foi se chegando à profissão. Nobrega apud Santos (2007) afirmou que:

Santos (2007), ao tratar das sucessivas aproximações entre o


Serviço Social e a tradição marxista identificou 03 (três) momentos
distintos, quais sejam: a apropriação ideológica do marxismo por
ocasião do Movimento de Reconceituação com o recurso a uma
literatura de divulgadores dessa tradição intelectual, a partir da
militância política. Momento em que se capturaram os elementos
ídeopolíticos do marxismo, como aportes para a ruptura, resultando
na constituição de posturas fatalistas e messiânicas no interior da
profissão, sustentadas em uma concepção abstrata de homem e
sociedade. O segundo momento caracteriza-se por uma apropriação
epistemológica, ao longo dos anos 1980, pois, apesar de se ter o
debate com as fontes marxianas e marxistas clássicas, predominou
uma leitura nos segmentos de vanguarda da categoria uma marcante
influência epistemológica. Enfim, o terceiro momento, caracterizado
por uma apropriação ontológica da vertente crítico-dialético, em
meados dos anos 1990, permitindo o desvelamento de questões
fundamentais para a ruptura com o conservadorismo, intervindo de
maneira qualitativamente superior na garantia da direção social
estratégica. (NÓBREGA, 2013, p.219)

Esses tempos e formas de apreensão deram origem a metabolizações diferentes


sobre o conservadorismo e o PEP. Pode isso explicar a maneira rarefeita de trato
mais profundo às discussões sobre o conservadorismo e à construção do PEP.
Voltando às produções por autor, temos o seguinte cenário:

TABELA 3. AUTORES/AS E QUANTIDADE DAS PRODUÇÕES SOBRE CONSERVADORISMO


E PEP
N NOME CONSERVADORISMO PEP AMBOS PERÍODO
1 Ana Maria de Vasconcelos; - 23 - 2014-2016
102

2 Carlos Eduardo Montaño Barreto; - 15 - 1998-2013


3 Ivanete Salete Boschetti; 4 3 - 2001-2016
4 Jose Paulo Netto; 1 11 - 1995-2016
5 Leila Escorsim Netto 3 1 - 2009-2015
6 Marcela Mary Jose da Silva. - 7 - 2010-2017
7 Marcelo Braz Moraes dos Reis - 6 - 2007-2010
8 Maria Carmelita Yazbek; 5 7 - 2010-2017
9 Maria Lúcia Silva Barroco; 5 9 4 1995-2016
10 Marilda Iamamoto; 2 13 - 1982-2003
11 Yolanda Aparecida Demetrio Guerra; - 24 - 2001-2017

Total 20 119 4
Fonte: Banco de dados da Pesquisa, 2018.

A tabela acima nos leva a algumas considerações:


1. A discussão sobre o conservadorismo e suas expressões na formação e na
compreensão da profissão ainda são poucas.
2. Confirma-se a discussão do PEP em maior quantidade, mas apenas se
compararmos à discussão do conservadorismo. Caso comparássemos a
produção do PEP aos demais temas de cada autor, certamente ele não seria
o majoritário. Aqui temos mais uma investigação que se abre a partir da nossa
temática;
3. Como o tema PEP é difuso, e transversal a tudo, no serviço social, como se
em todas as dimensões da profissão ele naturalmente fizesse parte, não
temos pensadores que se especializaram nele;
4. Apenas uma autora, produziu materiais sobre conservadorismo, PEP e sobre
ambos. É possível que isso se deva ao fato da área de concentração dessa
autora ser a ética, aspecto em que se discute mais diferenças dos modelos
de forma mais objetiva;
5. Existe um abrigamento, uma segurança na discussão do PEP que assiste a
todos os profissionais de serviço social, incluindo os pensadores;

Mas como nossos intelectuais definem o conservadorismo e o PEP? Nem todas as


produções registradas na plataforma Lattes estavam disponíveis. Reiteramos que
nas quantidades encontradas, encontram-se todas as formas de expressão da
produção dos autores, que eles colocaram como tendo sua participação. Ainda
assim, foi possível encontrar alguns registros de produções.
103

QUADRO 03 – FRAGMENTO DE PENSAMENTOS DOS AUTORES SOBRE CONSERVADORISMO


E PEP

AUTOR/A PEP CONSERVADORSIMO

Marilda Iamamoto O Serviço Social brasileiro, nas últimas O conservadorismo não é apenas a
décadas, redimensionou-se e renovou-se no continuidade e persistência no tempo de um
âmbito da sua interpretação teórico- conjunto de ideias constitutivas da herança
metodológica no campo dos valores, da intelectual europeia do século XIX, mas de
ética e da política. Realizou um forte embate ideias que, reinterpretadas, transmutam-se em
com o tradicionalismo profissional e seu uma ótica de explicação e em projetos de ação
lastro conservador e buscou adequar favoráveis á manutenção da ordem capitalista.
criticamente a profissão às exigências do Isso aproxima os pensamentos conservador e
seu tempo, qualificando-a academicamente. racional, apesar de suas diferenças, como
E o Serviço Social fez um radical giro na sua portadores de um mesmo projeto de classe
dimensão ética e no debate nesse plano: para a sociedade. (1982)
constituiu democraticamente a sua base
normativa, expressa na Lei da
Regulamentação da Profissão, que
estabelece as competências e as atribuições
profissionais, e no Código de Ética do
Assistente Social, de 1993. (1999)

José Paulo Netto (1999) É no trânsito dos anos oitenta aos noventa É neste contexto que o histórico
do século XX que o projeto ético-político do conservadorismo do Serviço Social brasileiro,
Serviço Social no Brasil se configurou em tantas vezes reciclado e metamorfoseado,
sua estrutura básica19 – e, qualificando-a confrontou-se pela primeira vez com uma
como básica, queremos assinalar o seu conjuntura em que a sua dominância no corpo
caráter aberto: mantendo seus eixos profissional (que, sofrendo as incidências do
fundamentais, ela é suficientemente flexível “modelo econômico” da ditadura, começa a
para, sem se descaracterizar, incorporar reconhecer-se como inserido no conjunto das
novas questões, assimilar problemáticas camadas trabalhadoras) podia ser contestada –
diversas, enfrentar novos desafios. Em uma vez que, no corpo profissional, repercutiam
suma, trata-se de um projeto que também as exigências políticas e sociais postas na
é um processo, em contínuo ordem do dia pela ruptura do regime ditatorial.
desdobramento.(1999 (1999)

Carlos Montano Um projeto profissional não é algo isolado, Por outro lado, resulta claramente endogenista
mas necessariamente inspirado em e (voltarse-á a isto) pensar que a constatação de
articulado com projetos societários. que a profissão cumpre um papel particular na
Portanto, o projeto profissional importa, reprodução do sistema social (acumulação de
redimensiona e se insere em determinados capital, manutenção das relações sociais e do
valores, ideologias, projetos, articulado com status quo) acarretaria automaticamente no
atores sociais que representam os valores, suposto caráter “conservador” de seus
ideologias e projetos profissionais membros; ou supor que este papel pode ser
hegemônicos. Além disso, os projetos revertido pelo posicionamento “progressista”
profissionais não só se inserem em projetos dos mesmos. O caráter funcional da profissão
e valores sociais mas estão, de alguma (ainda que tenso e complexo) depende mais
maneira, condicionados pelo lugar que dos determinantes estruturais e da correlação
ocupam na correlação de forças na de forças e dinâmicas sociais do que das
sociedade. · Um projeto profissional, se opções de seus membros (sejam estes
legítimo e plural, mesmo que articulado “conservadores” ou não). Uma coisa é
com uma determinada correlação de conceber o papel do Serviço Social na
forças internas desdobra-se em um projeto reprodução da ordem dominante, outra é
de formação profissional, em um código de supor que o indivíduo é quem é
ética, em uma organização acadêmica e/ou conservador. Este equívoco é extremamente
corporativa profissional, que estabelecem comum na profissão, o que levou, algumas
relações e interlocução com atores sociais vezes, a se atribuir um caráter
em função da articulação de seus valores e necessariamente conservador aos
projetos. (2006) assistentes sociais de outrora (os
precursores) ou a se considerar o assistente
social como “agente de transformação”. Nem
necessariamente “conservador” nem “agente de
transformação”. (2006)

Maria Lúcia Barroco Em primeiro lugar cabe refletir sobre as A reatualização do conservadorismo é
bases sociais do nosso projeto ético-político. favorecida pela precarização das condições de
Sabemos que seu surgimento foi trabalho e da formação profissional, pela falta
determinado fundamentalmente em função de preparo técnico e teórico, pela fragilização
de certos(as) sujeitos e condições históricas: de uma consciência crítica e política, o que
o protagonismo da profissão, em seus pode motivar a busca de respostas pragmáticas
setores progressistas, contando com o e irracionalistas, a incorporação de técnicas
processo de reorganização das classes aparentemente úteis em um contexto
trabalhadoras e dos movimentos fragmentário e imediatista. A categoria não está
democrático-populares, no contexto de imune aos processos de alienação, à influência
104

redemocratização da sociedade brasileira do medo social, à violência, em suas formas


dos anos 1980. Sendo assim, a nossa subjetivas e objetivas. Isso coloca um imenso
força política está articulada, ainda que desafio ao projeto ético-político, na medida em
não seja de forma mecânica, ao avanço que a sua viabilização não depende apenas da
dessa base social, que tem como intencionalidade dos profissionais, tendo em
protagonistas os sujeitos de nossa vista as suas determinações objetivas, nem se
intervenção profissional: as classes resolve individualmente. Além disso, não
trabalhadoras. (2011) podemos ignorar que o conservadorismo
tem raízes históricas na profissão: para
parcela da categoria, trata-se de uma opção
política conscientemente adotada. Nesse
sentido, a conjuntura pode favorecer a sua
reatualização, sob novas roupagens e
demandas.

Marcelo Braz Pode‐se localizar aí a gênese do


projeto ético-
político, na segunda metade da década de
1970. Esse mesmo projeto avançou nos
anos 1980, consolidou-se nos 1990 e está
em construção, fortemente tensionado pelos
rumos neoliberais da sociedade e por uma
nova
reação conservadora no seio da profissão n
a década que transcorre. Nosso projeto
ético‐político é bem claro e explícito quanto
aos seus compromissos. Ele: tem em seu
núcleo o reconhecimento da liberdade como
valor ético central – a liberdade concebida
historicamente, como possibilidade de
escolher entre alternativas concretas; daí
um compromisso com a autonomia, a
emancipação e a plena expansão dos
indivíduos sociais. Conseqüentemente, o
projeto profissional vincula-se a um
projeto societário que propõe a
construção de uma nova ordem social,
sem dominação e/ou exploração de
classe, etnia e gênero. (NETTO, 1999, p.
104‐5).2009 (Em co-autoria com Joaquina
Barata Teixeira)
Todos esses elementos constitutivos têm
em sua base os componentes que lhe dão
materialidade. Ou seja, aqueles elementos
se objetivam e se expressam na realidade –
podemos dizer: ganham visibilidade social –
por meio de determinados componentes
construídos pelos(as) próprios(as)
assistentes sociais. São eles:a) produção de
conhecimentos no interior do Serviço
Social(...); b) as instâncias político-
organizativas da profissão (....); c) a
dimensão jurídico-política da profissão.
(2009)

Yolanda Guerra Neste espaço, pretendo apontar o que


entendo como dificuldades reais para
darmos concretude ao projeto ético-político
profissional em termos da sua apropriação
no contexto acima problematizado.
Considero que as dificuldades são de duas
ordens de questões:
A primeira, de natureza material-
concreta: o mundo burguês e sua lógica
constitutiva, sua estrutura e dinâmica,
limita a construção da contra hegemonia
possível pelo projeto, mas não elimina a
sua possibilidade. A análise marxista nos
mostra exatamente o contrário: é em razão
da hegemonia do pensamento burguês, e
em confronto com ela, que faz sentido
construirmos a contra-hegemonia do nosso
projeto profissional. É por isso que nosso
projeto tem uma efetividade concreta na
vida profissional da categoria como sujeito
105

coletivo e no cotidiano dos profissionais.


Aqui afirmo, enfaticamente, a necessidade
e a possibilidade do projeto, apesar das
dificuldades, restrições e desafios.
Sem dúvida, os projetos societários que
atendem aos interesses das classes
trabalhadoras dispõem de condições menos
favoráveis para enfrentar os projetos das
classes dominantes. Trata-se de uma luta,
de disputa política, da construção de uma
nova correlação de forças.
A segunda, de ordem teórico-intelectual: a
ausência de uma correta apropriação dos
fundamentos teóricos, éticos e políticos
deste projeto profissional. Neste aspecto se
põe a tendência de idealização do nosso
projeto ético-político ou de tratá-lo como
uma carta de princípios. O projeto ético-
político é a nossa trincheira. Nos ajuda a ter
claro qual é a sociedade que queremos,
quais são nossos reais e efetivos
compromissos na construção deste projeto,
e isso não é pouco.
Temos nos perguntado recorrentemente:
para que serve um projeto? A meu ver, um
projeto tem o mérito de nos ajudar a
caminhar, a entender que a história é um
processo de largo curso. (2014)

Ivanete Boschetti A reação a essa herança conservadora, Este é um tema recorrente no campo do
nomeada pelo autor como “intenção de Serviço Social, pois, não raro, análises
ruptura”, começa a se gestar timidamente conservadoras reiteram que existiria um
nos anos 1960, ganha densidade a partir do fosso entre um projeto de formação baseado
final dos anos 1970, e forja coletivamente o na teoria crítica marxista e uma prática
Projeto Ético-Político, que tem no profissional que não incorporaria essas
Congresso da Virada de 1979 sua mais referências teóricas e incorreria em
emblemática expressão. Conforme sinaliza trabalhos profissionais conservadores e
o autor, a reação ao conservadorismo e a reiterativos. Em outros termos, essas análises
construção do Projeto Ético-Político insistem em reafirmar que existe um enorme
Profissional só foram possíveis pela distanciamento entre uma vanguarda
conjunção de importantes processos. profissional que afirma e defende o Projeto
Primeiro, pela incorporação da teoria Ético-Político — e aqui se incluem, sobretudo,
crítica marxista no âmbito da pesquisa e docentes e direção das entidades — e uma
da produção de conhecimento pelo base de assistentes sociais que estaria cada
Serviço Social, que alçou a profissão à vez mais desconectada profissional e
estatura das melhores produções críticas politicamente desse projeto. Esse
existentes sobre questão social, política distanciamento, dizem essas análises, resultaria
social, direitos e emancipação, de um avanço do conservadorismo no âmbito
fundamentos do Serviço Social, ética, e da prática profissional, que afastaria os(as)
lhe permitiu romper com o pensamento assistentes sociais da vanguarda profissional e
conservador predominante nas ciências estaria na base de um processo de derruição do
sociais. Segundo, pela articulação do Projeto Ético-Político Profissional. (2015)
Serviço Social com movimentos sociais e
partidos políticos anticapitalistas, o que lhe
atribui um compromisso ético-político e
profissional com as classes trabalhadoras,
incrustado em nosso Código de Ética
Profissional. Terceiro, pela superação do até
então monopólio conservador que orientava
a formação e o trabalho profissional, por
meio do confronto crítico de ideias, valores,
princípios e teorias. E quarto, pela
construção de uma organização teórica-
política-profissional — Conjunto
CFESS/Cress, Abepss e Enesso —
comprometida com valores e lutas
anticapitalistas (Netto, 2009, p. 149).(2015)

Ana Maria Vasconcelos É pelo conjunto da prática dos assistentes A profissão, do seu desenvolvimento até os
sociais que a profissão de Serviço Social é anos 60, não teve polêmica de relevo que
reconhecida ou não, valorizada ou não, ameaçasse o bloco hegemônico conservador
respeitada ou não, conquistando sua que dominou tanto a produção do conhecimento
autonomia e espaços ou não. Nesse sentido como as entidades organizativas4 e o trabalho
é que o estudo inicia uma análise da profissional. Alguns assistentes sociais com
106

viabilidade do projeto hegemônico no debate posições progressistas questionavam a direção


teórico da categoria profissional mediar, de do Serviço Social, mas não tiveram condição de
forma hegemônica, a prática dos assistentes alterá-la. Nos anos 60, esta situação começou a
sociais. Objetivamos dar visibilidade à se modificar, surgindo um debate na profissão
organização e operacionalização da prática questionando o seu conservadorismo. Essa
profissional dos assistentes sociais nas discussão não surgiu de forma isolada, mas
diferentes unidades de saúde – apreensão com respaldo das questões levantadas pelas
da lógica da prática profissional -, a partir de ciências sociais e humanas, principalmente em
observação de campo e de entrevistas com torno da temática do “desenvolvimento” e de
os assistentes sociais, com resgate das suas repercussões na América Latina5 . Esse
possibilidades de prática explicitadas neste processo de crítica foi abortado pelo golpe
movimento. Buscamos os determinantes do militar de 1964, com a neutralização dos
trabalho realizado pelos assistentes sociais, protagonistas sócio-políticos comprometidos
traçando um perfil sócio-econômico, cultural, com a democratização da sociedade e do
teórico e ético-político dos profissionais Estado (Bravo, 1996). A modernização
entrevistados a partir da apresentação das conservadora implantada no país exigiu a
referências teóricas e éticas que sustentam renovação do Serviço Social, face às novas
o trabalho realizado. A pesquisa mostrou estratégias de controle e repressão da classe
que há uma desconexão, uma fratura trabalhadora efetivadas pelo Estado e pelo
entre a prática profissional realizada grande capital, bem como para o atendimento
pelos assistentes sociais, os quais, direta das novas demandas submetidas à
ou indiretamente, tomam como referência racionalidade burocrática. O principal veículo
o projeto ético-político, e as responsável pela elaboração teórica do Serviço
possibilidades de prática contidas na Social, no período de 1965 a 1975, foi o Centro
realidade, objeto da ação profissional, as Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em
quais só podem ser apreendidas a partir Serviços Sociais (CBCISS). Este difundiu a
de uma leitura crítica da realidade, fruto “perspectiva modernizadora” no sentido de
de uma conexão sistemática - ainda não adequar a profissão às exigências postas pelos
existente - entre a prática profissional e o processos sócio-políticos emergentes no pós
debate hegemônico na categoria.(2000) 1964 (Netto, 1996). Esta perspectiva teve como
núcleo central a tematização do Serviço Social
como integrador no processo de
desenvolvimento, com aportes extraídos do
estrutural-funcionalismo norte-americano, sem
questionar a ordem sócio-política e sim, com a
preocupação de inserir a profissão numa
moldura teórica e metodológica. (2004). ( Em
co-autoria com Maurilio Matos)
Fonte: Banco de Dados da Pesquisa. Grifos meus.

Nos fragmentos acima aparecem, ao mesmo tempo, pontos de convergência e


divergência. É reconhecido pelos autores que houve um esforço de “intenção de
ruptura”; que essa “intenção de ruptura” não é consequência, unicamente, de um
movimento interno da categoria, mas, sobretudo de movimentos e demandas
societárias; há também consenso no que se refere à necessidade de superação
conservadorismo, modelo a ser substituído por um novo projeto ético político. A ideia
desse descolamento ter sido processual também é um ponto de convergência entre
os autores, que igualmente sinalizam que embora se queira hegemônico, o novo
projeto ético político do serviço social, o projeto profissional do serviço social – e não
dos assistentes sociais – tem concorrência. Vasconcelos (2000) evocando dados de
uma pesquisa sinaliza uma consequência a nosso ver da distancia de trato na
formação ao debate sobre conservadorismo e PEP. Ela afirma que:
107

A pesquisa mostrou que há uma desconexão, uma fratura entre a


prática profissional realizada pelos assistentes sociais, os quais,
direta ou indiretamente, tomam como referência o projeto ético-
político, e as possibilidades de prática contidas na realidade, objeto
da ação profissional, as quais só podem ser apreendidas a partir de
uma leitura crítica da realidade, fruto de uma conexão sistemática -
ainda não existente - entre a prática profissional e o debate
hegemônico na categoria. (VASCONCELOS, 2000, p.4)

Essa reflexão de Vasconcelos joga luz sobre nosso debate. O conservadorismo


estava centrado em processos práticos da profissão. No “modo de fazer” o trabalho
da assistente social. A proposição de ruptura retirou isso sem ocupar esse espaço.
Reiteramos que não estamos evocando a dicotomia teoria-prática. Penso que
Vasconcelos nos abriu a possibilidade de pensarmos a dicotomia entre práxis e
discurso. Talvez ai esteja “a fratura” sinalizada. Outros elementos dessa “fratura”: a
inserção intensa do serviço social no Estado e suas funções como principal – talvez
única – forma de identidade; a adoção, ainda que não assumida ou esclarecida, das
políticas públicas como fim da profissão e não como meio e uma produção teórica
centrada na leitura crítica da realidade, necessária para a prática, mas que não não
se aproxima da prática.

Boschetti (2015) refuta a conclusão e a consideração feita por Vasconcelos,


imputando essa conclusão a uma “ analise conservadora”:

(...) análises conservadoras reiteram que existiria um fosso entre um


projeto de formação baseado na teoria crítica marxista e uma prática
profissional que não incorporaria essas referências teóricas e
incorreria em trabalhos profissionais conservadores e reiterativos.
Em outros termos, essas análises insistem em reafirmar que
existe um enorme distanciamento entre uma vanguarda
profissional que afirma e defende o Projeto Ético-Político — e
aqui se incluem, sobretudo, docentes e direção das entidades —
e uma base de assistentes sociais que estaria cada vez mais
desconectada profissional e politicamente desse projeto. (2015,
p. 638). Grifos meus.

Nessa divergência, ficamos com a opinião de Vasconcelos. A pesquisa realiza por


SILVA (2010) que deu origem ao livro A materialização do projeto ético político do
108

serviço social, chegou a mesma conclusão: o projeto ético político da categoria não
tem uma discussão aprofundada na formação, possibilitando assim uma
compreensão difusa dos discentes que serão futuros profissionais. Na mesma
pesquisa foi constatado que os/as assistentes não usam o PEP como instrumento
de trabalho, como meio e que ele aparece como um mosaico de ações.

Ainda sobre o aspecto trazido por Boschetti, não me arrisco a estabelecer uma
relação de “culpa”, mesmo porque isso seria uma prática judaico-critã de análise.
Mas acredito que existe – e os dados da história mostram isso – uma parcela de
agentes que foram mobilizadores, lideres e ordenadores da construção do PEP. O
movimento de construção do PEP foi uma necessidade que teve nas condições
objetivas sua fonte, mas que não foi debatido com a base. Da mesma forma, o
conservadorismo em todas as suas versões também não foi. O debate sobre o PEP
ainda se circunscreve à academia e aqueles que participam das instancias
organizativas da categoria.

Como tratado anteriormente, a nosso ver, o conservadorismo e PEP são dois lados
da mesma moeda na trajetória do serviço social no Brasil. A existência do PEP
remete a existência do pensamento conservador. E o fio condutor dessa discussão é
a formação dos intelectuais em serviço social, em especial desses novos intelectuais
que emergem do movimento de reconceituação e, convencidos da necessidade de
resignificar o serviço social sem um horizonte de como isso resignificaria os
profissionais do serviço social. O serviço social e os assistentes sociais não são
sinônimos nem o mesmo ente. Modificar as bases de fundamentação, mudar a
orientação da profissão e até a formação, não implica em mudar a forma como os
docentes, discentes e profissionais trabalharão e é no mundo do trabalho, no mundo
concreto que percebemos a aderência ou não ao novo proposto e suas adaptações.

A discussão proposta por nós da ligação entre o conservadorismo e o PEP rebate


sobre a ideia de projetos profissionais. Afinal, na medida em que o serviço social
decide por um outro projeto profissional, ele assume a existência de outro que se
quer destituir. NETTO, (1999, p.4) explica:
109

Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma


profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam
e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos
(teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem
normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as
bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as
outras profissões e com as organizações e instituições sociais
privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o
reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais).
Tais projetos são construídos por um sujeito coletivo – o respectivo
corpo (ou categoria) profissional, que inclui não apenas os
profissionais “de campo” ou “da prática”,mas que deve ser
pensado como o conjunto dos membros que dão efetividade à
profissão. É através da sua organização (envolvendo os
profissionais, as instituições que os formam, os pesquisadores,
os docentes e os estudantes da área, seus organismos
corporativos, acadêmicos e sindicais etc.) que um corpo
profissional elabora o seu projeto. Se considerarmos o Serviço
Social no Brasil, tal organização compreende o sistema
CFESS/CRESS, a ABEPSS, a ENESSO, os sindicatos e as demais
associações de assistentes sociais. Grifos meus.

Netto sinaliza elementos importantes não apenas para olharmos o PEP mas par
analisarmos a presença do conservadorismo: Ela destaca a presença do corpo
profissional “não apenas os profissionais “de campo” ou “da prática”. Estes
profissionais são maioria na categoria profissional. A minoria é representada pelo
campo da docência, e no caso do serviço social, são a maioria docentes que
ocupam as entidades dirigente da categoria. Sobre esse aspecto discutiremos
noutro momento. Ao que o autor chama de corpo profissional, Bourdieu chama de
campo. E no que se refere a esse campo, os profissionais de “da prática”
encontram-se em desvantagem, ainda que sejam a maioria.

Gostaria de concluir esse capítulo destacando um fenômeno que ocorre no serviço


social: a academicização das discussões, que acabam por academicizar as
instâncias representativas da categoria. Utilizarei apenas um dado para demonstrar
isso por perceber que isso influencia a discussão sobre o conservadorismo e o
projeto ético político do serviço social.

Temos três grandes instancias representativas: O conjunto CFESS/CRESS, que é


continente de todos/as profissionais; A ABEPSS, que é continente dos docentes e
110

pesquisadores em serviço social e a ENESSO, que é continente dos discentes.


Todas importantes e reconhecidas como espaços de representação e luta.

Observemos as quatro ultimas gestões do CFESS, utilizando apenas os dados dos


conselheiros titulares:

TABELA 4. PERFIL DOS MEMBROS TITULARES E SUPLENTES DAS GESTÕES CFESS 2005 A
2017
ATIVIDADE ANO DE GESTÃO
PROFISSIONAL N %
2005-2008 2008-2011 2011-2014 2014-2017
DOCENTE 12 14 15 12 53 75,7
NÃO DOCENTE 2 4 1 6 11 15,7%
NÃO INFORMADO 4 2 6 8,6%
Fonte: Banco de dados da Pesquisa

Segundo os dados, há significativa concentração de docentes à frente da principal


instância organizativa da categoria que tem nesse segmento, o menor número de
profissionais. Ainda com todo crescimento e expansão do ensino superior e do curso
de serviço social, em todas as modalidades: à distância e presencial, em instituições
públicas e privadas, certamente a docência é o espaço ocupacional que tem o
menor número de assistentes sociais se comparado aos demais, mas que ao
mesmo tempo consegue capitanear mais poder e prestígio. Essa condição não é
recente. No prefácio do livro Renovação e conservadorismo, prof. José Paulo Netto
já indica a força dos docentes desde o movimento de reconceituação, passando pelo
Congresso da Virada e nas ações que se seguiram. Não se trata, pois de “satanizar”
a condição docente nem de desqualificar suas ações e contribuições. O debate é
para mostrar como o campo e o poder dentro dele vem se desenhando.
111

CAPITULO III - DEZ ANOS DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO NOS CELEIROS


SIMBÓLICOS DA PROFISSÃO: CBAS, ENPESS, ENCONTROS NACIONAIS E
REVISTA SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE.

E eu dependo do que eu não entendo.


Nando Reis

É preciso saber de nós mesmos porque dependemos do que nós não conhecemos.
Conhecemos nossa profissão? A categoria? Nossas produções e produtores?
Conhecemos o projeto ético político e sua outra face, o conservadorismo? Onde, em
que espaços e com que formas e frequências eles se apresentam a nós? O esforço
nesse capítulo é dar visibilidade a essas questões e sinalizar caminhos.

Uma vez já compreendido o campo, seus agentes e mecanismos, torna-se mais fácil
lançamos o olhar sobre as produções desse campo, os espaços por onde essa se
materializa e quem são seus produtores e leitores.

Compreender a gênese do campo social, e apreender aquilo que faz


a necessidade especifica da crença que o sustente, do jogo de
linguagem que nele se joga, das coisas materiais e simbólicas em
jogo que nele se geram, é explicar, tornar necessário, subtrair ao
absurdo do arbitrário e do não-motivado os atos dos produtores e as
obras por eles produzidas e não, como geralmente se julga, reduzir
ou destruir. (Bourdieu, p. 69).

A trajetória da produção em serviço social espraia-se hoje por diversos espaços em


várias regiões do Brasil. Escolhemos para observar a produção sobre a temática do
conservadorismo e do projeto ético político olhar quatro desses espaços no período
de tempo entre 2006 a 2016. São eles:

 Os Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais -CBAS;


 Os Encontros Nacionais de Ensino e Pesquisa de Serviço Social-ENPESS;
 Os Encontros Nacionais da Categoria e a
112

 As Revista Serviço Social e Sociedade.

A escolha por esses espaços se deve ao fato deles se colocarem como principais
espaços de produção cientifica e intelectual da categoria: o CBAS, os ENCONTROS
NACIONAIS DA CATEGORIA e o ENPESS, organizados pelas principais entidades
organizativas da categoria: os dois primeiro pelo Conjunto CFESS/CRESS o último
pela ABEPSS. Todos são espaços-vitrine, combinando a exposição de trabalhos, no
caso dos CBAS e dos ENPESS, e de organização do plano de ação da categoria
onde se define um instrumento chamado agenda de lutas, no caso dos Encontros
Nacionais da categoria.

Nesses espaços, circulam os discursos e narrativas oficiais da categoria e de seus


pensadores. Circula a ordem, os princípios, as formas de luta, as bandeiras, os
incluídos e os excluídos.

Limitamos o período de 2006 a 2016 por que nesse período a profissão entrou nos
seus 80 anos; A ABESS fez 70 anos, O Movimento de Reconceituação fez 50 anos;
O Congresso da Virada fez 30 anos, A Revista Serviço Social e Sociedade fez 30
anos e as Diretrizes Curriculares completaram 20 anos. Com essas variáveis
chegamos aos seguintes números de fonte de dados:

 4 CBAS: 2007, 2010, 2013 e 2016;


 6 ENPESS: 2006, 2008, 2010, 2012, 2014 e 2016;
 11 Encontros Nacionais que é um evento anual e,
 43 revistas Serviço Social e Sociedade.

Cada um desses espaços tem objetivos específicos e podem ser considerados, os


quatro, barômetros dos anseios tanto da categoria quanto da classe dirigente. Dessa
forma, esses espaços e as discussões visíveis ou invisíveis neles acabam por se
tornar vias de expressão legítimos das temáticas na e para a categoria.
113

De pronto podemos afirmar que o que se sabe da profissão antes do Congresso da


“Virada” (1979) centra-se nos registros de um esforço de teorização do serviço
social. Esse esforço de teorização, e podemos dizer também de territorialização do
serviço social brasileiro, a partir da reconceituação até hoje, é classificado como um
percurso tradicional da profissão, por aqueles que se acham noutro lugar. É preciso
re-conhecer mais profundamente o que era a profissão antes do III CBAS, para além
da classificação como tradicional. O percurso da pesquisa desenhou essa lacuna de
registros, informações e detalhes acerca do que era o serviço social, de quem eram
os assistentes sociais, de como estes trabalhavam e quais as suas preocupações
profissionais, dirigentes ou acadêmicas. Uma via de elucidação se abriu: o que era o
serviço social antes da “virada”?

Embora tenha sido eleito, para a análise, a produção da categoria no período de


2006 a 2016, é fundamental para entendermos esse período darmos uma noção da
trajetória histórica desses momentos de discussão e produção da categoria.

3.1 Revista Serviço Social e Sociedade: veio com a “Virada”.

Na trajetória histórica do Serviço Social brasileiro, a


revista Serviço Social & Sociedade é, sem dúvida, um
ator fundamental e estratégico. Os desafios continuam,
e, numa arena de disputas cada vez mais presentes na
sociedade, com reflexos importantes no meio
acadêmico e profissional, veículos com as
características de nossa revista têm de ser preservados
e renovados, fortalecendo seu papel de difusor de um
conhecimento crítico fundamentado e comprometido
com as questões prementes do Serviço Social e da
sociedade brasileira. (Editorial, 127)

O título dessa sessão não é uma certidão de nascimento. A Revista Serviço Social e
Sociedade da Editora Cortez, teve seu primeiro número em 1979, ano do Congresso
da “Virada”. Tanto a revista quanto a própria editora tem uma relação umbilical com
a disseminação de conhecimento em serviço social.
114

SILVA (1990, p 31-32) escrevendo sobre os 30 anos da Revista Serviço Social e


Sociedade afirmou:

No campo das contribuições da Revista Serviço Social & Sociedade


para a construção do Serviço Social brasileiro, destaco:
 A partir do primeiro número, publicado em setembro de 1979, a
Revista Serviço Social & Sociedade vem contribuindo para a
laicização e difusão da produção científica do Serviço Social,
num processo de articulação entre os caminhos da Revista e o
Serviço Social e, deste, com os diferentes momentos
conjunturais vivenciados pelos assistentes sociais na
sociedade brasileira;
 Apresenta grande contribuição para a divulgação e
reconstrução da teoria de referência; para a formação
profissional em nível de graduação, pós-graduação e formação
continuada; para a instrumentalização metodológica dos
profissionais; para inserção nos espaços profissionais, quer
nas instituições e nos movimentos sociais;
 Oferece grande contribuição para a assistência social
transformar-se em Política Pública, divulgando idéias e
oferecendo suporte para o forte movimento dos assistentes
sociais nesse âmbito;
 Vem antecipando tendências e sendo sensível a temáticas
emergentes e polarizadoras;
 Contribui para a compreensão do movimento estrutural e
conjuntural da sociedade brasileira, ao oferecer suporte para
inserção consciente e crítica dos assistentes sociais no
movimento histórico, colocando temas emergentes, avanços
tecnológicos e seus impactos no campo do trabalho social;
 Contribui significativamente para maior visibilidade do Serviço
Social brasileiro no contexto latino-americano; para o
fortalecimento dos centros de formação em nível de graduação
e de pós-graduação, constituindo-se em espaço importante
para divulgação das produções desses centros;
 Cria opinião sobre questões mais gerais da sociedade e,
particularmente, para questões específicas e relevantes para o
Serviço Social;
 Instiga e estimula os assistentes sociais que estão na prática
interventiva, por se constituir em fonte de informação e de
formação;
 Apóia e incentiva a organização dos assistentes sociais e as
entidades representativas do Serviço Social no Brasil e na
América Latina;
 Desenvolve importante contribuição na mediação interna, no
interior do Serviço Social, e entre o Serviço Social e áreas afins
do conhecimento.

Em suma, as publicações da Revista Serviço Social & Sociedade,


durante as três décadas percorridas pelo presente estudo,
apresentam, sobretudo, uma contribuição inquestionável para a
construção do Projeto Profissional de Ruptura/Projeto Ético-
Político-Profissional do Serviço Social que vem se
desenvolvendo como alternativa profissional hegemônica
115

desde o final da década de 1970 e, com maior expressão,


durante os anos 1980 e 1990, o que representa a recusa do
conservadorismo que marcou a criação e a institucionalização do
Serviço Social no Brasil. (Grifos meus)

A Revista Serviço Social e Sociedade se tornou um porto para a produção intelectual


do serviço social brasileiro. Tornou-se ponto de partida, via de escoamento de
produção e da reprodução acadêmico-científica do serviço social.

Mapeamos o período das publicações da revista no mesmo de 2006 a 2016. Foram


encontradas 43 revistas. Destas 8 delas, cerca de 18.6%, trouxeram 11 textos,
versando sobre o conservadorismo ou sobre o PEP.

Destaco que fizemos uma seleção dos artigos que discutiam objetivamente o PEP
ou o conservadorismo. Observamos que a utilização de alguns “sinônimos” acabam
por afastar a discussão principal pra nós que é ver o trato dado ao que se chama de
Projeto Ético Político e conservadorismo.

TABELA 5. REVISTA SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE ARTIGOS DISCUTINDO


CONSERVADORISMO E O PEP 2006-2016.
ANO N TEMA CONSERVADORISMO PEP
2007 91 PROJETO PROFISIONAL E DESAFIOS DO PROJETO
CONJUNTURA PROFISSIONAL DE RUPTURA
COM O CONSERVADORISMO
92 POLÍTICA SOCIAL, DESAFIOS . PEP , NECESSIDADES E DIREITOS
PARA O SERVIÇO SOCIAL SOCIAIS
2009 97 SERVIÇO SOCIAL, HISTÓRIA O PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO
E TRABALHO SOCIAL: O SENTIDO DA RUPTURA
2011 106 TEMAS RELATIVOS À BARBÁRIE E BARBÁRIE E
EDUCAÇÃO E À FORMAÇÃO NEOCONSERVADORISMO: OS NEOCONSERVADORISMO: OS DESAFIOS
PROFISSIONAL DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO- DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO
POLÍTICO
2015 122 TEMAS EMERGENTES O CONSERVADORISMO
MODERNO: ESBOÇO PARA UMA
APROXIMAÇÃO
124 CONSERVADORISMO 1.NÃO PASSARÃO! OFENSIVA
NEOCONSERVADORA E
SERVIÇO SOCIAL;
2. EXPRESSÕES DO
CONSERVADORISMO NA
FORMAÇÃO PROFISSIONAL;
3. CONSERVADORISMO E
EXTREMA-DIREITA NA EUROPA
E NO BRASIL

2016 126 ENVELHECIMENTO LÖWY, MICHAEL, EDMUND


BURKE E A GÊNESE
CONSERVADORISMO.
127 80 ANOS DO SERVIÇO 80 ANOS DE FORMAÇÃO EM
SOCIAL BRASILEIRO SERVIÇO SOCIAL: UMA
TRAJETÓRIA DE RUPTURA COM
O CONSERVADORISMO
116

80 ANOS DE SERVIÇO SOCIAL


NO BRASIL: ORGANIZAÇÃO
POLÍTICA E DIREÇÃO SOCIAL
DA PROFISSÃO NO PROCESSO
DE RUPTURA COM O
CONSERVADORISMO
FONTE: BANCO DE DADOS DA PESQUISA, 2017.

Partamos para os pontos comuns às publicações:


 Todos os artigos rendem tributos à discussão sobre o PEP e o
conservadorismo ao fato do Movimento de Reconceituação ter varrido a
América Latina a partir da década de 1960;
 Todos os artigos foram escritos por docentes;
 Apenas um deles discute articuladamente o PEP e o conservadorismo;
 Nos últimos 10 anos foi possível derramar a discussão sobre o PEP e o
conservadorismo para uma diversidade de aspectos acerca da formação e
dos espaços profissionais;
 Apenas um dos trabalhos faz um resgate de entender o conservadorismo à
luz dos pensadores conservadores;
 Todos os textos fazem a discussão tendo como ponto a ser analisa alguma
expressão direito: a formação, o trabalho, a democracia, a autonomia, a ética,
necessidades humanas, a política, o conhecimento.

TABELA 6. REVISTA SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADEELEMENTOS DOS ARTIGOS, 2006-2016.


ANO NÚMERO ARTIGO AUTOR/A RESUMO

2007 91 DESAFIOS DO PROJETO MARIA BEATRIZ COSTA O ARTIGO REFERE-SE AOS


PROFISSIONAL DE RUPTURA ABRAMIDES DESAFIOS POSTOS AO PROJETO
COM O CONSERVADORISMO PROFISSIONAL DO SERVIÇO
PROFESSORA DA PUC-SP SOCIAL BRASILEIRO NOS MARCOS
DO PROCESSO DE RUPTURA COM
O CONSERVADORISMO, NA
PRIMEIRA QUADRA SÉCULO DO
XXI. AS RESPOSTAS DO CAPITAL À
SUA PRÓPRIA CRISE ESTRUTURAL,
NO MUNDO DO TRABALHO, NA
ESFERA DO ESTADO E NO ÂMBITO
DA CULTURA TÊM ATINGIDO
BRUTALMENTE A CLASSE QUE
VIVE DO SEU TRABALHO,
DESTRUINDO DIREITOS SOCIAIS E
TRABALHISTAS HISTORICAMENTE
CONQUISTADOS. AS EXPRESSÕES
DESTA CRISE NA CONJUNTURA
BRASILEIRA SE ACENTUAM COM A
CONSOLIDAÇÃO DO
NEOLIBERALISMO NO BRASIL NOS
DOIS MANDATOS DE FHC E DE SUA
CONTINUIDADE NO GOVERNO
LULA DA SILVA. NOVOS E
COMPLEXOS DESAFIOS SE
APRESENTAM NA PERSPECTIVA DE
REAFIRMAR A DIREÇÃO
SOCIOPOLÍTICA DO PROJETO
PROFISSIONAL E DE SUA
AUTONOMIA FACE A QUALQUER
GOVERNO, TAL QUAL O
CONQUISTAMOS NOS ÚLTIMOS
TRINTA ANOS

92 PROJETO ÉTICO POLÍTICO, ADRIANA FONSECA DE AZEVEDO. TENDO COMO REFERÊNCIA O


NECESSIDADES E DIREITOS PROFESSORA DA UNIVERSIDADE SERVIÇO SOCIAL E SEU ESFORÇO
117

SOCIAIS FEDERAL DO PARANÁ; HÉLDER PARA CONSTRUÇÃO DE UM


BOSKA DE MORAES SARMENTO. PROJETO ÉTICO POLÍTICO
PROFESSORA DA UNIVERSIDADE PAUTADO NA CONQUISTA E
FEDERAL DE SANTA CATARINA. AFIRMAÇÃO DA DEMOCRACIA E
DIREITOS SOCIAIS, PARTE-SE DO
PRESSUPOSTO QUE A
VIABILIZAÇÃO DESSES DIREITOS
PASSA PELA COMPREENSÃO DAS
NECESSIDADES SOCIAIS. DESSE
MODO, FAZ-SE URGENTE E
NECESSÁRIO REFLETIR NO PLANO
TEÓRICO E FILOSÓFICO SOBRE A
COMPREENSÃO DO CONCEITO DE
NECESSIDADES SOCIAIS NOS
MARCOS DO CAPITALISMO E A
INFLUÊNCIA DOS
CONDICIONAMENTOS SOCIAIS
ALIENANTES NA LIMITAÇÃO E
DETERMINAÇÃO DAS
NECESSIDADES NO MUNDO ATUAL.
DO CONTRÁRIO, PERSISTIRÁ UM
HORIZONTE TEÓRICO E POLÍTICO
FRÁGIL E INCONSISTENTE,
MINIMIZADOR DE SUA
POTENCIALIDADE.

97 O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO IOLANI SOARES DA SILVA O ESTUDO SE REFERE AO


DO SERVIÇO SOCIAL PROJETO PROFISSIONAL DE
PROFISSIONAL DO SERVIÇO : O RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL
SENTIDO DA RUPTURA CONTEMPORÂNEO, MAIS
PRECISAMENTE NO QUE DIZ
RESPEITO ÀS SUAS
PERSPECTIVAS E RESPOSTAS.
RECORREREMOS AO CÓDIGO DE
ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS
DE 1993, POIS CONDENSA A
VALORIZAÇÃO ÉTICA DE FORMA
PECULIAR. POR MEIO DELE
PODEMOS IDENTIFICAR OS
PRESSUPOSTOS DO
COMPROMISSO PROFISSIONAL DO
SERVIÇO SOCIAL
CONTEMPORÂNEO, TANTO COM
RELAÇÃO À UTOPIA COMO ÀS
PROPOSTAS PROFISSIONAIS.
EMBORA AS DIRETRIZES
NORTEADORAS DO PROJETO
PROFISSIONAL NÃO SE LIMITEM A
ELE, OS VALORES ÉTICOS POR ELE
IDENTIFICADOS COMPORTAM O
SENTIDO DA DIREÇÃO SOCIALDA
PROFISSÃO, BEM COMO SUAS
PROPOSTAS ATUAIS,

106 BARBÁRIE E MARIA LÚCIA S. BARROCO ESTE ARTIGO FOI DESENVOLVIDO


NEOCONSERVADORISMO: OS ASSISTENTE SOCIAL, PROFA. DE A PARTIR DE PALESTRA
DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO- ÉTICA PROFISSIONAL E REALIZADA NO SEMINÁRIO “30
POLÍTICO COORDENADORA DO NÚCLEO DE ANOS DO CONGRESSO DA
ESTUDOS E PESQUISA EM ÉTICA E VIRADA”, EM SÃO PAULO, EM 2009.
DIREITOS HUMANOS (NEPEDH) DO ANALISANDO OS DESAFIOS DO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS- PROJETO ÉTICO-POLÍTICO NA
GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL ATUAL CONJUNTURA, ASSINALA AS
DA PUC-SP, SÃO PAULO PRINCIPAIS DETERMINAÇÕES DA
SOCIABILIDADE
CONTEMPO- RÂNEA PARA
EVIDENCIAR O ETHOS DOMINANTE
NO CENÁRIO DO NEOLIBERALISMO
PÓS-MODERNO E AS FORMAS DE
SER QUE FAVORECEM O
NEOCONSERVADORISMO E CRIAM
OBSTÁCULOS À VIABILIZAÇÃO DOS
VALORES E PRESSUPOSTOS DO
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL.

2015 122 O CONSERVADORISMO JAMERSON MURILLO ANUNCIAÇÃO PROCURA-SE APREENDER


DE SOUZA PROFESSOR ALGUMAS DETERMINAÇÕES DO
MODERNO: ESBOÇO PARA UMA
ASSISTENTE I DO DEPARTAMENTO PENSAMENTO CONSERVADOR
APROXIMAÇÃO
DE SERVIÇO SOCIAL DA MODERNO. O PONTO DE PARTIDA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA É O PATAMAR ACUMULADO DE
PARAÍBA, CONHECIMENTO E CRÍTICA AO
CONSERVADORISMO QUE A
PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL
ESTABELECEU DESDE SEU
PROCESSO DE RENOVAÇÃO. O
OBJETIVO É FAZER UMA
APROXIMAÇÃO TEÓRICA ÀS
118

NOVAS CARACTERÍSTICAS QUE O


SISTEMA DE IDEIAS
CONSERVADOR ADQUIRE NA
ATUALIDADE.

124 NÃO PASSARÃO! OFENSIVA MARIA LÚCIA S. BARROCO ESTE ARTIGO DISCUTE O AVANÇO
NEOCONSERVADORA E ASSISTENTE SOCIAL, PROFA. DE DA DIREITA NO BRASIL PARA
SERVIÇO SOCIAL; ÉTICA PROFISSIONAL E APRESENTAR UMA CRÍTICA AO
COORDENADORA DO NÚCLEO DE IDEÁRIO CONSERVADOR E SUA
ESTUDOS E PESQUISA EM ÉTICA E ATUALIZAÇÃO NO
DIREITOS HUMANOS (NEPEDH) DO NEOCONSERVADORISMO,
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS- DESTACANDO SEUS VALORES,
GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL SUAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO,
DA PUC-SP, SÃO PAULO SUA MORALIZAÇÃO DA REALIDADE
SOCIAL E SUAS IMPLICAÇÕES
PARA A ÁREA DE SERVIÇO SOCIAL,
VISANDO A SEU ENFRENTAMENTO
TEÓRICO E PRÁTICO.

EXPRESSÕES DO IVANETE BOSCHETTI PROFESSORA O ARTIGO DISCUTE ALGUNS


CONSERVADORISMO NA DO DEPARTAMENTO DE SERVIÇO TRAÇOS QUE INDICAM O AVANÇO
FORMAÇÃO PROFISSIONAL; SOCIAL E PROGRAMA DE PÓS- OU A REATUALIZAÇÃO DO
GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL CONSERVADORISMO NO CAMPO
DA UNB, BRASÍLIA, BRASIL; DA FORMAÇÃO DO SERVIÇO
SOCIAL, TENDO COMO
PRESSUPOSTO QUE O
CONSERVADORISMO NUNCA
ESTEVE AUSENTE DA PROFISSÃO
E SE ALIMENTA NO TEMPO
PRESENTE POR DETERMINAÇÕES
SOCIETÁRIAS QUE FORTALECEM
SEU AVANÇO. TRATA-SE, TAMBÉM,
DE APRESENTAR UMA ANÁLISE
CRÍTICA QUE POSSA SER UM
FERMENTO PARA A INDIGNAÇÃO E
PARA O ESTÍMULO À CONSTRUÇÃO
DE FORMAS COLETIVAS E
INDIVIDUAIS DE RESISTÊNCIA.

CONSERVADORISMO E MICHAEL LÖWY DIRETOR DE TEMOS ASSISTIDO, NA EUROPA


EXTREMA-DIREITA NA EUROPA PESQUISAS EMÉRITO DO CENTRE DOS ÚLTIMOS ANOS, A UM
E NO BRASIL NATIONAL DE LA RECHERCHE ESPETACULAR ASCENSO POLÍTICO
SCIENTIFIQUE (CNRS)/PARIS E ELEITORAL DE FORÇAS DE
EXTREMA-DIREITA, RACISTAS,
XENÓFOBAS, FASCISTAS OU
SEMIFASCISTAS. UM FENÔMENO
QUE NÃO PODE SER UNICAMENTE
EXPLICADO PELA CRISE
ECONÔMICA, JÁ QUE EM DOIS DOS
PAÍSES MAIS ATINGIDOS POR ELA,
PORTUGAL E ESPANHA, A
EXTREMA-DIREITA É POUCO
PRESENTE NO CENÁRIO POLÍTICO,
ENQUANTO TEM UM PAPEL MUITO
SIGNIFICATIVO EM PAÍSES QUE
POUCO SOFRERAM COM ESSA
CRISE (SUÍÇA, ÁUSTRIA). NO
BRASIL NÃO TEMOS PARTIDOS
119

RACISTAS, A EXTREMA-DIREITA SE
MANIFESTA NO CHAMADO A UM
GOLPE MILITAR.

2016 126 LÖWY, MICHAEL, EDMUND JAMERSON MURILLO ANUNCIAÇÃO O ARTIGO PROCURA RECUPERAR
BURKE E A GÊNESE DE SOUZA PROFESSOR O CONTEÚDO DAS IDEIAS
CONSERVADORISMO. ASSISTENTE I DO DEPARTAMENTO POLÍTICAS E DAS ANÁLISES DE
DE SERVIÇO SOCIAL DA BURKE SOBRE O PROCESSO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA REVOLUCIONÁRIO NA FRANÇA.
PARAÍBA, ATRAVÉS DE UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA, DESTACA AS
PRINCIPAIS POSIÇÕES DO
FUNDADOR DO
CONSERVADORISMO. O OBJETIVO
CONSISTE EM RECONSTRUIR A
ESTRUTURA ORIGINÁRIA DO
CONSERVADORISMO COMO UMA
DAS IDEOLOGIAS
CONSERVADORAS SURGIDAS NO
PERÍODO MODERNO.

127 80 ANOS DE FORMAÇÃO EM PRISCILA FERNANDA GONÇALVES O PRESENTE ARTIGO VISA


SERVIÇO SOCIAL: UMA CARDOSO PROFESSORA ADJUNTA REALIZAR ANÁLISE CRÍTICA
TRAJETÓRIA DE RUPTURA COM DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA ACERCA DA FORMAÇÃO DOS
O CONSERVADORISMO UNIFESP/BS – SANTOS/SP – BRASIL ASSISTENTES SOCIAIS NO BRASIL
EM SEUS OITENTA ANOS DE
EXISTÊNCIA, RECONSTRUINDO A
TRAJETÓRIA DESSA FORMAÇÃO
DESDE A PRIMEIRA ESCOLA DE
SERVIÇO SOCIAL, FUNDADA EM
1936. RETOMA OS CURRÍCULOS
QUE DERAM BASE A TAL
FORMAÇÃO DESDE SUA GÊNESE,
PASSANDO POR TODOS OS
CURRÍCULOS MÍNIMOS
APROVADOS NACIONALMENTE,
ATÉ AS ATUAIS DIRETRIZES
CURRICULARES, DEMONSTRANDO
A IMPORTANTE INFLEXÃO
POLÍTICO-PEDAGÓGICA
REALIZADA NA RUPTURA COM O
CONSERVADORISMO

80 ANOS DE SERVIÇO SOCIAL MARIA BEATRIZ COSTA ABRAMIDES O PRESENTE ARTIGO SE REFERE À
NO BRASIL: ORGANIZAÇÃO DOUTORA EM SERVIÇO SOCIAL TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO
POLÍTICA E DIREÇÃO SOCIAL PELA PUC-SP, COORDENADORA SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO,
DA PROFISSÃO NO PROCESSO DO NEAM – NÚCLEO DE ESTUDOS CONSIDERADA A DIREÇÃO SOCIAL
DE RUPTURA COM O E PESQUISAS EM DA PROFISSÃO E O PROCESSO DE
CONSERVADORISMO APROFUNDAMENTO MARXISTA. RUPTURA COM O
SÃO PAULO/SP, BRASIL. CONSERVADORISMO. AS
DETERMINAÇÕES E OS CAMINHOS
DA PROFISSÃO SERÃO
ANALISADOS A PARTIR DO
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO
PROFISSIONAL HEGEMÔNICO EM
SUA RELAÇÃO COM AS LUTAS
SOCIAIS E OS DIREITOS DOS
TRABALHADORES.

FONTE: BANCO DE DADOS DA PESQUISA, 2017. GRIFOS MEUS


120

Os artigos selecionados com a exceção do de Michel Lowe, deixado em nosso


GRÁFICO por conta da comparação entre os países, todos os demais lançam mão
de um conectivo que é o foco de nossa reflexão: a ideia de ruptura. A nosso ver, a
“intenção” como NETTO expressa, ou a “pretensão” como colocamos anteriormente,
é o que liga e não o que separa esses dois momentos da história do serviço social: o
projeto ético político e o conservadorismo.

Talvez esteja nesse lugar de conectivo uma das sombras dessa discussão. Não há
uma produção elaborada pelos intelectuais conservadores em serviço social. Não há
produção que discuta o papel dos intelectuais nesse processo de ruptura. Não há
uma produção de material sobre essas questões para os profissionais não docentes.
A produção da discussão é de nós para nós mesmos, sem a mediação necessária
com o mundo concreto. E sem essa mediação, a discussão pode tornar-se estéril, e
toda hegemonia torna-se discursiva. Talvez Gramsci tenha se referido a isso
atentando a escolha que os intelectuais têm de fazer: ser um intelectual orgânico ou
não. São orgânicos aqueles intelectuais ligados à vida coletiva e suas formas de
produção e reprodução e que sabem que a capacidade intelectual não é um
privilégio ou uma dadiva.

3.2 Os Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais–CBAS. O espaço da


base sem a base – de 2006 a 2016

Embora tenhamos buscado, não conseguimos uma definição oficial do é o CBAS.


Apenas se sabe que é o maior evento da categoria.

Cabe destacar alguns elementos antes de encontrar e discutir os dados do CBAS:


1. O CBAS, em tese, deveria ser o espaço em que a base da categoria se
encontrasse, reconhecesse e debatesse temas do cotidiano profissional. Os
temas seriam aqueles que atingissem a realidade que os profissionais “da
ponta”. A base da categoria, não é a sua classe dirigente, embora esta venha
da base. É comum a polaridade base-academia, base-classe dirigente. Essa
polaridade requer mais audiência e visibilidade por parte dos pensadores do
121

serviço social. Ela parece denunciar que o que aflige a base da categoria não
é a mesma coisa que suscita a produção da academia. Ao mesmo tempo ela
também parece anunciar que é a classe dirigente, seja ela acadêmica ou
corporativa que vem indicando o que se deve discutir, secundário do que a
profissão é e para onde ela vai.
2. Sendo o CBAS o evento mor da categoria, dos profissionais o que o tutela
são os conselhos. Hoje essa coordenação é realizada por uma organização
denominada de Conjunto CFESS-CRESS, que deveria dar continenete a
todos as demandas dos profissionais em todos os espaços socio –
ocupacionais.

Nesses 82 anos da profissão tivemos 15 CBAS que começaram a ser assim


reconhecidos e contabilizados a partir de 1971. Antes desses 15 encontros, tivemos
dois CONGRESSOS BRASILEIROS DE SERVIÇO SOCIAL, conforme tabela
abaixo.

TABELA 7. TODOS OS CBAS DA CATEGORIA


ANO LOCAL EVENTO TEMÁTICA ENTIDADE(S) CONTEXTO
PROMOTORA(S)

1947 SÃO PAULO - I CONGRESSO SEM TEMA CENTRAL CENTRO BRASILEIRO DE SERVIÇO SOCIAL
SP BRASILEIRO DE DEFINIDO AÇÃO SOCIAL –CEAS TRADICIONAL
SERVIÇO SOCIAL

1961 RIO DE II CONGRESSO O CENTRO BRASILEIRO DE SERVIÇO SOCIAL


JANEIRO - RJ BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO COOPERAÇÃO E TRADICIONAL
SERVIÇO SOCIAL NACIONAL PARA O INTERCÂMBIO DE
BEM-ESTAR SOCIAL". SERVIÇO SOCIAL, DOCUMENTO DE
ARAXÁ (1967):
TEORIZAÇÃO E
RECONCEITUAÇÃO38
ASSISTENTES
SOCIAIS

1971 RIO DE I CONGRESSO Não encontrado CFAS SEMINÁRIO DE


JANEIRO - RJ BRASILEIRO DE TERESÓPOLIS (1970)
ASSISTENTES :SEMINARIO DE
SOCIAIS TEORIZAÇÃO DO
SERVIÇO SOCIAL.
35 ASSISTENTES
SOCIAIS
1972-1975 MÉTODO
BH

1976 RECIFE – PE II CONGRESSO O ASSISTENTE CFAS PRIMEIRO PÓS


BRASILEIRO DE SOCIAL NO MÉTODO BH
ASSISTENTES DESENVOLVIMENTO
SOCIAIS SOCIAL. (1972-1975)
INÍCIO DA TRADIÇÃO
MARXISTA NO
SERVÇO SOCIAL

1979 SÃO PAULO - III CONGRESSO SERVIÇO SOCIAL E CFAS PRIMEIRO


SP BRASILEIRO DE POLÍTICA SOCIAL CONGRESSO PÓS
ASSISTENTES DOCUMENTO DE
SOCIAIS SUMARÉ (1978)
122

CONGRESSO DA
VIRADA.
APROXIMAÇÃO
ENTREO PT E O
SERVIÇO SOCIAL

1982 RIO DE IV CONGRESSO "O ASSISTENTE CFAS PRIMEIRO PÓS


JANEIRO - RJ BRASILEIRO DE SOCIAL NA “VIRADA” PRIMEIRA
ASSISTENTES REALIDADE EDIÇÃO DO LIVRO
SOCIAIS BRASILEIRA". SERVIÇO SOCIAL E
RELAÇÇOES SOCIAIS
NO BRASIL DE
MARILDA IAMAMOTO
E RAUL CARVALHO;

1985 RIO DE V CONGRESSO "O SERVIÇO SOCIAL CFAS INICIO DO PROCESSO


JANEIRO - RJ BRASILEIRO DE NAS RELAÇÕES DE
ASSISTENTES SOCIAIS: REDEMOCRATIZAÇÃO
SOCIAIS MOVIMENTOS NO BRASIL
POPULARES E
ALTERNATIVAS DE
POLÍTICAS SOCIAIS".

1989 NATAL –RN VI CONGRESSO "CONGRESSO CHICO CFAS, ANAS, ABESS E PRIMEIRO
BRASILEIRO DE MENDES - SERVIÇO SESSUNE CONGRESSO PÓS
ASSISTENTES SOCIAL: AS PROMULGAÇÃO DA
SOCIAIS RESPOSTAS DA CONSTITUIÇÃO
CATEGORIA AOS FEDERAL DE 1988
DESAFIOS
CONJUNTURAIS".

1992 SÃO PAULO - VII CONGRESSO "SERVIÇO SOCIAL E CFAS, ANAS, ABESS E TEMOS O PRIMEIRO
SP BRASILEIRO DE OS DESAFIOS DA SESSUNE IMPEACHMANT.
ASSISTENTES MODERNIDADE: OS FERNANDO COLLOR
SOCIAIS PROJETOS SÓCIO- DE MELLO É
POLÍTICOS EM SUBSTITUIDO POR
CONFRONTO NA ITAMAR FRANCO
SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA".

1995 SALVADOR – BA VIII CONGRESSO "O SERVIÇO SOCIAL CFESS, ABESS, ENESSO PRIMEIRO APÓS A
BRASILEIRO DE FRENTE AO E CEDEPSS, ÚLTIMA LEIN. 8662/93
ASSISTENTES PROJETO DE
SOCIAIS NEOLIBERAL EM REGULAMENTAÇÃO
DEFESA DAS DA PROFISSÃOE
POLÍTICAS E DA ÚLTIMO CÓDIGO DE
DEMOCRACIA". ÉTICA LEI 273/93

1998 GOIANIA – GO IX CONGRESSO "TRABALHO E CFESS, ABEPSS, PRIMEIRO MOMENTO


BRASILEIRO DE PROJETO ÉTICO- ENESSO E CRESS 19ª EM QUE APARECE O
ASSISTENTES POLÍTICO REGIÃO TERMO ÉTICO-
SOCIAIS PROFISSIONAL". POLITICO COMO
TEMA DE UM CBAS.
AS DIRETRIZES
CURRICULARES DA
ABEPSS, ÚLTIMO
ELEMENTO DO
PEP,FORAM
FINALIZADAS EM
1996, RECONHECIDAS
DAS PELO MEC EM
2000

2001 RIO DE X CONGRESSO "TRABALHO, CFESS, ABEPSS, NO SEGUNDO


JANEIRO - RJ BRASILEIRO DE DIREITOS E ENESSO E CRESS 7ª GORVRTNO DE FHC
ASSISTENTES DEMOCRACIA: REGIÃO AVANÇA-SE NO
SOCIAIS ASSISTENTES PROJETO DE
SOCIAIS CONTRA A PRIVATIZAÇÕES E
DESIGUALDADE DIMINUIÇÃO DO
ESTADO

2004 FORTALEZA- CE XI CONGRESSO "O SERVIÇO SOCIAL CFESS, ABEPSS, PRIMEIRO CBAS NUM
BRASILEIRO DE E A ESFERA PÚBLICA ENESSO, E CRESS 3ª GOVERNO DE LULA. A
ASSISTENTES NO BRASIL: O REGIÃO PNAS É
SOCIAIS DESAFIO DE REGULAMENTADA
CONSTRUIR,
AFIRMAR E
CONSOLIDAR
DIREITOS".

2007 FOZ DO XII CONGRESSO QUESTÃO SOCIAL CFESS, ABEPSS, O PAC INICIA-SE.
IGUAÇU - PR BRASILEIRO DE NA AMERICA LATINA: ENESSO, E CRESS 11ª AVANÇA O ENSINO
ASSISTENTES OFENSIVA REGIÃO EAD EM SERVIÇO
CAPITALISTA, SOCIAL ATRAVÉS DA
123

SOCIAIS RESISTENCIA DE REFORMA


CLASSE E SERVIÇO UNIVERSITÁRIA.
SOCIAL

2010 BRASILIA – DF XIII CONGRESSO “LUTAS SOCIAIS E O CFESS, ABEPSS, SEGUNDO MOMENTO
BRASILEIRO DE EXERCÍCIO ENESSO, E CRESS 8ª DE TEMATIZAÇÃO DO
ASSISTENTES PROFISSIONAL NO REGIÃO PROJETO ÉTICO-
SOCIAIS CONTEXTO DA POLÍTICO EM
CRISE DO CAPITAL: UMCBAS.
MEDIAÇÕES E A MOVIMENTOS PARA
CONSOLIDAÇÃO DO EFETIVAÇÃO DA LEI
PROJETO ÉTICO DAS 30 HIRS DA
POLÍTICO CATEGORIA
PROFISSIONAL”

2013 AGUAS DE XIV CONGRESSO IMPACTOS DA CFESS, ABEPSS, MILHÕES DE


LINDOIA - SP BRASILEIRO DE CRISEDO CAPITAL ENESSO, E CRESS 9ª PESSOAS TOMAM AS
ASSISTENTES NAS POLITICAS REGIÃO RUAS EM DIVERSAS
SOCIAIS SOCIAIS E NO CIDADES DO BRASIL
TRABALHO DAS EXIGINDO
ASSISTENTES MUDANÇAS EM
SOCIAIS DIVERSAS
INSTANCIAS

2016 RECIFE -PE XV CONGRESSO 80 ANOS DE CFESS, ABEPSS, TEMOS O SEGUND


BRASILEIRO DE SERVIÇO SOCIAL. A ENESSO, E CRESS 4ª IMPEACHMANT DO
ASSISTENTES CERTEZA NA REGIÃO BRASIL. SAI DILMA
SOCIAIS FRENTE E A ROUSSEF E ASSUME
HISTÓRIA NA MÃO SEU VI PRESIDENTE
MICHEL TEMER

Fonte: Banco de dados da pesquisa, 2017. Grifos da autora.

O Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais – CBAS substituiu os Congressos


Brasileiros de Serviço Social, e embora haja muito produção acerca do que é
produzido e apresentado nos CBAS, não encontramos uma definição do que é esse
Congresso e seus objetivos. Os Congressos de Brasileiros de Serviço Social tiveram
o objetivo de se tornarem preparatórios para outros eventos: o primeiro foi
preparativo para “II Congresso Pan-Americano de Serviço Social”, realizado no Rio
de Janeiro, em 1949; o segundo foi “ato preparatório para a XI Conferência
Internacional de Serviço Social, realizada em Petrópolis (RJ), em 1962” (2011).

Esse contexto de ligação entre os Congressos Brasileiros de Serviço Social e sua


articulação com movimentos internacionais contribuíram para momentos definidores
da e na categoria, como os seminários de Araxá (1967), Teresópolis (1970) e
Sumaré (1978). Assim como o Método BH (1972/5) e a criação das primeiras pós-
graduações em 1978. Todo esse processo confluiu para a reconceituação do
Serviço Social em toda a América Latina, e no Brasil principalmente, onde a guinada
crítica e a intenção de ruptura desaguaram no Congresso da Virada em 1979, onde
o Serviço Social assume uma perspectiva mais crítica e progressista.
124

No material pesquisado existem duas expressões que se repetem de forma intensa


e que demonstram uma perspectiva genérica que influencia e muito, a nosso ver, o
discurso oficial. São elas: “o serviço social” definiu, estabeleceu, seguiu etc; e “os
assistentes sociais” adotaram, elegeram, definiram. Esse aspecto se torna relevante
na medida em que dá a entender que houve uma aderência coletiva a ideia colocada
após as expressões. Essa armadilha dá uma ideia de coesão profissional e de
consenso conhecido e compartilhado. É óbvio que é apenas uma ideia, posto que se
assim fosse no mundo concreto, não haveria receio do “avanço” do
conservadorismo, ou neoconservadorismo e não se disseminaria a idéias de “
projeto hegemônico.

O critério de seleção dos trabalhos observou a presença dos termos PROJETO


ÉTICO-POLITICO e CONSERVADOR nos títulos e nos resumos dos trabalhos,
sendo afastados da seleção todos aqueles trabalhos que só citávamos os termos
sem discuti-los. Ou seja, os trabalhos selecionados, deveriam não apenas dizer as
palavras, mas discutir os conceitos. Selecionamos os que só discutiam o PROJETO
ÉTICO POLÍTICO, os que só discutiam o CONSERVADORISMO e incluímos
aqueles que fizeram uma discussão com ambos os conceitos.

Um dado a se destacar que dos 15 CBAS apenas 2 tinham em seu tema central o
Projeto Ético Político – o IX , de 1998 e o XIII de 2010 – todos pós Diretrizes
Curriculares acolhida pela categoria em 1996, aprimorada pelos especialista da área
de conhecimento da CAPES em 1999, e oficializada pelo MEC em 2000.

Observando a produção de conhecimento apresentada nos CBAS de 2006-2016 e


presentes nos Anais dos eventos, temos o seguinte panorama:
125

4682
5000
4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000 98 25 8
500
0
TRABALHOS PEP CONSERVADORISMO AMBOS

GRÁFICO 1. Número de Trabalhos Publicados no CBAS de 2006-2016.


Fonte: Banco de dados da pesquisa, 2016.

O conjunto desses 4 CBAS teve cerca de 2,09% das discussões focadas na


discussão do PEP da categoria; As produções considerando o conservadorismo
ocuparam 0,53% dos trabalhos. A articulação entre conservadorismo e PEP teve
apenas 0,17% dos trabalhos em 10 anos. Não são apenas números e frequências.
Esses dados são expressão e sinalizam a baixa importância, relevância e
visibilidade da discussão dessa temática, em tese, emergindo da base da categoria
no cotidiano profissional. Um fato relevante é o fato disso ter ocorrido tendo na
história dos CBAS dois deles dedicados à temática do PEP: o primeiro em 1998 e o
segundo em 2010. Apenas o de 2010 será alvo de nossa analise.

Em 10 anos de produção científica (em tese, não acadêmica, visto que a


investigação é um elemento do processo de trabalho do assistente social com vistas
a intervenção) aceitas em 4 CBAS, espaço dedicado para as discussões da base da
categoria, tivemos 4.682 trabalhos. Levantamos essa questão acerca do espaço de
produção cientifica no CBAS não acadêmica porque a categoria também criou um
espaço, um evento em que a produção acadêmica da ciência já é contemplada, o
ENPESS. Penso que deveria haver uma separação já que existem dois eventos: o
CBAS e o ENPESS. Mas, o que se percebe é que o espaço da categoria como um
todo em sua diversidade, que é o CBAS e o ENPESS que deveria expressar um
126

ramo da diversidade do espaço sócio-ocupacional da categoria, a pesquisa e o


ensino, parecem ser um corpo só. Em nenhuma das fontes pesquisadas conseguiu-
se uma definição do que é o CBAS e do que é o ENPESS.

Desde 2016, os eixos de inscrição de trabalhos nos dois espaços são os mesmos:
No ENPESS eles são chamados de Grupo Temático de Pesquisa – GTP, criados em
2010 e no CBAS são chamados de Eixos Temáticos. São eles:
 Trabalho, Questão Social e Serviço Social;
 Política Social e Serviço Social;
 Serviço Social: Fundamentos, Formação e Trabalho Profissional;
 Movimentos Sociais e Serviço Social;
 Questões Agrária, Urbana, Ambiental e Serviço Social;
 Serviço Social, Relações de Exploração/Opressão de Gênero, Raça/Etnia,
Geração, Sexualidades;
 Ética, Direitos Humanos e Serviço Social.

Segundo o site da ABEPSS, os GTPs são:

Reconhecidamente como necessários à reflexão teórica, os Grupos


Temáticos de Pesquisa mostram-se como um espaço dinâmico,
estimulante e efetivo de elaboração, produção e circulação do
conhecimento. Organizando-se em torno de pesquisadores da área
de Serviço Social e afins, os Grupos Temáticos de Pesquisa
congregam pesquisadores para tratarem de temas de relevância
social, constituindo-se em núcleos capazes de disseminar
informações sobre temáticas específicas, promover debates
fecundos sobre os temas de ponta do interesse profissional e
das forças progressistas da sociedade. Promove, ainda, a
integração entre a pesquisa desenvolvida nas unidades de
formação acadêmicas (UFAs) e as linhas de pesquisa
consideradas relevantes para a área, estimulando e fortalecendo
as instâncias do debate sobre a política científica no país, ao
lado e em articulação com outras associações científicas. Os
Grupos Temáticos de Pesquisa, como o próprio nome já o
indica, são formados por pesquisadores, Grupos, Núcleos,
Redes da área e de áreas afins, para tratarem de temas de
relevância social. Esses grupos têm vida própria e autonomia, mas
estão vinculados organicamente à ABEPSS.
(http://www.abepss.org.br/gtps.html). (grifos da autora).
127

Os GTPs parecem dar a especificidade ao ENPESS, reforçando nossa afirmação de


que os dois eventos CBAS e ENPESS deveriam ter substancias, intencionalidades,
metodologias diferentes observando que seus organizadores deveriam estar em
planos diferentes do trato profissional.

Com o objetivo de dar maior visibilidade à presença dos dados e vermos a evolução
da discussão na história desse espaço, comecemos pelo CBAS de 2007, cuja
temática foi: “QUESTÃO SOCIAL NA AMERICA LATINA: OFENSIVA
CAPITALISTA, RESISTENCIA DE CLASSE E SERVIÇO SOCIAL”.

Na apresentação constante dos CD-ROM do evento a comissão organizadora afirma


que:

Os dados nos revelam o importante esforço de assistentes sociais,


professores e discentes de graduação e pós-graduação em formular
e apresentar resultados de sistematização de suas práticas e
socialização de suas pesquisas nas mais diversas áreas de
formação e intervenção profissional, das políticas sociais e das
questões cruciais que rebatem em nossas lutas cotidianas pela
defesa, ampliação e garantia e direitos, do trabalho e da democracia
participativa. (CBAS 2007)

No gráfico abaixo observamos a disposição e a frequência da preocupação dada à


temática do PEP e do conservadorismo nesse momento. Em 2007 havia o eixo de:
Projeto Ético Político, Trabalho e Formação.

835
900
800
700
600
500
400
300
200 16 6 3
100
0
TRABALHOS PEP CONSERVADORISMO AMBOS
128

GRÁFICO 2. Número de Trabalhos Publicados no XII CBAS de 2007, Foz do Iguaçu..


Fonte: Banco de dados da pesquisa, 2016.

No CBAS de 2007, a temática do PEP ocupou 1,91% dos trabalhos apresentados; o


conservadorismo ocupou 0,71% das discussões e apenas 0,35% debateram de
forma articulada o PEP e o conservadorismo. Os eixos são determinados pela
organização do CBAS. A temática mereceu ter um eixo, ainda assim, a produção de
discussões acerca dos temas PEP e conservadorismo não se mostrou para o
debate.

Nesse CBAS em Foz do Iguaçu, tivemos 3 conferências, 1 mesa redonda e 10


plenárias simultâneas. Sobre a discussão do PEP e do conservadorismo tivemos a
mesa redonda e uma das plenárias. A mesa redonda foi sobre: Trabalho e
seguridade social: o neoconservadorismo nas políticas sociais. E a plenária
simultânea foi sobre: O Projeto ético-político e os desafios face às novas e
reatualizada formas de conservadorismo na teoria, na política, na cultura e na
intervenção profissional. Essa plenária ocorreu ao mesmo tempo em que outras três
com outros temas, dividindo o público. A discussão sobre o PEP e conservadorismo
aparecem, mas sob controle, com pouca visibilidade e superfície de contato.

Em 2010, o CBAS que também tinha um eixo específico para o debate, o mesmo
presente no CBAS de 2007, a disposição desenhou o seguinte frequência de
debate:
129

1132
1200

1000

800

600

400
32 1 0
200

GRÁFICO 3. Número de Trabalhos Publicados no XIII CBAS de 2013, Brasília..


Fonte: Banco de dados da pesquisa, 2016.

Em Brasília, tivemos um aumento dos trabalhos de 35,6% comparando a 2007. Esse


aumento na quantidade geral de trabalhos não se reverteu na ampliação numérica
nas discussões em nenhum dos dois temas: PEP e conservadorismo. A discussão
do PEP tomou 2,82% dos trabalhos aprovados; o conservadorismo 0,08% e nenhum
trabalho voltou-se a problematizar a relação entre as duas temáticas. Destacamos
que esse CBAS teve como tema central: “LUTAS SOCIAIS E O EXERCÍCIO
PROFISSIONAL NO CONTEXTO DA CRISE DO CAPITAL: MEDIAÇÕES E A
CONSOLIDAÇÃO DO PROJETO ÉTICO POLÍTICO PROFISSIONAL”.Há que
perguntar como tendo como tema central a preocupação acerca da consolidação do
PROJETO ÉTICO POLÍTICO profissional isso não seja materializado na quantidade
de trabalhos apontando essa preocupação. A comissão organizadora desse CBAS
foi composta pelo CFESS, a ABEPSS, a ENESSO, e CRESS 8ª REGIÃO. As
instâncias dirigentes, que organizam o CBAS parecem preocupar-se com o PEP,
mas isso não se reverberou na produção da base, mesmo sendo essa a temática
desse CBAS. Esse foi o segundo CBAS em que o tema central versou sobre o PEP.
O primeiro foi o IX CBAS de 1998, realizado em Goiânia com o tema: "TRABALHO
E PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL". Apenas nesses dois momentos
da história dos CBAS o PEP ocupou a centralidade temática desses eventos. Isso
130

constitui 13,3% dos temas centrais dos 15 encontros já realizados até 2016, mesmo
que essa questão de termos um Projeto Ético Político seja mostrada como o signo
identitário da profissão e, ao mesmo tempo, o diferencial dela em relação às demais
categorias. Assim como ter o PEP não se apresenta como grande orientação sequer
nesses eventos da categoria, o conservadorismo, o neoconservadorismo, o
neopositivismo, a pós-modernidade (alguns adjetivos atribuídos ao conservadorismo
em textos e discursos do serviço social) tão temido, sequer se constituiu como tema
de debate em algum dos CBAS.

Na programação constaram 2 conferências, 3 mesas redondas e 7 plenárias


simultâneas. As duas conferências tiveram em seus temas o PEP. Uma, ade
abertura, versou sobre: Lutas sociais e exercício profissional no contexto de crise do
capital: mediações e consolidação do projeto ético-político profissional. A outra
conferência foi sobre: Condições de Trabalho e materialização do projeto político
profissional. Não é comum a adição da palavra profissional quando se referem ao
PEP. Embora as duas conferências apresentem em seus títulos a discussão sobre o
“chão” onde o PEP pode se consolidar e as condições d trabalho daqueles que
podem consolida-lo através do seu fazer profissional, as palestrantes das duas
conferências foram docentes e pesquisadoras. Os demais profissionais, não
docentes – maioria da categoria –não ocupam esses espaços.

Em 2013, com a temática: “IMPACTOS DA CRISE DO CAPITAL NAS POLITICAS


SOCIAIS E NO TRABALHO DAS ASSISTENTES SOCIAIS” o CBAS teve um
aumento discreto de menos de 10% na quantidade em relação ao CBAS de 2010,
ainda assim, os trabalhos não se ampliaram no que se refere à temática do PEP e
conservadorismo. O gráfico abaixo mostra o volume das discussões.
131

1288
1400
1200
1000
800
600
400
28 6 1
200
0

GRÁFICO 4. Número de Trabalhos Publicados no XIV CBAS de 2013, Águas de Lindóia..


Fonte: Banco de dados da pesquisa, 2016.

Nesse CBAS, apenas 2,17% das discussões versavam sobre o PEP; apenas 0,46%
dos trabalhos discutiram o conservadorismo e 0,07% apresentaram a discussão
articulada entre os dois temas.

Na programação, 2 conferencias, 2 mesas redondas simultâneas, 8 plenárias


simultâneas. Nenhum desses espaços discutiu nem o PEP nem o conservadorismo.
As mesas simultâneas trouxeram debates que envolvia a discussão da ética.
Embora a academia afirme que o PEP seja a composição de três elementos, O
Código de Ética, as Diretrizes Curriculares e a Lei de Regulamentação da Profissão,
muitos ainda insistem em centrar o debate sobre os princípios do Código de Ética.
Dessa forma, se dá a entender que discutir, debater e publicizar os princípios do
Código de Ética é fazer o PEP.

O CBAS de 2016 com tema central: “80 ANOS DE SERVIÇO SOCIAL. A CERTEZA
NA FRENTE E A HISTÓRIA NA MÃO”. Aos 80 anos da profissão tínhamos 37 anos
do Congresso da “Virada” e30 anos do Projeto Ético Político, (tendo como referência
as datas dos 3 elementos: Código de Ética Profisional-1993, Lei de Regulamentação
da Profissão 1993 e as Diretrizes Curriculares daABEPSS1996, reconhecida pelo
132

MEC em 2000). Se colocarmos esses números como referência, a profissão, àquele


tempo tinha 50 anos imersos no que se acusa como serviço social tradicional e/ou
conservador e apenas 30 anos, contando da construção e do transcurso histórico
dos elementos, do Projeto Ético Político. Ou seja, mais tempo, mais pensadores,
autores e pesquisadores, mais currículos e mais profissionais formados e formando,
imersos na lógica diversa do Projeto Ético Político, o conservadorismo.

O CBAS de 2016 registrou o seguinte perfil:

1427
1600
1400
1200
1000
800
600
400 22 12 4
200
0

GRÁFICO 5. Número de Trabalhos Publicados no XV CBAS de 2016, Olinda..


Fonte: Banco de dados da pesquisa, 2016.

Dos 1427 apenas 1,54% dos trabalhos tematizaram o PEP. O conservadorismo


tomou 0,84%, e 0,28% dos trabalhos que tematizaram concomitantemente o PEP e
o conservadorismo na profissão.

Sua programação foram 3 conferências, 10 plenárias simultâneas e 18 sessões


temáticas, inovação desse CBAS onde não era permitido o debate. Nas plenárias,
tivemos uma cujo tem foi: O projeto ético político profissional frente os desafios da
organização política da categoria. A mesa dessa plenária foi formada por:
Palestrantes: Raquel Santana - ABEPSS, Esther Luiza de Souza lemos - CFESS e
Maria Angélica Paixão - ENESSO, Nilsa Burgos - ALAEITS/Porto Rico, que deram
informes sobre o trabalho realizado, as preocupações e os projetos. Na plenária
133

sobre o PEP, onde fiquei, não tinham 30 pessoas. Na hora do debate uma colega
manifestou-se falando do esvaziamento desse espaço com a temática enquanto as
outras estavam cheias. O presidente do CFESS à época colocou que era necessário
revermos essa questão de acharmos que essa temática é mais importante que as
outras.

Esses quatro CBAS tinham a seu favor o fator de termos uma produção intelectual já
adensada na profissão fora do espectro desse evento, como também um esquema
de pós-graduações disseminada na maioria das regiões. Ao mesmo tempo a
expansão da metodologia EAD de formação profissional, capilarizou a formação
profissional para as mais diversas e distantes cidades do Brasil. Em2016, no CBAS
foi sinalizado na mesa de abertura que éramos mais de 170.000 assistentes sociais
no Brasil. Nos CBAS, como principal evento da categoria, não conseguimos atingir
5% da população da categoria.

Outro elemento que os dados apresentados trazem, e em especial no que se refere


a baixa frequência das temáticas do Projeto Ético Político e do conservadorismo é o
fato de ser, o PEP colocado como o diferencial identitário da categoria de
assistentes sociais sendo que só ela assume ter um PEP. Ao mesmo tempo também
se alarda o avanço do conservadorismo, o temor e os riscos que esse movimento
pode trazer tanto para a categoria quanto para a sociedade como um todo.

Mas se há uma baixa frequência da discussão do PEP e do conservadorismo por


parte da categoria que consegui acessar o espaço do CBAS, sobre o que esse
espaço mais discutiu? A centralidade e a concentração das discussões dos
trabalhos do CBAS está em 3 segmentos:

 Políticas públicas e sociais e o fazê-las;


 Relatos de práticas, que não são projetos de intervenção específicos e,
 Demandas sociais que ainda não tem status de política nem de estatuto
algum, mas que se querem reconhecidas como a discussão sobre gênero,
aborto e as demandas étnicas, por exemplo;
134

É provável que esse perfil de trabalhos dos CBAS se deva a aproximação excessiva
da categoria com o estado. Aproximação tanto dos profissionais quanto dos
pensadores/intelectuais/professores do serviço social. Destaco aqui o fato dos
pensadores do serviço social virem a começar a aparecer e a se auto organizarem
depois de 10 anos do início da formação iniciada no Brasil, em 1946 com o início da
Associação Nacional de Ensino em Serviço Social – ABESS, que se torna um
agente de influencia dentro do campo do serviços social. A auto-organização desse
grupo foi determinante para os processos de institucionalização, formação e
produção acadêmico-cientifica da profissão desde a sua fundação até tornar-se
ABEPSS. Mas, já é possível afirmar que a institucionalização da profissão, na
verdade foi a institucionalização dos primeiros pensadores da profissão.

Os dados mostram que o serviço social vem se tornando “o fazer a política


acontecer” ou fazer com que as demandas, por um processo de luta, virem algo
acolhido pelo estado como um estatuto ou uma nova política. A isso, se chama de
avanço. Não deixa de ser avanço, mas é um avanço para dentro do sistema e não
para outro sistema.

É possível observar que a estratégia de ocupar o Estado e por ele ser chancelada,
tem atribuído à formação bem como ao fazer do serviço social armadilhas que se
manifestam não só no que ele tem produzido academicamente quanto praticamente.
Isso nos remete à dificuldade dos profissionais responderem à questão: O QUE FAZ
UMA ASSISTENTE SOCIAL? Pela produção dos CBAS, a resposta a essa questão
é: obedecemos às políticas públicas por que estas são direitos ainda que
contraditórios.

Os CBAS deveriam ser espaços de trocas de uma categoria profissional que se diz
investigante para ser interventiva. Em sua última versão, a de 2016, o modelo de
apresentação de trabalhos foi centrado em pôster, pós sessões temáticas. As
sessões temáticas reuniam os assistentes sociais e estudantes com trabalhos que
iam para uma sala ouvir uma palestra acerca da área de concentração dos
trabalhos. Encerrava-se a fala da palestrante, sendo negado o debate sobre o que
foi trazido pela convidada e depois todos iam para um espaço para apresentar seus
pôsteres. Quem estava apresentando não podia ir ver os pôsteres dos colegas. O
135

local era aberto, com muitas pessoas tentando falando ao mesmo tempo sem a
possibilidade de troca de ideia, de debate.

Outro aspecto, que é transversal a todos os CBAS, restringe a participação da


categoria. Os valores praticados para participação nos CBAS desde a inscrição são
excludentes e desproporcionais à média salarial da categoria que nem piso salarial
tem.

Em tese, o CBAS que se coloca como maior evento da categoria, não é espaço para
que os participantes da categoria tematizem questões que no cotidiano, que tocam
seu fazer profissional de todos os espaços socio-ocupacionais. Tornou-se um
espaço de consenso acadêmico.

3.3 Os Encontros Nacionais de Pesquisadores de Serviço Social–ENPESS:


espaços de ordenamento dos pesquisadores, professores e intelectuais do
serviço social– de 2006 a 2016

Os Encontros Nacionais de Pesquisadores de Serviço Social-ENPESS são


promovidos pela ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM
SERVIÇO SOCIAL- ABEPSS. Acontecem hoje através dos Grupos Temáticos de
Pesquisa, que definem a temática do encontro. Tem em umas das suas atribuições:
“contribuir para a definição e redefinição da formação do assistente social na
perspectiva do projeto ético-político profissional do Serviço Social na direção das
lutas e conquistas emancipatórias.” (1996, p.3)

A formação de pesquisadores é a formação dos pensadores. No Brasil, e no caso do


serviço social, a formação dos pesquisadores, pensadores associa-se diretamente à
formação de e dos professores. Essa ligação tripla: pesquisador-professor-pensador,
na trajetória do serviço social pode sinalizar algumas explicações para a questão
dos rumas da produção de conhecimento em serviço social e do estabelecimento de
quem pode se tornar produtor desse conhecimento.
136

Usando a mesma contribuição feita para a apresentação dos dados do CBAS,


consideramos importante registrar todo o percurso dos Encontros realizados até
2016. Na tabela abaixo um pouco dessa trajetória, com as informações possíveis
dos ENPESS

TABELA 8. TODOS OS ENPESS NO PERÍODO DE 2006 A 2016


ANO LOCAL EVENTO TEMÁTICA ENTIDADE(S) CONTEXTO
PROMOTORA(S)

1983 SÃO LUIZ -MA I ENCONTRO NÃO ENCONTRADO ABESS UM ANO APÓS O
NACIONALDE CURRÍCULO MÍNIMO
PESQUISA EM DE SERVIÇO SOCIAL
SERVIÇO TER SIDO
SOCIAL APROVADO PELO
MEC

1984 SALVADOR-BA II ENCONTRO NÃO ENCONTRADO ABESS INTENSIDIFAÇÃO


NACIONALDE DAS AÇÕES DE
PESQUISA EM DEMOCRATIZAÇÃO
SERVIÇO NO PAIS
SOCIAL

1987 CAMPINAS-SP III ENCONTRO NÃO ENCONTRADO ABESS A CRIAÇÃO DO


NACIONALDE CENTRO DE
PESQUISA EM DOCUMENTAÇÃO EM
SERVIÇO PESQUISA,
SOCIAL POLÍTICAS SOCIAIS E
SERVIÇO SOCIAL –
CEDEPSS

1989 BRASILIA-DF I ENPESS NÃO ENCONTRADO ABEPSS CADERNO ABES


DISCUTIA A
METODOLOGIA EM
SERVIÇO SOCIAL

1990 BRASILIA-DF II ENPESS NÃO ENCONTRADO ABEPSS ESTIMA-SE POIS NÃO


SE ENCONTROU
DADOS. CADERNO
ABES: ENSINO EM
SERVIÇO SOCIAL:
PLURALISMO E
FORMAÇÃO
PROFISSIONAL.
CADERNOS ABESS,
N. 04, CORTEZ: SÃO
PAULO, 1991

1992 NÃO III ENPESS NÃO ENCONTRADO ABEPSS . 10 ANOS DE


ENCONTRADO CURRICULO
MINIMOCADERNO
ABESS 5: A
PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO E O
SERVIÇO SOCIAL.
CADERNO ABESS,
N.5, CORTEZ: SÃO
PAULO 1992

1994 NÃO IV ENPESS NÃO ENCONTRADO ABEPSS


ENCONTRADO

1996 RIO DE V ENPESS NÃO ENCONTRADO ABEPSS APROVAÇÃO DAS


JANEIRO-RJ DIRETRIZES
CURRICULARESPELA
CATEGORIA

1998 BRASÍLIA VI ENPESS A QUESTÃO SOCIAL NO ABEPSS A ASSEMBLÉIA


LIMIAR DO SÉCULO XXI REALIZADA EM 1998
APROVOU UM NOVO
ESTATUTO, QUE
RECRIA A ABESS,
AGREGANDO-A
NOVA DESIGNAÇÃO,
DENOMINANDO-SE
ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE
137

ENSINO E PESQUISA
EM SERVIÇO SOCIAL
– ABEPSS

2000 BRASÍLIA VII ENPESS O SERVIÇO SOCIAL E A ABEPSS APRIMORADA PELA


QUESTÃO SOCIAL: COMISSÃO DE
DIREITOS E CIDADANIA ESPECIALISTAS EM
DOCUMENTO DE
1999E APROVADA AS
DIRETRIZES
CURRICULARESPELO
MEC. PRIMEIRO ANO
DAREVISTA
TEMPORALIS

2002 JUIZ DE FORA- VIII ENPESS NÃO ENCONTRADO ABEPSS AVANÇOU NO


MG INTUITO DE
CONSOLIDAR O
SERVIÇO SOCIAL
COMO UM CAMPO
TEÓRICO,
OFERECENDO
POSSIBILIDADES DE
NUCLEAÇÃO DE
PESQUISADORES.

2004 PORTO IX ENPESS OS DESAFIOS DA ABEPSS ABEPSS NO XVIII


ALEGRE -RS PRODUÇÃO DO SEMINÁRIO
CONHECIMENTO EM LATINOAMERICANO
SERVIÇO SOCIAL DE ESCUELAS DE
TRABAJO SOCIAL,
REALIZADO EM SAN
JOSÉ NA COSTA
TEMPORALIS

2006 RECIFE - PE X ENPESS CRISE CONTEMPORANEA, ABEPSS APROFUNDAMENTO


EMANCIPAÇÃO POLITICA E DO DEBATE
EMANCIPAÇÃO HUMANA: INTELECTUAL
QUESTÕES E DESAFIOS
DO SERVIÇO SOCIAL NO
BRASIL

2008 SÃO LUIZ - MA XI ENPESS TRABALHO, POLÍTICAS ABEPSS ÚNICO QUE


SOCIAIS E PROJETO TEMATIZOU O PEP
ÉTICO-POLÍTICO
PROFISSIONAL DO
SERVIÇO SOCIAL:
RESISTÊNCIA E DESAFIOS

2010 RIO DE XII ENPESS CRISE DO CAPITAL E ABEPSS CRIAÇÃO D0S GTPs
JANEIRO -RJ PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO NA
REALIDADE BRASILEIRA:
PESQUISA PARA QUÊ,
PARA QUEM E COMO?

2012 JUIZ DE FORA XIII ENPESS “SERVIÇO SOCIAL, ABEPSS PRIMEIROENPESS


– MG ACUMULAÇÃO PÓS ELEIÇÃO
CAPITALISTA E LUTAS DEUMA MULHER NA
SOCIAIS: O PRESIDENCIA
DESENVOLVIMENTO EM
QUESTÃO”

2014 NATAL - RN XIV ENPESS LUTAS SOCIAIS E ABEPSS PRIMEIRO ENPES


PRODUÇÃO DE APÓS
CONHECIMENTO: ASMANIFESTAÇÕES
DESAFIOS PARA O DE JULHO DE 2013
SERVIÇO SOCIAL NO
CONTEXTO DE CRISE DO
CAPITAL"

2016 RIBEIRÃO XV ENPESS “20 ANOS DE DIRETRIZES ABEPSS CBAS E O ENPESS


PRETO - SP CURRICULARES, 70 ANOS COM O MESMO
DE ABEPSS E 80 ANOS DE MODELO DE
SERVIÇO SOCIAL”, APREENTAÇÃO DE
TRABALHOS
Fonte: Banco de dados da pesquisa, 2017.
138

A auto-organização dos pesquisadores em serviço social começou na verdade via


ordenação das instituições formadoras e seus professores e se materializou na
Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social – ABESS. A ABESS se
transformou em Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social –
ABEPSS que se apresenta como:

Uma entidade Acadêmico Científica que coordena e articula o


projeto de formação em serviço social no âmbito da graduação e
pós graduação. Dentre os seus princípios fundamentais está a
defesa da universidade pública, gratuita, laica, democrática,
presencial e socialmente referenciada.(site da ABEPSS). Grifos
meus

A ABESS organizou uma revista chamada Caderno ABESS. Uma curiosidade


acerca dos Cadernos ABESS é que nenhum deles tematizava os Encontro
Nacionais de Pesquisa em Serviço Social. Os textos dos cadernos versavam por
discussões mais amplas, mas sem articulação com o que a categoria expressava
nos ENPESS daquele período. Outra curiosidade é o fato de em nenhum dos
Cadernos ABESS ter um artigo que versasse sobre a questão do conservadorismo
ou do projeto ético político. Pesquisou-se nas Revistas até 1997(Cadernos 1,3,4,5,6
e 7, de 1986 a 1997). Em 2000 a Revista Caderno Abess foi substituída pela Revista
Temporalis, via da narrativa oficial da ABEPSS. É imperativo para a viabilização do
campo, da construção do seu prestígio a organização de uma via oficial de
propagação.

Em 11 anos de ENPESS, totalizamos 6067 trabalhos. Conforme o gráfico abaixo


0,60% dos trabalhos tematizaram o PEP; 0,57% tematizaram o conservadorismo e
apenas 0,14% deles, produziram uma escrita articulando o PEP e o
conservadorismo. Esse dado nos revela a incipiência da discussão por parte dos
profissionais de serviço social que frequentam o ENPESS. Esse espaço congrega
tanto os profissionais que são filiados individualmente à ABEPSS como aqueles que
querem apenas apresentar seu trabalho de pesquisa seja ele fruto de TCC, Estagio,
PIBIC, Especialização, Mestrado, Doutorado ou Pós-Doutorado. Se assim é, e cabe
a ABEPSS “a articulação da formação em serviço social na graduação e na pós-
139

graduação”, como essa articulação está se dando frente a temática diferencial da


formação e atuação profissional, que é o PEP?

6067
7000
6000
5000
4000
3000
2000 35 28 9
1000
0

GRÁFICO 06-Número de Trabalhos Publicados nos ENPESS de 2006-2016..


Fonte: Sistematizado pela autora com base nos Anais do encontro.

Se os números observando os 11 anos concentradamente sinalizam uma baixa


produção por parte dos frequentadores do ENPESS, quando observamos os
encontros individualmente, isso fica mais delicado. Principalmente se observarmos o
Estatuto da ABEPSS em seu 2 artigo que versa sobre sua finalidade encontramos:
“contribuir para a definição e redefinição da formação do assistente social na
perspectiva do projeto ético-político profissional do Serviço Social na direção das
lutas e conquistas emancipatórias”. No texto esta “contribuir” e não dirigir,
desenvolver ou liderar. Ainda assim, é a ABEPSS, a única entidade que menciona o
PEP em seu estatuto e como finalidade. No estatuto do conjunto CFESS/CRESS
nada existe ligando a entidade ao PEP.

Observemos o panorama da discussão do PEP e do conservadorismo que coloca a


ABEPPS numa situação de maior responsabilidade visto que a formação via
Diretrizes Curriculares deveria colocar o estudo sobre esses pontos e, estes
deveriam aparecer no principal evento palco da formação.
140

Em 2006, 1,2% dos trabalhos discutiram o PEP. 0,13% tomaram o conservadorismo


como tema e somente 0,26%conseguiram fazer uma produção articulando os dois
temas.

745
800

600

400

9 1 2
200

GRÁFICO 07-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2006.


Fonte: Sistematizado pela autora com base nos Anais do encontro.

Em 2006 as Diretrizes Curriculares já estavam com 10 anos de existência,


influenciando os Projetos Pedagógicos dos Cursos – PPC da Graduação em Serviço
social. Embora no Estatuto da ABEPSS apareça de forma clara a indicação do PEP,
na proposta das Diretrizes, ela aparece da seguinte forma:

O reconhecimento do caráter interventivo do assistente social, supõe


uma capacitação crítico-analítica que possibilite a construção de
seus objetos de ação, em suas particularidades sócio-institucionais
para a elaboração criativa de estratégias de intervenção
comprometidas com as proposições ético-políticas do projeto
profissional.(ABEPSS, 1996,p.13). Grifos meus.

A sinalização do projeto profissional pode dá margem, e penso que isso ocorre, à


personalização das discussões na formação sem garantir da existência de debate
sobre o tema.
141

632
700

600

500

400

300

200
13
100 2 1

0
TRABALHOS PEP CONSERVADORISMO AMBOS

GRÁFICO 08-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2008.


Fonte: Sistematizado pela autora com base nos Anais do encontro.

O fenômeno da baixa frequência de discussão repete-se em 2008 conforme


GRÁFICO abaixo, sendo este único dos ENPESS com o tema central contemplando
o PEP. É nesse ENPESS que teremos mais trabalhos discutindo tanto o
conservadorismo quanto o PEP. 2,05% dos trabalhos discutiam o PEP; 0,315%
discutindo o conservadorismo e 0,16% travaram uma discussão entre ambas
temáticas.
142

1293
1400
1200
1000
800
600
400 2 5
200
0

GRÁFICO 09-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2010.


Fonte: Sistematizado pela autora com base nos Anais do encontro.

Em 2010 a temática praticamente desaparece do horizonte dos trabalhos presentes


no XII ENPESS, ficando a temática do PEP ocupando 0,15% dos trabalhos e o
conservadorismo com o mais que o dobro, 0,38%.

Em 2012, o conservadorismo ocupa maior espaço na produção de trabalhos


0,59%do que o PEP, 0,32%,embora ambos ainda tenham uma frequência baixa em
relação a outros temáticas.
143

1343
1400

1200

1000

800

600

400
3 8 0
200

GRÁFICO 10-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2012.


Fonte: Sistematizado pela autora com base nos Anais do encontro.

Em 2014 constata-se que o PEP ocupa 0,18% das produções, o conservadorismo


0,45% e a articulação entre ambos 0,37% dos trabalhos.

1097
1200
1000
800
600
400
2 5 4
200
0

GRÁFICO 11-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2014.


Fonte: Sistematizado pela autora com base nos Anais do encontro.
144

A diminuta atenção dada pelos participantes dos ENPESS de 2010, 2012 e 2014
constata que o debate, o embate ou a disputa entre esses os projetos conservador e
progressista, não se materializam entre os frequentadores do ENPESS.

No último ENPESS em 2016 vê-se um discreto aumento da eleição de ambas


temáticas. O PEP concentrou 0,65%dos trabalhos, o conservadorismo 0,76%, e a
articulação de ambos 0,21%.

917
1000
900
800
700
600
500
400
300 6 7 2
200
100
0

GRÁFICO 12-Número de Trabalhos Publicados no ENPESS de 2016.

Fonte: Sistematizado pela autora com base nos Anais do encontro.

Observando, superficialmente, esses dados poderíamos chegar a duas conclusões


díspares entre elas: primeiro que a categoria dos intelectuais, dos pesquisadores em
serviço social não se preocupam com a temática do projeto profissional nem com o
avanço do conservadorismo, sequer reconhecem riscos sobre isso. Objetivamente
poderíamos até dizer que o processo de formação profissional não está garantindo
minimamente a apropriação dessa discussão e de sua importância. A segunda
conclusão é que sobre essa temática não são todos os pesquisadores, pensadores
e intelectuais que podem se apropriar e falar sobre isso. Será possível afirmar que
dentro do campo intelectual existem “determinados lugares para determinados
sujeitos”? Será possível afirmar que existe uma hierarquização, pensadores de
primeira linha, de segunda linha e assim seguidamente e a cada nível destes há um
limite de transito? Essas duas conclusões podem inclusive se combinar. Mas, se os
pensadores não tematizam isso, e no caso, só para lembrar, os pensadores, são os
145

pesquisadores e os professores, se eles não elencam isso como debate, nem


produzem sobre isso para a publicização, como isso será uma temática geral? A
nosso primeira suspeita era que a discussão sobre o PEP e o conservadorismo era
uma disputa por discursos e não de projetos explicitamente colocados dentro do
campo. O que podemos observar é na direção das entidades e da categoria existe
de forma estruturada e organizada o discurso sobre o conservadorismo e o PEP
mas isso não se espraia nem par a formação o que desencadeia uma não atenção a
isso nos processo de trabalho.

No que se refere aos ENPESS de 2006 a 2016, de todas as conferencias, mesas


temáticas, mesas redondas, apenas o de 2008 que na temática central coloca o PEP
como variável, tivemos duas conferencias. Uma com o título: Trabalho, politicas
sociais e projeto ético político profissional do serviço social: resistência e desafios e
e a segunda mesa redonda: A dimensão ética do desenvolvimento humano no
contexto da produção destrutiva mundializada do capital e a perspectiva do projeto
ético-político profissional do serviço social.

A discussão sobre o PEP e o conservadorismo nesses dois espaços da categoria


profissional pode sinalizar que esse território de produção intelectual o PEPeo
CONSERVADORISMO – é mantida numa baixa concorrência intelectual. Cabe aos
intelectuais do campo hierarquizarem as temáticas para hierarquizar os agentes
Esse “embate” igualmente não se apresenta nos demais trabalhos. Algo que se
precisa investigar é a “coincidência” da baixa produção nos dois maiores eventos da
categoria, que se confundem nos eventos, por conta das metodologias de
organização e das pessoas, mas que são espaços organizativos diferentes. São? Há
uma forme de controle: O PEP é algo especifico dos assistentes sócias, diz-se da
disputa e dos riscos do avanço do conservadorismo, temos diretrizes que marcam
PPCs na direção social escolhida pela categoria, mas todo esse processo não
aparece nos dois principias eventos da categoria. De onde parte a preocupação com
o conservadorismo e os riscos do PEP? Quem defende o PEP?

3.4 Encontros Nacionais da Categoria: da categoria?


146

O Encontro Nacional CFESS/CRESS é um fórum anual,


que tem caráter regimental e deliberativo, estabelecido
no Estatuto do Conjunto CFESS/CRESS, configurando-
se como um momento político de construção coletiva da
agenda anual do Conjunto, constituindo-se, também,
espaço relevante de capacitação de natureza técnica e
ético-política. A partir das conferências e considerando
as demandas e os grandes desafios ao Serviço Social
são discutidos e deliberados os assuntos referentes às
questões que estruturam, hoje, as ações do Conjunto
nas áreas da: Política Nacional de Fiscalização, Ética e
Direitos Humanos, Seguridade Social, Política de
Comunicação, Gestão Administrativo-financeira,
Formação profissional e Relações internacionais.
(Relatório. 2009, p.8).

Nos relatórios investigamos a frequência da utilização dos termos PEP e


conservadorismo e a existência do debate sobre a temática

Os Encontros Nacionais estão colocados para o Conjunto CFESS/CRESS como


instância máxima de deliberação, conforme a Resolução 469/2005 do Estatuto do
Conjunto CFESS/CRESS.

Art. 10 - A estrutura do Conselho Federal de Serviço Social


compreende as seguintes instâncias:
I - Encontro Nacional CFESS/CRESS: órgão deliberativo;
II - Conselho Pleno: órgão deliberativo;
III - Diretoria: órgão executivo;
IV - Conselho Fiscal: órgão fiscal;
V - Comissão Especial: órgão de fiscalização contábil,
financeiro e administrativo;
VI - Comissões, Assessorias e Grupos de Trabalhos: órgãos de
apoio.

O processo de participação desses espaços se dá via eleição em assembleias nos


CRESS dos Estados. Há um percentual definido em função da quantidade de
assistentes sociais inscritos em cada CRESS. É enviada mesma quantidade de
diretores do CRESS que são escolhidos nos Plenos e não nas assembleias, como a
base. Lá no Encontro, tanto conselheiros quanto membros da base se tornal
Delegados, com direito a voz e voto. Isso confere um número maior de membros da
direção dos CRESS e dos CFESS do que representantes da Base nesses
147

Encontros. Também nas assembleias são encaminhados os nomes dos convidados


que recebem ajuda de custo para a participação nos Encontros e, aqueles que
querem ir na condição de observadores, também devem manifestar-se nesse
espaço das assembleias. Esse procedimento, instituído pela “categoria”, para a
construção da participação nos Encontros Nacionais de 2006 a 2016, período de
nossa analise configuram um perfil que sinaliza a baixa influencia da base da
categoria nas deliberações, que se contrapõem aos princípios de democratização e
participação expressos como Princípios do nosso Código de Ética.

Os Encontros nacionais são precedidos por Encontros Descentralizados regionais,


que não são precedidos por encontros locais o que ampliaria a base de participação.
É possível que as instâncias de representação estejam democraticamente sendo
instancias de controle.

Esse preâmbulo é importante para percebermos quem são os sujeitos que se


tornam ativos nas deliberações que serão disputadas em condição de desigualdade
entre base e direção. Não se trata então de observar apenas a existência das
discussões, mas observar como elas são construídas, por quantos, por quem. Isso
define quem pode, ou que grupos podem ou não podem falar fazer, deliberar, definir,
dirigir os espaços de debate.

Sinalizamos no capítulo anterior o perfil dos conselheiros titulares do CFESS. São


eles em mais 75%, mas ultimas 4 gestões, docentes, num espaço não docente de
controle, os Encontro Nacionais.

Outro aspecto relevante antes da analise dos Encontros nacionais é que tanto o
CFESS organizador do CBAS quanto a ABEPSS, organizadora do ENPESS
possuem uma publicação própria, uma revista. O CFESS tem a INSCRITA e a
ABEPSS tem a TEMPORALIS.

No site do CFESS a revista é apresentada assim

A Revista Inscrita nasceu com o propósito de contribuir para o debate


crítico dos temas relacionados ao serviço social e de incluir cada vez
148

mais o/a assistente social na história de luta por transformações na


sociedade brasileira. A revista traz artigos que promovem a
atualização do conhecimento e, ao mesmo tempo, se caracterizam
como um valioso registro histórico das discussões da categoria.
(http://www.cfess.org.br/visualizar/revista-inscrita)

A ABEPSS apresenta a revista dizente que:

A TEMPORALIS, revista criada em 2000 e editada pela Associação


Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss), se
destina a publicação de trabalhos científicos sobre temas atuais e
relevantes no âmbito do Serviço Social, áreas afins e suas relações
interdisciplinares. (http://www.periodicos.ufes.br/temporalis)

Ter uma via própria de produção, inclusão, circulação e emissão acadêmica é


necessário no jogo de poder de distribuição de bens culturais e simbólicos. O capital
cultural precisa concentrar-se para compor poder.

Sobre o perfil dos encontros nacionais a tabela abaixo traça um panorama de como
aconteceram de 2006 a 2016.

TABELA 9. RELATÓRIOS DOS ENCONTROS NACIONAS DA CATEGORIA DE 2006 A 2016


ANO LOCAL ENCONTRO PARTICIPANTES ASSISTENTE S TEMA CENTRAL DISCUSSÃO PEP OU
NACIONAL SOCIAIS NO CONSERVADORISMO
BRASIL

MESA

2006 VITÓRIA -ES 35 187 65.000 Resistir à barbárie: A ofensiva conservadora


afirmando o projeto na formação profissional:
138 delegada/ os, ético-político no desafios ético-políticos e
31observadoras/ contexto das lutas construção de uma
es, 13 convidadas/ sociais no Brasil e na agenda comum de
os e 5 palestrantes América Latina enfrentamento pelas
entidades da categoria

2007 NATAL-RN 36 244 NÃO A Ofensiva de


INFORMADO Desregulamentação no
71 delegada(o)s NO RELATÓRIO Capitalismo
da base, 83 Contemporâneo:
delegada(o)s NÃO HOUVE
Tendências Destrutivas
da direção, 36 das Reformas
observadora(e)s e Neoliberais no Serviço
54 convidada(o)s Social

2008 BRASILIA 37 242 NÃO Direito, Trabalho e Direito, Trabalho e


INFORMADO Riqueza no Brasil: O Riqueza no Brasil: O
170 delegadas/os, NO RELATÓRIO Conjunto Conjunto CFESS/CRESS
sendo 75 CFESS/CRESS na na Defesa do Projeto
representantes da Defesa do Projeto Ético-Político
base e 95 das Ético-Político Profissional
direções dos Profissional
149

CRESS e
CFESS, 41 A Hegemonia do Projeto
observadora(e)s e Ético-Político
31 convidada(o)s. Profissional: Limites e
Possibilidades
Históricas

2009 CAMPO 38 234 86.734 Socializar Riqueza Socializar Riqueza para


GRANDE para Romper Romper Desigualdade:
155 delegados: 9 Desigualdade: mediações e desafios do
do CFESS, 146 mediações e Projeto ÉticoPolítico
dos CRESS (83 Profissional
das direções dos Desafios do Projeto
Ético Político
CRESS e 63 Profissional
assistentes sociais
de base), 60
assistentes sociais
observadores,
28 convidados

2010 FLORIANÓPOLIS 39 256 95.147 Estratégias de Limites da igualdade e do


-SC resistência frente à respeito à diversidade
166: 9 CFESS, 79 precarização da humana no capitalismo:
CRESS E 78 da as políticas de ações
base Formação e do afirmativas e o Projeto
exercício profissional: Ético Político
atualidade do Código Profissional
de Ética e da Lei de
Regulamentação da
profissão”

2011 BRASILIA –DF 40 255 108.893 40 anos de encontros: Conjuntura e Serviço


construindo a história Social: Desafios para o
9 do CFESS, 174 do Serviço Social Fortalecimento do
dos CRESS (100 brasileiro Projeto ético Político
das direções dos
CRESS e 83
assistentes sociais
de base.

2012 PALMAS-TO 41 274 121.234 No mundo de


desigualdade toda
9 os CRESS (93 violação de direitos é
das direções dos violência
CRESS e 87 NÃO HOUVE
assistentes sociais
de base.

2013 RECIFE-PE 42 377 135.545 Tempo de dizer que


não são tempos de
101 das direções calar
do Conjunto
CFESS-CRESS e
e 97 assistentes
sociais de base.

2014 BRASILIA-DF 43 206 149.029 Projeto Ético-político Projeto Ético-político do


do Serviço Social: Serviço Social: memória
9 do CFESS, 197 memória e e resistência
dos CRESS (104 resistência.
das direções dos
CRESS e 93
assistentes sociais
de base.

2015 RIO DE 44 337 participantes. 161.023 Ofensiva Ofensiva


JANEIRO-RJ 204 delegados/as, neoconservadora e neoconservadora e
sendo 108 da Serviço Social no Serviço Social no cenário
direção do cenário atual atual
Conjunto CFESS-
CRESS e 96 da
base.

2016 CUIABÁ-MT 45 309 participantes. 173.689 É preciso estar atento/a


e forte!
200
delegadas/os,106
representaram as
direções (9 do NÃO HOUVE
CFESS e 97 dos
CRESS) e 94 77
convidadas/os e
150

32 observadoras.

Fonte: Relatórios Finais dos Encontros Nacionais do Conjunto CFESS/CRESS 2006-2016.

Os Encontros Nacionais são anuais e no período pesquisado por nós ocorreram 11


Encontros. Destes, 4 colocaram como tema central do evento a discussão sobre o
PEP (2006, 2008, 2009 e 2014) e 1 o conservadorismo (2015). Quanto às mesas
acontecidas nesse evento, tivemos 6 discutindo o PEP (2008, 2009, 2010, 2011 e
2014) e 2 discutindo o conservadorismo (2006 e 2015). Proporcionalmente o
Conjunto CFESS/CRESS está pautando mais essa discussão nos Encontros
Nacionais do que o CBAS. A capilaridade do Encontro Nacional é pequena.,
observando a quantidade de pessoas que, pelos critérios, possam estar presentes.
E ainda, podemos observar que em alguns encontros tínhamos mais convidados do
que delegados.

Embora o objetivo final dos Encontros seja a construção e a atualização do Plano de


Lutas da categoria, da mesma forma que a discussão sobre o PEPE e o
conservadorismo parece não chegar aos membros da base, o plano de lutas
também não. Nosso foco aqui não é falar sobre o plano de lutas e os processos que
ele percorre. A nós interessa a constatação de uma concentração do saber, do
produzir e do falar sobre determinados temas.

Na discussão sobre campo, Bourdier sinaliza que o campo intelectual chega a falar
sobre a determinação de temas e objetos legítimos ou não. Se existe no campo a
ideia do que é legitimo, há também a ideia de quem é legitimo para discutir sobre
determinado tema e para que isso ocorra é necessária a manipulação de bens
culturais. A manutenção da ortodoxia se deve a isso.

Ainda discutindo os Encontros, é necessário saber o perfil dos delegados por espaço
socio-ocupacional. Os 3 eventos tem públicos em quantidade diferentes, mas
parecem ser espaços de interação. Segundo Bourdier (p.55)
151

O espaço da interacção funciona como situação de mercado


linguístico, que tem características conjunturais cujos princípios
podemos destacar. Em primeiro lugar, é um espaço pré-construído: a
composição social do grupo está antecipadamente determinada.
Para compreender o que pode ser dito e sobretudoo que não pode
ser dito no palco, é preciso conhecer as leis de formação do grupo
dos locutores – é preciso saber quem é excluído e quem se exclui. A
censura mais radical é ausência. É preciso pois considerar as taxas
de representação (no sentido estatístico e no sentido social) da
diferentes categorias (sexo, idade, estudos, etc.), logo as
probabilidades de acesso ao local da palavra – e, despois, as
probabilidades de acesso à palavra, mensurável em tempos de
expressão.

Arrisco-me a dizer que esses 3 espaços de interação, o CBAS, o ENPESS e


ENCONTRO NACIONAL, por conta dessa dimensão da interação, servem como
eventos de triagem. Como eventos que servem de rituais de passagens para
acessar determinados espaços.

Por curiosidade cientifica, colocamos em ordem os eventos que tematizaram o PEP


e o conservadorismo nesses 10 anos conforme tabela abaixo.

TABELA 10. ARTICULAÇÃO ENTRE OS EVENTOS DA CATEGORIA, 2006-2016.


ANO LOCAL EVENTO TEMA CENTRAL ENTIDADES PROMOTORAS
2006 VITÓRIA -ES 35 ENCONTRO RESISTIR À BARBÁRIE: CONJUNTO CFESS/CRESS
NACIONAL AFIRMANDO O PROJETO
ÉTICO-POLÍTICO NO CONTEXTO
DAS LUTAS SOCIAIS NO BRASIL
E NA AMÉRICA LATINA
2008 SÃO LUIZ - MA XI ENPESS TRABALHO, POLÍTICAS SOCIAIS ABEPSS
E PROJETO ÉTICO-POLÍTICO
PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL: RESISTÊNCIA E
DESAFIOS
2008 BRASILIA 37 ENCONTRO DIREITO, TRABALHO E RIQUEZA CONJUNTO CFESS/CRESS
NACIONAL NO BRASIL: O CONJUNTO
CFESS/CRESS NA DEFESA DO
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO
PROFISSIONAL
2009 CAMPO GRANDE 38 ENCONTRO SOCIALIZAR RIQUEZA PARA CONJUNTO CFESS/CRESS
NACIONAL ROMPER DESIGUALDADE:
MEDIAÇÕES E
DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO
POLÍTICO PROFISSIONAL
2010 BRASILIA – DF XIII CONGRESSO “LUTAS SOCIAIS E O EXERCÍCIO CFESS, ABEPSS, ENESSO, E
BRASILEIRO DE PROFISSIONAL NO CONTEXTO CRESS 8ª REGIÃO
ASSISTENTES SOCIAIS DA CRISE DO CAPITAL:
MEDIAÇÕES E A
CONSOLIDAÇÃO DO PROJETO
ÉTICO POLÍTICO
PROFISSIONAL”
2014 BRASILIA-DF 43 ENCONTRO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO CONJUNTO CFESS/CRESS
NACIONAL SERVIÇO SOCIAL: MEMÓRIA E
RESISTÊNCIA.
2015 RIO DE JANEIRO-RJ 44 ENCONTRO OFENSIVA CONJUNTO CFESS/CRESS
NACIONAL NEOCONSERVADORA E
SERVIÇO SOCIAL NO CENÁRIO
ATUAL
Fonte: Banco de Dados da Pesquisa, 2017.
152

Dos 11 anos do período definido por nós para coleta dos dados, 6 anos tiveram pelo
menos 1 evento que tivesse em seu tema o PEP ou o conservadorismo. O ano e
2008 teve 2 eventos o ENPESS e um Encontro Nacional, mas apenas 1 desse anos
discutiram o conservadorismo. Se há uma disputa, parece que os produtores-
escritores da disputa entre o PEP e o conservadorismo não estão se expondo.

Uma outra leitura que deve ser destacada é como a discussão aparece e é tratada.
No que se refere aos CBAS e aos ENPESS observou-se que o nome
conservadorismo e o nome projeto ético político aparecem, mais como verbete e não
como discussão. Reafirma-se o projeto profissional que se quer; se expressa a
preocupação com o conservadorismo, com o neo-conservadorismo, mas pouco se
produz sobre as características de um e outro e sobre formas materializadas deles
no cotidiano. Esse sim é um desafio posto o campo e todos seus entes, em especial
à academia e à organização da categoria. Tanto o conservadorismo quanto o PEP
precisam ser estudados e explicitados como práticas culturais do serviço social: uma
como existente e outra que se quer ser.

Para nós ficou confirmado que discussão entre a existência do PEP e do


conservadorismo tem como pano de fundo a discussão da prática profissional. Em
termos teóricos, doo mundo do trabalho: o que se faz, como se faz, com que
perspectiva se faz? Por fim, parece que a substituição às praticas chamadas de
fragmentadas, individualistas e na perspectiva dos ajustes, ainda não foi concluída.
E talvez esteja aí, na forma com que foi conduzida a transição, por cima, que esteja
as expressões conservadoras estejam se sustentando.

Os dados sinalizam que essa preocupação histórica enraizada pelo movimento de


reconceituação é um empreendimento dos intelectuais orgânicos por adoção do
serviço social. O empenho centrou-se num momento da teorização do serviço social
cuja prioridade deu conta de estabelecer um novo projeto profissional. A análise
crítica da realidade prescindiu de uma discussão do cotidiano do mundo do trabalho.
A discussão sobre o novo projeto profissional vinculado a uma nova ordem
societária ocupa muito pouco das preocupações de produção de conhecimento. Os
dados mostram isso. E nem os intelectuais da categoria nem os dirigentes das
153

instancias representativas, parecem reconhecer isso como uma questão para a


categoria. Sequer há o reconhecimento desse conflito, desse embate entre a direção
social projetada nos documentos da categoria profissional e o que a base
profissional está a discutir. É possível que o processo de adoção e adesão ao
estado, às políticas públicas e suas funções tenham turvado essa percepção,
mesmo sendo a ocupação do estado uma condução que não promove o projeto
societário que o PEP é bandeira. A base olha para um lado e a direção e os
intelectuais que no nosso caso são os mesmos sujeitos, está a olhar para outro, não
exclusivamente, é claro, pois se a categoria hoje não tematiza essa questão,
certamente se deve ao fato de ter se tematizado outras.

Embora não tenha sido alvo de minha pesquisa. Uma outra variável me parece
importante. Como nossos intelectuais se tornaram unicamente intelectuais. No
serviço social, os pensadores, os intelectuais e os professores, muitas vezes são
inflexões de uma mesma pessoa, e por alguns dos dados trazidos, a maioria desses
se tornaram dirigentes das instancias representativas. Essa é uma forma de
promover uma experiência de hegemonia. Investigar o perfil e a trajetória de nossos
intelectuais é importante para vermos de que se alimentam suas reflexões.
154

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecer é arriscar-se.

Como foi podido ver, as considerações “quase” finais foram bordando o transcorrer
do texto. Nos passos finais de leitura podemos ver que ainda há muitos elementos a
serem colocados como objeto de investigação na relação conservadorismo e PEP.
Existe um modelo conservador de apresentação dos resultados das investigações e
de sua escrita. Eis o desafio que se coloca entre a rigidez e o rigor. Mas o percurso
nos mostrou algumas placas de atenção:
1. O conservadorismo é um projeto ético político da burguesia. E deve ser
estudado como tal. O projeto ético político do serviço social carece de um
adjetivo;
2. Temos o conservadorismo e temos o conservadorismo para o serviço social.
É preciso estudar os dois.
3. Conseguimos mostrar que o surgimento do PEP para o serviço social marca
(e/ou consolida) o surgimento do conservadorismo no serviço social;
4. A polissemia do termo conservadorismo atesta uma via única de entender o
PEP: o que não é do PEP é conservador. Essa forma, ou fórmula, posto que
isso legitima a manutenção do poder no campo do serviço social,
superficializa a discussão tanto sobre o conservadorismo quanto sobre o
PEP;
5. Tanto o conservadorismo quanto o PEP nasceram ao mesmo tempo no
interior do campo do serviço social.
6. A institucionalização do PEP foi “por cima”. O processo de teorização do
serviço social foi “por cima”. O esforço é fazer o debate espraiar-se para a
base;
7. A discussão sobre o conservadorismo e o PEP trouxe para o interior do
campo do serviço social a discussão sobre direitos e políticas públicas e
sociais, tendo o verbete avanço como um mediador. Não esqueçamos que
sendo um projeto do modo de produção burguês, o modelo que organiza a
sociedade, e o Estado como epicentro das demandas burguesas, a invenção
do direito e das políticas podem ser avanço para dentro do mecanismo
155

burguês de gestão. A defesa das políticas vem se confundindo com a defesa


do PEP e monopolizado a produção em serviço social como se fosse
automática; falar de direitos e políticas, é defender o PEP
8. Enquanto campo científico, o serviço social tem todos os elementos
elencados como campo. Destacamos os agentes, as regras, eas instancias
organizativas; O movimento de criar o PEP foi um grande empreendimento
para o campo do serviço social;
9. O termo “intenção de ruptura” indicado por Netto, de forma sábia, também
sinaliza um outro elemento: a “ ruptura por representação”. Nos falta não
intelectuais orgânicos, por origem ou adesão, como indicou Gramsci, mas,
sobretudo nos falta um campo orgânico, alternativo à forma conservadora de
auto-organização da categoria. Quando afirmo isso, não faço o julgamento
judaico-cristão sobre de quem é a “culpa”, mas atento que como o solo é
conservador, reproduzimos as formas, os expedientes, a tradição.
10. A necessidade de romper com a estrutura posta ao serviço social, e aí me
refiro à metodologia de Caso, Grupo e Comunidade, que orientava a
formação, rompemos com uma forma privada (interna) e publica (externa) da
formação e da atuação profissional. Mudamos a operação da profissão. Um
fator identitário no fazer. E substituímos pelo que? Na contemporaneidade, e
isso tem a ver com nossa trajetória de nos aproximarmos de tal forma do
Estado que hoje são as funções do estado que determinam o fazer de
diversos profissionais, inclusive nós, assistente sociais;
11. Se observarmos o PEP como uma adoção ao materialismo histórico dialético,
à teoria social crítica, essa mescla intensa com o Estado, está em conflito
com a teoria marxista; Seguir os manuais de orientação, lutar existência ou
pela funcionalidade das políticas, ocupar o estado, não será uma forma
conservadora de luta? Isso é algo a se pensar.
12. Constatamos que não é uma preocupação da base da categoria o
conservadorismo nem o PEP. A centralidade está na discussão do que fazer
através das políticas.
13. Sendo o PEP um diferencial da profissão do serviço social, embora não seja
condição de ser uma profissão ter um explicitado, por que tão poucas
produções? A temática do PEP ocupa o discurso da academia e das
instancias organizativas, mas não ocupa as produções sobre o tema.
156

Observamos a existências de muitas superficializações das discussões e


muitas generalizações.
14. Há uma dívida dos intelectuais do serviço social no que se refere ao PEP.
Não no que se refere à dimensão Ética, mas às demais dimensões sim.
15. No que se refere ao processo de formação, existe, e isso requer ser mais
aprofundado, uma suposição que passando pelas disciplinas dispostas pelos
núcleos, natural ou automaticamente, os discentes e os profissionais aderem,
adotam e sabem praticar o PEP e sabem diferenciá-lo do conservadorismo;
16. A questão do PEP, observando as considerações anteriores não é
hegemônica. A hegemonia requer que o grupo dirigente aglutine em torno de
si, outros grupos “vencidos” pelo debate, pela disputa, necessita que se
estabeleça seu domínio pelo consenso. Nessa perspectiva, o PEP não pode
ser hegemônico. Mas o grupo dirigente que o criou pode. A hegemonia é uma
ação humana consequência das relações sócio-culturais no campo do poder.
Há uma centralidade do poder simbólico sobre o PEP;
17. Em serviço social temos um fenômeno que me parece um complicador para a
convivência do bom debate; o PEP quer expressar uma reforma (ou uma
revolução?) cultural no interior da categoria. Mas é possível uma reforma
cultural sem mudar as bases econômicas e sociais? É possível só uma
categoria implementar essa reforma ou revolução?
18. No caso do serviço social temos ainda outro fenômeno: os criadores e os
professores que tem missões diferentes no campo. Os professores,
chamados por Bourdieu (p.138) de “conservadores da cultura” são
responsáveis pelas vias de reprodução dessa cultura, enquanto que os
criadores são os sujeitos que podem impor sua autoridade no campo. No
caso do nosso campo, professores, criadores e dirigentes são muitas vezes o
mesmo sujeito ocupando missões diferentes. Isso diminui a participação de
pessoas e minimiza a diversidade (pluralidade) concentrando poder. É
possível que esse monopólio de lugares favoreça a existência, dentro do
campo intelectual, do monopólio do discurso cultural legítimo, que condiciona
a existência e o conteúdo dos projetos intelectuais.
19. Sobre a disputa: quando do inicio de minhas reflexões inquiri alguns colegas
sobre se havia disputa. Para haver é preciso ter oponentes em condições de
disputa. Quem são os intelectuais que disputam com outros projetos éticos
157

políticos o campo do serviço social? Ou o serviço social está a disputar como


modo de produção burguês como um todo? É o serviço social contra o
mundo? A imprecisão e o pouco aprofundamento do debate as poucas
produções sobre o tema (os temas) podem turvar nossa visão e influencia a
formação e a ação profissional;
20. Está escondido na discussão sobre o PEP e o conservadorismo o debate
sobre o fazer profissional. Ocupando-se do micro chamado pelos
progressistas de tradicional) ou preocupando-se com o macro (progressista).
Essa é uma discussão não enfrentada e por esse motivo, não superada. Não
confundamos superada com não tematizada (invisibilizada); o fato de algo
não ser debatido não quer dizer que não exista.
21. A discussão entre conservadorismo e o PEP é uma discussão combinada.
Quanto mais soubermos acerca do conservadorismo e como ele se manifesta
nos processos de trabalhos e nos espaços sócio-ocupacionais, mais vias de
compreensão acerca do PEP poderão existir. A baixa frequência numérica de
ambos e a quase inexistência de um debate que os combine, aponta para
essa questão.
22. A temática do PEP trouxe, e parece sustentar, o debate recorrente sobre a
existência da dicotomia teoria e prática;
23. O PEP, embora isso não tenha sido escrito por nenhum dos pensadores,
precisa assumir-se como uma dimensão ideo-cultural do que teórico-
metodológica.
24. Tanto o conservadorismo quanto o PEP ainda estão à margem das
produções socializadas. Termos dissertações de mestrado e teses é
importante se elas se espraiassem para a formação. Quanto mais tempo
demoramos e dar sentido a esse debate, mais imputaremos unicamente ao
aumento de cursos, a fragilidade dos vínculos de trabalho; e, em especial dos
cursos Ead o avanço da onda conservadora no serviço social;
25. O fato do serviço social mesclar-se com o Estado (burguês) de forma intensa,
pode estar fortalecendo a onda conservadora na profissão. Esse aspecto
isoladamente já pode ser uma nova proposta de tese. Explico: O Congresso
da “Virada” que tomamos como consequência da efervescência do desejo de
mudar, não o serviço social, apesar de já imerso nas ondas do Movimento de
Reconceituação, mas de mudar a orientação política do país, de desejar-se o
158

fim da ditadura, de não se aceitar ingerências do governo ditador, foi possível


graças a forte influencia do movimento sindical, dos embriões dos partidos de
esquerda e de intelectuais que estavam se colocando à esquerda. Essa
combinação levou à “virada” que de momento virou processo. Essa
combinação questionava o estado de ditadura e participou do processo de
redemocratização com outros movimentos no país. A luta passou a ser por
ocupar o Estado, tomá-lo. Seguiu-se, pois as vias burguesas instituídas para
se tomar o Estado. A luta deixou de ser contra o capitalismo e suas
especificidades latino-americanas e brasileiras para a luta ser para se tomas o
Estado. Esse deslocamento acabou por valorizar ainda mais o Estado e suas
funções. Valorizam-se as políticas públicas como expressões de direito
mesmo sendo elas focalistas, seletistas e desigualmente distribuídas. Mas,
“ruim com elas, pior sem elas”. Defender as políticas públicas, criar políticas
públicas para segmentos específicos ganhou status de avanço na nossa
forma de fazer democracia. Isso internamente levou ao serviço social a fundir-
se mais com as políticas que deveriam ser seu meio, e não seu fim. Quando
olhamos os dados das produções no CBAS e no ENPESS vemos isso. A
discussão sobre as políticas consomem a produção dos trabalhos. Em
segundo lugar aparecem aquelas produções que se querem virar estatutos ou
políticas. E em ultimo lugar está a discussão sobre o conservadorismo e o
PEP;
26. Os três elementos do PEP: a Lei de Regulamentação da Profissão, o Código
de Ética e as Diretrizes Curriculares da ABEPSS, não se conversam. Isso é
presente tanto nas produções dos encontros quanto na produção dos
intelectuais. A centralidade está no Código de Ética no que se refere à
produção dos intelectuais e na disciplina de Ética no que se refere ao acesso
dos discentes e futuros profissionais à discussão.
27. Não foi alvo de nossa pesquisa, mas é alvo de nossa reflexão: como os
docentes estão a discutir o conservadorismo e o PEP através das Diretrizes
Curriculares? Mudar as diretrizes não implicou em mudar a compreensão dos
professores acerca dos seus planos de ensino. Que estruturas do campo
estão a dar conta dessa realidade? Os intelectuais, tanto os criadores quanto
os docentes estão aptos a esse debate dando conta da expressão dele no
mundo diário dos/das assistentes sociais?
159

Tomo as considerações finais como um espaço de explicitação de alguns aspectos.


Acolho que é preciso romper com um certo senso comum acadêmico e que é
preciso checar se o que é disputa de discurso ocupa as preocupações da base da
categoria, onde acontece a produção do serviço social. Tememos o debate. Embora
esteja presente nos princípios do Código de Ética da profissão que defendemos a
democracia, a pluralidade e não admitimos a discriminação de nenhuma ordem, no
processo de discussão sobre o conservadorismo e o nosso projeto ético político
(ainda sem adjetivo, ou será sem nome?) ainda temos, resto da herança católica, a
concepção que existem os “certos” e os “errados”.

O PEP, sem duvida foi um ato de produção cultural e ainda busca sua legitimação.
Não basta ter o monopólio do discurso oficial; não basta ocupar as áreas e as
instâncias de produção e reprodução sejam elas de formação e de organização
profissional. Esse é um limite do campo de nossa democracia representativa. Não à
toa Gramsci dizia que a organização do estado deveria seguir a organização dos
Conselhos de fábrica; Não se conquista hegemonia pela generalização ou pela
condenação ou desqualificação dos oponentes. Afirmar que tanto o
conservadorismo quanto o PEP estão bem definidos, estruturadas e localizados no
campo é confundir a verdade que se quer objetiva e a verdade vivida e aí se tem
terreno fértil por conta da criação de lacunas, maus entendimentos e discriminações.

Não é possível concluir sem destacar a vigorosa força dos assistentes sócias que
trouxeram a profissão até este momento. Sem eles não poderíamos pensar o
serviço social. Credito a todos/todas eles/elas a oportunidade de realizar algumas
reflexões e poder socializa-las. Sei nem tudo pode ser dito. Nem tudo é permitido ser
dito e que como diz Caetano Veloso: “Narciso acha feio o que não é espelho”, mas
acredito numa ciência que tenha coragem para ouvir, para escrever para ler e para,
sobretudo respeitar a diferença. Sem respeito às diferenças não há democracia nem
dialética.

Que esse estudo possa cumprir a principal função dele que é abrir oportunidade
para outros estudos, para outros debates. Há muito que se pesquisa sobre o tema
160

conservadorismo e PEP. Até agora eles flutuam nos debates sejam eles falados ou
escritos.
161

REFERÊNCIAS

ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Estatuto


da ABEPSS. Disponível em:
http://www.abepss.org.br/arquivos/textos/arquivo_201604041530365473870.pdf.
Acessado em: 13/11/2017.

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Anais do


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