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FACULDADE BARÃO DO RIO BANCO-FAB

CURSO DE GRADUAÇAO EM SERVIÇO SOCIAL

EDIVAN DE SOUZA DA SILVA


ELIAMARA PAULA DA COSTA
MARIA DELCIMAR DA SILVA RAMALHO

O DESAFIO DE FAZER O SERVIÇO SOCIAL NO SISTEMA ÚNICO DE SAUDE


NO MUNICIPIO DE RIO BRANCO

Rio Branco
2016
EDIVAN DE SOUZA DA SILVA

ELIAMARA PAULA DA COSTA

MARIA DELCIMAR DA SILVA RAMALHO

O DESAFIO DE FAZER O SERVIÇO SOCIAL NO SISTEMA ÚNICO DE SAUDE


NO MUNICIPIO DE RIO BRANCO

Monografia apresentada no Curso de Graduação


em Serviço Social da Faculdade Barão do Rio
Branco-FAB, como requisito a obtenção do título
de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora Prof.ª Esp.: Darnyclay Leite Costa

Rio Branco

2016
EDIVAN DE SOUZA DA SILVA
ELIAMARA PAULA DA COSTA
MARIA DELCIMAR DA SILVA RAMALHO

O DESAFIO DE FAZER O SERVIÇO SOCIAL NO SISTEMA ÚNICO DE SAUDE


NO MUNICIPIO DE RIO BRANCO

Monografia apresentada no Curso de Graduação em Serviço Social da Faculdade


Barão do Rio Branco-FAB, como requisito a obtenção do título de Bacharel em Serviço
Social.

Banca Examinadora

_______________________________________
Prof. Marilúcia Feliciano Migueis

________________________________________
Prof. Maria Tarcísia de Medeiros

________________________________________
Prof. Esp. Darnyclay Leite Costa

Aprovação em: ___ de _______de 2016


FICHA CATALOGRAFICA
DEDICATORIA

A Deus, о que seria de todos nós, sem а fé que temos nele.


AGRADECIMENTOS

A Deus por ter dado a saúde necessária e a força para superar as dificuldades.

A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração que


oportunizaram a janela que hoje enxergamos um horizonte superior, eivado pela
acendrada confiança no mérito e ética aqui presentes.

Aos pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional.

Aos amigos e colegas que fizeram parte desta caminhada.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte desta formação, o muito


obrigado.

Edivan de Souza da Silva


AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado força, entusiasmo criador para a conclusão de mais
uma etapa da minha existência.

Aos meus pais, pela presença atenciosa a cada passo e por me ensinar que
para enfrentar os desafios.

Aos amigos e familiares que sempre estiveram por perto, dando um apoio
moral para não desistir.

A toda equipe que compõe esta Universidade e a todos que direta ou


indiretamente fizeram parte desta formação.

Eliamara Paula da Costa


AGRADECIMENTOS

Primeiramente а Deus qυе permitiu tudo isso acontecesse ао longo de minha


vida, е não somente nestes anos como universitária, mas que todos os momentos é
o maior mestre qυе alguém pode conhecer.

A Universidade pela oportunidade de fazer о curso.

Ao meu companheiro pelo amor, incentivo е apoio incondicional.


Aos amigos que também trilharam este caminho e me ajudaram durante a
caminhada.

Maria Delcimar da Silva Ramalho


RESUMO

Avaliar as mudanças que ocorreram na atuação do profissional do Serviço Social,


como campo de atuação a área da saúde, partindo dos princípios e diretrizes do
Sistema Única de Saúde no SUS. Desta maneira promover a reflexão sobre a área de
atuação do profissional em Serviço de Atendimento Especializado SAE. A proposta
desse estudo foi entender e compreender o Serviço Social como pratica que
conseguiu romper a tradicionalidade. Como metodologia de estudo realizamos
pesquisa bibliográfica com norteadores as literaturas da Fundamentação Histórica e
Metodológica do Serviço na Contemporaneidade e os Parâmetros de Atuação do
Assistente Social na área da Saúde, com base primordial as Leis Orgânicas da Saúde
8080/90 e 8142/90. Evidenciando os marcos que contribuíram para o Projeto Ético
Político do Assistente Social visando operar com o intuito de inovação na gestão social
participativa.

Palavras-chave: Serviço Social; SUS; Projeto Ético Politico


ABSTRACT

Evaluate the changes that have occurred in the performance of professional social
work, as health the playing field, based on the principles and guidelines of the Health
Single System in SUS. Thus promote reflection on the professional area in Customer
SAE Specialized Service. The purpose of this study was to understand and
comprehend social work practice as it broke through the traditionalism. As study
methodology conducted literature with guiding the literatures of the Historical Rationale
and Methodological Service in Contemporary Performance and parameters of the
social worker in the health area, with primary basis the Organic Laws of Health 8080/90
and 8142/90. Highlighting the milestones that contributed to the Ethical Project Political
Social Worker aiming operate with innovation in order participatory social
management.

Keywords: Social Work; SUS; Ethical Project Politico


SUMARIO

INTRODUÇÃO...............................................................................................................

1 CAPITULO .............................................................................................................11

1.1 SERVIÇO SOCIAL NA QUEBRA DA RUPTURA DOS ANOS 70,80 E 90........11

1.1.1 O que é o Serviço Social.................................................................................13


1.2 A PROPOSTA DE MUDANÇA NO SERVIÇO SOCIAL..................................15
1.3 MÉTODOS DE TRAZER AS PRINCIPAIS TEORIAS SOCIAIS: MÉTODO
BELO HORIZONTE....................................................................................................16
1.4 A PROPOSTA DO PROJETO ÉTICO-POLITICO...........................................17
1.4.1 Trabalhos na visão de Max..............................................................................20
2 CAPITULO .....................................................................................................22
2.1. OS PARÂMETROS DE ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE….22
2.2 INSTRUMENTALIDADES NO SERVIÇO SOCIAL..............................................28

3 CAPITULO......................................................................................................30
3.1 SUS- REGULAMENTAÇÃO- LEI 8142/MINISTÉRIO DA SAÚDE................30
3.2 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE EM RIO BRANCO....33
3.3 REFLEXÃO SOBRE O SERVIÇO SOCIAL NA UNIDADE SAE.....................34
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................36
REFERENCIAL TEORICO........................................................................................37
INTRODUÇÃO

O presente momento em que vivemos está passando pelo reflexo dos


desafios enfrentados em todos estes anos do surgimento do Serviço Social, agora
mais do que nunca devemos ter a coragem de enfrentar o presente, concretizar as
metas até aqui alcançadas e não parar de estimular nossos horizontes de humanidade
e solidariedade.

O desafio da atuação profissional do Assistente Social na contemporaneidade


se resume na execução do Projeto Ético Político que visa romper com o
conservadorismo.

Refletir sobre as mudanças que aconteceram entre os anos de 70,80 e 90 e


o que afeta a produção, sobre as esferas de políticas públicas e permitir a análise de
como elas reestabeleceram as novas medidas de amparo e demanda à profissão de
Serviço Social e tendo como orientação teórica.

IAMAMOTO, traz a reflexão de que o Assistente Social tem sido o agente


profissional que implementa as Políticas Sociais, especialmente as Políticas Públicas,
de maneira além de um trabalho na espera da execução, a formulação de políticas
públicas e a gestão de políticas sociais. Em conformidade com os Parâmetros de
Atuação no Assistente Social na Saúde para compreensão do Projeto Ético Político.
Agindo este com competência de propor, negociar com as instituições os projetos que
foram desenvolvidos, defendendo seu campo de trabalho, qualificações e funções
profissionais (IAMAMOTO,2015, p. 21).

Tendo como objetivo deste trabalho fazer uma análise das concepções de
Serviço Social no SUS, identificando os objetivos, as ações, e os limites que ainda
enfrentamos na atuação profissional na contemporaneidade. E entre seus objetivos
específicos compreender o surgimento do Serviço Social, o papel do mesmo na
assistência à saúde bem como a pratica profissional do Assistente Social no município
de Rio Branco.

Como metodologia deste estudo utilizamos a pesquisa bibliográfica e


observação in loco da atuação do Assistente Social no SAE, para melhor subsídio
reflexivo da prática profissional a partir do Projeto Ético Político.
11

1 CAPITULO

1.1 SERVIÇO SOCIAL NA QUEBRA DA RUPTURA DOS ANOS 70,80 E 90

O Serviço Social teve sua criação na sociedade capitalista monopolista, diante


das necessidades da divisão social do trabalho, com a notação de um conjunto de
variáveis de que seguem a alienação até a contradição do antagonismo. Com base
nesta contextualização; o Brasil buscou também afirmar-se historicamente como a
pratica de assistência humanitária, desde a legitimação do Estado e da proteção da
Igreja, a partir da década de 1940.

A forma de manter o conservadorismo profissional, foi identificado nas


práticas profissionais nesta época, pelo fato de intervir na vida pessoal destes
trabalhadores de maneira essencialmente política, com efeito de enquadramento do
pessoal nas reações de trabalho vigente, reforçando assim a mutua colaboração entre
o capital e o trabalho (IAMAMOTO, 2004, p.20)

Observa-se que diferentemente da caridade tradicional, que se limitava à


propensão a pobreza, a profissão dispõe duma ação educativa, preventiva e curativa
dos problemas sociais através da ação junto a família trabalhadora; diferindo da
assistência pública que desconhece a característica singular e particular dos
indivíduos, passando a assistência educativa sobre os problemas individuais e
singulares.

Iamamoto e Carvalho conceituam o conservadorismo profissional como:

[...] uma forma de intervenção ideológica que se baseia no


assistencialismo como suporte de uma atuação cujos efeitos são
essencialmente políticos: o enquadramento das populações pobres e
carentes, o que engloba o conjunto das classes exploradas (IAMAMOTO e
CARVALHO,1985, p. 221).

Não exumando a designação do contexto amplo em que se situa a posição


da política assumida e desenvolvida pelo conjunto do bloco católico e a estreita ligação
12

com o fascismo nacional, constituindo o polarizador da opinião de direita através da


defesa de um programa conservador, na luta constante contra o socialismo e a defesa
intransigente das relações sociais vigentes (IAMAMOTO e CARVALHO, 1985, p. 221-
222)

Com o processo de desenvolvimento econômico do Brasil, principalmente na


indústria automotiva na década de 1950, as mazelas enquanto questões sociais,
deliberaram ao Assistente Social ações profissionais de abordagem individual, grupal
e de comunidade. A abordagem comunitária foi definida por Ammam como um
processo através do qual os esforços do próprio povo se unem aos das autoridades
governamentais, com o fim de melhorar as condições econômicas, sociais e culturais
das comunidades, integrar essas comunidades na vida nacional e capacitá-la a
contribuir plenamente para o progresso do País (AMMAM, 1984, p. 32 apud ONU,
1962, p.25)

Com a incorporação teórica e metodológica da abordagem comunitária no


Serviço Social, conforme NETTO os profissionais passaram a sentir a sensibilidade
no tocante das questões macrossociais, além disso, o autor destaca que esta forma
de intervenção estava “mais consoante com as necessidades e as características de
uma sociedade, onde a questão social tinha a magnitude elementarmente massiva”.
E esta nova realidade do profissional de Serviço Social marca o início da erosão das
bases do Serviço Social “tradicional” no qual o Assistente Social quer deixar de ser
um “apostolo” para investir-se da condição de agente de mudança (NETTO, 2005,
p.138)

Neste contexto NETTO, aponta 3 elementos relevantes para a ruptura do


Serviço Social: o reconhecimento que a profissão sintoniza com as novas solicitações
da sociedade em mudança e o forte crescimento ou se arrisca para ver o seu legado
profissional em segundo plano; levanta-se a exigência de aperfeiçoar o
aparelhamento conceitual no Serviço Social e elevar o padrão técnico, cientifico e
cultural do profissional; as reinvindicações de funções não apenas executivas na
programação e implementação de projetos de desenvolvimentos (Netto, 2005, p. 139).
13

Entretanto, segundo NETTO, ainda não é possível identificar abertamente


uma crise do Serviço Social, pois isto só foi possibilitado nos anos seguintes após o
rebatimento de quatro fatores específicos da categoria profissional:

Amadurecimento profissional e a sua relação em equipes multiprofissionais;


Desligamento de segmentos da Igreja Católica mais tradicional e a imersão
de grupos católicos mais progressistas; Participação do movimento estudantil
nas escolas de Serviço Social e o referencial próprio de parte significativa das
ciências sociais do período, imantada por dimensões críticas e nacionais
populares (NETTO, 2005, p. 140).

Diante do exposto destaca-se a crise ideológica e política que interagia sobre o


Serviço Social, questionando sobre a burocracia que fora importada das classes
dominantes e transmitindo para a profissão, com a intenção do Projeto Ético Político,
que visa a ruptura com o neoconservadorismo. Com a finalidade de voltar ao auxílio
com a equidade necessária para atender a todos.

1.1.1 O que é o Serviço Social

As características do Serviço Social- de acordo com IAMAMOTO e


CARVALHO- é uma profissão liberal, embora não tenha meios para a sua
concretização, pois exerce sua atividade com os mecanismos e instrumentos que são
disponibilizados pelas instituições que se inserem – mediadas pelo Estado, pelas
empresas ou outras entidades empregatícias. Por essa liberalidade lhe foi facultada a
existência do código de ética, enquanto instrumento de orientação ético-política para
a categoria, permitindo a profissão uma dinamicidade na sua intervenção dada a sua
liberdade ainda que relativa no exercício de suas funções institucionais.

É caracterizada ainda pela relação estabelecida com o contato direto com o


usuário, que se configura no espaço de atuação com distintas possibilidades de
intervenção e reorientação do exercício profissional.

A terceira característica é a indefinição ou fluidez do que se é e do que se faz


o Serviço Social, pois essa indefinição permite ao Assistente Social a ampliação dos
14

espaços e da autonomia de atuação, podendo inclusive superar as demandas


institucionais, além de se afirmar como profissional capacitado e que é necessário
para a instituição, resultante desta visão totalizadora da realidade que o cerca.
Estando o Serviço Social na divisão técnica e social do trabalho e atuando diretamente
com as classes sociais fundamentais na sociedade.

A liberdade é o princípio fundamental e central do código de ética do


profissional que participa ativamente das relações sociais e segundo IAMAMOTO e
CARVALHO:

[...] a reprodução das relações sociais é a reprodução da totalidade do


processo social, a reprodução de determinado modo de vida que envolve o
cotidiano da vida em sociedade: o modo de viver e de trabalhar, de forma
socialmente determinada, dos indivíduos em sociedade (IAMAMOTO;
CARVALHO, 2001, p. 72).

Para os autores a atuação do Assistente Social é polarizada pelos interesses


sociais, podendo ser cooptada pela classe que possui o maior poder, neste sentido o
exercício reproduz também pela mesma atividade os interesses respondidos que
vivem em tensão.

Respondendo as demandas do capital quanto a do trabalho e só se fortalecer


pela mediação do seu oposto, participando tanto dos mecanismos de dominação e
exploração como ao mesmo tempo pela atividade e a resposta às necessidades de
sobrevivência da classe trabalhadora e dos interesses sociais, reforçando as
contradições que constituem o básico da história (IAMAMOTO; CARVALHO, 2001,
p.75).

Diante isso, é indispensável que o Assistente Social se perceba histórica e


criticamente dentro desta dupla função, tendo em vista os interesses da classe
trabalhadora e a sua legitimação e o fortalecimento dos trabalhadores na luta da
classe.
15

1.2 A PROPOSTA DE MUDANÇA NO SERVIÇO SOCIAL

A década de 1980 foi marcada pela definição dos rumos técnico-acadêmicos


e políticos para o Serviço Social, com o aglutinamento dos segmentos significativos
de assistentes sociais no País, construídos ao longo das últimas duas décadas. As
diretrizes que norteiam este projeto se desdobraram no Código de Ética Profissional
do Assistente Social (CEPAS) de 1993, na Lei da Regulamentação da Profissão de
Serviço Social e hoje na nova Proposta de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço
Social.

Deste modo o Serviço Social aproximou-se ao movimento da realidade


concreta, com as várias expressões sociais, capitadas desde a sua gênese bem como
a sua manifestação, condicionando a atribuição de um novo estatuto à dimensão
interventiva e operativa da profissão, salvo-guardo os seus componentes ético-
políticos.

Sendo este o grande desafio ao Serviço Social, repassar a base teórica


acumulada ao entrelaçamento da profissão na realidade, atribuindo à atenção maior
as estratégias táticas e técnicas do trabalho profissional, em função das
particularidades de estudo e ação do Assistente Social.

Os dados sobre a formação profissional feito pela ABESS1 dispôs das


dificuldades hoje apresentadas, e foram identificadas três armadilhas da qual a divisão
se aprisionou durante esses anos – o teoricismo, o politicismo e o tecnicismo –
sobretudo é preciso refletir sobre as mesmas a partir dos pressupostos que baseiam
a procura de consolidação dos pilares para o exercício profissional.

O primeiro pressuposto é referente a apropriação teórico-metodológica no


campo das grandes matrizes do pensamento social, permitindo a inovação de
caminhos para o exercício profissional. O segundo dispõe do engajamento político
nas organizações da sociedade e nas representações da categoria, ligada a
intervenção profissional articulada aos interesses setoriais da sociedade. O terceiro

1
Cf. ABEPSS/CEDEPSS. “Proposta básica para o projeto de formação profissional”. In Serviço Social &
Sociedade. Nº 50. Ano XVII. Abril de 1996. São Paulo: Cortez, 1996, pp.143-171.
16

condiz que o aperfeiçoamento técnico-operativo é a exigência principal para ser um


Assistente Social, com as qualificações para o mercado de trabalho.

Sendo os mesmos complementares e fundamentais para a formação do


profissional que neste momento são do nível teórico, militante e tecnicista usado
anteriormente trocado pela liberdade de transformação.

Trazer a articulação para essa profissão é o maior desafio neste processo de


mudança e diferencia a profissão que atua na realidade da sociedade,
compreendendo as conjunturas de questão social - atribuindo essa condição ao
exercício profissional do Serviço Social na realidade centrado nas pessoas.

1.3 MÉTODOS DE TRAZER AS PRINCIPAIS TEORIAS SOCIAIS: MÉTODO


BELO HORIZONTE

Consagrou-se na Escola de Serviço Social da Universidade de Minas Gerais,


entre os anos de 1972-1975, onde se formulou o “Método de BH” quando um grupo
de profissionais definiu o que seria a renovação para o Serviço Social.

Estabelecendo sua base na ideia crítica, confrontando a absolutismo com a


ordem do plano teórico, profissional e político, mostrando a inovação que estava por
vir.

Este avanço persuadia as liberdades democráticas, a maior participação


popular, ruptura ao tradicionalismo, mais foi interrompida em 1975. Sua característica
mais marcante foi com a universidade que renovava a base teórica. Demandas
através de uma produção teórica, por meio de pesquisa, ensino e extensão, dando a
possibilidade de interação continua com outros profissionais. Tal intensão de ruptura
com o Serviço Social “tradicional” produz a crítica e a contestação das bases,
introduzindo o pensamento marxista e a participação político-partidária.

Articulando os interesses das classes sociais e camadas subalternizadas com


os critérios teóricos, metodológicos e interventivos no Serviço Social. As críticas
realizadas levam ao conceito simplificado de classe social, nos anos 1970 o espaço
17

acadêmico estava solido e consolidado sendo o terreno fértil para a graduação e a


pós-graduação em Serviço Social.

Este proporcionava a revisão teórica e metodológica por questionar suas


bases, sinalizando a interação entre as ciências e interagindo intelectualmente entre
assistentes Sociais, pois é na forma de conhecimento critico que era bem-vindo e não
recusado.

As experiências de mercado e até o campo de estágio, promovendo o


interesse pela pesquisa que quebrou o isolamento e foi a partir desta perspectiva que
sinalizou a intenção de ruptura com o tradicionalismo e a busca pela renovação no
ensino e pratica do Serviço Social.

1.4 A PROPOSTA DO PROJETO ÉTICO-POLITICO

Diante da perspectiva de mudança, veio a nascer o Projeto Ético-Político


Profissional, que se direcionou da projeção coletiva dos profissionais sobre o valor
ético que está ligado primordialmente aos projetos sociais.
Não foi algo que aconteceu de maneira provisória, sua geração foi na metade
da década de 1970 e teve marco no Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais2,
conhecido por “Congresso da Virada”. Avançando nos anos 1980, no processo de
redemocratização da sociedade pela recusa ao conservadorismo que ainda estava
presente no Serviço Social. Amadureceu a ideia somente na década de 1990 quando
as profundas transformações sociais que afetaram a economia, produção, política,
cultura, o Estado e foi marcado pelo modelo de acumulo flexível pelo neoliberalismo.
Segundo Yasbeck, o processa desta construção envolve:

(...) um conjunto de componentes que necessita se articular: são valores,


saberes, e escolhas teóricas, práticas, ideológicas, políticas, éticas,

2
Texto adaptado da Coletânea de Leis – CRESS 17ª Região/ES e do texto de Marcelo Braz Moraes
dos Reis (professor da ESS/UFRJ. Conselheiro do CFESS - Gestão 2002-2005/2005-2008, ex-diretor
CRESS 7a Região), intitulado “Notas sobre o Projeto Ético Político do Serviço Social” e outras
referências citadas.
18

normatizações acerca de direitos e deveres, recursos políticos organizativos,


processos de debate, investigação, interlocução crítica com o movimento da
sociedade, da qual a profissão é parte e expressão (YASBECK, 2004, p.12)

E as necessidades para desenvolver e aprofundar o projeto ético-político são:


 Condição política, que teve na luta pela democracia seu principal
rebatimento, onde as aspirações democráticas e populares foram
incorporadas e intensificadas pelas vanguardas do Serviço Social.
 Espaço legitimado na academia, que permitiu a profissão estabelecer
fecunda interlocução com as Ciências Sociais e criar e revelar quadros
intelectuais respeitados no conjunto da categoria.
 Debate sobre a formação profissional, cujo empenho foi dirigido no
sentido de adequá-la às novas condições postas, em um marco
democrático da questão social.
Em resumo, a construção de um novo perfil profissional, desta forma a
categoria profissional na modalidade praticas-interventivas foram tomando outro
significado e as novas áreas e campos de operação foram crescendo devido as
conquistas dos direitos cívicos e sociais que acompanharam a restauração
democrática na sociedade brasileira.
Estrutura básica do projeto ético-político:
Núcleo:
 Reconhecimento da liberdade como valor central
 Compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos
indivíduos sociais.
 Vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova
ordem social.
Dimensão política:
Se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da
universalização; a ampliação e consolidação da cidadania. Este projeto se reclama
radicalmente democrático – socialização da participação política e socialização da
riqueza produzida.
Do ponto de vista profissional:
19

O projeto implica o compromisso com a competência, cuja base é o


aprimoramento profissional – preocupação com a autoformação permanente e uma
constante postura investigativa.

Usuários:
O projeto prioriza uma nova relação sistemática com os usuários dos serviços
oferecidos – compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, a
publicitação dos recursos institucionais e, sobretudo, abrir as decisões institucionais à
participação dos usuários. Articulação com os segmentos de outras categorias
profissionais que partilhem de propostas similares e com os movimentos que se
solidarizam com a luta geral dos trabalhadores.
Com a expansão do neoliberalismo que conduz a perdas dos direitos sociais
já conquistados, induziu a massa trabalhadora a um aumento na deficiência das
condições de vida e de trabalho, diminuindo a remuneração, a empregabilidade e em
contrapartida aumentando a miséria. Sendo este o desafio posto aos Assistentes
Sociais na contemporaneidade:

Como reforçar e consolidar este projeto político profissional em um terreno


profundamente adverso; como atualizá-lo ante o novo contexto social, sem
abrir mão dos princípios éticos políticos que o norteiam. Ora, a vitalidade
deste projeto encontra-se estreitamente relacionada à capacidade
de adequá-lo aos novos desafios conjunturais, reconhecendo as tendências
dos processos sociais, de modo que torne possível a qualificação do exercício
e da formação profissional na concretização dos rumos perseguidos.
(Iamamoto:1998, p.113-114)

Os projetos profissionais são coletivos, pois apresentam a auto-imagem de


uma profissão; elegem os valores que a legitimam; delimitam e priorizam seus
objetivos e funções; formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o
seu exercício; prescrevem normas para o comportamento dos profissionais;
estabelecem as balizas da sua relação com os usuários dos serviços, com as outras
profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas; são
construídos por um sujeito coletivo – a categoria profissional; e através da sua
organização (que envolve os profissionais em atividades, as instituições formadoras,
os pesquisadores, os docentes e estudantes da área, seus organismos corporativo e
sindicais) que a categoria elabora o seu projeto profissional (NETTO,1999).
20

1.4.1 Trabalhos na visão de Max

Depois da II Guerra Mundial os países capitalistas disseminaram táticas em


defesa do capitalismo, pois receavam a expansão do socialismo, tendo em vista que
havia a construção do bloco socialista representado pela União Soviética. Uma dessas
estratégias foi a implantação de empresas norte-americanas e europeias na América
Latina.

Sendo, uma parte da burguesia local (aliada aos EUA) era a favor do capital
internacional e a outra defendia o nacionalismo, causando uma crise na burguesia,
sendo que a parte da burguesia atrelada aos EUA resolveu a crise com o golpe de 1º
de abril de 1964, o golpe militar, que em apoio à concentração do capital proibiu o
sindicalismo e agravou a exploração do trabalhador.

Acarretando a erosão da base do Serviço Social tradicional e iniciando com a


renovação do Serviço Social brasileiro que se deu em três perspectivas: a
modernizadora baseada na teoria positivista; a de renovação do conservadorismo
baseada na teoria fenomenológica; e a de intenção de ruptura baseada no marxismo.

Aconselho a leitura de todas as perspectivas, mas falarei um pouco sobre a


terceira: Perspectiva da Intenção de Ruptura: Surge com a proposta de romper as
práticas tradicionais do Serviço Social, vinculadas aos interesses da classe
dominante, discute a relação entre a profissão e a sociedade capitalista. Foi
manifestada no âmbito dos movimentos democráticos e das classes exploradas e
subalternas (início dos anos de 1960) quando:

[...] O Serviço Social – de forma visível, pela primeira vez vulnerabilizava-se


a vontades sociais (de classe) que indicavam a criação, no marco
profissional, de núcleos capazes de intervir no sentido de vinculá-lo a
projeções societárias pertinentes às classes exploradoras e subalternas.
(Netto, 2006, p.256)

Com isso os Assistentes Sociais que optaram politicamente a trabalhar ao


favor dos explorados e subalternos conceberam as primeiras ideias de ruptura das
21

práticas tradicionais. Lembrando que o objeto e trabalho do Serviço Social é a questão


social (resultante das relações de conflito entre capital x trabalho que se manifesta em
suas múltiplas expressões: desemprego, violência, fome, discriminação e etc.), e
agora os profissionais optaram em atuar em prol dos trabalhadores (segundo
IAMAMOTO trabalhador é tanto quem está empregado e desempregado), baseando-
se na teoria marxista.

Ressaltando que essa perspectiva se alastrou no período de crise da ditadura,


originando produções teóricas voltadas para as questões do continente latino-
americano, partindo das práticas profissionais e aumentando a participação política
de assistentes sociais nos movimentos sociais, sindicalistas e partidários, porém o
movimento de reconceituação do Serviço Social.

Hoje ainda precedem três perspectivas, de modo que há educadores que


encaminham seus projetos conservadores e profissionais com práticas atreladas à
tendência de renovação do conservadorismo; portanto o projeto ético-político-
profissional hegemônico fundamenta-se na teoria marxiana e marxista, se
materializando no código de ética profissional (1993) que norteia o pensar e o fazer
profissional da Assistência Social.
22

2 CAPITULO

2.1. OS PARÂMETROS DE ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE

Para o diagnóstico do Serviço Social e Saúde na contemporaneidade é


necessário recuperar os avanços e lacunas ocorridos na profissão a partir dos anos
de 1980. Essa década marca o início do amadurecimento da tendência hegemônica
na academia e nas entidades da categoria– alvo de ruptura – e, com isso, a
interlocução real com a tradição marxista. No entanto, os profissionais dessa vertente
se inserem, na sua maioria, nas universidades e têm pouca utilização nos serviços
(NETTO, 1996a; BRAVO, 1996).

Na saúde, os avanços abordados pela profissão no exercício profissional são


considerados escassos, pois o Serviço Social chega à década de 1990 ainda com
uma rudimentar alteração do trabalho institucional; continua enquanto categoria
desarticulada do Movimento da Reforma Sanitária, sem nenhuma explícita e
organizada ocupação na máquina do Estado pelos setores progressistas da profissão
(encaminhamento operacionalizado pela Reforma Sanitária) e insuficiente produção
sobre “as demandas postas à prática em saúde” (BRAVO, 1996).

Esse item tem por base as elaborações de Bravo (2007) e Bravo e Matos
(2004) a renovação do Serviço Social no Brasil ocorre a partir de meados dos anos
de 1980. Segundo Netto (1996b), é possível identificar três tendências em disputa: a
modernizadora com influência do funcionalismo; a de reatualização do
conservadorismo com recurso à fenomelogia; e a de intenção de ruptura responsável
pela interlocução com o marxismo.

Considerando que os anos de 1990 foram o período de implantação e êxito


ideológico do projeto neoliberal no país, identifica-se que, nesse contexto, os dois
projetos políticos em disputa na área da saúde, passam a apresentar diferentes
requisições para o Serviço Social (BRAVO, 1998). O projeto privatista vem
requisitando ao Assistente Social, entre outras demandas, a seleção socioeconômica
dos usuários, atuação psicossocial por meio de aconselhamento, ação fiscalizatória
aos usuários dos planos de saúde, assistencialismo por meio da ideologia do favor e
predomínio de práticas individuais.
23

Entretanto, o projeto da reforma sanitária vem apresentando como demandas


que o Assistente Social trabalhe as seguintes questões: democratização do acesso
as unidades e aos serviços de saúde; estratégias de aproximação das unidades de
saúde com a realidade; trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens grupais;
acesso democrático às informações e estímulo à participação popular. Destaca-se, a
partir do exposto, que há uma relação entre o projeto ético-político e o de Reforma
Sanitária, principalmente, nos seus grandes eixos: principais aportes e referências
teóricas, formação profissional e princípios.

Os dois projetos são construídos no processo de redemocratização da


sociedade brasileira e se consolidam na década de 1980. As demandas democráticas
e populares, a mobilização e organização dos trabalhadores urbanos e rurais colocam
na agenda política brasileira a exigência de transformações políticas e sociais e a
necessidade de articulação dos projetos profissionais aos projetos societários que são
propostos para o conjunto da sociedade.

Atualmente, identifica-se que alguns importantes desafios devem ser


enfrentados. Os dois projetos políticos existentes na saúde continuam em disputa (o
projeto da reforma sanitária versus o projeto privatista). O atual governo ora fortalece
o primeiro projeto, ora mantém a focalização e o refinanciamento, característicos do
segundo percebe-se, entretanto, uma ênfase maior no projeto privatista. Essa disputa
e, em consequência, as requisições para a profissão continuam presentes na
atualidade.

A diferença entre projetos societários e projetos profissionais é elaborada por


Netto o Serviço Social não passa ao largo dessa tensão. Ao mesmo tempo em que a
década de 1990 é marcada pela hegemonia da tendência à intenção de ruptura e, não
por acaso, quando o Serviço Social atinge sua maioridade intelectual; é também,
nesta mesma década, que se identifica a ofensiva conservadora a esta tendência.

O questionamento à tendência à intenção de ruptura afirma que o marxismo


não apresenta respostas para o conjunto dos desafios postos à profissão pela
contemporaneidade. Segundo Netto (1996), as críticas apresentam em comum o fato
de apontarem como problemas o dogmatismo, quando de fato trata-se de ortodoxia,
24

e os equívocos da tradição marxista, quando na realidade tratar-se-ia de possíveis


lacunas dessa tradição no âmbito do Serviço Social.

Na saúde, em que esse embate claramente se expressa, a crítica ao projeto


hegemônico da profissão passa pela reatualização do discurso da cisão entre o estudo
teórico e a intervenção, pela descrença da possibilidade da existência de políticas
públicas e, sobretudo, na suposta necessidade da construção de um saber específico
na área, que caminha tanto para a negação da formação original em Serviço Social
ou deslancha para um trato exclusivo de estudos na perspectiva da divisão clássica
da prática médica.

Sobre o último eixo assinalado, cabe aqui apresentar três expressões. A


primeira é a constatação de que ainda existe na categoria segmentos de profissionais
que, ao realizarem a formação em saúde pública, passam a não se considerarem
como assistentes sociais, recuperando um auto apresentação de sanitaristas. A
segunda tendência, na atualidade com mais vigor, é a de resgatar no exercício
profissional um privilegiamento da intervenção no âmbito das tensões produzidas
subjetivamente pelos sujeitos e tem sido autodenominada pelos seus executores
como Serviço Social Clínico.

O que denota a falta de identidade desses assistentes sociais com a profissão.


Essa proposição é decorrente de um movimento composto de um grupo de assistente
sociais com formação especializada em diversas abordagens clínicas: holística,
bioenergética, psicodrama, terapia familiar sistêmica, transpessoal. É um grupo
heterogêneo que reivindica das entidades da categoria e unidades de ensino o
reconhecimento do caráter clínico ou terapêutico do exercício profissional.

E, por fim, percebe-se, gradativamente, o discurso da necessidade da criação


de entidades ou da realização de fóruns de capacitação e debates dedicados a
importância da produção do conhecimento sobre o Serviço Social nas diferentes áreas
de especialização da prática médica, de forma fragmentada.

Sobre esses pontos, cabem algumas reflexões. O problema não reside no fato
dos profissionais de Serviço Social buscarem aprofundamentos na área da saúde, o
que é importante. O dilema se faz presente quando este profissional, devido aos
méritos de sua competência, passa a exercer outras atividades (direção de unidades
25

de saúde, controle dos dados epidemiológicos, entre outros) e não mais as identifica
como as de um Assistente Social.

Assim, o profissional recupera – por vezes impensadamente – uma


concepção de que fazer Serviço Social é exercer o conjunto de ações que
historicamente lhe é dirigido na divisão do trabalho coletivo em saúde. Este consistiria
apenas na ação direta com os usuários, o que Netto (1990) denomina de execução
terminal da política social. As novas demandas como gestão, assessoria e a pesquisa,
consideradas como transversal ao trabalho profissional e explicitadas na Lei de
Regulamentação da Profissão (1993) e nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS
(1996), na maioria das vezes, não são assumidas como competências ou atribuições
profissionais.

Outra questão é a tentativa de obscurecer a função social da profissão na


divisão social e técnica do trabalho, pois o problema não está no uso de referências
que abordam o campo psíquico ou sobre doenças, mas sim quando este profissional,
no cotidiano de seu trabalho profissional, se distancia do objetivo da profissão, que na
área da saúde passa pela compreensão dos determinantes sociais, econômicos e
culturais que interferem no processo saúde-doença e na busca de estratégias político-
institucionais para o enfrentamento dessas questões.

O exercício profissional do Assistente Social não desconsiderar as dimensões


subjetivas vividas pelo usuário e nem se reduzir a defesa de uma suposta
particularidade entre o trabalho desenvolvido pelos assistentes sociais nas diferentes
especialidades da medicina. Esta última perspectiva fragmenta a ação do Assistente
Social na saúde e reforça a concepção de especialização nas diversas áreas médicas
e distintas patologias, situação que tem sido colocada pelas demais profissões de
saúde como necessária de superação.

As novas diretrizes das diversas profissões têm ressaltado a importância de


formar trabalhadores de saúde para o Sistema Único de Saúde, com visão generalista
e não fragmentada. Outra preocupação que se coloca é a necessidade de sujeitos
históricos individuais e coletivos não caírem no possibilíssimos, que significa
flexibilizar os princípios defendidos no projeto ético-político profissional e na proposta
de Reforma Sanitária com vistas a assegurar pequenos ganhos políticos, “a partir de
26

concessões e revisionismos teórico-políticos” (BRAZ, 2004). Essa é uma realidade


que está posta na saúde, nos movimentos sociais e tem repercutido no Serviço Social,
devendo ser problematizada à luz dos princípios e diretrizes do projeto ético político
do Serviço Social brasileiro.

Na saúde, a grande bandeira continua sendo a implementação do projeto de


Reforma Sanitária, construído a partir de meados dos anos de 1970, uma vez que
esse projeto tem relação direta com o projeto profissional dos assistentes sociais,
como já foi explicitado anteriormente. Identificar os impasses para a efetivação desses
projetos deve ser uma preocupação central.

Assim, compreende-se que cabe ao Serviço Social – numa ação


necessariamente articulada com outros segmentos que defendem o aprofundamento
do Sistema Único de Saúde (SUS) – formular estratégias que busquem reforçar ou
criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social à saúde,
atentando que o trabalho do Assistente Social que queira ter como norte o projeto.
Considera-se que o Código de Ética da profissão apresenta ferramentas
imprescindíveis para o trabalho dos assistentes sociais na saúde em todas as suas
dimensões: na prestação de serviços diretos à população, no planejamento, na
assessoria, na gestão e na mobilização e participação social.

Pensar e realizar uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área


da saúde consiste em:

 Estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de


usuários que lutam pela real efetivação do SUS;
 Conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como os
determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença;
 Facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da
instituição e da rede de serviços e direitos sociais, bem como de forma
compromissada e criativa não submeter à operacionalização de seu trabalho aos
rearranjos propostos pelos governos que descaracterizam a proposta original do SUS
de direito, ou seja, contido no projeto de Reforma Sanitária;
 Buscar a necessária atuação em equipe, tendo em vista a
interdisciplinaridade da atenção em saúde;
27

 Estimular a intersetorialidade, tendo em vista realizar ações que


fortaleçam a articulação entre as políticas de seguridade social, superando a
fragmentação dos serviços e do atendimento às necessidades sociais;
 Tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores
da saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos
trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas;
 Elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar
assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como realizar
investigações sobre temáticas relacionadas à saúde;
 Efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim de
potencializar a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo de
democratização das políticas sociais, ampliando os canais de participação da
população na formulação, fiscalização e gestão das políticas de saúde, visando ao
aprofundamento dos direitos conquistados.

Enfim, não existem fórmulas prontas na construção de um projeto democrático


e a sua defesa não deve ser exclusiva apenas de uma categoria profissional. Por outro
lado, não se pode ficar acuado frente aos obstáculos que se apresentam na atualidade
e nem desconsiderar que há um conjunto de atividades e alternativas a serem
desenvolvidas pelos profissionais de Serviço Social.

Mais do que nunca, os assistentes sociais estão desafiados a encarar a


defesa da democracia, das políticas públicas e consubstanciar um trabalho – no
cotidiano e na articulação com outros sujeitos que partilhem destes princípios – que
questione as perspectivas neoliberais para a saúde e para as políticas sociais, já que
este macula direitos e conquistas da população defendidos pelo projeto ético-político
profissional.
28

2.2 INSTRUMENTALIDADES NO SERVIÇO SOCIAL

Diante que a instrumentalidade é a propriedade ou capacidade que a


profissão em si vai adquirindo de acordo com o tempo que se concretiza os seus
objetivos, ela possibilita que os mesmos intencionem as modificações e
transformações que relacionam as pessoas as profissões. É por meio desta que os
Assistentes Sociais criam e adequam as condições existentes, transformando-as em
instrumentos para objetivar as suas intenções. É deste modo a condição necessária
a todo trabalho social quanto categoria constitutiva.

Todos os trabalhos sociais e seus ramos de especialização possuem a


instrumentalidade sendo construída e reconstruída na trajetória das profissões pelos
seus agentes, condição está dado devido o processo de atendimento das
necessidades materiais e espirituais (comer, beber, dormir, procriar, relativas à mente,
ao intelecto, ao espírito, à fantasia) suas e de outras pessoas também.

Esta ação transformadora cujo modelo é o trabalho, tem uma


instrumentalidade por deter a capacidade de manipular converter objetos em
instrumentos que vão atender as necessidades dos homens.

Mais necessidade de muitas outras capacidades além da própria


instrumentalidade, o conjunto de atividades pratico-reflexivas voltadas as finalidades,
adequação e criação de condições objetivas e subjetivas, os homens utilizam ou
transformam os meios e as condições sob as quais ele realizara para modificar,
adaptar e utilizar os em seu próprio benefício para o alcance das suas finalidades- é
a manipulação e controle de uma matéria natural resultante da sua transformação. Ao
transformar a natureza, os mesmos transformam a si próprios e produzem no mundo
material e espiritual, os hábitos necessários para operar os valores morais e éticos de
maneira a realizar o trabalho social.

Sendo o trabalho a relação entre o homem e a natureza, o conjunto de formar


de objetivação dos homens diante da postura teleológica e que se finda em
instrumentalidade. O que permite ao homem manipular a natureza atribuindo as
propriedades que lhe convir tornando tais ações como humanas verdadeiramente. A
fim de converter os objetos naturais em coisas úteis, torná-los instrumentos é um
29

processo teleológico, o qual necessita de um conhecimento correto das propriedades


dos objetos.

Nisso convive o caráter emancipatório do trabalho. Contudo, tal


conhecimento seria insuficiente se a ele não se acrescentasse a operabilidade
propriamente dita, a capacidade de os homens alterarem o estado atual de tais objetos
(Guerra, 2000).
30

3 CAPITULO
3.1 SUS- REGULAMENTAÇÃO- LEI 8080 e 8142/LEIS ORGANICAS DE SAUDE

A saúde foi uma das áreas em que os avanços de forma constitucionais foram
mais significativos, o SUS como integrante da Seguridade Social é uma das
imposições do projeto de Reforma Sanitária de regulamentação em 1990, pela Lei
Orgânica de Saúde (LOS)3, sendo este responsável pelas políticas sociais e pela
saúde. Destaca-se como fundamentos desta proposta a democratização do acesso,
a universalidade, a melhoria na qualidade dos serviços prestados com a adoção de
um modelo assistencial com base na integralidade e equidade das ações; a
descentralização do controle; a transparência do uso dos recursos e ações
governamentais e a interdisciplinaridade das ações. Não abrindo mão que a saúde é
o dever do Estado e um direito a todos.

Segundo a LEGISLAÇÃO ESTRUTURANTE DO SUS4 dispõe dos seguintes


itens:

Art. 1°. O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19
de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções
do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas:

I - A Conferência de Saúde; e.

II - O Conselho de Saúde.

§ 1°. A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a


representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e
propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis
correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta
ou pelo Conselho de Saúde.

§ 2°. O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão


colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço,

3
Conformam a Lei Orgânica da Saúde as leis 8.080, de 19 de setembro de 1990 e 8.142, de 27 de dezembro de
4
Sistema Único de Saúde: comentários à Lei Orgânica de Saúde (Leis n. º 8080/90 e 8142/90) - Guido Ivan de
Carvalho e Lenir Santos - 3ª edição - Campinas, SP; Editora da Unicamp, 2001.
31

profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da


execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos
econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder
legalmente constituído em cada esfera do governo.

§ 3°. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho


Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) terão representação no
Conselho Nacional de Saúde.

§ 4°. A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências


será paritária em relação ao conjunto dos demais segmentos.

§ 5°. As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão sua


organização e normas de funcionamento definidas em regimento próprio, aprovadas
pelo respectivo conselho.

A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas


sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (Constituição Federal, Art. 196).

De acordo com a lei 8080 dispõe que todo o Ser Humano tem direito a
prestação dos serviços de saúde básica e de especialidades, sendo esse fornecido
pelo Estado. E o dever do Estado é de garantir a saúde consiste na formulação e
execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças
e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso
universal e igualitário às ações e aos serviços para o seu acesso, proteção e
recuperação. Entretanto, o dever do Estado não exclui o dever das pessoas, da
família, das empresas e da sociedade.

A saúde tem como fatores determinantes a alimentação, a moradia, o


saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte,
o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população
expressam a organização social e econômica do País. Promovendo condições de
bem-estar físico, mental e social. Constituem o Sistema Único de Saúde (SUS) as
32

ações e os serviços de saúde de instituições públicas federais, estaduais e municipais,


da Administração direta e indireta e Fundações mantidas pelo Poder Público.

Disposto na Lei n. 8.142, fala sobre a participação da comunidade na gestão


do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de
recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. O SUS conta com a
participação do Conselho de Saúde e da Conferência da Saúde, sem prejuízo ao
Poder Legislativo.

Portanto, o conjunto do processo constituinte que gestou a Constituição


Federal é marcado por grande pressão social, crescente participação corporativa de
vários setores e decrescente capacidade de decisão do sistema político. A
Constituição Federal de 1988 – CF/88, aprovada em 5 de outubro, trouxe uma nova
concepção para a Assistência Social, incluindo-a na esfera da Seguridade Social:

Art.194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de


iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social. (CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 2003, p. 193.)

Segundo o que dispõe a Seguridade Social “A seguridade social compreende


um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade,
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social” (BRASIL, 1988, p. 36).

O Assistente Social destaca-se mais ainda por exercer o papel de facilitador das
ações em saúde, com a independência de idade, sexo, cor, religião entre outras
classificações e disponibilizando de maneira integral o acesso as mesmas.

Disponibilizar do serviço de apoio ao paciente que precisa de informações sobre


os auxílios que lhe serão prestados e todo o atendimento em relação se estiver fora
do seu domicilio.
33

3.2 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE EM RIO BRANCO

O Serviço de Atendimento Especializado – SAE, foi criado em 2004 com o


intuito de oferecer um atendimento profissional aos pacientes portadores de HIV/AIDS
e HEPATITES, até esse momento todos os casos de HIV/AIDS eram notificado no
Hospital de Urgência e Emergência - HUERB e a dispensação da medicação era feita
na própria farmácia do HUERB, porém o número de portadores de HIV/AIDS e
HEPATITES foi aumentando e ai percebeu-se que havia necessidade de criar uma
instituição voltada só para esse atendimento, no primeiro momento foi pensado para
atender pacientes portadores de HIV/AIDS e HEPATITES como em outros Estados,
porém devidos todos os médicos infectologistas serem lotados no SAE, os portadores
de Hepatites Virais começaram a procurar o serviço, foi quando a equipe pensou em
também estar somando ao atendimento dos soros positivos a população portadores
de Hepatites Virais e outras doenças infecto contagiosa.

A partir de 2010 que tiveram o espaço anexo ao Hospital das Clinicas


reformado, sendo que devido o número de pacientes ser crescente, hoje com um total
de quinze mil pacientes o espaço estar ficando pequeno, principalmente em recepção
e sala de espera. Existe um projeto para construção para de um Hospital de Doenças
Tropicais no Acre.

Na atuação do Serviço Social na unidade temos como objetivos

 Viabilizar o acesso dos usuários ao atendimento multiprofissional da


instituição;
 Esclarecer e conscientizar os usuários a respeito de seus direitos e
deveres;
 Agilizar a resolutividade dos casos apresentados pelos usuários;
 Viabilizar o atendimento em rede aos usuários;
 Inserir os usuários em programas e projetos sociais.

Se analisarmos os serviços públicos e principalmente na saúde, a maioria dos


casos a correlação de força predomina visivelmente, onde muitas vezes a pessoa faz
qualquer coisa para permanecer com domínio. Sendo que, devido existir muitas falhas
tanto na parte de humanização por parte dos profissionais de saúde quanto a falta de
34

medicamentos, a burocracia no atendimento dos serviços públicos, o Serviço Social


se torna de fundamental importância para a emancipação desses usuários nesta
instituição. Nesse sentido se o Assistente Social não trouxer conhecimento teórico
suficiente e coragem, ele pode ser dominado.

3.3 REFLEXÃO SOBRE O SERVIÇO SOCIAL NA UNIDADE SAE

Nesta relação que temos com as pessoas que buscam atendimento no


Serviço de Assistência Especializada (SAE) nos ampara com a seguinte designação:

Assistente social: responsável pelo suporte de caráter assistencial aos


pacientes, deverá agilizar sua integração ao trabalho, facilitar o acesso aos
transportes, agilizar ações para auxílio financeiro, conciliar e integrar as
atividades do SAE com outros serviços, ONGs e casas de autoajuda - como
casas de passagem e apoio - que prestem formas variadas de assistência ao
paciente.5(MS, BRASIL, 2004)

Precisamos cada dia mais voltar as atenções a esta designação que está
sendo deturpada por meios de acesso fácil as consultas e ações sociais. Voltar a
atuação de intermediador das ações sociais de prevenção e atividades que visem a
promoção de saúde para todos, antes mesmo de estar com as doenças tropicais
propriamente ditas.
Nos últimos anos, o Assistente Social no SAE procurou como objetivo central
desenvolver as políticas racionais e otimizar o gerenciamento dos auxílios, por meios
dos critérios objetivos e transparentes que vão marcar a carreira dos profissionais em
Assistência Social.
Podemos sim atuar na área - com as limitações que existem, porém, colocar
o papel profissional de provedor de atenção continua e assistência ao paciente que
está acometido por estas doenças de maneira continuada.

As atividades de pesquisas foram de maneira sistemática contando com o


auxílio dos profissionais que trabalham ali com o intuito de conhecer, evidenciar as
ações preventivas e interventivas. Os desafios enfrentados são referentes as

5
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Curso
Introdutório: Projeto de Desenvolvimento da Gestão Descentralizada - unidades 1, 2 e 3. Brasília: MS, 2004.
35

atribuições que não condizem com o profissional e mesmo assim são efetivadas como
a marcação de exames, consultas e agendamentos para outras especialidades.
36

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atuação do assistente social em âmbito hospitalar se torna indispensável


por ser um profissional que prioriza a disponibilização de serviços e atendimentos
humanizados, com a qualidade necessária a este paciente que precisa e encontra-se
com problemas de saúde. Sendo o profissional transformador das medidas
interventivas e o acompanhamento, algo crucial para a recuperação e emancipação
do sujeito usuário do serviço de saúde.

Sendo assim validamos que devemos direcionar as ações para o público que
dele necessita. O Assistente Social atua na realidade e no contexto social conforme o
aprimoramento a partir das demandas que são impostas no seu dia-a-dia.

Ter como consciência que a função do profissional é uma exigência dos


próprios usuários na sociedade e precisam do Serviço Social para viabilizar os direitos
de cada cidadão de acordo com suas peculiaridades.

Desta forma, o desafio do Serviço Social é realizar uma crítica acerca das
práticas de humanização com o sentido de amenizar os conflitos no trabalho em
equipe. Cabendo ao mesmo avançar no intuito de construir e fortalecer as práticas
coletivas e condicionadas a melhoria do trabalho e atendimento no SUS.
37

REFERENCIAL TEORICO

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Curso


Introdutório: Projeto de Desenvolvimento da Gestão Descentralizada - unidades
1, 2 e 3. Brasília: MS, 2004

CFESS. Código de Ética Profissional. Brasília, 1993.

GUERRA, Yolanda. Novas perspectivas de atuação profissional: o perfil do


profissional hoje. In: Revista Construindo o Serviço Social. Ed. 10: São Paulo,2002.

IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação


profissional. 4. ed. São Paulo: Cortez. 2001.

IAMAMOTO, M.V. Renovação e conservadorismo no Serviço Social. Ensaios


Teóricos. Cortez: 1992. 216 p

NETTO, José Paulo. As condições histórico-sociais de emergência do Serviço


Social. IN: capitalismo Monopolista e Serviço Social. 5. ed., São Paulo: Cortez, 2006.
p. 17-45.

Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais na Saúde. Grupo de trabalho


Serviço Social na Saúde. Brasília, 2009, p. 83

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