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CURITIBA
2013
FERNANDA CAROLINE CABRAL
CURITIBA
2013
Página reservada para ficha catalográfica que deve ser confeccionada após
apresentação e alterações sugeridas pela banca examinadora.
Deve ser impressa no verso da folha de rosto.
COMISSÃO EXAMINADORA
_____________________________________
Professor 1(Titulação e nome completo)
Instituição 1
_____________________________________
Professor 2 (Titulação e nome completo)
Instituição 2
_____________________________________
Professor 3 (Titulação e nome completo)
Instituição 3
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a atuação da Sociedade Civil no contexto
de redemocratização do Brasi, a partir da teoria de Gramsci sobre Estado Ampliado.
Dentro dessa perspectiva, propõe-se analisar a Sociedade Civil como um conjunto
de apelhos privados que disseminam a direção intelectual e moral de uma
determinada classe. O período da redemocratização do Brasil é marcado por
expressivas manifestações da Sociedade Civil contra o Estado. Entendendo o
Estado como promotor dos interesses da classe burguesa, buscou-se pesquisar a
postura da Sociedade Civil nesse período, seja como reprodutora da ideologia
dominante, seja como transformadora social.
Palavras-chave: Sociedade Civil 1. Redemocratização 2. Hegemonia 3.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ARENA Aliança
CEB´S Comunidades Eclesias de Base
CUT Centra Única dos Trabalhadores
MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
PT Partido dos Trabalhadores
UNE União Nacional dos Estudantes
URSS União das Repúblicas Soviéticas Socialistas
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................10
2 ESTADO E SOCIEDADE CIVIL....................................................................15
2.1 O ESTADO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS DOS CLÁSSICOS..................15
2.2 SOCIEDADE CIVIL: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS DOS CLÁSSICOS......20
2.3 A FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO.....................................................21
2.4 A TEORIA LIBERAL SOBRE O ESTADO.....................................................26
2.5 ESTADO E SOCIEDADE CIVIL PARA MARX E POULANTZAS..................31
2.6 ESTADO E SOCIEDADE EM GRAMSCI.......................................................34
3 A SOCIEDADE CIVIL NO PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO.........37
3.1 AS PECULIARIDADES HISTÓRICAS DA DITADURA.................................37
3.2 SOCIEDADE CIVIL NO BRASIL: DA DITADURA À REDEMOCRATIZAÇÃO
39
3.3 À SOMBRA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITOS..........................44
3.4 DA DEMOCRACIA LIBERA À DEMOCRACIA CONTRA HEGEMÔNICA....46
4. ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO PERÍODO DA
REDEMOCRATIZAÇÃO.............................................................................................49
4.1 O LEGADO DA RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL.....................49
4.1.1 A perspectiva do Serviço Social sobre a Reconceituação no Período da
Redemocratização.....................................................................................................52
4.1.2 O Assistente Social Como Intelectual Orgânico: Contribuições de Um
Serviço Social Reconceituado ...............................................................................56
4.1.3 O Estado Democrático de Direito na Perspectiva do Serviço Social no
Período da Redemocratização.................................................................................58
4.1.4 Sociedade Civil e Participação Sob a Ótica do Serviço Social
Reconceituado no Período da Redemocratização................................................60
4.2 A INCIDÊNCIA DE GRAMSCI NO SERVIÇO SOCIAL E A INFLUÊNCIA DE
SUAS TEORIAS NA FORMAÇÃO DO PROJETO PROFISSIONAL.........................63
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................67
REFERÊNCIAS...........................................................................................................71
10
1 INTRODUÇÃO
2
A questão do Estado inicia com os postulados de Aristóteles ao trazer à luz a “existência de
classes sociais diferenciados pela condição social”, sendo esta situação permeada por tensões, as
quais só seriam possíveis de resolutividade com a intervenção do Estado (Montaño; Durigueto,
2010, p. 20). Outro teórico que faz menção ao Estado é Nicolau Maquiavel, que em sua literatura “O
Príncipe” dispõe de conselhos ao príncipe da Itália, Lorenço de Médici, afirmando ao governante
que é melhor ser “temido do que amado” pelo povo (Maquiavel,1532, p. 65). Maquiavel adverte que
o príncipe não deve esperar gratidão do povo, se assim fizer, será derrotado (GRUPPI, 2001), por
isso, o governante deve agir de forma que as pessoas o temam.
Montaño e Durigueto descreve o Estado na visão de Maquiavel como um “espaço onde o príncipe
exerce a coerção e procura o consenso para manter a ordem social” (Montaño; Durigueto, 2010, p.
21).
Maquiavel esboça sua análise sobre Estado a partir do absolutismo. No entanto, o que renova a
teoria de Estado, seriam as considerações de Maquiavel acerca da separação entre política e
religião. Para Gruppi (2001) Maquiavel não se ocupa em tratar os princípios da moral, mas sim em
fundamentar uma ciência política. Portanto Maquiavel separa a moral religiosa das ações na
política. Pois, o príncipe deve ter total autonomia para exercer seu poder.
3
Cf. BOBBIO. Norberto. Estado Governo e Sociedade. 8ª ed. Paz e Terra 1999, pg. 67. (sobre
“Argumentos em favor da descontinuidade”)
16
coisas, pode causar a morte entre os homens. O anseio em possuir o mesmo bem
conduz os homens à desconfiança um dos outros, e a preparação para a guerra.
(Bobbio, 1991). Isso exprime que, o estado de natureza, na concepção de Hobbes, é
a expressão do desejo dos homens pelo poder. A conquista do poder depende da
capacidade individual de aquirir riquezas.
Hobbes propõe o contrato social como, “uma espécie de pacto entre os
homens para estabelecer normas e autoridades às quais se submeterão
consensualmente” (MONTAÑO; DURIGUETO, 2010, p. 23), como artifício para livrar
os homens deste estado de terror. A propriedade privada, na concepção de Hobbes,
institui-se com o contrato social.
O objetivo do contrato entre os indivíduos é de transferir dos homens ao
soberano, o Estado, o direito de estabelecer regras e normas que garantam a paz,
“(...) conduzindo o homem para uma coexistência pacífica” (BOBBIO, 1991, p. 39),
cujo propósito é de conservação da vida.
Para a instituição do Estado, é necessário, que os indivíduos concordem
consensualmente, tendo em vista transferir a uma só pessoa, (ou assembleia) o
direito de estabelecer normas e regras. Para Hobbes, todos precisam se sujeitar
aos ditames do soberano, em benefício do bem comum, “(...) é necessária uma
coisa a mais, além do pacto, para tornar constante e duradouro seu acordo: ou seja,
um poder comum que os mantenham em respeito, e que diriga suas ações no
sentido do bem comum” (HOBBES, 1997 p.61).
Hobbes é defensor “da obediência incondicional” às leis, “mesmo quando
aqueles a quem são dirigidas as consideram como iníquas” (Bobbio; Bovero, 1994,
p. 81). Além disso, o filósofo acredita que o Estado não criaria leis não boas para
com os homens, pois a pessoa do soberano, consentida pelo povo, também seria
afetada ao estabelecer leis injustas. “Nenhuma lei pode absolutamente ser injusta,
na medida em que cada homem cria, com seu consentimento, a lei que ele é
obrigado a observar, esta, por conseguinte, tem de ser justa, a não ser que um
homem possa ser injusto consigo mesmo” (On Liberty and Necessity, in EW. IV, pp.
252-253, apud, BOBBIO, 1991, p. 49).
Porém, mesmo que o soberano estabeleça leis injustas, o povo deve render-
se em total obediência, pois o representante do povo possui poder ilimitado de
governança. A única coisa que o destituiria seria “a escassez de poder” (BOBBIO,
1991, p. 51), isto é, a incapacidade em proteger a vida dos súditos. Os homens
17
4
Rousseau, J.J. “Discurso Sobre a Origem da Desigualdade”. Edição online Acesso em 20/08/2013:
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/desigualdade.pdf
18
contrato social, isto é sobre o acordo paritário de cada um com todos os demais (...)”
(BOBBIO, 1999, p. 48).
Esta disposição pactuada entre os homens é chamada de “vontade geral”, ou
seja, - sociedade governada pelo interesse comum, onde todos os indivíduos
possuem o direito de governar e assentir leis. De acordo com Rousseau “a vontade
geral propende para a igualdade” (ROUSSEAU, 1996, p. 34). Portanto, ao contrário
de Hobbes, Rousseau acredita na divisibilidade do poder (grifo nosso), pois “(...) no
momento em que há um senhor, já não há soberano e, desde então, destrói-se o
corpo político” (idem, 1996, p. 34). Dessa forma, o filósofo distribui o poder destinado
a um único soberano a todos os membros da sociedade, alegando que: “(...) assim
como a natureza dá a todo homem um poder absoluto sobre todos os seus próprios
membros, do mesmo modo o pacto social dá ao corpo político um poder absoluto
sobre todos os seus próprios membros”. 5
propriedade privada6 é o direito natural dos homens, sendo esse um direito instituído
anterior à existência do Estado (MACHPERSON, 1979).
Machperson (1979) explica que a passagem do estado de natureza para o
estado civil se deu em função da manutenção da propriedade privada. A submissão
dos homens a um soberano, neste caso, permeou-se por inseguranças quanto à
proteção à propriedade privada:
(...) o que falta ao estado de natureza para ser um estado perfeito é, sobretudo, a
presença de um juiz imparcial, ou seja, de uma pessoa que possa julgar sobre a
razão e o erro sem ser parte envolvida. Ingressando no estado de direito, ao
direito de fazer justiça por si mesmos, e conservam todos os outros, in primis o
direito de propriedade, que já nasce perfeito no estado de natureza, pois não
depende do reconhecimento de outros mas unicamente de um ato pessoal e
natural, como é o caso do trabalho.” (BOBBIO; BOVERO, 1994, p. 73)
Como Hobbes, Locke defendia a ideia de que o estado de natureza era um
estado de total liberdade, (MONTAÑO, DURIGUETO 2010). Mas Locke, ao contrário
de Hobbes, entendia que o estado de natureza não era um estado natural de guerra,
mas um estado onde todos os homens possuíam direitos iguais, ‘naturais’ (grifo
nosso). No entanto, ele afirma que este estado natural é sucetivel a conflitos, devido
à falta de leis e coerção (idem, 2010).
O contrato social, nessa lógica serviria para preservar os interesses
individuais e egoístas dos sujeitos. O Estado seria instituído, com poderes limitados,
visando, especificamente, assegurar e defender a propriedade privada. Locke
defende que, os homens não devem transferir todo o poder ao Estado, como é em
Hobbes, mas, parte dele, tendo o direito de não legitimar leis postas pelo
governante, bem como revogar o poder destinado a este. De acordo com Bobbio,
(1998, p. 102) Locke acreditava que: “o pacto comum não atribui ao soberano o
direito de guardar a autoridade e o direito natural dos indivíduos singulares”. O poder
limita-se à proteção dos direitos individuais. Essas presunções de Locke, acerca da
função do Estado, do direito à propriedade privada, da defesa de direitos individuais
etc., irão nortear a formulação dos princípios liberalistas.
Apesar das diferenças teóricas entre os teóricos, para Hobbes e Locke, os
indivíduos são orientados por interesses egoístas e individuais. Já para Rousseua o
Estado originário do homem é de felicidade e paz, porém, com a instituição da
6
A propriedade (grifo nosso) que prediz Locke está se referindo a “riqueza, a vida e a liberdade,
como objeto dos desejos naturais dos homens, objetos para cuja preservaçao os homens instituíam
governos” (MACHPERSON, 1979, p. 210).
20
7
Direitos civis e políticos.
23
8
Cf. SIMÕES. Carlos. Curso de Direito do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2009, p. 72, (grifo
do autor).
24
9
Após a segunda guerra mundial, suscitou no mundo “A Guerra Fria”, uma guerra de caráter
ideológico entre o capitalismo, representado pelos EUA, e o socialismo, representado pela URSS.
10
“As crises capitalistas são crises de superprodução de troca”, pois, “os capitalistas não estão
interessados na simples venda de mercadorias. Estão interessadas em vendê-las com lucro
suficiente” (Mandel, 1990, p. 210; 211 apud Schons, 1999, p. 123).
25
13
Desemprego estrutural, tercerização do trabalho, redução dos salários etc.
27
Para os liberais o Estado é um mal necessário 14, que por meio da coerção,
auxilia no cumprimento de regras e leis por todos os cidadãos. As normas
estabelecidas traçam perspectivas, que se tornam fundamentos morais, de como
todos os indivíduos devem agir com o seu próximo (STEWART, 1988) 15.
O liberal Adam Smith, autor do célebre “Riqueza das Nações” considera que o
papel do Estado circunfere ações para a manutenção e segurança da propriedade
privada:
A fartura dos ricos excita a indignação dos pobres, que muitas vezes são
movidos pela necessidade e induzidos pela inveja a invadir as posses daqueles.
Somente sob a proteção do magistrado civil, o proprietário dessa propriedade
valiosa – adquirida com o trabalho de muitos anos, talvez de muitas gerações
sucessivas – pode dormir à noite com segurança. (SMITH, 1985, p. 164).
Smith (1985) localiza três áreas que é possível à intervenção do Estado,
dispondo de gastos fiscais. A primeira que o autor situa está vinculado com a
proteção da nação contra a invasão de outros países. Segundo o autor, o Estado
deve investir na força militar preparando-a para possíveis ataques externos, assim
como se sobrevierem tempos de guerra.
A segunda permissão de intervenção do Estado localiza, principalmente, à
proteção à propriedade privada. Para Smith o governante deve “proteger, na medida
do possível, cada membro da sociedade da injustiça ou opressão de todos os outros
membros da mesma (...)” (SMITH, 1985, p. 163). Para tanto, faz-se necessário que o
Estado invista no sistema judicial, para que as infrações contra a propriedade sejam
submetidas a julgamento e punição.
A terceira e última área de intervenção do Estado remete aos gastos com
obras e com as instituições públicas. De acordo com Smith, o governante deve
investir em obras públicas que beneficiem o comércio 16. O teórico propõe que seja
14
Ver BOBBIO. Norberto. Estado Governo Sociedade: Para Uma Teoria Geral da Política. Paz e
Terra: Rio de Janeiro, 1988, p. 128.
15
De acordo com o intectual da teoria positivista Émile Durkhein, a consciência coletiva é que
estabeleceria tais normas e regras. A sociedade, tratada pelo teórico como um organismo, dispõe
tanto de normalidades como anormalidades - patologias sociais (COSTA, 2005). Estes desajustes
precisam ser corrigidos com uma ação coercetiva do Estado, embora, a própria sociedade possa
“reagir castigando quem se comporta de forma discordante em relação a determinados valores e
princípios” (idem, p. 82).
16
Adam Smith (1985) proprõe que seja investido em obras as quais facilitaram o comércio como
boas estradas, pontes, canais navegáveis, portos etc. Porém, para o autor, não há necessidade de
gastar com as obras públicas o dinheiro da receita pública. A alternativa que Smith propõe é a
privatização. A construção e manutenção de estradas, por exemplo, pode ser efetuado com a
contratação de empresas privadas que construirão e farão a manutenção destas rodovias por meio
do pedágio.
28
malograr seus esforços” (HAYEK, 1987, p. 86). Para o teórico, a interferência nos
salários e preços das mercadorias afetaria a liberdade individual.
A organização social de uma sociedade deveria ser, portanto, efetivada pelo
mercado, por meio da livre concorrência, por considerá-la como o processo mais
eficaz a favor do incentivo a capacidade individual de cada um em promover seus
próprios interesses:
“(...) o liberalismo econômico é contrário à substituição da concorrência por
métodos menos eficazes de coordenação dos esforços individuais. E
considera a concorrência um método superior, não somente por constituir,
na maioria das circunstâncias, o melhor método que se conhece, mas
sobretudo por ser o único método pelo qual nossas atividades podem
ajustar-se umas às outras sem a intervenção coercitiva ou arbitrária da
autoridade” (HAYEK, 1987, p. 58).
Porém, assentindo “determinadas formas de ação governamental” (idem, p.
58) para o pleno exercício sem interferências no preceito da competetividade “é
essencial (...) que a lei não tolere que indivíduos e grupos tentem restringir esse
acesso pelo uso aberto ou disfarçado da força” (idem, p. 58).
Este modelo de organização social defendido por Hayek não prega a justiça
social ou a equidade, mas, ao contrário, presume que o objetivo de uma sociedade
política livre não consiste em ofegar pela redistribuição das riquezas (BUTLER,
1987). O Estado deve intervir somente naquilo que sustenta o mercado, e, por
conseguinte, não carece objetivar combates contra as desigualdades sociais
(MONTAÑO; DURIGUETO, 2010). Hayek tão logo sustentou em seus escritos, ao
referenciar o papel do rico e do pobre 20, uma sociedade de classes, na qual é
imprenscindível a existência de pessoas ricas e pessoas pobres.
Ao trazer à luz propostas que visam minimizar a ação do Estado, Hayek
elucidou as premissas do neoliberalismo, em que a livre concorrência é a
engrenagem de toda a sociedade. Os postulados para o neoliberalismo, Estado
Mínimo, e plena liberdade política e econômica, estão expressos na teoria de Hayek.
Hayek é incisivo ao fomentar a defesa pela liberdade individual de cada
sujeito. Esta liberdade está vinculada à absoluta autonomia do mercado na
sociedade capitalista. Para tanto, ele alvitra um Estado que protega os designos do
sistema capitalista, delineando as demandas do Estado às atividades que o mercado
20
Cf.Butler, 1987, p. 101-105.
31
não pode suprir, como por exemplo, o policiamento, para garantir que as regras 21
sejam cumpridas (BUTLER, 1987). As demais atividades que podem ser satisfeitas
pelo mercado, não carecem de gasto público, haja vista que o mercado poderá
vender o serviço à sociedade.
Na ótica liberal, as demais situações, não lucrativas, podem ser atendidas
pela filantropia, isto é, por organizações de voluntariados (BUTLER, 1987). Este
plano suscita a sociedade civil, ou o terceiro setor, como agente fundamental a
conduzir as funções da sociedade que não geram lucros aos donos dos meios de
produção. O único eixo em que o Estado é permitido intervir consiste em políticas
assistenciais, precárias e focalizadas, para os indivíduos que não conseguem sair do
grau de manutenção para a sobrevivência (MONTAÑO; DURIGUETO, 2010).
21
As regras referidas fazem menção ao livre comércio, ou seja, a normatização para o livre
desempenho da concorrência. Ver Hayek, 1987, p. 58-59.
22
SILVEIRA, J. Sintese das questões teórico-metodológicas do Serviço Social. Mimeo, 2012
32
23
Alienação supõe separação entre o trabalhador e os meios de produção, uma vez que este tenha
perdido o controle do produto do seu trabalho. SILVEIRA. Jucimeri. Explicação Teórica Sobre o
Processo de Reprodução Capitalista”, JUCI... COMO EU POSSO COLOCAR TUA
REFERENCIA?
34
Crítico político do século XX, Gramsci, irá nortear sua análise sobre Estado e
Sociedade a partir dos pressupostos de Karl Marx. O teórico aprofunda a análise de
sociedade civil, à luz de uma perspectiva que traz a abordagem de sociedade civil
como parte da Superestrutura. Variante ao pensamento de Marx, porém não
destoante Gramsci amplia o conceito de Estado, e ultrapassa a faceta de Estado,
unicamente, como ator repressivo que exerce o controle a favor da classe
dominante.
De acordo com Coutinho (1992, p. 74) “Gramsci não inverte nem nega as
descobertas essenciais de Marx, mas “apenas” as enriquece, amplia e concretiza,
no quadro de uma aceitação plena do método do materialismo histórico” (grifo do
autor). Isso significa que o teórico marxista, não desconsidera a tese de Marx, a qual
sopesa Estado e Sociedade Civil a partir das relações de produção. No entanto,
Gramsci parte das determinações da conjuntura sóciohistórica, que reluzia no
contexto em que forjou seus escritos, para elucidar sua tese. Período em que a
classe operária começou a organizar-se, compondo aparatos da sociedade civil.
Diante das transformações do cenário histórico que assistia Gramsci, o
teórico moldou a ánalise de Estado, partindo da conceituação de Estado Ampliado,
sociedade política + sociedade civil. Então, Estado é: sociedade política, “(...)
conjunto de aparelhos através dos quais a classe dominante exerce a violência”
(SIMIONATTO, 1999, p. 68) e, também, sociedade civil, “(...) organismos de
participação política aos quais se adere voluntariamente e que não se caracterizam
pelo uso da repressão” (COUTINHO, 1992, p. 76).
Portanto, sociedade civil é para Gramsci o espaço no qual se dão as relações
culturais e ideológicas, e não as relações materiais, como em Marx. Pois, para ele a
Revolução não é feita sem conquistar o consenso, que consolidifica através da
hegemonia: domínio político, econômico e cultural. O intelectual orgânico da classe
35
24
O conceito de intelectual orgânico implica as relações dos grupos intelectuais com as classes
fundmaentais e a explicitação de suas funções técnicas. A concepção de orgnanicidade é inerente
à formação mesma das suas competências e das funções que desenvolvem no interior do modo de
produção capitalista, inclusive o encaminhamento das lutas junto à classe a que está vinculado.
Estar vinculado orgnanicamente a uma classe não significa agir de fora, externamente, de maneira
mecânica. Significa, sim, participar efetivamente de um projeto junto às classes fundamentais:
burguesia ou proletariado. Cf SIMIONATTO. Ivete. Gramsci: Sua teoria, incidência no Brasil:
Influência no Serviço Social. São Paulo, Cortez, 1999.
36
25
Tomada do poder pela classe operária, tornando-se a classe dirigente.
26
Meios de Comunicação, Partidos Políticos etc.
37
(...) para realizar uma rápida acumulação, o regime pôs em prática uma
política econômica voltada para a produção de bens de consumo duráveis,
favoreceu as grandes empresas nacionais e estrangeiras, capitalizou e
reprivatizou a economia, reduziu salários e estimulou o inchaço do sistema
financeiro. Modernizou o país, mas deformou-o em vários setores,
recheando de artificialismo a estrutura produtiva e impondo um pesado ônus
à sociedade [...] jogou o país em grave crise inflacionária e recessiva, que
se estendeu por toda a década de 80.
O intenso conflito entre capital e trabalho alterou o rumo da ditadura para o
colapso. Fernandes (1982) explica que o desenvolvimento do capitalismo não pode
operar somente para o próprio capital. Segundo o autor, ante a precarização do
trabalho, a classe operária manifestaria oposição à sociedade, e principalmente ao
Estado, expressando sua revolta em manifestações públicas.
Esse foi o ciclo que desencadeou no período da administração autocrática
burguesa. Porém, mesmo com a defrontação entre as classes, o centro de
resistência da classe trabalhadora voltou-se, sobretudo, para o Estado, “(...) o
antiditatorialismo é freado pela dinâmica política da oposição legal e pela ausência
de uma sólida impulsão revolucionária antiburguesa e socialista das classes
proletárias” (FERNANDES, 1982, p. 23). Na realidade, o que se esconde por traz
desta conjuntura, é a ditadura de uma classe sobre a outra.
27
No período da ditadura foram instituídos atos institucionais que, aos poucos, foram limitando os
direitos dos “não privilegiados” pelo regime. O primeiro foi decretado pelo presidente Castelo
Branco em 1964. As primeiras ações foram: cassar os direitos políticos de líderes políticos,
aposentar funcionários públicos, fechamento da União Nacional dos Estudantes (UNE) e de
sindicados, tarefa de acabar com o comunismo, centralização na figura do presidente das
atividades políticas e econômicas do país. O segundo ato institucional aconteceu em 1965;
consistiu em acabar com as eleições diretas para presidente, dissolução dos partidos políticos,
criação da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e do Movimeno Democrático Brasileiro (MDB)
como partido oposicionista. Em 1967 foi outorgada uma nova constituição federativa, dispondo das
novas decretações. Em 1968 o presidente Costa e Silva institui o Ato Constitucional nº 5 (AI5) que
determinou o fechamento do Congresso Nacional, dando poder absoluto para o Executivo. Além
disso, no governo Médice, foi permitido o exílio e prisão de pessoas que se manifestassem contra a
ordem, o alto grau de censura, entre outras medidas. Cf COUTO. Berenice R. O Direito Social e a
Assistência Social na Sociedade Brasileira. Uma equação possível? . São Paulo: Cortez, 2006, p.
122-127.
42
28
“Dentre tantas outras coisas, foi naquela conturbada década [1945] que se organizou a estrutura
sindical brasileira – corporativista e subordinada ao Estado” (NOGUEIRA, 1998, p. 22).
43
Isso demonstra que a sociedade civil não direcionou suas bases ideopolíticas
para o conflito de classes, mas endereçou suas ações às lutas sociais 29:
(...) a transição para a democracia, não significou, para além de um projeto
que se esgota na normalização e vigência das instituições que corporificam
a democracia política, uma efetiva ampliação e universalização dos direitos
sociais de cidadania, tão demandados pelos sujeitos e pelas organizações
das classes subalternas. Com isso, a democracia passa a ser percebida,
por esses sujeitos e suas organizações, como meramente adjetiva,
reduzindo-se à defesa da existência das “regras do jogo” de padrões de
convivência democrática (DURIGUETO, 2007, p. 148-149).
Em síntese, a conquista da classe trabalhadora, organizada na sociedade
civil, efetuou-se pelos ares da emancipação política, a qual remete à garantia de
direitos sociais e políticos afirmados na lei, porém dentro da ordem social
comandada pelo capital. Por outro lado, a emancipação humana, caracteriza-se pela
total eliminação da desigualdade, dominação e exploração, e se faz mediante a
superação do capitalismo (MONTAÑO; DURIGUETO, 2010, p. 131). A emancipação
política é importante na conquista de direitos, mas não garante a emancipação
humana. Esta só acontecerá quando houver a passagem do plano “egoístico-
passional” para o plano “ético-político” 30.
29
As lutas sociais são desdobramentos das lutas de classe. Colidem diretamente com as expressões
da questão social. Cf. MONTAÑO, 2010, p. 119.
30
Termos grifados de Antonio Gramsci, 1999, p. 314 citados por Nogueira, 2011, p. 106 (grifos do
autor).
31
Cf. SIMÕES. Curso de Direito e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2009, ver p. 84 e 85 sobre O
Estado Democrático de Direito.
45
nem quaisquer discriminações entre as pessoas, não aceitas socialmente, que lhes
extirpem a cidadania” (BOBBIO, 2004, apud SIMÕES, 2009, p. 86).
A característica essencial das décadas que antecederam a consolidação do
Estado de Direito refere-se à questão de projetos antagônicos pela democratização.
O Estado “é um espaço de disputas, no qual a correlação de forças, a
movimentação social e a organização política dos interesses têm papel decisivo”
(NOGUEIRA, 2011, p. 65). Portanto, burguesia e proletariado disputavam o espaço
do “novo” Estado para consolidar seus projetos societários (grifo nosso).
Para Fernando Henrique Cardoso, intelectual da democracia liberal, o
advento do Estado de direito era conveniente à liberdade econômica:
(...) o restabelecimento do Estado de Direito e seu funcionamento conforme
os cânones da divisão dos poderes, como abertura de espaços de
organização e exposição dos problemas dos grupos sociais e como
liberdade de ação das leis do mercado [...] mas, sobretudo a democracia
seria o regime mais adequado à expansão do capitalismo por facilitar os
fluxos de informação para o mercado e por possibilitar, através da
organização e explicitação de interesses, a contínua formação de elites
capazes de assumir a liderança política (DURIGUETO, 2007, p. 141).
Nogueira (1998) dispõe que com o crescimento do movimento democrático
surgiu à necessidade de modernizar o Estado, em “(...) um Estado [...] socialmente
comprometido e capacitado para operar como efetivo articulador de um novo modelo
de desenvolvimento econômico, menos predatório e mais sustentável” (idem, 1998,
p. 186).
Essa lógica traçada da perspectiva “Estado de Direito”, refere-se ao método
de juridificação dos direitos à luz de reforçar o controle do Estado de forma a
proteger e conservar a hegemonia do capital (COUTO, 2006).
Simões (2009) expõe que o Estado de direito torna-se democrático ao instituir
direitos sociais universais e seletivos. Esses direitos são determinados por meio das
políticas sociais em resposta às demandas da classe trabalhadora, como dispõe
Couto, (2006, p. 60) “(...) essas políticas são um campo privilegiado de
concretização das demandas postas pelos trabalhadores ao Estado”.
Dentro desse aspecto, o Estado Democrático, seria resultado de conquistas e
de direitos sociais pela classe trabalhadora. Síntese da luta dos movimentos sociais
no período de transição do autoristarismo para a democracia. “O Estado social
[portanto] vai ser criado quando da necessidade de responder diretamente às
46
controle das massas. Chaui (1981) explica que para uma classe impor sua ideologia
sobre as outras, é necessário que se propague um discurso, o qual defenda que
todos são representados indistinguívelmente pelo Estado.
A instauração de um Estado de Direitos é arquitetado como meio de
institucionalizar princípios liberais. Como explica Chaui (1981, p. 139) “as classes
dominantes, finalmente, descobriram que o consenso é mais eficaz do que a pura
coerção” e passaram a utilizar-se do consenso para “conservar o controle de vida
social e política sem alterar profundamente a forma de acumulação no plano
econômico” (idem, p. 111).
O Ato de votar, por exemplo, produz consenso na classe oprimida ao dispor
da democracia representativa como meio eficiente de “participação” (grifo nosso).
Contudo, isso se caracteriza como controle de uma classe sobre a outra, mascarado
como exercício da cidadania, porquanto: “A participação política, como o ato do voto,
não produz consciência política, ou conduz as massas ao poder” (DURIGUETTO,
2007, p. 75).
Tendo em vista abrir as cortinas da alineação burguesa, Gramsci traça uma
nova proposta, a qual propõe a organização da classe trabalhadora à conquista da
hegemonia para então, a construção de um novo bloco histórico. O percurso de
Gramsci, para alcançar este alvo, consiste na “democratização e conquista de
espaços políticos e de participação popular crítica e organizada nos espaços da
sociedade civil” (DURIGUETTO, 2007 p. 61). Compreende-se, portanto,
participação, nesta perspectiva, como à conscientização da classe trabalhadora
como classe explorada, e a desvinculação com a moral burguesa, construindo uma
nova direção política e ideológica.
Coutinho (1979) análogo à ideia de Gramsci defende a democracia como
forma de alcançar o socialismo. Para isso, o autor expõe que é necessário que a
classe trabalhadora, principalmente a classe operária, se organize e tome
politicamente e coletivamente os espaços da sociedade civil:
“o socialismo não consiste apenas na socialização dos meios de
produção [...] consiste também – ou deve consistir numa progressiva
socialização dos meios de governar, uma socialização também aqui tornada
possível pela crescente participação das massas na vida política, através de
sujeitos políticos coletivos (...)” (Coutinho, 1979, p. 38).
49
33
Cf MONTAÑO. Carlos; DURIGUETTO. Maria Lúcia. Estado, Classe e Movimento Social. São
Paulo: Cortez, 2010, p. 97-98.
50
34
Notas de aula ministrada pela Drª. Profª. Jucimeri Isolda Silveira, em 17 de fevereiro de 2012, na
Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
35
Encontro de Araxá, em 1967, e Teresópolis, em 1972. Cf. NETTO. José Paulo. Ditadura e Serviço
Social. Uma análise do serviço social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1996, p. 164-193.
51
36
A matriz teórica fenomenológica consiste em buscar a “significação” e compreensão dos
fenômenos. Afastar e suspender as pré-noções e preconceitos. Compreender a pessoa no mundo,
seu vivido e significados atribuídos. Nota retirada de material compartilhado, da disciplina de
Fundamentos V, Professora Drª Jucimeri Isolda Silveira.
52
expressa em uma “esquerda cristã” que irá influenciar segmentos do Serviço Social
(idem, 1997, p. 35, grifos da autora).
Nasce, dentro da categoria profissional, uma mobilização para romper com a
estrutura conservadora que direcionava a profissão. O primeiro marco dessa
intenção de ruptura se deu com o ‘Método de BH’ (grifo nosso), sendo a primeira
proposta dialética sistematizada37. Em meio às contradições entre capital e trabalho,
os profissionais começaram a questionar as práticas conservadoras da profissão
frente às novas manifestações da questão social (NETTO, 1996).
No final da década de 1970, paralelo à transição democrática, o Serviço
Social se aproxima à linha teórica marxista. De acordo com Netto (1996) o projeto de
ruptura se aproxima do marxismo pelo viés da militância política, principalmente sob
a influência política de esquerda da Igreja, e também, pela ascendência do
“marxismo acadêmico” na profissão (grifo do autor).
Em 1979 acontece o III Congresso Nacional de Assistentes Sociais (CBAS), o
denominado “Congresso da Virada” (grifo nosso), o qual representou o “marco
histórico do compromisso político e coletivo da categoria com as classes
trabalhadoras” (ABRAMIDES, 2006, p. 119 apud ABRAMIDES e CABRAL 1995, P.
168, grifo da autora).
Esse momento retrata o inicio da articulação do Serviço Social com a
sociedade civil, visando à transformação da sociedade. De acordo com Abramides
(2006) a virada do III CBAS esteve intrinsecamente relacionada com a militância de
assistentes sociais em segmentos da sociedade civil, principalmente na esquerda
sindicalista. O marco do rompimento da profissão com o conservadorismo, no
âmbito acadêmico, se dá com a publicação em 1982, da literatura clássica do
Serviço Social: “Serviço Social e as Relações Sociais no Brasil”, dos autores,
Marilda Vilela Iamamoto e Raul Carvalho (ABRAMIDES, 2006). Este é o primeiro
livro que tratará da significação do Serviço Social, como profissão inserida na divisão
sócio técnica do trabalho, assim como, será a primera obra inspirada na tradição
marxista (idem, 2006).
A partir de então, o Serviço Social passa a construir um novo projeto
profissional, cujo propósito seria: “vincular a prática da profissão com os interesses
dos setores populares, tendo como horizonte a transformação social, [valendo-se] de
37
Notas de aula ministrada pela Drª. Profª. Jucimeri Isolda Silveira, em 10 de novembro de 2011, na
Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
53
Em 1979 é criada a Revista Serviço Social & Sociedade, que “se transforma
em espaço e veículo extremamente relevante de divulgação da nova postura”
(SILVA e SILVA, 1995, p. 102). Esta “nova postura” consiste no processo
sociopolítico de Reconceituação da Profissão, a qual ocorre como resposta ao
contexto de transformações históricas na sociedade brasileira.
Defronte à conjuntura de lutas sociais, imprimidas pela organização da
sociedade civil, principalmente pela atuação do “novo” sindicalismo 38 (grifo nosso), o
Serviço Social adere à proposta ideopolítica de transformação da sociedade à luz de
um novo projeto societário:
(...) nessa conjuntura político-econômica em que já não se podem ignorar as
manifestações populares, em que os movimentos sociais e processo
organizativo de diversas categorias profissionais se revigoram, a prática do
Assistente Social passa a ser analisada a partir das implicações políticas do
papel desse intelectual vinculado a um projeto de classe. Verificam-se
tentativas de ruptura de parte do meio profissional com o papel
tradicionalmente assumido, na procura de somar-se às forças propulsoras
de um novo projeto de sociedade (IAMAMOTO, 1997, p. 37-38).
Neste momento de reatualização da profissão, sobretudo no período histórico
de transição democrática (final de 1970 e a década de 1980), o Serviço Social reúne
posições de assistentes sociais, a esse respeito, na Revista Períodica Serviço Social
& Sociedade, cuja primeira edição foi impressa em 1979.
O primeiro autor a tratar sobre o tema da Reconceituação na Revista referida
foi o teórico Vicente de Paula Faleiros, que na época lecionava na Universidade
LAVAL-QUEBEC, Canadá. A primeira publicação da revista foi dividida em dez
artigos referentes a diversas temáticas. O artigo de Faleiros está logo na
38
“(...) a concepção e a prática sindical adotam [...] o critério amplamente democrático de
representação, baseado na proporcionalidade das forças políticas vivas, presentes no movimento
de organização das classes trabalhadoras, pressuposto histórico da democracia operária, na
construção do sindicalismo de classe” (Abramides, 2006, p. 129).
54
39
Este tema será tratado adiante.
40
Título do artigo publicado em Setembro de 1979 na Revista Serviço Social & Sociedade, nº 1.
41
A terminologia ‘menor’ foi substituída com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente em
1990, por criança e adolescente. Da mesma forma, o termo ‘velho’, foi substituído por idoso com a
instituição do Estatuto do Idoso em 2003. A terminologia utilizada por Faleiros (1979) corresponde
às legislações da época.
55
No que tange essa contextualização, pode-se afirmar que Faleiros expõe uma
critica a utilização dos recursos para exercer o poder. A questão inicial objetivada na
crítica, sobre a prática nas instituições sociais, após a reconceituação, não
corresponde a uma crítica ao teor da própria reatualização profissional, mas sim a
preocupação em romper com práticas conservadoras, ainda manifestadas no
Serviço Social. Faleiros (1979, p. 152) afirma que “o processo de reconceituação do
serviço social não consiste somente numa reflexão abstrata sobre métodos, mas
implica na busca de novas formas de atuação a partir de sua própria prática
limitada”.
Helena Juracy Junqueira42 publicou em 1980, na Revista Serviço Social &
Sociedade nº 4, acerca da Reconceituação do Serviço Social. Segundo os
pressupostos da autora, em quinze anos do movimento de reatualização da
profissão, ainda não havia sido encontrado o compasso entre operacionalização e a
ideologia aderida pelo Serviço Social. Segundo a autora, após duas décadas de
propostas metodológicas de cunho crítico, ainda era pouco significativo o espaço
disponível para por em prática a proposta. De acordo com Junqueira (1980) um dos
mecanismos de dissociação entre teoria e prática, são as próprias Escolas de
Serviço Social. Pois, conforme a autora, os alunos encontram dificuldades em
relacionar a teoria da sala de aula com a prática do campo de estágio. Junqueira
(1980, p. 35) discorre sobre “uma prática inspirada, orientada por uma teoria que,
por sua vez, é testada pela prática, dela retirando elementos de crítica e de
reformulações, que novamente enriquecerão a prática, num processo dialético”. A
autora entende o Serviço Social como uma práxis, em que é necessário
operacionalizar a teoria, para alcançar a transformação da sociedade.
Em 1981, é publicado o último artigo43 na Revista Serviço Social & Sociedade
referente à Reconceituação do Serviço Social. Desta vez, o profissional que
dissertará sobre o tema, é José Paulo Netto, já na época, docente em Serviço Social
do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC-SP. Netto enunciou, por
meio do artigo, respostas à fração conservadora da profissão, que criticava o
movimento de reconceituação.
O autor argumenta, contrapondo a oito críticas relacionadas com a
reconceituação. A primeira delas exprime que a reconceitualização conduziu a
42
Em 1980 professora titular do curso de pós-graduação da PUC-SP.
43
O período utilizado para análise da perspectiva de assistentes sociais quanto à reconceituação do
serviço social é referente ao contexto de transição democrática, especificamente entre 1979 a 1988.
56
45
Artigo elaborado por um grupo de Assistentes Sociais brasileiros a convite do Conselho Federal de
Assistentes Sociais. Cf. CFAS. Revista Serviço Social & Sociedade, 1979, p. 5.
60
participar de forma autônoma aos interesses da burguesia, para fazer valer sua força
organizativa na Assembleia Constituinte.
Carlos Simões, na época professor de Direito na Faculdade de Serviço Social
da PUC-SP46, na mesma edição da Revista Serviço Social & Sociedade de 1987, a
qual publicou o artigo de José Walter Canoas, pontuou aspectos sobre uma
Constituição, e a relação desta, com as classes sociais.
De acordo com Simões (1987, p. 7) é “(...) pela Constituição, [que] a classe
dominante busca a estabilidade e os conflitos sociais em jogo equilibram-se”. O
autor explica que quando há substituição hegemônica de uma classe por outra, faz-
se necessário o advento de uma nova Constituição, assim, tanto no Capitalismo
como no Socialismo a Carta Magna será a Lei principal. Porém, Simões (1987, p.
14) explica que “(...) a substituição de uma classe por outra não significa,
necessariamente a subsituição da classe dominante na sociedade”. No momento
que acontece modificações na correlação de força das classes, a Constituição é
repensada em consonância com a conjuntura histórica (Simões, 1987). Por isso,
segundo o autor, a alteração na Constituição pode expressar a distribuição do poder
entre a classe dominante com a classe dominada.
Esse perímetro de permuta entre as Constituições não incita um ato
revolucionário, mas se expressa pela compartilhação entre os poderes, onde
algumas reinvidicações da classe subalternizada comparecerão na Lei Maior.
Simões (1987, p. 15) dispõe que a outra condição para a designação de uma nova
Constituição seria por meio revolucionário, que “decorre do rompimento do quadro
de classes anterior, passando a classe dominada a dominante, ou no mínimo, a
classe até então dominante perdendo a hegemonia para a classe até enão
subalternizada”. Logo, segundo Simões, como a Constituição Federal de 1988, não
expressa uma Revolução da classe operária, significa que esta se caracteriza como
uma Constituição burguesa com gotas revolucionárias, expressa pelos direitos
sociais.
No contexto de redemocratização do Estado, a perspectiva do Serviço Social
sobre Democracia e Estado de Direito consitiu primeiramente, com sinônimo de
garantia de direitos sociais. Em 1987, na Revista Serviço Social & Sociedade n. 23,
esses temas serão contemplados dentro de outra perspectiva. Os assistentes
sociais reconheceram que o processo de transição democrática retrata o processo
46
Cf. Simões. Carlos. Revista Serviço Social e Sociedade. Número 20. São Paulo: Cortez, 1987, p. 5.
62
48
Publicado na Revista Serviço Social & Sociedade nº 9.
49
Cf nota de rodapé pg 43 deste trabalho.
50
64
abrindo novas possibilidades para pensar seus referencias teóricos e suas ações
interventivas” (idem, 1999, p. 185).
Concepções gramscinianas passaram a orientar reflexões aprofundadas
sobre a relação do Serviço Social com as classes sociais. Nasce o debate sobre o
papel do assistente social como intelectual orgânico de uma das classes
fundamentais. Iamamoto e Carvalho (2000, p. 87) autores do livro “Relações Socias
e Serviço Social no Brasil”, cuja primeira publicação ocorreu em 1982, dispõem que
o assistente social tem o papel de “contribuir na luta pela direção social e cultural
dessas classes fundamentais”. Os autores indentificam que a prática profissional do
assistente social, enquanto intelectual orgânico, esta relacionada com uma
dimensão política.
Dentro desse aspecto, entra em cena resignificações do Serviço Social
quanto ao papel do Estado, das classes e das ideologias forjadas para a
compreensão da realidade social (SIMIONATO, 1999). A perspectiva critica dialética
propiciará a compreensão da ideologia como arma consensual da burguesa para a
disseminação de seus valores na sociedade. Abreu (2002) define que a ideologia
pode ser utilizada tanto como instrumento de dominação, como pode ser elemento
de libertação. Este último ocorrerá, quando a classe dominada “romper a unidade
baseada na ideologia tradicional (...)” (Gramsci, 1976, p. 11, apud Abreu, 1999, p.
137).
Segundo Abreu (1999, p. 135) para que haja essa transformação, é
necessária a efetuação de “um imenso trabalho de crítica do pensamento tradicional
dominante e de elaboração/difusão de uma nova e superior concepção de mundo
(...)”. O assistente social como intelectual orgânico da classe dominada, pode,
através de sua intervenção, disseminar uma nova ideologia a qual consistirá em
arruinar a alienação, sustentada pela ideologia dominante, à classe trabalhadora.
Simionato (1999) explica que as ações profissionais do assistente social acontecem
junto à vivência cotidiana dos sujeitos sociais. Assim sendo, o Serviço Social pode,
por meio de sua própria prática politizada, colaborar para com a construção de uma
consciência de classe.
De acordo com Silva e Silva (1995, p. 154) “a transformação, num contexto de
totalidade histórico-social, implica uma nova formação ideológica, que, por sua vez
remete a nova cultura, a novos valores, a novas concepções de mundo”. Essa
67
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
___________. Quaderni del carcere. Edizioni critica dell’ Istituto Gramsci di Roma.
(a cura de Valentino Gerratana) Einaudi, Torino, 1977.