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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

SERVIÇO SOCIAL

ELISETE DE OLIVEIRA

DIREITOS HUMANOS DOS REFUGIADOS E


O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL: INCLUSÃO SEM FRONTEIRAS.

RIBEIRÃO PRETO
2021
ELISETE DE OLIVEIRA

DIREITOS HUMANOS DOS REFUGIADOS E


O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL: INCLUSÃO SEM FRONTEIRAS.

Monografia apresentada à Universidade de Ribeirão Preto,


UNAERP – Curso de Serviço Social, como requisito parcial
para obtenção do Título de Bacharel de Serviço Social, sob a
orientação da Prof.ª Me Lívia Masson Antonini.

RIBEIRÃO PRETO
2021
Ficha catalográfica preparada pelo Centro de Processamento Técnico
da Biblioteca Central da UNAERP

- Universidade de Ribeirão Preto -

Oliveira, Elisete de, 1966-


O48d Direitos humanos dos refugiados e o papel do Serviço Social:
inclusão sem fronteiras / Elisete de Oliveira. - - Ribeirão Preto, 2021.
51 f.

Orientadora: Profª. Ma. Lívia Masson Antonini.

Monografia (graduação) - Universidade de Ribeirão Preto,


UNAERP, Serviço social. Ribeirão Preto, 2021.

1. Direitos humanos. 2. Serviço Social. 3. Refugiados. I. Título.

CDD 362
ELISETE DE OLIVEIRA

DIREITOS HUMANOS DOS REFUGIADOS E O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL:


INCLUSÃO SEM FRONTEIRAS.

Monografia apresentada à Universidade de Ribeirão Preto,


UNAERP – Curso de Serviço Social, como requisito parcial
para obtenção do Título de Bacharel de Serviço Social, sob a
orientação da Prof.ª Me Lívia Masson Antonini.

Aprovação: _________/_______/_________

_______________________________________
Prof. Prof.ª Me Lívia Masson Antonini.
Universidade de Ribeirão Preto
Orientadora

___________________________________
1º Examinador (a)
Universidade de Ribeirão Preto

___________________________________
2º Examinador (a)
Universidade de Ribeirão Preto
Dedico este trabalho à minha família, em especial aos meus pais (in memoriam), pelo amor
incondicional, por confiarem em minha capacidade para chegar aonde eu quisesse chegar e cuja
presença foram essenciais para minha vida, formação pessoal e profissional.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, fonte de meu saber, caminhar e realizações, à minha família, por todo
apoio que me deram até aqui e por acreditarem em mim e no meu potencial.
Agradeço aos amigos os quais tive a oportunidade de conhecer durante a jornada deste
curso e pude aprender a admirá-los com o jeito peculiar de cada um.
A todos os professores, minha eterna gratidão, por me permitir ser uma pessoa melhor
e a tornar-me um profissional crítico e reflexivo, estar aberta ao conhecimento e renovação
profissional, a manter-me sempre atualizada a assuntos inerentes à profissão.
Agradecimento especial à professora e Mestre Lívia Masson Antonini, por toda atenção,
apoio, paciência, cordialidade e orientação durante este processo.
Agradeço à Ana Cecília Rossato Issas, ao Francisco Pereira da Silva e Jefferson
Veronezi Pavain, os quais me permitiram obter conhecimento durante a supervisão de estágio.
Agradeço a todos que no decorrer desta caminhada tive a honra de poder apreciar de
grandes amizades valiosas.

Gratidão a todos e todas!


A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige
permanente busca. Busca permanente que só existe no ato
responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser
livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a
tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as
pessoas se libertam em comunhão.

Paulo Freire
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo abordar a importância dos Direitos Humanos para os
Refugiados e o papel do Serviço Social no processo de inclusão as classes de refúgio,
objetivando um trabalho de rupturas e pluralismo sem fronteiras. Observa o processo de refúgio,
analisando as políticas públicas e sociais envolvidas, e discorre sobre o assunto de forma
fundamentada, pesquisando registros históricos, legislações e direitos conquistados ao longo do
tempo. Retrata os diversos desafios e imposições à efetivação de direitos destas pessoas e reflete
teórica e criticamente sobre estratégias e alternativas necessárias para sua proteção. Tendo
como base o método de pesquisa qualitativa, utilizou-se a pesquisa bibliográfica de caráter
exploratório, análise documental e de conteúdo dos dados científicos encontrados durante a
pesquisa realizada. Conclui-se que é urgente a discussão a respeito dos dilemas e perspectivas
da crise humanitária de refúgio, organização e implementação de redes protetivas a fim de que
estes sujeitos recebam a devida atenção e proteção que lhes preserve os direitos humanos
fundamentais. O assistente social tem papel fundamental pois trabalha para a emancipação
social, garantia e proteção dos usuários, e deve se aprofundar nesta temática alcançando os
grupos mais vulneráveis e excluídos socialmente.

Palavras-chave: Direitos Humanos. Serviço Social. Refugiados.


ABSTRACT

This work aims to address the importance of Human Rights for Refugees and the role of Social
Work in the process of inclusion of refugee classes, aiming at a work of ruptures and pluralism
without borders. It observes the refugee process, analyzing the public and social policies
involved, and discusses the subject in a reasoned manner, researching historical records,
legislation and rights conquered over time. It portrays the various challenges and impositions
for the realization of these people's rights and reflects theoretically and critically on strategies
and alternatives necessary for their protection. Based on the qualitative research method,
bibliographical research of exploratory character, documental and content analysis of the
scientific data found during the research was used. It is concluded that it is urgent to discuss the
dilemmas and perspectives of the humanitarian crisis of refuge, organization and
implementation of protective networks so that these subjects receive the due attention and
protection that preserves their fundamental human rights. The social worker has a fundamental
role as he works for the social emancipation, guarantee and protection of users, and should go
deeper into this theme, reaching the most vulnerable and socially excluded groups.

Keywords: Human Rights. Social service. Refugees.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
1 O CONCEITO DE REFUGIADO E A HISTÓRIA INTERNACIONAL DOS
DIREITOS HUMANOS ......................................................................................................... 12
1.1 CONCEITO DE REFUGIADO.......................................................................................... 12
1.2 HISTÓRIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E DOS REFUGIADOS 14
1.2.1 Direito Internacional dos Refugiados - ACNUR............................................................. 17
1.3 A CONQUISTA DE DIREITOS DOS REFUGIADOS NO BRASIL .............................. 20
2 PROCEDIMENTOS DO REFÚGIO E SUAS ORALIDADES NO BRASIL ............... 24
2.1 OS REFUGIADOS, SEUS ASPECTOS E OS DESAFIOS ENFRENTADOS. ............... 24
2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E DIREITOS HUMANITÁRIOS À REFUGIADOS. .............. 30
2.3 REFUGIADOS, CONFLITOS POLÍTICOS E COLHIMENTO ATRAVÉS DA
FRONTEIRA ............................................................................................................................ 32
3 SERVIÇO SOCIAL E O TRABALHO COM REFUGIADOS ...................................... 36
3.1 O REFUGIADO COMO SUJEITO DE DIREITOS – POLÍTICAS PÚBLICAS E
SOCIAIS ................................................................................................................................... 36
3.2 ATUAÇÕES DA SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO FLUXO
MIGRATÓRIO BRASILEIRO ................................................................................................ 40
3.3 ATENDIMENTOS AOS REFUGIADOS NO SISTEMA ÚNICO DA ASSISTÊNCIA
SOCIAL - SUAS ...................................................................................................................... 43
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 49
10

INTRODUÇÃO

Os diversos conflitos armados pelo mundo, bem como as violações dos direitos
fundamentais, terminam por produzir um crescente número de refugiados, que buscam se
assentar em lugares onde haja maior estabilidade política e econômica, comparado a seus países
de origem.
A questão dos refugiados tem entrado em evidência nos últimos anos, tem se
intensificado devido ao aumento dos conflitos e perseguições de diversas espécies, que geram
situações de extrema violência, penúria e violação massiva de direitos humanos (GOMES,
2017, p35).
Tais condições obrigam os habitantes a se deslocarem para outros países em busca de
segurança e melhores condições de vida, buscando refúgio. Esta definição de refugiados está
de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), agência da
Organização das Nações Unidas (ONU) que tem como objetivo estabelecer parâmetros
internacionais para a proteção e acolhimento de refugiados.
Desde o início do século, o Brasil vem recebendo elevado número de refugiados,
produzindo diversos efeitos nos setores social, econômico, cultural e jurídico do país. No
sentido de uma perspectiva histórico-crítica, entende-se os direitos humanos como um processo
histórico que se desenvolve, sobretudo com a luta das classes trabalhadoras na reivindicação de
garantias sociais. O presente estudo está orientado, tanto no plano político quanto constituído
pelas normas e regras de ação, pela compreensão contemporânea de direitos humanos
indivisíveis, universais e interdependentes.
Sobre o tema do refúgio no mundo contemporâneo, faz-se necessário o trabalho dos
Assistentes Sociais, tendo em vista o processo de multinacionalização e um conjunto de ideias
políticas e econômicas capitalistas, o aumento da busca pelo controle de novos mercados,
intensificando a flexibilização das leis trabalhistas, a terceirização dos serviços e as
privatizações, as quais ganham amplo espaço, refletindo as novas transformações no mundo do
trabalho.
Além disso, o próprio conceito de refugiado é confundido com outros tipos de migração
existentes no país, é de suma importância refletir sobre os desafios em assegurar mais agilidade
no processo de pedido de refúgio e inserir esses indivíduos na sociedade, minimizando os
impactos nas áreas política, econômica e social.
Essa pesquisa objetiva apresentar o conceito de refúgio e a evolução histórica no cenário
internacional, bem como fundamentar o direito dos refugiados no Brasil, no que diz respeito à
11

proteção do ser humano, apresentando suas bases legais internacionais e nacionais, a atuação
dos órgãos para a concretização da proteção ao refugiado.
Propõe uma reflexão sobre as políticas públicas e sociais que garantam a proteção e
integração dessas pessoas, situando o Serviço Social nessa temática, quanto às lutas pela sua
defesa e garantia de direitos.
No primeiro capítulo apresentam-se o conceito e a evolução história do Instituto do
Refúgio, sob a ótica do Direito Internacional, o Direito Internacional dos Refugiados e os
motivos que ensejam a obtenção o status de refugiado.
Já o segundo capítulo trata da proteção aos refugiados a partir do cenário internacional
para contextualizar a proteção do refugiado no Brasil na Constituição Federal de 1988, no
Estatuto do Refugiado – Lei nº 9.474/1997, além de apresentar o processo de concessão do
status de refugiado no país, abordando o papel do Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados (ACNUR), do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) e da Polícia
Federal, que atuam na legalização dos refugiados, bem como na proteção dos seus direitos e
fiscalização de seus deveres e apresentando a situação da Venezuela e como esse quadro
obrigou muitos a buscarem refúgio no Brasil e quais os desafios enfrentados por estes.
O terceiro e último capítulo, não menos importante, aborda às políticas públicas
existentes na atualidade que visam garantir na prática a proteção de que essas pessoas
necessitam, será analisado também o papel da rede de apoio, a atuação do profissional
Assistente Social e das entidades do terceiro setor no atendimento as pessoas em situação de
refúgio.
12

CAPÍTULO 1 O CONCEITO DE REFUGIADO E A HISTÓRIA INTERNACIONAL


DOS DIREITOS HUMANOS

1.1 CONCEITO DE REFUGIADO

Os refugiados são identificados como indivíduos que buscam asilo e proteção em um


país distinto ao seu de origem. Segundo Baptista (2011):

Os refugiados são pessoas que se diferenciam dos deslocados internacionais


classificados como “migrantes tradicionais”. Em geral os migrantes tradicionais têm
o seu deslocamento motivado por questões econômicas, isto é, estes migrantes partem
em busca de melhores condições de vida. Já os refugiados fogem em virtude de
fundado temor de perseguição em busca da preservação da sua vida. Para evitar o
desgaste diplomático entre os países, o refúgio é classificado como instituto apolítico
e humanitário. Há a preocupação com a satisfação das necessidades básicas dos
refugiados que incluem, mas não se restringem a alimentação, moradia, educação e
saúde (BAPTISTA, 2011, p. 177)

Pode-se também contextualizar que a possibilidade de buscar asilo está consagrada na


Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), assim no âmbito da Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas - ONU a Organização dos Estados Americanos (OEA) em seu
artigo XIV, como apresentado nos seguintes tópicos:

Todo homem, vítima de perseguição tem o direito de procurar e de gozar de asilo em


outros países. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição
legitimamente motivada por crismes de direito comum ou por atos contrários aos
objetivos e princípios das Nações Unidas (OEA, 1948).

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR),
que será detalhado no decorrer do trabalho porque fundamenta e dá diretrizes ao atendimento
aos refugiados, tal exposição, contribui para apresentar a importante diferença de tal conceito,
a fim de não gerar sérias consequências aos refugiados.
Segundo a ACNUR, há diferenças entre grupos de refugiados e grupos de migrantes. Os
Refugiados ou deslocados externos são pessoas que deixaram seus países de origem para
escapar de riscos graves, conflitos armados ou perseguições. Em muitos casos a situação do
país é tão instável e intolerável que estas pessoas cruzam fronteiras internacionais para buscar
segurança em países mais próximos. Ao chegar nestes locais passam a ser considerados como
refugiados, e devem ser atendidos pela assistência dos Estados e pela agência das Organizações
Unidas (ONU).
Já os grupos de migrantes são compostos por pessoas que escolhem se deslocar para
outro país em busca de melhores condições de vida, geralmente a causa não está atrelada a uma
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ameaça direta de perseguição ou morte. Os migrantes aspiram por melhores oportunidades de


trabalho, educação, saúde e assistência, procurando viver sozinhos ou com parentes que moram
fora do país de origem. Diferentemente dos refugiados, que não podem voltar ao seu país, os
migrantes continuam recebendo a proteção do seu governo, e possuem liberdade para fazer este
trânsito.
Após a compreensão desta diferença de conceito e do perfil dos grupos de refugiados,
adentraremos nas definições da ACNUR, que explicam os tipos de deslocamentos realizados
por refugiados, são eles: Deslocados Internos, Apátridas e Reassentados.
• Deslocados internos, pessoas dentro de seu próprio país, pelos mesmos motivos de um
refugiado, mas que não atravessaram uma fronteira internacional para buscar proteção.
Mesmo tendo sido forçadas a deixar seus lares por razões similares às dos refugiados
(perseguições, conflito armado, violência generalizada, grave e generalizada violação
dos direitos humanos), os deslocados internos permanecem legalmente sob proteção de
seu próprio Estado, mesmo que esse Estado seja a causa de sua fuga;
• Apátridas, muitas vezes considerado problema invisível, porque permanecem invisíveis
e desconhecidos diante sua nacionalidade, são pessoas que não têm sua nacionalidade
reconhecida por nenhum país ocorrendo por várias razões, discriminação contra
minorias na legislação nacional, falha em reconhecer todos os residentes do país como
cidadãos quando este país se torna independente (secessão de Estados) e conflitos de
leis entre países;
• O reassentamento, é a transferência de refugiados de um país anfitrião para outro Estado
que concordou em admiti-los e, em última instância, conceder-lhes assentamento
permanente. O ACNUR é obrigado pelo seu Estatuto e pelas Resoluções da Assembleia
Geral da ONU a realizar o reassentamento como uma das soluções duradouras. O
reassentamento é singular porque é a única solução durável que envolve a realocação
de refugiados de um país anfitrião para um terceiro país. No Brasil, o Programa de
Reassentamento, firmou-se no ano de 1999. De acordo a essas circunstâncias, se
concretiza o reassentamento dos refugiados em um terceiro país.

Percebe-se que para cada tipo de deslocamento há características próprias e um conjunto


de leis e normativas que estes grupos devem se submeter ao chegar no país que os acolheu e
será sede de sua permanência por curto ou longo tempo.
14

A Lei Nacional nº 9474 de julho de 1997, define mecanismos para a implementação do


Estatuto dos Refugiados, e determina outras providências perante legislação brasileira, uma das
mais avançadas no quesito refúgio e referência no âmbito internacional.
O primeiro artigo da referida Lei, reconhece como refugiado todo indivíduo que se
encontre fora de seu país de origem por conta de temores de perseguição por motivos de raça,
religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, todo aquele que que não queira
regressar ao país de origem e não possua nacionalidade no país em que buscou refúgio, e todo
aquele que estiver em situação de violação de direitos humanos, sendo obrigado a deixar seu
país de nacionalidade.
Porém não são todos os grupos e pessoas que podem se beneficiar da condição de
refugiados, a mesma Lei se refere aqueles que já obtenham alguma forma de proteção ou
assistência por parte de organismo ou instituição das Nações Unidas, excluindo-se o Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados ACNUR, aqueles que não nacionais
brasileiros e já residam no território possuindo obrigações e direitos como brasileiros, aqueles
que tenham sido condenados como culpados de crimes contra a humanidade, participado de
atos terroristas ou tráfico de drogas e que sejam uma ameaça à paz e a segurança.
Sendo assim, todos os artigos estabelecem as condições reais e necessárias de fomentar-
se um refúgio, seguido de proteção e conclusões gerais de refúgio, requerem avaliação do
CONARE – Órgão competente desta resolução - Criado pela Lei nº 9.474/1997, com o objetivo
de reconhecer e tomar decisões sobre a condição de refugiado no Brasil, além de promover a
integração local dessa população, o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) é um
órgão multiministerial do qual participam o governo, a sociedade civil e a ONU, por meio do
ACNUR.

1.2 HISTÓRIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E DOS REFUGIADOS

De acordo com a Britannica Escola (2021), no início do século XX, durante as batalhas
da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) houve um grande fluxo de refugiados oriundos da
Bélgica, da França, da Itália e da Romênia. Depois do conflito, eles voltaram a se estabelecer
em seus países de origem. A Revolução Russa de 1917, no entanto, expulsou permanentemente
mais de 1,5 milhão de pessoas da Rússia. Enquanto isso, a Turquia obrigou mais de 1 milhão
de armênios a se mudar para a Síria e a Palestina.
No ano de 1918 após o fim da 1ª Guerra Mundial, surgiram consequências de ordem
social e econômica, resultante do grande número de refugiados, tendo em vista que esses
15

indivíduos não possuíam qualquer tipo de proteção estatal, em virtude de seus ideais políticos,
crenças religiosas, etnia, nacionalidade e outros.
No ano de 1920, em busca de reconstruir a devastação social que a Guerra causou, foi
criada a Liga das Nações Unidas, sendo composta primeiramente por países europeus como
Inglaterra, França, Holanda e Alemanha, tendo como foco, promover a paz mundial e a
cooperação e segurança internacional.
Ainda assim, a Liga das Nações Unidas foi responsável por promulgar uma série de
Declarações legais, de modo que se condenava agressões contra o território e a independência
política de seus membros, punindo também quaisquer Estados que não obedecessem às normas
impostas pela comunidade internacional, tendo consequentemente gerado uma nova concepção
para com a soberania estatal.
Porém após algumas décadas, inicia-se a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que
novamente gerou mais de 60 milhões de refugiados, grande parte deles formado por judeus que
fugiam dos líderes nazistas da Alemanha. Muitos ingressaram nos Estados Unidos, enquanto
outros foram para a América do Sul e outros países. Centenas de milhares de pessoas deixaram
a Polônia em direção à União Soviética. Na Ásia, os ataques japoneses obrigaram mais de 30
milhões de chineses a abandonar suas casas;
Milhões de refugiados fugiram das guerras asiáticas. Uma delas foi a Guerra da Coreia,
entre 1950 e 1953. Outra foi a Guerra do Vietnã, que terminou em 1975. Outra ainda foi a
invasão do Afeganistão pela União Soviética, na década de 1980. Mais de 1 milhão de
refugiados abandonaram o Iraque durante a Guerra do Golfo Pérsico, em 1991.
As duas guerras mundiais não foram os únicos acontecimentos que provocaram o
surgimento de grandes quantidades de refugiados, mas também outros eventos e
acontecimentos como as guerras civis na África, obrigaram milhões de pessoas a deixar a sua
terra natal. Importante lembrar também que durante a segunda metade do século XX, as
ditaduras que dominaram os países sul-americanos, inclusive no Brasil que ocorreu entre os
anos de 1964 e 1985, também geraram levas de refugiados políticos que buscaram proteção em
várias partes do mundo.
O fortalecimento dos trabalhos da Liga das Nações Unidas refletiu no surgimento da
Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945, em que a introdução da sua Carta evidencia
os princípios e valores que baseiam os interesses da Organização:

Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: a preservar as gerações vindouras do


flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe
sofrimentos indizíveis à humanidade; a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais
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do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos


homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas (ONU,1948).

Deste modo, o primeiro objetivo da ONU era manter a paz e a segurança internacional,
utilizando fins pacíficos em conformidade com os princípios da justiça e do direito
internacional, vedando atos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz.
Outro ponto relevante é enfatizar que a ONU fora dividida em cinco estruturas internas,
dentre os quais estabelecem-se por:
• a Assembleia Geral, com a presença de todos os países-membros, ao longo dos anos,
inúmeros países passaram a fazer parte da Assembleia;
• o Conselho de Segurança, formado pelos países que saíram vencedores da guerra e por
aqueles que exerciam alguma influência em razão do seu poderio econômico, com a
participação de cinco membros permanentes (URSS, EUA, Inglaterra, França e China)
e outros 10 provisórios eleitos pela Assembleia Geral;
• o Secretariado, sendo respondido pelo Secretário-Geral com a função de administrar e
organizar toda a ONU;
• o Conselho Econômico e Social, atrelado ao UNICEF (Fundo das Nações Unidas para
a Infância) e a OMC (Organização Mundial do Comércio);
• a Corte Internacional de Justiça, braço jurídico da ONU sediado em Haia, na Holanda.
Com o passar dos anos, e os anseios por solução dos conflitos advindos de outro
contexto histórico-social, foram criados outros mecanismos pela ONU, dentre eles,
destacou-se, em razão da relevância sobre o tema, o ACNUR (Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados).

Observado os itens supracitados, entende-se que a ONU foi um marco no processo de


internacionalização e reconhecimento dos direitos humanos, pois a partir da sua consolidação
houve a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos no ano de 1948. A
conquista deste documento internacional dos direitos humanos começou a dar abertura à
produção de inúmeros tratados internacionais, destinados a proteger os direitos básicos dos
indivíduos.
Assim, a Declaração Universal dos Direitos Humanos introduziu à concepção
contemporânea a ideia de que os direitos humanos são universais, inerentes à condição de
pessoa e não relativos a particularidades sociais e culturais de determinada sociedade, incluindo
em seu elenco não só direitos civis e políticos, mas também direitos sociais, econômicos e
17

culturais. Um dos pontos inovadores apresentados pela Declaração foi a possibilidade de asilo,
disposta no Artigo 14º.

Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo
em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição
legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos
objetivos e princípios das Nações Unidas (Declaração dos Direitos Humanos, 2009).

Ainda é importante destacar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos -


Adotada e proclamada pela Resolução nº 217, da Assembleia Geral das Nações Unidas em
dezembro de 1948, assinada pelo Brasil na mesma data.
Esta Declaração considera que os Direitos Humanos sejam fundamentais na dignidade,
no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e mulheres, promovendo o
progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla.
O reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família, garante direitos
iguais e inalienáveis fundamentados pela liberdade, justiça e paz. A Declaração defende que o
desrespeito aos direitos humanos resulta em barbáries que ultrajam a consciência humana,
necessário então que estes direitos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem
não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão.
Ainda prevê que é fundamental promover o desenvolvimento de relações amistosas
entre as nações, onde os Estados-Membros devem se comprometer com a Carta promovendo e
cooperando com as Nações Unidas e as previsões das legislações vigentes.
À vista disso, o Brasil é reconhecido positivamente por suas importantes contribuições
no processo de construção da normativa internacional de promoção e proteção dos Direitos
Humanos, movimentos e institucionalidade na sociedade brasileira, os quais vieram através de
lutas. Assim sendo são necessárias ações políticas e uma cultura que promova e garanta a
dignidade humana. Essas respostas precisam ser urgentes diante das consequências decorrentes
da história dos Direitos Humanos no Brasil.

1.2.1 Direito Internacional dos Refugiados - ACNUR

Após o surgimento da ONU, foi criado o Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados (ACNUR), como ferramenta essencial e subsidiária, que possui sua sede na cidade
de Genebra na Suíça, representado por um Comitê Executivo composto por 53 Estados.
18

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados conta com a ajuda dos
países membros da ONU, bem como de organizações não governamentais e da sociedade. Deste
modo, Andrade ressalta:

Da análise das tarefas encarregadas ao Alto Comissariado, nota-se que, ademais da


proteção jurídica, não lhe cabia nenhuma tarefa de assistência direta, mas sim a de
coordenação desta. De fato, os recursos dos numerosos fundos e pelas diversas taxas,
eram distribuídos pelo Alto Comissariado às organizações privadas que tinha, estas
sim, contato direto com os refugiados, responsabilizando-se, portanto, pela ajuda
humanitária in loco, pela emigração, pelo assentamento permanente e pela absorção
dos refugiados na vida econômica dos países de refúgio (ANDRADE, 1996, p. 116).

Ainda se faz notório apontar que o Direito Internacional dos Refugiados surgiu a partir
da Convenção de 1951, classificada como ferramenta internacional da Organização das Nações
Unidas, e que por ela é reconhecida a obrigação da garantia de segurança e apoio para com
aqueles que por motivos de força maior, precisavam deixar suas terras.
Outra norma fixada na Convenção é o direito ao recurso contra decisões desfavoráveis,
como também a premissa da possibilidade de reunião familiar. Assim, a Convenção, traz em
seu Artigo 1º o rol taxativo para o refugiado:

(...) em virtude dos eventos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e devido a


fundado temor de perseguição por motivo de raça, de religião, de nacionalidade, de
participação em determinado grupo social ou de opiniões políticas, esteja fora de seu
país de nacionalidade e não pode ou, em razão de tais temores, não queira valer-se da
proteção desse país; ou que por carecer de nacionalidade e por estar fora do país, onde
antes possuía sua residência habitual não possa ou, por causa de tais temores ou de
razões que não sejam de mera conveniência pessoal, não queira regressar. (ACNUR,
1951)

Desta forma, em razão da continuidade do deslocamento forçado de pessoas,


principalmente por conta do final da 2ª Guerra Mundial, surgiu a necessidade de criação de um
organismo internacional com atuação irrestrita, tendo como objetivo a proteção do refugiado a
nível mundial, foi neste contexto que teve início outra importante organização, o Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR.
O Alto Comissariado das Nações Unidas (ACNUR) foi estabelecido em 1950, no âmbito
do sistema da Organização das Nações Unidas, preocupa-se em efetivar, a nível universal, a
proteção aos refugiados e, apesar de ter sido criado no campo da ONU, fora concebido como
um organismo que atua independentemente, tendo a capacidade, inclusive, de celebrar tratados
internacionais.
O estatuto do ACNUR, conforme estabelecido pelo Artigo 2, prevê que dentre suas
funções primordiais está providenciar proteção internacional e buscar soluções permanentes
19

para o problema dos refugiados, visando, deste modo, um trabalho humanitário e apolítico e
apartidário.
Durante décadas a questão dos refugiados foi vista como um problema a ser resolvido
somente pelo Governo que providenciava o refúgio. Já, com o passar do tempo, fora modificado
e, atualmente, cabe ao ACNUR coordenar as atividades de assistência direta às pessoas em seu
âmbito de competência. Além disso, o ACNUR trabalha com três estratégias de soluções: a
repatriação voluntária, reassentamento e a integração local.
A repatriação voluntária, dá-se quando uma pessoa retorna para sua casa, país de origem
que deve acolher e reintegrar seu povo com dignidade para que possa reconstruir sua vida,
porém todo trâmite deve ser acompanhado pela organização internacional de proteção ao
refugiado. Contudo, se o repatriamento não for possível devido a conflitos intermináveis, o
refugiado necessita de apoio e proteção, e deve encontrar uma casa no país acolhedor (anfitrião),
para assim poder socializar-se a moradia e comunidade local. Em se tratando de
reassentamento, é sempre desafiadora a situação enfrentada, pois são reassentados
frequentemente em países que a língua, cultura, entre outros comportamentos, são bem
diferentes e inerentes aos seus. Para os refugiados de integração local é necessária uma melhor
interlocução entre os países e refugiados, tendo como base o Manual de Reassentamento do
ACNUR, sendo uma ferramenta de referência para Estados e ONGs que trata sobre políticas e
práticas de reassentamento global.
Ainda assim, mesmo com o fortalecimento das três estratégias de soluções duráveis, a
atuação do ACNUR muitas vezes não é ou não foi reconhecida pelos governos nacionais, em
razão disso, o organismo começou a trabalhar o fortalecimento de parcerias com organizações
não-governamentais e com outros órgãos dentro do sistema da ONU. Essa parceria ocorre
principalmente, nos processos de integração dos refugiados dos países de acolhida e na sua
reintegração em seus Estados, após a cessação das causas que originaram o refúgio. A perda da
Condição de Refugiado, também está prevista no Estatuto, sendo as principais causas a
renúncia, a comprovação de fundamentos falsos, o exercício de atividades contrárias à
segurança nacional ou à ordem pública, e a saída do território nacional sem prévia autorização
do Governo brasileiro. Caso o refugiado perda esta condição, será enquadrado no regime de
permanência de estrangeiros no território nacional, ou dependendo da causa, estarão sujeitos às
medidas compulsórias e sansões previstas na Lei nº 6.815, de agosto de 1980.
Estas decisões são determinadas pelo CONARE, o Comitê de elegibilidade que
reconhece ou não a condição daqueles que solicitam o refúgio, órgão de proteção e
20

fortalecimento de vínculo aos refugiados, sendo ó único com poder de decisão da condição de
refúgio.

1.3 A CONQUISTA DE DIREITOS DOS REFUGIADOS NO BRASIL

“Todos nós já sabemos quais são os problemas e o que


prometemos cumprir. Não precisamos mais de declarações nem de
promessas, mas sim de ações para cumprir as promessas já
feitas.” (Martin Luther King Jr)

O Brasil está envolvido com a normativa de proteção dos refugiados desde o final do
século XIX, quando em 1850 foi estabelecida uma política de restrição aos imigrantes,
perdurando até o próximo século.
Durante os mandatos do Governos de Getúlio Vargas (1930-1945), o presidente, chegou
a editar dois decretos (Decreto 24.215 e 24.258), justificando a defesa do trabalhador
nacional. Nessa época, fora criado o primeiro Estatuto do Estrangeiro do Brasil (Decreto nº 406
de 1938), que estabelecia como deveriam ser os critérios de recebimento e hospedagem de
estrangeiros, observando questões sanitárias, profissionais e ideológicas.
A legislação brasileira de proteção e direitos dos refugiados, veio ser adotada a partir
de sua adesão na Declaração Universal dos Direitos Humanos, assim como a assinatura,
ratificação e promulgação da Convenção do Estatuto dos Refugiados de 1951 foram
reconhecidos. Contudo, o Brasil precisava cuidar de dois problemas para implementação do
tratado em questão: promover a elegibilidade de casos individuais, e desenvolver políticas
públicas sociais, de forma a gerar integração aos refugiados no país.
Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 foram ratificados pela Conferência das
Nações Unidas (ONU), envolvendo diversos países, dentre eles o Brasil que faz parte do
Conselho Executivo do ACNUR desde 1958.
Em atendimento a tais deficiências fora promulgada a Lei 9.474 de 1997, que em seu
Artigo 1º, prevê requisitos essências para a qualificação do indivíduo no estado de refugiado,
as quais correspondem:

Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I – Devido fundados temores
de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões
políticas encontra-se fora do seu país de nacionalidade e não possa ou não queira
acolher-se à proteção de tal país; II – Não tendo nacionalidade e estando fora do país
onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queria regressar a ele, em
função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III – Devido à grave e
21

generalizada violação de direitos humanos, sendo obrigado a deixar seus países de


nacionalidade para buscar refúgio em outro país. (ACNUR, 1958).

Isto posto, em termos gerais, destaca Aguiar (2001), que se deve respeitar algumas
condições, como a existência de temores de perseguição bem fundamentados, a perseguição
por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas e o fato de o
requerente de refúgio encontrar-se fora de seu país de origem.
Ademais, tendo em vista que para requerer refúgio no Brasil é necessário que seja
demonstrado por parte do solicitante a existência de situações em seu país de origem que
poderiam vir a ocasionar a violação de seus direitos humanos fundamentais, e explicitar os
motivos reais do refúgio. Além disso é necessária a confirmação da nacionalidade, a qual pode
ser comprovada através do passaporte, para assim o refúgio poder ser solicitado.
Posteriormente à criação e sanção da Lei 9.474 de 1997, foram promulgadas normas
para a criação do Estatuto do Refugiado, estabelecendo no âmbito da Administração Pública
Federal, o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), que conforme já descrito
anteriormente, é o órgão responsável pela manutenção e acompanhamento dos refugiados, bem
como pela elaboração de políticas públicas que visam a integração destes sujeitos.

Das competências do Comitê, duas merecem destaque. Uma diz respeito aos aspectos
legais (análise do pedido e declaração do reconhecimento); a outra, cuida da
orientação e coordenação das ações necessárias à eficácia da proteção e assistência,
bem como apoio jurídico aos refugiados (GARCIA, 2001, p. 152).

O Comitê Nacional para os Refugiados tem por escopo e atribuição o ingresso e pedido
de refúgio, e no artigo 9 do Estatuto prevê que o estrangeiro que chegar ao território nacional
pode expressar sua vontade de solicitar reconhecimento como refugiado a qualquer autoridade
migratória que se encontre na fronteira, a qual lhe proporcionará as informações necessárias
quanto ao procedimento cabível. Caso o refugiado esteja com sua vida ou liberdade ameaçada
em virtude de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política, o Brasil não poderá
efetuar a deportação do imigrante.
O artigo 8º trata que o ingresso irregular no território nacional não constitui
impedimento para o estrangeiro solicitar refúgio às autoridades competentes, devendo a
autoridade que receber a solicitação, ouvir o interessado e preparar o termo de declaração que
deverá conter as circunstâncias relativas à entrada no Brasil e às razões que o fizeram deixar o
país de origem, e ser informado à Polícia Federal, que transmitirá o procedimento
administrativo ou criminal.
22

Dentre o que estabelece a Constituição Federal de 1988, o Artigo 4º em suas alíneas II


e X expõe o princípio da prevalência dos direitos humanos e a concessão de asilo político. Está
disposto no Artigo 5º que foi estabelecido um grande sistema de proteção as pessoas,
denominado comumente de Direito Internacional dos Direitos Humanos lato sensu (ou Direito
Internacional de Proteção da Pessoa Humana), que se divide em três vertentes de proteção: o
Direito Internacional dos Direitos Humanos stricto sensu, o Direito Internacional Humanitário
e o Direito Internacional dos Refugiados. Deste modo, o Brasil, amparado pela estrutura da
ONU, acolhe refugiados, trabalho este realizado pelas Caritas Arquidiocesana, que atua em
convênio com a ACNUR.

Ambos partem do mesmo fundamento, mas se distinguem quanto à abrangência, pois


o Direito Internacional dos Refugiados apenas protege o ser humano enquanto
perseguido em função de sua raça, religião, nacionalidade, etnia, opinião política e
pertencimento a grupo social, enquanto o Direito Internacional dos Direitos Humanos
objetiva também assegurar condições mínimas para que o homem sobreviva e possa
buscar a felicidade. A proteção internacional dos refugiados se opera mediante uma
estrutura de direitos individuais e responsabilidade estatal que deriva da mesma base
filosófica que a proteção internacional dos direitos humanos. O Direito Internacional
dos Direitos Humanos é a fonte dos princípios de proteção dos refugiados e ao mesmo
tempo complementa tal proteção (ARAÚJO, 2001, p.44-49).

Graças a essas mudanças, opera-se a intenção de garantir um tratamento mais


humanizado e digno aos refugiados que buscam por uma vida mais pacífica, com seus direitos
assegurados e, isso toma um teor maior ao passo que, fortalece a proteção ao refugiado, ao
mesmo tempo em que o assegura, livrando-o de violações de direitos relativos ao seu status
civil. As legislações trazem em si a necessidade de resguardar os demais direitos humanos, e
aumentar o nível de proteção dado à pessoa humana.
Visto que a Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados, prevê
que os indivíduos não podem ser mandados contra a sua vontade para um território no qual
possam ser expostos a perseguição ou onde corram risco de morte, pois os refugiados possuem
acesso aos mesmos direitos que os estrangeiros. Um acordo entre Ministério da Justiça e
Ministério da Educação-MEC, garantem que refugiados tenham acesso mais rápido a educação
e que a advocacia tem o papel de garantir os direitos dos refugiados, devendo haver fiscalização
permanente no cumprimento das leis que visem a proteção e a garantia destes direitos.
Amparados pelo fortalecimento da Declaração de Cartagena, considerado um marco para a
proteção e garantia dos direitos dos refugiados, ampliando o próprio conceito de refugiado de
acordo com a Convenção de 1967 da Organização das Nações Unidas.
23

A Declaração de Cartagena sobre Refugiados (1984) foi resultado dos encontros de


representantes governamentais e especialistas de dez países latino-americanos, entre eles estão
Cartagena, Índia e Colômbia, para considerar a situação dos refugiados na América Latina.
Ressalta-se que a Declaração de Cartagena foi importante visto que incluiu elementos que ligam
as três correntes de proteção internacional do direito humanitário, dos direitos humanos e dos
direitos dos refugidos na legislação. Deste modo, tanto para aspectos positivos ou negativos, o
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), tem como slogan: “é preciso
coragem para ser refugiado”.

De acordo com Kofi Annan (1997-2006), sétimo Secretário-Geral, Nações Unidas,


embasado em tais conhecimentos, defende que os objetivos e estratégias dos direitos humanos
internacionais é para que tanto as pessoas como as comunidades individuais vejam uma
diferença real em suas vidas, e para isso é necessário a liberdade, direção ao desenvolvimento,
segurança e Direitos Humanos.
Os direitos humanos são inerentes a todos os seres humanos, independentemente de sua
etnia, religião, sexo, cultura e qualquer outra condição, todos merecem estes direitos sem
distinção de gênero, cor, credo, profissão, orientação sexual e afins. Portanto, esses direitos são
mais do que um aglomerado de princípios morais que pautam a organização de uma sociedade.
Deste modo, uma sociedade evoluída, é pautada pelos direitos adquiridos: direito à vida, à
liberdade de expressão, o direito ao trabalho, conduto que não seja análogo.
24

CAPÍTULO 2 PROCEDIMENTOS DO REFÚGIO E SUAS ORALIDADES NO BRASIL

Neste capítulo abordaremos o protagonismo da pessoa em situação de refúgio, todo


processo diante as mais variadas situações de conflitos e violações de direitos, além de elencar
os desafios e possibilidades existentes para pedido de refúgio.

2.1 OS REFUGIADOS, SEUS ASPECTOS E OS DESAFIOS ENFRENTADOS.

A Lei de refúgios no Brasil é uma das mais avançadas do mundo, de natureza jurídica,
sancionada em julho de 1997 pela Lei Federal nº 9.474/97, teve seu texto baseado na Convenção
das Nações Unidas aos refugiados e criou o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados),
órgão multiministerial que atua junto a políticas voltadas para estes sujeitos. Contudo, o país
carece de investimentos econômicos, pois possui políticas públicas e sociais insuficientes para
atender ao alto índice de refugiados, considerando um fluxo intenso após a onda de migração
dos refugiados através da fronteira brasileira.
No entanto, é importante observar que, sendo o refúgio um instituto de proteção jurídica
na esfera do direito internacional, a lei nacional estabelece direito e deveres para os refugiados,
direcionada pelo Estatuto dos Refugiados da Organização das Nações Unidas com o desafio de
integrar essas pessoas à sociedade.
Em recente pesquisa realizada pela OBmigra (Observatório das Migrações
Internacionais), há 60 mil refugiados no Brasil, dados geográficos de 22 de julho de 2021,
incluindo reconhecimento de condição de refúgio e reassentamento no Brasil, com apoio do
CONARE e Polícia Federal. O objetivo da pesquisa foi ter um panorama demográfico da
importante política humanitária de atuação brasileira direcionada à migração e/ou ao refúgio.
Dados esses disponibilizados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(ACNUR).

O reassentamento é a transferência de refugiados de um país anfitrião para outro


Estado que concordou em admiti-los e, em última instância, conceder-lhes
assentamento permanente. O ACNUR é obrigado pelo seu Estatuto e pelas Resoluções
da Assembleia Geral da ONU a realizar o reassentamento como uma das soluções
duradouras. O reassentamento é singular porque é a única solução durável que envolve
a realocação de refugiados de um país anfitrião para um terceiro país. (ACNUR, 2016)

Assim em face do cenário atual, e acerca da crise existencial humanitária é missão do


ACNUR assegurar os direitos e o bem-estar dos refugiados, garantir que qualquer pessoa possa
exercer o direito de buscar e gozar de refúgio seguro em outro país. Contudo até que sejam
25

concedidos e analisados os pedidos de refúgios, alguns critérios são avaliados e o refugiado


permanece em local seguro até que sua solicitação seja aprovada.
Caso um estrangeiro, em necessidade de proteção internacional não solicite refúgio, ele
estará automaticamente em situação irregular no país. Porém, mesmo que esteja em condição
irregular, sua proteção, integridade e dignidade devem ser respeitadas diante da legislação de
brasileira e dos princípios estabelecidos pelos direitos humanos.
Tendo em vista que nos últimos anos, os pedidos de solicitação de refúgio têm sido
processados em um número crescente no país, devem seguir os critérios federais assim que
cruzarem a linha de fronteira brasileira, e precisam aguardar a avaliação do Comitê Nacional
para Refugiados (CONARE), órgão vinculado ao Ministério da Justiça do Brasil.
Deste modo, de acordo com a legislação brasileira há alguns passos a serem realizados
para ser considerado um refugiado, dentre eles estão: Pedido de refúgio na Polícia Federal que
deverá ser feito através do :preenchimento de um formulário e uma entrevista, neste momento
caso o solicitante não fale português, a entrevista será traduzida. Feito isso, a Polícia Federal
efetuará o Termo de Declaração, que será encaminhado ao CONARE. Após, o CONARE
expedirá uma declaração que autoriza a emissão do protocolo provisório de solicitação de
refúgio. Com o Protocolo, o solicitante poderá realizar seu Cadastro de Pessoa Física (CPF) e
retirar sua Carteira de Trabalho. Importante destacar que estes documentos têm validade de três
meses e deverão ser renovados na Polícia Federal até o refugiado ter a resposta final.
O próximo passo é a entrevista com a CONARE, que analisará o pedido de refúgio e
obrigará que o solicitante mantenha todos os seus dados atualizados, como telefone, endereço,
local de trabalho, familiares etc.
Caso a decisão seja positiva, ou seja, regularize a condição de refugiado ao sujeito, o
solicitante deve buscar na Polícia Federal que começará os trâmites para a emissão do Registro
Nacional de Estrangeiros (RNE), documento de identidade dos estrangeiros no Brasil. Caso a
decisão seja negativa, o solicitante será notificado da decisão pela Polícia Federal, e terá um
prazo de 15 dias para apresentar recurso ao Ministério da Justiça que o analisará. Se o Ministro
da Justiça negar o recurso apresentado, o solicitante ficará sujeito à legislação de estrangeiros
em vigor no país.
Pode-se afirmar que em razão dos critérios estabelecidos, avaliados e aprovados há
direito e deveres dos solicitantes de refúgio que regulamentam a lei brasileira e internacional.
Dentre os direitos estão: acesso ao procedimento legal de solicitação de refúgio, gratuitamente
e sem necessidade de advogado; Não ser devolvido para seu país de origem ou para onde possa
ser vítima de violações de direitos humanos; Não ser discriminado pelas autoridades
26

governamentais e pela sociedade; Não ser punido por entrada irregular no país; Solicitar a
extensão da condição de refugiado para parentes (cônjuges, ascendentes e descendentes) e
demais componentes do grupo familiar que se encontrem no território nacional, de acordo com
a Lei 9.474 e Resolução Normativa do CONARE; Receber toda a documentação assegurada
pela legislação: Protocolo, Provisório, Registro Nacional de Estrangeiros (RNE), Cadastro de
Pessoa Física (CPF), Carteira de Trabalho e passaporte para estrangeiro, previamente
autorizadas pelo CONARE; Ter os mesmos direitos e a mesma assistência básica de qualquer
outro estrangeiro que resida legalmente no país, entre eles direitos civis básicos (como liberdade
de pensamento e de deslocamento e não sujeição à tortura e a tratamentos cruéis e degradantes)
e direitos econômicos, sociais e culturais (como acesso aos serviços de saúde pública e
educação, direito ao trabalho e à liberdade de culto); Escolher livremente o lugar de residência
no território nacional; Requerer a permanência após quatro anos no país, ou um ano, caso
seja nacional de um país de língua portuguesa; Solicitar a permanência no Brasil em razão de
ter cônjuge ou filho brasileiro; e Reivindicar o acesso a procedimentos facilitados para o
reconhecimento de certificados e diplomas.
Dentre os deveres dos refugiados em território brasileiro estão: Não praticar atos
contrários à segurança nacional ou ordem pública, sob pena de perder a condição de refugiado;
respeitar a Constituição Federal e leis brasileiras, como todos os brasileiros e estrangeiros
residentes no país. Qualquer crime ou infração cometido terá o mesmo tratamento legal dado
aos cidadãos brasileiros; observar as leis específicas de proteção às crianças, adolescentes e à
mulher; informar a Polícia Federal e ao CONARE, mudanças de endereço no prazo de 30 dias;
Manter sua documentação atualizada; e não sair do território nacional sem autorização prévia e
expressa do CONARE, sob pena de perder a condição de refugiado.
Logo, Bauman (2017) em sua obra denominada “Estranhos a Nossa Porta”, diz que
muito mais do que uma crise migratória e refugiados, vivemos uma crise humanitária, sendo
necessário reconhecer nossa crescente interdependência como espécie e encontrarmos novas
formas de convivência em solidariedade e cooperação com aqueles que podem ter opiniões ou
preferências diferentes das nossas. Desta forma, em vez de muros, precisamos construir pontes.
Depreende-se, deste modo, que a barreira político-social imposta inviabiliza a fusão de
horizontes. No entanto, de forma otimista, o sociólogo contribui positivamente ao apontar como
solução plausível a criação de pontes e não de cercas. Como principal ponto para romper
barreiras é a abertura para uma conversa e, de preferência, informal, sem regras
procedimentais.
27

Assim sendo, direta ou indiretamente há a necessidade em acolher esses “estranhos” que


batem à porta em razão da crise política migratória mundial, que reflete frontalmente com a
diáspora forçada de povos que vivem em regiões de conflito e perseguição, trata-se assim de
promover um acolhimento humanitário.
Segundo a Acnur em dados geográficos sobre refúgio, 82,4 milhões de pessoas em todo
o mundo foram forçadas a se deslocar até o final dos anos de 2020, como resultados de
perseguição, conflito, violência, violação de direitos humanos ou eventos que perturbam
seriamente a ordem pública. Entre elas, estão cerca de 26,4 milhões de refugiados, e quase
metade deles têm menos de 18 anos. As crianças são o principal grupo atingido pelas guerras
atuais e 34% delas ficam expostas à violência sexual, (ACNUR, 2020).
Por fim, dentre os dados geográficos apresentados, há também milhões de pessoas
apátridas, a quem a nacionalidade foi negada.
Aprovada em Nova Iorque, em 28 de setembro de 1954, foi criado o Estatuto dos
Apátridas, que entrou em vigor dia 6 de junho de 1960. A apatridia significa uma vida sem
acesso à educação, cuidados médicos, direito ao voto ou emprego legalizado. Significa uma
vida sem que se possa circular livremente, sem perspectivas ou esperanças.
De acordo com o ACNUR - Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados,
a apatridia é desumana, já que possuir uma nacionalidade é essencial para a completa
participação na sociedade e é um pré-requisito para usufruir todos os direitos inerentes ao
cidadão. O Estatuto dos Apátridas define que toda a pessoa que não seja considerada por
qualquer Estado, segundo a sua legislação, como seu nacional é apátrida. Em termos simples,
isso significa que um apátrida não tem nacionalidade de nenhum país. Algumas pessoas nascem
apátridas, mas outras se tornam apátridas. A apatridia pode ocorrer por várias razões, incluindo
a discriminação contra determinados grupos étnicos, religiosos, ou de gênero. Surgimento de
novos Estados e transferências de território entre Estados existentes e lacunas nas leis de
nacionalidade. Qualquer que seja a causa, a apatridia tem sérias consequências para as pessoas
em quase todos os países e regiões do mundo (ACNUR).
Segundo dados divulgados pelo Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) na 6ª
edição do relatório “Refúgio em Números”, a porcentagem de refúgio no Brasil, em 2020, foi
registrada um índice de quase 500 mil migrantes e refugiados que permanecem por um bom
tempo no país, deixando tudo para trás.

IDMC (Internal Displacement Monitoring Centre), Sediado em Genebra, na Suíça, o


Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno é a fonte autorizada de dados e
análises do mundo sobre deslocamento interno. Criado em 1998, como parte do
28

Conselho Norueguês para Refugiados (...). O IDMC fornece estimativas verificadas,


consolidadas e de fontes múltiplas do número de pessoas deslocadas internamente ou
em risco de serem deslocadas por conflitos, violência, desastres e projetos de
desenvolvimento em todo o mundo. Uma ferramenta que permite aos usuários gerar
seus próprios gráficos personalizados usando dados de deslocamento do IDMC, dados
de refugiados do ACNUR e todos os indicadores do catálogo de dados abertos do
Banco Mundial - Relatório Tendências Globais do (ACNUR, 2020).

Dentre as principais nacionalidades de refúgio no Brasil, estão os Venezuelanos


(60,2%), Haitianos (22,9%), Cubanos (4,7%), outros países (5,4%). Além disso, no Brasil há
vários outros povos que buscam refúgios, sendo por vontade própria ou obrigados a se
refugiar. Em 2020 foram recebidos 29.000 pedidos de refúgios, vindos de 113 países e
nacionalidades diversas, com fluxo migratório de homens (50,3%) e de mulheres (44,3%),
número maior na faixa de 25 a 39 anos de idade (48,0%), entre 40 e 59 anos (23,6%), acima de
60 anos (3,2%). Deste modo, observa-se ainda que segundo informações da Agência da ONU-
Brasil, estabeleceu-se uma queda de solicitação de refúgio devido ao protocolo exigido pela
pandemia – Covid19, sendo esta, considerada crise mundial humanitária, estabelecida pela
Organização Mundial da Saúde (OMS).

A investigação das motivações que levaram essas pessoas a cruzar as fronteiras dos
seus países de origem, ou de residência habitual, revela que essas ações, em alguns
casos, ocorrem em situações nas quais a mobilidade é reconhecida por dispositivos
legais, nacionais e internacionais, como um imperativo, dado seu caráter coercitivo.
Estes são os refugiados e os solicitantes de reconhecimento da condição de refugiado,
pessoas que deixaram seus países de origem em virtude de conflitos armados, de
violações de direitos humanos e de outras situações de violência, buscando a proteção
em outro Estado (SILVA; CAVALCANTI; OLIVEIRA, 2020, p. 10).

Contudo, o Brasil tende a defender os direitos dos migrantes/refugiados e de resguardar


o estado de direito dos que aqui chegam e pedem por proteção, tendo um alto índice de
refugiados decorrente das graves condições que os obrigaram a deixarem seus países, como
direitos violados, segurança, liberdade, dentre outros conflitos.
Com o agravo diante da pandemia da COVID-19, o Brasil encontra-se em crise política
motivos pelo qual há acentuadas crises na condução das políticas públicas, sociais e econômicas
que deveriam ser deliberadas com mais assertividade pelo poder público, sejam elas,
distributivas, constitutivas, redistributivas, regulatórias, relacionadas a saúde, moradia,
educação, dentre outras demandas. Conflitos esses que dificultam a implantação de políticas
públicas no Brasil que possam proteger, de acordo aos Direitos Humanos, os mais de 500 mil
refugiados que se encontram no país.
Apesar dos avanços em instituir a formulação de uma cultura humanitária de grande
valia, o Brasil ainda vem enfrentando várias problemáticas de inclusão encontradas em seu
29

território. Deste modo, é preciso aprofundar-se em reflexões teóricas e metodológicas acerca


da integração dos refugiados, em consequência aos inúmeros desafios que eles encontram no
decorrer do percurso na difícil trajetória ao deixar seu país de origem. Essa realidade traz à tona
um grande desafio a toda uma conjuntura, principalmente quando se trata de culturas, valores
sociais e econômicos bem diferentes aos de sua origem.
Esta pesquisa defende o reconhecimento do refugiado como pessoa cidadã perante a
sociedade, obtendo direitos e possuindo autonomia para recomeçar sua vida. De acordo com
Honneth (2003), e conforme citado por Melo (2013), pode-se considerar complexo o processo
de reconstrução em uma sociedade.

[...] o procedimento metodológico de Hegel consiste em reconstruir o processo de


formação do espírito subjetivo, ampliando-o passo a passo de modo que abarque as
condições necessárias da auto experiência da consciência individual; o resultado desse
procedimento reconstrutivo deve esclarecer quais experiências, repletas de
exigências, um sujeito precisa ter feito ao todo antes de estar em condições de
conceber-se a si mesmo como uma pessoa dotada de “direitos” e, nessa medida, poder
participar então na vida institucionalmente regulada de uma sociedade, isto é, no
“espírito efetivo”. Uma auto experiência integral do sujeito, como seria dada com a
consciência dos direitos intersubjetivamente vinculantes, só é possível, portanto, sob
a condição de que o indivíduo aprenda a conceber-se também como um sujeito das
produções práticas (HONNETH, 2003, p.23).

A realidade demonstra que há dificuldades tanto no reconhecimento do perfil e das


características dos refugiados, quanto dos seus direitos e necessidades em solo brasileiro. Desta
forma, o Estatuto do Refugiado previa tais desafios nos países que recebem grandes
contingentes de refugiados, apontam que há algumas questões de extrema importância. A
integração social depende não só da legislação, mas também do respeito e da aceitação da
pessoa em situação de refúgio, promovendo a tolerância e integração à sociedade.
Os refugiados que saem de seus países de origem refugiam-se por busca de proteção e
em busca de preservar suas vidas, porém ao chegarem no país que os acolhe, na maioria das
vezes se deparam com desafios como a adaptação à cultura, crises socioeconômicas, políticas
e religiosas, além do desemprego, e dificuldades de inserção no mercado de trabalho, alto índice
de pobreza, inflação e a corrupção.
No Brasil a Lei de ideologia de gênero é democrática e tolerável diante a Constituição
Federal, sendo este um dos motivos de busca de refúgios pela liberdade de gênero no Brasil.
Outro desafio que tem sido recorrente é o alto número de refugiados que passam pelas
fronteiras brasileiras, e por conta da morosidade burocrática dos processos legais de
regularização no país, são impedidos de trabalhar e contribuir com a economia local.
30

O Comitê Nacional para refugiados e a Secretaria Nacional de Justiça têm analisado


com bastante preocupação os pedidos de refúgios no Brasil. Políticas de Interiorização da
Secretaria Nacional junto ao CONARE, têm acelerado estratégias que viabilizam a estadia dos
refugiados em todas as partes do país.
Em síntese, este processo é chamado de deslocamento interno pela ONU, motivo pelo
qual as autoridades se preocupam com a adaptação do estrangeiro refugiado, sempre levando
em conta se há familiares, amigos, conhecidos nos lugares de destino, buscando apoio, moradia
e até mesmo formas de sobrevivência.
Entretanto, uma das preocupações com os refugiados é de tornarem-se pessoas em
situação de rua, por este motivo a fila para regularização da documentação é interminável. De
acordo com o Ministério da Justiça, o Brasil aprovou 26.810 pedidos de refúgios em 2020, o
panorama somente se tranquilizou devido ao período de pandemia COVID-19, que fechou as
fronteiras devido à crise de saúde e humanitária.
De acordo com Kant (2004, apud BRITO, 2013), o direito do estrangeiro a não ser
tratado com hostilidade não é uma questão de filantropia, mas de direito mútuo e até amistoso,
assim, percebe-se que tal pensamento está fundamentado no direito à hospitalidade universal.
O direito à liberdade, tem como consequência o direito sobre o solo onde pisa.

2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E DIREITOS HUMANITÁRIOS À REFUGIADOS.

O Brasil sempre ocupou local de destaque no contexto regional por ser pioneiro em
regulamentos de instrumentos de proteção aos refugiados. No âmbito internacional, foi o
primeiro país sul-americano a regulamentar a Convenção de 1951, sendo o primeiro Estado do
continente a elaborar uma lei específica sobre refugiados. Diante disso, políticas públicas-
sociais têm sido implantadas no Brasil, contudo ainda que se conquistar nesta trajetória.
No tocante à temática, o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) tem a
prerrogativa de proteger o ser humano em todos os contextos sociais, políticos, econômicos,
civis e culturais; o Direito Internacional Humanitário (DIH) tem ênfase nos conflitos armados
e, o Direito Internacional dos Refugiados (DIR) tem aplicabilidade aos migrantes desde a saída
de seu país de origem até a chegada em outro país, com a concessão da condição de refúgio
para permanência legal e usufruto dos benefícios do país onde se encontra (RAMOS, 2014).
Assim sendo, é necessário apontar algumas políticas públicas e serviços-humanitários
voltados aos refugiados, regularizados pela legislação brasileira.
31

O Reassentamento solidário, operante desde o ano de 2011, auxilia na transferência de


refugiados de um país anfitrião para outro Estado, os admite e, em última instância, concede-
lhes assentamento permanente. De acordo com o ACNUR, somente alguns países participam
do programa de reassentamento, como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e os países
nórdicos, esses últimos são os que mais recebem. Entre eles estão também outros como
Alemanha, Argentina, Bélgica, Brasil, Chile, Dinamarca, Finlândia, França, Holanda, Islândia,
Irlanda, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Romênia, Reino Unido, República Tcheca, Suécia,
e Uruguai, os quais proporcionam ao refugiado proteção legal e física, incluindo o acesso a
direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais semelhantes aos desfrutados pelos
nacionais.
O programa de reassentamento no Brasil iniciou-se com a assinatura de um acordo entre
o Governo e o ACNUR, em agosto de 1999. Este acordo firmado está presente na Lei, 9.474/97,
artigo 46, onde se encontra que o reassentamento de refugiados no Brasil se efetuará de forma
planificada e com participação coordenada dos órgãos estatais e, quando possível, de
organizações não governamentais, identificando áreas de cooperação e de determinação de
responsabilidades.
Em 1999 foi noticiada a chegada do primeiro grupo de reassentados, 23 refugiados
afegãos a serem reassentados no Brasil que chegaram a Porto Alegre. Hoje esses refugiados
vivem sob a proteção do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas (ACNUR) em
conjunto com o Ministério da Justiça e com a Associação Antônio Vieira (ASAV) do Rio
Grande do Sul.
O “MigraCidades: aprimorando a governança migratória local no Brasil” é um
documento que trata do processo de certificação das políticas migratórias locais, fruto de
parceria entre a OIM e a UFRGS, com apoio da Escola Nacional de Administração Pública
(ENAP). O MigraCidades integra 21 municípios e 6 estados brasileiros. O objetivo do selo é
reconhecer melhorias de integração dos imigrantes na construção de coesão social que beneficie
de forma plural e humanizada aos que município se refugiam nos municípios.
Com o Selo MigraCidades, os governos certificados devem realizar o monitoramento
das ações e a construção de melhores políticas públicas para estes grupos. Desta forma, o Brasil
estabeleceu uma ação comunitária, cujo processo, é que pessoas refugiadas e migrantes sejam
assistidas pelas mesmas políticas, tendo os mesmos direitos que os nativos.
Entre outros órgãos competentes está a Rede Brasil do Pacto Global da ONU – Fórum
Empresas com refugiados, iniciativa da Agência ONU/ACNUR Brasil e Pacto Global, formado
por governos, empresas e outras organizações da sociedade civil que tenham interesse em apoiar
32

a inclusão dos refugiados no mercado de trabalho, oferecendo incentivo, e uma vida digna de
novas oportunidades.
Igualmente a esses, há também empresas que atuam por meio de políticas de
sustentabilidade e diversidade, com o recrutamento, contratação e capacitação profissional de
pessoas refugiadas no mercado brasileiro. Por esse motivo, pode-se afirmar que em razão do
encontro entre as instituições, surgiu um Fórum que pudesse aprofundar no engajamento
empresarial, fortalecendo políticas públicas sociais para refugiados.
Consequentemente, este encontro abre portas para que um número maior de empresas e
organizações possam se alinhar, ampliar diversidades e pluralismo, visto que toda humanidade
deve assumir sua responsabilidade política, social e humanitária para com os refugiados.
(BAUMAN, 2017, p.120).
Pelo que fora apresentado, nota-se que empresas e organizações vêm quebrando mitos
de preconceitos, receios, medos e juntas distanciam também paradigmas e resistências, abrindo
portas que permitem aos refugiados terem oportunidades e ressignificação à vida. Considera-
se, portanto, o marco de diversidade e fortalecimento como plano de ação coletiva, promovendo
a inclusão de política públicas, sociais e culturais de todos os povos, e assim, fomentando de
forma plural a diversidade humana.

2.3 REFUGIADOS, CONFLITOS POLÍTICOS E COLHIMENTO ATRAVÉS DA


FRONTEIRA

Visto o cenário no qual estão inseridos, é de suma urgência tratar o refúgio de maneira
democrática, e humanitária. A lei de refúgio no Brasil incorpora preceitos contemporâneos de
proteção aos refugiados, absorvendo a doutrina das três vertentes da proteção internacional da
pessoa humana, tais quais: o direito internacional humanitário, o direito internacional dos
refugiados e o direito internacional dos direitos humanos.
Em meados dos anos 2021, observando o cenário que vem ocorrendo no Afeganistão,
considera-se esta uma das maiores crises de refúgio humanitário de todos os tempos. Devido a
conflitos de grupos extremistas, pessoas com direito a visto e salvamento humanitário têm sido
resgatadas e acolhidas em todo o mundo, diante do apelo da ONU que pede que os países abram
suas fronteiras para receber a população Afegã.
33

O Brasil avalia receber afegãos em programa de visto rápido, que atualmente existe para
facilitar acesso à entrada no país. A diferença entre visto de refúgio e visto humanitário é que o
primeiro deve ser solicitado pelo refugiado estrangeiro quando ele já se encontra em território
brasileiro e, o segundo é feito em consulados ao país de origem no exterior antes da sua partida,
ou seja, ao Brasil.
A tramitação é mais rápida, a exemplo que acontece no Afeganistão, que em um curto
período, países como Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Reino Unido conseguiram retirar cerca
de 100 mil afegãos com direito de visto e salvamento humanitário, uma ruptura que dá
ressignificação a muitas pessoas que se encontram desesperadas e vulneráveis.
Considerando a extrema necessidade de refúgios civis em relação à existência de crise,
violência ou violação de direitos humanos no país de origem do estrangeiro, os mecanismos da
lei brasileira podem ser usados por decisão do governo, a fim de permitir acelerar a entrada de
estrangeiros vulneráveis. É importante e fundamental a integração do refugiado com a
sociedade em função da pluralidade humana e não em função de um homem na sua
singularidade natural.
Atualmente, refúgios dos afegãos foram considerados o maior desafio de todos os
tempos em se tratando de crise humanitária, uma catástrofe, de acordo com análise da ONU. O
ACNUR está alarmado com os desdobramentos, principalmente sobre mulheres e crianças, que
representam 80% dos afegãos forçados a abandonar seu país para escapar da violência e abusos
generalizados. Deste modo, existe a situação de instabilidade aos considerados mais
vulneráveis, que são os que estão na linha da pobreza, estes ficam para trás, aguardando por
oportunidade de abertura de fronteiras vizinhas.
Ações de solidariedade têm se espalhado pelas grandes nações que promovem juntos
mutirão de acolhidas emergencial aos refugiados afegãos, regularização de documentações que
lhes dê garantias legais de direito, e políticas públicas-sociais que os fortaleça independente do
país de origem. A fim de ressocialização e acolhimento imediato, a ACNUR priorizou grupos
específicos como as crianças desacompanhadas dos pais e mães. Contudo o amplo desespero
dos afegãos com medo de permanecerem no seu país, vistos especiais de migrantes foram
concebidos, resultando assim em uma vasta evacuação por motivos humanitários considerados
um meio de subsistência de sobrevivência.
Assim como os afegãos, os venezuelanos foram espalhados por todo mundo em busca
de proteção internacional, contudo, isso gerou conflitos políticos locais e um colapso
econômico, sendo uma verdadeira tragédia necessária de intervenção Internacional. Em meados
de 2018, foram criados 13 abrigos, além de centros de acolhida temporários abertos em Boa
34

Vista e Pacaraima, cidades fronteiras entre a Venezuela e o Brasil. Abriga mais de 6 mil
venezuelanos que caminham por dias até chegar à fronteira, muitos morrem pelo caminho,
outros passam horas em estado vegetativo, de pura desumanização para conseguir espaço de
sobrevivência. Estima-se que há 5,4 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos
espalhados por todo mundo.
Com o apoio da ONU, o Brasil como um dos países receptores de refugiados/migrantes
venezuelanos, criou estratégias de interiorização considerado que a acolhida e o ordenamento
de fronteira são pilares da operação. Foi uma estratégia do Governo Federal para que eles
tivessem uma receptividade digna e segura, sendo que no início do processo de interiorização,
havia cerca de 52 mil venezuelanos no Brasil e, atualmente são mais de 260 mil.
Após todo estudo bibliográfico realizado, foi possível verificar que são 600 cidades
participantes neste projeto de estratégia de interiorização em todo Brasil. Assim, a Operação
Acolhida vem objetivando realocar refugiados e migrantes em situação de vulnerabilidade, uma
ação sólida de reintegração social e econômica, como fator de restauração, proteção e
integridade aos Direitos Humanos. Segundo a ACNUR, há dentre os que chegam ao país, 8 mil
refugiados e migrantes venezuelanos com um tipo de vulnerabilidade específica de proteção:
crianças fora da escola, pai ou mãe solos, mulheres gravidas, população LGBT em risco,
deficientes, idosos entre outros, os quais se alojam em Casas de Passagem, que atuam como
espaço de acolhimento temporário aos refugiados/migrantes, aguardando o encaminhamento
para uma das Cidades participantes do projeto Operação Acolhida.
Em abril de 2021, após três anos de resposta humanitária, cerca de 50 mil venezuelanos
receberam à acolhida de estratégia de interiorização. União de Redes Restaurativas para
refugiados/migrantes com participação do Governo Federal brasileiro, da ACNUR, da OIM,
agências e das Nações Unidas, e de organizações da sociedade civil. Do mesmo modo, as Forças
Armadas são responsáveis por estabelecer políticas públicas e abrigos aos refugiados e
migrantes no Brasil. Contudo, esses foram surpreendidos pela pandemia da Covid-19 e, de
acordo com as exigências do Ministério da Saúde e Governo, foi necessário paralisar toda ação
solidária e estratégias de interiorização.
Como coloca Hannah Arendt (1998), a liberdade é essencial tanto para garantir a
dignidade própria de cada indivíduo como ser humano, e para liberá-lo para agir de modo
independente, fundamento de todas as mudanças.

O milagre da liberdade está contido neste poder-começar que, por seu lado, está
contido no fato de que cada homem é em si mesmo um novo começo, uma vez que
35

por meio do nascimento, veio ao mundo que existia antes dele e vai continuar
existindo depois dele (ARENDT, 1998, p. 43.44).

Outrossim, o Brasil é um país signatário, onde muitos o veem como um país para
recomeçar. Para os refugiados, o Brasil abraça e acolhe todas às nações, motivo pelo qual, em
relação à geopolítica, há uma grande extensão de refugiados no país. O Brasil é aberto a receber
outros povos, sem impor restrições em suas fronteiras, predominando-se a democracia e
respeito à inclusão social e humanitária espalhadas por todo o país, o que corresponde a uma
miscigenação de vários povos, que buscam a resiliência e ressocialização fora de seus países de
origem.
Contudo, na atual conjuntura, a nação brasileira tem gerado uma crise social sem
precedentes, que atinge a classe trabalhadora brasileira, e consequentemente estrangeiros que
se encontram em situação de refúgio no país, refúgio este que se prolifera devido à alta procura
por acolhimento humanitário – somente sendo paralisado devido à pandemia de COVID-19.
A rota aberta de refugiados, também provê trabalhos em condições análogas de
escravos, forma desumana, até mesmo aliciamento de crianças e adolescentes venezuelanas
para trabalho e exploração sexual. Alguns deles tornam-se pessoas em situação de rua, devido
à calamidade e à falta de gestão política que poderia evitar essa degradante situação ocasionada
devido à polarização política de extremos ideológicos.
Assim, a insegurança, o desamparo estatal, e a situação pandêmica são uma das razões
de vulnerabilidades na contemporaneidade. A atual situação crítica e de instabilidade política
no Brasil, a qual limita e aumenta o índice dos direitos constitucionais violados no país,
ocasiona fatores como a pobreza, a desigualdade, a intolerância e diversidade ideológica.
Enfim, trata-se, de uma pluralidade de acontecimentos que se divergem ao mesmo
tempo, fazendo com que muitos refugiados e migrantes, dentro deste cenário, procurem por
outro país onde se sintam mais seguros e protegidos pelo Estatuto dos Refugiados.
36

CAPÍTULO 3 SERVIÇO SOCIAL E O TRABALHO COM REFUGIADOS

No presente capítulo será aborda a atuação do assistente social no processo de inclusão


social da pessoa em situação de refúgio, o caráter da instrumentalidade no trabalho, técnicas e
meios que o profissional utiliza para desenvolver sua atuação. Também será tratada sobre a
intervenção junto as classes de refúgio e todo caminho que deve de percorrer em atendimentos
as suas demandas.

3.1 O REFUGIADO COMO SUJEITO DE DIREITOS – POLÍTICAS PÚBLICAS E


SOCIAIS

"A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes" (Marx).

O Serviço Social incorpora o pluralismo e a diversidade como ideários herdados da


ampla luta dos trabalhadores, além dos valores de liberdade, justiça, radicalidade democrática,
igualdade, respeito aos direitos humanos e qualidade dos serviços prestados na perspectiva da
construção histórica da emancipação de todos os homens. Assim, é notório que se deve atribuir
aos refugiados todos os direitos, além de trabalhar para que estes grupos obtenham acesso ao
conjunto de políticas sociais, como a saúde, a educação e a assistência social, dentre outras.

“A luz do projeto profissional, envolve um conjunto de princípios éticos fundamentais


que iluminam a profissão, componentes e fatores que se articulam em um contexto
societário: valores, saberes e escolhas teóricas, práticas ideológicas, políticas, éticas,
normatizações acerca de direitos e deveres, recursos político-organizativos, processos
de debate, investigações e sobretudo interlocução crítica com o movimento de
sociedade na qual a profissão é parte e expressão”. (YASBEK, 2019 p. 86)

Deste modo, trazendo à luz ao caráter da questão social dos interesses das classes sociais
pode se dizer que:

O refúgio é percebido pelo Serviço Social como uma das novas manifestações
da questão social, que se revela a barbárie do capitalismo, marcada pela intensificação
das desigualdades, violência e pauperismo. Contudo, migrar é um direito humano,
previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo inerente a todo ser,
onde quer que esteja. (CFESS, 2003).
37

Isso corrobora as palavras de Netto (2010), quando diz que deve haver um olhar para
além da permanência de manifestações tradicionais da questão social, o qual deve ser emergente
para novas expressões sociais.
Sendo assim, o Assistente Social dispondo de capacidade teleológica, projetiva e
consciente deve ser capaz de socializar-se sempre, preservando direitos e deveres que
competem à profissão, buscando a construção de uma relação de confiança, acolhimento, e
conduzindo o atendimento ao refugiado respeitando suas particularidades, como o idioma, a
cultura diferenciada, ritos e costumes.
A Resolução do CFESS, publicada em março de 1993 trata do Código de Ética
Profissional do Serviço Social, elencando princípios fundamentais da profissão, dos quais
caracterizam-se a liberdade como valor ético central; defesa dos direitos humanos e recusa do
arbítrio e do autoritarismo; garantia dos direitos civis, sociais e políticos; socialização da
participação política e da riqueza socialmente produzida; equidade e justiça social; eliminar
qualquer tipo de preconceitos e respeitar diversidade e participação; ser plural diante as
correntes profissionais democráticas; expressões teóricas; aprimoramento intelectual; trabalhar
o novo projeto de ordem societária sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero;
atentar-se aos movimentos sociais e articulação com outras categorias profissionais e com os
trabalhadores; estar comprometido com a qualidade dos serviços prestados à população e com
o aprimoramento intelectual; exercer a profissão sem ser discriminado, nem discriminar por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, nacionalidade, sexo, idade e condição física.

Princípio é com efeito toda norma jurídica, enquanto considerada como determinante
de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupõem, desenvolvendo e
especificando ulteriormente o preceito em direções mais particulares (menos gerais)
das quais determinam, e, portanto, reúnem potencialmente, o conteúdo: sejam, pois,
efetivamente postas, sejam ao contrário, apenas dedutíveis do respectivo princípio
geral que as contém (BONAVIDES, 1996, p. 230).

Embasado em tais requisitos e considerando as atribuições do assistente social, o


profissional deve trabalhar com autonomia em busca de efetivação de estratégias
emancipatórias junto ao grupo de usuários atendidos, previsão que se relaciona diretamente ao
fluxo migratório e geopolítico que tem aumentado em várias partes do Brasil.
A temática sobre migração tem sido muito pertinente para reflexões críticas dentro da
profissão, uma vez que promove a inclusão e a diversidade, buscando trabalhar efetivamente os
38

direitos dos refugiados, exibindo um protagonismo histórico sem precedentes na recomposição


das classes sociais.
O assistente social atua em defesa de direitos e, neste sentido, trabalha não só a partir
das políticas públicas com objetivo de se pautar nas transferências públicas e sociais imediatas
para a população, mas também deve intensificar, elaborar e implementar novas políticas de
qualidade para atuar com seus usuários, dentre eles, estão os grupos de refugiados. Ainda assim
é dever aplicar com autonomia as demais competências profissionais, a fim de auxiliar os
usuários a identificarem e utilizarem seus direitos que podem ser solicitados pelas redes de
atendimento, independente de classes e origem.
Pensando nisso, o projeto profissional do assistente social está vinculado a um projeto
societário, sem exploração de classe, etnia e gênero, portanto cabe deliberar ações com base
nos parâmetros legais, além de trabalhar enfaticamente com os refugiados principalmente com
aqueles que se encontram em situações mais vulneráveis.
Deste modo, além de realizar estudos socioeconômicos, dentro das demandas e políticas
públicas, o profissional deve direcionar os seus usuários projetos, programas e benefícios que
lhes são de direito.

[...] este projeto profissional encontra limites estruturais para se concretizar,


principalmente no contexto de regulação social fundamentada na orientação
neoliberal em que há redução das políticas sociais, da concentração de riqueza e da
sistemática implementação de uma política macroeconômica lesiva à massa da
população (DURIGUETTO, 2011, p. 9).

Tal apontamento nos ajuda a refletir também acerca da orientação da Associação


Brasileira de Ensino de Serviço Social -ABEPSS, a qual requer a formação de um perfil
profissional baseando-se na:

[...] capacitação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa para a


apreensão teórico-crítica do processo histórico como totalidade. Considerando a
apreensão das particularidades da constituição e desenvolvimento do capitalismo e do
Serviço Social na realidade brasileira. Além da percepção das demandas e da
compreensão do significado social da profissão; e o desvelamento das possibilidades
de ações contidas na realidade e no exercício profissional que cumpram as
competências e atribuições legais (ABEPSS, 2014).

Observando as atribuições para o profissional, cabe ressaltar a relevância da atenção


para com o trabalho junto a pessoas refugiadas e instituições voltadas a atender estes sujeitos,
bem como a projetos que poderão surgir a partir realidade e necessidade dos refugiados.
39

A exemplo disso, pode-se citar a Caritas, uma organização da sociedade civil que realiza
proteção básica e assistência social, e possui um projeto de apoio aos imigrantes, refugiados e
apátridas. Estabelece-se em parceria com o Alto Comissário das Nações Unidas para refugiados
(ACNUR) e atua juntamente com o Conselho Estadual, com objetivo de oferecer-lhes
informações e proteção quanto ao acesso a serviços públicos estaduais e municipais.
Em relação ao trabalho de proteção básica, os profissionais de assistência social da
Caritas, tem forte presença no Brasil e mundo, retratam que um dos maiores dificultadores do
processo de efetivação de políticas públicas e sociais, foi a pandemia da Covid-19, impactando
o fluxo migratório de alta vulnerabilidade.
Por tais razões, cabe dizer que os assistentes sociais possuem um importante papel
baseado no Código de Ética da profissão, eles têm como princípios básicos a defesa dos Direitos
Humanos, sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero, além de ter o posicionamento
em favor da equidade e justiça social. Assim sendo, o profissional deve atuar em parceria com
as redes de acolhida, com os serviços e direitos que muitas vezes são desconhecidos por essa
população que sofre as fragilidades e são expostos a discriminações devido ao processo de
deslocamento. Desta forma, como o propósito de acolhimento, o assistente social deve realizar
com essa população:
• intervenção social planejada que deve estimular e orientar esse público na construção
de suas histórias e vivências individuais e coletivas, na família e no território;
• ampliar trocas culturais e vivências, desenvolver o sentimento de pertencimento e de
identidade;
• fortalecer vínculos familiares e incentivar a socialização e a convivência;
• buscar capacitações na temática e estar inseridos em espaços de controle social, de
debates e reflexões e levar como pauta a questão da migração no Brasil;
• dar visibilidade a essa população nesses espaços, na busca de uma construção coletiva
para a efetivação dos direitos das pessoas migrantes ou em situação de refúgio;
• interação social e coletiva com pessoas naturalizadas do país de origem.

Por esta interação social, fica evidente que é necessário que o profissional aja com
respeito a estes grupos, considerando sua diversidade e peculiaridades, sobretudo agindo com
a dimensão ética com uma conduta profissional respeitosa. Desta forma, o assistente social,
perante os refugiados, precisa priorizar o respeito, considerando os direitos que lhes foram
violados.
40

3.2 ATUAÇÕES DA SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO FLUXO


MIGRATÓRIO BRASILEIRO

Diante do grande fluxo migratório ocorrido no Brasil e da alta vulnerabilidade a qual


estes grupos se encontram, a Secretaria Nacional de Assistência Social – SNAS, ampliou os
serviços e benefícios socioassistenciais destinados a esse público. Segundo o Ministério da
Cidadania:

A Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) faz a gestão da Política Nacional


de Assistência Social e do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). Também
garante o funcionamento do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e
implementa programas, benefícios e serviços da rede de proteção social. O Sistema
Único de Assistência Social (Suas), presente em todo o Brasil, garante a proteção
social aos cidadãos, ou seja, apoio a indivíduos, famílias e à comunidade no
enfrentamento de suas dificuldades, por meio de serviços, benefícios, programas e
projetos. (SNAS, 2020).

Desta forma fica evidente que Serviços, Programas, Projetos e Benefícios


Socioassistenciais têm como objetivo garantir o direito à proteção social para todos os
indivíduos independente de sua cultura, etnia ou classe social, bem como a qualidade das ações
executadas através da política de Assistência Social.
A SNAS – Secretaria Nacional de Assistência Social, possui como competência definir
diretrizes da Política Nacional de Assistência Social, considerando a articulação de suas funções
de proteção social, defesa social e vigilância social, coordena, formula e implementa a Política
Nacional e o Sistema Único de Assistência Social - SUAS, a partir das propostas e discussões
oriundas dos espaços de controle e participação públicos, como as Conferências e as
deliberações do Conselho Nacional. Tem também como competência garantir o funcionamento
da política de proteção social básica e especial, regula e coordena os programas e benefícios
assistenciais, baseando-se na cidadania e na inclusão social, com objetivo de prevenir e reverter
situações de vulnerabilidade, riscos sociais e desvantagens pessoais, mediante a unificação e
descentralização de serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social. Dentre os
Programas e Ações desenvolvidos pelo SNAS podemos citar o Combate a Covid19, o Bolsa
Família, Brasil Fraterno, Cadastro Único, Criança Feliz, dentre outros.
A Secretaria também define o modo de acesso aos direitos relativos à política,
garantindo a universalização a todos os cidadãos, executa a vigilância socioassistencial, regula
as relações entre os entes públicos federados, entidades e organizações não-governamentais na
prestação de serviços socioassistenciais, formula políticas para a formação sistemática e
continuada de recursos humanos no campo da assistência social, articula e coordena ações de
41

fortalecimento das instâncias de participação e de deliberação do SUAS, e por fim, coordena,


administra e mantem o Cadastro Nacional de Entidades e Organizações do Sistema Único de
Assistência Social - CadSUAS, em articulação com os órgãos gestores estaduais, municipais,
do Distrito Federal e Conselhos de Assistência Social.
Tomando como referências essas ações, observa-se que a Assistência Social é uma
política pública de grande importância para os refugiados, migrantes e apátridas, pois visa
garantir atendimento de qualidade e enxerga-os como sujeitos de direitos, ofertando serviços
para fortalecer as famílias e desenvolver sua autonomia, trabalhando em parceria com outras
políticas públicas e encaminhando os cidadãos a outros órgãos quando as situações enfrentadas
não podem ser resolvidas somente pela assistência social.
Assim, de acordo com a ACNUR, Refugiados e solicitantes de refúgio podem aderir a
diversos programas sociais do governo brasileiro e parceiros da Agência da ONU/ACNUR,
como serviços do CRAS - Centro de Referência de Assistência Social, CREAS- Centro de
Referência Especializado de Assistência Social e de Assistência Jurídica da ACNUR.
O CRAS busca prevenir situações de risco social, com foco em questões de assistência
social, normalmente localizado em regiões de maior vulnerabilidade com o intuito de trazer
benefícios às comunidades locais. Isso ocorre através de serviços e projetos, também fornece o
Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCFV) e Serviço de Proteção e
Atendimento Integral à Família (PAIF). É o principal condutor e responsável para realizar
inscrição do usuário no Cadastro Único (CaDúnico), para que o usuário possa obter vários
benefícios para Programas Sociais do Governo Federal.

Em relação ao Programa Bolsa Família, é importante que os migrantes, refugiados,


enquadrados nos critérios do Programa, sejam incluídos no Cadastro Único de
Programas Sociais, seguindo as orientações constantes no Ofício circular conjunto nº
2/2014, de 11 de fevereiro de 2014. (MDS, 2014).

O CREAS é uma unidade pública que atende pessoas que vivenciam situações de
violações de direitos ou de violências, ele tem como objetivo apoiar e orientar as pessoas que
estão em situação de alta vulnerabilidade e risco social e isso acontece de forma especializada
e humanizada. Ele faz também encaminhamentos para outros serviços de assistência social
quando necessário e para outros serviços públicos, além de realizar orientações jurídicas com
apoio ao indivíduo família (migrantes/refugiados) entre outros.
Outrossim, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) atende
pessoas neste tipo de proteção especial de média complexidade por meio do Serviço de Proteção
e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), que visa: encaminhar a rede de
42

proteção social e órgãos de defesa de direitos e pelo Serviço Especializado em Abordagem


Social (...), que realizam busca ativa em praças, entroncamento de estradas, fronteiras, espaços
públicos onde se realizam atividades laborais, em locais de intensa circulação de pessoas,
comércio, terminais de ônibus, trens, metrô e outros, para identificar a incidência de trabalho
infantil, a exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua, uso abusivo de drogas,
entre outras violações de direitos. O Serviço de Abordagem Social contribui para a promoção
e a inserção na rede de serviços socioassistenciais e das demais políticas públicas, na
perspectiva da garantia dos direitos da população. Esse serviço pode ser ofertado nos CREAS,
nos Centro-Pop ou em Unidade referenciada da rede socioassistencial. Um trabalho em Rede.
Conclui-se, portanto, que o trabalho em rede tem como objetivo integrar as políticas
sociais, na sua elaboração, execução, monitoramento e avaliação, de modo a superar a
fragmentação e proporcionar a integração das ações, resguardadas as especificidades e
competências de cada área. Assim, de acordo com as especificações, o trabalho em rede é:

um processo que cria e mantém conexões entre diferentes organizações, a partir da


compreensão do seu funcionamento, dinâmicas e papel desempenhado, de modo a
coordenar interesses distintos e fortalecer os comuns (MDS, 2009).

Desta forma, entende-se que existe uma forma de proteção de alta complexidade,
destina-se a indivíduos ou famílias que se encontram em situação de abandono, ameaça ou
violação de direito. Na proteção social de alta complexidade, o serviço de atendimento aos
migrantes é realizado, principalmente, nas unidades de acolhimento para adultos e famílias, não
sendo excluídos migrantes de unidades de outros públicos. Atende aqueles que necessitem de
acolhimento provisório, fora de seu núcleo familiar de origem, necessitem de serviços que
visam garantir proteção integral a indivíduos ou às famílias em situação de risco pessoal e
social, com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados, acolhimento em
estrutura física adequada, oferecendo condições de habitabilidade, higiene, salubridade,
segurança, acessibilidade e privacidade, e fortalecimento dos vínculos familiares ou
comunitários e o desenvolvimento da autonomia dos usuários.
Na Assistência Jurídica a lei brasileira garante que qualquer pessoa que não é apta
financeiramente para contratar serviços jurídicos ou para pagar por procedimentos legais receba
assistência jurídica gratuita. No Brasil, a Defensoria Pública é responsável por prover
assistência legal às pessoas que não podem arcar com tais custos. Refugiados e solicitantes de
refúgio também têm o direito de receber atendimento em todos os estados brasileiros.
43

No que tange atendimento a refugiados, a Defensoria Pública da União preocupa-se com


insatisfações ou questões concernentes ao pedido de refúgio, documentação, aposentadoria,
direito dos estrangeiros, acesso a benefícios sociais ou, se você for réu em processo criminal
perante um Tribunal Federal envolvendo, por exemplo, passaportes ou documentos de
identificação falsos, ou em processos de extradição ou deportação. Ademais, a Defensoria
Pública do Estado volta-se para questões relativas à acomodação, aluguel, divórcio, pensão
alimentícia, guarda de crianças e adolescentes, inventário, questões de paternidade, ou questões
processuais caso o refugiado seja réu criminal em casos de homicídio, assalto, roubo, fraude,
estupro, dentre outros.
Em conformidade ao fluxo de migrantes, a SNAS aumentou os serviços afiançados pela
Política Nacional de Assistência Social, serviços que garantem segurança de acolhida,
segurança de convívio familiar, comunitário e segurança de desenvolvimento da autonomia,
que atenda diversidades do grupo e fomente demais demandas desse público. Nota-se que o
Governo brasileiro se empenhou no acolhimento de migrantes, refugiados e apátridas diante a
lei de Refúgio em Ações humanitárias, principalmente em ações pontuais após o início da atual
crise de refúgios de Venezuelanos, Haitianos e Afegãos.
Segundo Marx e Engels (1989), é possível estabelecer um intercâmbio universal entre
os homens. Em outras palavras, é necessário ter um olhar especial à luz da temática,
considerando a inclusão e a diversidade, que verdadeiramente enxerguem os refugiados como
sujeitos de direitos. Deste modo, pode-se afirmar que é possível ampliar trocas culturais e
vivências, além de desenvolver o sentimento de pertencimento, de identidade, bem como
fortalecer vínculos familiares e a convivência comunitária, oportunizando assim o incentivo à
socialização da população refugiada.

3.3 ATENDIMENTOS AOS REFUGIADOS NO SISTEMA ÚNICO DA ASSISTÊNCIA


SOCIAL - SUAS

Complementando o exposto no capítulo anterior, o Sistema Único da Assistência Social


(SUAS) é presente em todo o Brasil e tem por garantia a proteção social aos cidadãos,
independente de classe social, etnia, gênero ou raça, ou seja, tem como objetivo amparar,
famílias e a comunidade no enfrentamento das dificuldades, por meio de serviços, benefícios,
programas e projetos.
Do mesmo modo, a lei brasileira para a implementação do estatuto dos refugiados de
1951 era engessada e, a mesma, tratava de política migratórias e caminhava em contramão a
44

democracia, deste modo observa-se ser necessário um avanço, surgindo então uma legislação
considerada moderna na questão do refúgio, a Lei n. 9.474 de 1997 em política humanitária.
Assim, a partir do ano de 2010, houve uma grande evolução do marco temporário
migratório de assistência no Brasil com a vinda do fluxo haitiano, a nova Lei de migração (Lei
– 4599 de 2009) trouxe melhorias e avanços, apesar ainda de ter limitações. A Lei divide estes
sujeitos em categorias: refugiados, migrante, apátrida, sendo esta divisão considerada uma
inclusão social, sendo estabelecida pelo marco migratório e pela divisão social.
Assim sendo, para melhor exemplificação é notório frisar que as perspectivas do
Sistema Único de Assistência Social, contemplam a política pública brasileira, além de ser
responsável pelos serviços de acolhimento à população em situação de vulnerabilidade social,
inclusive aos migrantes e refugiados com demandas e características voltadas a práticas de
melhoria do atendimento e do acolhimento nacional e internacional, estendendo-se à área de
gestão dos abrigos que faz os acolhimentos, com o objeto de padronização embasando
parâmetros internacionais.
O Comitê Nacional para Refugiados - CONARE, destaca que reais necessidades de
políticas públicas coordenadas devem ser garantidas aos refugiados. Do mesmo modo, sob a
perspectiva histórica do assunto, o Ministério do Desenvolvimento Social - MDS, enfatiza a
necessidade de uma política nacional de proteção ao fluxo migratório que adote a teoria de que
a migração em si não causa vulnerabilidade, mas se estes grupos não forem atendidos e
incluídos pelas políticas pública do país, serão fonte de vulnerabilidades.
Assim, políticas em prol da igualdade são necessárias no combate à discriminação, visto
a grande necessidade de um investimento público voltado à capacitação de profissionais de
diversas áreas, pensando na unificação do conhecimento que dê suporte à realidade enfrentada
pelos migrantes. Deste modo, é importe reconhecer que migrar é um direito, mas quando eles
chegam ao país de destino há uma xenofobia, exploração e grande rejeição (IPEA, 2015).
Percebe-se, portanto, que deve haver responsabilidade dos entes públicos para atender
os refugiados, além disso os serviços da assistência social devem promover tal acolhimento, a
fim de que o Estado analise a mobilidade humana como uma questão de política pública.
São necessárias ações aos profissionais que atuam com políticas públicas e programas
sociais voltados para o bem-estar coletivo e a integração do indivíduo na sociedade, como o
trabalho interdisciplinar, a intersetorialidade e o trabalho em rede com as políticas e órgãos de
defesa de direitos (Poder Judiciário, Ministério Público, Conselhos Tutelares, dentre outros).
O Sistema Único da Assistência Social (SUAS) é um direito de todos, e seus serviços e
programas estão presentes em todo o país. Em relação ao fluxo migratório, há alguns princípios,
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diretrizes e competências a serem seguidos em apoio e proteção psicossocial e econômico


destes sujeitos. A gratuidade a assistência social aos migrantes deve ser prestada sem exigência
de contribuição ou contrapartida, o migrante tem direito a oferta das provisões em sua
completude, por meio do conjunto articulado de serviços, programas, projetos e benefícios
socioassistenciais, o estrangeiro sem condições financeiras de se manter, que tem mais de 65
anos e vive no Brasil regularmente tem direito a receber um salário-mínimo mensal da
assistência social, caso faça o pedido ao governo e comprove a hipossuficiência, desde que
atendidos os requisitos constitucionais.
Segundo o texto constitucional e a Lei 8.742 de 1993, conhecida como LOAS (Lei
Orgânica da Assistência Social), a equidade aos serviços socioassistenciais ofertados aos
migrantes devem levar em conta respeito às diversidades nacionais, regionais, culturais,
socioeconômicas, políticas e territoriais, priorizando aqueles que estiverem em situação
de vulnerabilidade e risco pessoal e social, o fortalecimento da relação democrática entre estado
e sociedade civil, o controle social e a participação popular.
Dentre as políticas públicas de assistência social há alguns desafios na rede de proteção
socioassistencial. Podemos citar que no trabalho social com famílias, é imprescindível definir
os fluxos e competências de atendimento em rede para crianças e adolescentes
desacompanhados de responsáveis, respeitando-se os protocolos e convenções internacionais
em consonância com as normativas nacionais.
O risco de uma nova violação de direitos por situações de violência pode ocorrer, caso
os fluxos e procedimentos não estejam devidamente definidos e divulgados para os usuários
dos serviços, programas e projetos. As barreiras linguísticas são um impedimento à prestação
eficiente dos serviços socioassistenciais em todos os níveis de proteção, sendo desafios postos
ao poder público.
Diante um contexto harmônico de ação, proteção e apoio, mas também de muitos
desafios e fragilidades, o SUAS estabelece uma série de instrumentos internacionais dos quais
o Brasil é signatário, assim como de sua lei que contempla um quadro normativo de proteção
internacional às vítimas de perseguição e violação de direitos. Contudo, as leis devem ser
interpretadas de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos referentes aos
refugiados
Conclui-se que, à luz da temática, é dever e papel do assistente social estar junto as lutas
de classe, etnia ou diversidade além de trabalhar o acolhimento, a proteção e restaurar direitos
violados dos usuários como cidadãos de direito.
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Nas palavras de Iamamoto (1982), o Serviço Social é uma especialização do trabalho da


sociedade, inscrita na divisão social e técnica do trabalho social, o que supõe afirmar o primado
do trabalho na constituição dos indivíduos sociais. Além de demonstrar que há muito ainda a
ser feito em relação ao reconhecimento de organizações voltadas aos refugiados em situação de
desamparo ou que sofre discriminação devido à sua cultura de origem.
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CONCLUSÃO

O presente trabalho aborda a questão da política de refúgios no Brasil, a nível


internacional, do fortalecimento do Direito Internacional, a proteção diante a legislação
brasileira, meios de leis e instrumentalidades sociais que regulamentam o tratamento em
território nacional, os instrumentos normativos no âmbito internacional que amparam os
refugiados, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Convenção de 1951
específica ao Estatuto do Refugiado, o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967, a
história do refúgio e descrevi as classes de refugiados que estão aptos a solicitar refúgio fora de
seu país de origem.
Foi possível concluir que, embora haja proteção, amparos legais e garantia de direitos
as classes de refugiados, há uma complexidade em reinserir os refugiados na nova sociedade,
seja no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo, embora haja muitas conquistas, ainda há
dificuldades, barreiras, direitos violados e muitos desafios a percorrer, sendo necessárias
políticas públicas e sociais mais efetivas para integração desse público na sociedade.
Considerando a importância da consolidação dos direitos humanos, da cidadania
internacional e brasileira, foi possível abordar a temática de refúgio como crítica para que as
pessoas em situação de refúgio possam ser vistas como cidadãs, rompendo com os preconceitos
e a visão de xenofobia associadas a elas.
É importante sensibilizar e direcionar a inclusão social em meio a dilemas e perspectivas
da crise humanitária de refúgio, que vem se repetindo de forma acentuada e agravada em todo
o mundo, com ações tensas e desumanas.
Através desta passagem, configura-se assertivamente uma estruturação e fortalecimento
de vínculos com as redes protetivas, a fim de que as classes de refúgio recebam a devida atenção
e proteção de acolhimento necessários que lhes preserve os direitos humanos fundamentais
apropriado. Muitos refugiados são perseguidos pela combinação de opressões como: xenofobia,
racismo, questões de intolerância ideológicas a política, religião e gênero sexual.
Sensibilizando-nos sobre estas problemáticas, foi preciso um olhar crítico para a questão
dos muros erguidos, muros que barrar migrantes, refugiados, apátridas, enfim, muros que
tentam dificultar e impedir o caminhar do outro, o direito de ir, vir e estabelecer uma vida digna
na sociedade.
Em meio a conquistas e desafios, os refugiados ainda carregam estigmas, preconceitos
e estereótipos. É fundamental envolver a participação de diversos sujeitos e movimentos sociais
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de todo mundo que lutam pela proteção dos refugiados, migrantes e apátridas em todo âmbito
social.
Celebrar o Dia dos Refugiados (20 de junho), é lembrar das milhões de pessoas que
foram forçadas a sair de seus lares, e de ter deixado tudo para trás para reconstruir a vida, longe
de guerras, conflitos, perseguições políticas e violações dos direitos humanos.
Deste modo, destaca-se os assistentes sociais como classe trabalhadora, profissionais
que enfrentam diariamente um desafio na luta e garantia de direitos de todos os grupos
vulneráveis, dentre ele os refugiados. Destacamos a necessidade dos profissionais se
aproximarem desta temática, a fim de qualificar e fortalecer sua prática, visando um
atendimento respeito, de qualidade, que garanta dignidade, proteção e emancipação.
Respeitando e efetivando assim os princípios fundamentais que se assenta no Código de Ética
Profissional. É papel do assistente social acolher e trabalhar por direitos conquistados e
adquiridos aos usuários, através do projeto ético-político profissional que deve ser voltado a
partir de uma análise da realidade, desafios e pluralismo social existentes num processo de
inclusão igualitário.
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