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SERVIÇO SOCIAL
ELISETE DE OLIVEIRA
RIBEIRÃO PRETO
2021
ELISETE DE OLIVEIRA
RIBEIRÃO PRETO
2021
Ficha catalográfica preparada pelo Centro de Processamento Técnico
da Biblioteca Central da UNAERP
CDD 362
ELISETE DE OLIVEIRA
Aprovação: _________/_______/_________
_______________________________________
Prof. Prof.ª Me Lívia Masson Antonini.
Universidade de Ribeirão Preto
Orientadora
___________________________________
1º Examinador (a)
Universidade de Ribeirão Preto
___________________________________
2º Examinador (a)
Universidade de Ribeirão Preto
Dedico este trabalho à minha família, em especial aos meus pais (in memoriam), pelo amor
incondicional, por confiarem em minha capacidade para chegar aonde eu quisesse chegar e cuja
presença foram essenciais para minha vida, formação pessoal e profissional.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, fonte de meu saber, caminhar e realizações, à minha família, por todo
apoio que me deram até aqui e por acreditarem em mim e no meu potencial.
Agradeço aos amigos os quais tive a oportunidade de conhecer durante a jornada deste
curso e pude aprender a admirá-los com o jeito peculiar de cada um.
A todos os professores, minha eterna gratidão, por me permitir ser uma pessoa melhor
e a tornar-me um profissional crítico e reflexivo, estar aberta ao conhecimento e renovação
profissional, a manter-me sempre atualizada a assuntos inerentes à profissão.
Agradecimento especial à professora e Mestre Lívia Masson Antonini, por toda atenção,
apoio, paciência, cordialidade e orientação durante este processo.
Agradeço à Ana Cecília Rossato Issas, ao Francisco Pereira da Silva e Jefferson
Veronezi Pavain, os quais me permitiram obter conhecimento durante a supervisão de estágio.
Agradeço a todos que no decorrer desta caminhada tive a honra de poder apreciar de
grandes amizades valiosas.
Paulo Freire
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo abordar a importância dos Direitos Humanos para os
Refugiados e o papel do Serviço Social no processo de inclusão as classes de refúgio,
objetivando um trabalho de rupturas e pluralismo sem fronteiras. Observa o processo de refúgio,
analisando as políticas públicas e sociais envolvidas, e discorre sobre o assunto de forma
fundamentada, pesquisando registros históricos, legislações e direitos conquistados ao longo do
tempo. Retrata os diversos desafios e imposições à efetivação de direitos destas pessoas e reflete
teórica e criticamente sobre estratégias e alternativas necessárias para sua proteção. Tendo
como base o método de pesquisa qualitativa, utilizou-se a pesquisa bibliográfica de caráter
exploratório, análise documental e de conteúdo dos dados científicos encontrados durante a
pesquisa realizada. Conclui-se que é urgente a discussão a respeito dos dilemas e perspectivas
da crise humanitária de refúgio, organização e implementação de redes protetivas a fim de que
estes sujeitos recebam a devida atenção e proteção que lhes preserve os direitos humanos
fundamentais. O assistente social tem papel fundamental pois trabalha para a emancipação
social, garantia e proteção dos usuários, e deve se aprofundar nesta temática alcançando os
grupos mais vulneráveis e excluídos socialmente.
This work aims to address the importance of Human Rights for Refugees and the role of Social
Work in the process of inclusion of refugee classes, aiming at a work of ruptures and pluralism
without borders. It observes the refugee process, analyzing the public and social policies
involved, and discusses the subject in a reasoned manner, researching historical records,
legislation and rights conquered over time. It portrays the various challenges and impositions
for the realization of these people's rights and reflects theoretically and critically on strategies
and alternatives necessary for their protection. Based on the qualitative research method,
bibliographical research of exploratory character, documental and content analysis of the
scientific data found during the research was used. It is concluded that it is urgent to discuss the
dilemmas and perspectives of the humanitarian crisis of refuge, organization and
implementation of protective networks so that these subjects receive the due attention and
protection that preserves their fundamental human rights. The social worker has a fundamental
role as he works for the social emancipation, guarantee and protection of users, and should go
deeper into this theme, reaching the most vulnerable and socially excluded groups.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
1 O CONCEITO DE REFUGIADO E A HISTÓRIA INTERNACIONAL DOS
DIREITOS HUMANOS ......................................................................................................... 12
1.1 CONCEITO DE REFUGIADO.......................................................................................... 12
1.2 HISTÓRIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E DOS REFUGIADOS 14
1.2.1 Direito Internacional dos Refugiados - ACNUR............................................................. 17
1.3 A CONQUISTA DE DIREITOS DOS REFUGIADOS NO BRASIL .............................. 20
2 PROCEDIMENTOS DO REFÚGIO E SUAS ORALIDADES NO BRASIL ............... 24
2.1 OS REFUGIADOS, SEUS ASPECTOS E OS DESAFIOS ENFRENTADOS. ............... 24
2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E DIREITOS HUMANITÁRIOS À REFUGIADOS. .............. 30
2.3 REFUGIADOS, CONFLITOS POLÍTICOS E COLHIMENTO ATRAVÉS DA
FRONTEIRA ............................................................................................................................ 32
3 SERVIÇO SOCIAL E O TRABALHO COM REFUGIADOS ...................................... 36
3.1 O REFUGIADO COMO SUJEITO DE DIREITOS – POLÍTICAS PÚBLICAS E
SOCIAIS ................................................................................................................................... 36
3.2 ATUAÇÕES DA SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO FLUXO
MIGRATÓRIO BRASILEIRO ................................................................................................ 40
3.3 ATENDIMENTOS AOS REFUGIADOS NO SISTEMA ÚNICO DA ASSISTÊNCIA
SOCIAL - SUAS ...................................................................................................................... 43
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 49
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INTRODUÇÃO
Os diversos conflitos armados pelo mundo, bem como as violações dos direitos
fundamentais, terminam por produzir um crescente número de refugiados, que buscam se
assentar em lugares onde haja maior estabilidade política e econômica, comparado a seus países
de origem.
A questão dos refugiados tem entrado em evidência nos últimos anos, tem se
intensificado devido ao aumento dos conflitos e perseguições de diversas espécies, que geram
situações de extrema violência, penúria e violação massiva de direitos humanos (GOMES,
2017, p35).
Tais condições obrigam os habitantes a se deslocarem para outros países em busca de
segurança e melhores condições de vida, buscando refúgio. Esta definição de refugiados está
de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), agência da
Organização das Nações Unidas (ONU) que tem como objetivo estabelecer parâmetros
internacionais para a proteção e acolhimento de refugiados.
Desde o início do século, o Brasil vem recebendo elevado número de refugiados,
produzindo diversos efeitos nos setores social, econômico, cultural e jurídico do país. No
sentido de uma perspectiva histórico-crítica, entende-se os direitos humanos como um processo
histórico que se desenvolve, sobretudo com a luta das classes trabalhadoras na reivindicação de
garantias sociais. O presente estudo está orientado, tanto no plano político quanto constituído
pelas normas e regras de ação, pela compreensão contemporânea de direitos humanos
indivisíveis, universais e interdependentes.
Sobre o tema do refúgio no mundo contemporâneo, faz-se necessário o trabalho dos
Assistentes Sociais, tendo em vista o processo de multinacionalização e um conjunto de ideias
políticas e econômicas capitalistas, o aumento da busca pelo controle de novos mercados,
intensificando a flexibilização das leis trabalhistas, a terceirização dos serviços e as
privatizações, as quais ganham amplo espaço, refletindo as novas transformações no mundo do
trabalho.
Além disso, o próprio conceito de refugiado é confundido com outros tipos de migração
existentes no país, é de suma importância refletir sobre os desafios em assegurar mais agilidade
no processo de pedido de refúgio e inserir esses indivíduos na sociedade, minimizando os
impactos nas áreas política, econômica e social.
Essa pesquisa objetiva apresentar o conceito de refúgio e a evolução histórica no cenário
internacional, bem como fundamentar o direito dos refugiados no Brasil, no que diz respeito à
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proteção do ser humano, apresentando suas bases legais internacionais e nacionais, a atuação
dos órgãos para a concretização da proteção ao refugiado.
Propõe uma reflexão sobre as políticas públicas e sociais que garantam a proteção e
integração dessas pessoas, situando o Serviço Social nessa temática, quanto às lutas pela sua
defesa e garantia de direitos.
No primeiro capítulo apresentam-se o conceito e a evolução história do Instituto do
Refúgio, sob a ótica do Direito Internacional, o Direito Internacional dos Refugiados e os
motivos que ensejam a obtenção o status de refugiado.
Já o segundo capítulo trata da proteção aos refugiados a partir do cenário internacional
para contextualizar a proteção do refugiado no Brasil na Constituição Federal de 1988, no
Estatuto do Refugiado – Lei nº 9.474/1997, além de apresentar o processo de concessão do
status de refugiado no país, abordando o papel do Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados (ACNUR), do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) e da Polícia
Federal, que atuam na legalização dos refugiados, bem como na proteção dos seus direitos e
fiscalização de seus deveres e apresentando a situação da Venezuela e como esse quadro
obrigou muitos a buscarem refúgio no Brasil e quais os desafios enfrentados por estes.
O terceiro e último capítulo, não menos importante, aborda às políticas públicas
existentes na atualidade que visam garantir na prática a proteção de que essas pessoas
necessitam, será analisado também o papel da rede de apoio, a atuação do profissional
Assistente Social e das entidades do terceiro setor no atendimento as pessoas em situação de
refúgio.
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De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR),
que será detalhado no decorrer do trabalho porque fundamenta e dá diretrizes ao atendimento
aos refugiados, tal exposição, contribui para apresentar a importante diferença de tal conceito,
a fim de não gerar sérias consequências aos refugiados.
Segundo a ACNUR, há diferenças entre grupos de refugiados e grupos de migrantes. Os
Refugiados ou deslocados externos são pessoas que deixaram seus países de origem para
escapar de riscos graves, conflitos armados ou perseguições. Em muitos casos a situação do
país é tão instável e intolerável que estas pessoas cruzam fronteiras internacionais para buscar
segurança em países mais próximos. Ao chegar nestes locais passam a ser considerados como
refugiados, e devem ser atendidos pela assistência dos Estados e pela agência das Organizações
Unidas (ONU).
Já os grupos de migrantes são compostos por pessoas que escolhem se deslocar para
outro país em busca de melhores condições de vida, geralmente a causa não está atrelada a uma
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De acordo com a Britannica Escola (2021), no início do século XX, durante as batalhas
da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) houve um grande fluxo de refugiados oriundos da
Bélgica, da França, da Itália e da Romênia. Depois do conflito, eles voltaram a se estabelecer
em seus países de origem. A Revolução Russa de 1917, no entanto, expulsou permanentemente
mais de 1,5 milhão de pessoas da Rússia. Enquanto isso, a Turquia obrigou mais de 1 milhão
de armênios a se mudar para a Síria e a Palestina.
No ano de 1918 após o fim da 1ª Guerra Mundial, surgiram consequências de ordem
social e econômica, resultante do grande número de refugiados, tendo em vista que esses
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indivíduos não possuíam qualquer tipo de proteção estatal, em virtude de seus ideais políticos,
crenças religiosas, etnia, nacionalidade e outros.
No ano de 1920, em busca de reconstruir a devastação social que a Guerra causou, foi
criada a Liga das Nações Unidas, sendo composta primeiramente por países europeus como
Inglaterra, França, Holanda e Alemanha, tendo como foco, promover a paz mundial e a
cooperação e segurança internacional.
Ainda assim, a Liga das Nações Unidas foi responsável por promulgar uma série de
Declarações legais, de modo que se condenava agressões contra o território e a independência
política de seus membros, punindo também quaisquer Estados que não obedecessem às normas
impostas pela comunidade internacional, tendo consequentemente gerado uma nova concepção
para com a soberania estatal.
Porém após algumas décadas, inicia-se a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que
novamente gerou mais de 60 milhões de refugiados, grande parte deles formado por judeus que
fugiam dos líderes nazistas da Alemanha. Muitos ingressaram nos Estados Unidos, enquanto
outros foram para a América do Sul e outros países. Centenas de milhares de pessoas deixaram
a Polônia em direção à União Soviética. Na Ásia, os ataques japoneses obrigaram mais de 30
milhões de chineses a abandonar suas casas;
Milhões de refugiados fugiram das guerras asiáticas. Uma delas foi a Guerra da Coreia,
entre 1950 e 1953. Outra foi a Guerra do Vietnã, que terminou em 1975. Outra ainda foi a
invasão do Afeganistão pela União Soviética, na década de 1980. Mais de 1 milhão de
refugiados abandonaram o Iraque durante a Guerra do Golfo Pérsico, em 1991.
As duas guerras mundiais não foram os únicos acontecimentos que provocaram o
surgimento de grandes quantidades de refugiados, mas também outros eventos e
acontecimentos como as guerras civis na África, obrigaram milhões de pessoas a deixar a sua
terra natal. Importante lembrar também que durante a segunda metade do século XX, as
ditaduras que dominaram os países sul-americanos, inclusive no Brasil que ocorreu entre os
anos de 1964 e 1985, também geraram levas de refugiados políticos que buscaram proteção em
várias partes do mundo.
O fortalecimento dos trabalhos da Liga das Nações Unidas refletiu no surgimento da
Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945, em que a introdução da sua Carta evidencia
os princípios e valores que baseiam os interesses da Organização:
Deste modo, o primeiro objetivo da ONU era manter a paz e a segurança internacional,
utilizando fins pacíficos em conformidade com os princípios da justiça e do direito
internacional, vedando atos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz.
Outro ponto relevante é enfatizar que a ONU fora dividida em cinco estruturas internas,
dentre os quais estabelecem-se por:
• a Assembleia Geral, com a presença de todos os países-membros, ao longo dos anos,
inúmeros países passaram a fazer parte da Assembleia;
• o Conselho de Segurança, formado pelos países que saíram vencedores da guerra e por
aqueles que exerciam alguma influência em razão do seu poderio econômico, com a
participação de cinco membros permanentes (URSS, EUA, Inglaterra, França e China)
e outros 10 provisórios eleitos pela Assembleia Geral;
• o Secretariado, sendo respondido pelo Secretário-Geral com a função de administrar e
organizar toda a ONU;
• o Conselho Econômico e Social, atrelado ao UNICEF (Fundo das Nações Unidas para
a Infância) e a OMC (Organização Mundial do Comércio);
• a Corte Internacional de Justiça, braço jurídico da ONU sediado em Haia, na Holanda.
Com o passar dos anos, e os anseios por solução dos conflitos advindos de outro
contexto histórico-social, foram criados outros mecanismos pela ONU, dentre eles,
destacou-se, em razão da relevância sobre o tema, o ACNUR (Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados).
culturais. Um dos pontos inovadores apresentados pela Declaração foi a possibilidade de asilo,
disposta no Artigo 14º.
Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo
em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição
legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos
objetivos e princípios das Nações Unidas (Declaração dos Direitos Humanos, 2009).
Após o surgimento da ONU, foi criado o Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados (ACNUR), como ferramenta essencial e subsidiária, que possui sua sede na cidade
de Genebra na Suíça, representado por um Comitê Executivo composto por 53 Estados.
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O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados conta com a ajuda dos
países membros da ONU, bem como de organizações não governamentais e da sociedade. Deste
modo, Andrade ressalta:
Ainda se faz notório apontar que o Direito Internacional dos Refugiados surgiu a partir
da Convenção de 1951, classificada como ferramenta internacional da Organização das Nações
Unidas, e que por ela é reconhecida a obrigação da garantia de segurança e apoio para com
aqueles que por motivos de força maior, precisavam deixar suas terras.
Outra norma fixada na Convenção é o direito ao recurso contra decisões desfavoráveis,
como também a premissa da possibilidade de reunião familiar. Assim, a Convenção, traz em
seu Artigo 1º o rol taxativo para o refugiado:
para o problema dos refugiados, visando, deste modo, um trabalho humanitário e apolítico e
apartidário.
Durante décadas a questão dos refugiados foi vista como um problema a ser resolvido
somente pelo Governo que providenciava o refúgio. Já, com o passar do tempo, fora modificado
e, atualmente, cabe ao ACNUR coordenar as atividades de assistência direta às pessoas em seu
âmbito de competência. Além disso, o ACNUR trabalha com três estratégias de soluções: a
repatriação voluntária, reassentamento e a integração local.
A repatriação voluntária, dá-se quando uma pessoa retorna para sua casa, país de origem
que deve acolher e reintegrar seu povo com dignidade para que possa reconstruir sua vida,
porém todo trâmite deve ser acompanhado pela organização internacional de proteção ao
refugiado. Contudo, se o repatriamento não for possível devido a conflitos intermináveis, o
refugiado necessita de apoio e proteção, e deve encontrar uma casa no país acolhedor (anfitrião),
para assim poder socializar-se a moradia e comunidade local. Em se tratando de
reassentamento, é sempre desafiadora a situação enfrentada, pois são reassentados
frequentemente em países que a língua, cultura, entre outros comportamentos, são bem
diferentes e inerentes aos seus. Para os refugiados de integração local é necessária uma melhor
interlocução entre os países e refugiados, tendo como base o Manual de Reassentamento do
ACNUR, sendo uma ferramenta de referência para Estados e ONGs que trata sobre políticas e
práticas de reassentamento global.
Ainda assim, mesmo com o fortalecimento das três estratégias de soluções duráveis, a
atuação do ACNUR muitas vezes não é ou não foi reconhecida pelos governos nacionais, em
razão disso, o organismo começou a trabalhar o fortalecimento de parcerias com organizações
não-governamentais e com outros órgãos dentro do sistema da ONU. Essa parceria ocorre
principalmente, nos processos de integração dos refugiados dos países de acolhida e na sua
reintegração em seus Estados, após a cessação das causas que originaram o refúgio. A perda da
Condição de Refugiado, também está prevista no Estatuto, sendo as principais causas a
renúncia, a comprovação de fundamentos falsos, o exercício de atividades contrárias à
segurança nacional ou à ordem pública, e a saída do território nacional sem prévia autorização
do Governo brasileiro. Caso o refugiado perda esta condição, será enquadrado no regime de
permanência de estrangeiros no território nacional, ou dependendo da causa, estarão sujeitos às
medidas compulsórias e sansões previstas na Lei nº 6.815, de agosto de 1980.
Estas decisões são determinadas pelo CONARE, o Comitê de elegibilidade que
reconhece ou não a condição daqueles que solicitam o refúgio, órgão de proteção e
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fortalecimento de vínculo aos refugiados, sendo ó único com poder de decisão da condição de
refúgio.
O Brasil está envolvido com a normativa de proteção dos refugiados desde o final do
século XIX, quando em 1850 foi estabelecida uma política de restrição aos imigrantes,
perdurando até o próximo século.
Durante os mandatos do Governos de Getúlio Vargas (1930-1945), o presidente, chegou
a editar dois decretos (Decreto 24.215 e 24.258), justificando a defesa do trabalhador
nacional. Nessa época, fora criado o primeiro Estatuto do Estrangeiro do Brasil (Decreto nº 406
de 1938), que estabelecia como deveriam ser os critérios de recebimento e hospedagem de
estrangeiros, observando questões sanitárias, profissionais e ideológicas.
A legislação brasileira de proteção e direitos dos refugiados, veio ser adotada a partir
de sua adesão na Declaração Universal dos Direitos Humanos, assim como a assinatura,
ratificação e promulgação da Convenção do Estatuto dos Refugiados de 1951 foram
reconhecidos. Contudo, o Brasil precisava cuidar de dois problemas para implementação do
tratado em questão: promover a elegibilidade de casos individuais, e desenvolver políticas
públicas sociais, de forma a gerar integração aos refugiados no país.
Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 foram ratificados pela Conferência das
Nações Unidas (ONU), envolvendo diversos países, dentre eles o Brasil que faz parte do
Conselho Executivo do ACNUR desde 1958.
Em atendimento a tais deficiências fora promulgada a Lei 9.474 de 1997, que em seu
Artigo 1º, prevê requisitos essências para a qualificação do indivíduo no estado de refugiado,
as quais correspondem:
Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I – Devido fundados temores
de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões
políticas encontra-se fora do seu país de nacionalidade e não possa ou não queira
acolher-se à proteção de tal país; II – Não tendo nacionalidade e estando fora do país
onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queria regressar a ele, em
função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III – Devido à grave e
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Isto posto, em termos gerais, destaca Aguiar (2001), que se deve respeitar algumas
condições, como a existência de temores de perseguição bem fundamentados, a perseguição
por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas e o fato de o
requerente de refúgio encontrar-se fora de seu país de origem.
Ademais, tendo em vista que para requerer refúgio no Brasil é necessário que seja
demonstrado por parte do solicitante a existência de situações em seu país de origem que
poderiam vir a ocasionar a violação de seus direitos humanos fundamentais, e explicitar os
motivos reais do refúgio. Além disso é necessária a confirmação da nacionalidade, a qual pode
ser comprovada através do passaporte, para assim o refúgio poder ser solicitado.
Posteriormente à criação e sanção da Lei 9.474 de 1997, foram promulgadas normas
para a criação do Estatuto do Refugiado, estabelecendo no âmbito da Administração Pública
Federal, o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), que conforme já descrito
anteriormente, é o órgão responsável pela manutenção e acompanhamento dos refugiados, bem
como pela elaboração de políticas públicas que visam a integração destes sujeitos.
Das competências do Comitê, duas merecem destaque. Uma diz respeito aos aspectos
legais (análise do pedido e declaração do reconhecimento); a outra, cuida da
orientação e coordenação das ações necessárias à eficácia da proteção e assistência,
bem como apoio jurídico aos refugiados (GARCIA, 2001, p. 152).
O Comitê Nacional para os Refugiados tem por escopo e atribuição o ingresso e pedido
de refúgio, e no artigo 9 do Estatuto prevê que o estrangeiro que chegar ao território nacional
pode expressar sua vontade de solicitar reconhecimento como refugiado a qualquer autoridade
migratória que se encontre na fronteira, a qual lhe proporcionará as informações necessárias
quanto ao procedimento cabível. Caso o refugiado esteja com sua vida ou liberdade ameaçada
em virtude de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política, o Brasil não poderá
efetuar a deportação do imigrante.
O artigo 8º trata que o ingresso irregular no território nacional não constitui
impedimento para o estrangeiro solicitar refúgio às autoridades competentes, devendo a
autoridade que receber a solicitação, ouvir o interessado e preparar o termo de declaração que
deverá conter as circunstâncias relativas à entrada no Brasil e às razões que o fizeram deixar o
país de origem, e ser informado à Polícia Federal, que transmitirá o procedimento
administrativo ou criminal.
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A Lei de refúgios no Brasil é uma das mais avançadas do mundo, de natureza jurídica,
sancionada em julho de 1997 pela Lei Federal nº 9.474/97, teve seu texto baseado na Convenção
das Nações Unidas aos refugiados e criou o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados),
órgão multiministerial que atua junto a políticas voltadas para estes sujeitos. Contudo, o país
carece de investimentos econômicos, pois possui políticas públicas e sociais insuficientes para
atender ao alto índice de refugiados, considerando um fluxo intenso após a onda de migração
dos refugiados através da fronteira brasileira.
No entanto, é importante observar que, sendo o refúgio um instituto de proteção jurídica
na esfera do direito internacional, a lei nacional estabelece direito e deveres para os refugiados,
direcionada pelo Estatuto dos Refugiados da Organização das Nações Unidas com o desafio de
integrar essas pessoas à sociedade.
Em recente pesquisa realizada pela OBmigra (Observatório das Migrações
Internacionais), há 60 mil refugiados no Brasil, dados geográficos de 22 de julho de 2021,
incluindo reconhecimento de condição de refúgio e reassentamento no Brasil, com apoio do
CONARE e Polícia Federal. O objetivo da pesquisa foi ter um panorama demográfico da
importante política humanitária de atuação brasileira direcionada à migração e/ou ao refúgio.
Dados esses disponibilizados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(ACNUR).
governamentais e pela sociedade; Não ser punido por entrada irregular no país; Solicitar a
extensão da condição de refugiado para parentes (cônjuges, ascendentes e descendentes) e
demais componentes do grupo familiar que se encontrem no território nacional, de acordo com
a Lei 9.474 e Resolução Normativa do CONARE; Receber toda a documentação assegurada
pela legislação: Protocolo, Provisório, Registro Nacional de Estrangeiros (RNE), Cadastro de
Pessoa Física (CPF), Carteira de Trabalho e passaporte para estrangeiro, previamente
autorizadas pelo CONARE; Ter os mesmos direitos e a mesma assistência básica de qualquer
outro estrangeiro que resida legalmente no país, entre eles direitos civis básicos (como liberdade
de pensamento e de deslocamento e não sujeição à tortura e a tratamentos cruéis e degradantes)
e direitos econômicos, sociais e culturais (como acesso aos serviços de saúde pública e
educação, direito ao trabalho e à liberdade de culto); Escolher livremente o lugar de residência
no território nacional; Requerer a permanência após quatro anos no país, ou um ano, caso
seja nacional de um país de língua portuguesa; Solicitar a permanência no Brasil em razão de
ter cônjuge ou filho brasileiro; e Reivindicar o acesso a procedimentos facilitados para o
reconhecimento de certificados e diplomas.
Dentre os deveres dos refugiados em território brasileiro estão: Não praticar atos
contrários à segurança nacional ou ordem pública, sob pena de perder a condição de refugiado;
respeitar a Constituição Federal e leis brasileiras, como todos os brasileiros e estrangeiros
residentes no país. Qualquer crime ou infração cometido terá o mesmo tratamento legal dado
aos cidadãos brasileiros; observar as leis específicas de proteção às crianças, adolescentes e à
mulher; informar a Polícia Federal e ao CONARE, mudanças de endereço no prazo de 30 dias;
Manter sua documentação atualizada; e não sair do território nacional sem autorização prévia e
expressa do CONARE, sob pena de perder a condição de refugiado.
Logo, Bauman (2017) em sua obra denominada “Estranhos a Nossa Porta”, diz que
muito mais do que uma crise migratória e refugiados, vivemos uma crise humanitária, sendo
necessário reconhecer nossa crescente interdependência como espécie e encontrarmos novas
formas de convivência em solidariedade e cooperação com aqueles que podem ter opiniões ou
preferências diferentes das nossas. Desta forma, em vez de muros, precisamos construir pontes.
Depreende-se, deste modo, que a barreira político-social imposta inviabiliza a fusão de
horizontes. No entanto, de forma otimista, o sociólogo contribui positivamente ao apontar como
solução plausível a criação de pontes e não de cercas. Como principal ponto para romper
barreiras é a abertura para uma conversa e, de preferência, informal, sem regras
procedimentais.
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A investigação das motivações que levaram essas pessoas a cruzar as fronteiras dos
seus países de origem, ou de residência habitual, revela que essas ações, em alguns
casos, ocorrem em situações nas quais a mobilidade é reconhecida por dispositivos
legais, nacionais e internacionais, como um imperativo, dado seu caráter coercitivo.
Estes são os refugiados e os solicitantes de reconhecimento da condição de refugiado,
pessoas que deixaram seus países de origem em virtude de conflitos armados, de
violações de direitos humanos e de outras situações de violência, buscando a proteção
em outro Estado (SILVA; CAVALCANTI; OLIVEIRA, 2020, p. 10).
O Brasil sempre ocupou local de destaque no contexto regional por ser pioneiro em
regulamentos de instrumentos de proteção aos refugiados. No âmbito internacional, foi o
primeiro país sul-americano a regulamentar a Convenção de 1951, sendo o primeiro Estado do
continente a elaborar uma lei específica sobre refugiados. Diante disso, políticas públicas-
sociais têm sido implantadas no Brasil, contudo ainda que se conquistar nesta trajetória.
No tocante à temática, o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) tem a
prerrogativa de proteger o ser humano em todos os contextos sociais, políticos, econômicos,
civis e culturais; o Direito Internacional Humanitário (DIH) tem ênfase nos conflitos armados
e, o Direito Internacional dos Refugiados (DIR) tem aplicabilidade aos migrantes desde a saída
de seu país de origem até a chegada em outro país, com a concessão da condição de refúgio
para permanência legal e usufruto dos benefícios do país onde se encontra (RAMOS, 2014).
Assim sendo, é necessário apontar algumas políticas públicas e serviços-humanitários
voltados aos refugiados, regularizados pela legislação brasileira.
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a inclusão dos refugiados no mercado de trabalho, oferecendo incentivo, e uma vida digna de
novas oportunidades.
Igualmente a esses, há também empresas que atuam por meio de políticas de
sustentabilidade e diversidade, com o recrutamento, contratação e capacitação profissional de
pessoas refugiadas no mercado brasileiro. Por esse motivo, pode-se afirmar que em razão do
encontro entre as instituições, surgiu um Fórum que pudesse aprofundar no engajamento
empresarial, fortalecendo políticas públicas sociais para refugiados.
Consequentemente, este encontro abre portas para que um número maior de empresas e
organizações possam se alinhar, ampliar diversidades e pluralismo, visto que toda humanidade
deve assumir sua responsabilidade política, social e humanitária para com os refugiados.
(BAUMAN, 2017, p.120).
Pelo que fora apresentado, nota-se que empresas e organizações vêm quebrando mitos
de preconceitos, receios, medos e juntas distanciam também paradigmas e resistências, abrindo
portas que permitem aos refugiados terem oportunidades e ressignificação à vida. Considera-
se, portanto, o marco de diversidade e fortalecimento como plano de ação coletiva, promovendo
a inclusão de política públicas, sociais e culturais de todos os povos, e assim, fomentando de
forma plural a diversidade humana.
Visto o cenário no qual estão inseridos, é de suma urgência tratar o refúgio de maneira
democrática, e humanitária. A lei de refúgio no Brasil incorpora preceitos contemporâneos de
proteção aos refugiados, absorvendo a doutrina das três vertentes da proteção internacional da
pessoa humana, tais quais: o direito internacional humanitário, o direito internacional dos
refugiados e o direito internacional dos direitos humanos.
Em meados dos anos 2021, observando o cenário que vem ocorrendo no Afeganistão,
considera-se esta uma das maiores crises de refúgio humanitário de todos os tempos. Devido a
conflitos de grupos extremistas, pessoas com direito a visto e salvamento humanitário têm sido
resgatadas e acolhidas em todo o mundo, diante do apelo da ONU que pede que os países abram
suas fronteiras para receber a população Afegã.
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O Brasil avalia receber afegãos em programa de visto rápido, que atualmente existe para
facilitar acesso à entrada no país. A diferença entre visto de refúgio e visto humanitário é que o
primeiro deve ser solicitado pelo refugiado estrangeiro quando ele já se encontra em território
brasileiro e, o segundo é feito em consulados ao país de origem no exterior antes da sua partida,
ou seja, ao Brasil.
A tramitação é mais rápida, a exemplo que acontece no Afeganistão, que em um curto
período, países como Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Reino Unido conseguiram retirar cerca
de 100 mil afegãos com direito de visto e salvamento humanitário, uma ruptura que dá
ressignificação a muitas pessoas que se encontram desesperadas e vulneráveis.
Considerando a extrema necessidade de refúgios civis em relação à existência de crise,
violência ou violação de direitos humanos no país de origem do estrangeiro, os mecanismos da
lei brasileira podem ser usados por decisão do governo, a fim de permitir acelerar a entrada de
estrangeiros vulneráveis. É importante e fundamental a integração do refugiado com a
sociedade em função da pluralidade humana e não em função de um homem na sua
singularidade natural.
Atualmente, refúgios dos afegãos foram considerados o maior desafio de todos os
tempos em se tratando de crise humanitária, uma catástrofe, de acordo com análise da ONU. O
ACNUR está alarmado com os desdobramentos, principalmente sobre mulheres e crianças, que
representam 80% dos afegãos forçados a abandonar seu país para escapar da violência e abusos
generalizados. Deste modo, existe a situação de instabilidade aos considerados mais
vulneráveis, que são os que estão na linha da pobreza, estes ficam para trás, aguardando por
oportunidade de abertura de fronteiras vizinhas.
Ações de solidariedade têm se espalhado pelas grandes nações que promovem juntos
mutirão de acolhidas emergencial aos refugiados afegãos, regularização de documentações que
lhes dê garantias legais de direito, e políticas públicas-sociais que os fortaleça independente do
país de origem. A fim de ressocialização e acolhimento imediato, a ACNUR priorizou grupos
específicos como as crianças desacompanhadas dos pais e mães. Contudo o amplo desespero
dos afegãos com medo de permanecerem no seu país, vistos especiais de migrantes foram
concebidos, resultando assim em uma vasta evacuação por motivos humanitários considerados
um meio de subsistência de sobrevivência.
Assim como os afegãos, os venezuelanos foram espalhados por todo mundo em busca
de proteção internacional, contudo, isso gerou conflitos políticos locais e um colapso
econômico, sendo uma verdadeira tragédia necessária de intervenção Internacional. Em meados
de 2018, foram criados 13 abrigos, além de centros de acolhida temporários abertos em Boa
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Vista e Pacaraima, cidades fronteiras entre a Venezuela e o Brasil. Abriga mais de 6 mil
venezuelanos que caminham por dias até chegar à fronteira, muitos morrem pelo caminho,
outros passam horas em estado vegetativo, de pura desumanização para conseguir espaço de
sobrevivência. Estima-se que há 5,4 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos
espalhados por todo mundo.
Com o apoio da ONU, o Brasil como um dos países receptores de refugiados/migrantes
venezuelanos, criou estratégias de interiorização considerado que a acolhida e o ordenamento
de fronteira são pilares da operação. Foi uma estratégia do Governo Federal para que eles
tivessem uma receptividade digna e segura, sendo que no início do processo de interiorização,
havia cerca de 52 mil venezuelanos no Brasil e, atualmente são mais de 260 mil.
Após todo estudo bibliográfico realizado, foi possível verificar que são 600 cidades
participantes neste projeto de estratégia de interiorização em todo Brasil. Assim, a Operação
Acolhida vem objetivando realocar refugiados e migrantes em situação de vulnerabilidade, uma
ação sólida de reintegração social e econômica, como fator de restauração, proteção e
integridade aos Direitos Humanos. Segundo a ACNUR, há dentre os que chegam ao país, 8 mil
refugiados e migrantes venezuelanos com um tipo de vulnerabilidade específica de proteção:
crianças fora da escola, pai ou mãe solos, mulheres gravidas, população LGBT em risco,
deficientes, idosos entre outros, os quais se alojam em Casas de Passagem, que atuam como
espaço de acolhimento temporário aos refugiados/migrantes, aguardando o encaminhamento
para uma das Cidades participantes do projeto Operação Acolhida.
Em abril de 2021, após três anos de resposta humanitária, cerca de 50 mil venezuelanos
receberam à acolhida de estratégia de interiorização. União de Redes Restaurativas para
refugiados/migrantes com participação do Governo Federal brasileiro, da ACNUR, da OIM,
agências e das Nações Unidas, e de organizações da sociedade civil. Do mesmo modo, as Forças
Armadas são responsáveis por estabelecer políticas públicas e abrigos aos refugiados e
migrantes no Brasil. Contudo, esses foram surpreendidos pela pandemia da Covid-19 e, de
acordo com as exigências do Ministério da Saúde e Governo, foi necessário paralisar toda ação
solidária e estratégias de interiorização.
Como coloca Hannah Arendt (1998), a liberdade é essencial tanto para garantir a
dignidade própria de cada indivíduo como ser humano, e para liberá-lo para agir de modo
independente, fundamento de todas as mudanças.
O milagre da liberdade está contido neste poder-começar que, por seu lado, está
contido no fato de que cada homem é em si mesmo um novo começo, uma vez que
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por meio do nascimento, veio ao mundo que existia antes dele e vai continuar
existindo depois dele (ARENDT, 1998, p. 43.44).
Outrossim, o Brasil é um país signatário, onde muitos o veem como um país para
recomeçar. Para os refugiados, o Brasil abraça e acolhe todas às nações, motivo pelo qual, em
relação à geopolítica, há uma grande extensão de refugiados no país. O Brasil é aberto a receber
outros povos, sem impor restrições em suas fronteiras, predominando-se a democracia e
respeito à inclusão social e humanitária espalhadas por todo o país, o que corresponde a uma
miscigenação de vários povos, que buscam a resiliência e ressocialização fora de seus países de
origem.
Contudo, na atual conjuntura, a nação brasileira tem gerado uma crise social sem
precedentes, que atinge a classe trabalhadora brasileira, e consequentemente estrangeiros que
se encontram em situação de refúgio no país, refúgio este que se prolifera devido à alta procura
por acolhimento humanitário – somente sendo paralisado devido à pandemia de COVID-19.
A rota aberta de refugiados, também provê trabalhos em condições análogas de
escravos, forma desumana, até mesmo aliciamento de crianças e adolescentes venezuelanas
para trabalho e exploração sexual. Alguns deles tornam-se pessoas em situação de rua, devido
à calamidade e à falta de gestão política que poderia evitar essa degradante situação ocasionada
devido à polarização política de extremos ideológicos.
Assim, a insegurança, o desamparo estatal, e a situação pandêmica são uma das razões
de vulnerabilidades na contemporaneidade. A atual situação crítica e de instabilidade política
no Brasil, a qual limita e aumenta o índice dos direitos constitucionais violados no país,
ocasiona fatores como a pobreza, a desigualdade, a intolerância e diversidade ideológica.
Enfim, trata-se, de uma pluralidade de acontecimentos que se divergem ao mesmo
tempo, fazendo com que muitos refugiados e migrantes, dentro deste cenário, procurem por
outro país onde se sintam mais seguros e protegidos pelo Estatuto dos Refugiados.
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"A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes" (Marx).
Deste modo, trazendo à luz ao caráter da questão social dos interesses das classes sociais
pode se dizer que:
O refúgio é percebido pelo Serviço Social como uma das novas manifestações
da questão social, que se revela a barbárie do capitalismo, marcada pela intensificação
das desigualdades, violência e pauperismo. Contudo, migrar é um direito humano,
previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo inerente a todo ser,
onde quer que esteja. (CFESS, 2003).
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Isso corrobora as palavras de Netto (2010), quando diz que deve haver um olhar para
além da permanência de manifestações tradicionais da questão social, o qual deve ser emergente
para novas expressões sociais.
Sendo assim, o Assistente Social dispondo de capacidade teleológica, projetiva e
consciente deve ser capaz de socializar-se sempre, preservando direitos e deveres que
competem à profissão, buscando a construção de uma relação de confiança, acolhimento, e
conduzindo o atendimento ao refugiado respeitando suas particularidades, como o idioma, a
cultura diferenciada, ritos e costumes.
A Resolução do CFESS, publicada em março de 1993 trata do Código de Ética
Profissional do Serviço Social, elencando princípios fundamentais da profissão, dos quais
caracterizam-se a liberdade como valor ético central; defesa dos direitos humanos e recusa do
arbítrio e do autoritarismo; garantia dos direitos civis, sociais e políticos; socialização da
participação política e da riqueza socialmente produzida; equidade e justiça social; eliminar
qualquer tipo de preconceitos e respeitar diversidade e participação; ser plural diante as
correntes profissionais democráticas; expressões teóricas; aprimoramento intelectual; trabalhar
o novo projeto de ordem societária sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero;
atentar-se aos movimentos sociais e articulação com outras categorias profissionais e com os
trabalhadores; estar comprometido com a qualidade dos serviços prestados à população e com
o aprimoramento intelectual; exercer a profissão sem ser discriminado, nem discriminar por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, nacionalidade, sexo, idade e condição física.
Princípio é com efeito toda norma jurídica, enquanto considerada como determinante
de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupõem, desenvolvendo e
especificando ulteriormente o preceito em direções mais particulares (menos gerais)
das quais determinam, e, portanto, reúnem potencialmente, o conteúdo: sejam, pois,
efetivamente postas, sejam ao contrário, apenas dedutíveis do respectivo princípio
geral que as contém (BONAVIDES, 1996, p. 230).
A exemplo disso, pode-se citar a Caritas, uma organização da sociedade civil que realiza
proteção básica e assistência social, e possui um projeto de apoio aos imigrantes, refugiados e
apátridas. Estabelece-se em parceria com o Alto Comissário das Nações Unidas para refugiados
(ACNUR) e atua juntamente com o Conselho Estadual, com objetivo de oferecer-lhes
informações e proteção quanto ao acesso a serviços públicos estaduais e municipais.
Em relação ao trabalho de proteção básica, os profissionais de assistência social da
Caritas, tem forte presença no Brasil e mundo, retratam que um dos maiores dificultadores do
processo de efetivação de políticas públicas e sociais, foi a pandemia da Covid-19, impactando
o fluxo migratório de alta vulnerabilidade.
Por tais razões, cabe dizer que os assistentes sociais possuem um importante papel
baseado no Código de Ética da profissão, eles têm como princípios básicos a defesa dos Direitos
Humanos, sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero, além de ter o posicionamento
em favor da equidade e justiça social. Assim sendo, o profissional deve atuar em parceria com
as redes de acolhida, com os serviços e direitos que muitas vezes são desconhecidos por essa
população que sofre as fragilidades e são expostos a discriminações devido ao processo de
deslocamento. Desta forma, como o propósito de acolhimento, o assistente social deve realizar
com essa população:
• intervenção social planejada que deve estimular e orientar esse público na construção
de suas histórias e vivências individuais e coletivas, na família e no território;
• ampliar trocas culturais e vivências, desenvolver o sentimento de pertencimento e de
identidade;
• fortalecer vínculos familiares e incentivar a socialização e a convivência;
• buscar capacitações na temática e estar inseridos em espaços de controle social, de
debates e reflexões e levar como pauta a questão da migração no Brasil;
• dar visibilidade a essa população nesses espaços, na busca de uma construção coletiva
para a efetivação dos direitos das pessoas migrantes ou em situação de refúgio;
• interação social e coletiva com pessoas naturalizadas do país de origem.
Por esta interação social, fica evidente que é necessário que o profissional aja com
respeito a estes grupos, considerando sua diversidade e peculiaridades, sobretudo agindo com
a dimensão ética com uma conduta profissional respeitosa. Desta forma, o assistente social,
perante os refugiados, precisa priorizar o respeito, considerando os direitos que lhes foram
violados.
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O CREAS é uma unidade pública que atende pessoas que vivenciam situações de
violações de direitos ou de violências, ele tem como objetivo apoiar e orientar as pessoas que
estão em situação de alta vulnerabilidade e risco social e isso acontece de forma especializada
e humanizada. Ele faz também encaminhamentos para outros serviços de assistência social
quando necessário e para outros serviços públicos, além de realizar orientações jurídicas com
apoio ao indivíduo família (migrantes/refugiados) entre outros.
Outrossim, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) atende
pessoas neste tipo de proteção especial de média complexidade por meio do Serviço de Proteção
e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), que visa: encaminhar a rede de
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Desta forma, entende-se que existe uma forma de proteção de alta complexidade,
destina-se a indivíduos ou famílias que se encontram em situação de abandono, ameaça ou
violação de direito. Na proteção social de alta complexidade, o serviço de atendimento aos
migrantes é realizado, principalmente, nas unidades de acolhimento para adultos e famílias, não
sendo excluídos migrantes de unidades de outros públicos. Atende aqueles que necessitem de
acolhimento provisório, fora de seu núcleo familiar de origem, necessitem de serviços que
visam garantir proteção integral a indivíduos ou às famílias em situação de risco pessoal e
social, com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados, acolhimento em
estrutura física adequada, oferecendo condições de habitabilidade, higiene, salubridade,
segurança, acessibilidade e privacidade, e fortalecimento dos vínculos familiares ou
comunitários e o desenvolvimento da autonomia dos usuários.
Na Assistência Jurídica a lei brasileira garante que qualquer pessoa que não é apta
financeiramente para contratar serviços jurídicos ou para pagar por procedimentos legais receba
assistência jurídica gratuita. No Brasil, a Defensoria Pública é responsável por prover
assistência legal às pessoas que não podem arcar com tais custos. Refugiados e solicitantes de
refúgio também têm o direito de receber atendimento em todos os estados brasileiros.
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democracia, deste modo observa-se ser necessário um avanço, surgindo então uma legislação
considerada moderna na questão do refúgio, a Lei n. 9.474 de 1997 em política humanitária.
Assim, a partir do ano de 2010, houve uma grande evolução do marco temporário
migratório de assistência no Brasil com a vinda do fluxo haitiano, a nova Lei de migração (Lei
– 4599 de 2009) trouxe melhorias e avanços, apesar ainda de ter limitações. A Lei divide estes
sujeitos em categorias: refugiados, migrante, apátrida, sendo esta divisão considerada uma
inclusão social, sendo estabelecida pelo marco migratório e pela divisão social.
Assim sendo, para melhor exemplificação é notório frisar que as perspectivas do
Sistema Único de Assistência Social, contemplam a política pública brasileira, além de ser
responsável pelos serviços de acolhimento à população em situação de vulnerabilidade social,
inclusive aos migrantes e refugiados com demandas e características voltadas a práticas de
melhoria do atendimento e do acolhimento nacional e internacional, estendendo-se à área de
gestão dos abrigos que faz os acolhimentos, com o objeto de padronização embasando
parâmetros internacionais.
O Comitê Nacional para Refugiados - CONARE, destaca que reais necessidades de
políticas públicas coordenadas devem ser garantidas aos refugiados. Do mesmo modo, sob a
perspectiva histórica do assunto, o Ministério do Desenvolvimento Social - MDS, enfatiza a
necessidade de uma política nacional de proteção ao fluxo migratório que adote a teoria de que
a migração em si não causa vulnerabilidade, mas se estes grupos não forem atendidos e
incluídos pelas políticas pública do país, serão fonte de vulnerabilidades.
Assim, políticas em prol da igualdade são necessárias no combate à discriminação, visto
a grande necessidade de um investimento público voltado à capacitação de profissionais de
diversas áreas, pensando na unificação do conhecimento que dê suporte à realidade enfrentada
pelos migrantes. Deste modo, é importe reconhecer que migrar é um direito, mas quando eles
chegam ao país de destino há uma xenofobia, exploração e grande rejeição (IPEA, 2015).
Percebe-se, portanto, que deve haver responsabilidade dos entes públicos para atender
os refugiados, além disso os serviços da assistência social devem promover tal acolhimento, a
fim de que o Estado analise a mobilidade humana como uma questão de política pública.
São necessárias ações aos profissionais que atuam com políticas públicas e programas
sociais voltados para o bem-estar coletivo e a integração do indivíduo na sociedade, como o
trabalho interdisciplinar, a intersetorialidade e o trabalho em rede com as políticas e órgãos de
defesa de direitos (Poder Judiciário, Ministério Público, Conselhos Tutelares, dentre outros).
O Sistema Único da Assistência Social (SUAS) é um direito de todos, e seus serviços e
programas estão presentes em todo o país. Em relação ao fluxo migratório, há alguns princípios,
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CONCLUSÃO
de todo mundo que lutam pela proteção dos refugiados, migrantes e apátridas em todo âmbito
social.
Celebrar o Dia dos Refugiados (20 de junho), é lembrar das milhões de pessoas que
foram forçadas a sair de seus lares, e de ter deixado tudo para trás para reconstruir a vida, longe
de guerras, conflitos, perseguições políticas e violações dos direitos humanos.
Deste modo, destaca-se os assistentes sociais como classe trabalhadora, profissionais
que enfrentam diariamente um desafio na luta e garantia de direitos de todos os grupos
vulneráveis, dentre ele os refugiados. Destacamos a necessidade dos profissionais se
aproximarem desta temática, a fim de qualificar e fortalecer sua prática, visando um
atendimento respeito, de qualidade, que garanta dignidade, proteção e emancipação.
Respeitando e efetivando assim os princípios fundamentais que se assenta no Código de Ética
Profissional. É papel do assistente social acolher e trabalhar por direitos conquistados e
adquiridos aos usuários, através do projeto ético-político profissional que deve ser voltado a
partir de uma análise da realidade, desafios e pluralismo social existentes num processo de
inclusão igualitário.
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