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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

SERVIÇO SOCIAL

MICAELLEN OLIVEIRA GOMES

O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL COM A POPULAÇÃO EM


SITUAÇÃO DE RUA

Poções - BA
2016
1
MICAELLEN OLIVEIRA GOMES

O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL COM A POPULAÇÃO EM


SITUAÇÃO DE RUA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como
requisito parcial para a obtenção do título Bacharel
em Serviço Social.

Orientador: Prof. Maria Angela Santini


Supervisor: Prof: Maria Lucimar Pereira

Poções - BA
2016
2
Dedico este Trabalho de Conclusão de
Curso a minha família!

3
AGRADECIMENTOS

Agradecer primeiramente a Deus, por estar presente em todos os momentos


da minha vida protegendo o meu caminho e por possibilitar a realização deste
trabalho, de suma importância para o meu aperfeiçoamento profissional. A
minha família pelo incentivo, paciência apoio e aconchego, compartilhando os
momentos de alegria e me ajudando a vencer e superar todos os momentos
difíceis enfrentados durante este curso. A minha tutoria e orientador supervisor,
por seu valiosíssimo tempo que dedicou a mim para a realização dessa
monografia, bem como parentes e amigos. Obrigada pelo apoio e
conhecimentos transmitidos. A todos os professores pela contribuição na vida
acadêmica. Obrigada pelo carinho compreensão, dedicação. Dedico a vocês
meus sinceros agradecimentos.

4
O insucesso é apenas uma oportunidade para
recomeçar de novo com mais inteligência.

(Henry Ford)

5
GOMES. Micaellen Oliveira. O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL COM A
POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. 2016. 43 páginas. Trabalho de
Conclusão de Curso Graduação em Serviço Social – Unopar, Universidade
Norte do Paraná.

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem seu estudo voltado


para a temática O Papel do Serviço Social com a População em Situação
de Rua. O trabalho versa sobre a realidade dos moradores de rua,
analisando seus territórios existenciais, seus pontos de fixação, como se dá
a ocupação do espaço público e as estratégias desenvolvidas por eles para
construir suas vidas num cenário de completa exclusão social. Busca-se
compreender as razões que levam os indivíduos às ruas, os fatores que
fazem com que se mantenham e os que os levam a deixar as ruas ou a
mudar de cidade. São apresentadas ainda as Políticas de Enfrentamento
para minorar a situação de miserabilidade e exclusão social a que está
submetida a população de rua. Ressalta-se a necessidade de pensar nos
moradores de rua como sujeitos de direitos e não como objetos de caridade.

Palavras-chave: Serviço Social; População em Situação de Rua.

6
GOMES. MICAELLEN OLIVEIRA.THE ROLE OF SOCIAL SERVICE WITH
POPULATION IN STREET SITUATION. 2016. 43 PAGES. WORK
COMPLETION COURSE DEGREE IN SOCIAL WORK UNOPAR, NORTH
UNIVERSITY OF PARANÁ.

ABSTRACT

This Work Course Conclusion (TCC) has its study on the theme The Role of
Social Services to the Population Homeless. The work deals with the reality
of the homeless, analyzing their existential territories, their attachment
points, how is the occupation of public space and the strategies developed
by them to build their lives in a complete social exclusion scenario. We seek
to understand the reasons that lead people to the streets, the factors that
cause them to remain and those who lead them to leave the streets or
relocating. Still shows the Confronting policies to alleviate the situation of
misery and social exclusion that is subject to homeless people. It
emphasizes the need to think of homeless people as subjects of rights and
not as objects of charity.

Keywords: Social Service; Population Homeless.

7
SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO.......................................................................................................09

2-POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: ASPECTOS


GERAIS .........................................................................................................................
..........12

2.1 O Surgimento da População em Situação de Rua no Brasil ..............................14

2.2 Conceito do Termo População em Situação de Rua .........................................17

2.3 A População em Situação de Rua entre o Preconceito e o Direito ...................19

3. DEFINIÇÕES DE POBREZA E SUAS CAUSAS ...............................................24

4.A ASSISTÊNCIA SOCIAL E A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA...........31


4.1 O Atual Cenário das Políticas Públicas voltadas a População em Situação de
Rua..........................................................................................................................33

4.2 Breve Histórico das Políticas Públicas ............................................................34

5. A POLÍTICA NACIONAL PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA ...37


5.1 As Políticas Públicas Voltadas Para a População em Situação de Rua .........39
5.2 A atuação do Serviço Social nas Políticas Sociais no atendimento à População
em Situação de Rua ..............................................................................................43

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................48

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................52

8
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca retratar a realidade sobre o


processo de trabalho do assistente social com a população em situação de
rua. Discorrer sobre o trabalho do Serviço Social demanda compreensão da
natureza do espaço que materializa a política pública de assistência social, e
clareza da potencialidade profissional no intuito de entender as
particularidades que perpassam a atuação do assistente social neste campo
sócio ocupacional.
Vê-se que a miséria contribui para que os laços afetivos e
culturais sejam rompidos, gerando abandono, fragmentação de relações e de
identidades. A perda de laços afetivos e comunitários compromete a vida das
pessoas, especialmente da população em situação de rua. Para garantir a
condição de convivência, quem está na rua tem como alternativa a
construção de novos vínculos. Nesse sentido, algumas pessoas passam a
estar nas ruas em grupos, ainda que temporários, seja em função dos locais
que escolhem para dormir, das atividades que exercem ou das instituições
que frequentam.
A população em situação de rua se encontra em estado de
extrema pobreza. Seu espaço social é demarcado pela falta de recursos que
possibilitem uma moradia digna. Sofrem o estigma da rejeição e da
invisibilidade social. Na luta pela sobrevivência, os sujeitos buscam assegurar
o direito a sua cidade, seu território e o respeito diante das adversidades
sociais e culturais.
Portanto, um trabalho social que pretenda assegurar às
pessoas direito à convivência e à individualidade, guiando-se por princípios
éticos de respeito à dignidade humana e à realidade de vida das pessoas
atendidas, deve auto avaliar-se permanentemente, na busca constante de
coerência.
Ao longo das ações viabilizadas pelo Serviço Social, tornavam-
se perceptíveis as barreiras e limitações no acesso aos serviços de proteção
social por estes usuários. Uma vez que os limites de abrangência e cobertura

9
imposta pela natureza seletiva de programas, projetos e serviços são fatores
que contribuem com o não alcance da população em situação de rua. (SILVA,
2009).
No entanto, segundo Silva (2009), existem ainda outros fatores
que contribuem para este distanciamento entre a população em situação de
rua e a efetivação de seus direitos enquanto cidadãos, entre eles as marcas
históricas impregnadas na política de assistência social. Esta é a política que
possui mais programas dirigidos a esse segmento, sobretudo programas de
acolhida temporária como abrigos, albergues, moradias provisórias,
repúblicas. Além disso, o preconceito e o estigma social que atingem a
população em situação de rua constituem outro ângulo de explicação para
essa completa vulnerabilidade e falta de proteção social. (SILVA, 2009).
Há muitas demandas que acabam por vezes a limitar a ação
profissional impedindo-a de romper com as barreiras do pontual e
emergencial tanto por exigirem uma atuação diferenciada e rápida por parte
dos profissionais de Serviço Social.
Neste contexto, Vasconcelos (2003) explicita, como sendo
desafios para Serviço Social o enfrentamento dos problemas cotidianos sem
descolá-los de suas causas estruturais, ou seja, da forma como a sociedade
está organizada com o sistema capitalista de exploração e precarização do
trabalho. Neste sentido, o assistente social ao atender casos isolados
dotados de especificidades não deve perder de vista a dimensão dos
interesses coletivos, pois é aí que se encontram as possibilidades e as
respostas aos problemas que são aparentemente individuais.

1.1 OBJETIVOS:

1.1.1 Objetivo Geral:


Compreender como se dá o processo profissional sobre o
atendimento prestado a população em situação de rua.

1.1.2 Objetivos Específicos:

10
 Conhecer a realidade da população em situação de rua;
 Analisar as políticas públicas direcionadas a População em Situação de
Rua;

 Verificar qual o papel do Serviço Social, destacando o atendimento


prestado a população em situação de rua.

1.2 JUSTIFICATIVA:

Esta discussão apresenta relevância visto que permite refletir acerca do


Serviço Social nos atendimentos direcionados à população em situação de
rua, discorrendo sobre as particularidades que perpassam a atuação do
assistente social. Apesar da importância do tema, as discussões sobre a
população em situação de rua parecem não ser prioritárias por parte dos
defensores dos direitos, o que é reflexo da invisibilidade dessa população
para a grande parte da sociedade e dos pesquisadores.

1.3 METODOLOGIA:

A Metodologia utilizada foi através de pesquisa


bibliográfica, que de acordo com Gil (2008), é desenvolvida com base em
material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.

11
2. POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: ASPECTOS GERAIS

De acordo com o Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de


2009, que institui a Política Nacional para a população em situação de rua,
trata-se de um grupo populacional heterogêneo que possui em comum a
pobreza extrema, os vínculos familiares fragilizados ou rompidos e a
inexistência de moradia convencional regular.
Conforme o decreto mencionado acima, a população em
situação de rua tem como sua característica marcante a heterogeneidade
que também é destacada por muitos autores, mas o fenômeno abriga um
conjunto de indagações com variações históricas, que o tornam um
elemento de extraordinária relevância na composição da pobreza extrema
nas sociedades capitalistas. (SILVA, 2009). A autora conceitua a categoria
pobreza como:

Considera-se pobreza extrema a condição que se


define pela não propriedade dos meios de produção e
reduzido ou inexistente acesso às riquezas produzidas
socialmente, seja pela ausência de trabalho e renda
regulares, seja pelo não acesso às políticas públicas.
(SILVA, 2009, p. 129)

O capitalismo é o principal fator das desigualdades sociais


existentes na sociedade, ele determina a separação entre os trabalhadores e
a propriedade dos meios de produção através da acumulação do capital.
Dessa forma, desencadeia as relações sociais capitalistas enquanto
expressões da questão social na classe trabalhadora e a desigualdade de
classes sociais, constituindo assim o aumento do desemprego e gerando a
pobreza, levando as pessoas ao descontrole social, alcoolismo, drogas,
rompimento dos vínculos familiares e vulnerabilidade social.
Segundo Durkheim (2011), todo o progresso desencadeado pelo
capitalismo traria um aumento generalizado da divisão do trabalho social e,
por consequência, da solidariedade orgânica, a ponto do fazer com que a
sociedade chegasse a um estágio sem conflitos e problemas-sociais. Com
isso, Durkheim (2011) admitia que o capitalismo é a sociedade perfeita; trata-

12
se apenas de conhecer os seus problemas e de buscar uma solução cientifica
para eles. Em outras palavras, a sociedade é boa, sendo necessário, apenas,
"curar as suas doenças".
Já os pensadores Marx e Engels (1848), defendiam que a
superação definitiva de tal sistema seria alcançada por uma sociedade sem
classes. Contudo, para que isso fosse possível, os trabalhadores deveriam
conduzir um processo revolucionário incumbido da missão de colocar a si
mesmos frente ao Estado, com a instalação de uma ditadura do proletariado.
Esse regime ditatorial teria a função de assumir os meios de
produção e socializar igualmente as riquezas. Dessa forma, seriam dados os
primeiros passos para o alcance de uma sociedade igualitária. Na medida em
que essa situação de igualdade fosse aprimorada, o governo proletário
cederia lugar para uma sociedade comunista onde o Estado e as
propriedades seriam finalmente extintas. (SOUZA, 2001, p. 53).
A origem da população em situação de rua é uma expressão da
exclusão social, que a cada dia mais vem atingindo a população brasileira.
Alguns autores, tais como Costa (2005) e Silva (2009), afirmam que os fatores
que contribuem para o crescimento do fenômeno população em situação de
rua estão fortemente ligados a questão do trabalho e renda desde o momento
em que surgiu na história da humanidade. Esta problemática é considerada
uma expressão da questão social que aparece como consequência das
transformações que ocorreram na sociedade para atender exigências
capitalistas.
A sociedade brasileira e demais sociedades capitalistas tem
presenciado um processo de reestruturação desde as últimas três décadas, a
qual vem atingindo fortemente o campo do trabalho. Ao contrário das ideias
que advogam o fim do trabalho e da classe operária, trata-se de um processo
complexo e multifacetado, que não atingiu apenas a classe operária, mas, ao
contrário, incide fortemente, ainda que de forma desigual, no conjunto dos
assalariados e dos grupos sociais que vivem do trabalho (Hirata e Pretéceille,
2002).
Diante desta realidade a autora Costa (2009), afirma que é
possível verificar uma grande diferença na situação de vida da população
trabalhadora. Nesse contexto a sociedade torna-se dependente do consumo e

13
o trabalho torna-se cada vez mais importante e fundamental para que os
cidadãos possam manter sua sobrevivência; porém com a lógica de
acumulação de capital e com as desigualdades geradas por todas estas
modificações, nem todos podem ter acesso ao mundo do trabalho formal e,
assim, muitos trabalhadores vêm tendo os seus direitos violados e perdendo
seus empregos, passando a ficar apenas disponíveis para o mercado, para
quando este precisar da sua força produtiva a custos baixos.
Segundo L. Morandi (2004), o estoque líquido de Riqueza
Privada no Brasil, no ano de 1970 equivalia a 1,97 do PIB, já no ano de 1995,
equivalia a 2,82. Isso ocorre em consequência de que o desemprego, a
recessão, a queda de renda atingem, em primeiro lugar, as camadas de renda
mais baixa da população. A proporção de pobres no Brasil encontra-se em
21,9 pontos percentuais acima do padrão internacional de países com
renda per capita igual a sua. Isso reforça a tese de que a principal causa da
pobreza é a péssima distribuição de renda e não a sua escassez. Isso passou
a ocorrer com mais intensidade na medida em que se operou a globalização
com a abertura das fronteiras e dos mercados, com a acumulação das
riquezas nas mãos de poucos, em razão da individualização dos lucros.
Outro aspecto que tem de ser entendido como forte gerador de
desigualdade salarial é a falta de acesso do trabalhador à educação. Países
como o Brasil têm se preocupado com investimentos em capital físico e
tecnológico nessa área, relegando para um nível secundário o investimento
em material humano. Verifica-se que a falta do trabalho segrega o ser
humano, deixando sem condições de acesso à escolaridade a ele próprio e
seus filhos, produzindo-se um círculo vicioso. Realmente, sem trabalho digno
não há condições dignas de sobrevivência, nem de educação. Sem educação
não se pode disputar um mercado de trabalho imensamente restrito e
qualificado, pois o pobre não consegue deixar esse círculo por si mesmo, a
menos que, de alguma forma, haja a intervenção de terceiro.
Portanto, é necessária uma melhor distribuição de renda e de
riqueza, uma vez que da riqueza extrai-se renda e com a renda as pessoas
podem ter acesso às condições dignas de sobrevivência.

2.1 O Surgimento da População em Situação de Rua no Brasil

14
Historicamente o fenômeno da população em situação de rua
sempre esteve presente no seio e no cotidiano de nossa sociedade brasileira,
porém com outras denominações, conhecida entre as décadas de 1970 a
1980 por “mendigos”; está a nomenclatura aplicada para as pessoas que
habitam as ruas.
De acordo com Bottil et al (2009), no Brasil uma grande parcela
da população tem a sua realidade marcada pela pobreza extrema e utilizam a
rua ou locais inapropriados para a sua moradia. Este autor afirma também que
existem “endereços tão precários (áreas faveladas, ocupações de áreas
próximas a estradas e rodovias, ocupações de áreas de eminente risco, etc.)
que, em última análise, facilmente rivalizam sob o ponto de vista da
precariedade com qualquer logradouro público” (BOTTIL et al, 2009, p. 164).
Conforme GIORGETTI (2006), a população em situação de rua
é:
Todo indivíduo migrante, imigrante ou nascido em uma grande
metrópole, que tem o seu ‘fundo de consumo [completamente]
dilapidado’ e não consegue mais repor tal fundo e promover o
seu bem-estar. Após atravessar um momento em que ocorre
o afastamento do mercado de trabalho, a desestruturação
familiar e o rompimento com as antigas relações que
compunham sua rede de sociabilidade (sem falar, na maioria
dos casos, da dolorosa experiência do preconceito social),
esses indivíduos passam a depender da rede pública de
proteção social, quando não se apropriam do espaço público,
transformando-o em moradia. (GIORGETTI, 2006, p.25).

Sob está ótica de acordo com a visão deste autor qualquer


pessoa que tenda a possuir tal característica de não prover nada a favor do
capitalismo é considerado como população em situação de rua. O autor Bessa
(2009), afirma que na maioria das situações os motivos que levam as pessoas
a estabelecerem a sua moradia e sobrevivência nos espaços da rua e locais
de risco estão relacionados a perda ou enfraquecimento dos vínculos
familiares, perda de emprego, consumo abusivo de álcool, drogas ou
envolvimento com outros fatores que contribuem para o seu enfraquecimento
emocional e financeiro e, dessa maneira, acabam ficando sem uma moradia
regular para habitação.

15
No ano de 2007 à 2008, realizou-se um estudo, que buscou
levantar dados acerca da caracterização socioeconômica da população em
situação de rua no Brasil, por meio de entrevistas aplicadas às pessoas que
estavam vivendo nesta realidade de risco social. Este estudo foi nomeado por
Pesquisa Nacional sobre População em Situação de Rua.
De acordo com o que foi apresentado nos dados da Pesquisa
Nacional Sobre População em Situação de Rua (2008), dentre o total de
pessoas que participaram deste levantamento, 71,3% delas informaram pelo
menos um desses três motivos, como sendo o principal fator que fortemente
influenciou a sua inserção à esta condição de vulnerabilidade, problemas
relacionados ao alcoolismo ou drogas 35,5%, desemprego 29,8% e
desavença com familiares (pai/mãe/irmão) 29,1%. Os demais informaram que
os motivos seriam outros, além destes apresentados, não sabendo ou não
querendo especificar quais as causas para estarem vivendo nessa realidade.
Com estas informações é possível avaliar que as principais
causas que levam as pessoas a morar e sobreviver nos espaços da rua estão
em sua maioria relacionados aos fatores de origem estrutural e biográfica.
Fraga (2011, p.29) analisa que estes fatores que dão origem a condição de
população em situação de rua, por muitas vezes podem estar entrelaçados
uns nos outros, ou seja:
Um pode ser causa ou consequência do outro.
Exemplificando, pode-se dizer que em alguns casos o
rompimento ou fragilização dos vínculos familiares podem
estar vinculados ao desemprego e/ou ao alcoolismo e uso de
drogas, ou vice e versa. Estes fatores de forma isolada ou
inter-relacionados podem conduzir o indivíduo a situação de
rua (FRAGA, 2011, p.29).

Embora a Pesquisa Nacional Sobre População em Situação de


Rua (2008) tenha identificado que a causa do fenômeno esteja vinculada
fortemente a fatores de ordem estrutural e biográfica, é possível verificar
também que, a partir das análises de Silva (2009), os motivos que contribuem
para o agravamento desta situação tem se apresentado sob diversas formas
na sociedade, sendo que um, como já visto anteriormente, pode ser causa e
consequência do outro.

16
2.2 Conceito do Termo População em Situação de Rua

A população em situação de rua pode ser conceituada como:


“Grupo populacional heterogêneo constituído por pessoas que possuem em
comum a garantia da sobrevivência por meio de atividades produtivas
desenvolvidas nas ruas, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e
a não referência de moradia regular” (MDS, 2005).
O fenômeno social população em situação de rua decorre de
múltiplas determinações e variações históricas, além da trajetória de vida dos
indivíduos. A expulsão dos trabalhadores rurais dos campos teve
consequências marcantes neste processo, pois estes trabalhadores vieram
para grandes cidades em busca de uma oportunidade de emprego, contudo
foram absorvidos aqueles que possuíam alguma qualificação, os demais
transformaram-se em mendigos, vagabundos e ladrões, muitos dos quais
passaram a depender da rua para sobreviver (SILVA, 2009).
Na sociedade contemporânea com o advento do neoliberalismo
a questão da população em situação de rua se agrava gradativamente devido
a fatores como o desemprego, a redução de gastos e investimentos
governamentais na área social, as políticas sociais focalizadas e seletivas, a
competitividade e o estímulo a individualização no mercado de trabalho.
(SILVA, 2009).
Conforme Bauman (1997, p. 56), em uma sociedade centrada no
consumo, como a que estamos inseridos, existem “os jogadores”, “os
jogadores aspirantes” e “os jogadores incapacitados”, que não têm acesso à
moeda legal. Estes devem lançar mão dos recursos para eles disponíveis,
sejam legalmente reconhecidos ou não, ou optar por abandonar em definitivo
o jogo. É a opção que resta àqueles denominados por Castel (1997, p. 28-29)
como “sobrantes”, pessoas normais, mas inválidas pela conjuntura, como
decorrência das novas exigências da competitividade, da concorrência e da
redução de oportunidades e de emprego, fatores que constituem a situação
atual, na qual não há mais lugar para todos na sociedade.
Para o autor, esses “sobrantes” são indivíduos “que foram
inválidos pela conjuntura econômica e social dos últimos vinte anos e que se
encontram completamente atomizados, rejeitados de circuitos que uma

17
utilidade social poderia atribuir-lhes” (Castel, 1997, p. 181). Para sua
sobrevivência, como todos na sociedade de consumo, dependem do mercado.
A diferença está em que este mesmo mercado não mais precisa de sua força
de trabalho, único valor de que dispõem para o processo de troca. Como não
participam do processo de circulação de mercadorias, simplesmente sobram.
Nesse contexto, insere-se a população em situação de rua. São
homens, mulheres, jovens, famílias inteiras, grupos, que têm em sua trajetória
a referência de ter realizado alguma atividade laboral, que foi importante na
constituição de suas identidades sociais. Com o tempo, algum infortúnio
atingiu suas vidas, seja a perda do emprego, seja o rompimento de algum laço
afetivo, fazendo com que aos poucos fossem perdendo a perspectiva de
projeto de vida, passando a utilizar o espaço da rua como sobrevivência e
moradia. (COSTA, 2005, p.19).
De acordo com Bulla, et al (2004, p. 113-114), de uma forma
geral, a população em situação de rua apresentam-se com vestimentas sujas
e sapatos surrados, denotando a pauperização da condição de moradia na
rua; no entanto, nos pertences que carregam, expressam sua individualidade
e seu senso estético.
Snow e Anderson (1998, p. 77) afirmam que o mundo social da
população em situação de rua constitui-se em uma subcultura, ainda que
limitada ou incompleta. Trata-se de um mundo social que não é criado ou
escolhido pelas pessoas que vivem nas ruas, pelo menos inicialmente, mas
para o qual foram empurradas por circunstâncias alheias ao seu controle.
Partilham, contudo, do mesmo destino, o de sobreviver nas ruas e becos das
grandes cidades.
A população em situação de rua se encontra em estado de
extrema pobreza. Seu espaço social é demarcado pela falta de recursos que
possibilitem uma moradia digna. Sofrem o estigma da rejeição e da
invisibilidade social. Na luta pela sobrevivência, os sujeitos buscam assegurar
o direito a sua cidade, seu território e o respeito diante das adversidades
sociais e culturais.
Dentro da perspectiva do território, a população em situação de
rua está em decadência dos vínculos empregatícios, o que reforça a falta de
subsídios para criar possibilidades de trabalho entre esses sujeitos. A

18
desestruturação, em um contexto onde os direitos sociais e a busca pela
dignidade disputam, lado a lado, um lugar para serem reconhecidos e
conquistados, fortalece o discurso pelo qual as potencialidades individuais e
do grupo são reduzidas e a vulnerabilidade atinge, diretamente, não só a
família, mas também a autoimagem, a autoestima e a identidade subjetiva.
Marília Sotero (2009) afirma:
A população em situação de rua vive em permanente estado
de vulnerabilidade. São vulneráveis por não ter documentos e
certidões, indispensáveis à cidadania. Vulneráveis por não
possuir casa, dinheiro ou emprego fixo. São vulneráveis,
enfim, por não ter acesso à educação e por encontrarem
dificuldade até mesmo para receber cuidado de saúde. Esses
fatores ampliam situações de violência, fome e medo que
esse grupo vivencia em seu cotidiano. (Marília Sotero, 2009,
p.799).

Castel afirma haver “impossibilidade de construir, nesse tipo de


sociedade, posições estáveis quando se tem como único recurso à força de
trabalho” (Ibidem, p. 27). Levando-nos a compreender que está vinculado às
questões econômicas a representação das pessoas que vivem em tais
condições fora dos padrões de bem-estar social. Comprometendo assim a sua
reinserção social.

2.3 A População em Situação de Rua entre o Preconceito e o Direito

A Pesquisa Nacional Sobre População em Situação de Rua


(2008) ao investigar os aspectos relacionados ao preconceito vivenciado por
este segmento populacional, identificou que na sociedade brasileira as formas
de discriminação que essa população vivencia ou já vivenciou estão em sua
maioria relacionadas ao seu impedimento de entrar em “estabelecimentos
públicos e privados, bem como ao acesso de retirada de documentos” (Fraga,
2011, p.33).
Conforme afirma Fraga (2011), as dificuldades encontradas pela
população em situação de rua no seu cotidiano excedem as questões
relacionadas a humilhação e desrespeito, tendo em vista que muitos são
impedidos de acessarem direitos sociais, agravando-se, assim, o índice de

19
desigualdades sociais. “O preconceito torna-se, portanto, uma espécie de
barreira que faz com que o indivíduo sinta-se intimidado a exercer seu direito
de ir e vir, de efetuar transações bancárias, de consumir e até mesmo de
procurar os serviços de saúde” (FRAGA, 2011, p. 33).
Segundo as afirmações de Bessa (2009), alguns Estados
brasileiros, por considerarem essa população extremamente perigosa,
recorrem a práticas higienistas com o intuito de eliminar esta problemática da
sociedade, utilizando-se de métodos violentos tais como “massacres,
extermínios ou recolhimento forçado das ruas” (BESSA, 2009, p. 88).
Sudbrack (2004) afirma que diversos municípios brasileiros tem
adotado a prática de remoção forçada dos moradores de rua dos locais que
estão vivendo e direcionando-os para localidades mais pobres, muitas vezes
essas cidades recorrem ao extermínio desta população. O autor destaca que
o extermínio da população em situação de rua no Brasil ocorre principalmente
nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife.
Grande parte da população não integrante do fenômeno
população em situação de rua é a favor da remoção ou extermínio deste
segmento populacional, pois acreditam que estes não passam de ladrões,
mendigos e que se encontram nessas condições de vulnerabilidade por opção
própria, que há oportunidades de desenvolverem atividades que possam
mudar suas condições de vida, mas que esses não querem aproveitá-las
creem que a inserção no fenômeno é fruto de escolhas individuais.
Portanto, os preconceitos têm sua sustentação em bases
afetivas e irracionais, amparadas na desinformação, na ignorância, no
moralismo, no conservadorismo e também no conformismo. Heller (1989)
afirma que o preconceito, abstratamente considerado, é sempre moralmente
negativo. Porque “todo preconceito impede a autonomia do homem, ou seja,
diminui sua liberdade relativa diante do ato de escolha, ao deformar e
consequentemente, estreitar a margem real de alternativa do indivíduo”
(HELLER, 1989 p. 59).
Giorgetti (2006, p. 20), afirma que “quanto maior for o
preconceito negativo em relação ao morador de rua, menor a possibilidade de
ele ter reconhecida sua cidadania”. No intuito de compreender as
representações sociais que fundamentam o preconceito sobre as pessoas em

20
situação de rua a autora supracitada classifica o preconceito como uma
mediação da exclusão social, pois, “sua definição supõe um julgamento
antecipado ou prematuro que pode assumir características excludentes”
(GIORGETTI, 2006, p. 62).
A reflexão realizada por Giorgetti (2006) nos leva a pensar
acerca de quantas vezes ao passar por uma pessoa em situação de rua já o
prejulgamos de forma negativa, sem nem sequer conhecer sua trajetória de
vida e as condições sociais e econômicas que o levaram a tal situação.
Segundo PINSKY (2007) o preconceito materializado em
diferentes formas de discriminação, é uma realidade objetiva para amplos
segmentos de homens e mulheres. Isso porque as diferenças no jeito de ser e
viver tem significado uma área fácil para a manifestação de múltiplas
modalidades de opressão. Raça, etnia, gênero, orientação sexual e outros,
são alvos de questões historicamente ligadas à intolerância e ao preconceito.
PINSKY (2007) adverte para o entendimento de que:
O preconceito abstratamente considerado, via de regra
apresenta-se com conteúdo oxilógico negativo. Isso porque,
todo preconceito impede a autonomia do homem, ou seja,
diminui sua liberdade relativa diante do ato de escolha, ao
reformar e, consequentemente estreitar a margem real de
alternativa do indivíduo. (PINSKY, 2007, p.65).

Dessa forma, entende-se por questões óbvias que os fatores


que provocam o preconceito precisam ser problematizados e desmistificados,
porque o preconceito, enquanto algo que dizima o ser humano destitui os
indivíduos sociais de sua autonomia e liberdade. Nestes, as questões em
torno do preconceito favorece a argumentação e a reflexão crítica sobre a vida
cotidiana, espaço-tempo no qual se materializam as expressões de
discriminação e opressão.
O preconceito se mistura e se confunde com posturas de
discriminação. Embora ambas as atitudes sejam negativas, o preconceito tem
uma ação mais ampla e desorganizadora. Vale ressaltar que, casos graves de
preconceito e discriminação, envolvendo assédio moral, violência verbal ou
física, devem ser rigidamente combatidos, através de punição e comunicação
educativa para a sociedade como um todo, elucidando o fato e mostrando a
incongruência lógica da sucessão percepção-pensamento-sentimento-ação
21
que gerou tais crimes.
Aquele que tem atos preconceituosos busca proteger seus
valores, e opta pela estratégia de ataque, já que em sua consciência há o
temor constante de ser atacado ou até mesmo confrontado em sua verdadeira
essência, a partir da convivência com o discriminado.
HELLER (2012), nos seus argumentos diz que:

Preconceitos é uma manifestação particular do juízo


provisório, que, em geral são refutados pela ciência e por
experiência cuidadosamente analisada mais que se
conservam inabalados contra todos os argumentos da razão
(HELLER, 2012, p. 78).

Nesse aspecto, os preconceitos têm sua sustentação em bases


afetivas e irracionais amparadas na desinformação, na ignorância, no
moralismo, no conservadorismo e no conformismo. Ao prejulgar e discriminar
a população em situação de rua a sociedade e o próprio poder público
excluem estes indivíduos do convívio social, da reinserção no mercado de
trabalho e da própria chance de assumirem papel de protagonistas de suas
vidas.
Em relação aos Direitos que a população em situação de rua
possui, a saúde é um dos grandes problemas enfrentados. Pousa Junior
(2014), aponta diversos problemas; dentre os quais, transtornos mentais,
deficiências físicas causadas por doenças infectocontagiosas, consumo de
drogas e álcool e violência de diversas ordens. Situações que podem gerar
outras complicações físicas e que levam, com frequência, à morte, diversas
pessoas no contexto descrito.
A maioria da população em situação de rua não procura os
serviços de saúde por acreditar que não está incluída no Sistema Único de
Saúde (SUS) e que não participa dos direitos que assistem a todos, a
exemplo de tratamento médico. Acreditam não poderem entrar ou frequentar
tais espaços por estarem sujos, com roupas rasgadas ou sem tomar banho.
Assim, se um sistema que é público, para o povo, que é por lei conquistado,
necessariamente inclusivo, onde características como cor, raça e classe social
não deveriam distinguir os sujeitos, se mostra ineficaz na absorção desses

22
sujeitos, revela-se essencial o desenvolvimento de políticas públicas que
barrem, na prática, os rótulos de exclusão, que sejam capazes de permitir o
acesso sem fronteiras, com ações que garantam a permanência e a inclusão
daqueles em maior situação de risco social.
A realidade constituída para a população em situação de rua é
um desafio para intervenções voltadas para o seu contexto organizativo e as
estratégias de sobrevivência desenvolvidas no espaço urbano. As propostas
que envolvem um modelo assistencial que atenda uma população em
situação de vulnerabilidade e exclusão se aproximam mais da utopia por
desconsiderarem os desejos e as necessidades do ponto de vista de quem
vive o cotidiano das ruas. Fatores, esses, que distanciam as políticas de
cuidado e acessibilidade reivindicadas pela população em situação de rua,
sendo um agravo na reestruturação da identidade e nas possibilidades de
acesso aos direitos de todo cidadão.
É necessário buscar uma participação ativa nos programas e
serviços voltados para esse público, bem como a criação de espaços como
fóruns, debates e reuniões que discutam as práticas e o acesso a redes
básicas de saúde, moradia, emprego, alimentação, educação, lazer e esporte.
Também devem exigir o cuidar humanizado as necessidades da população
em situação de rua.
As ações especificadas percorrem um caminho que envolve uma
prática na política de redução de danos, dentro dos princípios de equidade,
uma atenção assistencial que considere a população em situação de rua
dentro de sua realidade, oferecendo estratégias de defesa pela vida e
multiplicando possibilidades de resgate da cidadania e garantia dos seus
direitos.

23
3. DEFINIÇÕES DE POBREZA E SUAS CAUSAS

Na Inglaterra, durante a primeira metade do século XIX, os


pobres eram apontados como um grupo que não se beneficiava de um padrão
de subsistência mínimo. De algum modo, a categoria pobreza se construiu
apoiada na discriminação de não pertencer, que significava constatar a
insuficiência de rendimentos e recursos e não estar inserido em alguma fonte
de renda, sendo, por essa razão, estigmatizado. Os direitos e os deveres dos
pobres eram regulados em torno desse padrão mínimo, desde que o mesmo
assegurasse a ordem da estrutura social e não ultrapassasse os limites de
ajuda do que era considerado ético e moral (CERQUEIRA, 2011, p.32).
A primeira fase da pobreza remete à virada do século XIX para o
século XX, quando o pobre, frequentemente morador de cortiços ou vivendo
na rua, era associado ao vadio, àquele que se recusava a trabalhar e escolhia
permanecer fora do universo fabril. A pobreza era tida como um sinônimo de
resistência ao processo de assalariamento. Não obstante fortemente
ideologizada, essa concepção do pobre é reveladora do seu não lugar no
mundo do trabalho (LAVINAS, 2003).
Pobre era todo aquele que permanecia fora do mercado de
trabalho formal, renegando a nova ordem instituída e recusando o
assalariamento. O pobre era frequentemente chamado de vadio, e a ele eram
associados a ociosidade, a preguiça, a malandragem e a vagabundagem, que
revelavam um distanciamento cada vez maior do ideal do trabalho
(CERQUEIRA, 2011, p.32).
A segunda fase abrange as décadas de l950 e l960, quando a
pobreza se manifestava na presença de uma massa de marginalizados,
empurrados para a periferia do sistema econômico e participando dele de
modo restrito, em subempregos. Estudar a marginalidade sem inseri-la dentro
do processo produtivo seria não apreender os seus aspectos essenciais; por
isso, nesse contexto histórico, a marginalidade é reconhecida como inerente
ao sistema capitalista (CERQUEIRA, 2011, p.32).
A pobreza era retratada pela expansão dos excedentes
populacionais, ou seja, pelos grupos marginais que não encontravam trabalho
no setor formal da economia e que viviam nas favelas. Não pertencer à nova

24
classe trabalhadora significava não possuir renda suficiente para o
atendimento das necessidades básicas. Os pobres eram aqueles que
permaneciam no mercado informal, e que por constituírem a parte atrasada da
economia, em oposição à modernização do trabalho formal, não conseguiam
romper com a lógica da pobreza e adotar os novos valores urbanos-industriais
das sociedades capitalistas desenvolvidas (CERQUEIRA, 2011, p.33).
Na segunda metade da década de 1970, e ainda ao longo da
década seguinte, a pobreza passou a ser entendida não somente como
reflexo da não inserção no mercado de trabalho, mas como resultado de uma
admissão laboral precária e instável. Nesta terceira fase o pobre se
transformou no trabalhador cuja renda não lhe permitia viver dignamente, e
cujo status de trabalhador era eventualmente questionado (CERQUEIRA,
2011, p.33).
O significado de pobreza passou a corresponder à insuficiência,
e o pobre começou a ser chamado de população de baixa renda. Para
Valladares (1991), essa classificação do pobre consentiu tornar a ação social
do governo no combate à pobreza mais focalizada. Os pobres não eram mais
identificados como marginais ou vadios, mas como trabalhadores que não se
apropriavam do desenvolvimento econômico e do bem-estar social. A pobreza
passou a refletir a desigualdade, e a segregação entre ricos e pobres ficava
cada vez mais evidentes com a criação de periferias nas grandes cidades,
também presente na contemporaneidade.
Existem muitos discursos acerca da pobreza sob diferentes
focos: sanitarista, jurídico, político, econômico. A evolução dos conceitos
revela uma estreita relação com a própria trajetória do processo de
urbanização, com as transformações que ocorrem no mercado de trabalho
urbano, com a inserção da população pobre nas cidades e com o papel de
ator social e político que vem sendo atribuído às camadas populares ao longo
do tempo (VALLADARES, 1991).
De acordo com Cerqueira (2011), o avanço da urbanização da
pobreza ocorreu concomitantemente ao forte êxodo rural, capaz de gerar um
enorme excedente de mão-de-obra pouco qualificada e de baixa escolaridade
que perambulava pelas cidades industrializadas. Aqueles poucos que
conseguiam um emprego formal, muitas vezes não eram capazes de arcar

25
com o sustento da sua família, tendo em vista os baixos salários e a dinâmica
distinta entre campo e cidade.
Para Lavinas (2003), a pobreza deve ser abordada como um
fato eminentemente urbano, não apenas porque a maioria dos pobres vive
nas cidades, mas principalmente porque a sua reprodução é mediada pela
reprodução do modo urbano das condições de vida, através da dinâmica do
mercado de trabalho e do caráter do sistema de proteção social. Cada período
da história corresponde a uma ideia particular e distinta da pobreza urbana.
Se antes da sociedade burguesa, a pobreza encontrava-se
ligada a um quadro de escassez, pela lógica do aumento de riquezas, esse
quadro estava propenso a se reduzir. Todavia, o fato é que a reprodução da
pobreza foi potencializada, pois as condições que pressupunham sua
redução, e quiçá sua supressão, são justamente as alavancas para um
sistema econômico firmado na desigualdade e na injustiça social (NETTO,
2001).
Segundo Cerqueira (2011), a relação entre capital e trabalho,
especialmente a exploração da massa de trabalhadores, não trouxe somente
o desemprego como resultado relevante; outro reflexo desse novo sistema
socioeconômico foi o processo de pauperização da classe trabalhadora. A
pauperização, ou pauperismo6, constitui o aspecto mais imediato da
instauração do capitalismo em seu estágio industrial, e é uma condição para
que a riqueza se desenvolva e a produção capitalista se mantenha.
A pauperização pode ser classificada como absoluta ou relativa.
A pauperização absoluta é identificada quando as condições de vida e
trabalho dos proletários experimentam uma degradação geral (queda do
salário e dos padrões de alimentação e moradia, intensificação do ritmo de
trabalho, aumento do desemprego, entre outras). A pauperização relativa, por
sua vez, caracteriza-se pela degradação parcial das condições de vida e
trabalho dos proletários através do crescimento da parte apropriada pelos
capitalistas, e pode ocorrer mesmo quando as condições de vida dos
trabalhadores melhoram (NETTO; BRAZ, 2006).
Segundo Lavinas (2003), a pobreza é um estado de carência e
privação que pode colocar em risco a própria condição humana. Ser pobre é
ter a sua cidadania ameaçada, seja pela não satisfação de necessidades

26
básicas (fisiológicas e outras), seja pela incapacidade de mobilizar esforços e
meios em prol da satisfação de tais necessidades; é não se beneficiar de um
padrão de subsistência mínimo, baseado na ingestão diária de um dado valor
calórico; é não poder usufruir plenamente das condições de vida que lhe
permitem atuar de forma participativa em uma sociedade.
Tal discussão acerca da delimitação do conceito de pobre
desperta a atenção sobre como identificar, analisar ou estimar a pobreza,
considerando se tratar de uma construção social. É importante ressaltar que
pobreza não pode ser definida como um estado quantitativo em si mesmo, ela
é sempre um estado relativo, haja vista que expressa a existência de vínculos
entre aqueles designados como pobres e os demais. Também não é possível
escapar da máxima de que a pobreza é uma consequência da desigualdade
extrema imposta pelo mercado de trabalho, através de empregos sem
qualificação e salários irrisórios, aquém dos patamares de subsistência
(CERQUEIRA, 2011, p. 35).
Segundo Salama e Destremau (2001), as causas da pobreza
são basicamente duas: as voluntárias e as involuntárias. Na Inglaterra,
Thomas Malthus culpabilizava os pobres por sua condição de pobreza, e por
muitos anos essa ideia manteve-se intacta. Para ele, as causas da pobreza
estavam diretamente relacionadas à velocidade com que os pobres se
reproduziam, que se mostrava superior à velocidade de produção dos
alimentos.
Com o surgimento das Poor Laws inglesas, os pobres eram
classificados para, posteriormente, serem alocados em determinados espaços
que obrigavam o trabalho. Os órfãos, os doentes e as viúvas eram rotulados
como pobres involuntários, e por isso, dignos, enquanto os desempregados
eram classificados como pobres voluntários, já que não queriam trabalhar
para se manter, e por essa razão, eram indignos. A pobreza, então, era
entendida como uma condição natural das pessoas que, por alguma situação,
precisavam de amparo; por outro lado, a mendicância mostrava uma
deformação do caráter, não merecendo qualquer apoio ou ajuda (SALAMA;
DESTREMAU, 2001). Sendo assim, é possível compreender que as causas
da pobreza estiveram sempre relacionadas às condições de vida, saúde,
trabalho e renda.

27
Partindo do pressuposto que o conjunto de pobres de uma
determinada nação possui composição heterogênea quanto aos seus
rendimentos, alguns vivendo abaixo do mínimo vital, outros numa situação um
pouco menos crítica, mas ainda bastante adversa, é possível calcular a
intensidade da pobreza a partir de uma medida de desigualdade
(CERQUEIRA, 2011, p.36)
Esse cálculo é baseado em um indicador de pobreza relativa8,
no qual o rendimento mínimo é fixado na proporção de 2/3 da renda média da
população. Os indivíduos cuja renda per capita for inferior a tal valor já estão
automaticamente suscetíveis a serem atendidos pelas políticas assistenciais.
Vivem na pobreza absoluta ou na indigência todos aqueles que possuem seu
déficit de renda abaixo do mínimo de consumo vital (CERQUEIRA, 2011,
p.36) É válido frisar que a pobreza não deve ser apenas
compreendida como resultado da iníqua distribuição de renda e poder, mas
também da distribuição dos meios de produção e das relações entre as
classes, atingindo a totalidade da vida dos indivíduos sociais (IAMAMOTO,
2001), ou seja, não se trata simplesmente da restrição de renda ou ausência
de bem-estar, mas do não acesso a oportunidades que estimulem as
capacidades dessas pessoas, impedindo que conquistem ou resgatem a sua
autonomia.
Segundo Cerqueira (2011), as condições enfrentadas pela
população em situação de rua exemplificam muito bem a situação exposta. A
perda do emprego, a precarização das relações informais de trabalho, a
instabilidade econômica e a inadequação aos sistemas de proteção social
incitam a perda da sua identidade produtiva e pessoal. O indivíduo encontra-
se isolado, desfiliado10, pois é consciente de que a ausência de renda e as
condições de extrema pobreza em que vive reduzem significativamente a
probabilidade de ressocialização. Não se percebe, por parte do poder público,
uma tentativa real de emancipação pela via da qualificação e reinserção no
mercado de trabalho, desenvolvendo a capacidade de auto alavancagem
dessas pessoas para que alcancem níveis minimamente aceitáveis de
qualidade de vida.
É notável que o pobre não consegue se apropriar do
crescimento e da prosperidade econômica do país em que vive. Mesmo

28
integrado ao sistema, ele mantém-se alheio ao que o cerca, demonstrando
certa inadequação social, que se manifesta em uma inserção precária,
instável e frágil na economia, o que provoca no indivíduo o sofrimento e o
isolamento, acentuando ainda mais a sensação de não pertencimento
(LAVINAS, 2003).
De acordo com Cerqueira (2011), durante a convivência com
outras pessoas é que o indivíduo aprende a viver em sociedade, a obedecer
regras e a reforçar seus objetivos de vida. Tal interação é essencial para
fortalecer o senso de pertencimento àquela sociedade, reconhecendo direitos
e deveres, seus e dos outros. No caso da população em situação de rua, o
sentimento de não pertencimento é reflexo de um conjunto de fracassos
pessoais diante das expectativas criadas pela sociedade, como o
desemprego, que dificulta o acesso ao mercado de consumo, e o rompimento
ou fragilização dos vínculos familiares, que frequentemente despertam para a
condição de carência extrema na rua, dentre inúmeros outros fatores que
desencadeiam uma degradação pessoal capaz de minar a identidade social
daquele indivíduo.
Para o senso comum, o pobre é aquele que carece de bens
materiais. Simples assim. O que é facilmente esquecido é o seu
posicionamento em um status social específico, inferior e desvalorizado, que
marca profundamente a sua autoimagem. Essa perda de status social reflete
o estigma hoje associado a todas as populações que se encontram em
situação de grande precariedade socioeconômica. A imagem do pobre sobre
si mesmo é extremamente relevante para que a sua capacidade de agir e
reagir não sejam prejudicadas pela vivência do preconceito e da perda
intrínseca do seu valor como indivíduo (CERQUEIRA, 2011, p.38).
Segundo Cerqueira (2011), grande parte das estratégias de
enfrentamento da pobreza é responsabilidade dos governos locais, que optam
por atender cada situação individualmente, buscando regulá-la com a
implementação de programas diversificados e, como já dito, focalizados. A
cobertura dos programas assistenciais é restrita e a sua eficácia é discutível.
Percebe-se uma expectativa desses governos para que as cidades, enquanto
espaços públicos democráticos que se consolidam junto à própria cidadania,
sejam capazes de promover a equidade, a emancipação e a integração social,

29
resolvendo o problema da pobreza.
Quando entendida como insuficiência de renda e recursos, a
pobreza está profundamente associada à dinâmica macroeconômica e ao
regime de proteção social existente, ele mesmo derivado dos princípios de
solidariedade e convenções eleitos por cada sociedade. Para enfrentá-la,
portanto, é fundamental estabelecer ações prioritárias e poder contar com as
redes de apoio, parceiras na luta contra a pobreza. Entretanto, há de se tomar
o cuidado para que interesses locais não substituam o papel do Estado. Como
destaca Lavinas (2003), vencer a pobreza é libertar cada indivíduo das
privações que podem ameaçar sua existência ou comprometer sua trajetória
de vida; o que implica compensar pelo viés da redistribuição de meios,
recursos e renda a todos aqueles que se encontrarem abaixo de um patamar
considerado aquém do mínimo aceitável.
Os grandes desafios para enfrentar a pobreza são aumentar a
renda per capita através do crescimento econômico sustentado e diminuir as
disparidades internacionais (ESTENSSORO, 2008). Porém, essa receita para
combater a pobreza demanda muito tempo. Por isso o crescimento econômico
é condição necessária para superar a pobreza, mas não é condição suficiente
para dar conta de tamanha façanha. É preciso investigar outros meios para
combatê-la eficazmente.

30
31

4. A ASSISTÊNCIA SOCIAL E A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

Ao longo desta seção é apresentada a Política Nacional para


Inclusão Social da População em Situação de Rua. No entanto, ao iniciar os
estudos acerca desta, foi percebida a importância da realização de uma análise a
respeito do conceito de Proteção Social e da Política de Assistência Social. Isto,
com vistas a compreender sua estruturação e funcionamento, sob a ótica dos
serviços oferecidos à população em situação de rua, especificamente no município
de Florianópolis (FRAGA, 2011, p.37).
Com relação à Proteção Social foi contatado a partir das leituras de
Bressan (2006) e Silva (2009), que os primeiros modelos surgiram na Alemanha
através de determinações do Chanceler Otto Von Bismarck. O modelo de Proteção
Social que ficou conhecido como bismarckiano instituía um conjunto de seguros
restritos àqueles que se encontrassem empregados e necessitava de prévia
contribuição. O modelo bismarckiano compreendeu o Seguro-doença em 1883, a
Lei do Seguro Acidente em 1884 e a Lei do Seguro Invalidez e Velhice em 1889.
No entanto, vale destacar que o conceito de Proteção Social, conforme se concebe
atualmente foi cunhado apenas em 1942 na Inglaterra, através do Plano Beveridge.
O Plano possui este nome porque foi elaborado por Willian Beveridge,
que recebeu em 1941 a missão de elaborar um relatório sobre segurança social na
Inglaterra, e conforme aponta Bressan (2006, p. 14), neste relatório ou diagnóstico
Beveridge fez uma constatação “da miséria existente e de como as famílias e os
indivíduos precisavam de certos meios para sobreviver.
Essa análise veio a indicar que aqueles que estavam em condição
inferior ao que se julgava necessário precisariam de um suporte (apoio), para que
pudessem sair dessa condição. Esse apoio deveria ser universal, um direito de
todos, desde seu nascimento, e não apenas vinculado à condição de ser
trabalhador, como definia o sistema de seguros conforme o modelo alemão de
Bismarck. (BRESSAN, 2006, p. 14).
Segundo Fraga (2011), o modelo beveridgiano consagra a seguridade
que se difere da concepção de seguro instaurada anteriormente na Alemanha. No
presente trabalho entende-se por seguridade o estabelecimento de um pacto social
que não se vincula à prévia contribuição e que encontra amplitude nas Políticas
Sociais, e por seguro social compreende-se este, de acordo com a lógica da prévia

31
32

contribuição, que estabelece que o indivíduo esteja assegurado a partir do


momento em que ele é atingido por uma incontingência da vida, ou mesmo por
velhice ou maternidade, fatos estes que o levariam a uma condição de risco social.
De forma bastante resumida e simplificada podemos dizer que o
modelo de seguridade social Beveridgiano estabelece quatro princípios básicos: o
da generalização, ou seja, deve alcançar toda a população; o da unificação, que
prevê que se deve estabelecer uma só cota para todos os riscos sociais
(compreendendo risco social como tudo aquilo que põe em risco o rendimento
regular do indivíduo ou família); o da uniformidade que estabelece prestações
uniformes independentes da renda; e por último o da centralização, ou seja, a
concentração da seguridade em um único sistema público. Amplia-se desde então,
portanto, a própria concepção de seguridade social “para o conceito de proteção
social pública e vinculada à cobertura de diferentes riscos, bem como ao
estabelecimento de provisões salariais para as famílias que porventura as tivessem
interrompidas”. (BRESSAN, 2006, P. 14).
Os modelos de Proteção Social existentes nos países ocidentais
inclusive no Brasil baseiam-se no modelo Beveridgiano, os autores Viana e
Levcovitz (2005, p. 17) a conceituam da seguinte maneira:

A Proteção Social consiste na ação coletiva de proteger os


indivíduos contra os riscos inerentes à vida humana e/ou assistir
necessidades geradas em diferentes momentos históricos e
relacionadas com múltiplas situações de dependência.

Para estes autores, portanto, a Proteção Social consiste em um


mecanismo voltado a assegurar a proteção àqueles que se encontram em
situação de risco social.
Sob o ponto de vista de outros autores esta pode ser considerada, um
conceito amplo que, desde meados do século XX, engloba a seguridade social
(ou segurança social), o asseguramento ou garantias à seguridade e políticas
sociais. A primeira constitui um sistema programático de segurança contra riscos,
circunstâncias, perdas e danos sociais cujas ocorrências afetam negativamente
as condições de vida dos cidadãos. O asseguramento identifica-se com as
regulamentações legais que garantem ao cidadão a seguridade social como
direito. E as políticas sociais constituem uma espécie de política pública que visa

32
33

concretizar o direito à seguridade social, por meio de um conjunto de medidas,


instituições, profissões, benefícios, serviços e recursos programáticos e
financeiros. Nesse sentido, a proteção social não é tutela nem deverá estar sujeita
as arbitrariedades, assim como a política social – parte integrante do amplo
conceito de proteção – poderá também ser denominada de política de proteção
social. (PEREIRA, 2000 apud BRESSAN, 2006, p. 13)
Diante disso, Pereira (2000 apud BRESSAN, 2006) considera,
portanto, a amplitude do conceito de Proteção Social e situa a seguridade social e
as políticas sociais como sendo integrantes do Sistema de Proteção Social. Desta
forma, o Sistema de Proteção Social abarca as políticas sociais que se
materializam por sua vez na forma de Programas, que estabelecem projetos que
são postos em prática sob a forma de serviços. Esse sistema abarca também a
seguridade social que, de acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu
art. 194, “compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes
públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.”. (BRASIL, 2008a, p. 129). O presente trabalho
preza a análise da assistência social, com vistas a esclarecer como a partir da
política de assistência social se desenvolvem os programas que se materializam
na forma de projetos e serviços, com recorte especificamente voltados à
população em situação de rua.

4.1 O Atual Cenário das Políticas Públicas voltadas a População em


Situação de Rua

Os programas sociais desenvolvidos nesse contexto trazem a marca


ideológica do descarte social de uma população que é tratada como excedente.
São programas marcados pela institucionalização de práticas que visam à retirada
dessas pessoas das ruas, oferecendo, entretanto poucas possibilidades de uma
reestruturação de suas vidas.
De acordo com a PNAS (2004), constitui-se o público usuário da
política de Assistência Social, cidadãos e grupos que se encontram em situações
de vulnerabilidade e riscos. É para este público específico que se encontra em
situação de rua, e, portanto, em situação de alta vulnerabilidade e risco que mais
recursos deveriam ser encaminhados e efetivamente traduzidos em ações e

33
34

serviços adequados às suas necessidades, de acordo com suas especificidades. O


que ocorre é que atualmente poucos recursos são destinados para este segmento
e nem sempre há transparência na aplicação dos recursos disponíveis.
A PNAS (2004), preconiza que a Assistência Social deve inserir-se na
articulação intersetorial com outras políticas sociais, particularmente as públicas de
Saúde, Educação, Cultura, Esporte, Emprego, Habitação, entre outras, de modo
que as ações não sejam fragmentadas, mantendo-se o acesso e a qualidade dos
serviços para todas as famílias e indivíduos.

4.2 Breve Histórico das Políticas Públicas


No ano anterior a promulgação da Política 7.053 de 23 de Dezembro
de 2009, foi realizada uma pesquisa de âmbito nacional com a população em
situação de rua, onde puderam não apenas mensurar dados quantitativos, mas
também delinear quais as principais características desta população e as suas
maiores vulnerabilidades que compõem seu dia a dia, com o intuito de a partir das
informações adquiridas construírem parâmetros para a construção e orientação
de políticas públicas voltadas para essa população.
Nos anos anteriores já desejavam e realizavam alguns debates sobre
essa questão, conforme Wanderley (1997) explica, uma problemática se torna
efetivamente uma expressão da “questão social” quando é percebida e assumida
por um setor da sociedade, que busca por alguma forma um meio de resolvê-la,
tornando-a de conhecimento geral, transformando-a em demanda política. Dessa
forma, todos os encontros e decretos anteriores à promulgação da política, tinham
por alvo prioritário dar a visibilidade social e política que a população em situação
de rua precisava.
Os principais acontecimentos que antecedem a promulgação da
Politica 7.053 são a Constituição Federal de 1988, a PNAS de 2004 que assegura
cobertura a população em situação de rua, a LOAS Lei Orgânica de Assistência
Social através da lei 11. 258, 30/12/05, que altera o parágrafo único do art. 23 das
LOAS: “Na organização dos serviços da Assistência Social serão criados
programas de amparo: II - às pessoas que vivem em situação de rua.
Estabelece a obrigatoriedade de criação de programas direcionados à
população em situação de rua, no âmbito da organização dos serviços de
assistência social, numa perspectiva de ação intersetorial, o primeiro encontro

34
35

Nacional sobre população em situação de rua em 2005, o decreto de 25 de


outubro de 2006, que constitui o Grupo de Trabalho Interministerial - GTI, com a
finalidade de elaborar estudos e apresentar propostas de políticas públicas para a
inclusão social da população em situação de rua, a pesquisa Nacional da
População em Situação de Rua em 2007/2008 e o segundo encontro Nacional
sobre População em situação de rua em 2009. (BRASIL, 2006).
Em 2009, foi instituída a Política Nacional para População em
Situação de Rua, a partir do decreto n° 7.053/2009. Por este instrumento legal, o
Governo Federal buscou assegurar e efetivar para a população em situação de
rua, os direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais; para
tanto instituiu o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da
política Nacional para a População em Situação de Rua, coordenado pela
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Por meio
de instrumento de adesão, os Estados e Municípios compartilham as
responsabilidades dessa política de forma descentralizada.
Embora teoricamente as políticas sociais abranjam uma série de
diretrizes para o enfrentamento das inúmeras expressões da “questão social”, no
âmbito da implementação, tornam-se em alguns aspectos, morosas e residuais.
O que o decreto preconiza em 2009, para a população em situação de rua, de
uma forma específica, é que em 28 anos de Constituição não foram suficientes
para que direitos sociais mínimos se concretizassem na vida dessas pessoas na
cidade e muito menos o direito à cidade, defendido por Lefebvre (1968). A busca
desse direito continua sendo uma busca nas cidades brasileiras, ou seja, o
grande desafio é que as políticas públicas oriundas desse decreto possam se
materializar no espaço urbano como porta de acesso à cidadania da população
de rua, porque é a partir de um convênio do Município com a União, que esse
processo se inicia. (MDS, p. 26, 2011).
As propostas contempladas por esta Política Nacional têm por
objetivo abarcar questões essenciais concernentes à população que faz das ruas
seu espaço principal de sobrevivência e de ordenação de suas identidades. Estas
pessoas relacionam-se com as ruas segundo parâmetros temporais e identitários
diferenciados, os vínculos familiares, comunitários ou institucionais presentes ou
ausentes. Em comum possuem a característica de estabelecer no espaço público
das ruas seu palco de relações privadas, o que as coloca na categoria de

35
36

“população em situação de rua” (GIRGETTI, 2006, p.20).


Esta Política direcionada a população em situação de rua busca
fortalecer e reconhece-los como cidadãos, quebrando barreiras, com um olhar
humanizado.

36
37

5. A POLÍTICA NACIONAL PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

A Política Nacional Para a População em Situação de Rua, instituída no


Brasil em 23 de dezembro de 2009 propõe-se a minorar “[...] de forma
descentralizada e articulada entre a União e os demais entes federativos que a ela
aderirem por meio de instrumento próprio”, a situação em que se encontram as
pessoas em situação de rua (ARAÚJO, 2012, p.41).
Essa política foi desenvolvida a partir do I Encontro Nacional sobre
População em Situação de Rua, onde foram discutidos, em conjunto com os
movimentos sociais representativos desse segmento social, os desafios, as
estratégias e as recomendações para a formulação de políticas públicas
nacionalmente articuladas para essa parcela da população e da realização da
Pesquisa Nacional Sobre a População em Situação de Rua, que colocou, em
números, a situação dessa população. Nas discussões sobre o tema, foi destacada
a importância da realização de estudos que possam quantificar e permitir a sua
caracterização socioeconômica, de modo a orientar a elaboração e implementação
de políticas públicas direcionadas a tal público (ARAÚJO, 2012, p.41).
A Política Nacional Para a População em Situação de Rua
estabelece, através de seus princípios, diretrizes e objetivos, a integração entre as
políticas públicas federais, estaduais e municipais e as ações desenvolvidas pela
sociedade, de forma que elas atuem juntas, sistematizadas e voltadas para esse
segmento até então esquecido (ARAÚJO, 2012, p.41).
Estabelece também, ser possível firmar parcerias com entes privados
e públicos, conforme o artigo quarto dessa política:

Art. 4º O Poder Executivo Federal poderá firmar convênios com


entidades públicas e privadas, sem fins lucrativos, para o
desenvolvimento e a execução de projetos que beneficiem a
população em situação de rua e estejam de acordo com os
princípios, diretrizes e objetivos que orientam a Política Nacional
para a População em Situação de Rua. (DECRETO 7.053, 2009).

Os princípios da Política Nacional para Inclusão Social da População


em Situação de Rua são:
I - Promoção e garantia da cidadania e dos direitos humanos;

37
38

II - Respeito à dignidade do ser humano, sujeito de direitos civis,


políticos, sociais, econômicos e culturais;
III - Direito ao usufruto, permanência, acolhida e inserção na cidade;
IV - Não-discriminação por motivo de gênero, orientação sexual,
origem étnica ou social, nacionalidade, atuação profissional, religião, faixa etária e
situação migratória;
V - Supressão de todo e qualquer ato violento e ação vexatória,
inclusive os estigmas negativos e preconceitos sociais em relação à população em
situação de rua.
As diretrizes definidas para a Política Nacional para as Pessoas em
Situação de Rua são:
I - Implementação de políticas públicas nas esferas federal, estadual
e municipal, estruturando as políticas de saúde, educação, assistência social,
habitação, geração de renda e emprego, cultura e o sistema de garantia e
promoção de direitos, entre outras, de forma intersetorial e transversal garantindo a
estruturação de rede de proteção às pessoas em situação de rua;
II - Complementaridade entre as políticas do Estado e as ações
públicas não estatais de iniciativa da sociedade civil;
III - Garantia do desenvolvimento democrático e de políticas públicas
integradas para promoção das igualdades sociais, de gênero e de raça;
IV - Incentivo à organização política da população em situação de rua
e à participação em instâncias de controle social na formulação, implementação,
monitoramento e avaliação das políticas públicas, assegurando sua autonomia em
relação ao Estado;
V - Alocação de recursos nos Planos Plurianuais, Leis de Diretrizes
Orçamentárias e Leis Orçamentárias Anuais para implementação das políticas
públicas para a população em situação de rua;
VI - Elaboração e divulgação de indicadores sociais, econômicos e
culturais, sobre a população em situação de rua;
VII - Sensibilização pública sobre a importância de mudança de
paradigmas culturais concernentes aos direitos humanos, econômicos, sociais e
culturais da população em situação de rua;

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VIII - Incentivo à formação e à capacitação de profissionais para


atuação na rede de proteção às pessoas em situação de rua; além da promoção
de ações educativas permanentes para a sociedade;
IX - Ação intersetorial para o desenvolvimento de três eixos centrais:
a garantia dos direitos; o resgate da autoestima e a reorganização dos projetos de
vida.
Os princípios dessa política são convencionáveis a qualquer política,
seja ela voltada para a sociedade dita tradicional, seja para a população em
situação de rua. São princípios voltados para o artigo 5° da Constituição Federal e,
portanto, garantem os direitos da pessoa humana (ARAÚJO, 2012, p.43).
Já as diretrizes da Política são mais voltadas para as necessidades
próprias dessa população, reveladas pela Pesquisa Nacional Sobre a População
em Situação de Rua e discutidas no Encontro Nacional. Essa diretriz foi
parcialmente cumprida no que se refere à implementação da Política Nacional,
porém não existem, ainda, políticas estaduais voltadas para essa população
(ARAÚJO, 2012, p.43).
Embora a Política Nacional tenha sido formulada a partir da Pesquisa
Nacional Sobre a População em Situação de Rua, não contemplou as
necessidades dessa população de forma especifica, mas de forma mais regulatória
sobre como os estados e municípios deveriam elaborar suas próprias políticas
públicas (ARAÚJO, 2012, p.43).

5.1 As Políticas Públicas Voltadas Para a População em Situação de Rua

Algumas normativas especificamente criadas para a população em


situação de rua seguiram após o reconhecimento da Assistência como política
pública, a partir da LOAS em 1993.
Em 1993, a LOAS regulamentou os Artigos 203 e 204 da Constituição
Federal, “reconhecendo a Assistência Social como política pública, direito do
cidadão e dever do Estado, além de garantir a universalização dos direitos sociais”.
Posteriormente, a LOAS recebeu alteração para a inclusão da obrigatoriedade da
formulação de programas à população em situação de rua, por meio da Lei n
11.258/05, de 30 de dezembro de 2005. Nessa legislação, coube ao poder público
municipal a responsabilidade de manter os serviços e programas de atenção à

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40

população de rua, garantindo padrões básicos de dignidade e não violência na


concretização de mínimos sociais e dos direitos de cidadania a esse segmento
social por meio da atenção básica via CRAS e atenção especializada com perdas
de vínculo familiares e risco de vida aos indivíduos via CREAS e CREASPOP,
juntos constituem mecanismos do SUAS (MDS, 2008, p.6).
Os serviços que compõem a proteção social básica e especial
seguem as regras definidas pela Resolução n. 109, de 11 de novembro de 2009,
do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), que tratou da Tipificação
Nacional dos Serviços Sócio assistenciais. Nela há previsão expressa de serviços
aplicáveis às pessoas em situação de rua. São eles: Serviço especializado em
abordagem social; Serviço especializado para pessoas em situação de rua; Serviço
de acolhimento institucional e Serviço de acolhimento em república.
É importante destacar que o cofinanciamento federal para os serviços
especializados às pessoas em situação de rua, na regulação atual, é ofertado para
municípios com população superior a 100 mil habitantes ou municípios com mais
50 mil habitantes que integrem regiões metropolitanas.
O Serviço Especializado em Abordagem Social é ofertado de forma
continuada e programada, com finalidade de assegurar trabalho social de
abordagem e busca ativa que identifique a incidência de trabalho infantil,
exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua, uso prejudicial de
drogas, deverá ser realizado em praças, entroncamento de estradas, fronteiras,
espaços públicos, onde são feitas atividades laborais, locais de intensa circulação
de pessoas e existência de comércio, terminais de ônibus, trens, metrô e outros.
O Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro-
POP ou CREAS-POP), é previsto no Decreto n. 7.053/2009 e na Tipificação
Nacional de Serviços Sócio assistenciais, constitui-se em unidade de referência da
Proteção Social Especial de Média Complexidade, de natureza pública e estatal.
Diferentemente do CREAS, que atua com diversos públicos e oferta,
obrigatoriamente, o PAEFI, o Centro-POP volta-se, especificamente, para o
atendimento especializado às pessoas em situação de rua, devendo ofertar o
Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.
O Centro-POP caracteriza-se por ser equipamento de porta aberta,
representando espaço de referência para o convívio grupal, social e para o
desenvolvimento de relações de solidariedade, afetividade e respeito, devendo

40
41

funcionar em dias úteis, com possibilidade de funcionar em feriados, fins de


semana e período noturno, com período mínimo de cinco dias por semana e oito
horas diárias. Tem a finalidade de assegurar atendimento e atividades
direcionadas para o desenvolvimento de sociabilidades, na perspectiva de
fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares que oportunizem a
construção de novos projetos de vida (CNMP,2015, P.19).
O serviço ocorre por meio de trabalho técnico para a análise das
demandas dos usuários, orientação individual e grupal e encaminhamentos a
outros serviços sócio assistenciais e das demais políticas públicas que possam
contribuir na construção da autonomia, da inserção social e da proteção às
situações de violência. Deve promover o acesso a espaços de guarda de
pertences, de higiene pessoal, de alimentação e provisão de documentação civil,
inscrição no Cadastro Único dos Programas Sociais, além de ser a referência do
usuário quando este necessitar comprovar endereço para os mais diversos fins
(CNMP, 2015, p.19).
Nesse serviço deve-se realizar a alimentação de sistema de registro
dos dados de pessoas em situação de rua, permitindo a localização da/pela
família, parentes e pessoas de referência, assim como melhor acompanhamento
do trabalho social. O serviço deve ser ofertado, obrigatoriamente, no Centro-POP.
Pode ser acessado por conta própria, por encaminhamento do Serviço
Especializado em Abordagem Social ou por meio de outros serviços da assistência
social, ou, ainda, por meio de serviços de outras políticas públicas ou órgãos do
Sistema de Garantia de Direitos. (CNMP, 2015, p.19).
Os usuários do serviço são jovens, adultos, idosos e famílias que
utilizam as ruas como espaço de moradia ou sobrevivência. Destaca-se, contudo,
que crianças e adolescentes podem ser atendidos pelo serviço somente quando
estiverem em situação de rua acompanhados de familiar ou responsável legal,
caso contrário deverá proceder de acordo com o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
O Serviço de Acolhimento Institucional oferece acolhimento em
diferentes tipos de equipamentos, destinado a famílias ou indivíduos com vínculos
familiares rompidos ou fragilizados, a fim de garantir proteção integral. A
organização do serviço deverá garantir privacidade, respeito aos costumes, às

41
42

tradições e à diversidade de: ciclos de vida, arranjos familiares, raça/etnia, religião,


gênero e orientação sexual (CNMP, 2015, p.20).
O atendimento prestado deve ser personalizado em pequenos grupos
e favorecer o convívio familiar e comunitário bem como a utilização dos
equipamentos e serviços disponíveis na comunidade local. As regras de gestão e
de convivência deverão ser construídas de forma participativa e coletiva a fim de
assegurar a autonomia dos usuários, conforme perfis. Deve funcionar em unidade
inserida na comunidade com características residenciais, ambiente acolhedor e
estrutura física adequada, visando ao desenvolvimento de relações mais próximas
do ambiente familiar. As edificações devem ser organizadas de forma a atender
aos requisitos previstos nos regulamentos existentes e às necessidades dos
usuários, oferecendo condições de habitabilidade, higiene, salubridade, segurança,
acessibilidade e privacidade (CNMP, 2015, p.20).
O serviço de acolhimento em república é destinado para adultos em
processo de saída das ruas e pessoas adultas com vivência de rua em fase de
reinserção social, que estejam em processo de restabelecimento dos vínculos
sociais e construção de autonomia. As repúblicas devem ser organizadas em
unidades femininas e masculinas, e o atendimento deve apoiar a qualificação e
inserção profissional e a construção de projeto de vida (CNMP, 2015, p.21).
O serviço deve ser desenvolvido em sistema de autogestão ou
cogestão, possibilitando gradual autonomia e independência de seus moradores.
Deve contar com equipe técnica de referência para contribuir com a gestão coletiva
da moradia (administração financeira e funcionamento) e para acompanhamento
psicossocial dos usuários e encaminhamento para outros serviços, programas e
benefícios da rede sócio assistencial e das demais políticas públicas.
Sempre que possível, a definição dos moradores da república
ocorrerá de forma participativa entre estes e a equipe técnica, de modo que, na
composição dos grupos, sejam respeitadas afinidades e vínculos previamente
construídos. Assim como nos demais equipamentos da rede sócio assistencial, as
edificações utilizadas no serviço de república deverão respeitar as normas de
acessibilidade, de maneira a possibilitar a inclusão de pessoas com deficiência. De
acordo com a demanda local, devem ser desenvolvidos serviços de acolhimento
em república para diferentes segmentos, os quais devem ser adaptados às

42
43

demandas e às necessidades específicas do público a que se destina. (CNMP,


2015, p.21).
Política Nacional de Assistência Social PNAS afiança dois tipos de
proteção social; a proteção social básica, que tem um caráter preventivo, e a
proteção social especial, que tem um caráter protetivo. É neste nível de proteção
que devem localizar as ações voltadas para a população em situação de rua no
Brasil, no âmbito da Assistência Social. A Política de Assistência Social PNAS,
aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social CNAS em 2004, é uma
política de seguridade social não contributiva, que se realiza através de ações de
iniciativa pública e da sociedade, garantindo atendimento às necessidades básicas
da população que ainda vive em situação de risco e vulnerabilidade social
(BRASIL,2005).
Realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, considerando as
desigualdades socioterritoriais. Visa à garantia de mínimos sociais e ao provimento
de condições para atender contingências sociais e de universalização dos direitos
sociais. Objetiva prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção
social a famílias, indivíduos e grupos. Possui matricialidade sócio familiar,
descentralização político-administrativa e territorialização, cofinanciamento entre os
entes federados, controle social exercido pelas Conferências de Assistência Social
e pelos Conselhos de Assistência Social, política de recursos humanos e
sistematização das ações de informação, monitoramento e avaliação (BRASIL,
2005).
Não se pode negar que a assistência social é um direito indiscutível.
Contudo, ela continua prestando serviços aos usuários no sentido humanitário de
reparo dos danos, por ser realizada de forma focalizada aos segmentos
empobrecidos da sociedade. Este processo traz consequências sérias para o
cotidiano das comunidades: por um lado, a aceitação do fenômeno da pobreza
sem maiores questionamentos; por outro, o esvaziamento do conceito de cidadania
social, ou seja, a garantia dos direitos sociais para muito além de meras políticas
compensatórias.

5.2 A atuação do Serviço Social nas Políticas Sociais no atendimento à


População em Situação de Rua

43
44

No campo da Assistência Social as Políticas Sociais trazem a


estruturação da rede de acolhida de acordo com a heterogeneidade e diversidade
da população em situação de rua, reordenando práticas homogeneizadoras
massificadoras e segregacionistas na oferta dos serviços, especialmente os
albergues.
Produzir e sistematizar dados e informações, assegurando a
qualidade na prestação dos serviços, garantir da equipe profissional qualificada em
número adequado conforme volume de atendimento nos serviços capacitação
contínua, promoção de acesso aos programas de saúde de redução de danos pelo
uso do álcool e outras drogas, promoção de novas oportunidades de trabalho ou
inclusão produtiva de articulação com as políticas públicas de geração de renda
para pessoas em situação de vulnerabilidade.
A ação do assistente social deve ser pautada no Projeto Ético-Político
e no Código de Ética. Sua intervenção é de suma importância já que a partir do
seu conhecimento teórico-metodológico, técnico-operativo e ético político ele
consegue desvelar a realidade ao qual o indivíduo que chega ao serviço se
encontra, conhecendo as condições culturais, políticas e econômicas do sujeito
para então dar respostas profissionais sustentáveis.
E é no contexto social, econômico e político atual que o assistente
social vai se colocar como instrumento de ação para que os direitos desse
indivíduo sejam garantidos. Dentro do atendimento voltado para população em
situação de rua, o assistente social se coloca em posição da defesa dos direitos
sociais, para que frente à demanda se estabeleça a garantia de suprir a
necessidade tanto imediata, que se faz emergencial, quanto à de longa
investigação, fazendo a leitura crítica da realidade identificando assim além do que
está posto.
A ação investigativa do assistente social se faz extremamente
importante para obter resultados eficientes durante o atendimento com o usuário,
já que a maioria das pessoas que vivem em situação de rua chegam muito
debilitadas, devendo o profissional investigar os motivos que o levaram a estar
nessa situação, se ainda possui vínculos familiares, e a possibilidade de retomar
esse vínculos, pois muitos sujeitos possuem vínculos familiares fragilizados ou
totalmente rompidos, sendo que o assistente social deverá contribuir a partir do
trabalho de fortalecimento de vínculos.

44
45

Quando o indivíduo começa a receber atendimento ele deve ter


motivação para querer sair da condição de rua, dar outro sentido em sua vida, pois
é só a partir da vontade do sujeito em querer alterar sua realidade que o assistente
social conseguirá desenvolver um trabalho que dê resultados, e é por este motivo
que ele necessita se desligar do espaço onde vive para receber atendimento
especializado, já que o tratamento é facilitado quando se está distante da rua e
suas mazelas.
O assistente social atua no atendimento direto com o indivíduo, mas
também com a articulação com as políticas no sentido de viabilizar os direitos
garantidos em Lei. Dentre as políticas, a de saúde é a que necessariamente é mais
utilizada, já que a maioria dos sujeitos atendidos necessitam de tratamento
psiquiátrico.
Outras ações desenvolvidas pelo assistente social é a obtenção de
documentos, pois a maioria dos sujeitos que são atendidos não possuem
documentação básica como RG (Registro Geral). A inserção desses indivíduos nos
programas de transferência de renda e benefícios garantidos pela Política da
Assistência também é realizado pelo profissional de serviço social.
O trabalho do assistente social é complexo e vem de modo a
contribuir para a inserção social, acesso a direitos e proteção social da população
em situação de rua. A escuta qualificada e a orientação é imprescindível para o
desenvolvimento do trabalho visando à autonomia dos sujeitos.
Para o atendimento junto à população em situação de rua, faz-se
necessário o conhecimento da Política Nacional Para Inclusão Social da População
em Situação de Rua, esta estabelece diretrizes que norteiam a reinserção desta
população.
“(...) As Redes familiares e comunitárias, o acesso pleno aos direitos
garantidos aos cidadãos brasileiros, o acesso a oportunidades de desenvolvimento
social pleno, considerando as relações e significados próprios produzidos pela
vivência do espaço público da rua” (BRASIL, 2008, p. 10).
As demandas apresentadas por esses usuários são diversificadas,
fazendo imprescindível o conhecimento dos serviços da rede sócio assistencial,
sendo necessários encaminhamentos a serviços relacionados à saúde, habitação,
sistema jurídico, sistema previdenciário, entre outros, que garantem os direitos
dessas pessoas. Portanto, os instrumentais são de ampla relevância para atuação

45
46

profissional, pois é o meio que operacionaliza suas ações na compreensão da


realidade social, bem como na aproximação com o indivíduo para que assim haja
uma intervenção qualificada e eficaz.
A ação profissional do Serviço Social traz consigo desafios diários no
serviço prestado frente às demandas apresentadas pela população em situação de
rua, bem como na eficácia ao atendimento na garantia de direitos dos mesmos.
De acordo com Cavalcante Pereira (2006), a população em situação
de rua precisa de atenção básica, inserção às oportunidades da sociedade, mas
perpassa pelo empoderamento (Empowerment) que significa, de forma
generalizada a ação coletiva desenvolvida pelos indivíduos quando participam de
espaços privilegiados de decisões, de consciência social dos direitos sociais. Essa
consciência ultrapassa a tomada de iniciativa individual de conhecimento e
superação de uma situação particular (realidade) em que se encontra, até atingir a
compreensão de teias complexas de relações sociais que informam contextos
econômicos e políticos mais abrangentes (PEREIRA, 2006).
O Serviço Social contribui para a formulação e a implementação de
políticas sociais públicas. O profissional dessa área atua diretamente no processo
de organização e mobilização da sociedade civil, empenhando-se na efetivação
dos direitos sociais e no desenvolvimento da cidadania.
Convém destacar que o Serviço Social vem alcançando funções de
comando no âmbito do planejamento e gestão de políticas sociais, sendo
responsável pela elaboração de planos, programas e projetos, para além da gestão
dos serviços e benefícios.
É importante salientar, inclusive, a existência de outros espaços de
trabalho nos processos de planejamento municipal. Entre exemplos desses novos
espaços de atuação do assistente social, pode-se citar: a elaboração dos planos
diretores de desenvolvimento urbano, dos fundos municipais, a assessoria e o
planejamento das ações dos conselhos municipais.
A formulação e gestão de Políticas Sociais na contemporaneidade,
pressupõe uma democratização do espaço estatal público, tornando-se um espaço
de discussão da sociedade civil nos processos decisórios da gestão pública. Cabe,
portanto, aos elaboradores e planejadores da política, ou seja, aos gestores e
técnicos, entre eles os assistentes sociais, processarem teórica, política e

46
47

eticamente as demandas sociais, dando-lhes vazão e conteúdo no processo de


planejamento e gestão, orientando sua formação e execução. (TEIXEIRA, 2010).
Abre-se espaço de um novo campo sócio ocupacional para o
profissional de Serviço Social inserido na divisão sócio técnica do trabalho, por
meio da constituição de um mercado de trabalho que passa a requisitar assistentes
sociais habilitados para elaborar e gerir política sociais. O assistente social é
demandado a desenvolver ações não apenas como executor terminal de políticas
sociais, mas também como gestor da política social, como coordenador de
programas, projetos, serviços, ou seja, pode exercer sua função profissional nos
diversos espaços sócio ocupacionais, a exemplo do planejamento e gestão social
de políticas sociais. (IAMAMOTO, 2010).
O trabalho desenvolvido pelos profissionais nas esferas de
formulação, gestão e execução da política social para população em situação de
rua é, indiscutivelmente, peça importante para o processo de institucionalização
das políticas públicas, tanto para a afirmação da lógica da garantia dos direitos
sociais, como para a consolidação do projeto ético-político da profissão. Portanto, o
enfrentamento dos desafios nesta área torna-se uma questão fundamental para a
legitimidade ética, teórica e técnica da profissão.

47
48

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises realizadas neste Trabalho de Conclusão de


Curso, pode-se concluir que o fenômeno população em situação de rua se
configura em uma expressão da questão social, o qual teve o seu surgimento
marcado pelo período em que os trabalhadores rurais e camponeses tiveram todos
os seus bens expropriados e, por não conseguirem mais sobreviver nesse espaço,
estes começaram a migrar do campo para as grandes cidades para serem
absorvidos como trabalhadores assalariados pelas indústrias e, assim,
estabelecerem melhores condições de sobrevivência. No entanto grande parte
destes trabalhadores não foram contratados de imediato pelas indústrias e, dessa
maneira, passaram a integrar o denominado exército industrial de reserva ou
superpopulação relativa, e a viver em condições de vulnerabilidade.
O estudo evidenciou alguns fatores que buscam uma aproximação
das identidades e realidades de cidadãos que estão em situação de
vulnerabilidade. A população em situação de rua são expostas a um imaginário
social que marginaliza seus comportamentos e intenções de reestruturação de vida
e, ainda, são alvo de grandes injustiças sociais.
A maneira de como esse “problema” é compreendido pelos demais
cidadãos que não integram este segmento populacional se expressa através do
preconceito. As pessoas tendem a criminalizar aqueles que estão vivendo nesta
condição de risco social, acreditando que são apenas “mendigos”, que não querem
desenvolver atividades que possam mudar a sua condição de vida. Essa
compreensão de senso comum acerca da realidade destes cidadãos é uma
questão que dificulta o enfrentamento desta realidade, pois o preconceito é uma
questão que muitas vezes impede esta população de acessarem direitos que
possam contribuir para a mudança da sua realidade.
Os fatores que ocasionam a situação de rua podem estar
relacionados a uma variedade de questões, seja envolvimento com drogas,
fragilização dos vínculos familiares, perda repentina da moradia, dentre demais
adversidades que podem atingir a vida de um cidadão. Sendo assim, esse
fenômeno possui múltiplas determinações, porém, conforme observado em
pesquisas bibliográficas, o agravamento desta problemática encontra-se
fortemente vinculado ao modo de como a sociedade vem se organizando política,

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econômica e socialmente, pois as mudanças efetivadas tem sido direcionadas ao


atendimento das exigências capitalistas.
O processo de intervenção é considerado base para o exercício da
profissão de assistente social, portanto faz-se fundamental uma apropriação de
conhecimentos teórico-metodológicos, capazes de traduzir o contexto social no
qual estão inseridos os diversos sujeitos, para que dessa forma a prática seja
efetivada de modo a atender as questões apresentadas na dinâmica institucional.
A maioria das pessoas em situação de rua não é coberta pelos
programas governamentais. A realidade dessas pessoas descrita na Pesquisa
Nacional Sobre a População em Situação de Rua permite concluir que as que
vivem em situação de rua sofrem várias formas de violação de seus direitos
humanos, seja na área de segurança, seja na área de saúde ou em relação ao
mercado de trabalho e tem que se utilizar de diferentes estratégias para poder
sobreviver. A formulação de políticas públicas nessa área deve levar em conta
essas estratégias, assim como a idiossincrasia dessa população.
Despertar nos usuário que se encontram em estado de extrema
vulnerabilidade social, uma postura militante que possibilite reivindicar melhorias
concretas para a comunidade, através da participação em fóruns, comitês e nas
discussões de gestão urbana. A atuação profissional será pautada a fim de
fortalecer o elo da tríplice ensino-pesquisa-extensão, além do atendimento as
demandas apresentadas pelos usuários.
Percebe-se, portanto, que o assistente social destaca-se como um
profissional capaz de desvendar os aspectos sociais que envolvem a vivência do
usuário, instigando o debate crítico, e desenvolvendo ações politizantes. Esta
politização e compreensão crítica da realidade social também por parte das
pessoas em situação de rua confirmam a importância da intervenção profissional, e
do trabalho do Serviço Social. O envolvimento do aluno/estagiário nesse processo
possibilitará a construção da identidade profissional, através do aprimoramento
teórico-metodológico e técnico-operativo.
É preciso a inserção direta dos profissionais do Serviço Social nas
lutas sociais, uma vez que a atuação tem por objetivo promover ações que
legitimem o enfrentamento às fragilidades que acometem as pessoas em situação
de rua, mediante a elaboração de propostas que venham facilitar o acesso destes
as Políticas Públicas.

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O problema social da situação de rua é complexo. Para enfrentá-lo é


preciso estar num meio termo, entre a utopia, de achar que medidas simplórias
resolverão o problema, e a distopia de achar que não há solução a ser encontrada,
que a situação de rua nunca será resolvida. O Estado vem agindo para solucionar
o problema da situação de rua. Editou normas e implementou políticas públicas.
Mas para que as políticas públicas atinjam um resultado satisfatório é necessário
ter conhecimento sobre o alvo da política pública.
A falta de informações precisas e contemporâneas sobre esta parcela
da população não dá ao Estado e à sociedade os dados necessários para se tomar
as medidas mais adequadas possíveis capazes de ajudar essas pessoas a
deixarem a situação de rua. Por outro lado, circunstâncias como o elevado número
de pessoas em situação de rua que são dependentes do álcool ou outras drogas,
que possuem os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados, e que não
recebem qualquer benefício do governo, podem ser que dificultam que as medidas
corretas sejam adotadas para enfrentar a situação de rua e fazer com que as
pessoas que se encontram nessa situação usufruam, ao menos, do direito que têm
a um mínimo existencial.
Desta forma, o assistente social utiliza-se das competências para
revelar sua ótica acerca de cada situação social em foco. Esta não se manifesta
isenta de preconceitos, valores e sentimentos, considerando-se que é uma pessoa
humana que está a analisar, embora haja esforços no sentido de que a
responsabilidade técnica sobressaia às questões pessoais. Por ser preparado para
a função, o profissional tem condições de compreender as diversas instâncias que
estão a interferir na sua análise e mostrar o contexto social de forma objetiva.
Com relação ao segmento da população em situação de rua, o olhar
sobre as questões que envolvem o cotidiano requer análise complexa, que valoriza
não somente as perdas, com a consequente necessidade de proteção, mas
também a compreensão do contexto que favorece o estabelecimento de
fragilidades, resultando em direitos negados. As disputas por poder e bens
materiais, a falta de afeto, as relações familiares desgastadas pelos conflitos
ocorrem em diversas fases da família, mas tornam-se acirradas quando um dos
membros precisa de assistência e cabe aos demais compartilhar
responsabilidades.

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O trabalho é árduo e nem sempre se obtêm êxito. No dia-a-dia, comemora-


se resultados singelos, que no contexto maior assim se mostram, mas preciosos
para algumas vidas humanas.

51
52

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