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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO


SERVIÇO SOCIAL

IVANETE MASSETTO ANTONIO

O BENEFICIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA:

O papel da Assistência Social e a importancia da Integração dos


Serviços.

2015

Jaú
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IVANETE MASSETTO ANTONIO

O BENEFICIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA:


O papel da Assistência Social e a importancia da Integração dos
Serviços.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Norte do
Paraná - UNOPAR, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social.

Trabalho
Orientador:de Prof.ª
Conclusão
Claricededa Curso
Luz
apresentado
Kernkamp. à Universidade Norte do
Paraná - UNOPAR, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social.

Orientador: Prof. Adarly Rosana Moreira


Goes.
15

Cornélio Procópio
2013
16

Dedico este trabalho à minha família e meus


amigos.
17

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por estar muito presente na minha vida nos
momentos de alegrias e dificuldades, sempre iluminando o meu caminho e as
minhas ideias. Agradeço meus filhos, nora e genro que me apoiaram e incentivaram
me ajudando sempre nas dificuldades de informática para desenvolver minhas
tarefas. Agradeço às tutoras que dividiram suas experiências e ajudaram neste
processo de formação durante a trajetória acadêmica, dividindo saberes, trocando
informações e incentivando. Agradeço em especial a minha tutora e orientadora de
sala Mirian Arradi Sichieri que muito contribuiu com suas reflexões e
esclarecimentos. Agradeço muito em especial a grande amiga, companheira de
estágio Simone Baldo. A Assistente Social Eliana Lopes de Marchi que contribuiu
com conhecimentos de prática e competência no campo de estágio, obrigada pela
força e pelos ensinamentos. Enfim, agradeço a todos os que colaboraram na
construção não só deste trabalho, mas de minha formação profissional até este
momento.
18

“Todos querem viver muito, ninguém quer ser


velho!” Paulo Roberto Ramos Barbosa.
19

ANTONIO, Massetto Ivanete. O Beneficio de Prestação Continuada: O papel da


assistência social e a importancia da Integração dos Serviços. 2015. 46 paginas.
Trabalho de Conclusão de Curso Graduação em Serviço Social – Unopar,
Universidade Norte do Paraná, Jaú, 2015.

RESUMO

O Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social (BPC) é um direito


garantido por lei (Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica
de Assistência Social – LOAS, Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993). O
benefício consiste em pagamento mensal de 1 (um) salário mínimo a idosos com
mais de 65 anos de idade e a pessoas portadoras de deficiência, de qualquer idade,
que comprovem ter renda per capita inferior a 1/4 de salário mínimo. O BPC é um
benefício individual, não vitalício e intransferível, que integra a Proteção Social
Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). É um direito de
cidadania assegurado pela proteção social não contributiva da Seguridade Social.
Para ter acesso ao BPC, não é necessário que o beneficiário já tenha contribuído
para a Previdência Social.

Palavras-chave: Beneficio de Prestação Continuada; Assistencia Social; Integração;


Serviços.
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ANTONIO, Masetto Ivanete. The Benefit of Continuous Cash: The role of social
assistance and the importance of integration of services. 2015. 46 pages. Work
Completion Graduation Course in Social Work - Unopar, North University of Paraná,
Jau, 2015.

ABSTRACT

The Continuous Cash Benefit of Social Assistance (BPC) is a right guaranteed by


law (Federal Constitution of 1988 and regulated by the Organic Law of Social
Assistance - LOAS, Law No. 8,742, of December 7, 1993). The benefit consists of
monthly payment of 1 (one) minimum wage for the elderly over 65 years of age and
people with disabilities, of all ages, demonstrate per capita income of less than 1/4
minimum wage. The BPC is an individual benefit, not for life and non-transferable,
part of the Basic Social Protection within the Unified Social Assistance System (ITS).
It is a right of citizenship guaranteed by the non-contributory social protection Social
Security. To access the BPC, it is not necessary that the beneficiary has already
contributed to Social Security

Key-words: Benefit of Continued Provision; Social assistance; Integration; Services..


21

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................21

2. REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................23

2.1. As Primeiras formas de Proteção Social no Brasil............................25


2.2. A trajetória da Assistência Social........................................................28
2.3. A assistência Social e a Constituição Federal de 1988.....................30

3. O BENEFICIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA NO CADÚNICO..............32

4. REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO BPC...............................................33


4.1 Como requerer o BPC ................................................................................37
4.2 Requisitos Econômicos para fins de concessão do BPC.......................37
4.3 Concessão ..................................................................................................39

5. OS BENEFICIOS NA PREVIDÊNCIA SOCIAL E NA ASSISTENCIA SOCIAL


ATE A LOAS .................................................................................................41
5.1 Benefícios Eventuais...................................................................................42
5.2 O BPC enquanto direito de viver com dignidade.....................................43

6. A DESIGUALDADE DE TRATAMENTO ENTRE OS BENEFICIARIOS DO


BENEFICIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA..............................................45
6.1 O desafio da igualdade...............................................................................48

7. A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLITICA PÚBLICA..............................50


7.1 O BPC no contexto atual da Politica de Assistência social...................54

8. O SERVIÇO SOCIAL NO ACESSO AO BPC ...............................................59

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................63

10. REFERÊNCIAS...............................................................................................67
22

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema o Benefício de Prestação


Continuada. Para tanto, inicialmente, é necessária a reflexão acerca dos conceitos
de direito mais especificamente de direito social e de cidadania, uma vez que tais
concepções poderão contribuir para a compreensão da própria política de
assistência social, como direito do cidadão.
A instituição do BPC no Brasil foi realizada pela Constituição
Federal de 1988, artigo 203, inciso V, regulamentada em 1993 pela Lei Orgânica da
Assistência Social – LOAS (Lei n° 8.742, de 07 de Dezembro de 1993),
complementada e retificada pelo Decreto n° 1.744, de 08 de Dezembro de 1995.
Hoje, o BPC está regulamentado pelos Decretos n° 6.214, de 26 de Setembro de
2007, e n° 6.564, de 12 de Setembro de 2008. O BPC substituiu a Renda Mensal
Vitalícia (RMV) que, no âmbito da Previdência Social, concedeu entre 1975 e 1996
uma renda a pessoas idosas e com deficiência que comprovassem sua
incapacidade para o trabalho. É um beneficio operacionalizado pelo INSS e
financiado com recursos do Fundo Nacional de Assistência Social- FNAS
(BOSCHETTI, 2006).
A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos
relativos a saúde, a previdência social e a assistência social (BRASIL,1988).
A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é politica
de seguridade social não contributiva, que deve prover os mínimos sociais, realizada
por meio de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade,
para garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL,1993). É a partir
desse marco regulatório que todas as legislações que fundamentam as principais
políticas de assistência social do Brasil vão se basear (BOSCHETTI, 2002; 2006).
O interesse pelo tema desse Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC) originou-se a partir da experiência de estágio supervisionado em Serviço
Social, que me possibilitou um grande conhecimento e interesse no que envolve o
Benefício de Prestação Continuada - BPC.
O proposito deste trabalho é analisar o Benefício de Prestação
Continuada – BPC, como direito adquirido pela pessoa idosa e pela pessoa
portadora de deficiência.
23

O objetivo geral desta pesquisa é realizar uma pesquisa bibliográfica


acerca do Beneficio de Prestação Continuada, com intuito de conhecer melhor a
importância desse beneficio, além de entender a demanda, quem tem mesmo direto
de requerer o beneficio, onde solicitar o agendamento, quais os requisitos
necessários para habilitação do benefício, qual a importância do assistente social,
na concessão desse beneficio, como o serviço social pode ajudar os usuários das
secretarias de assistência social municipal, no sentido de defender a luta da
população.
E temos como objetivos específicos conhecer a realidade desta
parte da população, identificar as questões causadas aos idosos e deficientes como
enfrentar tais questões, usando estratégias corretas, investigar se existe algum caso
de negligência e maus tratos.
24

2. REFERENCIAL TEÓRICO

______. Lei n. 8.742, de 7 dezembro de 1993. Lei Orgânica da


Assistência Social. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 1993.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.


Avaliação das pessoas com deficiência para acesso ao Benefício de Prestação
Continuada da Assistência Social: um novo instrumento baseado na Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Brasília, 2007b.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.


Secretária Nacional de Assistência Social. Departamento de Benefícios
Assistenciais. Seminário Internacional do BPC. Brasília, 2010c. Disponível em:
http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/eventos/assistencia-social/seminario-interna
cional-bpc. Acesso em: 10 out. 2011.

VIANNA, Luiz Werneck. A judicialização da política e das relações


sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1999.

BOSCHETTI, I. Seguridade social e trabalho: paradoxos na


construção das políticas de previdência e assistência social no Brasil. Brasília:
Letras Livres/ UnB, 2006.

GOES, Adarly Rosana Moreira. Fundamentos históricos, teóricos e


metodológicos do serviço social II. Serviço social II . São Paulo: Pearson, 2009.

IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na


contemporaneidade: dimensões histórica, teórico e ético – política. Fortaleza:
CRESS – 3ª Região, 1997.

GOMES, Ana Lígia. O Benefício de Prestação Continuada: uma


trajetória de retrocessos e limites – construindo possibilidades de avanços? In:
Sposati, Aldaíza. Proteção Social de Cidadania: inclusão de idosos e pessoas com
deficiência no Brasil, França e Portugal. São Paulo: Cortez, 2011.
25

BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social:


fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2010.

______. Decreto n. 6.214, de 26 de setembro de 2007. Regulamenta


o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social devido à pessoa com
deficiência e ao idoso de que trata a Lei n. 8.742, de 07 de dezembro de 1993, e a
Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003, acresce parágrafo ao art. 162 do Decreto
n. 3.048, de 06 de maio de 1999, e dá outras providências. Brasil, 2007b.

SPOSATI, Aldaíza. Proteção Social de Cidadania: inclusão de


idosos e pessoas com deficiência no Brasil, França e Portugal. São Paulo: Cortez,
2011.
BRASIL. Constituição da República Federal do Brasil. Brasília.
Promulgada em 05 de outubro de1988. Senado Federal, 1988.

BRASIL. POLÍTICA NACIONAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL-PNAS,


aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social por intermédio da
Resolução nº. 145, de 15 de outubro de 2004, e publicado no Diário Oficial da União.

COUTO, Berenice Rojas. O direito social e a assistência social na


sociedade brasileira: uma equação possível? São Paulo, Cortez, 2004.

. Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993. Lei Orgânica da


Assistência Social (LOAS). Dispõe sobre a organização da Assistência Social.
Ministério da Previdência Social e Assistência Social, Secretaria de Estado de
Assistência Social.
26

2.1 AS PRIMEIRAS FORMAS DE PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL

A formação de um sistema de proteção social no Brasil se dá por um


lento processo de reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para
suprir deficiências da liberdade absoluta, partindo do assistencialismo para o Seguro
Social, e deste para a formação da Seguridade Social.
As primeiras formas de proteção social dos indivíduos no Brasil eram
de caráter eminentemente beneficente e assistencial. Assim, ainda no período
colonial, foram criadas as Santas Casas de Misericórdia, sendo a mais antiga aquela
fundada no Porto de São Vicente, depois Vila de Santos (1534), seguindo-se as
Irmandades de Ordens Terceiras (mutualidades) e, no ano de 1785, estabeleceu-
seo Plano de Benefícios dos Órfãos e Viúvas dos Oficiais da Marinha. Em matéria
de previdência social no Brasil, foi expedido em 1821, pelo ainda Príncipe Regente,
D. Pedro de Alcântara, Decreto de 1.º de outubro do mesmo ano, concedendo
aposentadoria aos mestres e professores, após trinta anos de serviço, e
assegurando um abono de ¼ (um quarto) dos ganhos aos que continuassem em
atividade.
O capitalismo, nas suas diferentes fases de desenvolvimento, tem
sido capaz de produzir tanto riqueza quanto pobreza. Nesse sentido, o Estado criou
políticas sociais para minimizar as tensões sociais visíveis na sociedade capitalista e
ao mesmo tempo reforçar a sua legitimação frente à sociedade.
A doutrina majoritária considerada em termos de legislação nacional,
como marco inicial da Previdência Social a publicação do Decreto Legislativo n.
4.682, de 24 de janeiro de 1923, mais conhecida como Lei Eloy Chaves, que criou
as Caixas de Aposentadoria e Pensões nas empresas de estradas de ferros
existentes, mediante contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo e do
Estado, assegurando aposentadoria aos trabalhadores e pensão a seus
dependentes em caso de morte do segurado, além de assistência médica e
diminuição do custo de medicamentos.
Entretanto antes mesmo da Lei Eloy Chaves, já existia a Caixa de
Aposentadoria e Pensões dos Operários da Casa da Moeda, abrangendo os
funcionários públicos daquele órgão (Decreto n. 9.284, de 30.12.11). Em seguida ao
surgimento da Lei Eloy Chaves, criaram-se outras Caixas em empresas de diversos
ramos da atividade econômica, estruturado por categoria profissional, surgindo os
27

IAP – Instituo de Aposentadoria e Pensões (dos Marítimos, dos Comerciários, dos


Bancários, dos Empregados em Transportes de Cargas).
A primeira instituição brasileira de previdência social de âmbito
nacional, com base na atividade econômica, foi o IAPM – Instituto de Aposentadoria
e Pensões dos Marítimos, criada em 1933, pelo Decreto n. 22.872, de 29 de junho.
Seguiram-se IAPC – Instituo de Aposentadoria e Pensões dos Industriários e o IAPB
– Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários, em 1934; o IAPI- Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Industriários, em 1936; o IPASE - Instituto de
Previdência e Assistência dos Servidores Públicos do Estado e o IAPETC- Instituto
de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas, em 1938.
Em 1960 foi criado o Ministério do Trabalho e Previdência Social e
promulgada a Lei n. 3.807, Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS, não unificou
os organismos existentes, mas criou normas para o amparo a segurados e
dependentes dos vários Institutos, continuando excluídos da Previdência, os rurais e
os domésticos. A Proteção Social é um conceito bem amplo, que surgiu no Brasil em
meados do século XX, para compreender as formas institucionalizadas que as
sociedades constituem para proteger o conjunto de sua população. Compreendem
todo um sistema de segurança contra riscos, perdas e danos pessoais e sociais, que
afetam as condições de vida dos cidadãos.
Para Giovanni (1998:10) constituem sistemas de proteção social as
formas às vezes mais, às vezes menos institucionalizadas que as sociedades
constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros. Tais sistemas
decorrem de certas vicissitudes da vida natural ou social, tais como a velhice, a
doença, o infortúnio e as privações.
Para Sposati, (2009:21) o sentido de Proteção supõe antes de tudo,
um caráter preservacionista e de defesa da vida, dos direitos humanos e sociais e
da dignidade humana.
A Proteção Social, como política social do Estado, emerge sob
determinadas condições históricas e adquire diferentes formas, dependendo da
trajetória econômica e política do desenvolvimento do capitalismo e das lutas dos
trabalhadores em cada realidade social.
Robert Castel (2000) vai afirmar que é a partir do reconhecimento,
do valor do trabalho e da organização da sociedade salarial que vai se constituir a
moderna Seguridade Social, com garantias contra os principais riscos da existência
28

como, por exemplo, a doença, a velhice sem pecúlio, acidentes e contingências.


Obviamente, essa construção vai se efetivar em longo processo e vai se expressar
em diferentes tendências que vão do predomínio do pensamento liberal de meados
do século XIX, até a 3ª década do século XX quando emergem as perspectivas
keynesianas e sociais democratas que propõem um Estado intervencionista no
campo social e econômico, como demonstraram Behring & Boschetti (2006).
Ampliam-se a partir daí as instituições destinadas à Proteção Social,
especialmente nas sociedades capitalistas européias, particularmente a partir das
três primeiras décadas do século passado.
“O traço mais marcante e fundamental destas configurações é o fato
dos serviços de proteção social ser implantados e geridos pelo Estado”. (...)
Assumida pelo Estado (e reconhecida pela sociedade) como função legal e legítima,
a proteção social se institucionaliza e toma formas concretas através de políticas de
caráter social.
“É importante frisar que estas políticas integram um campo próprio
de relações que envolvem, além da participação de instituições especializadas,
outros agentes e processos extremamente complexos, sempre permeados pela
incerteza.” (Giovanni,1998: 11).
Para Castel (2005: 92), a proteção social é condição para construir
uma “sociedade de semelhantes: um tipo de formação social no meio da qual
ninguém é excluído” Para o autor ser protegido do ponto de vista social é dispor , de
direito, das condições sociais mínimas para ter independência.
Trata-se da intervenção do Estado no processo de reprodução e
distribuição da riqueza, para garantir o bem estar dos cidadãos. Assim sendo, o
Sistema protetivo de uma sociedade permite aos cidadãos acessar recursos, bens e
serviços sociais necessários, sob múltiplos aspectos e dimensões da vida: social,
econômico, cultural, político, ambiental entre outros. E é dessa forma que as
políticas públicas voltam-se para a realização de direitos, necessidades e
potencialidades dos cidadãos de um Estado. Assim sendo conforme Jaccoud, “a
proteção social pode ser definida como um conjunto de iniciativas públicas ou
estatalmente reguladas para a provisão de serviços e benefícios sociais visando a
enfrentar situações de risco social ou de privações sociais.” (Jaccoud, 2009:58)
29

2.2 A trajetória da Assistência Social

O termo Política social, tem se apresentado como uma política


fundamental para o "bem estar dos cidadãos", além de se constituir em objeto de
reivindicação dos mais diferentes movimentos sociais e sindicais. Debater a política
social como política no âmbito da sociedade capitalista é buscar resgatar seu caráter
de classe social – ou seja, uma política que responde principalmente, aos interesses
das classes políticas e econômicas dominantes. É nesse contexto de relações de
classes sociais, que se insere a questão social demarcada por o acirramento de
lutas e conflitos entre capital e trabalho. No seu sentido mais amplo, "a questão
social não é senão a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre
o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais
além da caridade e repressão". (CARVALHO e IAMAMOTO, 1983, p.77).
No Brasil as políticas sociais são dadas a partir de reivindicações da
classe trabalhadora, os quais passam a lutar por seus direitos, devido perceberem a
real situação de vida em que se encontram. Pois não tinham quais quer garantia de
direitos, assim como também viviam em condições precárias, tanto de vida, como de
trabalho.
A princípio, a Assistência Social é pautada sobre a ótica do
assistencialismo, assumindo a dimensão da ajuda e da caridade. Tais obras
assistencialistas eram desenvolvidas por grupos filantrópicos, através da Igreja
Católica, sendo sustentada pelo método positivista, de interpretação da realidade,
que resultava em desempenhar ações que estivessem voltados para a solidariedade
e ajuda aos que não tinham condições de prover o seu próprio sustento. "A
assistência, no seu sentido mais lato, significa auxílio, socorro." (MESTRINER, 2008,
p.15 apud, CORREIA, 1999, p.13).
"O histórico da Assistência Social, antes de se tornar uma política
pública, é caracterizado pelo assistencialismo, pelo clientelismo, pela caridade, pelo
voluntariado e estes sentidos ainda estão presentes no cotidiano desta política.
(PESTANO, 2006)".
Em meio à sociedade capitalista, em que se acentuam cada vez
mais as expressões da questão social, a miséria e pobreza tornam-se visíveis no
país e desta forma, o Estado vem atuar de maneira estratégica, através da
conformação dos indivíduos, baseando- se no simples ato imediatista, que nega a
30

noção dos direitos sociais. Longe, portanto, de assumir o formato de política social, a
assistência social desenrolou-se ao longo de décadas, como doação de auxílios,
revestida pela forma da tutela, de benesse, de favor, que, no fim, mais reproduz a
pobreza e a desigualdade social na sociedade brasileira. (MESTRINER, 2008, p.16)
A trajetória das políticas sociais no Brasil, a partir da Constituição de
1988, na qual as conquistas mais importantes foram a reafirmação da Assistência
Social através da LOAS, a instituição da PNAS, bem como a criação do SUAS, é de
fato, um avanço para nosso país. Figuti (2006) observa que a Assistência Social se
configura como um avanço nas políticas sociais brasileiras, voltadas para a garantia
de direitos e de condições dignas de vida.
Não se pode pensar em política social sem nos remeter as
transformações societárias e do mundo do trabalho decorrentes do período pós-
segunda guerra mundial, crise do capitalismo nos anos de 1970, bem como todo o
reflexo dos princípios neoliberais que rebateram no âmbito do Estado. Na década de
1990, conforme Behring e Boschetti (2009, p. 143), se abre um novo período e
inovação, delineadas na tensão entre as conquistas constitucionais asseguradas
pelo forte movimento social da redemocratização e a contrarreforma neoliberal. As
condições econômicas e políticas desta década em diante, dificultaram os direitos
correspondentes à implementação real dos princípios democráticos.
Através dos diversos acontecimentos históricos no processo de
industrialização por volta do final do século XIX, conhecida como a Revolução
industrial, trouxe um cenário de gigantes questões sociais, e acredita-se que desta
se originam as bases do serviço social, durante bastante tempo ficando a serviço da
burguesia, e tendo como influência a doutrina social da igreja católica na intenção de
conter as explosões sociais vivenciadas na época. Conforme podemos compreender
pelo pensamento de Serra (2000, p.90).
Por volta da década de 1930 o governo do País reconheceu a
existência da questão social, que passou a ser considerada política, o que quer dizer
destinada a ser enfrentada e, se possível resolvida pelo Estado percebemos isto nas
palavras de Iamamoto; Carvalho, 1990, p. 135.
Os serviços sociais previstos em políticas sociais específicas são a
expressão de conquista da classe trabalhadora em sua luta por melhores condições
de trabalho e de vida, que são substanciadas e ratificadas através de legislação
social e trabalhista (...). O Estado e as classes patronais incorporam como suas uma
31

série de reivindicações da classe trabalhadora em sua luta de resistência face ao


capital e de afirmação de seu papel como classe na sociedade: defesa de salários
reais, direito à educação, saúde, cultura, etc. (IAMAMOTO, CARVALHO, 2001,
p.92).

2.3 A assistência Social e a Constituição Federal de 1988

A Constituição Federal de 1988 constituiu um grande marco no


direito brasileiro ao prever o chamado “Sistema da Seguridade Social”, incluindo-se
nesse conceito tanto a previdência como a assistência social. Por previdência
entende-se aquela visa proteger apenas os trabalhadores enquanto a assistência
tem o intuito de garantir que nenhum cidadão fique satisfazer suas necessidades
mínimas. Assim, quando a Constituição Federal ou outra norma legal menciona
“Seguridade Social”, está se referindo à previdência, à assistência social e também
às áreas da saúde. Ou seja, define-se por “Seguridade Social” o conjunto de ações
do Estado que visam atender às necessidades básicas no que tange à saúde,
assistência social e previdência.
No entanto, nem sempre a legislação no Brasil previa a adoção de
medidas assistenciais para proteção de pessoas em situação de necessidade. Na
verdade, a Constituição de 1988 foi a primeira a trazer em seu corpo a previsão
expressa desse instituto. As outras constituições e normas legais mencionavam
apenas o acesso à previdência social ou à saúde, mas nada falavam sobre a
assistência social.
A Constituição Federal de 1988 prevê em seu artigo 203 e 204 a
assistência social a quem dela necessitar, independente de contribuição à
seguridade social. Assim, em 13 de julho de 1993 o então Ministro de Estado do
Bem-Estar Social apresentou ao Presidente da República o projeto de lei n. 4100,
que dispunha sobre a organização da assistência social. Mais tarde, esse projeto de
lei transformou-se na Lei 8.742, de 7 de dezembro de 1993.
De acordo com Vianna (1999:151): “A Seguridade Social implica,
assim: universalidade de cobertura de atendimento; uniformidade e equivalência dos
benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; seletividade e distributividade
na prestação de benefícios e serviços; irredutividade do valor dos benefícios;
32

equidade na forma de participação no custeio; diversidade das bases de


financiamento; finalmente, gestão administrativa democrática e descentralizada, com
a participação da comunidade, em especial dos trabalhadores, empresários e
aposentados”. Sobre o ponto de vista do autor compreende-se que ele globaliza a
seguridade social amplamente em suas palavras, no tocante aos benefícios e
serviços que deveriam ser ofertados a população, além de mostrar que a gestão
desta seguridade deveria ser dentro da participação popular democraticamente e
para todos sem distinção.
Após a promulgação da Constituição Federal, realizaram-se diversos
debates sobre os rumos que a assistência social deveria seguir. Os mais
importantes, e que serviram de base para a aprovação da Lei 8742/93, foram 05
Seminários Regionais e a Conferência Nacional de Assistência Social realizado
entre maio a junho do ano de 1993, onde participaram representantes da sociedade
civil, do Poder Legislativo, através da participação de parlamentares, estudiosos da
matéria, e com destaque, representantes do “Movimento pela Ética na Política”, da
“Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais” e do “Conselho
Nacional de Segurança Alimentar”, na pessoa do sociólogo Herbert de Souza,
falecido em agosto de 1997. Foi desses movimentos que surgiram as bases do
projeto de Lei que culminou na aprovação da Lei 8742/93. A lei 8742/93 foi
elaborada com base na ideia de que a assistência social é um direito do cidadão e
dever do Estado, e não uma opção de governo. Essa é inclusive a diretriz
constitucional. Além disso, a política social estabelecida na lei possui duas principais
linhas de atuação: uma restrita, voltada apenas para aqueles que se encontram em
extrema pobreza, e outra, mais ampla, que prevê a expansão da política social de
forma que atenda aos mais necessitados, modernizando a sua forma de atuação
com a aplicação dos institutos nela previstos.
A assistência social assumiu novos contornos após ser inserida,
pelo constituinte de 1988, no âmbito da Seguridade Social. Com isso, o
assistencialismo foi reconhecido como uma política pública, integrando, juntamente
com as políticas de saúde e previdência, um sistema de proteção social.
33

3. O BENEFICIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA NO CADASTRO ÚNICO

O governo Federal criou em 2001 o instrumento normativo Cadastro


Único para Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico, instituído pelo
Decreto nº 3.877 de 24 de julho de 2001, instituindo o formulário do CadÚnico para
ser empregado pelos órgãos públicos federais para a concessão de programas
focalizados do governo federal de caráter permanente.
Neste mesmo ano, cria-se o Grupo de Trabalho responsável por
articular, orientar e oferecer apoio técnico aos municípios participantes dos
programas sociais do Governo Federal, para o desenvolvimento integrado da
sistemática de coleta de dados e informações, obtidas através do Cadúnico, este
grupo foi estabelecido por meio do Decreto de 24 de outubro de 2001.
O Cadúnico é um instrumento do Governo Federal descentralizado
em diversos municípios brasileiros e o MDS estabeleceu algumas atividades a eles:
“[...] o cadastramento das famílias de baixa renda, o registro dessas informações no
Sistema de Cadastro Único e a atualização dos dados a cada dois anos.” (BRASIL,
2012a, s.p.).
Este instrumento é utilizado para identificar e caracterizar as famílias
de baixa renda – possuidoras de renda de até meio salário per capita ou de 3 (três)
salários mínimos no total. Desta maneira, identifica-se a realidade socioeconômica
das famílias, quais sejam: informações sobre o núcleo familiar, condições do
domicílio, as formas de acesso a serviços públicos essenciais e dados de cada
membro da família, conforme preconiza o Ministério de Desenvolvimento e Combate
à Fome – MDS.
Neste contexto, cabe ao Estado “[...] formular e implementar políticas
específicas, que possam contribuir para a redução das vulnerabilidades sociais a
que essas famílias estão expostas e desenvolver suas potencialidades.” (BRASIL,
2011b).
O Cadúnico apresenta-se como meio de acesso e identificação a
quais usuários se encontram em processo de vulnerabilidade, esse instrumento está
focalizado para este público que é determinado pelo critério renda, conforme o
exposto no Decreto nº 6135, de 26 de junho de 2007, que dispõe sobre o CadÚnico.
O MDS (2011b), ressalta que as informações levantadas no CadÚnico, podem ser
usadas pelos governos estaduais e municipais para conseguir o diagnóstico
34

socioeconômico das famílias cadastradas, propiciando a ampliação das políticas


sociais locais.
Desde 2010, ocorre o repasse de informações às pessoas
envolvidas pelo cadastramento das famílias no CadÚnico nos municípios brasileiros,
sendo que o MDS (2012d), ressalta que esta atividade é oriunda de um plano de
capacitação de entrevistadores municipais sobre os formulários da versão 7 (sete)
do Cadastro Único, o qual foi realizado emparceria entre a Secretaria Nacional de
Renda de Cidadania – SENARC e as Coordenações Estaduais do Programa Bolsa
Família e do Cadastro Único.
O MDS (2012d), destaca que este plano se iniciou com a formação
de 551 (quinhentos e cinquenta e um) técnicos estaduais e municipais, tendo a
certificação do MDS e Escola Nacional de Administração Pública. Os profissionais
que terminaram a capacitação foram habilitados para instruir nas capacitações
instituídas pelos estados, permitindo o envolvimento de mais de vinte mil
entrevistadores. Ressalta-se ainda, que desde 2010 a Caixa Econômica Federal,
juntamente com a SENARC e os estados, realizam capacitações com os operadores
da nova versão do CadÚnico (versão 7). “Todos os municípios brasileiros já têm ao
menos um operador capacitado no novo Sistema.” (BRASIL, 2012d, s.p.)
Pode se cadastrar no CadÚnico, famílias que possuem renda
mensal que varia de zero até 3 salários mínimos. O cadastramento das famílias é
feito por um sistema online onde constam todos os dados das famílias. Vale
destacar que o cadastramento não significa a inclusão automática nos benefícios,
isso irá depender dos critérios de elegibilidade de cada programa. O cidadão
responde um questionário, que de acordo com as normas do CadÚnico é auto-
declaratório, também é informado sobre suas responsabilidades em relação à
veracidade das informações fornecidas. Após a coleta de dados, as informações são
transmitidas para o Governo Federal, que avalia a qualidade e a consistência das
informações.
Após o cadastramento no CadÚnico é gerado o Número de
Identificação Social (NIS) evitando as multiplicidades de cadastros, esse número é
gerado pela Caixa Econômica Federal neste âmbito, é o agente operador do
CadÚnico e o agente pagador. O NIS não é gerado exclusivamente para famílias
beneficiárias do PBF (Programa Bolsa Família), mas também para famílias que
estão incluídas em outros programas socioassistenciais. O Governo Federal, por
35

meio de um sistema informatizado, nacionalmente padronizado, tem acesso aos


dados coletados pelo CadÚnico, o que permite que sejam conhecidas as
características de cada família cadastrada no Cadastro Único, suas necessidades e
potencialidades. Isso possibilita que sejam planejadas, formuladas e implementadas
políticas públicas de proteção social específicas de forma precisa, identificando e
diagnosticando as necessidades de cada família, e até mesmo dos indivíduos que a
compõem (MDS, s.d).
De acordo com Cunha (2008, p. 13): O CadÚnico é composto por
três núcleos básicos de informação: (a) Identificação da pessoa (que gera o Número
de Identificação Social – NIS, de cada pessoa cadastrada), é composto por: nome
completo do cidadão, nome da mãe, data de nascimento, município de nascimento e
algum documento de identificação com controle nacional de emissão; (b)
Identificação do endereço e; (c) Caracterização sócio-econômica, composta por:
composição familiar (n° de pessoas, existência de gestantes, idosos, portadores de
deficiência), características do domicílio (número de cômodos, tipo de construção,
água, esgoto e lixo), qualificação escolar dos membros da família, qualificação
profissional e situação no mercado de trabalho e rendimentos e despesas familiares
(aluguel, transporte, alimentação e outros.
Como resultado, as informações hoje disponíveis no Cadastro Único
permitem não só a concessão de benefícios do PBF, mas, também, a articulação de
diferentes políticas públicas voltadas para as famílias pobres, segundo o perfil e a
demanda que apresentam, para isto foram implementados programas
complementares, cujas propostas serão conceituadas no próximo item.
De acordo com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS), o Cadastro Único é o instrumento de identificação e caracterização
socioeconômica das famílias brasileiras de baixa renda, entendidas como aquelas
que possuem renda per capita mensal de ½ (meio) salário mínimo ou renda familiar
mensal de três salários mínimos.
Considerando que os beneficiários do BPC e suas famílias possuem
características semelhantes ao público do Cadastro Único, no que concerne à renda
e às situações de vulnerabilidade e risco, o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS), órgão gestor, financiador e coordenador do BPC, instituiu
como rotina o cadastramento deste público no Cadastro Único, por meio da Portaria
nº 706, de 17 de setembro de 2010. O cadastramento tem por finalidade
36

acompanhar e ampliar o acesso do beneficiário do BPC e de sua família aos


programas sociais que utilizam o Cadastro Único, delinear o perfil socioeconômico e
subsidiar o processo de revisão bienal do benefício. Esta ação é promovida
conjuntamente pela Secretaria Nacional de Assistência Social - SNAS e a Secretaria
Nacional de Renda de Cidadania - SENARC.
A utilização do Cadastro Único para o registro dos dados das
famílias dos beneficiários do BPC possibilitará: um conhecimento mais aprofundado
destes beneficiários e de suas famílias; a realização do diagnóstico das situações de
risco e vulnerabilidade social; o acompanhamento familiar para a inclusão deste
público na rede de serviços socioassistenciais e de outras políticas setoriais; além
de servir como base de dados para o processo de revisão bienal no Módulo de
Reavaliação do Sistema de Gestão do Benefício de Prestação Continuada da
Assistência Social - SIGBPC. A meta é o cadastramento de todos os beneficiários do
BPC e suas famílias no Cadastro Único. A atividade de cadastramento deste público
deve se tornar uma rotina no que se refere à execução da Política de Assistência
Social no âmbito municipal.
Ainda segundo o MDS (Ministério de Desenvolvimento Social e
Combate à Fome), com a inclusão dos beneficiários do BPC e de suas famílias na
base de dados do Cadastro Único, os gestores públicos podem obter informações
para elaborar o diagnóstico visando o enfrentamento das situações de risco e
vulnerabilidade social e realizar o acompanhamento familiar para a inclusão deste
público na rede socioassistencial e outras políticas sociais, conforme disposto no
Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda no
âmbito do Sistema Único da Assistência Social - SUAS.
Assim, os beneficiários do BPC e de suas famílias poderão ser
incluídos nos diversos programas sociais do Governo Federal que utilizam o
Cadastro Único. Além disso, tal cadastramento contribuirá para o aperfeiçoamento
da gestão dos serviços socioassistenciais e irá colaborar para o aprimoramento do
planejamento, formulação e execução da política de assistência social, a partir do
mapeamento das demandas e necessidades das famílias que se encontram em
situação de vulnerabilidade.

4. REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO BPC


37

Pessoa Idosa – idoso deverá comprovar cumulativamente ter 65


anos de idade ou mais; renda mensal bruta familiar, dividida pelo número de seus
integrantes, inferior a um quarto do salário mínimo e não possuir outro benefício no
âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, inclusive o seguro-desemprego,
salvo o de assistência médica e pensão especial de natureza indenizatória.
Pessoa com Deficiência – PCD deverá comprovar de forma
cumulativamente: a existência de impedimentos de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,
obstruam sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas; renda mensal bruta familiar, dividida pelo número de seus
integrantes, inferior a um quarto do salário mínimo e não possuir outro benefício no
âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, inclusive o seguro-desemprego,
salvo o de assistência médica e a pensão especial de natureza indenizatória, bem
como a remuneração advinda de contrato de aprendizagem. A remuneração da
pessoa com deficiência na condição de aprendiz não será considerada para fins do
cálculo da renda per capita familiar (Lei 12.470/2011).
A acumulação do benefício com a remuneração advinda do contrato
de aprendizagem pela pessoa com deficiência está limitada ao prazo máximo de
dois anos, de acordo com regra estipulada pelo Decreto 7.617/2011. Para efeito de
concessão deste benefício, em conformidade com as Leis 12.435/2011 e
12.470/2011, considera-se: I – pessoa com deficiência: aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais
em interação com diversas barreiras podem obstruir sua participação plena e efetiva
na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas; II – impedimento
de longo prazo: aqueles que incapacitam a pessoa com deficiência para a vida
independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de dois anos.
A Pessoa com Deficiência – PCD deverá ser avaliada se a sua
deficiência o incapacita para a vida independente e para o trabalho, e esta avaliação
é realizada pelo Serviço Social e pela Perícia Médica do INSS. E, ainda, segundo o
art. 16 do Regulamento do LOAS: “a concessão do benefício à pessoa com
deficiência ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau de impedimento, com
base nos princípios da Classificação Internacional de Funcionalidades, Incapacidade
e Saúde – CIF, estabelecida pela Resolução da Organização Mundial da Saúde n.
38

54.21, aprovada pela 54.ª Assembleia Mundial da Saúde, em 22 de maio de 2001.”


(Redação dada pelo Decreto n. 7.617, de 2011).

4.1 Como Requerer o BPC

O requerente poderá procurar a Secretaria Municipal de Assistência


Social, Centros de Referência de Assistência Social – CRAS ou órgão similar no seu
município para receber as informações sobre o BPC e apoios necessários para o
requerimento. A Agência do INSS é o órgão responsável pelo recebimento do
requerimento e pelo reconhecimento do direito ao BPC.
Para requerer o BPC, a pessoa idosa ou com deficiência deve
procurar uma Agência do INSS, preencher o formulário de solicitação do benefício,
apresentar declaração de renda dos membros da família, comprovar residência e
apresentar os documentos de identificação próprios e da família.
Para tanto, é recomendável fazer o agendamento do atendimento,
com data e hora marcada. O requerente pessoa com deficiência deve passar por
avaliação da incapacidade para a vida independente e para o trabalho, realizada
pela perícia médica e pelo (a) assistente social do INSS. Esta avaliação será
agendada pelo INSS. Quando comprovada a impossibilidade de deslocamento da
pessoa com deficiência até o local de realização da avaliação da incapacidade, ela é
realizada em seu domicílio ou instituição em que estiver internado.

4.2 Requisitos Econômicos para fins de concessão do BPC

Para fins do cálculo da renda per capita, a família é composta pelo


requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a
madrasta ou padrasto, os irmãos solteiros, os filhos solteiros e os menores
tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto (Lei n. 12.435/2011).
A renda mensal bruta corresponde a: somam dos rendimentos
brutos auferidos mensalmente pelos membros da família composta por salários,
proventos, pensões, pensões alimentícias, benefícios de previdência pública ou
privada, seguro desemprego, comissões, pró-labore, outros rendimentos de do
trabalho não assalariado, rendimentos do mercado informal ou autônomo,
rendimentos auferidos do patrimônio, Renda Mensal Vitalícia e Benefício de
39

Prestação Continuada Decreto n. 7.617/2011.


Para comprovar a renda de todos os integrantes da família,
devem ser apresentados os seguintes documentos:
• Carteira de trabalho e previdência social com as devidas
atualizações;
• Contracheque de pagamento ou documento expedido pelo
empregador;
• Guia da Previdência Social - GPS, no caso de contribuinte
individual; ou
• Extrato de pagamento ou declaração fornecida por outro regime de
previdência social pública ou privada.

Para efeitos do cálculo da renda familiar per capita do beneficiário,


devem ser considerados todos os ingressos provenientes de qualquer forma de
trabalho, salário, remuneração, aposentadoria, benefício, pensão, rendimentos,
recebimento por prestação de serviços, arrendamentos, ou assemelhados auferidos
pelos componentes do grupo familiar. Assinalar a coluna que corresponda à origem
dos rendimentos e registrar o seu valor na coluna “Rendimento Mensal”. Fazer
observação à margem do formulário, quando não tiver coluna específica que
identifique a origem dos rendimentos.
Não considerar renda os apoios financeiros esporádicos recebidos
pela família e seus integrantes, em decorrência de estarem fazendo parte de
programas específicos como: bolsa-família, renda mínima para garantia da
educação dos filhos ou para erradicação do trabalho infantil, salário desemprego ou
similares, bem como, o valor do Benefício de Prestação Continuada - BPC da
pessoa que está sendo avaliada e, no caso específico de idosos, não considerar os
valores dos benefícios já concedidos a outros idosos na mesma família. A renda do
tutor, desde que este esteja domiciliado sob o mesmo teto do beneficiário, integra o
cálculo da renda per capita familiar.
Em caso de existência de procurador ou curador, considerar a renda
destes, apenas quando forem integrantes da família, na forma do conceito adotado
para este benefício. O valor da renda per capita familiar do beneficiário é obtido
somando-se os valores das rendas dos integrantes do grupo familiar e dividindo pelo
número de pessoas que o compõe.
40

De acordo com o parágrafo 3º do art. 20 da LOAS, com alteração


introduzida pela Lei nº 9.720/98, a renda familiar mensal deve ser declarada pelo
requerente ou seu representante legal, sujeitando-se aos demais procedimentos
previstos no regulamento para o deferimento do pedido. Os assistentes sociais
devem observar os documentos de comprovação das informações prestadas na
declaração pelo beneficiário ou seu representante legal e informar se a renda per
capita obtida enquadra-se na exigência da lei (inferior a ¼ do salário mínimo na data
da avaliação). Devem ainda, assinar e informar o local e a data onde foi realizada a
visita domiciliar.
Para o requerimento do BPC, além da apresentação dos
documentos pessoais e da família, é necessário o preenchimento dos seguintes
formulários: Requerimento de Benefício Assistencial; e Declaração sobre a
Composição do Grupo e Renda Familiar. Esses formulários devem ser preenchidos
e assinados pelo requerente ou por seu representante legal e podem ser
encontrados nas Agências da Previdência Social, bem como no site do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS (www.mds.gov.br) e da
Previdência Social (www.previdenciasocial.gov.br).
A falta de formulário próprio não impedirá que seja aceito qualquer
requerimento pleiteando o benefício, desde que nele constem os dados necessários
ao seu processamento.

4.3 Concessão

O INSS é o órgão responsável pela concessão, reconhecimento do


direito e o pagamento do Benefício de Prestação Continuada (art. 20, §6º, LOAS).
Para tanto o interessado deve formular pedido administrativo junto a uma Agência
do INSS, apresentando os documentos e informações necessárias à comprovação
das condições que dão origem à concessão do benefício.
Após a avaliação realizada pela perícia médica e pelo assistente social do
INSS, será enviada ao requerente uma carta informando se o benefício foi
concedido ou indeferido. Caso o benefício seja indeferido, cabe recurso perante a
Junta de Recursos da Previdência Social, no prazo de 30 (trinta) dias a contar do
recebimento da carta de indeferimento. Além do recurso administrativo, ou no caso
41

de improvimento do mesmo, poderá o requente socorrer-se às vias judiciais para


pleitear o benefício.
Mencione-se, que há quem entenda que a ausência de requerimento
administrativo implicaria em falta de interesse de agir, não podendo o pedido de
benefício assistencial ser apreciado pelo judiciário sem antes passar pelo âmbito do
INSS.
De acordo com SAVARIS (2008, p. 320): Quando se pretende a obtenção
de um benefício assistencial ou de um benefício previdenciário (como aposentadoria
por idade ou pensão por morte) é necessário, segundo jurisprudência dominante,
que o interessado primeiramente formule seu pedido administrativamente, junto ao
INSS. Apenas no caso de indeferimento é que ele pode ajuizar ação de concessão
de benefício assistencial ou ação de concessão de aposentadoria ou pensão.

5. OS BENEFICIOS NA PREVIDÊNCIA SOCIAL E NA ASSISTÊNCIA SOCIAL


42

ATÉ A LOAS

A nova Constituição determina que as áreas da Seguridade Social


expressem e devem dar cobertura às necessidades básicas dos cidadãos: Saúde
(prevenção, proteção e recuperação), Previdência (perda ou redução de renda) e
Assistência (seleção, prevenção e eliminação de riscos e vulnerabilidades sociais).
(Simões, C. 2009).
A Seguridade Social implantada pela Constituição Federal de 1988
prevê em sua estrutura as políticas de Assistência Social, Previdência Social e
Saúde. A Saúde trabalha essencialmente com serviços e é uma política universal; a
Previdência gera benefícios e é uma política contributiva e a Assistência Social
constitui-se de serviços e benefícios e não é universal e nem contributiva, pois é
voltada para a população em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social.
Esta função se amplia no contexto neoliberal, onde as camadas vulnerabilizadas e
em risco se avolumam frente às consequências econômicas e sociais do sistema.
Este sistema passa a ser regido por novos princípios e diretrizes,
que muitas vezes parecem contraditórios, porém são complementares, pois
contemplam as três áreas da Seguridade Social e suas respectivas funções:
universalidade e seletividade, centralização e descentralização, distributividade e
redistributividade, gratuidade e contributividade. (Salvador e Boschetti, 2002).
Com a Seguridade Social foram redistribuídos entre a Previdência e
a Assistência Social os benefícios de cobertura de riscos e prestações de
substituição de renda. A LOAS instituiu para a Assistência Social o pagamento de
alguns benefícios que anteriormente eram de competência da Previdência, como os
Benefícios Eventuais. Infelizmente estes benefícios na Assistência Social até hoje
ainda não foram completamente regulados nos municípios brasileiros.
Através do conceito e organização do sistema da Seguridade Social
houve a institucionalização de benefícios previdenciários (contributivos) e
assistenciais (não contributivos). As prestações assistenciais estão atreladas à baixa
renda e a incapacidade para o trabalho, enquanto critérios para acesso ao benefício.
(Salvador e Boschetti, 2002).
No contexto da Seguridade são previstos dois tipos de sistema de
cobertura: um sistema que prevê cobertura e acesso à Previdência pelo fato do
exercício do trabalho e um sistema que prevê Assistência as camadas
43

vulnerabilizadas e inaptas para o trabalho, porém esta concepção funciona em uma


sociedade onde a proteção social é assegurada a todos os trabalhadores integrados
no sistema produtivo. Porém esta forma de organização da seguridade não
considera os pobres economicamente ativos que ainda estão em condições de
trabalhar, mas que não obtêm oportunidades ou são expulsos do sistema produtivo
e que consequentemente não contribuem para a seguridade social, resultando em
uma significativa parcela da população sem cobertura e proteção social.
Esta questão é altamente complexa e necessitaria de mudanças,
pois com o agravamento das questões sociais esta forma de funcionamento do
sistema agrava gradualmente as condições de vida das populações
vulnerabilizadas.
Na atual conjuntura e transformações societárias, a concepção entre
acesso a direitos e contribuição excluem aproximadamente 1/3 da população ativa
sem ocupação formal (Salvador e Boschetti, 2002) passando a competência da
Previdência para a Assistência, onerando e sobrecarregando uma área que já
possui uma enorme demanda por questões sociais e que acumula uma
consequência estrutural da sociedade capitalista, ou seja, esta parte da população
por não ter proventos, dependerá dos benefícios assistenciais, aumentando os
custos à sociedade e de suas famílias de forma direta ou indireta.
Esta reforma previdenciária realizada no final dos anos 90 significou
uma perda no valor do benefício para algumas categorias, sendo que houve um
achatamento do “teto”, porém houve a inclusão de outras categorias que ainda não
eram contempladas pelo sistema (ex: Trabalhadores domésticos), aumentando o
percentual de aposentadorias entre 1 e 2 salários mínimos.

5.1 Benefícios Eventuais:

A LOAS de 07/12/93 instituiu como responsabilidade da Assistência


Social e da União, o pagamento de alguns benefícios que eram obrigação anterior
da Previdência Social e por consequência institucionalizou a distinção entre
benefícios previdenciários e socioassistenciais. Como benefícios socioassistenciais
podemos citar o Beneficio de Prestação Continuada (BPC), eventuais e de
transferência de renda.
O BPC é um benefício socioassistencial previsto no artigo 203 da
44

Constituição Federal – 1988 na Lei 8.742 (LOAS – Art. 20 e 21) – 07/12/1993, na Lei
10.741 (Estatuto do Idoso) – 01/10/2003 e nos Decretos: 1.744 de 08/12/1995
(Revogado), 4.712 de 29/05/2003 (Revogado), 6.214 de 26/09/2007 (em vigor).
Este benefício é um direito garantido pela Constituição Federal de
1988 e consiste no pagamento de 01 (um) salário mínimo mensal a pessoas com 65
anos de idade ou mais e a pessoas com deficiência incapacitante para a vida
independente e para o trabalho. Em ambos os casos a renda per capita familiar deve
ser inferior a ¼ do salário mínimo. O BPC também encontra amparo legal na Lei
10.741, de 1º de outubro de 2003, que institui o Estatuto do Idoso. O benefício é
gerido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), a quem
compete sua gestão, acompanhamento e avaliação. Ao Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), compete a sua operacionalização. Os recursos para custeio do BPC
provêm do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS).
Os Benefícios Eventuais estão previstos na Lei 8.742 (LOAS – Art.
22), na Resolução CNAS 212 de 19/10/2006 e no Decreto Presidencial 6.307 de
14/12/2007. Todavia eles já haviam sido criados pelo sistema de proteção da
Previdência Social desde 1954, com a denominação de auxílio maternidade e
funeral através do decreto nº. 35.448, em 1º de maio. Eram pagos de forma única,
no valor de um salário mínimo vigente, aos beneficiários previdenciários, que
contribuíssem para a Previdência Social. O auxílio maternidade era pago tanto a
mãe, que fosse segurada, quanto ao pai, desde que tivessem contribuído no mínimo
12 meses. O auxílio por morte era pago ao responsável pelas despesas do funeral
do beneficiário da Previdência Social.

5.2 O BPC enquanto direito de viver com dignidade

De acordo com a LOAS (Lei nº 8742 / 93), em seu art. 20, “o


beneficio de prestação continuada é a garantia de um salário mínimo mensal à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais e que comprovem
não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua
família”. Ainda de acordo com esta lei, a pessoa portadora de deficiência é aquela
incapacitada para a vida independente e para o trabalho.
Para adequar-se aos critérios, a pessoa portadora de deficiência ou
idosa deve possuir renda familiar mensal per capita inferior a ¼ de salário mínimo, o
45

que significa em números hoje, a renda mensal per capita inferior a R$ 103, 75.
Este é um beneficio de assistência social, integrante do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), pago pelo governo Federal através do INSS, e
assegurado por lei. Segundo o material informativo do Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, os beneficiários do BPC ganham
autonomia, independência e passam a participar muito mais da vida comunitária. No
entanto, para ser incluído no beneficio, as pessoas precisam se enquadrar aos
critérios do programa, entre eles, como está disposto no art. 20, inciso 4º, o que
determina que o beneficio não pode ser acumulado pelo beneficiário e por pessoas
de sua família (que vivam sob o mesmo teto) com qualquer outro no âmbito da
seguridade social ou de outro regime, salvo o de assistência médica.
A família é o eixo-central na sustentação das pessoas portadoras de
deficiência. Além de sustentá-las materialmente, é a base afetiva, educativa e
subjetiva. No entanto, são muitas as famílias que enfrentam dificuldades na
organização econômica e social, principalmente quando são relevantes as
condições de baixa renda e vulnerabilidade social.
Sendo assim, além de todas as implicações de ordem subjetiva que
a família enfrenta pelo fato de possuir um portador de deficiência na família, que
envolve a delicada questão de aceitação e rejeição desta realidade, esta passa por
situações de fragilidade quanto à capacidade de manter as necessidades básicas de
todas as famílias, e mais ainda quanto a necessidades extras que surgem pela
presença de um portador de deficiência na família, que implica em atendimento
especial.
Deste modo, os idosos e PPDs encontram no BPC uma garantia de
uma fonte, ainda que mínima, de sobrevivência. O BPC muitas vezes é a única
renda do grupo familiar do idoso ou da pessoa com deficiência. Com este recurso é
possível manter, no caso dos idosos, certa autonomia e independência, na medida
em que estes conseguem suprir as suas despesas cotidianas. No caso das pessoas
com deficiência, através deste recurso é possível, ainda que precariamente, manter
a compra de medicamentos, alimentos, gastos com luz, água, etc. assim, é inegável
que o BPC é um direito importante e uma estratégia para garantir a sobrevivência
das famílias beneficiadas.

6. A DESIGUALDADE DE TRATAMENTO ENTRE OS BENEFICIÁRIOS DO


46

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA – BPC.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5.º, caput reza que


“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes...”.
A Lei n. 8.742/1993, em seu artigo 20 prescreve que “o benefício de
prestação continuada” é a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso com 65(sessenta e cinco anos) anos ou mais que comprovem
não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua
família (Redação dada pela Lei n. 12.435, de 2011).
Uma comparação entre os benefícios revela-se que os destinatários
são cidadãos carentes, pessoas de poucos recursos que precisam da assistência e
amparo do Estado, direitos garantidos constitucionalmente, tratando de forma
igualitária o idoso e o portador de deficiência. O direito ao Benefício de Prestação
Continuada, previsto na Lei 8.742/1993, tratou em um único dispositivo legal, ou
seja, no art. 20, da retro mencionada lei, da concessão do referido benefício tanto ao
idoso quanto à pessoa portadora de deficiência, oferecendo assim o mesmo
tratamento legal.
Há uma distinção de tratamento criada pela entrada em vigor da Lei
n.10.741/2003, aos destinatários da Lei 8.742/1993 e art. 203, V, da CF/1988. O art.
34 da Lei 10.741/2003(Estatuto do Idoso) estabelece em seu parágrafo único que “o
benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para fins de cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS”
(Lei 8.742/1993).
Sem deixar de reconhecer a importância do BPC para as famílias
beneficiadas, como uma estratégia de sobrevivência, por outro lado, precisa-se
reiterar que devido aos rigorosos critérios de inclusão neste beneficio, muitas
famílias não conseguem ter acesso a ele. Os problemas de idosos e de famílias de
pessoas com deficiência vão muito além da dimensão financeira, ou seja, circulam
num complexo universo de vulnerabilidade, exclusão e não acesso aos direitos
sociais legalmente instituídos pela Constituição Federal de 1988, e regulamentados
posteriormente pela LOAS. Neste complicado universo de vulnerabilidade, existe a
47

indignação das famílias, que mesmo depois de inúmeras tentativas, não obtém êxito
no acesso ao BPC. A busca pelo direito que muitas vezes, demora a ser efetivado,
passa invariavelmente pelo atendimento do Serviço Social, no processo de
encaminhamento da ação judicial.
Embora o acesso a medicamentos seja garantido universalmente
pelo SUS – Sistema Único de Saúde, a família em geral precisa arcar com
medicamentos para a pessoa portadora de deficiência e também para o idoso,
especialmente aqueles de uso contínuo. Assim, pode-se constatar que o Sistema de
Seguridade Social não funciona como deveria, pois o BPC deveria ser uma garantia
ao exercício da cidadania para os idosos e pessoas com deficiência, sendo uma
forma de incluir estas pessoas socialmente, mas acaba tendo de ser usado para
garantir o suprimento de outra necessidade que não é sanada pelo serviço de
saúde. Nessa perspectiva, um direito é usado para substituir outro que não funciona,
e diante disso, cabe questionar até que ponto os direitos sociais saem do papel e
passam a ser direitos usufruídos realmente pelas pessoas.
De acordo com Nogueira (2005), há uma grande distância entre
os direitos sociais formulados e sancionados pela lei, até a sua verdadeira
implementação. Este autor aponta possíveis causas para esta defasagem, entre
elas, a falta de vontade política de governantes, a interferência do capital no intuito
de enfraquecer e desmerecer o Estado perante a sociedade e a ínfima parcela do
orçamento público que é aplicada em táticas de fortalecimento dos direitos legais.
As famílias têm muita dificuldade de acesso ao BPC devido aos
critérios de seletividade, expressos na delimitação rigorosa da renda: ela deve ser
inferior a ¼ do salário mínimo, não podendo nem mesmo ser igual a este valor.
Sendo assim, é necessário que a família se encontre quase em condição de
miserabilidade para que possa ter acesso ao beneficio, e por causa disso, são
muitas as pessoas que ficam excluídas mesmo precisando enormemente do auxílio.
O exame médico pericial também se constitui como um entrave, pois
além da dificuldade em passar pelo exame e conseguir enquadrar-se no benefício,
as pessoas precisam passar periodicamente pela mesma perícia. Isso engloba os
aspectos psicológicos desta medida, pois os idosos precisam estar constantemente
comprovando que ainda estão vivos, e a família da pessoa com deficiência, precisa
comprovar periodicamente que esta continua com a deficiência, ainda que esta seja
permanente. Esta medida se constitui, portanto num mecanismo humilhante e
48

vexatório para o idoso e para a família da pessoa com deficiência.


Acentuam-se também a estigmatização de estrangeiros
naturalizados ou não, ou mesmo filhos de estrangeiros, sendo que esta condição
denota um fator de exclusão. Ou seja, os idosos ou PPDs que são estrangeiros
naturalizados, ou os filhos de estrangeiros, ao tentar receber o BPC, encontram
dificuldades ainda maiores no seu deferimento. E ainda, há a proibição de
benefícios cumulativos na mesma família. De acordo com a cartilha informativa do
MDS, em relação ao idoso, se existe outro idoso na família que recebe o BPC, este
valor não entra no cálculo da renda familiar, mas no caso de pessoas com
deficiência, se já existe uma pessoa na família, outra pessoa com deficiência ou
idoso que recebe o BPC, este valor entra no cálculo da renda familiar, e impossibilita
o acesso.
Segundo Gomes (2001), exige-se comprovação de renda de todos
os membros da família, o que acaba condicionando e limitando o direito da pessoa
ao benefício, traduzindo, em seu limite, a proibição de que mais de uma pessoa na
família tenha o beneficio, tornando-se assim, um benefício “familiar” e não um
benefício da Pessoa Portadora de Deficiência.
Por outro lado expressa o BPC como o mínimo para a sobrevivência
diante das condições de vulnerabilidade socioeconômica. Para as famílias, o BPC
constitui fator determinante para a promoção da inclusão/integração social dos PPDs
e para o cumprimento do papel de socializar e participante na construção da
cidadania dos mesmos.
A definição é por demais seletiva, adotando o que nos parece, o
princípio e a lógica da exclusão, quando considera como família incapaz de manter a
Pessoa Portadora de Deficiência ou idoso aquela que cada um de seus membros
obtenha a provisão de suas necessidades no mercado [...] com ¼ de salário mínimo
[...] (GOMES, 2001).
Neste contexto, por vezes, a seletividade na concessão do benefício
não se esgota em si mesma e torna-se passível de reclamação judicial, e isso vem a
transgredir o princípio de universalização garantido legalmente. Este, sem dúvida, se
constitui num embate polêmico, e colocam em evidência os limites de
operacionalização das normas constitucionais. Esta discussão traz o quanto é difícil
acessar este direito garantido por lei, uma vez que quando o perito não autoriza o
beneficio, o requerente acessa à justiça e são os magistrados que tomam a decisão
49

final.

6.1 O desafio da igualdade

O BPC é um benefício assistencial de transferência de renda para


idosos ou pessoas com deficiência incapacitadas para o trabalho e a vida
independente. Disposto no inciso V do artigo 203 da Constituição Federal de 1988, o
benefício encontra-se em funcionamento no Brasil desde 1993. O valor da
transferência equivale a um salário mínimo mensal. As transferências independem
de contribuições prévias para o sistema de seguridade social e não são
condicionadas a qualquer contrapartida. Todas as pessoas extremamente pobres
acima de 65 anos, deficientes ou não, são elegíveis ao benefício. No caso dos
deficientes não idosos, apenas aqueles extremamente pobres incapacitados para a
vida independente e o trabalho podem receber o BPC, embora na prática a
capacidade de praticar atos da vida cotidiana (banhar-se, comer, vestir-se,
caminhar) tenha deixado de ser determinante para o benefício após a Ação Civil
Pública nº 2730000002040/AC, de 11 de abril de 2007.
Peritos médicos do INSS realizam testes para avaliar a condição de
deficiência dos requerentes. A seleção de beneficiários é feita por avaliação da
renda familiar, comprovação de idade, no caso de idosos, e exame médico pericial,
no caso de deficientes. A idade é comprovada por meio de documentação, e o
principal desafio neste ponto diz respeito à ausência de registro civil de uma parte
não desprezível da população brasileira. O sistema de transferências prevê
reavaliações sistemáticas a cada dois anos para verificar a persistência dessas
condições (Santos et alii, 2009).
O indivíduo não pode acumular o recebimento com outros
benefícios, embora sua família, em tese, possa. Na prática, entretanto, isso não
ocorre devido à focalização na extrema pobreza: o programa atende, basicamente,
pessoas em famílias que não recebem nenhum outro tipo de transferência. É raro o
recebimento de dois benefícios em família com mais de uma pessoa deficiente,
embora isso tenha se tornado possível, depois de alterações recentes na legislação,
em famílias com mais de uma pessoa idosa (Brasil, 2003e). Existem projetos de lei
no Congresso Nacional propondo a equiparação das pessoas deficientes aos idosos
nesse sentido (Brasil 1996, 2003b, 2005; Bonfim, 2009).
50

Em sua caracterização como política social, é válida a consideração


de Kerstenetzy (2010), de que os direitos que embasam tais políticas não são
naturais, e sim, são uma construção dinâmica, capaz de se modificar segundo as
concepções que se assuma para o bem-estar e para os riscos sociais. No caso do
BPC, conforme Coelho, Tapajós e Rodrigues (2010) a criação deste benefício ocorre
no contexto da compreensão da incapacidade do mercado em absorver
determinadas pessoas sem condições de participar, em igualdade de condições, da
concorrência no mercado de trabalho.
O BPC permite que, com o auxílio, as pessoas idosas e deficientes
extremamente pobres possam enfrentar com um mínimo de dignidade as
vulnerabilidades pela insuficiência de renda.

7. A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA PÚBLICA


51

A Assistência Social no Brasil foi historicamente uma política


estigmatizada, dado sua forma de atuação com enfoques compensatórios e/ou
paliativos direcionados ao enfrentamento da extrema pobreza. A trajetória das ações
assistenciais percorreu um contexto fundamentado na atuação das “demandas
sociais identificadas como necessidades ou privações” sendo concebidas ao longo
da história como “ajuda” nas dificuldades e privações, atribuídas à vida individual do
“necessitado” – e não ao campo de responsabilidade do Estado - ficando numa
balança entre a inviabilidade e caridade pública e/ou privada (GOMES, 2001, p.
113). Segundo a referida autora, a assistência social se institucionalizou e formou
como “práticas descontínuas, desarticuladas e casuísticas, com financiamento
incerto e instável, [...] em geral, àqueles sem trabalho e incapacitados por
determinadas contingências, como infância, velhice, doença e invalidez” (p.113).
Sua inclusão no âmbito da política pública, reconhecimento como
proteção incondicional e vetor para a prática social - como parte integrante da
Seguridade - aconteceu apenas com o marco constitucional de 1988. Somente a
partir do texto constitucional a assistência é reconhecida no campo social, de
responsabilidade pública, em sua garantia de cobertura e de provisão. Enquanto
política da seguridade são delineados objetivos, diretrizes, financiamento e
organização da gestão inscritos no campo da proteção social. (SILVA E SILVA,
YASBEK, GIOVANI, 2006) nos indica que os sistemas de proteção social “[...] são
formas, às vezes mais, às vezes menos institucionalizadas que todas as sociedades
humanas desenvolvem para enfrentar vicissitudes de ordem biológica ou social que
coloquem em risco parte ou a totalidade de seus membros” (p.17).
Segundo Couto (2004, p 159) uma política de seguridade social
propõe um sistema de proteção integral do cidadão, protegendo-o quando no
exercício da sua vida laboral, na falta dela, na velhice e nos diferentes imprevistos
que a vida lhe apresentar, tendo para a cobertura ações não contributivas para com
a política de saúde e de assistência social.
Em se tratando de proteção social, no caso brasileiro as primeiras
medidas identificadas com princípios de seguridade, são do final da década de 1920
com a criação das primeiras caixas de pensão, e somente “[...] em 1988, com a
promulgação da Constituição Federal, que o conceito de Seguridade Social ganhou
substância e visibilidade” (PEREIRA, 1998, p.65). Segundo a autora é a partir do
52

marco constitucional, que a seguridade social passa a abranger um novo patamar


mais amplo para a saúde e a assistência, enquanto política não contributiva e
universal para todos.
O sistema de proteção social começa a ganhar uma visão diferente
a partir da Constituição Federal de 1988, passando a ter como objetivo a proteção
de todos, nas situações geradoras de necessidades, por meio de ações voltadas
para a sociedade através da saúde, previdência e assistência social, constituindo-se
no principal instrumento do marco constitucional para a implementação dos objetivos
do Estado brasileiro, em especial, a erradicação da pobreza e a redução das
desigualdades sociais. No contexto do sistema brasileiro de proteção social, os
avanços legais ocorreram de maneira tardia, quando comparado com os países de
economia avançada, uma vez que o país passou por um contexto de governos
ditatoriais, da construção de projetos políticos alicerçados nos interesses e
particularidades da burguesia e voltados à estabilidade econômica a qualquer custo.
A luta pela ampliação dos direitos sociais da sociedade civil vai ter
mais efetividade na década de 1980, principalmente a partir da CF/88 obtém-se o
reconhecimento legal dos referidos direitos, introduzindo a noção de Seguridade
Social e ampliando responsabilidades do Estado na garantia dos mínimos sociais.
Sob este enfoque, segundo a Constituição Federal de 1988 em seu
Art. 194, compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
I – universalidade da cobertura e do atendimento;
II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações
urbanas e rurais;
III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV – irredutibilidade no valor dos benefícios;
V – equidade na forma de participação no custeio;
VI – diversidade da base de financiamento;
VII – caráter democrático e descentralizador da administração, mediante
gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos
empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.
(BRASIL, 1988).

Registre-se ainda que o tripé da seguridade social seja determinado


na Constituição Federal de 1988 em seu Art. 204 estabelecendo, “a saúde aparece
como direito de todos e dever do Estado; a previdência será devida mediante
53

contribuição, enquanto a assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição” (COUTO, 2004, p.159).
A concepção assumida pela CF/88 provoca uma profunda e radical
ruptura com o que se tinha até então sobre direito social e estabelece a obrigação
legal do direito. A partir de então, a assistência social deixa de ser política isolada e
complementar da Previdência Social e adquire visibilidade como política pública,
transformando como direito o que era visto como favor, rompendo com a visão de
apenas compensatória e emergencial aos pobres e necessitados, passando a fazer
parte da proteção social.
De acordo com Pereira (1998, p. 69) a Assistência Social ganha
um novo caráter, ou seja, a partir daí ela ganha status de direito social, ao mesmo
tempo em que passa a ser identificada com uma política que deve concretizar o
direito que este status representa. É por isso que se diz que, a partir de 1988, a
Assistência Social, além de se ter tornado um componente da Seguridade Social,
passou a ser um direito social que deverá ser concretizado por uma política pública
correspondente – a política de Assistência Social.
Porém a construção das legislações sociais, bem como a
Constituição, foi insuficiente para garantir a melhoria e qualidade de vida da
população, segundo Couto (2004 p.144) “as garantias constitucionais que foram
consubstanciadas em legislações posteriores passaram a ser alvo de desmonte
pelos governos que sucederam à Constituição”. A nova concepção da Seguridade
Social a partir da Constituição, e o reconhecimento dos direitos sociais em sua
formulação, posteriormente (a partir da década de 1990) passam por muitos
enfrentamentos principalmente a política de Assistência Social, pois suas demandas
sociais continuaram muitas vezes sendo abordadas de maneira pontuais e
fragmentadas.
Assim, nos governos que seguiram após a Constituição, conduziram
a determinados temas do cotidiano político nacional, tais como reforma seguridade
social, desregulamentação de mercados, flexibilização das regras de contratação de
mão-de-obra e privatizações do patrimônio público de forma a promover uma
mudança estrutural no Estado brasileiro.
No que se refere à regulamentação específica da política de
Assistência Social, esta reflete avanços e os retrocessos do referido momento
histórico e as dificuldades da conquista dessa nova perspectiva. A aprovação da
54

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social teve forte resistência sendo que no início
do governo Collor seu primeiro projeto de lei já havia sido vetado. Foi somente com
Itamar Franco (então presidente), que ocorreu a aprovação da LOAS. Neste sentido,
cabe mencionar, como nos indica Couto (2004), que as fragilidades conceituais
contidas no texto da LOAS, são resultantes do percurso de modificações enquanto
tramitava no Congresso Nacional e que “a aprovação dessa lei foi resultado de
movimento de parcela da sociedade civil, de organismos de classe e da ação do
Ministério Público que ameaçava processar a União pelo descuido com a área”
(p.147).
Nesta perspectiva, reafirmando o conceito de Seguridade
Social, a LOAS dispõe em seu 1º artigo:
A Assistência Social, direito do cidadão e dever do Estado, é política de
Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada
através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade,

para garantir o atendimento das necessidades básicas (LOAS,1993).

Seu texto legal introduz a assistência social no campo de


concretização de direitos sociais, como voltado a atender a população, que tem
historicamente tem seus direitos negligenciados, garantindo a provisão necessária
ao enfrentamento das dificuldades que poderão surgir, expressando o direito de
cidadania e o acesso a benefícios. A área da Assistência Social é introduzida no
âmbito da política social, pode ser compreendida como campo “[...] da provisão
necessária para enfrentar a dificuldade que podem ser interpostas a qualquer
cidadão e que devem ser cobertas pelo Estado” (COUTO, 2004, p. 171).
A LOAS assegura que a assistência social, enquanto política pública
de responsabilidade do Estado, seja pautada em ações organizadas em um sistema
descentralizado e com a participação da população na instância dos conselhos. Este
sistema oportuniza a efetiva redistribuição do poder, com atribuição de competência
das três esferas de governo, a responsabilidade de coordenação e execução dos
benefícios, programas e projetos para os estados, Distrito Federal e municípios,
como também seu co-financiamento de ações. Com a LOAS a política adquire uma
nova visibilidade, abrindo espaço para uma ação articulada entre as esferas
federais, estaduais e municipais, e atuação de segmentos da sociedade civil
interessados na implementação dos direitos sociais por ela afiançados.
55

A política de assistência social na trajetória desses quinze anos de


efetivação da LOAS, tem ficado ainda em segundo plano, sendo ignorada ou ainda
tratada com descaso pelos diferentes governos. Teve limitações, dificuldades e
enfrentamentos desde suas perspectivas conceituais, como ao ser implementada
num contexto de desregulamentações, sofre com tentativas de desmontes e de
desresponsabilização do Estado para com a questão social.
Neste sentido, Paiva (2006, p.7), alerta para o grande desafio que
está posto para essa política que é romper definitivamente com seu aprisionamento
numa esfera governamental periférica ou residual, reprodutora de estratégias usuais
de mistificação das desigualdades e de ocultamento das suas causas, que reduz
suas respostas a programas pontuais, pretensamente reformadores das condutas
individuais e grupais, sem qualquer conteúdo ou potência transformadora libertária.

7.1 O BPC no contexto atual da Política de Assistência Social

As políticas sociais, dentre elas mais especificamente a de


assistência social, têm enfrentado significativas alterações em sua trajetória
considerando-se aqui desde sua garantia constitucional e sua regulamentação.
Atualmente, discute-se sobre as contradições na área da assistência social, como na
V Conferência Nacional de Assistência Social (2005), no que diz respeito ao BPC,
onde um conjunto de indivíduos envolvidos com a política se reuniu, com a intenção
de debater e avaliar os passos do Sistema Único de Assistência Social SUAS, de
acordo com sua afirmação de direitos.
O BPC integra a proteção social básica do Sistema Único de
Assistência Social-SUAS e deve ser prestado em articulação com os diversos
serviços da assistência social e de outras políticas, na perspectiva de ampliar a
proteção a idosos e pessoas com deficiência e suas famílias. É um benefício
financiado integralmente com recursos do Governo Federal.
O financiamento da Assistência Social está assegurado pelo
orçamento da Seguridade Social, para a efetivação de políticas sociais na garantia
do direito a cidadania, criando assim, o Fundo Nacional de Assistência Social –
FNAS. A concessão e o valor dos benefícios são instituídos pelos municípios e
Distrito Federal e previstos nas respectivas Leis Orçamentárias Anuais,
56

considerando critérios e prazos estabelecidos pelos respectivos conselhos de


assistência social.
O Fundo Nacional de Assistência Social-FNAS que opera desde
1996, tem por objetivos proporcionar recursos e meios para financiar o BPC e apoiar
serviços, programas e projetos da assistência social (IPEA, nº. 13 2007). Dessa
forma, destaca-se que o BPC começou a ser concedido a partir de 1996, alcançando
atualmente cerca de 2,7 milhões de beneficiários (MDS, 2008), idosos e deficientes,
presentes em todos os municípios brasileiros.
Dentre as iniciativas para transmitir um novo modo de conceber e
conduzir o BPC, o advento do SUAS foi fundamental e, com este a nova
PNAS/2004, e a Norma Operacional Básica –NOB/SUAS/2005, garantindo nestes o
lugar do BPC. A gestão do trabalho no âmbito do SUAS, de acordo com a NOB-RH,
gera a realização de planejamentos estratégicos, garantir a gestão participativa com
controle social, além de integrar e alimentar o sistema de informação. A NOB/SUAS
também acaba por estabelecer significantes ações na política do BPC na área da
assistência social.
O campo da assistência social, como uma base do sistema de
proteção social brasileiro, é importante destacar que se expressa à materialidade do
conteúdo através da PNAS. Neste enfoque, a PNAS (2004, p.8) procura atuar na
direção das necessidades presentes na sociedade, “no que tange à
responsabilidade política, objetivando tornar claras suas diretrizes na efetivação da
assistência social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado”.
Nesta conjuntura a PNAS, tem por objetivo atuar de forma
integrada às políticas setoriais considerando as desigualdades sócio territoriais, seu
enfrentamento, a garantir mínimos sociais, prover condições para atender
contingências sociais e universalizar os direitos sociais. Tal Política instituiu o
Sistema Único da Assistência Social (SUAS), integrando as ações e estabelecendo
as competências e os fluxos entre as três esferas de governos, conselhos e
apresentando expectativas das entidades.
Constituem garantias do SUAS o acompanhamento do beneficiário e
de sua família, e a inserção destes à rede de serviços socioassistenciais e de outras
políticas setoriais. Este acompanhamento do beneficiário e de sua família visa:
I - Favorecer lhes a obtenção de aquisições materiais, sociais, socioeducativas,
socioculturais para suprir as necessidades de subsistência;
57

II - Desenvolver capacidades e talentos para a convivência familiar e comunitária;


III – Desenvolver o protagonismo e a autonomia;
De acordo com o IPEA (nº. 14, 2007, p.56), também se percebe a
centralidade dada pela PNAS à implantação de centros públicos de atendimento a
todo cidadão usuário da política pública de assistência social, a NOB-RH reconhece
a prioridade estratégica das equipes dos Centros de Referência da Assistência
Social (CRAS), no âmbito da Proteção Social Básica23, e dos Centros de Referência
Especializados da Assistência Social (CREAS), no âmbito da Proteção Social,
Especial, estabelecendo quadros de pessoal que variam de acordo com o porte dos
centros e sua capacidade de atendimento.
Nessa conjuntura, o benefício integra a proteção social básica no
âmbito do SUAS, sendo ele constitutivo da PNAS e integrado às demais políticas
setoriais. Essa integração deverá ser principalmente, com o campo da saúde,
segurança alimentar, habitação e educação. De acordo com sua regulamentação
nos moldes definidos no parágrafo único do art. 2º da LOAS esse benefício visa: o
enfrentamento da pobreza, a garantia da proteção social, o provimento de condições
para atender contingências sociais e a universalização dos direitos sociais. Que,
segundo a PNAS (2004, p.8), o BPC, “caminha para a sua universalização, com
impactos relevantes na redução da pobreza no País”.
Conforme o exposto a política de assistência social vem
perpassando significativas alterações, ressalva-se sob a última regulamentação do
Benefício de Prestação Continuada, sob o decreto nº. 6.214, de 26 de setembro de
2007, no qual afiança a assistência social devido à pessoa com deficiência e ao
idoso de que trata a Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e a Lei no 10.741, de
1 de outubro de 2003, acresce parágrafo ao art. 162 do Decreto n 3.048, de 6 de
maio de 1999, e dá outras providências.
Sob este contexto do SUAS, consagra uma forma inovadora de
prestar assistência social e garantir de forma territorializada os programas, projetos,
serviços e benefícios à população que deles necessite. Os benefícios assistenciais
no âmbito do SUAS são prestados de forma articulada às demais garantias, o que
significa um trabalho continuado com as famílias atendidas, com vistas à inserção
nos serviços e superação das situações de vulnerabilidade. Os benefícios
assistenciais se caracterizam em duas modalidades direcionadas a públicos
específicos, como o já mencionado BPC e os Benefícios Eventuais.
58

Nesta configuração atual do BPC, este é requerido pela Previdência


Social mediante as exigências legais e o cumprimento das exigências dentre estes
se destacam:
 Para o idoso, idade mínima de 65 anos conforme (art. 38 da
lei 8.742/93 c/c art. 1º Lei 9.720/98); ressalta-se como ganho
importante para o idoso a exceção quando na aplicação da
concessão do BPC a outro idoso na família25, ou seja,
especificamente nos casos de requerimento de benefícios
para idosos, as rendas provenientes de outros benefícios já
concedidos a idosos na mesma família não são consideradas
para efeitos do cálculo da renda familiar per capita.
 Para o deficiente, parecer da Perícia-Médica comprovando a
deficiência (art. 20 da Lei 8.742/93); A partir da Medida
Provisória nº 1.473-34, de 11.08.1997, a concessão dos
benefícios às pessoas com deficiência, ficou sujeita a exame
médico pericial e laudo realizado pelos serviços de perícia
médica do INSS, para comprovação da incapacidade para a
vida independente e para o trabalho. Considerando essa
avaliação realizada pela perícia médica, na fase inicial, de
todos os benefícios concedidos a partir de 11.08.1997, o ato
da revisão desses benefícios terá apenas um foco de
avaliação, o social, ou seja: por meio de visita do assistente
social ao domicílio do requerente, valendo-se do Instrumento
de Avaliação Social instituído para esta finalidade.
 Renda mensal da família ser inferior a ¼ do salário-mínimo
vigente na data do requerimento (§ 3º do art. 20 da Lei
8.742/93); de modo a perceber que está questão da
comprovação financeira ser de acesso (1/4 de salário mínimo)
infelizmente não se alterou desde sua aprovação.
 4. Não estar recebendo beneficio pela Previdência Social ou
por outro regime previdenciário (§ 4º do art. 20 da Lei
8.742/93).
.
59

Nesta perspectiva destaca-se a necessidade da atuação do


profissional, assistente social de modo a desenvolver e propor políticas públicas que
possam responder pelo acesso dos segmentos da população, aos serviços e
benefícios construídos e conquistados socialmente, aqueles da área da seguridade
social. Destaca-se aqui a importância dos profissionais estarem atualizados aos
avanços do BPC sob a sua nova regulamentação sob seu nível de gestão do SUAS,
no qual o compõe enquanto prestação de transferência de renda, o nível de
proteção social básica.
60

8. O SERVIÇO SOCIAL NO ACESSO AO BPC

Inicialmente o preenchimento do formulário a ser enviado ao INSS


era atribuição exclusiva do Assistente Social, devendo ser por este assinado,
atestando a real adequação aos critérios estabelecidos. O INSS só aceitava os
pedidos que já viessem com este pré-requisito. Neste contexto, o profissional
Assistente Social afiançava este direito garantido às PPDs e Idosos com idade igual
ou superior à 60 anos. Hoje, o formulário pode ser preenchido por qualquer pessoa e
assinado pelo responsável pelo sujeito de direito. Conforme a cartilha informativa do
MDS sobre o BPC, se a pessoa tem direito ao benefício, “não é necessário nenhum
intermediário”, sendo o bastante dirigir-se a agência do INSS mais próxima, munido
dos documentos necessários. Mas ainda assim, os usuários mantem uma grande
referência para com o profissional Assistente Social e com as instituições onde a
política de assistência social é operacionalizada.
O Serviço Social continua sendo uma grande referência no
encaminhamento deste beneficio, sendo ainda procurado para este tipo de
preenchimento. Neste encaminhamento cabe ao profissional anexar um “parecer”
referenciando a confirmação das condições sócio econômicas do núcleo sócio-
familiar da PPD, sob pena de indeferimento pelo INSS.
Os idosos, as pessoas portadoras de deficiência e suas famílias
sentem-se destituídas de condições para o trabalho formal que possibilite a
sobrevivência de sua família, e ainda excluídas do BPC, que seria uma forma de
contribuir na solução das necessidades cotidianas. As famílias que possuem PPDs
sentem-se inteiramente responsáveis pelo sustento e apoio a estas pessoas, sendo
que expressam constantemente uma grande preocupação com o futuro destes, uma
vez que não veem possibilidade de uma vida independente frente a dinâmica atual
da sociedade.
Evidentemente que os beneficiários consideram o BPC uma “ajuda”
bastante significativa para sua sobrevivência, sendo por vezes a única renda mensal
da família. O valor recebido é insuficiente para cobrir todos os gastos, mas é
extremamente importante coo subsidio a sobrevivência. Além da indignação de
muitos por não recebê-lo, há a insegurança daqueles que o recebem, pois sabem
que estão sujeitos a perdê-lo a qualquer momento, uma vez que a revisão acontece
a cada dois anos.
61

O BPC, na ótica de proteção aos idosos e PPDs determina


representação majoritária no sistema de proteção social e assume participação
expressiva no orçamento da Assistência. Contudo, é insuficiente para atender as
demandas e necessidades básicas das famílias. Nas palavras de Sposati (1991),
verificamos uma dupla interpretação deste direito, “uma que é restrita e minimalista e
outra que é ampla e cidadã; a primeira se funda na pobreza e no similar da
sobrevivência e a segunda em um padrão básico de inclusão”. Ou seja, por um lado
trata-se de um incremento fundamental na renda familiar, mas por outro, não
satisfaz todas as necessidades sociais compreendidas nas determinações de uma
sociedade, quanto à educação, trabalho, cultura, que permitiriam na inclusão social,
propriamente dita, deste segmento.
Evidentemente, a atuação do Serviço Social com relação a idosos e
a pessoas com deficiência em nenhum momento se restringem ao encaminhamento
do BPC, que é apenas uma das formas de inclusão social destes segmentos na
sociedade. As ações quanto a este público alvo devem estar articuladas dentro dos
processos de trabalho do Serviço Social, no sentido de promover a ampliação da
cidadania destas pessoas.
A proteção social engloba atenções, cuidados, ações, auxílios e
benefícios, os quais o Sistema Único de Assistência Social (Suas) dispõe para
neutralizar o impacto da questão social na vida das pessoas, para garantir a
dignidade e o exercício da cidadania. A proteção social tem como objetivo suprir
suas necessidades de reprodução social de vida individual e familiar e desenvolver
suas capacidades e talentos para a convivência social, protagonismo e autonomia,
quando a proteção assistencial historicamente:

Embora nasçam de demandas sociais identificadas como necessidades ou


privações e, objeto da intervenção estatal, não é reconhecido como direito.
Constituem ações concebidas como ajuda nas dificuldades e privações,
atribuídas à vida individual de cada necessitado, e, não no campo de
responsabilidade social do Estado, permanecendo em uma situação de
ambiguidade entre a caridade pública e a privada (GOMES, 2001, p. 113).

A Constituição Federal de 1988 declara a Assistência Social como


direito social, tornando-a responsabilidade pública, ou seja, com provisão de
recursos orçamentários. É caracterizada como um direito posto para atender às
62

necessidades sociais. Quanto aos benefícios, segundo Simões (2008, p. 103) pode-
se mencionar:
Os benefícios são pagamentos pecuniários, decorrentes de programas
como BPC, auxílios, pensões e aposentadorias, ou em valores in natura,
como cestas básicas e remédios, por exemplo. Caracterizam-se em resumo,
por pagamentos de valores, nessas formas.

O BPC é um direito da assistência social que não tem contrapartida,


nem exigência de qualquer contribuição. O benefício é dirigido a pessoas com
deficiência física, mentais e idosos com 65 anos ou mais, que não tenham condições
de se manter. O beneficio será concedido àqueles que se consideram incapazes de
suprir suas necessidades de subsistência, “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa idosa, a família cuja renda mensal per capita seja inferior a
1/4 (um quarto) do salário mínimo” (VILAS BOAS, 2005, p. 75). É repassado quando
os usuários atendem à situação de invalidez e certos limites de idade.
Vilas Boas (2005) cita que, posterior a Loas, foi instituído o decreto
1.774/95 regulamentando o BPC, que traz consigo três requisitos para que o idoso
faça jus ao salário mínimo mensal. Estes são: idade de 65 anos ou mais, não
exercício de atividade remunerada e renda familiar mensal per capita inferior a 25%
do salário mínimo. O BPC é concedido mediante a comprovação do não acúmulo de
benefícios previdenciários e da renda inferior a um quarto de salário-mínimo. Para
obter o benefício o idoso “terá de caracterizar estado de miserabilidade”
(MARTINEZ, 2004, p. 88).
O BPC pode ser recebido mesmo que outros membros da
família já obtenham benefícios específicos, estes que não são somados à renda per
capita familiar. Diante desse cenário, o conceito de família passou a ser considerado
como o “conjunto de dependentes, assim instituídos pelo regime geral de
previdência social, que vivam sob o mesmo teto” (SIMÕES, 2008, p. 332). E ainda
“atribui centralidade à família, como sendo a responsável pela manutenção desses
segmentos, e caráter subsidiário do Estado” (GOMES, 2001, p. 115).
O benefício, sendo pago mensalmente, pode ser definitivo ou
temporário; isso enquanto perdurarem as condições aquisitivas do direito. Seu valor
é de um salário mínimo sem qualquer desconto de contribuição, no entanto não está
imune à pensão alimentícia. Segundo Simões (2008), com a restrição de não
63

acúmulo de benefícios previdenciários, mostra-se que o caráter do benefício é


meramente complementar à renda familiar. Os procedimentos administrativos para
seu indeferimento ou concessão é responsabilidade do INSS e seu pagamento da
União Federal.
Destaca-se que o benefício não gera abono anual (décimo terceiro
salário) e nem é cumulativo como benefício previdenciário. A sua revisão é realizada
a cada 2 anos, culminando na “análise formal do processo de concessão”
(MARTINEZ, 2004, p. 90). Apesar de não gerar direito à pensão os herdeiros ou
sucessores têm direito a receber casual resíduo que não for recolhido em vida pelo
beneficiário. O pagamento do BPC só cessa se são superadas as condições de
aquisição do direito, ocorrida a morte do beneficiário ou com a morte presumida ou
ausência deste declarada judicialmente. Ressaltam-se duas questões importantes: a
primeira a questão de que “a jurisprudência vem entendendo que a renda per capita
de ¼ de salário mínimo não impede a concessão do beneficio assistencial previsto
[...] desde que comprove por outros meios a miserabilidade do postulante”
(MARTINS, 2009, p. 490). A segunda reflete que embora o Estatuto do Idoso
considere idosa a pessoa com 60 anos, o BPC somente é concedido aos que
tenham 65 anos. Neste sentido, muitos idosos entre 61 e 64, estando fora do
mercado de trabalho, encontram-se em situação de vulnerabilidade sem condições
de suprir seu sustento.
Na gestão básica do Sistema Único de Assistência Social o gestor
assume a responsabilidade de organizar a proteção básica, prevenindo situações de
risco por meio de desenvolvimento de potencialidades. Deve se responsabilizar pela
oferta de programas, projetos e serviços socioassistenciais que fortaleçam vínculos
familiares e comunitários que promovam os favorecidos do Benefício de Prestação
Continuada e transferência de renda, vigiando os direitos violados no território (MDS,
2005).
Neste viés, o Sistema Único de Assistência Social prevê que as
Secretarias de Assistência ampliem seus serviços para além de encaminhamento de
formulários de solicitação de BPC; enfatiza que um dos critérios para mudança de
gestão – Básica para Plena - implica encaminhamento, orientação e
acompanhamento do benefício, e deverá realizar a referida atividade um profissional
do Serviço Social.
64

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desta pesquisa bibliográfica podemos concluir que, o BPC é


um benefício muito importante para garantir a cidadania de grupos historicamente
excluídos da sociedade padrão, como o caso dos idosos e das pessoas com
deficiência. Este instrumento torna-se fundamental para o provimento das
necessidades básicas de cada individuo e de sua família, como alimentação,
medicamentos, entre outras despesas, e assim, garante um mínimo de dignidade
para a vida dessas pessoas.
Entretanto, ao observarmos mais atentamente este benefício,
percebe-se que ele está longe de ser universal e de incluir todas as pessoas que
dele necessitam, devido aos critérios rigorosos de seletividade para ter acesso a ele,
além de todos os entraves que as pessoas precisam enfrentar mesmo depois de
conseguirem o benefício, para continuarem comprovando a veracidade das
informações prestadas, sob pena de perder o benefício.
Acredita-se que esta alta seletividade e rigorosidade nos critérios
decorrem de um processo que não ocorre apenas por determinação estatal, mas
também por um conjunto de fatores externos determinantes. Segundo Nogueira
(2005), o capital, em seu projeto neoliberal, cria estratégias de diminuição dos
direitos sociais que não correspondem a seus interesses de acumulação. Para o
capital, quando mais pessoas em condições de produzir, melhor as condições para
este acumular mais capital explorando os trabalhadores. E mais, quanto mais
trabalhadores, pessoas produtivas estiverem a disposição no mercado de trabalho,
incrementa o exercito industrial de reserva, barateando o custo da mão de obra.
Sendo assim, não é do interesse do capital que os direitos sociais sejam efetivados.
Tentar implantar uma política pública não é algo fácil, principalmente
quando na realidade dada. Existe um processo cultural fortemente arraigado de
relações de clientelismo, de assistencialismo e de favor, como é o caso da política
de assistência social brasileira. Nesse sentido, verificamos que é necessária a
elaboração de inúmeras estratégias, a fim de rompermos com determinadas
situações, assim como para efetivarmos as políticas.
Percebemos que a partir da Constituição Federal de 1988, bem
como da LOAS, ocorreram grandes melhoras quanto à efetivação de uma nova
maneira de fazer assistência, todavia ainda não acabamos com a forma
65

assistencialista e seletiva das políticas.


Ainda segundo Nogueira (2005), os entraves para a efetivação dos
direitos sociais estão expressos na Reforma Estatal, há muito tempo presente na
agenda política do país, que pretende unicamente reduzir custos, estando formulada
apenas nos campos técnico, administrativo, fiscal e financeiro. Além disso, a fatia do
orçamento destinada a garantia dos direitos sociais e por consequência, o acesso
universal à cidadania, é muito pequena, dada as dimensões territoriais e
populacionais do nosso país. Observando esta conjuntura que liga-se diretamente a
questão da defasagem dos direitos sociais, não é difícil perceber o por quê do BPC
ser tão seletivo e privilegiar tão poucas pessoas, enquanto há tantas precisando
acessar este beneficio.
De fato, a focalização das políticas públicas e a dificuldade de
acesso às mesmas, ainda é algo a ser superado, haja vista o fato de ainda haver
muitas pessoas que estão incluídas precariamente nos espaços, assim como no
acesso às diversas políticas. Verificamos esse fato, principalmente quando falamos
das pessoas com deficiência que têm, de uma maneira geral, acesso insatisfatório à
educação, saúde, emprego, embora representem uma parcela significativa da
população, excedendo a 10% da mesma.
Constatamos que o BPC é uma expressão da nova forma de
proteção social destinada às pessoas com deficiência. Representa uma
transferência de renda, independentemente de contribuição para os idosos e para
aqueles considerados pelos peritos médicos, bem como pelos assistentes sociais do
INSS como incapazes para a vida independente e para o trabalho. Além disso, em
ambos os casos, deve ser atendido ao critério da renda per capita, que deve ser
inferior a um quarto do salário mínimo.
A assistência social é um direito constitucional garantido a todas as
pessoas que dela necessitar, sem a necessidade de contribuição, todavia, a maioria
dos programas da política de assistência social é seletiva, com o intuito de atender
as populações em risco social, vulnerabilidade e de extrema pobreza. No caso do
Benefício de Prestação Continuada-BPC, este previsto pela LOAS, sendo seu
público alvo idoso acima de 65 anos e pessoas com deficiência incapazes para o
trabalho e para a vida independente que não possuem condições para suprir as
próprias necessidades básicas – alimentação, moradia, saúde, educação entre
outras.
66

Sem dúvidas, compreendemos que o BPC representa um avanço


quanto à política de assistência social, já que ele garante “uma sensação de
autonomia” para as pessoas com deficiência e idosos, seja pelo fato de as mesmas
terem a oportunidade de comprar e/ou possuir o que elas mesmas escolhem ou pela
possibilidade de favorecer o ir e vir desta parcela da população.
Sabemos que o BPC foi um benefício criado com o objetivo de
garantir uma proteção social às pessoas com deficiência e aos idosos. Assim, para
cumprir sua meta deve basear-se nos preceitos igualitários e aplicá-los, na prática.
Nesse sentido, entendemos que é necessária uma integração entre as políticas,
assim como é preciso que exista uma transformação de mão dupla, tanto da pessoa
com deficiência, como também da sociedade para que exista, realmente, uma
inclusão satisfatória das pessoas com deficiência às diversas políticas.
O benefício assistencial é um instrumento extremamente importante
para a sobrevivência de indivíduos à margem da sociedade. Se idosos e pessoas
com deficiência são frequentemente abandonadas pela própria família, bem como
pelo Estado, ao menos a prestação assistencial fornece um suporte mínimo para a
sua subsistência.
O BPC contribui e muito com as famílias. O benefício, ainda que seja
de destinação pessoal e intransferível, não abrange somente as necessidades
básicas do beneficiário. O valor mensal acaba por beneficiar a família como um todo,
tendo em vista que para além dos critérios que comprovam o seu grau de
deficiência, portanto, a incapacidade para o trabalho e a vida independente, tem que
se levar em consideração, quando aqui analisamos, a condição de vulnerabilidade
social e econômica destas famílias, provocada muitas vezes pelo desemprego.
Certamente que a renda de um salário mínimo mensal incide positivamente na
melhoria das condições de vida do beneficiário e de outros membros que convivem
sob o mesmo teto.
Ao Assistente Social enquanto profissional comprometido com a
defesa dos direitos humanos resta poucas alternativas para garantir o acesso das
pessoas a este benefício, dadas às limitações da lei, que não podem ser
descumpridas. Infelizmente, as determinações legais limitam, no caso específico do
BPC, a atuação profissional, restando apenas a parte burocrática, expressa no
encaminhamento do benefício, e a insistência nas tentativas de incluir as pessoas,
tentando inúmeras e consecutivas vezes.
67

Como estratégia de enfrentamento ao acesso restrito ao BPC, o


profissional de Serviço Social deve propor ações no sentido de ampliar o Beneficio,
o que vem ocorrendo - de modo moroso - através da PL 3077. Porém, a discussão
pela categoria profissional acerca do tema é fundamental para o fortalecimento da
noção da necessidade de ampliação do BPC, sejam através dos Conselhos de
Direito, Conferências, Congressos, enfim, nos espaços de participação da sociedade
civil e de democratização das informações. Neste sentido, a atuação do Assistente
Social na Política de Assistência Social e na sua prática profissional pressupõe o
comprometimento profissional que expresse o projeto ético e político da profissão.
Cada profissional deve ser responsável por sua ação e pela
interligação, em todos os níveis de atenção, para com o usuário, uma vez que
inseridos nos espaços sócio ocupacionais, os profissionais do Serviço Social sofrem
com o imediatismo existente nestes. Deste modo, é preciso ter clareza sobre a sua
atuação possibilitando um comprometimento com as demandas existentes.
O comprometimento do profissional para com seu projeto ético e
político pressupõe a superação desse imediatismo, percebendo uma visão clara e
profunda da realidade social, possibilitando que seja percebida em sua totalidade,
pois como expõe Guerra (2004), é preciso primeiramente compreender para poder
transcender. Sendo assim, cabe aos assistentes sociais ir em busca dos
mecanismos que tornem possível a efetivação de fato da Assistência Social como
subsidio para a garantia dos direitos sociais.
68

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