Você está na página 1de 107

João Washington Azevedo Rodrigues

APLICABILIDADE DO CÃO DE DUPLA APTIDÃO NA ATIVIDADE DE


POLICIAMENTO OSTENSIVO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS:
AVALIAÇÃO DA POTENCIALIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA DAS GUARNIÇÕES DE
PATRULHAMENTO COM CÃES.

Belo Horizonte
2013
João Washington Azevedo Rodrigues

APLICABILIDADE DO CÃO DE DUPLA APTIDÃO NA ATIVIDADE DE


POLICIAMENTO OSTENSIVO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS:
AVALIAÇÃO DA POTENCIALIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA DAS GUARNIÇÕES DE
PATRULHAMENTO COM CÃES.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Especialização


em Segurança Pública da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro,
em parceria com a Polícia Militar de Minas Gerais, como requisito parcial
para obtenção do título de Especialista em Segurança Pública.

Orientador: Ten Cel PM Giovanni Idalmo de Faria.

Belo Horizonte
2013
RODRIGUES, João Washington de Azevedo.
CID Emprego do cão de dupla aptidão na atividade de policiamento
ostensivo da polícia militar de minas gerais: avaliação do emprego
como fator de aumento da eficiência das guarnições de patrulhamento
com cães/ João Washington Azevedo Rodrigues - Belo Horizonte,
2013.109 fl.

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em Segurança Pública) –


Academia de Polícia Militar de Minas Gerais e Fundação João
Pinheiro.
Orientador: Giovanni Idalmo de Faria, Ten Cel PM.

1. Administração gerencial. 2. Eficiência. 3. Emprego de cães


pela PMMG. 4. Cães de dupla aptidão.
I. RODRIGUES, João Washington Azevedo. II. Academia de Polícia
Militar de Minas Gerais. III. Fundação João Pinheiro. IV. Título
.. CDU - 355.13
Dedico este trabalho a minha mãe, Maria
Tereza de Azevedo, pelo sacrifício e dedicação
com que lutou para dar à nossa família
educação e caráter.
Agradeço,

A Deus pela saúde, determinação e todas as


bênçãos alcançadas;

A minha esposa Flávia e meus filhos Maria


Eduarda e Miguel, pelo apoio e amor sempre
encontrados;

Ao meu Orientador, Sr Ten Cel Giovanni, pela


paciência e sabedoria emprestadas, durante a
confecção deste trabalho;

A todos os policiais militares da PMMG, que


com muito brilhantismo conduzem esta
instituição bissecular, posicionando-a sempre no
futuro.
“As convicções são inimigas mais perigosas da
verdade do que as mentiras.”

FRIEDRICH NIETZSCHE
RESUMO

O objetivo desta pesquisa é verificar a aplicabilidade do cão de dupla aptidão na atividade


de patrulhamento ostensivo da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), como fator de
aumento da eficiência das guarnições de patrulhamento com cães. O emprego de cães no
serviço policial é uma atividade cada vez mais difundida nas organizações policiais de todo
o mundo, sendo importante a discussão do tema como forma de potencializar a capacidade
de resposta das guarnições que utilizam cães no serviço prestado pela PMMG. Esta pesquisa
analisa o atual modelo de emprego de cães adotado pela PMMG, o qual opta por
especializar o animal para uma função específica no serviço policial sob a ótica do
princípio constitucional da eficiência, introduzido no caput do artigo 37 da Constituição
da República Federativa do Brasil, mediante a Emenda Constitucional nº 19, de 04 de
junho de 1998, quando passou a ser um dos norteadores dos atos da Administração Pública
e principal fundamento teórico da Administração Pública Gerencial. Paralelamente,
busca a verificação da hipótese de que o emprego de um cão capaz de realizar a atividade de
policiamento ostensivo e a de detecção de entorpecentes através do faro, aumente a
eficiência das guarnições que utilizam cães no serviço operacional prestado pela PMMG.
Trata-se de pesquisa exploratória, bibliográfica e documental, de natureza quantitativa, na
qual foi utilizada a técnica da observação direta extensiva por intermédio de aplicação de
questionários, em uma amostra composta por policiais militares responsáveis pelo
comando dos canis das Unidades de Execução Operacional (UEOP) da PMMG. Sobressai-
se desta pesquisa que a utilização de cães de dupla aptidão aumenta a eficiência das
guarnições, uma vez que conseguem dar resposta a mais de um tipo de ocorrência típica de
emprego de cães; que já existem Unidades na PMMG que possuem cães de dupla aptidão,
havendo ainda estrutura que viabilize a implantação do treinamento e utilização de cães de
dupla aptidão na PMMG. Conclui-se que é viável a utilização de cães de dupla aptidão no
policiamento ostensivo feito pela PMMG.

Palavras-chave:
Administração gerencial. Eficiência. Emprego de cães pela PMMG. Cães de dupla aptidão.
ABSTRACT

The goal of this research is to verify the applicability of the double dog fitness activity in
ostensive patrolling the Military Police of Minas Gerais (PMMG), as a factor in increasing the
efficiency of the garrisons patrolling with dogs. The use of dogs in police activity is an
increasingly widespread in police organizations around the world, it is important to discuss
the issue as a way to enhance the responsiveness of the trims that use dogs in service by
PMMG. This research analyzes the current employment model adopted by PMMG of dogs,
which the animal chooses to specialize in a specific function in the police service from the
perspective of the constitutional principle of efficiency, introduced in the caput of Article 37
of the Constitution of the Federal Republic of Brazil by Amendment Constitutional n º 19 of 4
June 1998, when it became one of the guiding acts Public Administration and main theoretical
foundation of the Public Administration Management. Meanwhile, seeking verification of the
hypothesis that the use of a dog capable of performing the activity of patrolling and detection
of narcotics through the nose, increase the efficiency of the trims that use dogs in operational
service provided by PMMG. This is exploratory research, literature and documents,
quantitative, where we used the technique of direct observation through extensive
questionnaires in a sample of police officers responsible for the command of the kennels of
Operational Execution Units (UEOP ) PMMG. It emerges from this study that the use of dogs
dual capability increases the effectiveness of seals, since they can respond to more than one
type of occurrence typical employment of dogs; units which already exist in PMMG dogs that
have dual fitness , with another structure that makes possible the implementation of training
and use of dogs in PMMG double aptitude. We conclude that it is feasible to use dogs double
aptitude in patrolling done by PMMG.

Keywords:
Administration management. Efficiency. Employment by PMMG dogs. Dogs dual fitness.
LISTA DE IMAGENS

Unidades da PMMG que possuem canil, município onde se localizam e nº de


Tabela 1 68
cães do seu plantel – jan- 2013.........................................................................

Distribuição das Unidades da PMMG dotadas de canil no Estado de Minas


Mapa 1 69
Gerais – jan- 2013.............................................................................................

Figura 1 Evolução do lobo............................................................................................... 59


Figura 2 Cão da raça Pastor Alemão............................................................................... 76
Figura 3 Variedades de cães da raça Pastor Belga........................................................... 78
Figura 4 Cão da raça Pastor Holandês............................................................................. 79
Figura 5 Cão da raça Labrador........................................................................................ 80
Figura 6 Cão da raça Cocker .......................................................................................... 81
Figura 7 Cão da raça Springer Spaniel Ingles ................................................................ 82
Figura 8 Cão da raça Beagle .......................................................................................... 83

Avaliação do conhecimento a respeito da existência de doutrina sobre a


Gráfico 1 utilização do cão de dupla aptidão na PMMG – Minas Gerais – jan. 88
2013...................................................................................................................
Gráfico 2 Unidades da PMMG que possuem cães que realizam dupla função – Minas
88
Gerais – jan. 2013..............................................................................................
Gráfico 3 Raças dos cães que realizam dupla função na PMMG – Minas Gerais – jan.
89
2103...................................................................................................................
Gráfico 4 Possibilidade imediata de se treinar um cão para dupla função na PMMG –
90
Minas Gerais – Jan. 2013..................................................................................
Gráfico 5 Possibilidade do uso do cão de dupla aptidão gerar benefícios para o serviço
90
operacional da PMMG – Minas Gerais – jan.2013...........................................
Gráfico 6 Benefícios que o emprego do cão de dupla aptidão trará à PMMG – Minas
91
Gerais – jan. 2013..............................................................................................
Gráfico 7 Dificuldades para a implantação do uso de cães de dupla aptidão pela PMMG
92
–Minas- Gerais jan. 2013..................................................................................
Gráfico 8 Ocorrências nas quais as guarnições com cães não conseguem dar apoio pela 93
falta de especialização do cão para mais de uma função – Minas Gerais - jan.
2013...................................................................................................................
Gráfico 9 Unidades que possuem estrutura capaz de introduzir o treinamento para
94
dupla função a cães previamente selecionados – Minas Gerais - jan. 2013....
Gráfico10 Unidades da PMMG que possuem militares capacitados a treinar um cão para
94
dupla função – Minas Gerais – jan. 2013..........................................................
Gráfico11 Raças mais indicadas para o treinamento para dupla função na PMMG –
95
Minas Gerais – jan. 2013...................................................................................
SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14

2- A ABORDAGEM GERENCIAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA................ 18


2.1- Definição de administração pública....................................................................... 18
2.2- A reforma do estado................................................................................................ 19
2.3- O surgimento da administração pública gerencial............................................... 22
2.3.1- O surgimento da administração pública gerencial no Brasil........................... 26
2.5- O surgimento da administração pública gerencial no Estado de Minas 33
Gerais..............................................................................................................................
2.6- O surgimento da administração pública gerencial na Polícia Militar de 38
Minas Gerais...................................................................................................................

3- PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA............... 41


3.1- Princípio da supremacia do interesse público...................................................... 44
3.2- Princípio da indisponibilidade do interesse público............................................ 45
3.3- Princípio da legalidade........................................................................................... 46
3.4- Princípio da moralidade......................................................................................... 48
3.5- Princípio da impessoalidade................................................................................... 49
3.6- Princípio da publicidade......................................................................................... 51
3.7- Princípio da eficiência............................................................................................. 52
3.8- Princípio da razoabilidade e proporcionalidade.................................................. 54
3.9- Princípio da autotutela............................................................................................ 55
3.10- Princípio da motivação......................................................................................... 55
3.11- Princípio da continuidade do serviço público..................................................... 56

4- EMPREGO DE CÃES NO SERVIÇO POLICIAL................................................ 58


4.1- Origem do cão.......................................................................................................... 58
4.2- O uso militar do cão................................................................................................ 61
4.3- Histórico mundial do emprego de cães pelas forças policiais.............................. 63
4.4- Emprego de cães pela PMMG................................................................................ 65
4.4.1- Policiamento Ostensivo........................................................................................ 70
4.4.2- Detecção de entorpecentes através do faro........................................................ 72
4.5- Principais raças de cães de uso policial................................................................. 73
4.5.1- O pastor alemão.................................................................................................... 75
4.5.2- O pastor belga....................................................................................................... 77
4.5.3- O pastor holandês................................................................................................. 79
4.5.4- O labrador retriever............................................................................................. 80
4.5.5- O cocker spaniel inglês........................................................................................ 81
4.5.6- O springer spaniel inglês..................................................................................... 82
4.5.7- O beagle................................................................................................................. 83

5- METODOLOGIA...................................................................................................... 85

6- ANÁLISE DOS DADOS............................................................................................ 88

7- CONCLUSÃO............................................................................................................ 97

REFERÊNCIAS............................................................................................................. 101

APÊNDICE ÚNICO....................................................................................................... 106


13

1- INTRODUÇÃO

O presente estudo possui como tema central a aplicabilidade do cão de dupla aptidão na
atividade de policiamento ostensivo da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) como
potencializador da eficiência das guarnições que utilizam cães.

A delimitação do tema foi assim proposta: Aplicabilidade do cão de dupla aptidão na


atividade de policiamento ostensivo da Polícia Militar de Minas Gerais: avaliação da
potencialização da eficiência das guarnições de patrulhamento com cães. Portanto, o tema é
delimitado em torno do estudo da viabilidade da seleção e treinamento de cães de raças
específicas, que possuem características que lhes permitem especializarem-se em mais de uma
atividade de serviço prestado pela PMMG no âmbito do Estado de Minas Gerais (onde se
delimita geograficamente a pesquisa, que abrange os anos de 2012 e 2013), possibilitando que
uma mesma guarnição atue em diferentes tipos de ocorrência sem necessitar solicitar
cobertura de outra.

O objetivo geral desta pesquisa é estudar a viabilidade do emprego do cão de dupla aptidão
pela PMMG como forma de aumentar a eficiência do policiamento com cães.

Apresentam-se como objetivos específicos para esta pesquisa: identificar as atividades


executadas pelos cães empregados pela PMMG; descobrir as raças que possuem dupla aptidão
para as características desejadas para o emprego policial; conhecer a estrutura dos canis
existentes na PMMG no que tange às condições técnicas e logísticas necessárias à
implantação do uso de cães de dupla aptidão.

O tema objeto deste estudo é inédito na PMMG, havendo também na instituição uma lacuna
doutrinária a seu respeito, o que indica a necessidade precípua de explorar-se a respeito.

Assim, diante do exposto, pergunta-se: O emprego do cão de dupla aptidão no patrulhamento


ostensivo da PMMG aumentará a eficiência das guarnições que utilizam cães no
patrulhamento ostensivo?
14

Dentro desse contexto, foi formulada a hipótese de que o emprego do cão de dupla aptidão no
patrulhamento ostensivo da PMMG aumentará a eficiência das guarnições que utilizam cães.

Portanto, procedeu-se a análise, de forma crítica e quantitativa, do maior número de dados e


informações possíveis junto aos compêndios legais, doutrinas, documentos e profissionais de
segurança pública a fim de descrever o emprego do cão de dupla aptidão pela PMMG.

Desde a implantação do policiamento com cães na Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG),
ocorrido no ano de 1957, o modelo de emprego operacional do cão prima pela especialização
do animal em uma atividade de policiamento, para o qual é treinado unicamente.

Assim, várias raças são utilizadas para o serviço policial na Instituição, as quais, basicamente,
dividem-se em cães que realizam atividades de faro, sendo empregados, em sua maioria raças
de companhia como Labrador, Cocker e Springer Spaniel Inglês; e cães de policiamento, os
quais realizam todas as outras atividades, sendo que, alguns deles, ainda realizam atividades
de faro, conforme dados obtidos junto às Unidades.

A padronização mais recente das raças a serem utilizadas pela PMMG ocorreu através da
Resolução n. 4 208 a qual passou a vigorar à partir de 3 de abril de 2012, passando a prever
que a PMMG adotará, preferencialmente para compor o seu plantel, a raça Pastor Alemão,
podendo ser utilizadas as raças Labrador Retriever, Pastor de Malinois, Springer Spaniel,
Cocker Spaniel e Beagle, a fim de atender missões específicas (MINAS GERAIS, 2012a,
p.14).

As raças Labrador, Springer Spaniel, Cocker Spaniel e Beagle, pelas características de


temperamento, são tidas hoje em dia, basicamente, como cães de companhia, considerando
que no Brasil a atividade de caça, para a qual foram usados intensamente desde o séc. XVIII,
diminuiu consideravelmente após o advento da Lei Federal 9 605, de cinco de fevereiro de
1998, a chamada Lei dos Crimes Ambientais. Com isso, seu temperamento, que desde a sua
criação já era dócil, foi sendo moldado cada vez mais para servir o homem sem nenhum tipo
de agressividade, características essas que restringem seu uso na PMMG somente para
atividades voltadas à localização de entorpecentes e explosivos pelo faro. Ressalte-se que o
tamanho do cão, as cores da sua pelagem e o carisma próprio destas raças dificilmente
possibilitariam que causassem algum impacto psicológico de fobia no ser humano.
15

As raças Pastor Alemão e Pastor Belga Malinois, por outro lado, ganharam notoriedade a
partir da Primeira Guerra Mundial, justamente pelo sucesso alcançado pelas guarnições
militares que foram suplementadas pelo seu uso no combate. A partir daí, sua genética passou
a ser moldada justamente para reforçar as características necessárias às atividades militares e,
posteriormente, também para atividades policiais. Isso faz destas raças os cães ideais para o
serviço policial.

A literatura admite que os cães Pastores (Alemão, Malinois e Holandês) além de possuírem as
características físicas e de temperamento ideais para as atividades de policiamento, também
apresentam resultados satisfatórios nas atividades de faro, fazendo delas as raças mais
completas para uso policial. Chega-se, a partir deste enunciado, ao conceito de cão de dupla
aptidão, como sendo aquelas raças de cães com características genéticas comportamentais que
lhe possibilitem realizar duas funções no serviço policial.

Dessa forma, dentro dos parâmetros da administração gerencial e focado no princípio da


eficiência, este estudo mescla o referencial teórico alusivo às funções executadas pelos cães
empregados pela PMMG com o referencial alusivo às características individuais das
principais raças de cães de trabalho com aptidão policial, de forma a verificar-se as que mais
se adaptam à atividade de dupla função.

Além desta seção, a qual indica o conteúdo do trabalho, a presente pesquisa foi estruturada em
mais seis seções.

Na seção 2 é feita uma abordagem sobre a transição do modelo administrativo burocrático


para o modelo gerencial, ocorrido após as crises do petróleo de 1973 e 1979, caracterizando
os principais fundamentos da administração gerencial que a diferenciam da administração
burocrática. Descreve a evolução histórica da implantação da administração gerencial em
países da Europa, América do Norte e América do Sul, onde é enfatizada a reforma
administrativa brasileira. Aborda ainda a implantação da reforma gerencial no Estado de
Minas Gerais e na Polícia Militar de Minas Gerais, órgão pertencente à sua administração
direta.

A seção 3 apresenta os princípios fundamentais da administração pública como pilares


norteadores dos atos administrativos, com ênfase no princípio da eficiência.
16

A seção 4 aborda o emprego de cães na segurança pública, descrevendo a origem do cão e a


origem de seu uso militar, bem como, estabelece uma linha histórica da evolução de seu uso
por forças policiais de todo o mundo. Descreve o histórico da implantação de sua utilização
na PMMG, as funções que executa na atividade de policiamento ostensivo e as raças mais
aptas ao treinamento para dupla função.

Na seção 5 explicita-se a metodologia utilizada na presente pesquisa.

Na seção 6 faz-se a análise dos dados obtidos com a pesquisa de campo, em face dos
objetivos específicos deste estudo, de forma a verificar a validade ou não da hipótese.

A seção 7 tece as conclusões obtidas, subsidiadas pelo conhecimento adquirido e que passou a
fazer parte do bojo do trabalho escrito, sendo finalmente verificada a validade ou não da
hipótese orientadora do estudo.

Finalmente, são expostas as referências bibliográficas e o apêndice, únicos atinentes ao


trabalho.
17

2 A ABORDAGEM GERENCIAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Nesta seção abordar-se-á o contexto histórico mundial que levou à reforma administrativa
Brasileira, com a transição da administração pública burocrática para a administração pública
gerencial, fator preponderante para a introdução da busca pela eficiência como foco principal
dos atos administrativos.

Antecipando-se à reforma administrativa e o advento da administração gerencial, será


definida a Administração Pública, sob o foco de renomados autores do direito administrativo,
para possibilitar um melhor entendimento dessa seção.

2.1 Definição de administração pública

Ao conjunto de órgãos encarregados de executar as funções sob responsabilidade do Estado,


dá-se o nome de Administração Pública. Estes órgãos podem fazer parte da administração
direta ou indireta, sendo considerado, para a sua classificação, apenas a natureza do serviço
prestado.

Em sentido formal, a Administração Pública, é o conjunto de órgãos


instituídos para consecução dos objetivos do Governo; em sentido material, é
o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral; em
acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico,
dos serviços do próprio Estado ou por ele assumidos em benefício da
coletividade. Numa visão global, a Administração Pública é, pois, todo o
aparelhamento do Estado preordenado à realização de seus serviços, visando
à satisfação das necessidades coletivas (MEIRELLES, 2010, p.63).

Sob a ótica de Alexandrino et al (2012), o conceito de Administração Pública refere-se, em


sentido amplo, aos órgãos de governo que exercem função política, e também os órgãos e
pessoas jurídicas que exercem função administrativa. Neste caso, à função política cabe
estabelecer o planejamento das ações de governo e a fixação das políticas públicas e à função
administrativa cabe a execução das tarefas necessárias à implementação das políticas
públicas.

A Administração Pública, segundo Meirelles (2010), pode ser classificada sob três
18

aspectos, ou seja, no sentido formal, representada pelo conjunto de órgãos constituídos para
realizar os objetivos governamentais; no plano material, onde é representada pelo conjunto
de funções estatais indispensáveis aos serviços públicos; e no plano operacional, onde se
traduz no desempenho permanente e sistematizado, sob aspectos legais e técnicos, dos
serviços de competência do Estado ou por ele assumidos. Trata-se, portanto, do
aparelhamento estatal apto à execução dos serviços de responsabilidade do Estado, com o
fito de atender às demandas da coletividade.

Administração Pública, em sentido amplo, para Alexandrino et al (2012), refere-se aos órgãos
de governo que exercem função política, juntamente com os órgãos e pessoas jurídicas que
exercem função meramente administrativa. A função política é aquela que trata do
estabelecimento das diretrizes e programas de ação governamental, dos planos de atuação do
governo, em síntese, da fixação das políticas públicas. Complementa ainda que função
meramente administrativa refere-se à execução das políticas públicas fixadas.

Na concepção de Mello (2002, p.172), Administração Pública refere-se ao “[...] aparelho


estatal exercente de atividades administrativas [...]” o qual é composto pela própria pessoa do
Estado, atuando por meio de seus órgãos, e por pessoas jurídicas as quais são criadas para
auxiliá-lo na execução de suas funções de execução das políticas públicas – as autarquias, as
empresas públicas, as sociedades de economia mista e as fundações governamentais, sendo
estas empresas componentes da administração indireta.

2.2 A reforma do Estado

O conceito de reforma na Administração Pública é abordado como o “[...] conjunto de


inovações em políticas públicas de gestão e no desenho de organizações programáticas, e está
baseada em um conjunto razoavelmente coerente de justificativas e retórica.”. O autor cita
ainda que uma reforma na Administração Pública acontece: “quando uma organização pública
progressivamente muda sua práticas de gestão, modelo de relacionamento e retórica”
(SECCHI, 2009, p.349).
19

Advindo da pressão exercida pela crise mundial que eclodiu em meados da década de 70, e
aliado à necessidade de o Estado buscar soluções urgentes para, senão acabar, pelo menos
minimizar os seus efeitos nefastos a todas as camadas sociais, sobreveio um novo modelo
administrativo, focado na redução dos gastos públicos e voltado para a eficiência na
implementação de políticas públicas e verificação de resultados, o qual foi denominado
gerencial.

Abrucio (1997) considera as duas crises do petróleo em 1973 e 1979 o marco histórico que
deflagrou uma grande crise econômica mundial, cujos efeitos afetaram a economia até a
década de 90. Esta crise pôs fim à era de prosperidade que se iniciara após a Segunda Guerra
Mundial. A chamada “era dourada”, marcada por um período em que os países capitalistas
desenvolvidos, o bloco socialista e parte do Terceiro Mundo alcançaram altíssimas taxas de
crescimento, viu chegar o seu fim. Até aquele momento da história, havia um amplo consenso
social a respeito do papel do Estado, o qual procurava garantir prosperidade econômica e
bem-estar social suprindo as necessidades básicas do cidadão.

A crise econômica mundial gerada pelas duas crises do petróleo, ocorridas nos anos de 1973 e
1979, a crise fiscal que se instalou nos Estados, a dificuldade de governança e a globalização
são apontadas como fatores socioeconômicos que se constituíram em elementos facilitadores
da eclosão da crise, nesse sentido:

Em linhas gerais, quatro fatores sócio-econômicos contribuíram


fortemente para detonar a crise do Estado contemporâneo. O primeiro foi a
crise econômica mundial, iniciada em 1973, na primeira crise do petróleo,
e retomada [...] em 1979, na segunda crise do petróleo. O fato é que a
economia mundial enfrentou um grande período recessivo nos anos 80 e
nunca mais retomou os níveis de crescimento atingidos nas décadas de 50 e
60. Neste momento de escassez, o Estado foi o principal afetado, entrando
numa grave crise fiscal. A crise fiscal foi o segundo fator a enfraquecer os
alicerces do antigo modelo de Estado. [...] E os problemas fiscais tendiam a
se agravar na medida em que se iniciava, sobretudo nos Estados Unidos e na
Grã-Bretanha, uma revolta dos taxpayers (contribuintes) contra a cobrança
de mais tributos [...] Estava em xeque o consenso social que sustentara o
Welfare State. Os governos estavam, ainda, sobrecarregados de atividades
— acumuladas ao longo do pós-guerra [...] O terceiro fator [...] se constituía
naquilo que a linguagem da época chamava de situação de
“ingovernabilidade”[...] Por fim, a globalização e todas as transformações
tecnológicas que transformaram a lógica do setor produtivo também
afetaram — e profundamente — o Estado (ABRUCIO, 1997, p.9).
20

Neste sentido, segundo Sundfeld (2002), o Welfare State, que significa estado de bem
estar social, onde as políticas redistributivas eram o carro chefe da Administração Pública,
havia provocado um crescimento demasiado da máquina Estatal e a concentração do poder
econômico, o que possibilitou o surgimento de monopólios mercantis. A conseq uência
advinda foi a ineficiência da Administração Pública, que não conseguia exercer um
controle efetivo das diversas empresas estatais.

As duas crises do petróleo da década de 70, a ineficiência da máquina


estatal, salvo raras exceções, o agigantamento do Estado e, entre outros
fatores, a incapacidade de gerir com eficiência um sem-número de
empresas estatais forneceram as principais razões para que, a partir do
início da década de 80, uma “nova onda” de pressões viesse questionar o
status quo vigente [...] (SUNDFELD, 2002, p.110).

Certo é que, não somente a dimensão social do modelo de Estado vigente à época foi a
responsável pelo seu declínio, o assistencialismo provocou um crescimento demasiado da
máquina pública, mas, a constante intervenção na economia e as técnicas administrativas
voltadas ao modelo burocrático de gestão administrativa, com regras rígidas, mas sem
preocupação com a eficiência na gestão, também contribuíram sobremaneira o aumento do
déficit público que culminaria com a falência Estatal.

O Estado que entrava em declínio em meio à crise dos anos 70 é subdividido por Abrucio
(1997, p.9) em três dimensões (econômica, social e administrativa), afirmando serem todas
interligadas. O autor classifica a primeira dimensão como keynesiana, a qual era caracterizada
pela ativa intervenção estatal na economia, visando, principalmente, garantir o emprego e
proteger setores estratégicos como telecomunicações e petróleo, por exemplo. O Welfare State
(Estado de bem estar social) correspondia à dimensão social do modelo, era adotado em maior
ou menor grau nos países desenvolvidos, e tinha como objetivo primordial a produção de
políticas públicas na área social (educação, saúde, previdência social, habitação etc.) que
suprissem as necessidades básicas da população. Na dimensão administrativa, era adotado o
chamado modelo burocrático weberiano, caracterizado pela impessoalidade, a neutralidade e a
racionalidade do aparato governamental.

Para Secchi (2009), as principais críticas do modelo burocrático referiam-se aos impactos que
a ênfase dada à realização de tarefas, sem, contudo, verificar o resultado em termos de
qualidade gerava sobre a motivação dos funcionários, a resistência às mudanças, o
21

desvirtuamento de objetivos provocado pela obediência irrestrita às normas, além do abuso de


critérios de antiguidade entre funcionários para acesso à promoção funcional, o que acabava
paralisando a competição por gerar corporativismo entre os funcionários. Ademais, segundo o
autor, a impessoalidade exacerbada levava a empresa a não dar importância às necessidades
individuais.

A redefinição do papel do Estado na economia e a tentativa de reduzir os gastos públicos na


área social, segundo Abrucio (1997) foram as duas saídas mais comuns adotadas por algumas
sociedades à crise das dimensões econômica e social do antigo tipo de Estado. Como forma
de superar a falência do modelo burocrático weberiano, foram introduzidos, em larga escala,
padrões gerenciais na administração pública, inicialmente em países como: Grã-Bretanha,
Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, e depois, gradualmente, na Europa continental e
Canadá. Esta mudança no padrão administrativo do Estado marcou o surgimento da
administração pública gerencial.

2.3 O surgimento da administração pública gerencial

A ineficiência dos serviços públicos, aliada ao aumento das cobranças por parte do cidadão
que utilizava estes serviços, o qual estava cada vez mais informado como consequência do
processo de globalização que se iniciara mundialmente, o endividamento público motivado
pela crise, que aumentou o déficit público vertiginosamente, somados à incapacidade do
modelo burocrático de administração de traçar estratégias que visassem à solução de cada um
desses problemas, provocou uma crise de governabilidade que motivou a realização de
reformas administrativas em vários países, propiciando o surgimento de um novo modelo de
administração pública, que foi chamado administração pública gerencial.

Segundo Pereira (2005), na década de 80, com o endividamento internacional gerado pela
crise, o ajuste fiscal passou a ser o principal foco dos políticos e formuladores de políticas
públicas nos diversos países do mundo. Nos anos 90, embora ainda continuasse sendo dado
relevante importância ao ajuste fiscal, às atenções voltaram-se também para a necessidade de
uma reforma administrativa no Estado. Para o autor, a questão central passou a ser a forma de
redefinir um novo Estado em um mundo globalizado.
22

Kettl (2005 apud SECCHI, 2009), aponta que a administração pública gerencial é um modelo
organizacional que tem sido adotado nas últimas duas décadas nas reformas da Administração
Pública. O autor define administração gerencial como um modelo que valoriza a
produtividade, a orientação ao serviço, a descentralização de serviços, a eficiência na
prestação de serviços, a marketization1 e accountability2.

O modelo burocrático, ao voltar sua preocupação com a execução dos serviços e o controle
absoluto das ações, acabou por sucumbir aos anseios de uma sociedade em processo de
globalização, dotada de mais conhecimento e, a cada dia, mais exigente em ter suas
necessidades atendidas de maneira oportuna e mais eficiente possível.

Voltado cada vez mais para si mesmo, o modelo burocrático radicional vem
caminhando para o lado contrário dos anseios dos cidadãos. É a partir deste
processo que o modelo gerencial começa a preencher um vácuo teórico e
prático, captando as principais tendências presentes na opinião pública, entre
as quais se destacam o controle dos gastos públicos e a demanda pela melhor
qualidade dos serviços públicos (ABRUCIO, 1997, p. 7).

A percepção comum de que o modelo burocrático de gestão não correspondia com a atual
situação econômica e política mundial era comum. Era necessário mudar os métodos da
administração para tornar o Estado mais eficiente. As primeiras noções sobre administração
gerencial, a qual se fundamenta, em tese, na eficiência, e era utilizada exclusivamente na
administração privada, passaram a ser cooptadas por administradores de alguns países em
crise.

Segundo Pereira (2005) a administração pública gerencial orienta-se para os resultados,


enquanto a administração pública burocrática concentra-se no processo, sem considerar a alta
ineficiência envolvida, por acreditar que os controles devem ser preventivos, ou seja, deve se
antecipar aos desvios. Prefere, pois, prevenir o desvio a puni-lo. Assim, se sua ação não
possui objetivos claros, só lhe resta controlar os procedimentos, não havendo meios para
definir indicadores de desempenho. A administração pública burocrática é auto-referente,
enquanto a administração pública gerencial é orientada para o cidadão, ou seja, enquanto uma

1
Termo usado para a utilização de mecanismos de mercado dentro da esfera pública. Exemplos de mecanismos
de mercado é a liberdade de escolha de provedor por parte do usuário do serviço púbico e a introdução de
competição entre órgãos públicos e entre órgãos públicos e agentes privados (SECCHI, 2009, p. 30).
2
Significa a prestação de contas por aquele que foi incumbido de realizar uma tarefa àquele que solicitou a tarefa
(relação entre o agente e o principal). A accountability pode ser considerada o somatório dos conceitos de
responsabilização, transparência e controle. (SECCHI, 2009, p.32).
23

foca em suas próprias necessidades e perspectivas a outra foca nas necessidades e


perspectivas do consumidor.

Nesse mesmo sentido, Secchi (2009) aponta as diferenças dos modelos burocrático e
gerencial, no que tange ao modo de como o cidadão é visto pela Administração Pública.
Segundo o autor, enquanto na administração burocrática o cidadão é considerado como
usuário do serviço público, na administração gerencial o cidadão é visto como cliente, que
deve ter suas necessidades atendidas pelo serviço público.

Para Abrucio (1997) o modelo gerencial, também conhecido como Managerialism, e suas
aplicações, encontra-se disseminado pelo mundo, sendo responsável pelo delineamento de
reformas Estatais em diversos países. Os métodos de avaliação de desempenho, novas formas
de controlar o orçamento, aliados a serviços públicos direcionados às preferências do cidadão
constituem-se em parâmetros fundamentais adotados por diversos países, de acordo com as
condições locais, com o intuito de modificar as suas antigas estruturas administrativas.

A prestação de serviços por parte dos órgãos públicos, dentro do modelo gerencial de
administração pública, volta-se então para a satisfação do cidadão, o qual é visto como cliente
e a razão de existir do Estado. A eficiência desses serviços geraria a satisfação do cidadão,
porém, o Estado, assim como se encontrava organizado administrativamente, não conseguiria
melhorar a qualidade dos serviços prestados. A “flexibilização” advinda do modelo gerencial,
a descentralização e, principalmente, a maior liberdade de ação para a administração indireta
apresentaram-se como alternativas viáveis de resposta à crise.

No que tange às atividades de controle dentro do modelo gerencial, Pereira (2005) relata que
o incentivo à iniciativa na execução de serviços, e a ausência de procedimentos rígidos de
controle, poderiam suscitar que a adoção do modelo gerencial facilitaria a apropriação, pelo
setor privado, do patrimônio público, bem como, geraria desvios funcionais, porém, a própria
administração gerencial, a descentralização, a delegação de autoridade e de responsabilidade
ao gestor público, o rígido controle sobre o desempenho exercido através dos indicadores
acordados e definidos por contrato, traduzem-se, além de modos mais eficientes de
administrar o Estado, em excelentes mecanismos de controle.

Os primeiros países a realizarem reformas administrativas para a implantação do modelo de


24

administração gerencial foram os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Nos Estados Unidos a


reforma não foi totalmente consolidada devido, principalmente, às características históricas da
economia do país; ao sistema pluralista e à ausência de negociações políticas bem sucedidas.
Na Grã-Bretanha, por outro lado, consolidou-se uma das mais bem sucedidas reformas
administrativas até aquele momento, fator que foi alvo de estudo e captação de métodos por
vários países em crise.

Os conceitos da administração gerencial, para Abrucio (1997), alcançaram o setor público dos
Estados Unidos e da Grã-Bretanha após a eleição do que chamou de “governos
conservadores”, referindo-se à eleição de Ronald Reagan e Margaret Thatcher como
presidentes, respectivamente, daqueles países. No início, os instrumentos do modelo gerencial
foram usados de maneira modesta com o objetivo imediato de reduzir os custos do serviço
público e aumentar a sua eficiência e produtividade. Naquele momento, buscava-se a reforma
do Estado caracterizada, inicialmente, pela redução do número de atividades sob sua
responsabilidade de execução, remetendo, basicamente, à privatização de empresas
nacionalizadas no pós-guerra.

Seguindo o mesmo raciocínio, Pereira (2005) relata que os primeiros países a adotarem de
maneira consolidada e sequencial a administração gerencial, foram a Grã-Bretanha, com a
eleição de Margaret Thatcher em 1979 e os Estados Unidos, com a eleição de Ronald Reagan
em 1980. A Grã-Bretanha aplicou o gerencialismo ao serviço público logo após a posse do
novo governo, e possibilitou que o país passasse por uma reforma administrativa profunda e
bem sucedida.

Como principais medidas – conforme Pereira (2005) – implantou-se uma série de programas
voltados para a modernização dos serviços prestados pelo Estado, o que contribuiu para tornar
o serviço público daquele país mais flexível, descentralizado, eficiente e orientado para o
cidadão, a exemplo da redução do quadro de servidores, privatização de empresas estatais e
criação da Efficient Unity que era uma agência encarregada de acompanhar as melhorias da
administração do serviço público e executar avaliações de desempenho dos servidores.

Conforme destaca Abrucio (1997) a reforma imposta pelo governo da Grã-Bretanha foi mais
bem sucedida que a reforma Americana, principalmente por ter conseguido alcançar um maior
corte de gastos com a administração. Este sucesso ancorou-se basicamente na redução de
25

pessoal advinda das inúmeras privatizações realizadas pelo governo.


O sucesso alcançado pela Grã-Bretanha em termos de ajuste fiscal e aumento da eficiência
dos serviços públicos chamou a atenção do governo de outros países, passando a figurar como
exemplo para novas reformas na estrutura administrativa deles.

Países como Austrália e Nova Zelândia, segundo Paula (2005), promoveram reformas
administrativas seguindo o modelo Britânico, o qual havia criado um discurso apropriado para
as reestruturações implementadas, além de se tornar fonte de exemplos para as práticas que se
pretendia implementar.

O modelo adotado pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha foi classificado por Abrucio (1997,
p.18) como “modelo gerencial puro”, e o autor delimita a busca pela eficiência como foco
central das mudanças advindas com a sua implantação. Em contrapartida, as novas estratégias
de ação implementadas pelo modelo tem como base a separação entre política e
administração, assim, a sua implementação deveria ficar a cargo dos responsáveis pela
reforma, independente do que ocorresse na política. O apoio político, portanto, é
imprescindível para a consolidação das reformas. Ronald Reagan não teve a capacidade de
articulação de Margaret Thatcher para conquistar o apoio majoritário no congresso às suas
reformas, prejudicando a implantação do gerencialismo puro na sua administração.

A discussão em torno do modelo gerencial se tornou complexa e ganhou


novos rumos a partir da metade da década de 80. Basicamente, duas
transformações foram operadas no gerencialismo puro. Uma ligada à
dinâmica intra-organizacional, priorizando os conceitos da flexibilidade,
planejamento estratégico e qualidade. A outra transformação foi mais
radical e muito mais importante para remodelar o managerialism. Trata-se
da adoção de serviços públicos voltados para os anseios dos
clientes/consumi- dores. É neste ponto que o modelo gerencial traz à tona
o aspecto público da administração pública, sem no entanto abandonar o
conceitual empresarial vinculado à eficiência e à busca da qualidade dos
serviços.(ABRUCIO, 1997, p.19).

2.4 O surgimento da administração gerencial no Brasil

A primeira reforma administrativa no Brasil ocorreu a partir de 1930 com a chegada ao poder
do governo Getúlio Vargas. Advindo da necessidade constante de intervenções do Estado no
26

setor produtivo, devido ao processo acelerado de industrialização pelo qual passava o país, o
modelo de administração burocrática foi implantado e as primeiras ações voltaram-se à
criação de carreiras e estabelecimento de regras para acesso ao serviço público. A criação do
Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), em 1936, teve como principal
objetivo a modernização da administração pública do país, que, naquela época, era marcada
pela centralização do poder e pelo patrimonialismo:

A criação do DASP representou não só a primeira reforma administrativa do


país (Brasil), com a implantação da administração pública burocrática, mas
também a afirmação dos princípios centralizadores e hierárquicos da
democracia clássica (PEREIRA, 2005, p.243).

Segundo Paula (2005, p.87), o DASP representou a busca por um “Estado moderno” e por
uma “burocracia pública profissionalizada” sendo responsável pela organização do Estado nas
áreas de planejamento, orçamento e administração de pessoal. Entre os anos de 1945 e 1964
houve várias tentativas de se retomar a reforma, porém, estas tentativas foram limitadas pelas
forças políticas de sustentação do governo, para as quais interessava manter o atual sistema de
mérito e a negociação de cargos públicos como favores.

O modelo burocrático brasileiro, com suas características rígidas de controle interno e


produção engessada, encaixava perfeitamente nas pretensões do governo daquela época, o
qual não tinha a intenção de permitir nenhum tipo de abertura que possibilitasse qualquer tipo
de intervenção externa. Porém, o arrocho fiscal e a incapacidade de atender todas as
demandas inerentes à máquina estatal, forçaram a ruptura de alguns paradigmas, ruptura esta
que permitiu, naquele momento, mesmo que de maneira modesta, o surgimento dos primeiros
traços da administração gerencial no país.

Conforme Pereira (2005) o primeiro sinal de administração pública gerencial no Brasil foi a
criação, em 1938, da primeira autarquia. Este fato marcou o surgimento da administração
indireta, com a descentralização de serviços públicos, os quais não precisariam obedecer
todos os requisitos burocráticos da administração direta. Seguindo o raciocínio, o autor relata
que a primeira tentativa de introduzir a reforma gerencial na administração pública brasileira
somente veio a acontecer no final da década de 60, com a edição do Decreto-Lei nº 200, de 25
27

de fevereiro de 19673, sob a orientação de Hélio Beltrão, que após participar da reforma
administrativa de 1967 foi ministro da desburocratização entre 1979 e 1983.

Naquele momento, a necessidade de apoio político e capacidade de articulação política, duas


razões que levaram a maioria das tentativas de reformas estatais ao insucesso em vários
países, não eram preocupação de o governo militar.

Segundo Paula (2005) a reforma administrativa advinda foi de implementação mais efetiva,
considerando que o país era governado pelo regime militar, que havia assumido o poder em
1964, não havendo, pelas características do próprio regime de governo, necessidade de se
fazer conciliações ou buscar apoio político para programar as reformas.

Porém, se por um lado o regime militar se beneficiou com esta centralização do poder de
decisão em suas mãos e inexistência de oposição que ensejasse negociações por apoio, por
outro lado, a sua tentativa de reforma não foi bem sucedida justamente por não permitir o
acesso das estratégias de mudança na administração direta, que ficou ilhada em meio às
mudanças promovidas na administração indireta.

Sob a ótica de Pereira (2005), a reforma administrativa objetivada pelo Decreto-lei nº 200/67
não se consolidou pelo fato de ter se dado total ênfase à descentralização, através da
concessão de autonomia à administração indireta e não seguir o mesmo padrão de reformas
com a administração direta, a qual se manteve envolta em rígidos padrões burocráticos. Com
isso, se por um lado verificou-se o aumento da eficiência da administração descentralizada de
produção de bens e serviços, por outro, não houve mudanças no âmbito da administração
central, que foi blindada pelos militares.

No mesmo sentido, Paula (2005) atribui à reforma administrativa de 1967 o aumento da


eficiência da máquina administrativa, mas também, a consolidação de uma tecnocracia
caracterizada pelo que chamou de “patrimonialismo moderno” marcado pela monopolização
do Estado e exclusão da sociedade civil dos processos decisórios.

3
Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a reforma administrativa no
Brasil no ano de 1967. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm> Acesso
em: 30 janeiro 2013.
28

Em suma, a reforma administrativa pretendida pelo Decreto-Lei 200/67 naufragou na


estrutura rígida do regime militar que governava o país naquele tempo, o qual não permitiu
que a administração direta fosse reformulada segundo preceitos da administração gerencial.

Com a transição democrática ocorrida em 1985, com a eleição de Tancredo Neves e, devido à
sua morte, a posse de José Sarney, não houve nenhuma tentativa de reforma do aparelho
estatal. Pelas características populistas dos partidos que comandavam a transição, e pela
euforia democrático-populista gerada pela queda do regime militar, no plano administrativo
houve uma volta aos ideais burocráticos dos anos 30 e no plano político a tentativa de
reinstalar o populismo dos anos 50, não sendo considerada a grave crise que o país
atravessava naquele momento. Esta era a situação naquele momento:

Os dois partidos que comandavam a transição eram partidos democráticos,


mas populistas. Não tinham, como a sociedade brasileira também não tinha,
a noção da gravidade da crise que o país atravessava. Havia ainda uma [...]
uma idéia de que seria possível voltar aos “anos dourados” da democracia e
do desenvolvimento brasileiro – os anos 50. Nos dois primeiros anos do
regime democrático [...] a crise fiscal e a necessidade de rever radicalmente a
forma de intervir na economia foram ignorados (PEREIRA, 2005, p.245).

Segundo Paula (2005) a crise fiscal, na qual o Brasil encontrava-se mergulhado, chamou a
atenção de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial
(BIRD) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) os quais, interessados em
apoiar a reconstrução da economia dos países emergentes, incentivaram a adesão destes países
a novos modelos de gestão e estratégias de desenvolvimento, todos eles incorporados na nova
administração pública, estas recomendações, provenientes de estudos sobre a viabilidade de
implantação de modelos gerenciais de administração nos países latinos, ficaram conhecidas
como “Consenso de Washington”.

A satisfação popular induziu o governo ao erro fatal de supor que o simples fato do Estado ter
passado por uma transição de regimes já produziria mudanças substanciais na economia,
mudanças estas capazes de promover o consumo e, consequentemente, o ajuste fiscal. Esta
inércia inicial, aliada a medidas subsequentes dotadas de caráter emergenciais e dissociadas
da realidade pela qual passava a economia mundial e brasileira, colocaram o país ainda mais
no centro da crise.

Salienta Pereira (2005), que o novo governo tentou retomar o crescimento e aumentar a
29

distribuição de renda adotando as estratégias de aumentar o gasto público e elevar os salários.


Tais medidas levaram o Plano Cruzado ao fracasso. Houve então uma tentativa de ajuste
fiscal com a rápida passagem de Luiz Carlos Bresser Pereira pelo Ministério da Fazenda em
1987, porém, esta medida não foi levada a efeito pela falta de apoio popular, que,
consequentemente, extinguiu o apoio político.

Em 1988 foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), a qual, na


concepção de alguns estudiosos de administração, veio na contramão da evolução da
administração pública mundial, e retroagiu o sistema administrativo aos princípios
burocráticos, centralizando e hierarquizando a administração pública, e, novamente, dando
prioridade à administração direta em detrimento da indireta.

Pereira (2005) tece severas críticas ao capítulo da CRFB que define e dita normas sobre a
administração pública, considerando-o um retrocesso administrativo para o Brasil:

O capítulo da administração pública da Constituição de 1988 resultaria de


todas essas forças contraditórias. Seria uma reação ao populismo e ao
fisiologismo que recrudesciam com o advento da democracia.Por isso a
Constituição sacramentaria os princípios de uma administração pública
arcaica, burocrática ao extremo. Uma administração pública altamente
centralizada, hierárquica e rígida, em que toda prioridade seria dada à
administração direta, e não à indireta. A Constituição de 1988 ignorou
completamente as novas orientações da administração pública (PEREIRA,
2005, p.246).

No final do governo Sarney em 1990, a hiperinflação voltou os olhos da sociedade brasileira


para a crise na qual estava mergulhada. Como consequência, assinala Pereira (2005), o ajuste
fiscal e as demais reformas econômicas foram focalizados pelo governo Fernando Collor de
Mello, que apesar de ter sido marcado pela corrupção generalizada, foi responsável pelos
primeiros ajustes no sentido de iniciar a reforma da economia do Estado, tais como: abertura
comercial, direcionamento do ajuste fiscal, privatizações e cancelamento da dívida pública
interna. Com o impeachment de Collor, assumiu o Governo o Dr. Itamar Franco o qual obteve
como marco principal para retirar o Brasil da crise com a implantação do Plano Real.

A necessidade de realização de uma reforma administrativa no Brasil ganhou espaço no


debate nacional com maior ênfase na campanha presidencial de 1994, sendo o tema
introduzido nos programas de governo da maioria dos candidatos à presidência.
30

Com eleição e posse do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1995, a administração


gerencial e seus conceitos ganharam força, sendo reconhecidas como modelos
imprescindíveis a serem implementados no âmbito dos programas governamentais
prioritários, sendo criado um ministério específico para a reforma do Estado.

Segundo Paula (2005), Luiz Carlos Bresser Pereira foi o grande responsável pela implantação
da administração pública gerencial no Brasil. Inicialmente, Bresser Pereira foi nomeado
Ministro da Administração Federal e da Reforma do Estado (MARE). Após sua indicação
para o MARE, Bresser Pereira viajou para a Grã-Bretanha, com o objetivo de estudar a nova
administração ali implantada.

A Reforma Gerencial de 1995 contou, inicialmente, com a elaboração do Plano Diretor


da Reforma do Aparelho de Estado (PDRAE), o qual utilizou como exemplo, principalmente,
o modelo Britânico de implantação da administração gerencial na reforma do Estado. O novo
Ministro já havia constatado a ineficiência do nosso serviço público e traçou um roteiro de
mudanças que envolveram basicamente as seguintes ações:

[...] a) a descentralização dos serviços sociais para estados e municípios; b) a


delimitação mais precisa da área de atuação do Estado, estabelecendo-se uma
distinção entre as atividades exclusivas, que envolvem o poder do Estado e
devem permanecer no seu âmbito, as atividades sociais e científicas, que não
lhe pertencem e devem ser transferidas para o setor público não estatal, e a
produção de bens e serviços para o mercado; c) a distinção entre as atividades
do núcleo estratégico, que devem ser efetuadas por políticos e altos
funcionários, e as atividades de serviços, que podem ser objeto de
contratações externas; d) a separação entre a formulação de políticas e sua
execução; e) maior autonomia para as atividades executivas exclusivas do
Estado que adotarão a forma de agências executivas; f) maior autonomia
ainda para os serviços sociais e científicos que o Estado presta, que deverão ser
transferidos para [...]organizações sociais [...] g) assegurar a
responsabilização (accountability) por meio da administração por objetivos,
da criação de quase-mercados e de vários mecanismos de democracia direta ou
de controle social, combinados com o aumento da transparência no serviço
público, reduzindo-se [...] os controles clássicos da administração pública
burocrática [...] (PEREIRA, 1999, p. 6-7)

Para a implementação da reforma em qualquer Estado, um dos requisitos preponderantes é o


apoio político, requisito pelo qual o presidente Fernando Henrique começou a trabalhar já
durante a campanha presidencial. A reação de desconfiança por vários setores da sociedade
encontrada inicialmente, foi, ao longo dos debates, sendo minada pelo reconhecimento da
31

necessidade urgente de reformas no sistema administrativo e econômico vigente à época.


Basicamente, a reforma teve por objetivo imediato promover o ajuste fiscal com a eliminação
dos excessos do quadro de pessoal, principalmente nos estados e municípios, e, em médio
prazo, agregar eficiência à administração pública, voltando o seu foco para o atendimento do
cidadão.

A aprovação da Emenda constitucional nº 19, de 4 de junho de 19984, a qual ficou conhecida


como Reforma Administrativa, possibilitou a implementação das estratégias de intervenção na
Administração Pública pretendidas pelo governo Fernando Henrique Cardoso, e teve como
pontos principais a reforma do regime jurídico dos servidores públicos a fim de adequá-lo às
novas exigências da dinâmica administrativa e a introdução do princípio da eficiência no
caput do art. 37 da CRFB. Esta emenda teve importância fundamental para nortear toda a
reforma do aparelhamento do Estatal, além de se constituir no marco da introdução da
administração gerencial de maneira efetiva no serviço público brasileiro.

Sob a ótica de Pereira (1999) a reforma gerencial brasileira implantada pelo governo
Fernando Henrique Cardoso foi, de certa forma, bem sucedida, e uma prova disto foi a
aprovação da emenda constitucional da reforma, pelo Congresso, com muito poucas
alterações em relação à proposta original do governo. Foram aprovadas ainda, as leis que
definiram as agências executivas e organizações sociais, com contratos de gestão que
permitiam medir o desempenho alcançado por cada organização depois de ganhar maior
autonomia; a lei do regime jurídico único foi alterada, extinguindo privilégios e diversificando
o regime trabalhista dos servidores públicos; a gestão pela qualidade total foi potencializada.
Além disso, a reforma contou com o apoio da opinião pública, das elites políticas dos altos
funcionários o que facilitou para que a reforma gerencial modificasse as atividades exclusivas
do Estado, privatizasse empresas estatais, diminuísse o clientelismo e as políticas
redistributivas, fatores estes que alavancaram o ajuste fiscal e possibilitariam ainda a melhor
prestação dos serviços públicos pelo Estado.

Em sentido oposto, para Bucci (2002, p.75), a reforma brasileira ocorreu obedecendo uma
posição subalterna do país perante o conjunto de nações, sendo orientada por pressões dos

4
Emenda constitucional que promoveu a reforma administrativa no Governo Fernando Henrique Cardoso.
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/.../emc19.htm> Acesso em:04 Fevereiro
2013
32

organismos financeiros internacionais (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial,


Organização Mundial do Comércio, entre outros), o que a caracterizou como uma reforma “de
fora para dentro”, que permitiu que interesses econômicos transnacionais condicionassem até
mesmo a forma e o processo de privatização de empresas estatais.
A busca pela revitalização do Estado também fez parte da pauta da agenda de governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006/2007-2010). Porém, foram encontradas as
mesmas dificuldades que os outros governos encontraram, principalmente, aquelas advindas
da necessidade constante de barganhar cargos públicos para conseguir o apoio político,
mesmo que fragilizado quando o assunto envolvia reformas que pudessem gerar
descontentamento por parte da opinião pública.

2.5 O surgimento da administração gerencial no estado de Minas Gerais

A crise econômica mundial na qual, vários países dentre eles o Brasil, encontravam-se
mergulhados desde os anos 80, afetava, consequentemente, os estados da federação. O estado
de Minas Gerais, no início dos anos 90, se viu diante de uma grave crise fiscal delineada pelo
esgotamento do modelo burocrático e pelo aumento gradual do déficit de desempenho na
qualidade e quantidade de serviços públicos prestados.

Segundo Lemos (2009), um estudo do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG)


divulgado em 2002, apontou que a crise financeira dos Estados Brasileiros tem início nos
anos 80, quando houve uma redução na arrecadação, aumento dos juros e gradual queda dos
investimentos federais e das empresas estatais. Esta situação foi se arrastando até a década de
90, ocasião na qual as despesas, principalmente com a folha de pagamento, e o déficit
previdenciário revelaram-se as principais causas de desequilíbrio nas contas públicas.

O déficit do orçamento acarretou, principalmente a partir do ano de 1996, a falta de recursos


para todas as despesas, inclusive para pagamento da folha do funcionalismo. Os investimentos
federais inexistentes e a incapacidade de quitar os compromissos assumidos com fornecedores
levaram o Estado de Minas Gerais a um processo de sucateamento da máquina administrativa,
considerando que foram feitos cortes drásticos de recursos destinados ao custeio.
33

A grave crise instalada no Estado de Minas Gerais naquela época, conforme destaca Anastasia
(2006), motivou-se pelo fato de o Estado não ter feito os ajustes necessários de adaptação à
nova situação econômica nacional, marcada pela estabilização da moeda, que provocou,
consequentemente, alterações nos mecanismos fiscais do Poder Público. Sem promover os
ajustes necessários, a Administração Estadual encontrava-se impossibilitada de cumprir seus
objetivos, a deficiência apresentada por setores como os da educação, saúde, segurança
pública, transportes, fomento ao desenvolvimento econômico, dentre outros, aumentavam o
descrédito do aparato estatal perante a população.

Em 2002, a candidatura de Aécio Neves contou com a aliança de várias correntes políticas do
Estado, o que culminou com a sua eleição, com recorde de votação, ainda no primeiro turno.
Estava sendo delineado naquele momento um importante requisito para a implementação das
mudanças necessárias no modelo administrativo do Estado de Minas Gerais, qual seja, o
apoio político.

A estratégia de reforma adotada pelo governo Aécio para combater a crise e levar o Estado ao
ajuste fiscal foi chamada “Choque de Gestão”.

O programa de governo, que havia sido escrito com o apoio de um grupo de técnicos de
diversas áreas do serviço público, sob coordenação do professor Antônio Augusto Junho
Anastasia, foi precedido de um pormenorizado estudo das condições de resposta do Estado,
sendo detectado que o principal foco de mudanças deveria ser o modelo de produção de
serviços por ele prestados.

Ao descrever a implantação do choque de gestão em Minas Gerais, Anastasia (2006) conta


que foram adotadas medidas que antecederam à posse de Aécio Neves. Ainda no curso do
governo Itamar Franco, foi solicitada a delegação de poderes pela Assembleia Legislativa
para promover a reformulação da estrutura administrativa do Poder Executivo do Estado, de
forma a adaptá-lo às necessidades do projeto. Naquele momento o déficit fiscal já
ultrapassava a cifra de dois bilhões de reais.

A criação da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG) assume posição de


destaque dentro das primeiras mudanças impostas pelo Choque de Gestão, possibilitando que
a gestão pública no Estado, que era tratada, até então, por duas Secretarias de Estado: a
34

Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral e a Secretaria de Estado de


Recursos Humanos e Administração, as quais se submetiam à Secretaria de Estado de
Fazenda, fosse centralizada em um só órgão de forma que a SEPLAG tornou-se então o órgão
central de gestão do Estado, com força hierárquica e meios necessários para gerir a
implantação do projeto de mudanças.

O choque de gestão, sob a ótica de Vilhena et al (2006, p.21), corresponde a “um conjunto
integrado de políticas de gestão pública orientado para o desenvolvimento”. As políticas de
gestão pública, nesse contexto, compreendem ações com aplicações em três áreas: a)
macrogovernamental (governo), b) institucional (organizações governamentais) e c)
individual (servidor) com vistas a possibilitar agregação de valor público nas categorias de
resultados (qualidade), processos (agilidade) e recursos (economicidade). Essas ações foram
precedidas da edição de um conjunto de 63 leis delegadas em janeiro de 2003, e contaram
com a extinção de secretarias, superintendências, diretorias, unidades administrativas e cargos
comissionados.

Ao observarem-se as estratégias adotadas pelo Governo de Minas Gerais, pode ser verificado
que visaram reduzir o tamanho da máquina estatal e aumentar a eficiência dos serviços
prestados, principais traços da administração gerencial. Na primeira reunião gerencial do
governo, realizada em 18 de fevereiro de 2003, foi apresentado aos executivos-chave da sua
área gerencial o conceito e os objetivos do novo modelo de planejamento a ser implantado,
que seria chamado “Duplo Planejamento”.

Assinala Vilhena et al (2006), que o duplo planejamento, também conhecido como “processo
dual”, nasce da necessidade dos agentes econômicos competir no presente e, paralelamente,
preparar-se para o futuro. Portanto, não basta somente traçar uma estratégia englobando
presente e futuro. A abordagem dual exige duas estratégias simultâneas e coerentes entre si,
uma com foco na excelência na gestão do presente e outra com foco nas mudanças necessárias
para o gerenciamento futuro.

A modernização da estrutura organizacional do Estado possibilitou maior eficiência na gestão


de processos, levando a uma redução drástica da despesa pública. Estes indicadores
apontavam que o Estado de Minas Gerais começava a caminhar em direção ao ajuste fiscal.
35

Paralelamente às alterações na estrutura organizacional, ocorreram melhorias


na gestão de processos que possibilitaram a redução nas despesas contratuais
com locação, água, luz e telefone[...]. Implantou-se parceria com o setor
privado, com custo bastante reduzido para o governo, para a introdução de
novos métodos de gestão em diversas áreas. Houve centralização da folha de
pagamento, com impactos positivos no gasto de pessoal, e a implantação do
Sistema Integrado de Administração de Materiais e Serviços (SIAD), com
economia de despesas e avanço na gestão de contratos e fornecedores [...]
Estimava-se, na época, uma redução de 10% nas despesas do orçamento de
2003(VILHENA et al, 2006, p.48).

A integração entre planejamento e orçamento, e o aprimoramento do ciclo orçamentário


através do desenvolvimento do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI), do
Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
e a Lei Orçamentária Anual (LOA) são fatores que permitiram, segundo Corrêa (2007), que a
Administração Pública Mineira pudesse adotar outras estratégias de políticas públicas mesmo
em um cenário de déficit público. Vale ressaltar que foi dada relevante importância à
participação popular quando da elaboração do orçamento, principalmente na elaboração do
PPAG.

Todas estas medidas adotadas pelo Governo de Minas Gerais causaram forte impacto nos
efeitos da crise e na capacidade administrativa do Estado, logrando êxito em reduzir
drasticamente o déficit público, culminando com o anúncio em novembro de 2004, do déficit
zero.

A necessidade de uma visão de futuro pregada pelo duplo planejamento provocou a revisão
do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI) 2004-2007, no ano de 2006,
ocasionando a edição da Lei 17 007 de 28 de setembro de 2007, a qual estendeu a projeção de
metas até o ano de 2023, sendo que a tônica “Tornar Minas o melhor Estado para se viver”
permaneceu inalterada. O planejamento estratégico, consolidado na nova administração
mineira como tema imprescindível à consecução dos objetivos Estatais, levou a introdução do
conceito de gestão pública por resultados em todos os setores da Administração Pública do
Estado, surgindo assim, os primeiros indícios da implantação no Estado da Reforma de
Segunda Geração, a qual foi denominada “Segunda Geração do Choque de Gestão”.
Assevera Lemos (2009) que o principal desafio para a consolidação da reforma de segunda
geração no Estado de Minas Gerais passava pela forma de se fazer o planejamento
governamental, no funcionamento do seu aparato e respectivos arranjos institucionais e na
36

gestão dos recursos, principalmente os recursos humanos. Para tanto, foram implementadas as
seguintes estratégias:
a) Revitalização do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI) precedida de
estudos de cenários exploratórios para os contextos mundial, nacional e estadual, de modo a
propor os objetivos prioritários de governo e do Plano Plurianual de Ação Governamental
(PPAG) que estabeleceu os programas de governo e a carteira de projetos estruturais;
b) Criação de um novo arranjo institucional com modelo próprio de gestão orientado a
resultados que tem como base a avaliação de desempenho institucional realizada a partir da
celebração de acordo de resultados5. Além de novas formas de relacionamento entre o setor
público e o setor privado através da realização de parcerias sem fins lucrativos, com as
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e com fins lucrativos, através
das Parcerias Público-Privadas;
c) Incremento no padrão de gestão de pessoas, com incentivo a capacitação e estabelecimento
de política de recursos com ênfase na avaliação de desempenho.

O acordo de resultados, desta forma, surge como um mecanismo importante que visa agregar
eficiência à execução das políticas públicas orientadas para o desenvolvimento econômico,
social e sustentável do Estado de Minas Gerais. A partir de 2003 foi adotado um sistema de
contratualização (acordo de resultados) com base na Lei 14 6946 de 30 de julho de 2003 e dos
decretos 43 6747 e 43 6758 ambos de 04 de Dezembro de 2003, sendo que, à partir de 2007
essa legislação sofreu algumas alterações, quando da implementação da segunda geração do
Choque de Gestão, sendo a Lei 14 694/03 revogada pelo artigo 51 da Lei nº 17 600, de 1 de
julho de 2008 a qual, juntamente com algumas outras disposições legais, visaram adequar o
acordo de resultados à política de governo do Estado naquele período em que foram
aprovadas.

5
“Instrumento de pactuação de resultados, mediante negociação entre dirigentes de órgãos e entidades do Poder
Executivo e as autoridades que sobre eles tenham poder hierárquico ou de supervisão” (LEMOS, 2009 p47).
6
Disciplina a avaliação de desempenho institucional, o acordo de resultados, a autonomia gerencial,
orçamentária e financeira, a aplicação de recursos orçamentários provenientes de economias com despesas
correntes, no âmbito do poder executivo e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/index.html> Acesso em: 07 Fevereiro 2013.
7
Dispõe sobre a aplicação, no âmbito do Poder Executivo, de recursos em desenvolvimento institucional e
prêmio por produtividade, provenientes da economia de despesas de que trata a Lei nº 14.694, de 30 de Julho de
2003. Disponível em: <http://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/index.html> Acesso em: 07 Fevereiro 2013.
8
Dispõe sobre a avaliação institucional, o acordo de resultados e a autonomia gerencial, orçamentária e
financeira, no âmbito do poder executivo, de que trata a lei 14.694, de 30 de julho de 2003. Disponível em:
<http://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/index.html> Acesso em: 07 Fevereiro 2013.
37

A definição de metas, a busca pela eficiência dos serviços prestados e a necessidade de


adequação à política de governo implantada em Minas Gerais levou os órgãos da
Administração Direta, dentre eles a Polícia Militar de Minas Gerais, a agregar a cientificidade
ao planejamento de suas ações, além de postar-se em um cenário de mudanças onde seria
necessário planejar com foco no presente e prevendo futuras mudanças sociais, econômicas
ou políticas que pudessem interferir nos resultados de seus serviços.

2.6 O surgimento da administração gerencial na Polícia Militar de Minas Gerais

A crise instalada no Estado de Minas Gerais desde o final da década de 80, e que se agravou
severamente em meados da década de 90, afetou gravemente a capacidade de resposta dos
órgãos públicos estatais. A falta de recursos para investimento, e até mesmo para o custeio
básico dos serviços, colocava em xeque perante a opinião pública a crença de ter seus anseios
atendidos pelos serviços públicos existentes em Minas Gerais.

Neste contexto, afirma Souza et al (2011) que a PMMG, no ano de 2003, marco inicial da
introdução da administração gerencial em Minas Gerais, encontrava-se sucateada, com sérios
déficits em seus quadros de efetivo e problemas generalizados de ordem logística.

Segundo Souza et al (2011), no ano de 2004, a PMMG enfrentava um cenário preocupante,


qual seja, a baixa visibilidade conceitual da segurança pública, com raras iniciativas que
extrapolavam a responsabilidade legal das polícias. Tratava-se de um fenômeno nacional.
Paralelamente, a falta de investimentos na renovação da frota e na reposição do contingente
de policiais para cobrir as transferências para a reserva levava a uma exposição negativa sem
precedentes, que comprometia a imagem institucional perante a opinião pública e veículos de
imprensa, os quais já apresentavam dúvidas sobre a sua capacidade de lidar com o aumento
vertiginoso do índice de criminalidade violenta, principalmente na capital.

No ano de 2003, ainda era muito recente a criação da Secretaria de Estado de Defesa Social
(SEDS), a qual foi incumbida de gerir os esforços operacionais dos órgãos do Sistema de
Defesa Social e os recursos alocados à segurança pública, em que pese expressivos quando
38

considerados os governos anteriores, ainda não conseguiam provocar melhorias consideráveis


no quadro das instituições policiais.

Com técnicas importadas da Polícia de Nova York (Estados Unidos), no final dos anos 90 foi
criado na PMMG um programa de modernização organizacional caracterizado pela
introdução do georreferenciamento como ferramenta complementar do planejamento.

Este programa apresentou, na visão de Souza et al (2011) três características principais, a


saber: aumento da autonomia das Companhia de Polícia Militar, encarregadas do
policiamento em grupos de bairros da capital de Minas Gerais; realização periódica de
reuniões entre planejadores e executores do policiamento, para discutir os resultados e corrigir
falhas no planejamento, caso ocorressem e mobilização comunitária, a qual possibilitaria a
inserção no planejamento das prioridades e necessidades apresentadas pelo usuário dos
serviços da corporação.

A busca pela introdução da administração gerencial na PMMG antecede a reforma


administrativa realizada em Minas Gerais no ano de 2003. A concessão de autonomia aos
Batalhões e Companhias de policiamento, a busca pelo planejamento estratégico, a
preocupação com o “cliente” recebedor dos serviços e a avaliação dos resultados obtidos, já
no ano de 1999, é uma prova disto. No ano de 2002, foi lançado o Programa “Polícia
Orientada para Resultados” com a edição da Diretriz para a Produção de Serviços de
Segurança Pública nº 01/2002 do Comando Geral da PMMG (MINAS GERAIS, 2002).

Os princípios da gestão estratégica são: Qualidade, resultados, indicadores e metas os quais,


com a introdução irreversível da administração gerencial a nível mundial, passaram a ocupar
uma posição de maior destaque tanto no pensamento quanto nas práticas dos servidores
públicos e dos agentes políticos que passaram a primar pela aplicação, principalmente, do
princípio da eficiência da Administração Pública, voltado para atender as demandas da
sociedade (MINAS GERAIS, 2010a).

A partir do ano de 2007, o Governo do Estado de Minas Gerais implantou a contratualização


de resultados com os diversos órgãos componentes da sua administração. Naquele momento
foram chamadas somente as Secretarias de Estado, responsáveis pelos demais órgãos, dentre
estas, a Secretaria de Estado de Defesa Social. Em 2008, após receberem suas metas, cada
39

agência procurou desdobrar os indicadores pactuados com os órgãos que compunham a sua
pasta de governo, iniciando a pactuação de metas entre a PMMG e o Governo, via SEDS.

Visando consolidar a reforma gerencial na PMMG, e como forma de enfatizar o acordo de


resultados nos seus planejamentos foi criada na sua estrutura de gerenciamento, no início de
2008, a Assessoria de Gestão para Resultados (AGR), a qual possui a função principal
promover a execução das estratégias planejadas, dos projetos e metas da Instituição, de forma
a maximizar os resultados na área de segurança pública. Através desta e de outras ações, a
Polícia Militar conseguiu adaptar-se ao grande volume de mudanças decorrentes da sua
transição para o modelo gerencial, instalando a sua Unidade de Gestão Estratégica - UGE, que
é a Assessoria de Gestão para Resultados - AGR, dentro dos parâmetros teóricos ideais
defendidos pelos padrões administrativos cientificistas (MINAS GERAIS, 2010a).

Na próxima seção abordar-se-á sobre os princípios fundamentais da Administração Pública,


os quais foram introduzidos na legislação brasileira após a promulgação da Constituição da
República Federativa do Brasil em 1988 e marcaram a concretização da vontade do
Legislador em implantar os conceitos do princípio da eficiência na Administração Pública.
40

3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ADMNISTRAÇÃO PÚBLICA

Na CRFB promulgada em 1988, o Legislador extraiu os valores éticos, sociais, políticos e


jurídicos, intrínsecos e consolidados na sociedade, e os coverteu em princípios jurídicos, aos
quais o ordenamento jurídico e os atos administrativos devem estar amoldados.

O estudo desses princípios jurídicos, também chamados de princípios da administração


pública, possui relevante importância no embasamento teórico desta pesquisa, uma vez que, a
Polícia Militar de Minas Gerais, como órgão da Administração Direta do Estado de Minas
Gerais, deve balizar seus atos, incluindo as suas políticas de Comando, dentro dos
pressupostos delineados por eles.

A Administração Pública, conforme conceituada na subseção 2.1, trata-se de cada setor que
constitui a máquina estatal, cada órgão responsável pela execução das políticas públicas do
Estado, bem como, os serviços prestados à população, ou seja, trata-se do conjunto de órgãos
os quais têm por lei a função de administrar o Estado e executar as políticas públicas.

Para movimentar a máquina pública de prestação de serviços à população e cuidar do


patrimônio público, a administração precisa criar e praticar atos. Os atos praticados pela
Administração Pública são regidos por princípios fundamentais orientadores que, explícita ou
implicitamente, encontram-se inseridos no artigo 37, caput, da CRFB.

Como regra geral, está submetida a esses princípios a Administração direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal, Municípios. Assim, as Autarquias,
Fundações Públicas, Agências reguladoras e executivas, Empresas Públicas e Sociedades de
Economia Mista9.

Os princípios fundamentais da administração norteiam todos os atos administrativos, inclusive


a própria produção normativa, constituindo-se em diretrizes básicas para os atos do
administrador:

9
Disponível em: < http://www.webjur.com.br/doutrina/Direito_Brasil.htm> Acesso em: 8 janeiro 2013
41

Os princípios são as ideias centrais de um sistema, estabelecendo suas


diretrizes e conferindo a ele um sentido lógico, harmonioso e racional, o que
possibilita uma adequada compreensão de sua estrutura. Os princípios
determinam o alcance e o sentido das regras de um dado subsistema do
ordenamento jurídico, balizando a interpretação e a própria produção
normativa (ALEXANDRINO et al, 2012, p.185).

Para Marinela (2012) princípios são proposições básicas, fundamentais, típicas, que
condicionam as demais estruturas e institutos subsequentes de uma disciplina. São, portanto,
os alicerces, os fundamentos da ciência e surgem como parâmetros para a interpretação das
demais normas jurídicas.

O artigo 37 da CRFB determina que “A Administração Pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
Princípios da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência”.

Conforme Alexandrino et al(2012), o fato dos princípios fundamentais se encontrarem


inseridos na CF no art. 37 capítulo VII – o qual trata da Administração Pública, é uma
demonstração clara do legislador de que os princípios ali enumerados são de observância
obrigatória para todos os Poderes, quando estiverem no exercício de funções administrativas,
e para todos os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), alcançando a
administração direta e indireta.

Não se devem confundir princípios com orientações que, segundo a discricionariedade dos
atos administrativos, o Administrador pode furtar-se de obedecê-los quando da atuação em
razão de sua função, pelo contrário, sendo a Constituição da República Federativa do Brasil
uma lei, tudo o que nela se encontra inserido são leis, adotando os princípios da
Administração Pública posição de superioridade sobre as demais leis, por fundamentar a
aplicação delas:

Em resumo, os princípios constitucionais são normas jurídicas primárias ou


superiores de eficácia imediata, plena e imperativa, hegemônicas em relação
aos demais dispositivos constitucionais e infraconstitucionais do sistema
normativo, que, de um lado expressam os valores transcendentais da
sociedade e o conteúdo essencial da Magna Carta e, de outro, direcionam e
fundamentam a formação, o conteúdo, a aplicação e a exegese de todas as
demais normas componentes do ordenamento jurídico (PAZZAGLINI
FILHO, 2003, p.11).
42

Segundo Meirelles (2010), os princípios básicos e implícitos da Administração Pública


constituem-se de doze regras de observância permanentes e obrigatórias para o bom
administrador e na interpretação do Direito Administrativo: legalidade, moralidade,
impessoalidade ou finalidade, publicidade, eficiência, razoabilidade, proporcionalidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, motivação e supremacia do interesse
público.

Neste sentido, o referido autor conclui que os cinco primeiros princípios estão expressamente
previstos no artigo. 37 Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) e os demais,
embora não mencionados, foram acrescidos pelo artigo 2º da Lei Federal 9 78410 de 29 de
janeiro de 1999 que dispõe que “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência”(BRASIL,
1999).

Complementa Meirelles, que a Lei Federal 9.784/99 determina que todos os entes federados
devem obedecer aos princípios da administração pública, na prática de atos inerentes às
funções públicas.

[...] decorrem do nosso regime político, tanto que, ao lado daqueles, foram
textualmente enumerados pelo art. 2º da Lei Federal 9.784, de 29.1.99. Essa
mesma norma diz que a Administração Pública deve obedecer aos princípios
acima referidos. Pelo que nela se contém [...] normas gerais da atividade
administrativa não só da União, mas também dos Estados e Municípios.
(MEIRELLES, 2010, p.88).

Para Pazzaglini Filho (2003), os princípios são multifuncionais, e possuem como principais
funções: a normogenética (direcionam a laboração, o alcance e a aplicação das leis); a
sistêmica (promovem a harmonia entre as normas promovendo a unidade do sistema jurídico);
a orientadora (servem de mandamentos direcionadores da aplicação da constituição no
exercício da função pública administrativa e jurisdicional); a vinculante (todas as demais
regras do ordenamento jurídico estão atreladas aos princípios que as ensejaram); a
interpretativa (a interpretação dos princípios constitucionais deve acompanhar a evolução dos
valores éticos, sociais e políticos da sociedade, e, consequentemente, a interpretação das

10
Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. Disponível em: <
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9784.htm> Acesso em: 08 janeiro 2013.
43

normas vinculadas a estes princípios também deve acompanhar tal evolução); e a supletiva (
os princípios, além de nortear a aplicação das normas reguladoras, possuem força para suprir
a insuficiência ou falta de norma jurídica peculiar a determinado caso concreto, sendo
aplicados diretamente).

A seguir, discriminam-se os princípios da administração pública afetos ao tema desta


pesquisa, bem como, trata-se da sua inserção em tais princípios, destacando, sobretudo, o
princípio da eficiência.

3.1- Princípio da supremacia do interesse público

Trata-se de princípio implícito, que, para Alexandrino et al (2012) é característico do regime


democrático e do sistema representativo, onde se presume que toda atuação do Estado seja
pautada pelo interesse público, pela vontade da maioria. Assim sendo, certo é que a vontade
do Estado subordine os interesses privados a exemplo do que pode ocorrer na
desapropriação11 de um imóvel.

Decorre, assim, da premissa da vida pacífica em sociedade, onde o interesse da maioria,


respaldado pela lei, prevalece sobre o interesse particular ou de uma minoria. Trata-se de
importante mecanismo de defesa das classes menos favorecidas perante os detentores do
capital, evitando a concentração das decisões políticas no favorecimento de particular ou de
um grupo minoritário da sociedade.

Para Mello (2002) o interesse público não deve ser entendido como antagônico aos interesses
privados, ou seja, o interesse do todo não é dotado de consistência autônoma, não é uma
realidade independente e estranha a qualquer interesse privado, muito antes, pelo contrário,
trata-se de uma forma específica da manifestação dos interesses das partes.

11
Procedimento através do qual o Poder Público compulsoriamente despoja alguém de uma propriedade
e adquire, mediante indenização, fundado em um interesse público. Disponível em: <
http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=6976> Acesso em: 08 janeiro 2013.
44

Segundo Marinela (2012), a supremacia do interesse público é considerada um princípio geral


do direito, inerente a qualquer sociedade, como condição de sua existência. Trata-se, portanto,
de pressuposto lógico do convívio social onde a Administração assume posição privilegiada
perante os administrados, além de prerrogativas e obrigações que não são extensíveis aos
particulares.

Uma parte ainda minoritária da doutrina brasileira reúne esforços para desconstruir o
princípio da supremacia do interesse público, por considerá-lo como base do autoritarismo
retrógrado e ultrapassado, onde a conceituação inexata do termo “interesse público” justifica,
muitas vezes, abusos e arbitrariedades praticados pelos administradores (MARINELA, 2012).

Para Pazzaglini Filho (2003) a titularidade do interesse público, logicamente, é do povo,


sendo que, a Administração Pública é a máquina que tem por dever a sua concreção,
preservação e aprimoramento, sendo, portanto, apenas responsável pela sua tutela; o interesse
público é, portanto, para ela, indisponível e irrenunciável.

No âmbito da Polícia Militar de Minas Gerais, verifica-se a aplicação irrestrita do princípio da


Supremacia do Interesse Público em todos os atos administrativos e planejamentos. Um
exemplo disso é a cobrança da taxa de segurança pública (TSP), que se trata de um valor
monetário cobrado dos organizadores de eventos particulares que requeiram emprego de
policiais militares, evitando assim, que fosse destinado um serviço de caráter público para o
atendimento de uma demanda particular.

3.2 Princípio da indisponibilidade do interesse público

Segundo Alexandrino et al (2012), o princípio da indisponibilidade do interesse público


forma, juntamente com o princípio da supremacia do interesse público, os dois pilares do
denominado regime jurídico-administrativo, no qual nosso país está inserido. Este princípio
prega que a Administração não é dona da coisa pública, e sim, mera gestora de bens e
interesses alheios.

O princípio da Indisponibilidade do interesse público advém do cuidado que o Administrador


45

deve ter no trato para com a coisa pública, sob a qual detém somente o dever legal de bem
administrar, e, em hipótese alguma, o poder de gerir como assim julgar melhor ou, de acordo
com seus interesses ou de terceiros.

Para Meirelles (2010) a indisponibilidade do interesse público apresenta-se como a medida do


princípio da supremacia do interesse público. Assim, os interesses coletivos devem prevalecer
sobre o interesse do administrador ou da Administração Pública, o princípio da
indisponibilidade do interesse público vem firmar a ideia de que o interesse público não se
encontra à disposição do administrador ou de quem quer que seja.

Marinela (2012) salienta que o princípio da indisponibilidade do interesse público atua como
contrapeso na concessão de posição de superioridade fornecida à Administração Pública pelo
princípio da supremacia do interesse público. Neste contexto, o princípio em pauta exige
maiores cuidados e obediência a inúmeras formalidades, tendo em vista que esta atuação deve
ocorrer nos limites da lei.

3.3- Princípio da legalidade

Segundo Pazzaglini Filho (2003, p.58) a máxima do direito Inglês “rule by the law, not by
men”, que significa: as leis governam, não os homens, define bem o Estado de Direito. Nele, o
Administrador está condicionado a fazer somente o que está previsto na lei.

Conforme determina o art. 5º, inciso II da Constituição da República Federativa do Brasil:


“[...] II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da
lei [...]”.

O princípio da legalidade, para Alexandrino et al (2012), é a diretriz basilar de todos os


estados de direito, consistindo, a rigor, no cerne da própria qualificação destes, submetendo a
sua atuação ao ordenamento jurídico, vigorando, assim, o “império da lei”. Portanto, a
legalidade traduz a ideia de que a Administração Pública somente tem possibilidade de atuar
quando exista lei que determine (atuação vinculada) ou autorize (atuação discricionária) a sua
atuação.
46

Enquanto o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado é da


essência de qualquer Estado ou sociedade juridicamente organizada com fins políticos, o da
legalidade é específico do Estado de Direito.

[...] é justamente aquele que o qualifica (Estado de Direito) e que lhe dá


identidade própria. Por isso mesmo é o princípio basilar do regime jurídico-
administrativo, já que o Direito Administrativo (pelo menos aquilo que como
tal se concebe) nasce com o Estado de Direito: é uma consequência dele. É o
fruto da submissão do Estado à lei. É, em suma, a consagração da idéia de que
a Administração Pública só pode ser exercida na conformidade da lei e que, de
conseguinte, a atividade administrativa é atividade sublegal, infralegal,
consiste na expedição de comandos complementares à lei. (MELLO, 2002,
p.83).

Complementa Pazzaglini Filho (2003), que a atuação do agente público não se encontra
subordinada somente à lei aplicável à determinada conduta frente a um caso concreto, ela
subordina-se também a todas as normas jurídicas e aos princípios constitucionais que regem a
atuação administrativa.

Consoante Marinela (2012) o princípio da legalidade não exclui o exercício de atuação


discricionária do administrador, levando-se, logicamente, em conta, a conveniência e a
oportunidade do interesse público e a liberdade e o juízo de valor da autoridade. Pela
impossibilidade de se prever todos os casos quando da formulação da lei, bem como, pelo
próprio caráter de abstração e generalização desta, várias situações que possam advir exigirão
que a Administração se faça valer da discricionariedade para efetivamente atender a
finalidade legal e, como consequência, cumprir o princípio da legalidade.

Assinala Pazzaglini Filho (2003) que o homem pode fazer tudo que não for proibido pela
norma jurídica, além de não poder ser compelido a fazer ou deixar de fazer o que ela não lhe
determine. Já o Agente Público possui sua atividade vinculada à previsão legal, ou seja, a
existência de uma lei prevendo a conduta adotada é pressuposto básico para que seja lícita.
47

3.4 Princípio da moralidade

Moral12 é uma palavra de origem latina, que provém do termo moris (“costume”). Refere-se
ao conjunto de crenças, costumes, valores e normas de uma pessoa ou de um grupo social, e
guia o comportamento dos indivíduos pertencentes a determinado grupo estabelecendo o que
é correto e o que não é dentro do pacto social. A moralidade constitui o conjunto de normas
morais as quais devem ser respeitadas enquanto indivíduo pertencente a um grupo social.

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, na relatoria da ação direta de


inconstitucionalidade (ADI) nº 2 66113, frisou em seu relatório que:

A atividade estatal, qualquer que seja o domínio institucional de sua


incidência, está necessariamente subordinada à observância de parâmetros
ético-jurídicos que se refletem na consagração constitucional do princípio da
moralidade administrativa. Esse postulado fundamental, que rege a atuação
do Poder Público, confere substância e dá expressão a uma pauta de valores
éticos sobre os quais se funda a ordem positiva do Estado. O princípio
constitucional da moralidade administrativa, ao impor limitações ao
exercício do poder estatal, legitima o controle jurisdicional de todos os atos
do Poder Público que transgridam os valores éticos que devem pautar o
comportamento dos agentes e órgãos governamentais (BRASIL, 2002).

O parágrafo 4º do artigo 37 CRFB trata da lesão à moralidade, referindo-se à improbidade


administrativa no sentido de que “Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal
cabível.”

À partir da promulgação da CRFB em 1988, a moralidade passou a ser um princípio


constitucional que se constitui em requisito fundamental para que os atos administrativos
praticados tenham validade.

Para Marinela (2012) o princípio da moralidade exige que a administração e seus agentes

12
Disponível em: <http://conceito.de/moral#ixzz2KyJD7QFg> Acesso em: 13 fevereiro 2013.
13
Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=387196>. Acesso em:
08 Janeiro 2013.
48

atuem em conformidade com princípios éticos aceitáveis socialmente, logo, este princípio
associa a ideia de honestidade, de obediência a padrões éticos, de boa fé, de lealdade, de
disciplina interna na Administração Pública.

Segundo Alexandrino et al (2012), a moral administrativa liga-se à ideia de probidade, de boa


fé, de legitimidade do ato administrativo.

A moralidade, portanto, encontra-se indissociavelmente ligada à ética e aos valores morais


que devem estar presentes nos atos praticados pela Administração Pública, constituindo-se
atentados contra este princípio, na visão de Pazzaglini Filho (2003) a corrupção e a
impunidade dos corruptos, o enriquecimento ilícito dos agentes públicos, a exigência ou
solicitação e o recebimento de propinas para o atendimento de pleitos legítimos dos
particulares na Administração Pública, o tráfico de influência, o nepotismo e mau uso do
dinheiro público.

3.5 Princípio da impessoalidade

O princípio da impessoalidade, conforme Alexandrino et al (2012), explicita a ideia de que


toda atuação da administração pública deve visar o interesse público. Impede, portanto, que o
ato administrativo seja praticado visando a interesses do agente ou de terceiros e também
assegura a igualdade de todos perante os atos administrativos.

Alguns autores afirmam que o princípio da impessoalidade deriva do princípio geral da


igualdade, do tratamento isonômico aos administrados, sem haver discriminações e nem
privilégios, com foco na coletividade e abstração de ações voltadas para projetos pessoais,
nesse sentido:

No tocante ao princípio da impessoalidade, derivado do princípio geral da


igualdade, mister traduzi-lo como vedação constitucional de qualquer
discriminação ilícita e atentatória à dignidade da pessoa humana. Ainda
segundo este princípio, a Administração Pública precisa dispensar um
objetivo tratamento isonômico a todos os administrados, sem discriminá-los
com privilégios espúrios, tampouco malferindo-os persecutoriamente, uma
vez que iguais perante o sistema. Quer-se, através da implementação do
49

referido princípio, a instauração, acima de sinuosos personalismos, do


soberano governo dos princípios, em lugar de idiossincráticos projetos de
cunho personalista e antagônicos à consecução do bem de todos (FREITAS,
1999, p.64).

Para Mello (2009 apud ALEXANDRINO et al, 2012), a Constituição da República


Federativa do Brasil possui dispositivos explícitos derivados do princípio da impessoalidade
na Administração Pública, conforme podemos observar no artigo 37, inciso II, que impõe o
concurso público como condição para ingresso em cargo efetivo ou emprego público
(oportunidades iguais para todos), e o art. 37, inciso XXI, que exige que as licitações públicas
assegurem igualdade de condições a todos os concorrentes.

O princípio da impessoalidade procura delimitar a ação do Administrador de maneira que o


impossibilite de voltar seus atos em benefício dele próprio ou de terceiros, logicamente, em
prejuízo de outrem.

A Lei Federal 9 784/99 faz referência às duas acepções do princípio da impessoalidade, no


seu artigo 2º, parágrafo único, incisos III e XIII:

Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público
e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre
outros, os critérios de:
[...]
III – objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção
pessoal de agentes ou autoridades;
[...]
XIII – interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o
atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de
nova interpretação(BRASIL, 1999).

O princípio da Impessoalidade subjuga, portanto, a vontade do administrador ao interesse


público, onde Marinela (2012) aponta que há juristas que admitem que o princípio da
impessoalidade nada mais é que um sinônimo do clássico princípio da finalidade ou
imparcialidade, estando estes dois últimos embutidos ao primeiro.
50

3.6 Princípio da publicidade

Em um mundo globalizado, onde a informação assume papel preponderante para o


desenvolvimento de qualquer nação, não seria prudente, e nem mesmo aceitável, que os atos
praticados pelo Administrador não fossem tragos a público, para que o povo, como principal
interessado e recebedor destes serviços, tome conhecimento e possa aceitar ou contestar estes
atos.

Segundo Alexandrino et al (2012, p.199), o princípio da publicidade também apresenta dupla


acepção em face do sistema decorrente da CRFB.

a) exigência de publicação em órgão oficial como requisito de eficácia dos


atos administrativos que devam produzir efeitos externos e dos atos que
impliquem ônus para o patrimônio público;
b) exigência de transparência da atuação administrativa (diz respeito à
exigência de que seja possibilitado, da forma mais ampla possível, o controle
da Administração Pública pelos administrados.)

O sigilo só é admitido na Administração Pública, segundo Mello (2002), na situação prevista


no inciso XXXIII do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB),
quando “imprescindível à segurança da Sociedade e do Estado”.

Salienta Pazzaglini Filho (2003), que o princípio da publicidade atua como requisito essencial
para a transparência do ato administrativo, para o controle interno e externo das atividades do
Estado e como provedor de segurança jurídica para os cidadãos e para a sociedade, sendo
requisito para eficácia dos atos produzam efeitos externos aos Poderes Públicos.

Nesse mesmo sentido, destaca Marinela (2012) que o princípio da publicidade nada mais é
que a divulgação tendo como finalidade o conhecimento público. Este princípio parte da ideia
de que o administrador exerce função pública, atividade esta em nome do interesse público,
logo, nada mais justo que o povo, titular desse interesse tenha ciência do que está sendo feito
com seus direitos.
51

3.7 Princípio da eficiência

Assinala Batista Júnior (2004) que a eficiência fundamenta-se, basicamente, na melhor


maneira e executar ou desenvolver as coisas de modo que proporcione o melhor resultado.
Espera-se que, a partir deste melhor desenvolvimento/execução, surjam benefícios para a
administração pública como a produtividade, a economicidade, a qualidade, a celeridade e
presteza, a continuidade de seus traços distintivos, os quais são considerados facetas da
eficiência.

No atual modelo de emprego de cães na PMMG, o animal é treinado de modo a especializar-


se para realizar apenas uma função dentre o rol de funções existentes, a saber: policiamento
ostensivo, localização de entorpecentes através do faro, localização de explosivos através do
faro, busca e captura de fugitivos e controle de distúrbios civis14.

Com isso, as guarnições de patrulhamento com cães, lançadas nos diversos turnos de serviço,
também estarão aptas a atuar somente de acordo com a especialidade do cão a qual
transportam. Dentro dos pressupostos básicos do princípio da eficiência, é importante
verificar se há possibilidade de se treinar um mesmo cão para executar mais de uma função,
quais sejam, policiamento ostensivo e localização de entorpecentes através do faro, e verificar
ainda, qual(is) os benefício(s) que podem advir desta estratégia de ação.

Marinela (2012) ressalta que o princípio da eficiência requer dos serviços prestados pela
Administração Pública um aperfeiçoamento, que tem que ser eficaz quanto aos meios para a
sua implementação e quanto aos resultados obtidos, além da necessidade de eficiência
qualitativa e quantitativa dessas atividades, o que está distante da realidade brasileira. Quanto
aos servidores, a Autora relata que a eficiência aparece como requisito indispensável para a
aquisição e perda da garantia da estabilidade, conforme regras do artigo 41 da CRFB.

A busca pela eficiência, conforme amplamente debatido na seção 2 desta pesquisa, é o foco

14
Deixamos de elencar as provas funcionais, apresentações cinotécnicas de adestramento e as atividades de
cinoterapia (terapia com uso de cães) pelo fato de não constituírem-se diretamente em atividades de preservação da
ordem.
52

central da administração pública gerencial, que busca alinhar os métodos de gestão públicos
aos métodos bem sucedidos da gestão privada, concedendo autonomia aos órgãos,
descentralizando o poder, auferindo resultados e premiando as iniciativas de destaque.

Os métodos de controle a que a administração pública está sujeita, aliados aos seus métodos
de gestão, tornam-na ineficiente, nesse sentido:

[...]os controles a que está sujeita a administração pública, e os métodos de


gestão que utiliza, acarretam morosidade, desperdícios, baixa produtividade,
enfim, grande ineficiência, em comparação com a administração de
empreendimentos privados. Propõem-se, dessa forma, que a Administração
pública se aproxime-se o mais possível da administração das empresas do
setor privado. Esse modelo de Administração Pública, em que se privilegia a
aferição de resultados, com ampliação de autonomia dos entes
administrativos e redução dos controles de atividade meio, identifica-se com
a noção de administração gerencial, e tem como postulado central
exatamente o princípio da eficiência (ALEXANDRINO et al, 2012, p.201).

O princípio da eficiência apresenta dupla necessidade, segundo Di Pietro (2010), espera-se a


melhor atuação do agente público no desempenho de suas funções, a fim de obter os melhores
resultados e, que o modo de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Pública exige-
se que este seja o mais racional possível, no intuito de alcançar melhores resultados na
prestação dos serviços públicos.

Verifica-se que o princípio da eficiência na Administração Pública possui vínculo direto com
a economia de meios (humanos ou logísticos) para se atingir determinado objetivo ou realizar
determinada função pública de forma mais produtiva.

O princípio da eficiência parece um extravasamento dos que o agregaram ao art. 37 da CRFB


e que se constitui numa faceta de um princípio mais amplo, já tratado anteriormente pelo
direito Italiano: o princípio da “boa administração”. Prossegue o autor afirmando que “tal
princípio não pode ser concebido senão na intimidade do princípio da legalidade, pois jamais
uma suposta busca por eficiência justificaria postergação daquele que é o dever administrativo
por excelência” (MELLO, 2002, p.185).

Para Marinela (2012) a eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com
presteza, perfeição e rendimento funcional. Consiste na busca de resultados práticos, de
53

produtividade, de economicidade com a consequente redução de desperdícios do dinheiro


público e rendimentos típicos da iniciativa privada, salientando que, neste caso, o lucro é do
povo.

Neste enfoque, o tema desta pesquisa encontra-se embasado teoricamente pelo princípio
constitucional da eficiência, onde será verificado se o emprego do cão de dupla aptidão
agregará eficiência ao policiamento com cães na PMMG, gerando economia de recursos
logísticos e humanos (economicidade) e aumentando a capacidade de resposta das guarnições
(produtividade).

3.8- Princípio da razoabilidade e proporcionalidade

Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade são princípios constitucionais


implicitamente interligados que derivam do princípio da Legalidade. Nesse sentido,
Pazzaglini Filho (2003) afirma que a razoabilidade significa a coerência e justiça da ação
administrativa, e a proporcionalidade representa a compatibilidade, a suficiência da resposta
administrativa ao fato ou motivo que a ensejou.

Afirma Alexandrino et al (2012), que os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade


são, na verdade, princípios gerais de direito, aplicáveis a praticamente todos os ramos da
ciência jurídica. Porém, embora sejam implícitos, o Supremo Tribunal Federal, em diversos
julgamentos, tem apontado como sede material expressa desses princípios o postulado do
devido processo legal15, o que remete às garantias processuais da ampla defesa, contraditório,
presunção de inocência, ônus da prova para a acusação, juiz natural, vedação a tribunais de
exceção, dentre outras.

Segundo Marinela (2012) o princípio da razoabilidade proíbe a atuação do Administrador de


forma arbitrária, logo, proíbe excessos, principalmente quando agrega discricionariedade em
seus atos, admitindo também que este princípio absorve o princípio da proporcionalidade.

15
Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 5º, inciso LIV.
54

3.9- Princípio da autotutela

Para Alexandrino et al (2012) o princípio da autotutela diz respeito à prerrogativa que a


administração pública tem de controlar seus próprios atos, apreciando-os quanto ao mérito e
quanto à legalidade. A administração pública pode, de ofício ou provocada, anular seus atos
ilegais bem como, examinada a conveniência, revogar seus atos legítimos.

Segundo Marinela (2012) é preciso considerar que este controle ou revisão de atos por parte
de Administração Pública só pode ser implementado com respeito à lei, sob pena de se
cometer ilegalidades e abuso de poder.

O princípio da autotutela, como ressalta Mello (2002), deriva justamente do princípio da


supremacia do interesse público, sendo uma consequência da posição de supremacia fornecida
por ele à Administração Pública.

3.10- Princípio da motivação

Os atos praticados pela Administração Pública devem estar vinculados à lei. Dessa forma,
necessário se torna explicitar a norma justificadora da decisão quando da sua divulgação.

Nesse sentido, Mello (2002) estabelece que o princípio da motivação imponha à


Administração Pública o dever de justificar seus atos, através de uma fundamentação jurídica
que corresponda ao fato em questão. Esta motivação pode ser prévia ou contemporânea à
assinatura do ato, e assume maior importância nos atos que envolvam discricionariedade
administrativa de escolha de opções como as licitações e os processos administrativos
disciplinares.

Segundo Marinela (2012), a doutrina apresenta-se divergente quanto ao dever de motivar,


sendo que, parte dos doutrinadores entende não ser obrigatório o ato de motivar a decisão,
reconhecendo, porém, que se trata de uma medida aconselhável.
55

Segundo Alexandrino et al (2012), o motivo é a causa imediata do ato administrativo, é o


pressuposto fático que autoriza o ato administrativo. Esclarecendo que os atos administrativos
são praticados quando ocorre a coincidência entre uma situação de fato, ocorrida no mundo
natural e uma hipótese previamente descrita em uma norma legal.

No caso dos atos discricionários, afirma Alexandrino et al (2012), a Administração pode ou


não praticar o ato. Existem ainda casos em que a Administração possui a faculdade de
escolher entre diversos objetos, neste caso, deve valorar entre os motivos que se lhe
apresentem, dentro dos critérios privativos de oportunidade e conveniência, respeitados os
limites legais.

3.11 Princípio da continuidade do serviço público

Segundo Alexandrino et al (2012), trata-se de um princípio implícito decorrente do regime de


direito público a que eles estão sujeitos e estabelece que os serviços públicos são de interesse
da coletividade, sob regime de direito público, por esse motivo, sua prestação deve ser
adequada, não podendo sofrer interrupções.

Marinela (2012) esclarece que continuidade significa ausência de interrupção, sequência, ação
incessante. Tal princípio exige que a atividade administrativa seja prestada de forma contínua,
sem intervalos, sem lapsos ou falhas, sendo constante e homogênea.

Dentre os serviços prestados pelos vários órgãos estatais da administração direta e indireta, o
serviço da Polícia Militar de Minas Gerais assume grande importância. O seu fornecimento de
forma ininterrupta é condição essencial para a garantia da estabilidade da vida em sociedade.
A potencialização das guarnições policiais militares através de treinamento, fornecimento de
equipamentos sempre foi uma preocupação do Comando, de forma a garantir uma resposta
satisfatória no teatro de operações frente às diversas situações as quais os militares podem se
deparar.

A especialização de um cão policial para executar mais de uma função poderá permitir,
consequentemente, que a guarnição da qual faça parte possa dar a devida resposta em mais de
56

um tipo de situação advinda em uma mesma ocorrência, sem necessitar solicitar cobertura de
outra guarnição de patrulha com cães, permitindo assim, a prestação de um serviço mais
dinâmico, contínuo e qualificado.

Na próxima seção abordar-se-á sobre a utilização de cães pela PMMG, precedida de uma
breve contextualização histórica da origem e domesticação do cão, do início de seu uso militar
e da introdução do policiamento com cães no Brasil.
57

4- O EMPREGO DE CÃES NO SERVIÇO POLICIAL

A suplementação da força de resposta do policial militar através do uso de cães treinados para
o serviço policial é uma atividade difundida mundialmente entre as forças de segurança
pública.

O cão possui características biológicas tais como velocidade, potência lesiva no ataque e
excelente faro, que fazem dele, após treinamento direcionado à atividade policial,
praticamente mais uma arma à disposição de seu condutor no combate à criminalidade.

Para que possamos compreender melhor sobre a evolução do emprego do cão pelo homem,
desde sua domesticação até o momento em que passou a ser usado pelas polícias ao redor do
mundo, iniciaremos esta seção com uma explanação sobre a sua origem.

4.1- Origem do cão

A literatura científica não é precisa quanto ao período exato de surgimento do cão, bem como,
sobre o animal do qual descende. Em que pese não ser uma teoria com aceitação unânime
entre os cientistas, a maioria das fontes consultadas aponta o lobo cinzento asiático como
ancestral direto do cão, amparadas por semelhanças morfológicas e genéticas entra as duas
espécies, nesse sentido: Geary (1978), Andrade (1990), Maciel (1999) e.Costa (2008).

No passado, o lobo originou-se, segundo Fogle (2009), do leptocyon, que viveu há 7 milhões
de anos e é apontado como ancestral direto dos canídeos, dando origem, primeiramente, aos
lobos, chacais, raposas, e mabecos .

Esta evolução pode ser visualizada através da FIG. 1, a qual apresenta a cadeia evolutiva do
lobo, atribuindo sua descendência ao leptocyon:
58

FIGURA 1 – Evolução do lobo.


Fonte: (FOGLE, 2009, p.17).

Segundo Taylor (2006), os primeiros cães surgiram na Eurásia entre 12 e 14 mil anos e sua
descendência foi atribuída, num primeiro momento, ao chacal. Alguns estudiosos aventaram a
hipótese de terem descendido de um híbrido resultante do cruzamento entre o chacal e o lobo.
Porém, a corrente majoritária considera como ancestral do cão o lobo asiático (Canis lupus
pallipes).

Nesse sentido, Geary (1978) afirma que a maioria das autoridades cinólogas considera que o
lobo seja o canídeo primitivo que mais se assemelha ao cão. Os principais indícios genéticos
que corroboram esta afirmativa são as semelhanças na formação dentária, a similaridade
cromossômica, que permite obter uma fecundação através do cruzamento entre cães e lobos
resultando em um indivíduo capaz de reproduzir-se. Como características externas, o lobo e o
cão apresentam ainda outras semelhanças tais como alta sociabilidade entre os membros de
uma matilha ou alcateia e a capacidade de praticar a caça em grupo.

Não há um estudo publicado que aponte de maneira exata a época em que surgiu o primeiro
cão. Estudos arqueológicos indicam, segundo Fogle, que há aproximadamente 15 mil anos
atrás, uma espécie de lobo asiático passou a rondar os acampamentos humanos, ocorrendo
assim os primeiros contatos:

Os lobos viram a área ao redor dos assentamentos humanos como um habitat


próspero - de fato, um novo nicho ecológico. Catavam lixo despejado pelo
59

homem, alimentavam-se de roedores atraídos pela comida e estavam seguros


contra predadores maiores, pois os humanos já haviam se encarregado de
matá-los. Os nativos sem dúvida capturavam filhotes de lobos[...] os mais
sociáveis sobreviviam até a idade adulta e procriavam. Era um tipo de
“sobrevivência do mais amigável”[...] O instinto de matilha do cão lobo
permitiu-lhe se encaixar na família humana[...]Seu olfato apurado e
excelente audição tornaram-no ótimas sentinelas, alertando os humanos
sobre perigos externos (FOGLE, 2009, p.19).

A domesticação do lobo pelo homem foi preponderante para o surgimento do cão, uma vez
que possibilitou que houvesse interferência humana nos acasalamentos, direcionando-os de
modo a fixar as características que mais lhe seriam úteis nas futuras crias.

A relação de cooperação entre o cão e o homem, advinda da mútua proteção e da participação


conjunta nas caçadas, segundo Costa (2008) gerou um afeto mútuo no momento em que
passaram a compreender que dependiam um do outro. O homem fornecia alimento e protegia
o cão do ataque de outros animais, e o cão seguia o homem, auxiliando-o em suas diversas
atividades e lhe dava proteção contra o ataque de outras tribos.

Quando nossos ancestrais abandonaram os costumes nômades e passaram a fixar residência


permanente, o cão primitivo sofreu uma pressão natural de modo a adaptar-se aos diversos
ambientes escolhidos pelas tribos como moradia. Com isso, suas características fisiológicas
tais como: cavidade cerebral e corpo ficaram menores e os seus dentes ficaram mais
compactos, características estas presentes nos cães modernos. Ademais, vários fatores
externos influenciaram na conformação fisiológica do cão, tais como: clima (mais ou menos
pelos, cor), habilidades necessárias para caça ou trabalho (tamanho, força, resistência,
velocidade) etc. Essa fixação de características mediante seleção natural ou induzida pelo
homem contribuiu para o surgimento das diversas raças de cães:

A forte capacidade de adaptação e os cruzamentos seletivos dotou a espécie


canina de uma gama enorme de raças, com características físicas muito
diferentes, voltadas para servir aos anseios do homem: “. poucos ramos do
mundo animal apresentam uma variação tão grande em termos de tamanho,
formato, tipo de pelagem e de comportamento como as raças caninas”
(MACIEL, 1999, p.38).
60

4.2- O Uso militar do cão

Assim como a origem e possível época de domesticação do cão são imprecisas, não se tem
conhecimento da época exata em que foi utilizada pela primeira vez no combate. Certo é que,
mesmo nas vilas primitivas, ele já era utilizado visando repelir o ataque de outras tribos.

Nessa linha, Maciel (1999) aponta que as civilizações egípcias, romanas, gaulesas e celtas na
antiguidade já se utilizavam de cães em suas guerras. O tipo de cão empregado à época era
uma espécie de molosso pelo porte avantajado e agressividade demonstrada para com
estranhos. Estes cães eram vestidos com armaduras munidas de pontas afiadas que serviam
para ferir os cavalos ou soldados nos quais encostassem .

Há relatos de emprego de cães em guerras mesmo na época antes de Cristo, onde se


consistiam em vantagem sobre o inimigo:

Desde o século XIII antes de Cristo, o cão, na condição de soldado com


todos os direitos e obrigações, participa dos combates travados pelos
homens. Esses molossos representavam armas indubitáveis contra o inimigo
que tombavam sob o golpe de suas terríveis mordidas (ROYAL CANYN,
2001, p.400).

Segundo Maciel (1999), na batalha entre bretões e a cavalaria romana no século I antes de
Cristo (a.c), os ingleses empregaram cães na tentativa de evitar a invasão de seu país pelos
romanos. Átila, conhecido rei dos Hunos, também utilizou cães nas batalhas travadas com
Roma para aumentar seus territórios.

O ápice do emprego de cães por forças militares de uma forma nunca vista anteriormente
ocorreu quando da eclosão da 1ª guerra mundial. Na 1ª Guerra Mundial foi empregado um
total aproximado de 400.000 (quatrocentos mil) cães pelos exércitos combatentes, sendo que,
as ações que contavam com o apoio de cães conseguiam atingir de maneira mais abrangente
os seus resultados (ESPÍRITO SANTO, 2008).

Segundo Costa (2008) foi na 1ª guerra mundial que o emprego de cães pelas forças armadas
assumiu um patamar elevado de importância perante os diversos comandos. Após ter sido
usado por quase todos os países que participaram da guerra, seu emprego deixou de ser
61

unicamente para atacar as tropas inimigas, passando a executar funções de busca e salvamento
e guarda de estabelecimentos.

Há relatos de emprego de cães “suicidas”, nos quais era amarrada uma mina explosiva que, no
momento em que o animal passava por baixo dos tanques inimigos, explodia, inutilizando
assim, o veículo de guerra inimigo:

Outros cães, infelizmente, perderam suas vidas na história: o general


soviético Panfilon, diante ao avanço das tropas alemãs imaginou treinar
cães para a busca de alimentos sob as máquinas blindadas. Deixados
em jejum um ou dois dias antes do ataque, colocava-se uma mina
sobre seu dorso e os cães se precipitavam para o seu destino funesto. Essas
práticas totalmente cruéis, no entanto, conseguiram semear a desordem
entre as tropas alemãs (CANIN, 2001, p.403).

Os êxitos em combate provocaram, consequentemente, uma grande evolução das raças de


cães voltadas para a atividade militar, assim como das técnicas de adestramento, permitindo
que até mesmo hoje, os mais bem equipados exércitos do mundo continuem empregando cães
em suas missões de combate, conforme assinala Maciel (1999), ao descrever a utilização de
cães pelas tropas americanas durante a invasão do Iraque.

No presente, a intervenção militar mais técnica que se tem conhecimento contou com a
participação de um cão. No dia 02 de maio de 201116, uma equipe de 80 agentes do esquadrão
de elite da marinha americana, conhecido como Seals, após localizar a fortaleza do terrorista
Osama Bin Laden no Paquistão, realizou uma intervenção que durou 40 minutos e culminou
com a morte do terrorista e mais quatro pessoas. A operação contou com o apoio de um cão,
que segundo o jornal The New York Times, possivelmente trata-se de um exemplar da raça
Pastor Alemão ou Pastor Belga Malinois, considerando que todos os dados da operação são
de caráter ultrassecreto.

16
Disponível em: <http://g1.globo.com/morte-de-bin-laden/> Acesso em: 13 de fevereiro de 2013.
62

4.3 Histórico do emprego de cães pelas forças policiais

Segundo Silva (2003) foi na França, no século XIV, onde se originou o sistema de
patrulhamento com cães, onde esporadicamente, o cão era utilizado como guarda de fronteira.
Em 1886 o cão Pastor Alemão começou a ser utilizado em sua terra natal, a Alemanha, em
manifestações, conduções de presos, em presídios e nas rondas, o que o tornou conhecido
como cão policial. Em 1900, a Holanda e a Bélgica também implantaram as patrulhas com
cães.

O marco teórico do surgimento dos cães farejadores foi o ano de 1902, quando, em 28 de
Junho o farmacêutico alemão Adolfo Goeschel fundou a Sociedade para Promoção e Criação
de Cães Policiais. Adolfo havia se perdido e acabou por cair no rio Reno, ocasião em que foi
encontrado e salvo pelo seu cão chamado Hector, que havia seguido o seu rastro pelo odor. A
partir daí, teve a ideia de treiná-lo inicialmente para seguir rastros de ciganos descalçados e,
posteriormente, os rastros de pessoas em geral. Após certo período de treinamento,
evidenciou-se que os cães da raça Pastor Alemão possuem qualidades específicas que lhe
possibilitam destacar em tal atividade (ESPÍRITO SANTO, 2008).

Na América, assinala Andrade (2009), o cão começou a ser utilizado a partir do ano de 1931,
nos Estados Unidos. O departamento de Berkeley desenvolveu um programa de adestramento
e emprego de cães que, após alcançar resultados muito positivos, foi expandido para outros
departamentos como o Departamento de Repressão a Drogas (DEA) e o Federal Bureau of
Investigation (FBI). Devido ao sucesso do emprego de cães na segurança pública americana,
as unidades caninas, conhecidas como K-9, hoje se encontram disseminadas pela maioria dos
seus departamentos de polícia.

Conforme Silva (2003) Inglaterra implantou o uso de cães nas suas Forças Provinciais no ano
de 1935, e o cão foi usado para suprir o déficit de policiais existente à época, suplementando
as patrulhas a pé. Neste mesmo ano, foi criada no Canadá, na cidade de Calgary, uma unidade
de policiamento com cães na Real Polícia Montada, unidade esta que tinha a função principal
de patrulhar áreas rurais. Na década de 60, a unidade de policiamento com cães compunha a
seção de apoio da polícia de Calgary, onde trabalhava em cooperação com a Unidade Tática
63

realizando, além das funções de patrulha, atividades de detecção de narcóticos, explosivos,


cadáveres e localização de suspeitos em áreas de risco.

Verifica-se, portanto, que já na década de 60 a polícia do Canadá utilizava cães de dupla


aptidão, os quais realizavam as atividades de patrulhamento concomitante com atividades de
detecção de narcóticos através do faro.

Na América do Sul, conforme Silva (2003), o primeiro país a utilizar cães no policiamento foi
à Argentina, após o fim da Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra, militares alemães
detentor da doutrina de emprego militar de cães conseguem promoveram um grande
aperfeiçoamento da raça. A Argentina possui hoje o segundo melhor plantel de cães pastores
alemães do mundo, ficando atrás somente da Alemanha. Posteriormente, o Chile e o Uruguai
adotaram o uso de cães no policiamento.

Prosseguindo no raciocínio, Silva (2003) ainda cita que o sucesso alcançado com a
implantação do uso de cães, em termos de aumento da eficiência, atingido por outros países
chamou a atenção das forças de segurança brasileiras, as quais buscaram conhecer as técnicas
junto aos países vizinhos, principalmente a Argentina. As forças policiais da região sudeste
foram as primeiras a impostarem os conhecimentos necessários à implantação do
policiamento com cães.

Nessa mesma linha, Maciel aponta os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro como
precursores da implantação de cães no policiamento. Porém, o Estado de São Paulo foi o
primeiro a inaugurara efetivamente o canil da então Força Pública do Estado de São Paulo:

As primeiras experiências foram postas em prática, timidamente, na década


de 40, pelas Polícias Militares do Rio de Janeiro e São Paulo. No entanto, já
em 1950 era criado oficialmente o Canil da Força Pública de São Paulo
(denominação antiga da PMESP), o qual contava com quatro cães, sendo
dois oriundos da Argentina (MACIEL, 1999, p.70).

Nesse mesmo sentido, Silva (2003) destaca que os primeiros Estados a implantarem o
policiamento com cães foram São Paulo e Rio de Janeiro, fato ocorrido no final da década de
40. Com a experiência inicial destes dois Estados, não tardou para que outros estados como
Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal e Mato Grosso,
constituíssem também unidades cinófilas em suas corporações.
64

Segundo Maciel (1999), em 1950 inaugurou-se na capital do Estado o canil da Força Pública
de São Paulo, atualmente Polícia Militar do Estado de São Paulo. Inicialmente, este canil era
composto por quatro cães, dos quais dois provinham da Argentina. Em 1967 o canil foi
elevado ao status de Companhia de Cães de Polícia, ocorrendo gradualmente a
descentralização desta modalidade de policiamento para as Unidades do interior do Estado
Paulista.

Frank (2008) assinala que a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro criou efetivamente o
seu canil em 1955, na cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente, foi chamado de Canil da Polícia
(CP), o qual constituía a 4º Companhia do 4º Batalhão. Posteriormente, foi denominado
Companhia Independente de Cães de Policiamento (CICP) e, após passar a fazer parte do
Destacamento de Atividades Especiais (DAE), recebeu a designação de Companhia de
Policiamento com Cães. Após as experiências lograrem êxito nos Estados do Rio de Janeiro e
São Paulo, o método tornou-se bastante divulgado, o que o levou a ser implantado em Minas
Gerais em junho de 1957, seguido pelas Polícias Militares do Distrito Federal, Paraná,
Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul.

Segundo Silva (2003), após verificar a grande utilidade do uso do cão pelas Polícias Militares
Brasileiras, a Polícia Federal, Polícia Rodoviária e a Polícia Civil também implantaram canis
em algumas Unidades, passando a contar, principalmente, com a capacidade dos cães de
detectar drogas e explosivos através de faro, além da proteção aos agentes.

4.4 Emprego de cães pela Polícia Militar de Minas Gerais

O uso de cães foi introduzido na Polícia Militar do Estado de Minas Gerais em 1957 quando
era comandante geral o Sr Coronel Manoel Assumpção e Souza. O chamado serviço com cães
foi criado então pelo Cap Antônio Norberto dos Santos e subordinou-se à 4ª Companhia de
Policiamento (4ª CP) do 5º Batalhão de Infantaria (5º BI). O 5º Batalhão de Infantaria foi
transformado então no 5º Batalhão de Policiamento Ostensivo (5º BPO) recaindo sobre o
canil a missão de auxiliar no policiamento ostensivo (MINAS GERAIS, 2004).
65

A doutrina de adestramento foi obtida junto à Polícia Militar do Distrito Federal, onde
estagiaram o 2º Ten Cícero Magalhães e o 1º Sgt Eurípides Gomes da Silva, pertencentes à 4º
Companhia de Policiamento. Concluída a instrução dos referidos militares em Brasília, a
PMMG adquiriu em criatórios do Estado de São Paulo doze cães da raça pastor alemão (seis
machos e seis fêmeas) ( MINAS GERAIS, 2004).

A primeira sede do canil foi o Departamento de Instrução (DI), no bairro Prado, atual
Academia de Polícia Militar, de onde saiu em 31 de janeiro de 1958, transferindo-se para o
bairro Taquaril, atualmente bairro Saudade, onde encontra-se sediado até os dias atuais
( MINAS GERAIS, 2004).

O primeiro organograma funcional do Canil da PMMG contava com um Oficial no comando


(2º Ten Cícero Magalhães) um sargento auxiliar (1º Sgt Eurípides Gomes da Silva)
juntamente com doze soldados. O veterinário responsável era o Dr. Edalmo Couto, professor
da Escola de Veterinária da UFMG (MINAS GERAIS, 2004, p.18).

No decorrer dos anos, o Canil da PMMG pertenceu a várias unidades, dentre elas o 1º
Batalhão (BG) e o Batalhão de Polícia Choque (BPChq), sendo em 1999 designado 4ª Cia do
então recentemente criado Batalhão de Policia de Eventos (BPE).(MINAS GERAIS, 2004).

Em 23 de novembro de 2010 a 4ª Cia do BPE foi elevada, através da resolução 4 11817, de 23


de novembro de 2010, à categoria de Companhia Independente, passando a ser designada
Companhia Independente de Policiamento com Cães, mantendo-se a sede no mesmo local
( MINAS GERAIS, 2004).

A Companhia Independente de Policiamento com Cães surgiu no organograma das PMMG


como Unidade autônoma, com a missão de gerenciar a doutrina de emprego de cães, senão,
vejamos:

A Cia Ind PCães tem por atribuições executar o policiamento ostensivo


com cães, mediante planejamento próprio, atuando isoladamente ou em
apoio a outras unidades operacionais, com as seguintes missões:
policiamento preventivo em centros comerciais ou em zonas quentes de

17
Define mudanças no organograma da PMMG no ano de 2010. Disponível em: <
https://intranet.policiamilitar.mg.gov.br/intranet/app/legislacao/consulta.action> Acesso em: 13 fevereiro 2013.
66

criminalidade; incursão em aglomerados urbanos; policiamento em


eventos esportivos e culturais; busca, localização e resgate de pessoas
desaparecidas; busca e captura de pessoas homiziadas; busca e
localização de materiais entorpecentes, armamentos e artefatos explosivos;
controle de distúrbios civis; operações de reintegração de posse em áreas
urbanas ou rurais; controle de rebeliões em estabelecimentos prisionais. A
Unidade poderá atuar ainda em competições cinófilas, demonstrações de
adestramento e apresentações em atividades sócio-educativas.
Parágrafo único: Considerando as especificidades do emprego do cão
no policiamento ostensivo as demais frações de policiamento com cães,
pertencentes a outras unidades, manterão vinculação técnica com a Cia
PM Ind P Cães/CPE, para efeitos de padronização de doutrina de
emprego e treinamento. A vinculação técnica será disciplinada por norma
complementar (MINAS GERAIS, 2010d, p.1)

Em 03 de abril de 2012, foi editada pela PMMG a resolução 4 208, a qual dispõe sobre a
assistência médica veterinária, controle patrimonial e otimização do uso e da durabilidade dos
semoventes da PMMG e dá outras providências no que tange à administração do manejo e
emprego de semoventes, classificando a Cia Ind PCães como Unidade Central de
Policiamento com Cães do Estado:

Art 33 – As Unidades de Execução Operacional da Polícia Militar de Minas


Gerais que possuem semoventes se estruturam em:
I - RCAT e Cia Ind PCães;
II - Polos Regionais de Assistência Médica Veterinária de canil e cavalaria;
III – Unidades Setoriais de canil e cavalaria.
§ 1º O RCAT e a Cia Ind PCães terão as seguintes atribuições:
a) assessorar a DAL e DS nas definições de doutrinas para as Unidades
possuidoras de semoventes;
b) padronizar artigos e equipamentos para as atividades de policiamento
com semoventes;
c) padronizar medicamentos e materiais médicos hospitalares para
semoventes;
d) padronizar produtos referentes à alimentação dos semoventes;
e) propor convênios ou contratos com instituições ou pessoas jurídicas
para prestação de serviços e assistência veterinária, quando não realizáveis
na rede orgânica;
f) propor ou realizar cursos e treinamentos para condução, adestramento
e doma de semoventes (MINAS GERAIS, 2012a, p.12).

A PMMG conta hoje com 26 Unidades de Execução Operacional dotadas de canil, localizadas
em 26 municípios do Estado de Minas Gerais. A tabela 1 elenca as Unidades possuidoras de
canis, o município onde se localizam e a quantidade de cães de seus plantéis.
67

TABELA 1
Unidades da PMMG que possuem canil, município onde se localizam e nº de cães do plantel –
Janeiro/2013.
UNIDADE CIDADE Nº DE CÃES
CIA IND PCães Belo Horizonte 84
1ª CIA MESP Contagem 14
2ª CIA MESP Uberlândia 09
3ª CIA MESP Juiz de Fora 14
6ª CIA MESP Uberaba 09
8ª CIA MESP Montes Claros 02
3º BPM Diamantina 05
8º BPM Lavras 08
9º BPM Barbacena 09
11º BPM Manhuaçu 05
12º BPM Passos 03
14º BPM Ipatinga 07
15º BPM Patos de Minas 07
20º BPM Pouso Alegre 06
21º BPM Ubá 09
23º BPM Divinópolis 08
24º BPM Varginha 09
25º BPM Sete Lagoas 10
26º BPM Itabira 09
31º BPM Conselheiro Lafaiete 06
37º BPM Araxá 08
42º BPM Curvelo 08
45º BPM Paracatu 09
46º BPM Patrocínio 03
47º BPM Muriaé 01
56º BPM Itajubá 05
Fonte: PMMG/CPE/Cia Ind PCães.

Segundo Costa (2008), o uso de cães em regiões de fronteira é uma prática consagrada nas
polícias de todo o mundo. Nestes locais, esta modalidade de policiamento atua no combate ao
tráfico de drogas, tráfico de armas, fuga e entrada de indivíduos procurados pela justiça.
68

No Estado de Minas Gerais, as Unidades de Execução Operacional da PMMG dotadas de


canil encontram-se distribuídas de acordo com o MAPA 1, onde foram destacados na cor
preta os municípios onde existem canis da PMMG. Nota-se que não há uma distribuição
direcionada à suplementação com canis nas regiões de fronteira do Estado.

MAPA 1- Distribuição das Unidades da PMMG dotadas de Canil no Estado de Minas


Gerais – jan - 2013
Fonte: Secretaria de Turismo de Minas Gerais. Feitas alterações nos dados do mapa
original, com destaque na cor preta para os municípios onde as Unidades possuem
canil.

As principais missões de um canil de uma instituição policial são:

• Policiamento ostensivo;
• Operação de busca, resgate e salvamento;
• Demonstração de cunho educacional / recreativo;
• Policiamento em praças desportivas;
• Controle de distúrbios civis;
• Contra guerrilha rural e urbana;
• Provas oficiais de trabalho e estrutura;
• Controle de rebeliões e / ou fuga de presos;
• Formaturas e desfiles de caráter cívico - militar;
• Detecção de entorpecentes;
• Detecção de explosivos, e
• Outras missões para as quais estejam treinados.
(ESPÍRITO SANTO, 2008, p.127).
69

Considerando ser desnecessária para esta pesquisa a abordagem pormenorizada de cada uma
das missões de um canil, daremos ênfase nas duas missões que se constituirão nos requisitos
da dupla aptidão do cão objeto do tema, quais sejam policiamento ostensivo e detecção de
entorpecentes através do faro.

4.4.1 Policiamento ostensivo

É a modalidade mais comum e mais utilizada pelas polícias do Mundo inteiro e é empregada,
segundo Frank (2008), em apoio a qualquer Unidade Operacional, sobretudo, naquelas que
sobrevierem à eclosão de zonas quentes de criminalidade18 (ZQC) . Nela a dupla cão/condutor
pode estar a pé ou embarcada em viatura.

O cão empregado nesta modalidade de policiamento é chamado cão de patrulha, que, na visão
de Maciel, possui as seguintes características:

Os cães de patrulha são aqueles que possuem elevado nível de adestramento


e sociabilidade, formando com seus condutores unidades cinófilas, a fim de
efetuar o policiamento ostensivo ordinário nos processos à pé ou motorizado,
sendo empregados em turnos de serviço com no máximo seis horas de
duração. As unidades cinófilas devem efetuar o patrulhamento de seus
postos de serviço de modo a fazerem presentes em locais e horários que
justifiquem a intensificação da ação ostensiva. (MACIEL, 1999, p.83).

Complementando, Frank (2008) considera que este tipo de policiamento deve ser executado
principalmente em zonas residenciais e comerciais, possibilitando assim, que a grande
influência psicológica advinda da presença do cão aumente a segurança da população e
também a segurança dos policiais, principalmente durante a execução de abordagens e buscas
pessoais. Os cães utilizados neste tipo de policiamento são treinados para a patrulha e guarda.

A patrulha deve ser formada por um policial e seu cão, ou, de acordo com os critérios do
comando, é possível montar uma patrulha com dois policiais e dois cães, ou dois policias e
um cão, levando sempre em conta que o cão, estando bem adestrado, tem plenas condições de

18
Locais com índices criminais mais elevados[...](MINAS GERAIS, 2002).
70

fornecer segurança para o policial trabalhar sozinho. O nível de adestramento necessário para
que o cão execute este serviço é o básico (ESPÍRITO SANTO, 2008).

Não é possível alcançar uma uniformidade completa no no nível de adestramento de um


plantel de cães policiais em um canil, mas espera-se que todos os cães de patrulhamento
sejam capazes de realizar várias tarefas, dentre elas, a detecção de narcóticos e explosivos,
denotando que há que se buscar um cão capaz de realizar mais de uma função no serviço
policial:

Detectar presença de pessoas não autorizadas em instalações e, alertar o


encarregado da segurança;
Atacar, capturar e imobilizar sob comando;
Cessar o ataque sob comando;
Cessar o ataque antes da sua consumação, se necessário;
Seguir pessoas que não sejam seus próprios adestradores;
Dar buscas em áreas abertas ou fechados;
Executar com eficiência e segurança junto à pessoas;
Trabalhar com eficiência e segurança junto à pessoas;
Detectar narcóticos e explosivos desde que disponham de capacidade e
treinamento específicos para isso;
É certo que o disposto na alínea 2.2.9, não se aplica a todos os cães de
patrulhamento uma vez que, poucos terão capacidade olfativa excepcional
para serem treinados e utilizados nesse trabalho que requer animais
altamente especializados (DISTRITO FEDERAL, 2008, p.70).

Cães de dupla função são usados pelo exército americano em diversas funções. O exército
americano busca um cão de patrulha com temperamento equilibrado, tolerante com a presença
de pessoas, que permita ser utilizado em diversas áreas e ambientes de uma instalação,
incluindo locais com grande fluxo de pessoas como aeroportos, lojas e áreas industriais,
possibilitando o emprego das equipes de policiamento com cães procederem à detecção e
localização de drogas (UNITED STATES, 1993).

4.4.2 Detecção de drogas através do faro

A técnica de emprego de cão na detecção de entorpecentes provém da sua capacidade de ser


treinado para responder de forma consciente aos estímulos sensoriais provocados pelos
71

odores, alertando o seu condutor quando da constatação da presença destes odores em algum
local (UNITED STATES, 1993).

O emprego de cães na atividade de localização de entorpecentes constitui-se na principal


demanda dos canis policiais de todo o mundo. Na medida em que auxiliam no combate ao
narcotráfico, os cães farejadores combatem também, de forma indireta, as outras modalidades
de crime (ESPÍRITO SANTO, 2008).

A equipe deve ser formada pelo cão, seu condutor (guia), e por outro policial, chamado de
auxiliar, que terá a missão de segurar o cão enquanto o guia realiza uma vistoria no local no
sentido de retirar qualquer material que possa oferecer perigo ao cão (fios desencapados, caco
de vidro, materiais suspensos que possam cair e machucá-lo ou distraí-lo), além de alimentos,
restos de comida, animais de estimação (SANTA CATARINA, 2003).

Segundo Mesloh (2000) o cão possui uma capacidade olfativa 44 vezes maior que a do
homem, além de possuir ainda a capacidade de distinguir uma enorme gama de odores,
imperceptíveis aos humanos e até mesmo a mais alta tecnologia.

Várias raças de cães demonstram aptidão para serem utilizados como farejadores, dentre elas,
o Pastor Alemão e o Pastor Belga Malinois, os quais são também considerados típicos para
emprego em outras atividades policiais, demonstrando que estas duas raças possuem dupla
aptidão, senão vejamos:

A raça dos cães pode variar em muito, dependendo das diferentes regiões, de
aspectos ambientais e da própria disponibilidade das raças. A raça ideal será
aquela em que a habilidade do faro seja altamente instintiva, associada a um
ímpeto intenso para brincar e recuperar objetos. Praticamente todas as raças
esportivas de cães pertencem a essa categoria, muito embora predominem
animais como o Labrador Retriever, o Golden Retriever e o Pointer Alemão
de pelo Curto. Além disso, os cães empregados em atividade policial em
geral, como Pastores Alemães e Pastores Belgas Malinois revelam a sua
eficácia no campo da detecção de drogas (HELFERS, 2005, p. 7). Destaque
nosso
72

4.5 Principais raças de cães de uso policial

O pressuposto básico do uso do cão nas atividades de polícia ostensiva reside na fobia natural
que a maioria dos seres humanos tem em reação a ele, advinda de nossos antepassados
primitivos que já temiam o ataque das alcateias de lobos. Nesse sentido:

O emprego do cão na polícia não é, como geralmente se pensa, somente para


ações violentas e coercitivas; sua maior virtude está na grandiosa função
psicológica que exerce sobre os ânimos dos cidadãos. Este é o aspecto mais
rendoso, pois, além de despertar curiosidade e tranqüilidade na população,
faz com que os delinqüentes escolham locais mais afastados para atuarem
(DISTRITO FEDERAL, 2008, p.7).

A utilização técnica do cão com treinamento para a atividade policial propicia economia de
efetivo, maior impacto psicológico, maior segurança do Policial, valorização da tropa e maior
possibilidade de êxito em determinadas missões (DISTRITO FEDERAL, 2008).

Corroborando este pensamento, tem-se que o uso adequado do cão permite ao policial realizar
sua missão de forma mais eficaz e, em muitos casos, com significativa economia de mão de
obra, tempo e dinheiro. O cão possui um forte elemento psicológico dissuasor de intenções
criminosas (UNITED STATES, 1993).

O direcionamento pelos humanos dos cruzamentos entre os cães, de forma intencional a fixar
características que aumentassem sua capacidade de satisfazer as necessidades daqueles, foram
provocando mudanças morfológicas que culminavam com o aparecimento de novas raças
(COSTA, 2008).

Nesse sentido, Taylor (2006) atribui à versatilidade das raças já existentes e às combinações
biológicas entre estas raças, promovida pelo homem os fatores determinantes para o
surgimento de animais cada vez mais inteligentes, enérgicos, providos de força, velocidade,
excelente visão, um fantástico sentido do olfato, sociabilidade e habilidades de caça.

A evolução do cão para uso policial não foi diferente, tendo acompanhado esta especialização
das raças de cães, conferindo à sua genética atributos voltados para reforçar as habilidades
pretendidas, aliadas a cientificidade incorporada à nutrição e às técnicas de treinamento.
73

Assim, as forças policiais foram determinando qual cão atenderia de maneira mais eficiente às
suas necessidades. Dessa forma, algumas raças assumiram posição de superioridade em
relação aos resultados alcançados quando empregadas no apoio aos policiais (UNITED
STATES, 1993).

Existem cães que realizam mais de uma função policial, o que lhes confere a denominação de
cães de dupla função. As raças destes cães, por sua vez, por apresentarem aptidão dupla, são
conhecidas como raças de dupla aptidão. Neste contexto, considera-se cão de dupla aptidão
aquele animal cuja raça possua condições de realizar mais de uma função, sendo chamado de
cão de dupla função à partir do momento que possuir o treinamento e condições para executar
estas funções(UNITED STATES, 1993).

Segundo Costa (2008) um cão de dupla aptidão possui características físicas que o privilegiam
na execução de funções específicas, onde consegue realizar duas tarefas no serviço policial,
sendo mais comuns a de policiamento ostensivo e a de faro de entorpecentes.

Far-se-á uma abordagem sobre as raças de cães previstas para emprego na PMMG, com
ênfase nas que, por ventura, se enquadrarem no perfil para o treinamento de dupla aptidão.

A legislação interna da PMMG estabelece como raça principal formadora do plantel a raça
Pastor Alemão, e considera que as raças Labrador Retriever, Pastor Belga Malinois, Springer
Spaniel, Cocker Spaniel, e Beagle podem eventualmente serem incorporadas ao plantel, para
o atendimento de missões específicas (MINAS GERAIS, 2012a, p. 14-15).

Em que pese não constar na lista de raças permitidas para uso na PMMG, abordar-se-á sobre a
raça Pastor Holandês, por ser considerada pela literatura consultada como muito semelhante
ao Pastor Belga Malinois, e um excelente cão para uso policial, sobretudo para treinamento de
dupla aptidão.
74

4.5.1 O Pastor Alemão

Trata-se de uma raça de origem Alemã, usada inicialmente para pastoreio, guarda e
companhia. Segundo Taylor (2006) após a Primeira Guerra Mundial, onde demonstrou sua
aptidão para uso militar de forma preponderante para o sucesso das guarnições que lhe
possuíam, foi introduzido nos Estados Unidos e na Comunidade Britânica espalhando-se pelo
mundo após comprovarem sua performance.

A Alemanha, por ser o país natal da raça Pastor Alemão possui o melhor plantel do mundo.

Em 1896 a Alemanha passou a utilizar cães da raça pastor alemão tendo


várias missões, dentre elas: condução de presos em presídios, manifestações
e rondas, onde daí originou-se o nome “cão-policial”. A Inglaterra e a
Bélgica copiaram a ideia, sendo que na Inglaterra utilizavam -se os cães
principalmente em razão da escassez de policiais. Na América do Norte
o primeiro país a utilizar desses animais foi os Estados Unidos (MARTINS,
2007, p.21)

Nos registros da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC)19, entidade máxima de


controle morfológico e do padrão das raças de cães criadas no Brasil , consta que a definição
do padrão oficial da raça pastor alemão foi estabelecido em 2º de setembro de 1899, pela
Sociedade do Cão Pastor Alemão (Vereins Für Deutsche Schäferhunde), sediada em
Augsburg na Alemanha, e pertencente ao Kennel Clube Alemão (Verein Für das Deutsche
Hundewesen). Foram responsáveis pelo estabelecimento do padrão da raça A. Meyer e Max
Von Stephanitz. Ainda segundo a CBKC, o pastor alemão foi criado à partir de raças de cães
pastores simultaneamente existentes nas Alemanhas central e do sul, com a finalidade de criar
um cão de trabalho propenso a grandes realizações. Para alcançar este objetivo, o padrão da
raça foi determinado de forma a fornecer-lhe uma constituição física, traços e características
totalmente voltados para o trabalho.

A FIG. 2 demonstra o padrão do cão da raça pastor alemão, raça que vem sendo moldada para
o uso militar desde o século XVIII.

19
Confederação Brasileira de Cinofilia, entidade ligada à Federação Cinológica internacional e que é
responsável pelo registro e controle do padrão racial de cães criados no território brasileiro. Disponível em:
<http://www.cbkc.org/padroes/grupo1.html> Acesso em: 13 fevereiro de 2013.
75

FIGURA 2 – Cão da raça pastor alemão.


Fonte: http://amigodocaoamigo.blogspot.com.br/2009/11/conhecendo-as-
racas-pastor-alemao.html

Segundo Fogle (2009), o pastor alemão é provavelmente a raça mais numerosa do mundo, e
seus atributos fazem dele o cão policial e militar mais bem sucedido do mundo.

Para Andrade (1990) o ponto forte do pastor alemão é o seu temperamento extremamente
inteligente e atitude confiável, o que fazem dele um cão dedicado, atento, amável e afetuoso.
No convívio com outros cães não assume postura provocativa, bem como aceita a presença de
pessoas sem assumir postura de ataque, facilitando o transporte de vários cães no mesmo
veículo.

Complementando, Andrade (1990) afirma que a raça pastor alemão é a raça canina que possui
mais utilidade aos humanos, sendo capaz de seguir pistas, farejar drogas, caçar fugitivos da lei
e guiarem cegos. Também pode ser utilizado como cão de guarda e é muito empregado como
cão policial em vários países, realizando, dentre outras atividades, o combate ao tráfico de
drogas em aeroportos, estações rodoviárias e ferroviárias.

O Pastor Alemão é considerado apto a realizar todas as atividades inerentes a um cão policial,
tanto aquelas relacionadas cujo desempenho requer força física, quanto àquelas que requeiram
faro aguçado, nesse sentido: Helfers (2005) e Maciel (1999).
76

4.5.2 O Pastor Belga Malinois

A raça Pastor Belga originou-se de cães de pastoreio existentes nos campos da Bélgica .
Devido à grande variedade de cores e diversidade morfológica alguns Cinófilos20 Belgas,
encabeçados pelo professor de veterinária A. Reul reuniram-se em Cureghen (Bélgica) entre
1891 e 1897 para definir o padrão da raça.

A CBKC admite quatro variedades da raça pastor belga, as quais representam subdivisões que
buscaram agrupar cães que apresentam características externas tais como: cor e pelo mais
padronizadas. Para tanto, a raça Pastor Belga subdivide-se em: Pastror Belga Groenendael,
Pastor Belga Laekenois, Pastor Belga Malinois e Pastor Belga Tervueren.

Dentre as variedades de pastores belga existentes, a variedade Malinois é considerada a mais


apta ao serviço policial. Com isso concordam Andrade (1990), Helfers (2005), Frank (2008)
e Fogle (2009) o qual acrescenta que:

O malinois, nativo da região belga de Malines, é um dos pastores belgas


mais raros. Foi o primeiro a receber o padrão da raça descrito e o mais
próximo dos padrões do pastor alemão e do pastor holandês de pelo liso. É
um sucesso como farejador e cão policial (FOGLE, 2009, p.192).

A raça Pastor Belga Malinois possui excelente faro, e é considerada mais independente que as
demais variedades de pastor belga; já chegou a ser considerado pelo Guiness Book , como o
maior farejador de drogas de todos os tempos. É tão eficiente no serviço policial que durante a
ECO 92, no Rio de Janeiro, foi a raça escolhida para compor a equipe encarregada da
segurança do então Presidente Bush. Entre as quatro variedades, é a que tem apresentado
maior crescimento em termos de popularidade em todo mundo.

Segundo Scanziani (1983) a raça reúne todas as qualidades concebíveis para um cão farejador
de narcóticos, apresentando apenas uma falha, a qual relaciona-se com o seu comportamento
rebelde, que lhe confere certa resistência a rotina de adestramento, bem como uma
rejeição a pessoas estranhas, sendo passível de correção através da paciência e experiência
do adestrador.

20
Palavra que caracteriza o homem que lida, estuda os cães (MINAS GERAIS, 1987, p.32).
77

A FIGURA 03 demonstra as características externas de cada variedade da raça pastor belga,


assim, temos da esquerda para a direita: Pastor Belga Laekenois, Pastor Belga Malinois,
Pastor Belga Groenendael e Pastor Belga Tervueren.

FIGURA 3 – Variedades de cães da raça pastor belga


Fonte: http://racas-e-curiosidades.blogspot.com.br/2012/06/pastor-belga.html

A dentre as variedades de Pastores Belgas existentes, a Polícia Militar de Minas Gerais possui
exemplares da raça Pastor Belga Malinois, a qual considera mais apta ao serviço policial .

4.5.3 O Pastor Holandês

Também integrante do grupo dos cães pastores, a raça Pastor Holandês “surgiu no século XIX
como um cão de fazenda, para vários papéis: pastorear, guardar e puxar pequenas carroças. É
nativo da região sul dos países baixos (província de Brabant) e da Bélgica” (FOGLE, 2009,
p.191).

Segundo Helfers (2005), a raça Pastor Holandês chegou à beira da extinção após a primeira
guerra mundial, quando se iniciou a crescente fama do pastor alemão. Porém, após algum
tempo, a raça ressurgiu com a utilização de pastores belga nos cruzamentos para sua
reformulação.
78

Alderton (2002) admite que o padrão do Pastor Holandês é muito semelhante ao dos pastores
belgas, sobretudo o malinois, atribuindo a cruzamentos entre estas raças a principal
explicação para a tese.

Na FIGURA 4 apresenta-se um exemplar da raça Pastor Holandês da cor preto tigrado.

FIGURA 4 – Foto de um exemplar da raça pastor holandês.


Fonte: http://arcadenoe.sapo.pt/raca/pastor_holandes/502

Segundo Fogle (2009), a Associação Holandesa Real de Cães Policiais (KNPV) treina o
Pastor Holandês para todos os papéis do trabalho do cão policial, sendo considerado pelo
autor uma das raças pastoras mais completas.

O Pastor Holandês começou a ser utilizado em atividades de segurança após a diminuição dos
rebanhos, sendo considerado excelente farejador e cão de trabalho por Alderton (2002),
Helfers (2005) e Fogle (2009).

4.5.4 O Labrador Retriever

A CBKC considera que Labrador “surgiu na costa da Groelândia, oriundo de cães que eram
utilizados por pescadores para recuperar peixes. O Labrador é um excelente nadador, seu
pelo, resistente às intempéries, e sua cauda singular, que assemelha-se à cauda de uma lontra,
reforçam essa sua característica” (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE CINOFILIA,
2011).
79

A FIGURA 5 apresenta um exemplar da raça Labrador.

FIGURA 5 – Foto de um exemplar da raça Labrador


Fonte: http://avidacanina.blogspot.com.br/p/o-labrador-retriever.html

Segundo Fogle (2009), o Labrador foi exportado do Canadá para a Inglaterra, a partir do ano
de 1700, onde foi utilizado para recolher caça em regiões alagadas. Seu temperamento dócil e
personalidade amável o fizeram atingir o status de cão de companhia ideal.

Alderton (2002) considera o Labrador como excelente cão farejador, muito inteligente e
carismático, sendo empregado por várias forças policiais pelo mundo na atividade de
localização de entorpecentes.
Nesse sentido, Scanziani (1983) afirma que o Labrador se firmou como cão de polícia, em
especial na busca de drogas dissimuladas em bagagens e automóveis, considerando que seu
temperamento amigável e gentil não lhe credencia para atividades que requeiram uso de força.

Quanto ao temperamento, o Labrador é um cão versátil, corajoso, dócil e com excelente


olfato:

Muito ativo, ágil, seguro de si mesmo, teimoso, esse cão é dotado de um faro
excepcional (“Pointer dos Retrievers”!), nada muito bem e é o rei dos
retrievers.[...] É um rastreador tenaz e bom farejador de sangue de caça
ferida. Muito equilibrado, nunca agressivo, o seu bom caráter o torna um
agradável cão de companhia. Sua educação exige firmeza e suavidade
(CANYN, 2001, p.289).

O labrador é utilizado pela PMMG somente nas atividades de faro, conforme informações
prestadas pela Cia Ind PCães.
80

4.5.5 O Cocker Spaniel Inglês

A raça Cocker Spainel Inglês foi utilizada para auxiliar o homem na caça desde sua criação.
De origem Inglesa, sua expansão iniciou-se após ser exportado para a França e Estados
Unidos por volta de 1883, para ser utilizada também em atividades de caça, atualmente,
grande parte da utilização da raça encontra-se voltada para a companhia e para exposições de
beleza (CANIN, 2001).

A “palavra ‘spaniel’ era utilizada antigamente de maneira genérica para se referir a cães que
levantam aves do mato ou pântano e depois as recolhiam para o dono” (FOGLE, 2009, p.150).

Os cães desta raça adoram recolher objetos e nadar. Nesse sentido, Alderton (2002) assevera
que o Cocker é muito utilizado pela polícia para realizar atividades de faro de entorpecentes,
principalmente por conseguirem adentrar em locais onde raças maiores como o pastor alemão
e o labrador não conseguem, além de causarem menos danos nos objetos do suspeito durante
a busca.

A FIGURA 6 apresenta um cão da raça Cocker Spaniel Inglês:

Figura 6 – Cão da raça Cocker Spaniel Inglês.


Fonte: http://www.seucachorro.com/fotos/fotos-cachorros-591/
81

4.5.6 Springer Spaniel Inglês

Pertencentes ao mesmo grupo de cães que o Cocker, (d’àgua, levantadores e recolhedores)


pela classificação da Federação Cinológica Internacional (FCI), possuem aptidões
semelhantes.

Segundo Fogle (2009), a raça nasceu por volta do ano de 1800, através da divisão dos cães
Spaniels existente naquela época, formando uma raça menor, a Cocker, usada para caçar aves
de vegetação rasteira densa, e o Springer, que por ser maior, era especialista na caça de presas
maiores.

Segundo Alderton (2002), com a democratização da aquisição de armas de fogo, o Springer


foi perdendo espaço para os Pointers e Setters, mais eficientes na nova modalidade de caça
instalada, e, como cão de companhia, foi superado pelo Cocker, devido a aquele ser menor,
ganhando a preferência das famílias que passavam a morar em casas e apartamentos cada vez
menores. Com isso, a raça perdeu força e, consequentemente, número de representantes em
todo o mundo.

A FIGURA 7 demonstra um exemplar da raça Springer Spaniel Inglês:

FIGURA 7 – Foto de exemplar da raça Springer Spaniel Inglês


Fonte: http://racas-e-curiosidades.blogspot.com.br/2012/06/springer-spaniel-
ingles.html

As características do Springer o credenciam para uso como cão farejador, aos moldes do
Cocker Spaniel.
82

4.5.7 O Beagle

Fogle (2009) atribui ao Beagle à origem britânica, onde era usado para caça de lebres e
pássaros. O tamanho foi sendo moldado através da seleção genética para que pudesse ser
carregado nas bolsas das selas durante as caçadas.

Segundo Alderton (2002), a raça é dotada de um faro invejável, e possui imensa vontade de
agradar seu dono. Na antiguidade, foi usada para caçada em matilhas no reinado de Elizabeth
I, era considerado o melhor cão de caça inglês, isso por volta de 1570. Em meados da década
1860 foi introduzida na França, e, ao final do século XIX até o início da primeira Guerra
Mundial sua criação se expandiu por toda a Europa chegando aos Estados Unidos, onde se
tornou popular como cão de companhia.

A capacidade olfativa do Beagle é utilizada, segundo Fogle (2009), pelo Serviço de Inspeção
e Quarentena Australiano e pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos nos
aeroportos daqueles países, para detecção de bens ilegais e contrabando de alimentos
proibidos sendo chamada, pelo seu sucesso, de Brigada Beagle.

A FIGURA 8 demonstra um exemplar da raça Beagle.

FIGURA 8 – Foto de exemplar da raça Beagle.


Fonte: http://www.tudosobrecachorros.com.br/2012/05/beagle.html

Na próxima seção, abordar-se-á sobre a metodologia utilizada para a realização desta


pesquisa, visando esclarecer sobre os métodos adotados.
83

5 METODOLOGIA

A metodologia significa mais do que uma disciplina, “significa introduzir o discente no


mundo dos procedimentos sistemáticos e racionais, base da formação tanto do estudioso
quanto do profissional, pois ambos atuam, além da prática, no mundo das ideias” (MARCONI
E LAKATOS, 2010).

Para desenvolvimento desta pesquisa foram utilizados alguns procedimentos metodológicos,


os quais serão demonstrados a seguir.

O emprego de um método científico é requisito fundamental para conferir cientificidade a


uma pesquisa. Pasold, ao definir a importância do método para a pesquisa científica estipulou
que: “é a base lógica da dinâmica da investigação científica” (Pasold, 2000, p.85).

Para conceituar método científico nesta pesquisa, consideraremos os ensinamentos de


Lakatos, ao afirmar que “o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais
que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos
e verdadeiros - traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista (MARCONI e LAKATOS, 2010, p.65).

Para estruturar metodologicamente esta pesquisa, ordenando sua redação de forma metódica e
lógica, utilizamos os ensinamentos de Pasold (2000), Fachin (2001), Marconi e Lakatos
(2010), e Gil (2010), sendo que a normalização seguiu os parâmetros ditados por França
(2011).

A ascepção da palavra pesquisa, segundo os autores consultados, refere-se ao conhecimento


da verdade sobre algum problema proposto através de procedimentos científicos com
tratamento intelectual. Nesse sentido: “[...] procedimento racional e sistemático que tem como
objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos [...]”(GIL, 2002, p.17);
“[...]é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um
tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir
verdades parciais[...]”(MARCONI E LAKATOS, 2010, p.139) e “[...]pesquisa é um
84

procedimento intelectual para adquirir conhecimentos pela investigação de uma realidade e


busca de novas verdades sobre um fato (objeto, problema)”(FACHIN, 2001, p.123).

Quanto aos objetivos, a pesquisa foi exploratória e, quanto ao modelo conceitual operativo,
foi bibliográfica e documental. Quanto à natureza, foi quantitativa, haja vista que foram
aplicados questionários aos oficiais e praças da PMMG que comandam canis nas Unidades de
Execução Operacionais os quais foram analisados nos aspectos subjetivos e numéricos.

O método utilizado na realização desta pesquisa foi o dedutivo, o qual parte de um


conhecimento geral para chegar ao específico.

Dos métodos de procedimento, optou-se pelo monográfico, o qual adotou inicialmente a


perspectiva de que haveriam casos de experiências vividas por policiais no emprego de cães
que realizam mais de uma função, as quais, estudadas a fundo, poderiam ser consideradas
para estabelecimento de doutrina de treinamento para outros militares que treinam e
conduzem cães no serviço policial. Para a busca dos objetivos propostos no trabalho foi
necessário quantificar dados referentes às unidades que possuem canis na PMMG e seus
plantéis, sendo usado também o método estatístico.

Como técnica de documentação indireta para a confecção desta pesquisa, foi realizada
pesquisa bibliográfica e documental desenvolvidas a partir de material já elaborado,
constituindo principalmente de livros, artigos e monografias existentes que tinham relação
com o tema. Paralelamente foi realizada pesquisa documental que se valeu documentos
elaborados, principalmente, por organizações envolvidas na defesa social ou cinófilos.

A metodologia utilizada buscou contemplar as publicações mais específicas sobre a utilização


de cães na segurança pública, de forma a agregar conhecimentos substanciais, principalmente
sobre os aspectos ligados ao tema.

Como fontes primárias de pesquisa foram utilizados principalmente arquivos da Cia Ind
PCães sobre a administração do plantel de cães da PMMG e que continham informações
sobre as Unidades que possuem canis .
85

Nas fontes secundárias foram pesquisadas a Constituição da República Federativa do Brasil,


livros sobre Direito Administrativo, livros e monografias afetos ao tema, legislações
pertinentes, as Diretrizes para a Produção de Serviços de Segurança Pública e demais
normatizações internas da PMMG e artigos públicos pertinentes ao tema.

Como técnica de pesquisa de documentação direta foi realizada pesquisa de campo através de
uma observação direta extensiva com aplicação de um questionário que, conforme
APÊNDICE ÚNICO, foi construído e teve seus itens originados nos objetivos específicos
desta pesquisa, procurando identificar fatos ou situações no âmbito de cada canil das
Unidades da PMMG, bem como experiências dos seus Comandantes, que pudessem fornecer
subsídios para confirmar ou não a hipótese.

O Universo pesquisado foi formado pelos Oficiais e Praças que atuam no comando dos Canis
das Unidades da PMMG sendo adotado o procedimento Censitário, perfazendo um total de
vinte e seis questionários.

Após a observação de campo e pesquisa em documentação, os dados obtidos foram


organizados visando selecionar as informações de acordo com a sua importância para o tema.

Os dados obtidos com a pesquisa direta foram agrupados em gráficos, de acordo com a
correspondência entre as respostas das questões do questionário, sendo usada a estatística
descritiva em sua análise, de forma a permitir verificar a comprovação ou não da hipótese.

Na próxima seção apresentar-se-ão os dados da pesquisa de campo, que serão analisados


diante dos seus objetivos específicos e dos demais dados incorporados durante a sua redação.
86

6 ANÁLISE DA APLICABILIDADE DO CÃO DE DUPLA APTIDÃO NO


PATRULHAMENTO OSTENSIVO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Nesta seção, buscar-se-á, através da análise e interpretação dos dados coletados com a
pesquisa de campo, de forma a evidenciar se é viável a implantação do uso de cães de dupla
aptidão pela PMMG.

O tratamento dos resultados obtidos e interpretação procederam-se através do cruzamento dos


dados obtidos através dos questionários aplicados, com o referencial teórico deste estudo,
utilizado para atingir os objetivos estabelecidos, permitindo assim a formulação de um
raciocínio sobre a hipótese.

Para elaboração do questionário, levou-se em conta a necessidade de se identificar se já há


algum conhecimento doutrinário na PMMG a respeito do emprego de cães de dupla aptidão, a
qual pudesse ser importada para sustentação teórica desta pesquisa. Ressalte-se que a elevação
da Cia Ind PCães à posição de Unidade central da PMMG, responsável pela unificação da
doutrina sobre o emprego de cão no âmbito da Instituição, ocorreu recentemente, mais
precisamente no dia 03 de abril de 2012 (MINAS GERAIS, 2012a).

Considerou-se necessário também conhecer sobre a estrutura física dos canis existentes na
PMMG, sua capacidade de realizar treinamento para a dupla função e a existência de animais
no plantel que realizem dupla função, possibilitando que os militares alvos da pesquisa, de
acordo com a experiência individual, manifestassem ainda sobre as raças mais indicadas ao
treinamento de dupla aptidão.

No que tange ao conhecimento sobre a existência de doutrina interna na PMMG sobre o


treinamento do cão para dupla função, conforme o GRAFICO 1, a maioria dos militares
respondeu que não existe tal doutrina.

O Manual de Emprego de Cães na Segurança Pública da PMMG, criado através da Resolução


1 741 de 27 de julho de 1987, ainda é hoje a única doutrina interna sobre emprego de cães. O
mesmo não contempla o treinamento e emprego de cães de dupla aptidão. Encontra-se em
fase de redação o novo manual, que deve ser lançado em data próxima.
87

Dessa forma, avalia-se que os Comandantes de Canis da PMMG encontram-se bem


informados à cerca da legislação institucional que regula o emprego de cães, fator
preponderante para a homogeneização do treinamento e das condutas e procedimentos
adotadas no emprego de cães.

0%
4% Sim
11%
Não

85% Não responderam

Encontra-se em fase de redação

GRÁFICO 1 – Avaliação do conhecimento a respeito da existência de doutrina sobre a utilização


do cão de dupla aptidão na PMMG – Minas Gerais – jan. 2013
Fonte: Pesquisa de campo.

Dos 26 canis da PMMG, 38 % possuem cães que realizam dupla função, 58% não possuem e
4% deixaram de responder a pergunta. Considerando o vazio doutrinário existente na PMMG
à respeito do tema, considera-se, como ponto de partida, que trata-se de um número
considerável de Unidades possuidoras de cães de dupla função, o que facilitará a difusão para
as demais Unidades da nova doutrina por ventura criada.

4%

Sim
38%
Não
Não responderam
58%

GRÁFICO 2 – Unidades da PMMG que possuem cães que realizam dupla função – Minas Gerais –
jan. 2013
Fonte: Pesquisa de Campo.

Nas Unidades que possuem cães de dupla função, 55% são da raça Pastor Alemão, 36% são
da raça pastor belga Malinois e 9 % da raça Pastor Holandês. Fogle (2009) considera o Pastor
88

Alemão como a raça mais completa para o serviço policial; Helfers (2005) descreve o Pastor
Alemão e o Pastor Belga como cães capazes de realizar atividades de dupla função; Alderton
(2002) considera o pastor holandês uma raça derivada do pastor Belga Malinois, com o qual
se assemelha muito, sendo excelente cão policial. Assim, verifica-se que dentre as raças
admitidas na PMMG o pastor Alemão e o Pastor Belga malinois são as mais propensas a
terem sucesso na atividade de dupla função.

6
6
4 Pastor Alemão
4
Pastor Belga Malinois
2 Pastor Holandês
1
0

GRÁFICO 3 – Nr de cães e raças que realizam dupla função na PMMG – Minas Gerais – jan. 2103
Fonte: Pesquisa de campo.

Solicitados a analisar a possibilidade de se treinar um cão para executar tanto a atividade de


policiamento ostensivo quanto a atividade de detecção de entorpecentes através do faro, 85%
dos militares acenaram como sendo possível realizar este treinamento.

Segundo (Chiavenato, 2002) a ausência de resistência para a implantação de uma nova


metodologia de trabalho em uma empresa é fundamental para o sucesso e avanço
institucional. Assim, considera-se a possibilidade de que as novas técnicas de treinamento de
cães, de forma a especializá-los para dupla função, encontrarão na PMMG um ambiente
favorável para serem implantadas, pelo entendimento por parte dos técnicos da Instituição de
que são necessárias para uma melhor prestação de serviços.
89

15%
Sim
Não

85%

GRÁFICO 4 – Possibilidade imediata de se treinar um cão para dupla função na PMMG – Minas
Gerais – Jan. 2013
Fonte: Pesquisa de campo.

De acordo com a metodologia da Administração Pública Gerencial, que adota o princípio da


eficiência como norteador das ações administrativas e dos serviços prestados pelas
instituições públicas, verificou-se que, para 96% dos militares, o uso do cão de dupla função
traria benefícios para o serviço operacional.

Sim
50
25 Não
Não responderam
0 1
0
Sim Não
Não responderam

GRÁFICO 5 – Possibilidade do uso do cão de dupla aptidão gerar benefícios para o serviço
operacional da PMMG – Minas Gerais – jan.2013
Fonte: Pesquisa de campo.

Dentre os principais efeitos benéficos que poderão advir com o uso do cão de dupla aptidão,
oito Unidades indicaram que haveria uma maior agilidade no atendimento, considerando que
diminuiria os casos em que a guarnição, pela especialidade única de seu cão, não conseguiria
dar suporte à ocorrência; seis Unidades indicaram que haveria o aumento da eficiência do
serviço com cães; outras seis apontam a redução de custos e cinco apontaram a redução do
plantel como importante benefício; uma Unidade não se manifestou.
90

Considerando que a eficiência consiste em breve síntese, alcançar os objetivos da melhor


forma, com o menor gasto de recursos e maior qualidade final do serviço, verifica-se que
todos os benefícios correspondem diretamente ao princípio da eficiência, por constituírem-se
em:
a) Economia de recursos logísticos e também de recursos humanos, se considerarmos que
havendo menos cães no plantel, logicamente, haverá necessidade de menos militares para o
seu manejo e condução;
b) Aumento da qualidade do serviço na medida em que uma maior agilidade levará a um
menor dispêndio de tempo para a solução da ocorrência, possibilitando o aumento da
confiança da população no serviço da PMMG e redução de gastos, se considerarmos que o
tempo de empenho de uma guarnição é fator gerador de gastos para o Estado.

10
8
6
4
2
0
Maior Agilidade Aumento da Redução do plantel Redução de custos Não responderam
Eficiência

GRÁFICO 6 – Benefícios que o emprego do cão de dupla aptidão trará à PMMG – Minas Gerais –
jan. 2013
Fonte: Pesquisa de campo.

Por tratar-se de atividade nova, verificaram-se quais os principais óbices que podem interferir
na implantação do uso de cães de dupla aptidão na PMMG, quando, para 39% a principal
dificuldade seria a falta de cães qualificados. Considerando que a seleção deverá ser ainda
mais criteriosa, se levarmos em conta que mesmo dentro das raças que possuem dupla aptidão
existirão exemplares que não corresponderão ao treinamento, haverá maior dificuldade para
encontrar cães aptos a participarem do programa.

Ressalte-se que o cruzamento de semoventes pertencentes à PMMG necessita de prévia


autorização da DAL, e encontra-se restrita a necessidades específicas como: para
melhoramento genético e emergencial da raça e para fins de aumento de efetivo do plantel,
observado o número máximo de semoventes por OPM (MINAS GERAIS, 2012a, p 27).
91

Assim, nas Unidades em que o número de cães adultos existentes coincidir com o número
máximo previsto, somente poderá ser introduzidos cães de dupla função após a descarga de
algum exemplar.

A falta de conhecimento da doutrina foi o segundo óbice mais elencado, correspondendo a


opinião de 30% dos militares. Considerando a estruturação da Cia Ind PCães como Unidade
central de treinamento, a difusão da doutrina através de cursos aos adestradores dos demais
canis do Estado extinguiria esta dificuldade.

Em 17% das unidades a falta de estrutura para treinamento seria o maior óbice para a
implantação do programa. Por tratar-se de um percentual relativamente baixo em relação ao
total de Canis, entende-se não constituir em fator impeditivo à implantação do uso de cães de
dupla aptidão na PMMG.

Somente 14% dos militares entenderam que não há nenhum óbice à implantação.

Falta de conhecimento da doutrina


14% 30%
17% Falta de cães qualificados

39% Falta de infraestrutura para treinamento

Não há óbices à implantação

GRÁFICO 7 – Dificuldades para a implantação do uso de cães de dupla aptidão pela PMMG
– Minas Gerais – jan. 2013
Fonte: Pesquisa de campo.

O policiamento com cães é empregado em recobrimento. Na dinâmica operacional da


PMMG, isto significa que, ou o policiamento com cães será empregado em suplementação ao
policiamento em determinada área geográfica, mediante planejamento, ou dará cobertura a
uma guarnição, à qual não consegue fazer frente à demanda advinda em uma ocorrência
sozinha. Desta forma, 34% dos militares já deslocaram em cobertura a outra guarnição e por
várias vezes não puderam ajudar, devido ao cão que conduziam não possuir treinamento
específico para a função necessária à solução do evento. Do total, 35% disseram que em
92

poucos casos não puderam ajudar e 31% disseram que em todas as ocorrências que deram
cobertura conseguiram resolvê-la.

Estes dados levam ao raciocínio de que hoje, há uma probabilidade muito grande de uma
guarnição com cães ser chamada a dar cobertura em uma ocorrência e não fazer frente à
demanda daquela ocorrência devido ao seu cão possuir treinamento específico para função
diferente da exigida no local.

0%
Sim, várias vezes
31% 34%
Sim, poucas vezes
35%
Não

GRÁFICO 8 – Ocorrências nas quais as guarnições com cães não conseguem dar apoio pela falta de
especialização do cão para mais de uma função – Minas Gerais - jan. 2013
Fonte: Pesquisa de campo.

Das Unidades pesquisadas, 69% possuem estrutura capaz de introduzir o treinamento para
dupla função a cães previamente selecionados. Os 31 % das Unidades restantes não possuem
essa estrutura.

Verifica-se que a maioria das Unidades da PMMG possui estrutura capaz de introduzir o
treinamento para dupla função na PMMG, devendo ser adequada a estrutura das Unidades
restantes de forma a padronizar o treinamento e, consequentemente, o emprego de cães no
Estado como um todo.
93

0% 0%

Sim
31%
Não

69%

GRÁFICO 9 – Unidades que possuem estrutura capaz de introduzir o treinamento para dupla função a
cães previamente selecionados – Minas Gerais - jan. 2013
Fonte: Pesquisa de campo.

Dos Comandantes de Canis pesquisados, 19% indicaram possuírem militar(es) apto(s) a


treinarem um cão para dupla função. Este percentual, que corresponde a apenas cinco
Unidades, indica que percentual muito pequeno de militares teriam, hoje, capacidade para
treinar um cão para dupla função.

50 Sim
5 21
Não

GRÁFICO 10 – Unidades da PMMG que possuem militares capacitados a treinar um cão para dupla
função – Minas Gerais – jan. 2013
Fonte: Questionários aplicados aos Cmt de Canis da PMMG.

Na opinião dos técnicos da PMMG sobre qual raça se corresponderia melhor ao treinamento
para dupla função, o Pastor Belga Malinois foi o mais bem conceituado, alcançando 54% dos
votos, sendo seguido pelo Pastor Alemão, que para 41% é raça que mais corresponderá ao
treinamento. O Pastor Holandês, que, como já demonstrado, também pertence ao grupo dos
cães pastores foi considerado por 5% como a melhor raça de dupla aptidão.
94

Outras

16 Labrador

0 21 Rottweiler
0 Pastor Belga
2
Pastor Alemão
0 5 10 15 20 25

GRÁFICO 11 – Raças mais indicadas para o treinamento para dupla função na PMMG – Minas Gerais
– jan. 2013
Fonte: Pesquisa de campo.
95

7- CONCLUSÃO

Para a compreensão do objeto de estudo proposto, qual seja a aplicabilidade do cão de dupla
aptidão na atividade de patrulhamento ostensivo da PMMG, foi elencado como objetivo geral
estudar a viabilidade do emprego do cão de dupla aptidão pela PMMG como forma de
potencializar a eficiência do policiamento com cães.

Atualmente a PMMG possui 26 Unidades de Execução Operacional que possuem canis,


sendo que, a doutrina interna de treinamento busca especializar o cão para uma só função.
Desta forma, a guarnição de policiamento com cães estará em condições de dar cobertura em
ocorrências que se encaixem dentro da função específica do animal, ocorrendo,
consequentemente, situações em que ela desloca até o local e não consegue responder à
demanda diminuindo a possibilidade de êxito do serviço prestado pela PMMG ou aumentando
o seu custo para o Estado, ao requerer o emprego de outra guarnição que possua o cão
especializado para aquela função.

Desta forma, entende-se ser importante compreender o emprego de cães que possam executar
mais de uma tarefa no serviço policial, de forma a identificar se a sua utilização resultará em
aumento real da eficiência das equipes policiais que possuem estes animais.

À partir da hipótese de que o emprego do cão de dupla aptidão na atividade de policiamento


ostensivo da PMMG aumentará a eficiência das guarnições de policiamento com cães,
buscou-se explorar a bibliografia afeta ao tema, bem como, coletar dados através de uma
pesquisa de campo, com vistas a esclarecer o problema.

Ao explicitar-se sobre a transição ocorrida na Administração Pública Mundial do modelo


administrativo burocrático para o modelo gerencial, pretendemos demonstrar que a busca pela
eficiência faz parte do modelo atual de gestão pública, estando o tema desta pesquisa inserido
nesta busca por eficiência.

Considerando-se a eficiência como a melhor forma de realizar uma tarefa com qualidade e
com menor dispêndio de recursos logísticos e humanos, constata-se na seção 4 que a
utilização do cão no serviço policial possibilita diminuir o número de policiais necessários
96

para executar a tarefa. Propicia ainda o aumento da segurança da guarnição pelo fator
dissuasor de reação por parte do suspeito, que passa a temer o ataque do animal e ainda,
aumenta as chances de êxito na solução da ocorrência.

Verifica-se que o atual modelo de emprego utilizado pela PMMG prima pela especialização
do animal em uma só função, e que a doutrina interna sobre treinamento encontra-se
desatualizada, considerando-se que remonta ao ano de 1987.

A elevação da Companhia de Policiamento com Cães a Companhia Independente de


Policiamento com Cães, bem como, a sua designação como Unidade Central responsável pela
definição de doutrinas afetas aos semoventes caninos da instituição constitui-se em importante
passo para a padronização de procedimentos e até mesmo, do plantel.

Comprova-se pela pesquisa de campo realizada, que a maioria dos técnicos responsáveis pelo
emprego de cães na PMMG possui conhecimento a cerca da doutrina interna de treinamento.
Basicamente, esta doutrina resume-se ao Manual de Cinocomandos, editado em 27 de julho
de 1987 pela Instituição. Após quase 26 anos de vigência, o presente manual encontra-se
defasado, carecendo ser revisado.

Verifica-se que existem dentro do plantel da PMMG cães que realizam dupla função, estando
presentes em 38 % das Unidades que possuem canil. Destes cães de dupla função existentes
na PMMG, 54% são da raça Pastor Belga Malinois e 41% são da raça Pastor Alemão, o que
corrobora com a opinião da maioria dos autores consultados, bem como, com os militares da
PMMG questionados, os quais indicam estas duas raças como sendo as melhores raças para o
emprego no serviço policial, por sobressaírem-se no treinamento e execução das atividades de
dupla função.

Nos manuais de emprego de cães editados por outras Polícias do Brasil e pelo Exército Norte
Americano, consultados para a realização desta pesquisa, constata-se que há naquelas
instituições uma busca por um cão de consiga trabalhar no policiamento, fazendo a segurança
do policial e realizando atividades de detecção de drogas através do faro. O uso de cães de
dupla função possibilitaria que a guarnição atendesse uma gama maior de ocorrências,
considerando que poderá intervir em mais de uma situação que requeira treinamento
específico. Atualmente na PMMG, 69% dos militares consultados já deslocaram para dar
97

cobertura a outra guarnição e não puderam resolver a ocorrência por falta de treinamento do
cão para aquela atividade.

Verifica-se que a maioria dos canis da PMMG, 85%, possui condições de implementar o
treinamento para cães realizarem atividades de policiamento ostensivo e faro de
entorpecentes, sendo que 96% dos militares consultados entendem que tal medida trará
benefícios para o serviço operacional.

São indicados como principais benefícios que podem advir com o uso do cão de dupla aptidão
pela PMMG uma maior agilidade no atendimento da ocorrência, aumento da eficiência,
redução do plantel de cães e redução de custos. Constata-se que todos os fatores indicados
representam objetivos inerentes ao princípio da eficiência, tendo relação direta com a
economia de recursos, se considerarmos que o tempo de emprego de uma guarnição está
diretamente relacionado com o valor gasto pelo Estado para prestar aquele serviço. A maior
agilidade representa ainda uma melhor qualidade do serviço, o qual deve ser prestado no
menor tempo possível.

Nota-se que as maiores dificuldades para a implementação do uso do cão de dupla aptidão na
PMMG são a falta de uma doutrina para interna para o treinamento e também a falta de cães
qualificados. Acredita-se que o novo organograma da PMMG, com a Cia Ind PCães
encarregada da reprodução dos cães e de elaborar a doutrina interna de treinamento, facilita
para que sejam selecionados os cruzamentos de forma a obter animais de dupla aptidão, bem
como, a edição de doutrina referente ao treinamento destes animais, cujos cursos pilotos
poderiam ser ministrados na própria Cia Ind PCães.

Constata-se que a maior parte das Unidades da PMMG dotadas de canil possuem estruturas
capazes de implementar o treinamento para dupla função, porém, somente 31% das Unidades
possuem militar capacitado para tal treinamento, sendo necessário a implementação de cursos
afetos ao tema.

Desta forma, verifica-se que a hipótese formulada foi comprovada, na medida em que foi
constatado que o emprego do cão de dupla aptidão pela PMMG aumentará a eficiência das
equipes de policiamento com cães, uma vez que diminuirá custos e aumentará a agilidade do
98

serviço prestado, atingindo-se os resultados pretendidos. Desta forma a pergunta de pesquisa


elaborada para este estudo foi respondida e os objetivos propostos foram alcançados.

Conclui-se, finalmente, ser viável a implantação do uso de cães de dupla aptidão pela PMMG.

Os principais achados e conclusões desta pesquisa permitem sugerir:


a) Elaboração de um novo Manual Cinotécnico da PMMG, o qual contemple o manejo e o
treinamento de cães de dupla aptidão, com inclusão da raça Pastor Holandês entre as raças
permitidas para uso pela instituição;
b) Reestruturação dos canis das Unidades que não têm instalações físicas para implementar o
treinamento para cães de dupla aptidão;
c) Reprodução de cães voltada para reforçar características de dupla aptidão, através de
exemplares já provados, priorizando as raças Pastor Alemão e Pastor Belga Malinois;
d) Realização de testes “piloto” pela Cia Ind PCães, de forma a verificar a melhor maneira de
introduzir a doutrina nos demais canis da PMMG;
e) Devido à complexidade do tema, maiores estudos devem ser feitos de forma subsidiar
novos conhecimentos que viabilizem a implantação do uso de cães de dupla aptidão na
PMMG.
99

REFERÊNCIAS

ALDERTON, David. Cães: um guia ilustrado com mais de 300 raças de todo o mundo.
Brasil: Ediouro, 2002.

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 20.


ed. São Paulo: Método, 2012.

ANDRADE, Alexandre de Mendonça. A utilização de cães nas atividades de investigação


ao tráfico de drogas: o caso da Polícia Civil de Minas Gerais. 2009. 50 f. Monografia
(Especialização e Criminalidade e Segurança Pública) – UFMG – Centro de Estudos de
Criminalidade e Segurança Pública – CRISP, Belo Horizonte, 2009.

ANDRADE, Augusto Cezar de. Cães para iniciantes: alimentação e higiene, prevenção
e tratamento das doenças mais comuns, características das principais raças – São Paulo:
Nobel, 1990.

ABRUCIO, Fernando Luiz. O impacto do modelo gerencial na administração pública: um


breve estudo sobre a experiência internacional recente. Brasília, DF, ENAP, 1997. (Cadernos
ENAP 10).

ANASTASIA, Antônio Augusto. Antecedentes e origem do choque de gestão. In:


VILHENA, Renata et al. O choque de gestão em Minas Gerais: políticas da gestão
pública para o desenvolvimento. Belo Horizonte: UFMG, 2006.

BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. Princípio constitucional da eficiência administrativa.


Belo Horizonte: Mandamentos, 2004.

BRASIL. Ministério do Planejamento. Decreto-Lei n.º 200, de 25 de fevereiro de 1967:


dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a
Reforma Administrativa e dá outras providências. Brasília, DF, 1967. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto- lei/Del0200.htm>. Acesso em: 8 jan. 2013.

BRASIL. Ministério do Planejamento. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado.


Brasília:1995. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/PLANDI9.HTM>. Acesso em: 8 jan 2013.

BRASIL. Casa Civil da Presidência da República. Lei Federal n.º 9 784, de 29 de janeiro
de 1999: Regula o processo administrativo no âmbito da Administração
Pública Federal. Brasília, DF, 1999. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9784.htm >. Acesso em: 8 jan. 2013.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2 661,


de 04 de jun. 2002. Ação direta de inconstitucionalidade lei estadual que
autoriza a inclusão... Brasília, DF, 2002. Disponível em:<
http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca;jsessionid=2F669E808C17F5950D73FB93
824C4AFB?q=titulo:ADI%202.661&s=jurisprudencia >. Acesso em: 8 jan. 2013.
100

BRASIL. Congresso Nacional. Constituição (1988). Constituição da República


Federativa.do.Brasil. 44. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito Administrativo e Políticas Públicas. São Paulo:
Saraiva, 2002.

CANIN, Royal. Enciclopédia do Cão. Paris: Aniwa, 2001.

CHIAVENATO, Idalberto. Teoria Geral da Administração. 6. ed. rev. e atual. 12ª reimpr.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2002.

COSTA, Felipe. Utilização de cães de faro em operações de barreira policial na repressão


ao tráfico de drogas. 2008. 61 f. Monografia (Bacharelado em Segurança Pública) – Polícia
Militar de Santa Catarina. Universidade do Vale do Itajaí, Florianópolis, 2008.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

DISTRITO FEDERAL. Polícia Militar do. Apostila do Curso de Cinotecnia. Brasília-DF:


Polícia Militar do Distrito Federal. 2008.

ESPÍRITO SANTO. Polícia Militar. Manual de Cinotecnia. Vitória-ES: Polícia Militar do


Espírito Santo. 2008.

FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio eletrônico. Cd rom.


São Paulo: Positivo Informática, 2010.

FOGLE, Bruce. Guia ilustrado Zahar: cães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed.,2009.

FRANÇA, Júnia Lessa; VASCONCELLOS, Ana Cristina. Manual para normalização


de publicações técnico-científicas. 8. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2011.

FRANK, Rochelle. Doutrina de emprego de cinófilos com cães na Brigada Militar:


Treinamento e Habilitação de Militares Estaduais nesta atividade. 2008. 93 f. Monografia
(Bacharelado em Segurança Pública) – Academia de Polícia Militar da Brigada Militar,
Porto Alegre, 2008.

FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 2.


ed. São Paulo: Malheiros, 1999.

GEARY, Michael. Tudo sobre cães. São Paulo: Melhoramentos, 1978.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 7.ed. São Paulo: Atlas,
2010.
101

GYGAS, Théo. O Cão em Nossa Casa. São Paulo: Discubra, 1988.

HELFERS, Fred. Regras e Diretrizes de Certificação para Cães Farejadores de


Narcóticos. Polícia do Noroeste do Pacífico, 2005.

KETTL, Donald F. The global public management revolution. 2. ed. Washington, DC:
Brookings Institution Press, 2005.

LEMOS, Carolina Siqueira. Gestão pública Orientada para Resultados:avaliando o caso de


Minas Gerais. 2009. 116 f. Tese (Mestrado) - Curso de Administração Pública, Departamento
de Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Fundação Getúlio Vargas, Rio
de Janeiro, 2009.

MACIEL, Mário Augusto Jardim. O Emprego de cães nas atividades de Polícia Ostensiva.
1999. 120f. Monografia (Curso Avançado de Administração Policial Militar) - Brigada
Militar do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1999.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho


científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e
trabalhos científicos. São Paulo: Atlas, 2010.

MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 6. ed. Niterói: Impetus, 2012.

MARTINS, Clayton Marafioti. O Emprego de cães de faro na detecção de drogas ilícitas:


Polícia Militar de Santa Catarina. Monografia – Especialização em Administração de
Segurança Pública. UNISUL, 2007.

MEIRELLES, Hely Lopes Meireles. Direito Administrativo Brasileiro. 36. ed. São Paulo:
Malheiros, 2010.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 14. ed. São Paulo:
Malheiros, 2002.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo:
Malheiros, 2009.

MELLO. Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo. 27. ed., São Paulo:
Malheiros, 2010.

Scent . .

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Emprego de cães na segurança pública (Manual de


Cinocomandos – PM). MP–11–5 – PM. Belo Horizonte: 1987.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Revista do batalhão de eventos da polícia militar de


minas gerais. Belo Horizonte, Batalhão de Polícia de Eventos, n. 1, jun./2004.
102

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão. Plano Mineiro de


Desenvolvimento Integrado (PMDI), 2007-2023. Belo Horizonte, 2007.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Diretriz de Gestão para Resultados n.º
001/2010: organiza e disciplina o sistema integrado de gestão para resultados da PMMG. Belo
Horizonte: Assessoria de Gestão para Resultados/Estado-Maior, 2010a.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando Geral. Caderno de Gestão para Resultados
n.º 2/2010: estabelece Parâmetros para Alcance de Resultados na Gestão Operacional. Belo
Horizonte: Assessoria de Gestão para Resultados/Estado-Maior, 2010b.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando Geral. Diretriz para a Prestação de Serviço de
Segurança pública nº 03.01.01/2010. Regula o emprego operacional da PMMG. Belo
Horizonte, 2010c.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Resolução nº. 4 118: Cria a Companhia PM


Independente de Policiamento com Cães e transfere o BPTRAN para a 1ª RPM. Belo
Horizonte, 2010d.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Resolução nº. 4 208: Dispõe sobre a assistência médica
veterinária, controle patrimonial e otimização do uso e durabilidade dos semoventes da
PMMG e dá outras providências. Belo Horizonte, 2012a.

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Plano Estratégico CG. Planejamento


Estratégico da PMMG, para vigência no período de 2012-2015. Belo Horizonte: Assessoria
de Gestão para Resultados, 2012b.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Defesa Social. Lei Delegada nº 56, de 29 de


janeiro de 2.003: dispõe sobre a Secretaria de Estado e Defesa Social e dá outras
providências. Disponível em: <https://www.seds.mg.gov.br/images/seds_docs/lei_delegada_
n56.pdf>. Acesso em: 8 janeiro de 2013.

PAULA, Ana Paula Paes de. Por uma nova gestão pública:Limites e potencialidades da
experiência contemporânea. Rio de Janeiro: FGV, 2005.

PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para
o pesquisador do direito. 4. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2000.

PAZZAGLINI FILHO, Marino. Princípios constitucionais reguladores da administração


pública: agentes públicos - discricionariedade administrativa, extensão da atuação do
Ministério Público e do controle do poder judiciário. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 136 p.

PEREIRA, José Matias. Curso de Administração Pública: foco nas instituições e ações
governamentais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 263 p.
103

PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Da administração pública burocrática à gerencial.


Revista do Serviço Público, Brasília, v. 120, n.1, p. 7-40, jan./abr.1996.

in: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK, Peter Kevin (Org.). Reforma do Estado e
administração pública gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005.

PEREIRA, Luiz Carlos Bresser . Uma reforma gerencial da administração pública no Brasil.
In: PETRUCCI, Vera; SCHWARTZ, Letícia. Administração pública gerencial: a reforma
de 1995. Brasília: UNB, ENAP, 1999.

PEREIRA, Gestão do setor público: estratégia e estrutura para um novo Estado. In:
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK Peter Kevin (Org.). Reforma do Estado e
Administração pública gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006.

SANTA CATARINA. Polícia Militar do Estado de. Manual Cinotécnico: Emprego do


Cão Policial. Florianópolis, 2003a. 30 p. (folheto).

SILVA, Elton Carvalho da. O emprego de cães nas operações de localização de


entorpecentes na Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso . Monografia – Curso
de Especialização em Gestão de Segurança Pública. FAECC, 2003.

SCANZIANI, Piero. Cães: raças do mundo inteiro. Rio de Janeiro: Rio Gráfica. 1983.

SECCHI, Leonardo. Modelos organizacionais e reformas da administração pública.


Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro. Ano 5. n. 43, 2009 Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/rap/v43n2/v43n2a04.pdf>Acesso em: 8 de janeiro de 2013.

SILVA, Elton Carvalho da. O emprego de cães nas operações de localização de


entorpecentes na Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso. 2003. 104 f. Monografia
(Especialização em Segurança Pública) – Universidade Federal do Mato Grosso – Faculdade
de Administração, Economia e Ciências Contábeis, Cuiabá, 2003.

SOUZA, Renato Vieira de; PROTÁSIO, Gilberto. Gestão para resultados na segurança
pública em Minas Gerais: uma análise sobre o uso de indicadores na gestão da Polícia
Militar e no Sistema de Defesa Social. Revista Brasileira de Segurança Pública, São Paulo.
Ano 5. n. 8, 2011 Disponível
em:<http://www.forumseguranca.org.br/revista/index.php/rbsp/article/download/92/89&usg=
AFQjCNEu1vW5p32MmIMPLLXr0yfBJqwOJA>. Acesso em: 4 mar. 11.

In: SUNDFELD, Carlos Ari; NUSDEO, Ana Maria de Oliveira; PORTO NETO, Benedicto
(Org.). Direito Administrativo Econômico. São Paulo: Malheiros, 2002.

TAYLOR, David. Os Cães. [Tradução: Sergio Azevedo Pereira] – São Paulo: Editora
Melhoramentos, 2006.

UNITES STATES. Department of the Army. Pamphlet 190–12 Military Police Military
Working Dog Program. Headquarters Department of the Army Washington, DC 30
September, 1993.
104

VILHENA, Renata; MARTINS, Humberto Falcão; MARINI, Caio. Fundamentos do


Choque de Gestão. In; VILHENA, Renata et al. (Org.) O choque de Gestão em Minas
Gerais: Políticas da Gestão Pública para o Desenvolvimento. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2006.
105

APÊNDICE ÚNICO – Modelo de questionário aplicado aos Comandantes de Canis das


Unidades da PMMG.

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR


CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Belo Horizonte 07 Janeiro de 2013

Ofício Nr 001/2013 – CESP

Anexo: Questionário .

Senhor Comandante,

Estou frequentando o CESP II 2012 e pretendo, conforme prévia autorização


do Sr Cel PM Comandante da APM, analisar a implantação da utilização do cão de dupla
aptidão na PMMG.

O questionário anexo tem por finalidade avaliar a nível de Estado, em todas as


Unidades que possuem Canil, aspectos relativos ao tema.

Assim exposto, solicito a V. Sª a gentileza de determinar que o Oficial ou


Praça na função de comando do Canil da Unidade preencha o devido questionário e
proceda a devolução até o dia 11 de janeiro de 2013-Sex, remetendo preferencialmente
via P.A ou email (tenrodrigues25@bol.com.br). Podem ser ouvidos os integrantes do
Canil, porém, confeccionado somente um questionário com as respostas.

Esclareço que o prazo considerado dá-se em virtude do cronograma do


CPP/APM.

Respeitosamente,
JOÃO WASHINGTON AZEVEDO RODRIGUES, CAP PM
ALUNO – CESP II 2012
106

Caro amigo,
Com vistas à conclusão do CESP II/2012, estou realizando uma pesquisa para
elaboração do TCC, o qual versará sobre “ O emprego do cão de dupla aptidão no
patrulhamento ostensivo da PMMG”. Entende-se cão de dupla aptidão, para fins da
pesquisa, aquele capaz de realizar as funções de faro de entorpecentes e de policiamento
ostensivo.

Sendo VSa Cmt/Membro de equipe envolvido no treinamento/manejo de cães da


PMMG, solicito, gentilmente, que contribua para que a pesquisa alcance seus objetivos,
que remetem ao aumento da eficiência de nossas patrulhas com cães. Basta responder às
perguntas e reenviar o presente questionário via PA/INTRANET PM, na caixa postal:
Cap Rodrigues CPP (nº PM 1226166).

UNIDADE PM:___________________ CIDADE: _______________________

PERGUNTAS

1- Você conhece ou tem conhecimento se há na PMMG doutrina a respeito da


utilização do cão de dupla aptidão?
( ) sim; citar________________________________
( ) encontra-se em fase de redação;
( ) não .

2- A sua Unidade possui algum cão que consegue realizar mais de uma função no
serviço operacional? Caso possua, cite a raça do animal
a( ) sim. raça_______________________;
b( ) não.

4- Haveria algum benefício para o serviço operacional caso a guarnição possuísse


cães de dupla aptidão?
a( ) sim; qual _____________________________
b( ) não.
107

5- Qual(is) óbice(s), no seu entendimento, poderiam interferir na implantação do uso


de cães de dupla aptidão na sua Unidade?
a( ) falta de conhecimento da doutrina de treinamento para dupla função;
b( ) falta de cães qualificados para dupla função no plantel;
c( ) falta de infraestrutura para treinamento;
d( ) não há óbice à implantação.

6- Você já deslocou em cobertura a uma outra guarnição e não pode ajudar devido ao
seu cão não ser treinado para a demanda apresentada pela ocorrência?
a( ) sim, várias vezes
b( ) sim, poucas vezes;
c( ) não.

7- Atualmente sua unidade possui estrutura capaz de introduzir o treinamento para


dupla aptidão a cães previamente selecionados ?
a( ) sim;
b( ) não.

8- Você possui ou conhece algum policial militar ou policial civil que possua curso
específico nesta atividade de treinamento de cães para dupla função?
a( ) sim; citar o curso ou policial ____________________________
b( ) não.

9- Qual (is) raça (s) você julga ser(em) mais apta(s) a realizar atividade de dupla
aptidão na PMMG?
a( ) pastor alemão;
b( ) pastor belga malinois;
c( ) rottweiler;
d( ) labrador;
e( ) outras, citar _______________________________

Você também pode gostar