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UNIVERSIDADE PAULISTA

PAULA FRANCINE DIAS

O SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO RACIAL:

em prol de uma sociedade igualitária

ITAPORANGA

2020
PAULA FRANCINE DIAS

O SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO RACIAL:

em prol de sociedade igualitária

Trabalho de conclusão de curso para obtenção


do título de graduação em Serviço Social
apresentado à Universidade Paulista – UNIP.

Orientador: Profª Andreia Ferreira

ITAPORANGA
2020
FICHA CATALOGRÁFICA

PAULA FRANCINE DIAS


O SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO RACIAL:

em prol para uma sociedade igualitária

Trabalho de conclusão de curso para obtenção


do título de graduação em Serviço Social
apresentado à Universidade Paulista – UNIP.

Orientador: Profª Andreia Ferreira

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

____________________________________/________/________
Prof.
Universidade Paulista – UNIP

_____________________________________/_______/__________
Prof.
Universidade Paulista – UNIP

______________________________________/_______/__________
Prof.
Universidade Paulista – UNIP
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha família, amigos e


todos aqueles que me apoiaram durante esses
três anos e meio de curso.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela saúde e disposição que me permitiu a realização deste


trabalho.
Agradeço minha família e amigos por nunca me deixarem desistir do curso, mesmo
nos momentos mais difíceis.

Agradeço também a todos que uma alguma forma contribuíram para a realização
deste estudo.

Meus orientadores, professores e a todos dessa instituição, obrigada por todo


suporte dado até hoje.

Por fim, agradeço a todos os colegas do meu local de estágio e meus supervisores.
Vocês foram essenciais em meu caminho percorrido durante esta graduação.
“O sucesso nada mais é que ir de fracasso em
fracasso sem que se perca o entusiasmo ”.

(Winston Churchill).

RESUMO

A objetividade deste trabalho é contribuir para a efetivação do respeito à


população negra, desenvolvendo um Projeto Ético-Político antirracista, na luta pela
afirmação de seus direitos através das ações afirmativas, em prol de uma sociedade
igualitária. Para a obtenção do objetivo proposto do trabalho, o estudo se deu pela
pesquisa bibliográfica sobre os temas discutidos. No desenvolvimento do trabalho
realizou-se uma breve abordagem sobre a construção histórica do racismo brasileiro
envolvendo os subtemas a origem do racismo no Brasil, um estudo sobre os termos
raça, etnia e racismo, o racismo na sociedade contemporânea e uma resenha das
Relações Raciais no Brasil. A seguir apresentou-se uma reflexão sobre o Serviço
Social e a questão racial no contexto brasileiro abordando os subtemas breve
abordagem do Serviço Social e a questão racial no contexto brasileiro e o Serviço
Social. No ultimo capitulo tratou- se sobre a prática profissional do assistente social
e a questão racial, abrangendo as políticas da assistência social na
contemporaneidade, o trabalho do assiste social referente a questão racial, refletindo
sobre as ações afirmativas no combate ao racismo e o trabalho do assistente social
junto ao Cras e o desenvolvimento de ações antirracistas com o publico atendido
pelo Cras.
Concluímos que prática profissional do assistente social, buscando
elementos ético-políticos, e pautado nas políticas das ações afirmativas, será capaz
de combater o racismo, no âmbito do Cras, renovando a sociedade brasileira.

Palavras-chave: Serviço Social. Assistente Social. Racismo.

ABSTRACT

The objectivity of this work is to contribute to the realization of respect for the
black population, developing an anti-racist Ethical-Political Project, in the struggle for
the affirmation of their rights through affirmative actions, in favor of an egalitarian
society. To obtain the proposed objective of the work, the study took place through
bibliographic research on the topics discussed. In the development of the work, a
brief approach was made on the historical construction of Brazilian racism involving
the subthemes the origin of racism in Brazil, a study on the terms race, ethnicity and
racism, racism in contemporary society and a review of Race Relations in the Brazil.
The following was a reflection on Social Work and the racial issue in the Brazilian
context, addressing the brief sub-themes of Social Work and the racial issue in the
Brazilian context and Social Work. In the last chapter, it dealt with the professional
practice of social workers and the racial issue, covering contemporary social
assistance policies, the work of social workers regarding the racial issue, reflecting
on the affirmative actions in the fight against racism and the work of the social worker
with Cras and the development of anti-racist actions with the public served by Cras.

We conclude that professional practice of the social worker, seeking ethical-


political elements, and based on affirmative action policies, will be able to combat
racism, within the scope of Cras, renewing Brazilian society.

Keywords: Social Work. Social Worker. Racism.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................10
1. A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO RACISMO BRASILEIRO..............................11

1.1 A origem do racismo contra a raça negra.......................................................11

1.2. Raça, Etnia e Racismo......................................................................................12

1.3. O racismo na sociedade contemporânea........................................................16

1.4. Uma resenha das relações raciais no Brasil...................................................18

2. O SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO RACIAL....................................................21

2.1. Breve abordagem sobre a relação do Serviço Social e a questão social....21

2.2. A questão racial no contexto brasileiro e o Serviço Social..........................26

3. A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO AO RACISMO....32

3.1. Políticas da assistência social na contemporaneidade.................................32

3.2. O trabalho do assistente social referente à questão racial...........................36

3.3. O trabalho do assistente social junto ao Cras no combate ao racismo......46

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................51

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................52
10

INTRODUÇÃO

O Serviço Social, enquanto profissão surgiu em decorrência das


manifestações da classe trabalhadora, que reivindicava por melhores condições de
vida, produzidas pelo sistema capitalista, período em que sucedia uma grande
acumulação e reprodução do capital, e consequentemente gerava o crescimento da
pobreza, miséria e as formas de exploração da classe de trabalhadores.
São nessas situações de desigualdades sociais produzidas pela sociedade
capitalista, que o profissional de Serviço Social atua  na formulação e implantação
de propostas de intervenção que visem o exercício pleno da cidadania, na luta pelo
respeito aos direitos civis, sociais e políticos e aos direitos humanos.

Dentre as desigualdades sociais, deparamos com a desigualdade racial. A


desigualdade social causa uma alteração econômica que atinge a maioria mais
pobre da população, afetando com mais severidade a população negra, em
decorrência da discriminação racial.

Numa breve análise da população brasileira deparamos com uma grande


população negra no país, sendo a maioria de baixa renda e alta instabilidade social,
realidade que reivindica uma atuação do Serviço Social na garantia da política de
promoção da igualdade racial.

Pra que essa demanda seja consentida é preciso o reconhecimento de sua


existência e validade. Neste contexto é necessário que o profissional do Serviço
Social compreenda o histórico sócio-racial no contexto nacional e ainda dos
movimentos de lutas e garantias, para consolidação da sua intervenção.

Este trabalho tem por objetivo contribuir para a efetivação do respeito à


população negra, desenvolvendo um Projeto Ético-Político antirracista, uma luta pela
afirmação de seus direitos através das ações afirmativas, em prol de uma sociedade
igualitária.

Segundo o Estatuto da Igualdade Racial “Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza”.
11

1. A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO RACISMO BRASILEIRO

1.1 A origem do racismo contra a raça negra.

A história do racismo no Brasil, de acordo com os historiadores, surgiu


durante o processo da colonização do país pelos portugueses, quando foram
traficados da África milhões de negros, para suprir a necessidade de trabalhadores
braçais nas atividades agrícolas, nas atividades de mineração e em outras diversas,
no século XVI.

O trabalho dos negros foi sistematicamente aplicado de forma dominadora,


escravizando- os. A rotina de trabalho desses escravos era composta de longas
jornadas de trabalho diário em péssimas condições, com alimentação controlada,
com castigos e punições em casos de desobediência de uma ordem ou até mesmo

pelo baixo rendimento no trabalho, sem direitos ou garantia.

A escravidão pode ser definida como o sistema de trabalho no qual o


indivíduo (o escravo) é propriedade de outro, podendo ser vendido, doado,
emprestado, alugado, hipotecado, confiscado. Legalmente, o escravo não
tem direitos: não pode possuir ou doar bens e nem iniciar processos
judiciais, mas pode ser castigado e punido. (GARAEIS, 2020, s/p).

Os negros eram alojados em grandes galpões, chamado de senzala,


separados da classe branca, que considerava superior a raça negra, a classe
predominante; que rejeitou as tradições e costumes do negro, principalmente a
prática de sua religião; consolidando assim uma barreira social entre o branco e o
negro, pela diferença da étnica. Os negros foram discriminados e oprimidos no
período da escravidão no Brasil, tendo seus direitos infringidos por uma raça que se
julgava superiores a deles.

A história da escravização africana no Brasil ficou marcada pelo tratamento


direcionado aos negros, como a exploração, a discriminação, a punição e a
violência. Fatos que marcaram a história brasileira, constituindo uma 
sociedade insensível, desumana e racista, e suas consequências ainda são
constatadas nos dias de hoje, após de mais de 130 anos da revogação desta
prática.
12

O professor Porfírio (2020) descreve que após a promulgação da Lei Áurea


em 1888, que vetava “a escravização de pessoas” no Brasil, o Estado não se
interessou em agregar os escravos libertos na sociedade.

[...] não se criou um sistema de políticas públicas para inserir os escravos


libertos e seus descendentes na sociedade, garantindo a essa população
direitos humanos, como moradia, saúde e alimentação, além do estudo
formal e posições no mercado de trabalho. (PROFÍRIO, 2020, s/p).

Segundo o discurso do professor Porfírio (2020) após a abolição dos


escravos, o negro ganhou a sua liberdade, mas não sendo amparados pelas
políticas públicas, os negros permaneceram trabalhando para os seus antigos
senhores, recebendo salários insignificantes. Outros foram para os centros urbanos,
alojando-se nas áreas mais afastadas, estabelecendo ali sua moradia, evento que
contribuiu para a formação das primeiras favelas. O sustento de suas famílias era
mantido através de serviços de baixa remuneração, prestação de serviços diários e
informais. Esta situação vivenciada pelo negro promoveu a segregação étnica da
população brasileira. A maioria da população negra não alcançou o mesmo padrão
de vida dos brancos, os quais tinham maiores oportunidades.

A escravização dos negros africanos no Brasil estimulou a fundamentação e


o discurso racista contra o negro, expandindo o conceito da inferioridade entre as
raças.

Na atualidade observamos que a sociedade brasileira tem o racismo presente


em práticas estruturadas nas relações sociais entre negros e brancos. Estudos e
pesquisas apontam que os brancos possuem mais vantagens que a população
negra no Brasil, em todas as áreas sociais.

1.2. Raça, Etnia e Racismo.

Para uma compreensão mais pertinente sobre o racismo brasileiro, uma das
causas da desigualdade social, torna-se necessário um aprofundamento nos termos
e conceitos presentes no debate sobre relações raciais. Os termos e conceitos
manifestam-se na teorização sobre a temática racial e nas diferentes interpretações
que a sociedade brasileira realiza a respeito das relações raciais.
13

1.2.1 Raça

Munanga (2014) afirma que “etmologicamente, o conceito de raça veio


do italiano “razza”, que por sua vez veio do latim “ratio”, que significa sorte,
categoria, espécie”.

Segundo Rodrigues (2020) “o conceito de raça é altamente complexo e objeto


de grandes estudos sociológicos”.

No desenvolvimento histórico da sociedade brasileira, a partir do século XVIII,


a utilização do termo raça era alicerçada na crença da existência de diferentes
grupos de seres humanos; apoiados nas aparências biológicas de um indivíduo.

As teorias sobre as diferentes raças humanas surgiram inicialmente no final


do século XVIII e início do século XIX, tendo como autor principal Joseph Arthur de
Gobineau (1816-1882) – o “pai do racismo moderno” –, filósofo francês e principal
defensor da ideia de superioridade da raça. (RODRIGUES, 2020, s/p).

Estudos científicos que pesquisaram e analisaram as distinções entre


diferentes grupos humanos comprovaram que as divergências genéticas
apresentadas entre os grupos de características físicas diferentes, eram as mesmas
em termos biológicos, concluindo que não há “raças”, apenas uma grande
diversidade de variações físicas entre os seres humanos.

Com base na conclusão dos estudos a comunidade científica e os sociólogos


abdicaram o uso do termo raça, afirmando que o conceito de raça é apenas uma
construção social gerada pelo preconceito.

Segundo Gomes (2017) na atualidade o termo raça ainda é utilizado pelos


defensores do combate ao racismo na concepção social e política.

O Movimento Negro e alguns sociólogos, quando usam o termo raça, não o


fazem alicerçado na ideia de raças superiores e inferiores como
originalmente eram usada no século XIX. Pelo contrário, usam-no com uma
nova interpretação, que se baseia na dimensão social e política do referido
termo. E, ainda, usam-no porque a discriminação racial e o racismo
existente na sociedade brasileira se dão não apenas devido aos aspectos
culturais dos representantes de diversos grupos étnico raciais, mas também
devido à relação que se faz na nossa sociedade entre esses e os aspectos
físicos observáveis na estética corporal dos pertencentes às mesmas.
(GOMES, 2017, p. 45).
14

Gomes (2017) afirma que o uso da palavra raça “na área das ciências, da
biologia, nos meios acadêmicos, pelo poder político e na sociedade, de um modo
geral, esteve ligado à dominação político-cultural de um povo em detrimento de
outro”.

A Alemanha nazista utilizou-se da ideia de raças humanas para reforçar a


sua tentativa de dominação política e cultural e penalizou vários grupos
sociais e étnicos que viviam na Alemanha e nos países aliados ao ditador
Hitler, no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). (GOMES,
2017, p. 50).

1.2.2 Etnia

O termo etnia tem sua origem no grego, “ethnos”, referindo a um povo que


tem a mesma origem, cultura e  costumes.

Munanga (2014) apresenta uma conceituação do termo etnia:

É um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um


ancestral comum; têm uma língua em comum, uma mesma religião ou
cosmovisão; uma mesma cultura e moram geograficamente num mesmo
território. Algumas etnias constituíram sozinhas nações. (MUNANGA, 2014,
s/p).

Rocha (2016) relata sobre a iniciativa do uso do termo etnia pelos alemães e
cita a concepção do autor Gomes (2005).

Devido à tragédia do nazismo, muitos/as pesquisadores/as, com vistas a


superar a ideia de raça no sentido biológico, passaram a utilizar o termo
etnia, ao se referirem a povos como os judeus, índios, negros, entre outros
grupos. Para Gomes (2005, p. 50) “A intenção era enfatizar que os grupos
humanos não eram marcados por características biológicas herdadas dos
seus pais, mães e ancestrais, mas sim, por processos históricos e culturais”.
(ROCHA, 2016, p. 9).

Para a realização de um trabalho eficaz contra o racismo é necessário saber


diferenciar os termos raça e etnia, a concepção de raça é para determinar as
características físicas, e etnia para definir as particularidades de um grupo
conforme suas referências socioculturais.

1.2.3. Racismo
15

O dicionário Aurélio, da Língua Portuguesa define que racismo é “preconceito


e discriminação direcionados a quem possui uma raça ou etnia diferente, geralmente
se refere à segregação racial”.

Segundo a Cartilha SUAS “Sem Racismo, promoção da Igualdade Racial no


Sistema Único de Assistência Social (2018)”, o racismo é “um conjunto de ideias,
pensamentos e ações, que parte do pressuposto da existência de diferenças de
raças entre superiores”.

Rocha (2016) conceitua racismo como “a crença na existência de raças e sua


hierarquização. É a ideia de que há raças e de que elas são naturalmente inferiores
ou superiores a outras, em uma relação fundada na ideologia de dominação”.

A autora ainda expõe que “o racismo se manifesta de diferentes formas,


desde atitudes no âmbito das relações individuais, a relações estruturais e
institucionalizadas”. Esta manifestação de racismo depende da concepção de cada
indivíduo ou grupo social. Grande parte dos pesquisadores assegura que o racismo
é manifestado conforme o ambiente que convivemos, pela influência na formação de
nossa concepção.

Práticas racistas estão enraizadas na cultura brasileira, é corriqueiro


encontrarmos expressões de linguagens racistas no vocabulário cotidiano dos
brasileiros, como “serviço de preto”, “tem um pé na senzala”, “cabelo de pixaim”,
“amanhã é dia de branco”; ações cometidas de forma natural e inconsciente,
atitudes que consentem que a discriminação aconteça em todos os ambientes.

As atitudes discriminatórias a uma pessoa, através de expressões linguistas


racistas, desacato e rejeição a uma pessoa de característica étnica diferente é
denominado de racismo individual.

O racismo é classificado de diversas formas, dependendo da especificidade


do estudo em questão.

Tipos de racismo:

 Racismo científico
16

O racismo científico é uma corrente de teorias que procura explicar o racismo


na crença das diferenças biológicas entre os seres humanos, “seres superiores e
inferiores”, uma filosofia descarta pela ciência contemporânea.

 Racismo estrutural 

O racismo estrutural é a manifestação de um conjunto de práticas e costumes


sócio- culturais de uma sociedade, incorporados ao longo da construção histórica,
que promove a discriminação racial.

 Racismo institucional

O racismo institucional é a manifestação da discriminação racial ou de


preconceito por parte de instituições públicas ou privadas, do Estado e das leis que,
de forma indireta, promovem a exclusão ou o preconceito racial.

1.3. O racismo na sociedade contemporânea

Após a Lei Áurea de 1888 que concedeu a libertação dos escravos, abolindo
a escravidão no país; muitas outras legislações foram sancionadas em prol da
população negra do Brasil, como a Constituição Federal do Brasil de 1988, que
garante a liberdade e igualdade para todos; apesar disso o racismo racial tem
persistido no meio social brasileiro.

O exercício para a efetivação da democracia, da igualdade de condições e


oportunidades para todos se depara com uma disputa entre a população branca e
negra na área da economia. A discriminação racial no país tem sua procedência na
organização econômica da sociedade, o sistema capitalista, assim afirma grande
parte dos estudiosos sobre o assunto.  A principal característica do sistema
capitalista é a acumulação do capital, tendo por objetivo o lucro.

De acordo com Batista e Mastrodi (2018) o racismo predominou por longos


anos no Brasil, “no final do século XIX, houve discriminação racial durante todo o
século XX e ainda hoje se mantêm relações racistas na sociedade brasileira”.

Os negros, que foram subalternados no sistema escravagista por forças não


econômicas, têm sofrido, no âmbito do modo de produção capitalista, uma
exploração dupla: o sistema econômico se aproveita do sistema social
racista para negociar a força de trabalho do negro como uma mercadoria
ainda mais barata que a força de trabalho do branco. (BATISTA E
MASTRODI, 2018, p. 2335).
17

Conforme a pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística), os negros e pardos compõem a maioria da população brasileira, porém
apenas uma pequena parcela pertence à classe mais rica do país e em cargos
superiores.

A maioria da população negra possui salários de baixa renda e trabalham em


funções informais.

Batista e Mastrodi (2018) descrevem sobre a situação do racismo contra a


raça negra.

O racismo impregna a dimensão cultural da sociedade brasileira e


retroalimenta sua dimensão econômica, autorizando que, na divisão social
do trabalho, os serviços com remuneração mais baixa sejam reservados
majoritariamente aos negros; ou que negros ganhem menos que brancos no
exercício do mesmo tipo de serviço; ou que negros tenham muito mais
dificuldade para encontrar empregos que brancos etc. (BATISTA e
MASTRODI, 2018, p. 2335).

Os negros e seus descendentes ainda convivem com uma relativa


segregação racial, defrontando com preconceitos e condições sociais inferiores em
relação à população branca.

Segregação racial  é a discriminação de pessoas gerada pelas características


étnicas, na ideia da superioridade de raças, promovendo a separação social dos

grupos sociais, a exclusão social.

Ferreira Netto (2020) em seu artigo explica:

A segregação racial pode ter diferentes justificativas, mas está sempre


permeada de algum tipo de discriminação e tem consequências para além
da raça, impactando grupos sociais e indivíduos econômica e politicamente,
e também em fatores psicológicos, educacionais e de acessibilidades. A
discriminação racial e a segregação racial levam a diferentes formas
de desigualdade social e tipos de opressão social. (FERREIRA NETT0,
2020, s/p).

A autora ainda cita que “a segregação racial é condenada pelos Direitos


Humanos por violar princípios de igualdade e liberdade”

O racismo contemporâneo se manifesta pela discriminação racial nas


diversas esferas da sociedade, como: na educação, na cultura, na igreja, na mídia,
na saúde e etc.
18

Rocha (2016) descreve sobre o racismo contra a população negra nas áreas
da vida social.

Inúmeras pesquisas retratam que, na saúde, por exemplo, são as mulheres


negras que representam os maiores índices de mortalidade materna. São
elas também que exercem, majoritariamente, os trabalhos domésticos e
recebem os mais baixos salários. Na educação, são os/as negros/as que
ingressam mais tardiamente aos espaços escolares e são os/as que saem
(“evadem”) mais precocemente. Em relação ao acesso à justiça, a
desigualdade se mantém. As penas mais duras são aplicadas aos/às
negros/as, mesmo quando cometem os mesmos crimes praticados por
brancos/as. (ROCHA, 2016, p.7).

Nathália Afonso (2019) em seu artigo apresenta dados estatísticos que


comprovam a desigualdade racial no Brasil. Conforme a autora a população negra
apresenta o maior índice de desempregados, vítimas de homicídio, compondo “mais
de 60% da população carcerária do país e negros também são maioria entre os que
morrem em decorrência de ações de agentes de segurança do Estado”.

Na sociedade brasileira a discriminação racial vem sendo combatida através


da criação de novas políticas públicas, campanhas de conscientização, e a proteção
dos direitos da população negra.

Batista e Mastrodi (2018) fazem a seguinte reflexão:

Porém, os homens negros e as mulheres negras ainda são socialmente


excluídos ou, quando muito, integrados limitadamente para que se propague
a ideia de uma suposta igualdade, que colocaria a todos os indivíduos no
mesmo patamar, fazendo com que as lutas de resistência à opressão do
racismo sejam desacreditadas. (BATISTA E MASTRODI, 2018, p.
2353).

O profissional do Serviço Social tem como compromisso o desenvolvimento de


estratégias concretas com a finalidade de promover a igualdade entre todos os
cidadãos, para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.

1.4. Uma resenha das relações raciais no Brasil.

Para uma compreensão pertinente sobre as relações raciais no Brasil, temos


que voltar nosso olhar para a constituição do povo brasileiro, nos aspectos social e
cultural. A diversidade étnica da população brasileira foi gerada ao longo da história,
procedente de três grandes e principais grupos étnicos: os indígenas (nativos), os
africanos (escravos) e os europeus (brancos) e posteriormente a miscigenação das
19

diferentes etnias. A miscigenação do povo brasileiro revela-se como uma


característica determinante do pensamento social comprometendo as relações
raciais.

Ortegal (2018) certifica que “qualquer aproximação mais atenta em relação ao


estudo da história brasileira é capaz de evidenciar o quanto as relações entre
europeus, indígenas e africanos foram marcadas por distinções de cunho racial”.

De acordo com o autor, os brancos (europeus) considerando-se superiores


aos negros e aos indígenas, apoiados pela diferença cultural, estabeleceram a
distinções entre os grupos, configurando o racismo.

A partir desse contexto os negros e seus descendentes (mestiços)


conviveram com o processo de exclusão social no Brasil, prejudicando sua inserção
na sociedade.

A sociedade brasileira convive ao longo de sua história com o racismo, uma


concepção baseada nas diferenças raciais, fato que repercutiu nas relações sociais
instaurando no país um sistema de desigualdade entre os indivíduos. Nos séculos
XIX e XX, o racismo se alicerçou como um dos mecanismos mais dinâmicos de
determinação e controle das formas de convivência e das relações humanas,
originando atitudes e valores tanto individuais como nas organizações.

Na década de 30, no século XX, ocorreu o primeiro movimento para a


democracia racial, organizada pela Frente Negra Brasileira, apoiado por Getulio
Vargas, presidente do Brasil, mas o movimento não alcançou seus objetivos, em
decorrência de que muitos brasileiros acreditavam que não havia racismo no
Brasil. A partir dessa concepção o tema não deveria constar na pauta dos assuntos
nacionais. (Reis Rosa, 2014)

Reis Rosa (2014) descreve que a manifestação para a democracia racial e o


combate ao racismo só teve abertura “após os resultados encontrados por Bastide e
Fernandes”, no ano de 1955; a partir de então os temas começaram fazer parte nos
debates acadêmico, social e político.

Dias (2015) comenta sobre a conjuntura da democracia racial conforme os


estudos de Florestan Fernandes.
20

Ao discorrer sobre o mito da democracia racial Fernandes (1972), coloca a


complexidade da questão racial em debate. Para a população negra, as
habilidades em lidar com estas questões, vão para além da aparência, visto
que, os espaços de poder são extremamente racializados, as funções que
dão “status”, empregos e profissões consideradas de “mais valor”, não são
desempenhadas por negros, ao contrário, continuam estrangeiros dentro do
seu próprio país. No entanto, para o autor, isso demonstra apenas, técnicas
específicas de dominação social, que servem apenas para manter a ordem
social que discrimina e coloca seres humanos com diferenças fenotípicas
em posição de desigualdade. (DIAS, 2015, p. 316).

De acordo com a autora “alguns autores se destacam como intérpretes do


momento histórico, que marca o início de uma nova fase sobre as pesquisas raciais
no Brasil”. Eles afirmam, após pesquisas e estudos, que as desigualdades na
organização social e no sistema de classes, ainda têm como base a condição racial,
comprovando que o desenvolvimento do capitalismo não proporcionou a integração
do negro na sociedade.

A discriminação e preconceito raciais não são mantidos intactos após a


abolição, pelo contrário, adquirem novos significados e funções dentro das
novas estruturas e as práticas racistas do grupo dominante branco que
perpetuam a subordinação dos negros não são meros arcaísmos do
passado, mas estão funcionalmente relacionadas aos benefícios materiais e
simbólicos que o grupo branco obtém da desqualificação competitiva dos
não brancos. (HASENBALG, 1979. p.84 apud DIAS, 2015, p. 317).

Silva (2009) apud Dias (2015) “analisa que a Constituição Federal de 1988
pode ser considerada um grande avanço nesse aspecto, pois reconhece o racismo e
o preconceito racial como fenômenos presentes na sociedade brasileira”, e comenta
sobre a importância de criar mecanismos para combatê-los.

Uma ação necessária para o combate do racismo e o melhoramento das


relações raciais é a inserção do tema racial na agenda das políticas públicas, para
estimular o debate político, para a promoção da igualdade racial.

Claudia Charão (2020) afirma que “construir pontes que aproximem as


realidades de brancos e negros no Brasil é um desafio monumental de engenharia
social e econômica”.

Nas últimas duas décadas, políticas públicas de natureza diversa, adotadas


em diferentes níveis de governo, têm sido capazes de impulsionar a
construção das bases da igualdade. Indicadores socioeconômicos de toda
ordem mostram uma melhoria nas condições de vida da população negra,
bem como no acesso a serviços e direitos. (CHARÃO, 2020, s/d).
21

Segundo a autora estão sendo implantadas ações em nível de Estado e de


organizações para o aprimoramento da questão racial, como “a criação da
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em nível federal e
a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial’, programas voltados para o combate
à pobreza, Bolsa família, cotas para negros nas universidades”.

De acordo com as palavras da autora e de outros autores apesar da


implantação de ações afirmativas para a melhoria da vida da população negra, ainda
não foram suficientes para a superação do preconceito e da discriminação dos
negros. Os índices de analfabetismo, o acesso à saúde e as condições econômicas
da vida dos negros, com as novas políticas, melhoraram, mas ainda continua “duas
vezes maior que a taxa da população branca”. O índice de homicídios de negros,
entre os jovens, ampliou nos últimos anos.

Claudia Charão (2020) discorre que “os dados evidenciam a necessidade


urgente de se ampliar o combate às desigualdades raciais”.

2. O SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO RACIAL

2.1. Breve abordagem sobre a relação do Serviço Social e a questão social.

O Serviço Social no Brasil surgiu na década de 1930, período em que o país


passava por sérias dificuldades em decorrência das manifestações da classe
trabalhadora, que reivindicava por melhores condições de vida. Com o progresso
industrial, o desenvolvimento do sistema capitalista, o mesmo tempo que acontecia
uma grande acumulação e reprodução do capital, temos a produção da pobreza,
miséria e as formas de exploração da classe de trabalhadores. O Estado para o
enfrentamento das necessidades sociais criou o órgão de normatização e disciplinar
das relações de trabalho.

No período surgiu a primeira Escola de Serviço Social no ano de 1936, em


São Paulo, vinculada a Igreja Católica, com a finalidade de dar assistência aos
necessitados.

Segundo Oliveira e Chaves (2017) “entre outras profissões de natureza social,


o Serviço Social é demandado nesse contexto, organizando-se em instituições da
22

sociedade, na perspectiva de ajudar e assistir o “necessitado”, o “deficiente” e o


“desajustado” socialmente”.

De acordo com Alves (2020) nesta época a atuação do Serviço Social tinha
com fundamento o assistencialismo, para atenuar as consequências decorrentes do
sistema de produção, a questão social no Brasil, mas totalmente voltada para uma
relação entre o favor e a violência. Cisne (2015) apud Alves (2020) argumenta que
“a assistência social não passava de práticas descontínuas e desarticuladas,
voluntaristas, benevolentes, da caridade e da solidariedade irracional”.

Melo (2020) cita que “nos anos 1940 e 1950, o Serviço Social brasileiro
passou a receber grande influência norte-americana, sendo muito marcado pelo
tecnicismo”. A formação acadêmica para os assistentes sociais aderiu “uma base
positivista e funcionalista e sistêmica, que bebia na fonte da psicanálise e da
sociologia”.

Piana (2009) descreve sobre o surgimento do Serviço Social, intimamente


relacionado com “as transformações sociais, econômicas e políticas do Brasil nas
décadas de 1930 e 1940”.

O projeto de recristianização da Igreja Católica e a ação de grupos, classes


e instituições que integraram essas transformações. Essas décadas são
marcadas por uma sociedade capitalista industrial e urbana. A
industrialização processava- se dentro de um modelo de modernização
conservadora, pois era favorecida pelo Estado corporativista, centralizador e
autoritário. Assim, a burguesia industrial aliada aos grandes proprietários
rurais, buscava apoio principalmente no Estado para seus projetos de
classe e, para isso, necessitavam encontrar novas formas de enfrentamento
da chamada “questão social” (PIANA, 2009, p. 88).

Conforme Iamamoto e Carvalho (2006) o serviço social se reproduziu como


profissão reconhecida na divisão social do trabalho, tendo como fundamentação o
desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana, processos que
abrangeram o surgimento das classes sociais emergentes, originárias da luta de
classes e da capacidade de mobilização da classe trabalhadora. A constituição e
expansão do proletariado e burguesia industrial e as modificações sociais implicou
nas necessidades sociais, que provocou as demandas de intervenção social a partir
das políticas sociais, caracterizando- se na base de atuação sócio ocupacional do
Serviço Social.
23

A trajetória histórica da origem do Serviço Social profissional no Brasil ocorreu


no período do desenvolvimento capitalista, tendo como fator determinante a
questão social. O serviço social, desde a década de 1930, vem acompanhando as
mudanças ocorridas na sociedade brasileira o que exigiu da profissão a necessidade
de várias regulamentações na construção da profissão quanto sua atuação nas
questões sociais vivenciadas pela sociedade brasileira.

Nas décadas de 1980 e 1990, o Serviço Social vivenciou um grande processo


de renovação, desenvolvendo- se teoricamente e na sua pratica, consolidando- se
como “profissão reconhecida academicamente e legitimada socialmente”, o que
ocasionou a elaboração da normatização ética, o Código de Ética Profissional.
(CFESS, 1993).

De acordo Iamamoto e Carvalho (2006) o Serviço Social ultrapassando sua


fase marcada pela atuação de beneficência e assistencialismo, foi organizado e
estruturado conforme a consolidação da democracia. Ocasionando a assimilação
das bases teórico-metodológicas, da construção de estratégias técnicas operativas e
do comprometimento com os elementos da ética política, que compõem sua
instrumentalidade, refletindo assim em sua identidade profissional. A relação do
Serviço Social com a dinâmica da realidade concreta, na compreensão e
entendimento de sua origem e manifestações, torna- se fundamental para sua
efetivação.

Segundo o Código de Ética Profissional do serviço Social de 1933, foi


observada pelos organismos profissionais a revisão do texto de 1986, a partir dos
aspectos contemplados pela Constituição Federal de 1988, tornava- se relevante a
reafirmação dos seus valores fundamentais como: a liberdade e a justiça social,
como “valor ético político central, na medida em que é o único padrão de
organização político-social capaz de assegurar a explicitação dos valores essenciais
da liberdade e da equidade”.

Oliveira e Chaves (2017) realizam uma interpretação sobre a “ética” expressa


no trabalho profissional do Serviço Social.
24

A ética passa a ser entendida no movimento dinâmico da história, deter-


minado pelas relações sociais de produção. Dessa forma, o Código de Ética
compõe-se não apenas de elementos que embasam a formação profissional
no campo do dever ser, mas de elementos referentes ao exercício
profissional. O compromisso com a classe trabalhadora se apresenta como
o princípio da nova ética, que a partir desse código aponta para a
necessidade de superação da visão acrítica, que se coloca acima dos
interesses de classe e acredita em valores universais. (OLIVEIRA e
CHAVES, 2017, p. 155).

No ano de 1993 é promulgada a Resolução CFESS Nº 273, de 13 de março


de 1993, instituindo um novo Código de Ética para o Serviço Social, divulgando o
projeto profissional contemporâneo empenhado com a democracia, considerando os
direitos sociais, civis e políticos, em conformidade com os princípios e direitos
pautados na Constituição Federal de 1988 e na legislação complementar referente
às políticas sociais e aos direitos da população.

A questão social está estreitamente ligada ao sistema capitalista de produção,


no qual repercutem as situações de desigualdades sociais, provenientes da relação
entre acumulação de capital e trabalho.

Yazbek ( 2018) em seus estudos descreve que a reestruturação produtiva traz


como consequência “a radicalização da questão social”. A autora afirma ainda que
“a desigualdade e a concentração de renda que se intensificam nas atuais formas de
acumulação capitalista, resultam de mudanças na esfera da produção, associadas à
nova hegemonia liberal‐financeira”.

A desigualdade social provocada pelo sistema capitalista, cenário onde


alguns têm muito e a maioria nada tem, as consequências da aquisição desigual do
produto social são várias, como o desemprego, a pobreza, dificuldade de acesso
aos serviços básicos: saúde, educação, transporte público e saneamento básico, a
violência, precariedade da moradia, etc. a questão social nos apresenta nas suas
concretizações, em realizações que sintetizam as determinações prioritárias do
capital sobre o trabalho, onde o objetivo é acumular capital e não garantir condições
de vida para toda a população.

Freitas ( 2013) faz um comentário analítico sobre as desigualdades sociais:

Essas desigualdades vêm demonstrando uma grande persistência, tendo


atravessado, sem alterações perceptíveis, períodos de crescimento
acelerado e de estagnação, de inflação galopante e de completa
estabilidade de preços, bem como de rápidas e profundas mudanças
25

demográficas e tecnológicas. A preservação de um verdadeiro abismo


social gerado pela manutenção histórica de uma desigualdade extremada
fica mais fácil de entender quando percebemos a lógica de
construção/reprodução do capitalismo brasileiro. (CRESS, 2013, p. 46).

São nessas situações de desigualdades sociais produzidas pela sociedade


capitalista, que o profissional de Serviço Social atua  na formulação e implantação
de propostas de intervenção que visem o exercício pleno da cidadania, na luta pelo
respeito aos direitos civis, sociais e políticos e aos direitos humanos.

Dias (2015) faz um comentário pertinente sobre a expressão questão social.

A análise crítica das “expressões da questão social”, bem como sua origem
e desenvolvimento histórico, além das demonstrações que as particularizam
na sociedade capitalista, vem ganhando cada vez mais relevância na
contemporaneidade. Conhecer suas fundamentações e as várias formas de
manifestações constitui um grande desafio para o Serviço Social, pois, é a
partir daí que são elaboradas respostas para o seu enfrentamento (DIAS,
2015, p.323).

A ampla expansão da economia capitalista, nas primeiras décadas do século


XX, foi decisiva na transformação das relações sociais, com o surgimento das
classes sociais emergentes originárias da luta de classes e da capacidade de
mobilização da classe trabalhadora. A constituição e expansão do proletariado e
burguesia industrial e as modificações sociais implicou nas necessidades sociais,
gerando as demandas de intervenção social a partir das políticas sociais,
caracterizando- se na base de atuação sócio ocupacional do Serviço Social.

Yazbek ( 2018) comenta sobre a atuação do Serviço Social.

O Serviço Social, portanto, é parte integrante do processo histórico que


assume as relações sociais na sociedade burguesa em seus processos de
mudanças, inserindo‐se no conjunto da classe trabalhadora, de suas lutas e
apontando para a necessidade de um trabalho social orientado para a
emancipação humana. Efetivamente, os assistentes sociais fazem parte da
mudança, como gestores e operadores de políticas sociais, que se tem
constituído historicamente numa das mediações fundamentais para o
exercício profissional (YAZBEK, 2018, p. 139).

Desde então o Serviço Social como profissão, vem batalhando de diversas


formas para defender os direitos e as políticas sociais, na perspectiva de superação
das desigualdades sociais e pela igualdade de condições e a garantia da cidadania.
26

O Serviço Social como profissão [...] ampliou e vem ampliando o seu raio
ocupacional para todos os espaços e recantos onde a questão social
explode com repercussões no campo dos direitos, no universo da família, do
trabalho e do “não trabalho”, da saúde, da educação [...] Tais situações
demandam ao Serviço Social projetos e ações sistemáticas de pesquisa e
de intervenção de conteúdos mais diversos, que vão além de medidas ou
projetos de Assistência Social. (BRASIL, 2011, p.10).

Os parâmetros para atuação de assistentes sociais na política de assistência


social (2011) afirmam:

O reconhecimento da questão social como objeto de intervenção


profissional (conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares da
ABEPSS), demanda uma atuação profissional em uma perspectiva
totalizante, baseada na identificação dos determinantes socioeconômicos e
culturais das desigualdades sociais (BRASIL, 2011, p.17).

As questões sociais no contexto brasileiro são diversas, abrangendo as


desigualdades econômicas, políticas, regionais, étnico racial e de gênero. Dentre as
várias situações sociais que contam com a intervenção do Serviço Social, a questão
racial, enraizada no Brasil a partir da construção da ideologia racista, é um dos
temas mais debatidos na atualidade, em relação à raça e ao racismo.

2.2. A questão racial no contexto brasileiro e o Serviço Social

Ao longo de várias décadas, o país declarou a democracia racial, no entanto


tem se estabelecido no país um regime de segregação racial de forma explícita e a
democracia racial tornou-se um mito. As desigualdades raciais são indiscutíveis,
naturalmente visíveis e produzem sérias consequências para a população afro-
brasileira. Vários autores e estudiosos comprovam que ao longo das décadas as
desigualdades raciais perseveram na sociedade brasileira, afetando a vida de
milhões de negros.

De acordo com as pesquisas, o Brasil situa-se entre as maiores economias


mundial e por várias décadas foi avaliado como o país da democracia racial. Na
realidade essa democracia racial é um mito, a discriminação e a desigualdade racial
são incontestáveis, trazendo graves consequências para a população afro-brasileira
e para o país como um todo.
27

Peres e Penha (2018) comentam sobre as desigualdades raciais que são


reproduzidas pelo sistema econômico e consideram que “o Serviço Social enquanto
profissão que propõe a transformação dessa sociedade”.

Nesse sentido, o Serviço Social enquanto profissão que propõe a


transformação dessa sociedade explicitado em um dos seus princípios
fundamentais do Código de Ética precisa ir além de categorias como etnia,
pois o termo raça constitui identidade coletiva de sujeitos ativos e não pode
ser lembrado apenas como fator biológico. (PERES e PENHA, 2018,
p.8 e 9).

A questão racial trata-se de um dos assuntos contemporâneas da sociedade


brasileira e, portanto, deve ser também do trabalho do assistente social, em
consonância ao projeto ético-político da profissão.

O projeto ético-político do Serviço Social adota princípios e valores baseados


no reconhecimento da liberdade, da autonomia, emancipação e plena conquista dos
direitos sociais, defesa dos direitos humanos contra todo tipo de arbitragem e
autoritarismo; aprofundamento e consolidação da cidadania e da democracia,
socialização da participação política e da riqueza produzida; posicionamento a favor
da equidade e da justiça social, empenho na eliminação de todas as formas de
preconceito e a garantia do pluralismo; e outros princípios e valores elencados em
várias publicações e documentos normativos do Serviço Social.

Alves (2020) tece um comentário sobre a consolidação da profissionalização


do Serviço Social numa sociedade “que permitiu que o racismo lançasse o
acirramento dos antagonismos e conflitos que acoplam as relações sócio-raciais”.

A profissão de Serviço Social tem o seu surgimento pautado em uma


sociedade cujo seu passado recente se desenvolveu através do perverso e
cruel trabalho escravista. Em uma sociedade, que de forma direta e/ou
indireta, permitiu que o racismo produzisse o acirramento dos antagonismos
e conflitos que acoplam as relações sócio-raciais. Deve-se constatar que o
processo de abolição do trabalho escravista não englobou um processo
emancipatório da população negra, longe disso, culminou em um projeto
institucional do Estado de marginalizar a população negra nas franjas
maltrapilhas da sociedade capitalista (Alves, 2020, p. 79).

Numa breve análise da população brasileira deparamos com uma grande


população negra no país, sendo a maioria de baixa renda e alta instabilidade social,
realidade que reivindica uma atuação do Serviço Social na garantia da política de
promoção da igualdade racial.
28

Pra que essa demanda seja consentida é preciso o reconhecimento de sua


existência e validade. Neste contexto é necessário que o profissional compreenda o
histórico sócio-racial no contexto nacional e ainda dos movimentos de lutas e
garantias, para consolidação da sua intervenção.

Rocha (2009) apud Dias (2015), afirma que, “analisar a inserção da temática
étnico-racial no processo de formação profissional de serviço social, bem como sua
relevância para a consolidação do Projeto Ético-Político da profissão, configura-se
como um grande desafio”.

De acordo com a alocução da autora a incumbência do Serviço Social em


relação à questão racial tem várias limitações, decorrentes da “baixa produção
teórica acerca do tema e pouca apropriação da categoria pela discussão das
temáticas de cor/raça/etnia”. A autora ainda afirma que “a discussão étnico-racial
sempre foi secundarizada por essa categoria profissional, e por muitos profissionais
não é percebida como importante variável para uma análise crítica das relações
sociais sob a perspectiva de totalidade”.

Dias (2020) comenta que “o Serviço Social brasileiro é situado no tempo e no


espaço, é dotado de historicidade, valores e compromisso”, reafirmando sobre a sua
construção e reconstrução, um novo direcionamento da profissão.

Nesse sentido, com os avanços da profissão em romper com o


conservadorismo profissional, a sua relação com o combate e
enfrentamento ao racismo merece ser evidenciada, já que o racismo é um
eixo estrutural e estruturante que remonta a vida social brasileira. O racismo
é elemento constitutivo da formação social brasileira, nesse sentido, pode
ser absorvido pela profissão, mas também pode ser combatido e enfrentado
pela mesma. Desta forma, é importante mostrar para a/o leitor/a o
procedimento metodológico que foi o precursor desse processo investigativo
(DIAS, 2020, p. 19).

O Racismo Estrutural e o Racismo Institucional, marcados pelas condutas de


discriminação e do preconceito racial, interfere nas relações sociais e acomete a
vida da população negra, conforme os dados estatísticos. Portanto, cabe ao
profissional do Serviço Social realizar um questionamento do quanto à população
negra está sendo afetado pela reestruturação produtiva. Esta nova consolidação de
modelo do trabalho industrial requer qualificação tecnológica, diminuindo as chances
de emprego a classes subalterna, principalmente da população negra.
29

O Código de Ética do Assistente Social de 1993, a Lei de Regulamentação


Profissional (Lei de Nº 8.662/93) e as Diretrizes Curriculares para a Formação
Profissional de Serviço Social da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Serviço Social (ABEPSS, 1996)  formam um conjunto importantíssimo de
ferramentas que buscam fortalecer o Projeto Ético-político do Serviço Social. Estas
ferramentas proporcionam subsídios para reflexões e o desenvolvimento de
estratégias que visam maior compreensão desta temática, para que assim seja
viável o enfrentamento do racismo e das desigualdades sociais. É dever dos
Assistentes Sociais, procurar além das ferramentas técnico-operativas, instrumentos
que consolidem o compromisso ético e político na busca por uma sociedade justa e
igualitária, que respeite as diferenças, sem colocá-las na condição de desiguais.

Peres e Penha (2018) advertem:

Destarte, o fazer profissional é pensado a partir dos fenômenos que são


(im)postos cotidianamente nas relações de produção e reprodução do
capital diante da sua concretude na sociedade. Sendo elas, as múltiplas
expressões da “questão social” a qual é requisitado socialmente para
intervir. Essa intervenção pode assumir várias formas, a emergencial,
propositiva, criativa, cristalizada, etc. Isso vai depender do profissional, da
sua leitura diante da realidade concreta a partir apenas da aparência ou
atribuindo-a essência. (PERES e PENHA, 2018, p. 5).

A desigualdade social causa uma alteração econômica que atinge a maioria


mais pobre da população, afetando com mais severidade a população negra, em
decorrência da discriminação racial.

Segundo Alves (2020) “a raça exerce um papel essencial nas relações


sociais, de delimitar as posições nas classes sociais, na sociedade, no mercado de
trabalho e no acesso às políticas públicas e sociais, assim como também, nos
serviços sociais”.

Santos (2018) argumenta que “Racismo e exploração de classe estiveram


concomitantemente na base do sistema de produção capitalista, [...] esses
mecanismos deveriam ser ocultados no processo de reprodução do capitalismo e da
desigualdade social e étnico-racial “.
30

Dessa forma, a grande tática ideológica da burguesia para legitimar sua


dominação foi fazer crer que a condição social e econômica da população
negra era fruto de uma postura individual e não da estrutura da sociedade
de classes. Habilmente e diferente do que dizia a nobreza e a igreja feudal,
a burguesia argumentou que todos os seres humanos ao nascerem eram
iguais e que as diferenças sociais eram consequência do trabalho e da
capacidade intelectual de cada um. (SANTOS, 2018, p. 22)

Na realidade contemporânea, século XXI, o país ainda apresenta uma


ampliação de práticas racistas e discriminatórias contra a população negra. A
questão das relações étnica- raciais ocupa um importante espaço de debate nas
aproximações entre Estado e movimento negro, com o objetivo de formular políticas
públicas para a superação da questão social e racial.

Conforme o livro “Gestão Assistentes Sociais no Combate ao racismo”, do


Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e dos Conselhos Regionais de Serviço
Social (CRESS), campanha de 2017 e 2019, afirma que a população negra sofre
com a discriminação racial no Brasil.

O livro também aponta várias ocorrências com base em dados do Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017), como, o percentual de pessoas
negras que vivem condições precárias de saneamento, sem acesso simultâneo a
água, esgoto e coleta de lixo, é quase o dobro de pessoas brancas. O racismo e a
intolerância contra a religião; os maiores índices de vítimas de violência doméstica,
de mortalidade materna, da violência obstétrica, das mulheres mortas por agressão
e vítimas de estupros, são as mulheres negras.

Ainda sobre esses dados, o IBGE (2017) demonstra que a população branca
(68,6%) tem maior participação no mercado formal de trabalho, com carteira
assinada, em relação à população negra (54,6%). Uma grande parte da população
no Brasil vive em situação extrema pobreza, sendo a maioria da população negra e
a maior parcela da população beneficiária do Bolsa Família.

O negro sofre uma dupla discriminação no contexto brasileiro, por sua


situação socioeconômica e por sua cor de pele, o que tem acarretado o maior índice
de homicídios, principalmente a população jovem, de 15 a 29 anos.

Da população brasileira que depende do Sistema Único de Saúde (SUS),


70% autodeclara negra. Na área da saúde, a população negra, principalmente as
31

mulheres negras, sofre com o racismo institucional, no atendimento no SUS;


atendimento ao pré-natal e parto; atendimento para prevenção ao câncer de mama,
e colo do útero.

“O acesso e à permanência do preto na educação é sinônimo de resistência!”


A taxa de analfabetismo entre pessoas pretas/ pardas é mais que o dobro do que
entre as brancas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
de 2017. Grande parcela da população negra não conclui a educação básica,
alegando a necessidade de trabalhar, outros ainda abandonam a escola, por falta de
estímulo para os estudos, e acabam embarcando para a marginalidade. Outro fator
lamentável, os alunos negros são os que mais sofrem bullying na escola. A
discriminação racial nos mostra um lastimável quadro de desigualdade no contexto
educacional.

Diante dos fatos, esta categoria profissional deve- se colocar na luta pela
afirmação de direitos dos usuários dos seus serviços, e se a questão racial também
compõe o conjunto das relações sociais brasileiras, é urgente que tal debate ocupe
o devido destaque na agenda e nos fóruns de sua formação profissional.

O Serviço social em sua prática profissional deve considerar a questão racial


dentro do conjunto das desigualdades sociais, que requer um atendimento mais
humanizado, onde não deve ter uma visão induzida do racismo.

É preciso assimilar a realidade na qual o profissional está inserido,


compreender a formação sócia histórica brasileira, as que apresentam as
necessidades sociais e estabelecer uma relação com a questão racial,
desigualdade, racismo e preconceito.

Santos (2018) assegura “a promoção da igualdade para a população negra só


será completa numa articulação entre as demandas de classe e as especificidades
da questão racial”.

Com esta compreensão, o profissional busca a inclusão social e a


participação das classes subalternas, por meio de formas alternativas e estratégicas
de ação. Pois procura conhecer a realidade em que atua e possuir compromisso
ético com a classe trabalhadora e com a qualidade dos serviços prestados.
32

3. A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO AO RACISMO

3.1. Políticas da assistência social na contemporaneidade

A praticidade do assistente social tem por finalidade conhecer e diagnosticar


de forma crítica determinada situação ou expressão da questão social, objeto de sua
intervenção profissional nos aspectos sócios econômicos com base nas políticas da
assistência social.

Dessa forma, podemos afirmar que o Serviço Social, enquanto profissão


ocupa um espaço na divisão sociotécnica do trabalho, desenvolvendo uma prática
profissional fundamentada nas políticas da assistência social e realizar o processo
de intervenção que são específicas ao seu campo de ação.

Raichelis no compêndio sobre as Atribuições Privativas do/a Assistente Social


em questão (CFESS-CRESS/ 2020) afirma que:

No âmbito do trabalho em serviços, espaço em que se move a intervenção


profissional, é preciso lembrar que, apesar do intenso processo de
incorporação de tecnologias digitais, trata-se de um tipo de atividade que se
apoia no uso intensivo de força de trabalho, o que supõe atividade
interativa, de natureza sociorrelacional, dependente, portanto da
competência crítica do/a trabalhador/a que presta o serviço, dos seus
conhecimentos e informações, da direção ética e política que busca imprimir
ao seu trabalho, da relação democrática ou não que estabelece com os
sujeitos da ação profissional. (CFESS-CRESS/2020, p.23 ).

Dessa forma, podemos afirmar que o Serviço Social, enquanto profissão


ocupa um espaço na divisão sociotécnica do trabalho, desenvolvendo uma prática
profissional fundamentada nas políticas da assistência social e realizar o processo
de intervenção que são específicas ao seu campo de ação.

A Assistência Social passou a ser instituído como um direito garantido ao


cidadão brasileiro a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988,
conforme o prescrito no artigo 203:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência
e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a
promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e
reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua
integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de
benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que
33

comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la


provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL, 1988).

A Política de Assistência Social passou a integrar o Sistema de Seguridade


Social, juntamente com a Saúde e Previdência Social, após a Constituição Federal
de 1988. É neste conjunto de ações que o Estado passa a financiar as políticas de
proteção social, instituindo serviços, programas e projetos destinados às pessoas
em situação de vulnerabilidade social, e no combate as desigualdades sociais.
Neste contexto a Assistência Social atua como política pública, com a
finalidade de atender de forma continuada a população em situação de fragilidade
social.

A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) instituída com a finalidade de


estabelecer o direito a Assistência Social tem como princípios:

Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios:


  I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as
exigências de rentabilidade econômica;
  II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da
ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;
III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a
benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e
comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade;
  IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de
qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e
rurais;
 V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos
assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos
critérios para sua concessão. (BRASIL, 1993).

Segundo a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742 de 07


/12/1993, a assistência social é regida pelos seguintes princípios:

I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências


de rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de
tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas
públicas; III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu
direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência
familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de
necessidade; IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem
discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às
populações urbanas e rurais; V - divulgação ampla dos benefícios, serviços,
programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo
Poder Público e dos critérios para sua concessão. (PNAS/LOAS, 2014).

No artigo 7º, a Lei Orgânica da Assistência Social, “estabelece que as ações


de assistência social, no âmbito das entidades e organizações de assistência social,
34

observarão as normas expedidas pelo Conselho Nacional de Assistência Social


(CNAS)”. No ano de 2005 é criado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS)
pela Resolução nº 130, de1 5/ 15/ 2005, para a efetuação da política de assistência
social. O SUAS é sistema de gestão descentralizado e participativo, que regula e
organiza a rede de atendimentos socioassistenciais.

O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), em dezembro de 2012,


aprova a Norma Operacional Básica da Assistência Social - NOB/SUAS e
regulamenta a Política de Assistência Social, que tem por funções a proteção social,
a vigilância Socioassistencial e a defesa de direitos, e organiza sob a forma de
sistema público não contributivo, descentralizado e participativo, denominado
Sistema Único de Assistência Social - SUAS.

Parágrafo único. A assistência social ocupa-se de prover proteção à vida,


reduzir danos, prevenir a incidência de riscos sociais, independente de
contribuição prévia, e deve ser financiada com recursos previstos no
orçamento da Seguridade Social. (Brasil, 2012).

O Sistema Único de Assistência Social – SUAS é um sistema público não


contributivo, descentralizado que tem por função a gestão do conteúdo específico da
assistência social no campo da proteção social brasileira, que têm por objetivos:

I - consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a cooperação


técnica entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, de
modo articulado, operam a proteção social não contributiva e garantem os
direitos dos usuários; II - estabelecer as responsabilidades da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na organização, regulação,
manutenção e expansão das ações de assistência social; III - definir os
níveis de gestão, de acordo com estágios de organização da gestão e
ofertas de serviços pactuados nacionalmente; IV - orientar-se pelo princípio
da unidade e regular, em todo o território nacional, a hierarquia, os vínculos
e as responsabilidades quanto à oferta dos serviços, benefícios, programas
e projetos de assistência social; V - respeitar as diversidades culturais,
étnicas, religiosas, socioeconômicas, políticas e territoriais; VI - reconhecer
as especificidades, iniquidades e desigualdades regionais e municipais no
planejamento e execução das ações; VII - assegurar a oferta dos serviços,
programas, projetos e benefícios da assistência social; VIII - integrar a rede
pública e privada, com vínculo ao SUAS, de serviços, programas, projetos e
benefícios de assistência social; IX - implementar a gestão do trabalho e a
educação permanente na assistência social; X - estabelecer a gestão
integrada de serviços e benefícios; XI - afiançar a vigilância
socioassistencial e a garantia de direitos como funções da política de
assistência social. (BRASIL, 2012, p.16).

A Norma Operacional do Sistema Único de Assistência Social - NOB/SUAS


se constitui no mais novo instrumento de regulação das questões relativas a Política
35

Nacional de Assistência Social que determinam o desempenho do SUAS; e tem


como particularidade de controlar a gestão pública da política de assistência social
em todo país, conforme a Constituição da República de 1988, a Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS e as legislações complementares a ela aplicáveis.

A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB-


SUAS/ 2005) representou um marco fundamental na estruturação da Política
Pública de Assistência Social, imprimindo um grande salto quantitativo na
implantação de serviços socioassistenciais em todo o território nacional. A NOB-
SUAS/ 2005 tem como base os critérios de partilha transparentes e objetivos,
adequados à distribuição territorial das populações vulneráveis, com a alocação
equitativa do cofinanciamento federal e a possibilidade de superação das distorções
regionais históricas. (BRASIL, 2012).

A NOB/SUAS (2012) no artigo 4º assegura um espaço físico para a realização


da proteção social básica através do trabalho de profissionais qualificados, a
concessão de auxílios financeiros e da concessão de benefícios continuados,
convívio familiar e o desenvolvimento de capacidades e habilidades para o exercício
do protagonismo e da cidadania.

A Política de Assistência Social tem como diretrizes estruturantes a


matricialidade sociofamiliar, que tem o propósito de garantir a proteção às famílias e
as pessoas nos contextos aspectos socioeconômicos, políticos, culturais e
ambientais; e a territorialização, identificando os desamparos, as vulnerabilidades,
os riscos sociais, as dinâmicas e as potencialidades no território.

A nova forma de garantir as seguranças sociais, segundo a NOB/SUAS-2012


se constitui em uma condição fundamental para estabelecer a a oferta permanente
de serviços socioassistenciais, como direito do cidadão e da responsabilidade do
Estado requerendo a assistência das necessidades sociais e a ampliação das
possibilidades de um padrão de vida digna.

Na consolidação da Política de Assistência Social são instituídas duas


unidades públicas estatais, de abrangência municipal, estadual e federal ou regional
para a oferta de serviços especializados às famílias, a territorialização das ações e a
oferta de serviços da Proteção Social Básica, e de Proteção Social Especial de
36

Média e Alta Complexidade sendo as unidades: Centro de Referência de Assistência


Social (CRAS), com o objetivo de prevenir a ocorrência de situações de
vulnerabilidade e de riscos sociais por meio do acompanhamento das famílias
buscando o fortalecimento da convivência familiar e comunitária; e o Centro de
Referência Especializado de Assistência Social ( CREAS), com objetivo de oferecer
apoio e orientação especializados a pessoas que já vivem em situação de risco, ou
seja, que são vítimas de violência física, psicológica e sexual, negligência,
abandono, ameaça e maus tratos.

O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é a porta de entrada da


Assistência Social. É um local público, localizado prioritariamente em áreas de maior
vulnerabilidade social, onde são oferecidos os serviços de Assistência Social, com o
objetivo de fortalecer a convivência com a família e com a comunidade. A partir do
adequado conhecimento do território, o CRAS promove a organização e articulação
das unidades da rede socioassistencial e de outras políticas. Assim, possibilita o
acesso da população aos serviços, benefícios e projetos de assistência social, se
tornando uma referência para a população local e para os serviços setoriais.

A demanda de serviços especializados pelo CREAS deve direcionar- se pela


garantia das seguranças socioassistenciais, conforme previsto no PNAS e na
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, na definição e a organização
dos serviços, programas e projetos, que devem considerar a incidência dos riscos
pessoais e sociais, por violação de direitos em cada território e suas complexidades,
assim como as especificidades do público atingido como, por exemplo, os ciclos de
vida das famílias e indivíduos que necessitem de sua atenção. (BRASIL, 2011).

O trabalho realizado pelos Serviços do CREAS implica no entendimento da


situação vivenciada por cada família ou indivíduo, analisando sua situação familiar,
social, histórico, econômico e cultural. Para a superação das situações complicadas,
é relevante a elaboração de projetos de vida, com nova perspectiva de vida,
integração e o acesso a direitos; devem orientar a elaboração do Plano de
Acompanhamento Individual e/ou Familiar.

3.2. O trabalho do assistente social referente à questão racial.


37

De acordo com as políticas sociais da assistência social em relação aos


serviços prestados aos seus usuários, incumbe-nos apontar algumas indicações
para o exercício profissional, considerando a dimensão sócia racial.

Segundo os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de


Assistência Social (2011) o Serviço Social como profissão desenvolveu- se e
continua expandindo seu campo de atuação nas mais diversas áreas onde a
questão social manifesta repercutindo no âmbito dos direitos, dentre todas as áreas
destacamos os “grupos étnicos que enfrentam a investida avassaladora do
preconceito” (CFESS, 2011).

O Serviço Social como profissão, em sete décadas de existência no Brasil e


no mundo, ampliou e vem ampliando o seu raio ocupacional para todos os espaços
e recantos onde a questão social explode com repercussões no campo dos direitos,
no universo da família, do trabalho e do “não trabalho”, da saúde, da educação,
dos/as idosos/as, da criança e dos/as adolescentes, de grupos étnicos que
enfrentam a investida avassaladora do preconceito, da expropriação da terra, das
questões ambientais resultantes da socialização do ônus do setor produtivo, da
discriminação de gênero, raça, etnia, entre outras formas de violação dos direitos.
(CFESS, 2011, p. 10).

Dias (2015) afirma “das contradições e características que marcam o Serviço


Social brasileiro, destacamos que a temática étnico-racial também aparece como
característica que marca esta profissão”.

A autora ainda comenta que “a inserção da temática étnico-racial no processo


de formação profissional de serviço social, bem como sua relevância para a
consolidação do Projeto Ético-Político da profissão, configura-se como um grande
desafio”, e comenta sobre as barreiras encontradas pelos profissionais do Serviço
Social.

Entre outros motivos, alguns entraves se dão pela baixa produção teórica
acerca desses temas, e também pela pouca apropriação da categoria pela
discussão das temáticas de cor/raça/etnia. A discussão étnico-racial sempre foi
secundarizada por essa categoria profissional, e por muitos profissionais não é
38

percebida como importante variável para uma análise crítica das relações sociais
sob a perspectiva de totalidade. (DIAS, 2015, p.324).

Roza e Lopes (2015) também discorrem sobre ao reconhecimento da


desigualdade racial, por parte dos assistentes sociais, devido à precariedade de
conhecimento sobre o tema.

Em pesquisa realizada por Eurico (2013), a autora busca investigar sobre a


percepção de assistentes sociais acerca da questão racial, em que se
verifica uma visão distorcida acerca do racismo no interior da sociedade. Tal
fato pode ser explicado, entre outros motivos, pelos poucos estudos, no
âmbito do Serviço Social, sobre a questão étnico-racial brasileira. (ROZA E
LOPES, 2015, p.10).

De acordo com os autores, o assistente social na sua prática profissional sua


primeira ação é interpretar a realidade criticamente, compreender a formação sócio
histórica da comunidade em que trabalha, “o que aponta para a necessidade de se
considerar as relações raciais – desigualdade, racismo, preconceito. Com esta
compreensão, o assistente social busca chaves para compreender quem é o usuário
de suas ações e suas reais demandas” (ROZA E LOPES, 2015).

Ponderando- se nas citações dos autores compreende- se que na realidade


da sociedade brasileira existe uma filosofia popular  afirmando que não há racismo,
o critério racial não é uma temática relevante para formação acadêmica no curso de
Serviço Social.

Almeida (2017) faz uma ressalva sobre a ação de interpretar a realidade


criticamente.

[...] há que se compreender que a análise da totalidade social implica em


reconhecer os indivíduos sociais imbricados na vida social. A diversidade
como valor não é plena na sociabilidade burguesa. Assim, a emancipação
humana dos indivíduos sociais negros e trabalhadores, passa,
necessariamente pela negação dos direitos humanos se a realização é
requerida exclusivamente na esfera política. Para Marx, a emancipação
humana ultrapassa a emancipação política. (ALMEIDA, 2017, p. 41).

De acordo com Almeida (2017) o reconhecimento da realidade social incide


na conscientização do racismo “como mediação estruturante do domínio do capital
que não deve ser negligenciado na produção das desigualdades sociais no Brasil”.
39

A cartilha do CFESS (2012) que retrata sobre as atribuições privativas do/a


assistente social, na reedição do texto de Marilda Iamamoto, aborda, sobre a
necessidade do assistente social na sua prática profissional, desenvolver sua
capacidade de ver e interpretar a realidade de vida dos usuários.

É importante desenvolver a capacidade de ver, nas demandas individuais, as


dimensões universais e particulares que elas contêm. O desvelamento das
condições de vida dos sujeitos atendidos permite ao assistente social dispor de um
conjunto de informações que, iluminadas por uma perspectiva teórica-crítica, lhe
possibilita apreender e revelar as novas faces e os novos meandros da questão
social que o desafia a cada momento no seu desempenho profissional diário.
(CFESS, 2012, p. 53).

Considerando que a questão racial é um componente proeminente das


relações sociais, e exige uma compreensão aprimorada de sua complexidade
histórica, presente no cotidiano, Roza e Lopes (2015) asseveram:

É preciso estar atento à naturalização da desigualdade racial e a


culpabilização da população negra por sua condição. Encontros, grupos,
palestras, fóruns que debatam sobre as relações étnico-raciais, configuram-
se em espaços em que o assistente social tem a possibilidade de fortalecer
a dimensão socioeducativa da profissão e colocar a necessidade de
fortalecimento e ampliação dos direitos. Considerando que a questão étnico-
racial se constitui como um elemento estruturante das relações sociais e,
assim, deve ser apreendida com profundidade e em toda a sua
complexidade histórica, (ROZA E LOPES, 2015, P. 11).

Alves (2020) comenta que o profissional do Serviço Social brasileiro “precisa


captar a movimentação do real, do concreto, que reverbera na situação social da
população negra”.

O processo de consciência racial crítica permite que sejam feitos


apontamentos acerca dessa realidade marginalizada. A questão racial é
componente indispensável para a divisão das classes sociais. Nesse
sentido, não é novidade – pelo menos para o Serviço Social – que a divisão
das classes sociais pode ser observada através de duas movimentações
básicas: compra e venda da força de trabalho. A dicotomia classe burguesa
x classe trabalhadora é muitas vezes tratada sem as devidas mediações
com a raça/etnia, o gênero e a sexualidade, que provoca um distanciamento
da realidade concreta. (ALVES, 2020, p. 81).

O profissional do Serviço Social necessita desenvolver um projeto ético


político dinâmico e crítico na promoção de uma nova sociedade, sem submissão,
40

exploração e segregação de classes e etnia, baseado nos princípios fundamentais


estabelecidos pelo Código de Ética, no qual prevê a atuação do assistente social
sem discriminação. No principio XI, do Código de Ética, rege: “Exercício do Serviço
Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por questões de inserção de classe
social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de
gênero, idade e condição física”.

Almeida (2017) discorre sobre a intervenção do Código de Ética do assistente


social na elaboração do seu projeto profissional afirmando “com vistas ao seu
compromisso com a construção de um projeto de sociedade livre das formas
históricas de dominação e exploração”.

[...] o assistente social comprometido com esse projeto profissional procura


afirmar valores como a liberdade, a democracia, a justiça social, a
cidadania, e todos os valores que representam a afirmação de direitos
historicamente conquistados e a ampliação do acesso à riqueza socialmente
produzida (BRITES, 2012, apud ALMEIDA, 2017, p. 36 ).

A autora ainda afirma que “tais valores éticos assumem centralidade, pois
indicam a direção social que o assistente social pretende realizar por meio do
trabalho profissional, [...] diante de situações da injustiça e das desigualdades
sociais, como por exemplo, o racismo [...]”.

Nas demandas atribuídas ao trabalho profissional do assistente social,


ressaltamos que o Projeto Ético-Político deve prever a necessidade de reflexões e o
estabelecimento de estratégias que visem à inclusão da temática ética- racial, para o
enfrentamento das desigualdades sociais causadas pelo racismo. Torna- se vigente
a busca de ferramentas técnico-operativas e instrumentos que consolidem o
compromisso ético e político na consolidação de uma sociedade democrática, justa
e igualitária, onde o respeito pelas diferenças raciais seja uma realidade.

Na elaboração do Projeto Ético-Político é necessário o conhecimento


histórico da constituição da sociedade brasileira, para vencer os empecilhos
ideológicos que foram colocados como decisivos na geração das desigualdades
raciais. Por isso uma atuação que busque a eliminação de qualquer forma de
discriminação e a garantia de direitos, precisa se arrolarem na defesa de uma
41

sociedade que vise o princípio da justiça social, tomando ciência das ações
afirmativas para o combate das práticas de racismo e preconceito.

3.2.1. O assistente social e a abrangência das ações afirmativas no combate ao


racismo.

O assistente social no processo de elaboração do Projeto Ético-Político é


fundamental que ele tome conhecimentos sobre as ações afirmativas no combate ao
racismo.

Mocelin e Martinazzo (2017) asseguram:

O Serviço Social, através do seu projeto ético-político corrobora essa


assertiva, pois seus compromissos éticos vão ao encontro do empenho na
eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à
diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados [...]
(MOCELIN MARTINAZZO, 2017, p.10).

As ações afirmativas é o conjunto de medidas exclusivas voltadas a grupos


que sofrem com a discriminação e com a exclusão social, com a finalidade de
eliminar as desigualdades e segregações, de forma que não se mantenha a
separação de classes na sociedade, o predomínio de raças, etnias, religiões,
gênero, etc.

Santos (2018) apresenta uma definição sobre as ações afirmativas de


forma reflexiva.

O que são as ações afirmativas? A resposta a tal questão envolve não


apenas uma definição destas políticas, mas também, uma leitura dos
processos históricos de sua constituição, o diálogo com (alg)uma visão
(mais ou menos crítica) do que é a sociedade, o diálogo/interlocução (ou
não) com outras lutas, a abertura ou fechamento para ações e tipos de
ações. Todos estes aspectos que cercam a definição do que são as ações
afirmativas são hoje objeto de discussão e disputa - como afirma Bourdieu
(1989), disputas por representações que vão constituir o que é a própria
coisa.(SANTOS, 2018, p. 2108).

As ações afirmativas exercem importante desempenho no combate


à desigualdade social e às segregações de classes. Elas permitem que pessoas
de origens diferentes alcancem espaços de influência no âmbito educacional,
político, econômico, socioprofissional e cultural. Não se trata de concessão de
benefícios ou privilégios, mas da efetivação de direitos assegurados pela
42

Constituição. As políticas afirmativas têm como finalidade possibilitar a inclusão


socioeconômica de populações historicamente privadas do acesso a oportunidades.

Conforme Mocelin e Martinazzo (2017), as ações afirmativas, teve origem nos


Estados Unidos nos anos 60, quando havia naquele país reivindicações
democráticas, expandindo- se nos outros países da América e na Europa em 1982,
“onde a ‘discriminação positiva’ foi inserida no primeiro Programa de Ação para a
Igualdade de Oportunidades”.

No Brasil, as ações afirmativas em âmbito federal para os afrodescendentes


consolidaram a partir na Constituição Federal de 1988, pelo princípio de igualdade,
reconhecendo as diversificadas desigualdades sociais. Conduzindo uma nova visão
para a luta contra o racismo, ocorrendo uma nova forma de dialogar com
movimentos sociais, o Movimento Negro.

GOMES (2017) discorre sobre o início do processo histórico das ações


afirmativas na luta contra o racismo, no Brasil.

Ao longo dos anos 1980 foram várias as respostas às demandas do


Movimento Negro como, por exemplo: Conselho de Participação e
Desenvolvimento da Comunidade Negra do estado de SP (1984), a
Constituição Cidadã (artigo 5 – inciso 42) que aborda a democratização e a
esperança da inclusão (1988), o Instituto Fundação Cultural Palmares
(1988) e a maior participação na política com Abdias do Nascimento e
Benedita da Silva. Durante os anos 1990 aumentou-se a pressão pela
ampliação da cidadania para a população negra, reforçando o
reconhecimento do racismo na sociedade brasileira e a defesa pelas ações
afirmativas, sobretudo com as diversas ONGs e a atuação do SOS
Racismo. (GOMES, 2017, p.12 e 13).

Os movimentos sociais são ferramentas fundamentais para a uma nova


organização social, uma reivindicação de direitos baseados na mobilização e
articulação das minorias como novas formas de ação coletiva. O movimento negro
no Brasil tem como objetivo a reivindicação da igualdade racial entre negros e
brancos, a eliminação da discriminação e o preconceito.

Mocelin e Martinazzo (2017) comentam sobre a iniciativa do Conselho


Federal de Serviço Social (CFESS) de nortear e incentivar o profissional do Serviço
Social a ter uma reflexão critica diante as situações de discriminação e preconceito.
43

Em recente publicação do Conselho Federal de Serviço Social, na série dos


cadernos ‘Assistente Social no combate ao preconceito’, o órgão teve o
intuito de orientar e estimular os/as assistentes sociais a uma compreensão
crítica das variadas situações de preconceito que podem acompanhar os
encaminhamentos cotidianos do exercício profissional, provocando a
categoria a refletir sobre sua responsabilidade ética na defesa do projeto
ético-político. (MOCELIN e MARTINAZZO, 2017, p.10)

Prates, Silva e Camenietzk (2016) afirmam que “o movimento negro, sendo


um movimento social, luta em prol do negro, que desde o período escravocrata
batalham por igualdade na nossa sociedade”.

Santos (2018) também afirma que “a compreensão da dinâmica do


movimento é crucial para o entendimento das ações afirmativas no Brasil, pois elas
dizem respeito a uma nova forma de relação entre o Movimento Negro e o Estado”.

De acordo com Prates, Silva e Camenietzk (2016) o indício do movimento


negro produzido no âmbito brasileiro, se deu no período escravocrata “a luta
baseava-se em se tornar livre do trabalho escravo”.

Nas primeiras décadas da Republica, “os escravos libertos e seus


descendentes criaram em alguns estados grupos de caráter assistencialista e
cultural que almejavam exercer um importante papel de conscientização e
mobilização racial”, sendo chamados de Movimento Negro Organizado.

A organização de movimentos populares ocorridos, nos anos de 1970, como


o sindical, estudantil, o Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial
(MUCDR), posteriormente denominado de Movimento Negro Unificado (MNU).

Na década de 1980, o MNU foi a mais importante organização a levantar a


bandeira em defesa dos direitos dos afro-brasileiros. No seu Programa de
ação de 1982, defendia as seguintes reivindicações “mínimas”:
desmistificação da democracia racial brasileira; organização política da
população negra; transformação do movimento negro em movimento de
massas; formação de um amplo leque de alianças na luta contra o racismo
e a exploração do trabalhador; organização para enfrentar a violência
policial; organização nos sindicatos e partidos políticos; luta pela introdução
da História da África e do Negro no Brasil nos currículos escolares, e a
busca pelo apoio internacional contra o racismo no país (DOMINGUES,
2008, apud PRATES, SILVA E CAMENIETZK, 2016, p. 7).

Conforme os autores “as ações afirmativas são políticas voltadas para grupos
historicamente excluídos da sociedade, são ações sugeridas ou imposta pelo estado
44

que visa combater as discriminações, minimizando as “diferenças” na qual o


processo histórico culminou”.

Mocelin e Martinazzo (2017) asseveram que “as políticas de Ações


Afirmativas têm por objetivo promover o acesso e permanência à educação, ao
emprego e aos serviços sociais em geral de membros de grupos estigmatizados e
sujeitos a preconceitos e discriminações”.

Para que as desigualdades sociais sejam reduzidas ou eliminadas é


fundamental que haja uma conscientização por parte da sociedade e um esforço dos
assistentes sociais para o enfrentamento da questão racial. As ações afirmativas são
recursos indispensáveis para o combate das desigualdades sociais no âmbito do
Serviço social.

Existem várias as ações afirmativas no Brasil para os afrodescendentes,


dentre elas está a Lei 10.639/03 e a Lei 11.645/08, a Lei de Cotas no Ensino
Superior e a Portaria Normativa Nº 18/2012, Decreto nº 7.824/2012 e o Estatuto da
Igualdade Racial.

As Lei 10.639/03 e Lei 11.645/08 instituem as diretrizes e bases da Educação


Nacional, incluindo no currículo oficial da Rede de Ensino público e particular a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, que abrange como
conteúdo o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil,
a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando
a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinente à
História do Brasil; e o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência
Negra".

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e


particulares, torna- se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-
Brasileira.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o
estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e
política pertinente à História do Brasil..
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
Educação Artística e de Literatura e História Brasileira. (BRASIL, 2003).
45

A Lei de Cotas no Ensino Superior e, a Portaria Normativa nº 18/ 2012 e o


Decreto nº 7.824/2012 tratam- se sobre a reserva de 50% das matrículas nas
universidades a alunos procedentes do ensino médio público. Os outros 50% das
vagas conservar-se para ampla concorrência. Estas cotas são divididas entre alunos
das escolas públicas de baixa renda, reservando uma porcentagem para alunos
negros, pardos e indígenas no estado, de acordo com o último censo demográfico
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Prates, Silva e Camenietzk (2016) comentam sobre o propósito da lei de


Cotas para os alunos descendentes da cultura afros- brasileiro.

É visto que, as cotas para negros no Brasil surgem como uma ação
compensatória devido o processo histórico de exclusão, discriminação e
desigualdade de oportunidade tanto relacionado a educação quanto à
outros segmentos que o negro sofreu durante séculos. Essa ação afirmativa
busca acelerar o processo de igualdade e diversificação nas universidades
públicas brasileiras, buscando assim, inserir cada vez mais a pessoa
afrodescendente que não teve a mesma oportunidade educacional que os
indivíduos de cor branca. (PRATES, SILVA E CAMENIETZK, 2016, p. 11).

O Estatuto da Igualdade Racial é uma grande conquista para a população


negra brasileira e um progresso para o combate ao racismo e ao preconceito.

Araújo (2019) comenta sobre o Estatuto da Igualdade Racial afirmando que


este documento:

Reúne um conjunto de regras e princípios jurídicos para coibir a


discriminação racial e definir políticas que promovam a mobilidade social de
grupos historicamente desfavorecidos. Essa legislação trata de pontos
fundamentais, como o direito à saúde, à educação, à cultura, ao esporte, ao
lazer, à terra, à moradia adequada e ao trabalho. (ARAÚJO, 2019, s/p).

  Estatuto da Igualdade Racial determina que:

Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade [...] III – ninguém será submetido à tortura nem a tratamento
desumano ou degradante; XLII – a prática do racismo constitui crime
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
(BRASIL, 2015).

Araújo (2019) comenta também sobre outro aspecto relevante do Estatuto


da Igualdade Racial.
46

Outro ponto importante do Estatuto diz que a herança cultural e a


participação da população negra na história do Brasil precisam aparecer na
produção veiculada nos órgãos de comunicação. Ainda sobre este aspecto,
o Estatuto destaca que a produção de filmes e programas nas emissoras de
televisão e em salas cinematográficas deve dar oportunidades de emprego
a atores, figurantes e técnicos negros, com a proibição de qualquer
discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou
artística. ( ARAÚJO, 2019, s/p).

Sintetizando, compreendemos que os principais tópicos do Estatuto de


Igualdade Racial são a reserva de vagas para alunos negros, uma porcentagem
para atores afro descentes na participação em filmes e programas de TV; incentivos
fiscais para empresas com trabalhadores negros; combate a intolerância com as
religiões de origem africana; atenção integral às pessoas com doença falciforme que
têm incidência mais frequente na população negra; promoção da cultura africana;
estabelecimento da porcentagem de negros na participação política e a
criminalização para a indução a discriminação racial.

3.3. O trabalho do assistente social junto ao Cras no combate ao racismo.

O Centro de Referência de Assistência Social, popularmente conhecido como


(CRAS) é “uma unidade pública estatal descentralizada da política de assistência
social, responsável pela organização e oferta de serviços da proteção social básica
do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) nas áreas de vulnerabilidade e risco
social” (BRASIL, 2009). Uma unidade que possibilita o acesso de um grande número
de famílias à rede de proteção social de assistência social.

O CRAS é, assim, uma unidade da rede socioassistencial de proteção social


básica que se diferencia das demais, pois além da oferta de serviços e
ações, possui as funções exclusivas de oferta pública do trabalho social
com famílias do PAIF e de gestão territorial da rede socioassistencial de
proteção social básica. Esta última função demanda do CRAS um adequado
conhecimento do território, a organização e articulação das unidades da
rede socioassistencial a ele referenciadas e o gerenciamento do
acolhimento, inserção, do encaminhamento e acompanhamento dos
usuários no SUAS. (BRASIL, 2009, p. 10).

“A proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco por
meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de
vínculos familiares e comunitários”. (PNAS, 2004).

A ação é voltada para aqueles que se encontra em situação de


vulnerabilidade social, derivado da pobreza, ausência de renda, precário acesso aos
47

serviços públicos, e a fragilização de vínculos afetivos e de pertencimento social,


como preconceitos quanto a faixa etária, raça, gênero, deficiência e outros (PNAS,
2004).

“O CRAS atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário,


visando à orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário. Neste sentido é
responsável pela ofertado Programa de Atenção Integral às Famílias”. (PNAS,
2004).

Os serviços de proteção básica de assistência social abrangem toda ação que


fortaleça a família como unidade de referência, fortalecendo seus vínculos internos e
externos de solidariedade, através do protagonismo de seus membros e da oferta de
um conjunto de serviços locais que visam à convivência, a socialização e o
acolhimento, em famílias cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos,
bem como a promoção da integração ao mercado de trabalho, tais como: Programa
de Atenção Integral às Famílias; Programa de inclusão produtiva e projetos de
enfrentamento da pobreza; Centros de Convivência para Idosos; Serviços para
crianças de 0 a 6 anos, que visem o fortalecimento dos vínculos familiares, o direito
de brincar, ações de socialização e de sensibilização para a defesa dos direitos das
crianças; Serviços socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa
etária de 6 a 24 anos, visando sua proteção, socialização e o fortalecimento dos
vínculos familiares e comunitários; Programas de incentivo ao protagonismo juvenil,
e de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; e Centros de informação
e de educação para o trabalho, voltados para jovens e adultos.

No atendimento ao público no Cras, o profissional de Assistência Social


se depara com inúmeros desafios, no acolhimento dos grupos que sofrem a
discriminação étnica racial, um trabalho que deve ser norteado pelas
ações afirmativas.

Conforme já foi refletido neste trabalho, a população negra é a que mais sofre
as consequências originadas pelo sistema de produção capitalista, portanto
entende- se que é o publico que mais recorre aos serviços prestados pelo Cras. A
desigualdade racial é um problema persistente em toda a história brasileira,
prejudicando a população negra e dificultando sua ascensão social, acarretando
48

graves consequências às famílias de origem negra, como a segregação, violência,


desemprego e pobreza, etc. O racismo faz com que muitas pessoas negras se
sintam insuficientes e culpadas devido a essa falta de integração plena em uma
sociedade que as violenta e as segrega recorrentemente.

Uma das competências do assistente social estabelecido pelo Código de


Ética do assistente social é: “Empenho na eliminação de todas as formas de
preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos
socialmente discriminados e à discussão das diferenças”. (Brasil, 2012)

Diante as situações de discriminação ética racial, segundo o livro sobre a


campanha Assistentes sociais no Combate ao Racismo CFESS/2020) retrata que
“os assistentes sociais podem, no conjunto das equipes de trabalho” [...] realizar
“algumas das inúmeras possibilidades de trabalho de assistentes sociais no combate
ao racismo”, como:

Pautar, na instituição, a necessidade de promover deslocamentos físicos


institucionais em direção a este grupo, cujo acesso aos serviços ofertados
institucionalmente é comprometido ou sub-representado;
Atentar para a necessidade de alterar as formas de abordagem –
considerando a necessidade de deslocamentos aos locais de moradia, onde
se realizam abordagem individual, alternando-se com atividades coletivas
(grupais) que facilitem a troca de experiências e o agrupamento de questões
vividas em comum;
Atentar para a necessidade de alterar a linguagem e se fazer compreender,
considerando-se os baixos níveis de alfabetização/escolaridade;
Dialogar com o vocabulário e as práticas que expressam as diferentes
atitudes, crenças (inclusive religiosas)9 e preferências das/os usuárias/ os,
como formas de fortalecer sua autonomia;
Atualizar permanentemente informações sobre características da população
segundo raça/cor e sexo/identidade de gênero – preferencialmente
provocando essa questão como uma ação institucional e/ou da equipe;
Propor atividades conjuntas entre serviços e políticas setoriais do campo da
seguridade social ampliada (como educação, habitação, lazer e emprego),
na perspectiva de ampliar as possibilidades de atendimento;
Provocar a instituição quanto à necessidade de capacitação continuada
(educação permanente) para as equipes, que incluam conteúdos de
combate ao racismo institucional e acolhimento da diversidade.Ademais, é
preciso fazer com que tais iniciativas resultem em metas de cobertura para
grupos populacionais afetados/as pelo racismo, por exemplo;
Estimular a ampliação da representação negra, com equidade de gênero,
nos diferentes mecanismos de participação e controle social nos diferentes
setores das políticas públicas e nas três esferas de gestão;
Conhecer e incorporar, como ferramenta de trabalho, a legislação
antirracista brasileira e a Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra; colaborar e cobrar que se coletem os dados de cor/raça nos
sistemas de informação do SUS; consultar esses dados para inclusão da
temática da saúde da população negra em atividades formativas a serem
desenvolvidas com usuárias/os e lideranças de movimentos sociais nos
territórios. (CFESS, 2020, p. 83 a 85).
49

No cotidiano profissional, o assistente social juntamente com a equipe


multiprofissional, torna- se fundamental estabelecer ações antirracistas, promover
ocasiões para o debate e iniciar essa discussão em diversas ações, sobretudo
no âmbito do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) do
CRAS. Um dos princípios éticos do assistente social é o comprometimento em
extinguir toda ou qualquer forma de preconceito, bem como promover a discussão
das diferenças, a participação de grupos que são discriminados em sociedade e o
respeito à diversidade. 

O assistente social no seu trabalho prestado junto ao Cras pode fazer uso de vários
instrumentos de trabalho, como: Observação participante, Entrevista individual e
grupal, Dinâmica de Grupo, Reunião, Mobilização de comunidades, Visita domiciliar
e institucional.

Sousa (2008) apresenta uma explanação dos instrumentos.

Observação participante: Observar é muito mais do que ver ou olhar.


Observar é estar atento, é direcionar o olhar, é saber para onde se olha.
Entrevista individual e grupal: [...] A entrevista nada mais é do que um
diálogo, um processo de comunicação direta entre o Assistente Social e um
usuário (entrevista individual), ou mais de um (entrevista grupal) [...];
Dinâmica de grupo: [...] Sucintamente, a dinâmica de grupo é uma técnica
que utiliza jogos, brincadeiras, simulações de determinadas situações, com
vistas a permitir que os membros do grupo produzam uma reflexão acerca
de uma temática definida. [...]
Reuniões: [...] As reuniões são espaços coletivos. São encontros grupais,
que têm como objetivo estabelecer alguma espécie de reflexão sobre
determinado tema. Mas, sobretudo, uma reunião tem como objetivo a
tomada de uma decisão sobre algum assunto. [...]
Mobilização de comunidades: [...] Trabalhar em projetos comunitários na
perspectiva ético-política defendida pelo Serviço Social, hoje, significa criar
estratégias para mobilizar e envolver os membros de uma população
situada historicamente no tempo e no espaço nas decisões das ações que
serão desenvolvidas, uma vez que são eles o público-alvo do trabalho do
Assistente Social. [...]
Visita domiciliar: A visita domiciliar é um instrumento que, ao final, aproxima
a instituição que está atendendo ao usuário de sua realidade, via Assistente
Social. [...]
Visita institucional Assim como a visita domiciliar, aqui se fala de quando o
Assistente Social realiza visita a instituições de diversas naturezas –
entidades públicas, empresas, ONGs etc. [...] (SOUSA, 2008, p. 126 a 128)

No primeiro momento o assistente social deve estabelecer uma discussão


com a equipe multiprofissional, no âmbito no Cras, sobre o racismo institucional,
com o propósito de conscientizar a equipe sobre a postura de atendimento aos
50

negros na instituição; e sobre antirracismo, no intuito de construir coletivamente o


entendimento sobre a necessidade de combater o racismo, antes do trabalho com
as famílias, para que todos se sintam comprometidos com a causa.

Nesta direção o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, na


pessoa do profissional de assistência social na luta contra o racismo podem
desenvolver várias ações, como:

Iniciando o trabalho com as famílias, a primeira etapa, o assistente social


deve verificar os cadastros da instituição, para observar se o quesito raça /etnia está
contemplado e se está sendo utilizado de forma declarada, com a finalidade de
conhecer a realidade.

Realizar uma visita às famílias com a finalidade de interação, integração e


para uma observação da situação real das famílias.

Realizar reuniões periódicas para refletir e discutir sobre o racismo por eles
vivenciado, onde todos têm o direito a fala e a escuta, uma roda da conversa.

Promover encontros mensais com as famílias, para a educação sobre a


questão étnico-racial, atividades sócio-educativas, abordando os temas: a influência
da cultura negra na cultura brasileira; o que é racismo, preconceito e discriminação;
violência e racismo institucional, etc., através de palestras, conferências,
depoimentos, vídeos e etc.

Celebração do dia da “Consciência Negra”. Proporcionar um encontro do


Movimento Negro com as famílias para conhecer suas lutas contra o racismo.

Realizar um projeto com a comunidade local para divulgar e fortalecer o


debate do racismo sobre a perspectiva da arte, como a musica, a dança, pinturas:
imagens ilustrativas do racismo, etc., envolvendo todas as faixas etárias.

Apresentação de filmes disponíveis, como: Filme Raça (de Joel Zito e Megan
Mylan / Ano: 2013); Filme Ó pai, Ó (De Monique Gardenberg / Ano: 2007); Filme
The Hate U Give, (O Ódio Que Você Semeia); Filme Histórias Cruzadas (disponível
na Netflix); Minissérie Selfmade (original Netflix); Olhos que condenam (disponível
na Netflix); Seriado Cara Gente Branca (original Netflix)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos proporcionaram uma reflexão sobre a prática profissional do


Assistente Social no âmbito social, no combate ao racismo estrutural e institucional,
ressaltando a importância da conscientização dos assistentes sociais na elaboração
de seu projeto profissional, com a finalidade de combater o preconceito e racismo.

O racismo como forma de preconceito e discriminação, presente na nossa


realidade social, traz sérias consequências para a população negra. O combate do
racismo exige do profissional uma postura ética e crítica sobre sua implicação na
vida dos negros, as diversas violações  e privações de direitos.

Na prática profissional, a consciência sobre o racismo efetua um desempenho


funcional, na compreensão da realidade dos usuários e na elaboração de
alternativas que promovam a vida das pessoas, com a finalidade de contribuir para
o fortalecimento dos interesses da população negra usuária.

O Assistente Social como agente da renovação da vida em sociedade tem o


compromisso de assumir a luta contra o racismo, assegurar os direitos básicos da
população negra, incorporando no seu projeto profissional as políticas públicas de
ações afirmativas.
52

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