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CIDADES REIVINDICADAS:
EMERGÊNCIA E DIFUSÃO DAS OCUPAÇÕES CULTURAIS COMO FORMA DE
REIVINDICAÇÃO DO DIREITO À CIDADE
SÃO CRISTÓVÃO
2022
JONATHA VASCONCELOS SANTOS
CIDADES REIVINDICADAS:
EMERGÊNCIA E DIFUSÃO DAS OCUPAÇÕES CULTURAIS COMO FORMA DE
REIVINDICAÇÃO DO DIREITO À CIDADE
SÃO CRISTÓVÃO
2022
JONATHA VASCONCELOS SANTOS
CIDADES REIVINDICADAS:
EMERGÊNCIA E DIFUSÃO DAS OCUPAÇÕES CULTURAIS COMO FORMA DE
REIVINDICAÇÃO DO DIREITO À CIDADE
Banca Examinadora
_______________________________
Prof. Dr. Wilson José Ferreira de Oliveira (PPGS/UFS – Orientador)
_______________________________
Prof.ª Dr.ª Luciana Ferreira Tatagiba (Unicamp – examinadora externa)
_______________________________
Prof. Dr. Matheus Mazzilli Pereira (CEM/SP – examinador externo)
_______________________________
Prof. Dr. Marco Aurélio Dias de Souza (PPGS/UFS – examinador interno)
_______________________________
Prof. Dr. Paulo da Costa Neves (PPGS/UFS – examinador interno)
AGRADECIMENTOS
Uma Tese não se faz com duas mãos, muito menos uma cabeça. É antes, e
assim foi no meu caso, um processo fundamentalmente coletivo. Não tinha como ser
diferente. Essa coletividade é afetiva na medida em que envolve muita felicidade,
acalento, frustrações e paixões. É também intelectual, pois envolve uma rede de
debate. Em momentos de ataques às universidades e, especialmente, às Ciências
Humanas, todos os coletivos foram fundamentais na escrita deste trabalho. Dito isso,
agradeço, inicialmente, à Capes, por fomentar e tornar possível esta pesquisa.
Ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS, pela formação e todo
o aprendizado concedido.
Ao meu orientador, o prof. Dr. Wilson José Ferreira de Oliveira, pelos
ensinamentos transmitidos ao longo de nove anos de parceria acadêmica. Nessa
caminhada, aprendi uma forma que julgo extremamente necessária de se enxergar o
mundo.
A Jonatas Aguiar e à Dayane Silva, pela atenção, estima e dedicação ao
programa e seu corpo docente e discente.
Ao Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP), por me proporcionar
tantas experiências e aprendizados ao longo desses anos. Aqui, agradeço à Prof.ª
Dr.ª Fernanda Rios Petrarca; ao trio – Adrielma, Géssica e Pâmella – que me
recepcionou e apresentou o dia a dia da pesquisa; e aos demais colegas pelos
diálogos enriquecedores.
Aos meus amigos Saulo, Lucas, Eduardo e Felipe, pelos sorrisos, poesia,
conversas sem fim (que insistam em não ter fim) e pelas ciências da academia e da
vida.
Ao Grupo Abaô de Capoeira Angola, por ter me concedido parte fundamental
do axé que tornou possível a realização da Tese e mostrar a graça de uma vida que,
sendo trabalho, também é dança.
À Iara, pela parceria, amor, paciência, confiança e me mostrar, com o modo
como ela mesma vive, que é possível viver em um tempo que não é o da pressa.
À minha família, especialmente à minha mãe, por nunca, apesar da rigidez,
desconfiar dessa trajetória iniciada em 2012. Obrigado, Dona Vera, pela vida, régua e
compasso.
Aos meus entrevistados e entrevistadas, pelas amizades construídas,
confiança e por tornar esse trabalho possível.
Muito obrigado!
A gente combinamos de não morrer!
Conceição Evaristo
RESUMO
This research analyzes the process of emergence and diffusion of the claim for the
right to the city in Sergipe between the years 2013 and 2020. More specifically, we
investigate the logics of collective action, the networks of social movements and the
militant careers linked to the agenda. Based on this, the theoretical bases used in this
work aim to deepen three points. First, the processes of diffusion of collective action
on two levels: the practical and the narrative. Thus, we analyze the ways in which the
claim for the right to the city was performed and framed by different groups in their
different contexts of action. Second, the construction and characterization of social
movement networks. In this regard, we demonstrate how the consolidation of the claim
for the right to the city enabled the emergence – among social movements, political
parties, collectives and government administrations – of different mobilization
networks. Third, the construction of militant careers based on the involvement of social
actors in this type of mobilization, as well as the reconversion of the prestige
accumulated in these spaces for the insertion of these activists in institutional positions
or participation in political campaigns. The research conclusions point to how the
combination between a context of crisis in the forms of collective action, in which one
of the expressions concerns the June 2013 protests, and the strengthening of the right
to the city agenda, also in that period, enabled the emergence of and the diffusion of
cultural occupations in Sergipe. In this way, this work allows us to understand, in
addition to the analyzed case, a set of changes in Brazilian activism in the last decade,
such as the construction of models (in organizational spheres, of forms of engagement
and action) alternative to traditional forms of collective action.
Keywords: Collective action. Social movements. Right to the city. Cultural occupations.
LISTA DE IMAGENS
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................13
ESTRUTURA DA TESE .............................................................................................21
CAPÍTULO 1 – JUNHO DE 2013, UM SISTEMA POLÍTICO EM CRISE E OS
“OCUPES” COMO EXPRESSÃO DE MUDANÇAS NO ATIVISMO BRASILEIRO
CONTEMPORÂNEO .............................................................................................24
1.1 JUNHO DE 2013: UM REGIME EM CRISE, EMERGÊNCIA E DIVERSIFICAÇÃO
DE ESTILOS DE ATIVISMO ................................................................................24
1.2 OS “OCUPES” COMO UM ESTILO DE ATIVISMO EMERGENTE ......................35
1.3 AS OCUPAÇÕES CULTURAIS E A REIVINDICAÇÃO DO DIREITO À CIDADE
EM SERGIPE (2013-2020) ..................................................................................44
CAPÍTULO 2 – CIDADES REIVINDICADAS: DIFUSÃO DA OCUPAÇÃO
CULTURAL E TRANSFORMAÇÕES NO ENQUADRAMENTO DO DIREITO À
CIDADE ...............................................................................................................54
2.1 UMA INCURSÃO DE OBSERVAÇÃO MARCADA POR DIFERENÇA E PADRÕES
.............................................................................................................................54
2.2 AS QUEBRADAS E OS PERIFÉRICOS: O CASO DO SARAU DE QUEBRADA
.............................................................................................................................60
2.3 OS CORETOS E OS AGITADORES CULTURAIS: O CASO DO SARAU DA
CAIXA D’ÁGUA EM LAGARTO ...........................................................................68
2.4 OS SECUNDARISTAS E AS PRAÇAS: OS CASOS DO OCUPE A PRAÇA E O
CULTURA DA PERIFERIA ..................................................................................75
2.5 OS COSMOPOLITAS, AS PRAÇAS E OS PARQUES: OS CASOS DO OCUPE-
SE TODOS PELA CULTURA E DO ENSAIO ABERTO .......................................79
2.6 O OCUPE A PRAÇA: DE AÇÃO CONTESTATÓRIA À FORMA DE
INTERVENÇÃO URBANA DA PREFEITURA DE ARACAJU ..............................86
2.7 PARA ALÉM DAS RUAS: A REPERCUSSÃO EM EVENTOS ACADÊMICOS E A
PRODUÇÃO AUDIOVISUAL ...............................................................................93
CAPÍTULO 3 – DE REPERTÓRIO DE AÇÃO CONTESTATÓRIA À ESTRATÉGIA
DE MOBILIZAÇÃO: REDES DE MOVIMENTOS SOCIAIS NAS OCUPAÇÕES
CULTURAIS EM SERGIPE (2013-2020) ..........................................................103
3.1 DOS REPERTÓRIOS ÀS REDES DE ORGANIZAÇÕES ..................................103
3.2 REDES DE MOVIMENTOS SOCIAIS: ATORES, LIDERANÇAS E
ORGANIZAÇÕES ENDÓGENAS E EXÓGENAS ..............................................106
3.2.1 Os periféricos: redes 1 e 2 ............................................................................108
3.2.2 Os estudantes secundaristas: as redes 3 e 4 ..............................................112
3.2.3 Os cosmopolitas: a rede 5 ............................................................................118
3.2.4 Os agentes estatais: a rede 6 ........................................................................121
3.2.5 Os agitadores culturais: a rede 7 .................................................................126
3.3 DE REPERTÓRIO DE AÇÃO CONTESTATÓRIA À ESTRATÉGIA DE
MOBILIZAÇÃO ................................................................................................129
CAPÍTULO 4 – ENGAJAMENTO E EXPERIÊNCIAS URBANAS: AS CARREIRAS
MILITANTES DAS LIDERANÇAS ..................................................................145
4.1 HISTÓRIAS DE VIDA, CARREIRAS MILITANTES E PADRÕES DE ATIVISMO
...........................................................................................................................145
4.2 LIDERANÇA A, OCUPE-SE TODOS PELA CULTURA .....................................153
4.3 LIDERANÇA B, O SARAU DE QUEBRADA E O COLETIVO ENTRE BECOS ...156
4.4 LIDERANÇA C, SOM DE QUEBRADA ..............................................................161
4.5 LIDERANÇA D, O OCUPE A PRAÇA E O COLETIVO CONTRA CORRENTE ..166
4.6 LIDERANÇA E, O OCUPE A PRAÇA E A FUNCAJU .........................................170
4.7 LIDERANÇA F, O SARAU DA CAIXA D’ÁGUA ..................................................173
4.8 ATIVISMO E REPRESENTAÇÃO POLÍTICA: DAS RUAS ÀS INSTITUIÇÕES .178
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................182
REFERÊNCIAS .......................................................................................................189
ANEXOS ..................................................................................................................198
13
INTRODUÇÃO
É certo que junho de 2013 não terminou naquele ano, mas nem por isso tudo
o que segue é uma consequência direta desses eventos. Apesar disso, os eventos
ocorridos naquele período são responsáveis por estimular a experimentação em torno
das formas de ativismo. Neste aspecto, experimentações de práticas e gramáticas
políticas adquirem espaço e visibilidade.
Com base nisso, algumas agendas de pesquisa adquirem força nos últimos
anos e, de modo geral, buscam entender as novas configurações do ativismo no Brasil
contemporâneo. Esses interesses de pesquisa que fundamentam a realização deste
trabalho também estão relacionados com um conjunto de trabalhos realizados no
Laboratório de Estudos do Poder e da Política, o LEPP. Nele, desde as minhas
pesquisas de iniciação científica, dissertação de mestrado, além de outros planos de
trabalho elaborados e realizados pelos demais integrantes do laboratório, o estudo
sobre as formas de ativismo, os contextos de contestação e os modelos de
engajamento individual construíram a base teórico-metodológica desta pesquisa.
Em consonância com isso, o argumento central desta pesquisa é a de que
o ciclo de mobilizações baseado na ocupação cultural do espaço público em
Sergipe é resultado de uma janela de experimentação de ativismo emergente em
um contexto de crise das formas de mobilização mais tradicionais à esquerda,
do qual os protestos de junho de 2013 são uma de suas maiores expressões.
Neste caso, a ideia de ciclo de mobilizações não está relacionada com o conceito de
ciclo de protestos (TARROW, 2009), mas antes busca ressaltar a ideia de que houve
um processo marcado por um momento de experimentação, reprodução e
desengajamento em torno de uma forma de ação coletiva.
O ponto de partida de pesquisa surge de uma observação realizada no final da
dissertação (SANTOS, 2017; SANTOS, OLIVEIRA, 2018) sobre a emergência do
Coletivo Debaixo após o ciclo de protestos de 2013 ocorrido no Brasil, inclusive em
Aracaju. Naquela ocasião, o interesse de pesquisa estava direcionado na análise do
surgimento do coletivo e os repertórios de ação mobilizados pelo grupo para
reivindicar a cidade. Era muito comum, naquele momento, que os ativistas – também
autoidentificados como “poetas marginais” ou “trabalhadores da cultura” – do coletivo
falassem que “as manifestações de junho não acabaram”. E, com isso, o coletivo
cumpria, segundo o grupo, uma função de manter a chama da euforia e do sentimento
de revolta daquele período acesa.
15
central que sintetiza os objetivos secundários pode ser traduzida na busca pela
compreensão de quatro níveis da replicação da ocupação como ação contestatória:
as práticas, os enquadramentos, os grupos e os atores.
Neste sentido, a relevância desta pesquisa pode ser dividida em três
momentos: empírica, teórica e política. A necessidade empírica deste trabalho está
relacionada aos poucos trabalhos em níveis locais que busquem analisar o processo
de difusão da ocupação enquanto modelo de ação contestatória entre coletivos, e sua
transformação em política municipal. Além disso, em nível nacional, este estudo
cumpre com uma agenda de pesquisa ainda em andamento que busca compreender
os impactos do ciclo de protestos de 2013 para a emergência de novos estilos de
ativismo2 no Brasil. Nesse último ponto, posso afirmar que a pesquisa permite situar
as ocupações e a reivindicação da cidade como um desses estilos de ativismo que se
difunde nos últimos anos. E permite responder algumas questões sobre a
reorganização do ativismo no Brasil a partir da ruptura da hegemonia dos movimentos
sociais vinculados à rede de contestação do Partido dos Trabalhadores. Essa ruptura
que acontece a partir da reafirmação cada vez mais contundente de dois campos de
estilos de ativismo denominados por autonomistas e patrióticos (ALONSO; MISCHE,
2017). No caso desta pesquisa, o que fica mais latente são as rupturas e
continuidades entre os estilos de ativismos dos autonomistas e os socialistas; este
último se refere ao ativismo tradicional dos partidos e movimentos sociais de
esquerda.
Em segundo lugar, a relevância teórica desta pesquisa se apresenta à
proporção em que busca desenvolver um esquema teórico que: i) escapa dos
determinismos estruturais das análises que caracterizam a produção recente; ii)
propõe um modelo analítico sobre o processo de difusão de modelos de ação coletiva;
e iii) escapa do caráter normativo nos estudos dos movimentos sociais e analisa
fenômenos que ocorrem no limiar de concepções normativas como “autonomia” e
“cooptação” e “ação institucional” e “ação não institucional”.
E em terceiro, a relevância política deste trabalho emerge em paralelo com a
necessidade de acompanhar as transformações no ativismo em contexto de crise e
ameaça dos movimentos sociais.
das redes de movimentos sociais permitiu a esta pesquisa identificar não somente a
extensão e o alcance da pauta em questão, mas também os padrões de relações
estabelecidos pelos grupos.
E quinto, os estudos sobre a construção de carreiras militantes. Para isso,
foram utilizados os trabalhos que, entre o conceito de carreira e trajetória militante,
contribuem para a compreensão do engajamento de diversos atores na reivindicação
do direito à cidade.
ESTRUTURA DA TESE
3 Esta comparação também é operada por outros pesquisadores como Tatagiba (2014).
26
“não queremos mais ser governados”, Arantes (2014) propõe a seguinte reflexão que
contrapõe os protestos de junho de 2013 aos regimes normativos dominantes:
Para Tilly (2006, p. 19), um regime pode ser definido como interações fortes e
repetidas entre os principais atores políticos, incluindo um governo. Desta forma, um
regime se refere às formas predominantes de relação entre atores políticos e um
governo. Em uma reflexão sobre a relação entre formas de mobilização e os regimes,
Tilly (2006) demonstra como um regime permite cristalizar formas e relações entre
movimentos sociais e um governo. Para além disso, o autor chama a atenção para
dois fenômenos sobre as mudanças nas formas de participação. Primeiro, os padrões
de relações políticas permitem a emergência de modelos de mobilização não inseridos
nesse padrão. E segundo, a crise de um regime constitui um momento propício para
a construção de novos repertórios. Sobre este último aspecto, o autor estabelece uma
relação entre a crise de um regime e mudanças nas formas de ação contestatória:
diversos estilos de ativismos. Neste sentido, esses estudos nos permitem entender
como aquele período pode ser compreendido enquanto uma fissura capaz de tornar
visíveis novas formas de ação política.
De modo semelhante, Bringel e Pleyers (2015) apresentam a ideia de que esse
período possibilitou abertura societária. Segundo os autores:
de ativismo protagonizado por jovens. Sendo assim, a ocupação passa por processos
de adaptação às localidades, mas mantém a sua principal característica enquanto
forma de ação coletiva: a ocupação dos espaços. Dechezelles (2017) aponta ainda,
paralelamente a outros dossiês como o livro organizado por Combes, Garibay e
Goirand (2015), para a necessidade de estudos capazes de analisar os processos de
mimetismo e difusão no uso da ocupação como repertório de ação coletiva. Desta
forma, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma análise desse problema
teórico e empírico que é a difusão de uma forma de indignação.
No Brasil, os protestos de junho de 2013 constituíram o contexto no qual as
ocupações adquiriram visibilidade e foram replicadas em diversas situações. A
remoção de determinadas populações vulneráveis para a construção de estádios que
sediaram, no Brasil, os jogos da Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016;
os eventos de confronto entre os policiais e os protestos em junho de 2013 e as
discussões acerca do direito de manifestação em via pública; o protagonismo da pauta
da mobilidade urbana a partir da tarifa do transporte público; e o uso de novos espaços
públicos nas grandes cidades derivados da diversificação dos públicos em protesto,
também em 2013, tudo isso possibilitou a emergência de “novos lugares políticos”.
Essas três variáveis que estabelecem uma relação entre as manifestações de junho
de 2013 e os debates sobre a cidade não somente contribuíram para a emergência
de novos atores e organizações, mas também de “novos temas em cena” (SOUZA,
2017; VICINO, FAHLBERG, 2017).
Em artigo sobre o modo como a “questão urbana” é analisada no ciclo de
protestos de 2013, Souza (2017) aponta para duas interpretações. A primeira se refere
aos estudos que analisam aos fatores estruturais do fenômeno como, por exemplo,
os impactos do capitalismo na construção de uma cidade desigual. E a segunda
àqueles que investigam os processos de significação dos “novos lugares políticos”.
Neste último ponto, apresentamos algumas reflexões desenvolvidas em pesquisa de
dissertação (SANTOS, 2017, 2018, 2019) sobre como o Coletivo Debaixo, em cenário
local e após junho de 2013, promove ações de ocupações no Viaduto Carvalho Déda
localizado em Aracaju. Essas ações que foram realizadas entre os anos de 2013 e
2016 têm como consequência a criação de um novo lugar político e que será palco de
protestos nos anos seguintes.
38
ocupações ficam conhecidas pelo nome das instituições escolares como, por
exemplo, o Ocupa Dom Luciano e Ocupa Petrônio Portela.
A extinção do Ministério da Cultura, também em 2016, e a sua transformação
em Secretaria Especial da Cultura por meio do argumento de diminuição da estrutura
do Estado e dos gastos públicos, provocou uma nova mobilização cujo repertório de
ação coletiva também foi a ocupação. O Ocupa Minc, como ficou conhecido, teve
como estratégia de ação a ocupação das sedes estaduais do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em Sergipe, esta ação foi organizada por
estudantes e artistas, alguns deles envolvidos em outras expressões de ocupações
culturais iniciadas entre os anos de 2015 e 2016. Na ocasião5, ocuparam a sede do
Iphan no estado, localizada no centro de Aracaju, por algumas semanas com aulas
públicas a estudantes secundaristas, apresentações artísticas e debates sobre a
conjuntura política do momento e os impactos sociais da extinção do Ministério da
Cultura.
Fonte: https://infonet.com.br/noticias/cultura/estudantes-ocupam-predio-do-iphan-em-sergipe/.
5 Ver: https://infonet.com.br/noticias/cultura/estudantes-ocupam-predio-do-iphan-em-sergipe/.
40
Fonte: Nupps/Cesop (2006); Nupps (2014); INCT (2018). Margens de erro: 2006 (2,0); 2014 (2,0);
2018 (2,0). I.C. 95%. Autoria: Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação.
6 Ver imagem 1.
45
Fonte: Facebook.
7 Como ressaltam Santos e Oliveira (2017), o Movimento Não Pago é uma organização local com
intensa ligação com o Movimento Passe Livre (MPL) e ficou conhecido por sua atuação em pautas
relacionadas com o transporte público.
47
8 Um tipo de pequeno livro produzido de forma não profissional, não oficial e artesanal.
48
fora da curva, pois surge em 2007, mas a sua atuação é retomada em 2015 a partir
de um formato semelhante aos demais grupos em atividade.
virtual se resumiam a isso, mas o impacto foi ainda maior e marca outra característica
das ocupações culturais: a intensa estetização dos atos.
A estetização das ocupações pode ser identificada em suas dimensões off-line
e on-line. No caso específico da dinâmica on-line, os coletivos têm uma atenção muito
grande em relação à construção visual de suas ações. A arte dos cartazes, as
fotografias que são divulgadas na internet, o cenário e, literalmente, o palco onde
acontecem as ocupações são esteticamente pensados.
As ocupações demonstraram, principalmente no momento de intensa difusão
nos anos de 2015 e 2016, pouca capacidade de sustentação da ação. Em alguns
casos, como foi o Sarau Debaixo e o Sintonia Periférica, conseguiram manter suas
ações por mais de dois anos. Em outros, a exemplo do Mulheres em Luta, o Arte na
Praça e o Arte no Farol tiveram vida curta e encerraram suas atividades com menos
de um ano. Este fenômeno não está somente articulado às dificuldades de
sustentação, mas também aos modos de ação desses coletivos. Bringel (2013), ao
analisar as mudanças na configuração do ativismo brasileiro a partir de junho de 2013,
aponta para uma dinâmica de “política de eventos”. A política de eventos seria
caracterizada por ações pontuais, com pouca capacidade e interesse de sustentação
ao longo do tempo e, por fim, pela centralização da indignação em formas de eventos.
A partir de 2017, uma nova forma de performatizar a ocupação cultural é
inserida nesse circuito de mobilizações: o slam. Os slams são espaços de competição
de poesia que, nos últimos anos, com a popularização iniciada com o Slam das Minas
fundado em 2015 em Brasília, são marcados pela produção de narrativas cotidianas
de jovens da periferia.
Em Sergipe, essa expressão ainda é pouco difundida. Em 2017 surge o
primeiro slam, o Slam do Tabuleiro. O Slam do Tabuleiro foi realizado entre os anos
de 2017 e 2018 em três espaços: o Elenildo Rock Bar, a praça do Rosa Elze e o
Viaduto Carvalho Déda. O espaço mais mobilizado foi o Elenildo Rock Bar que fica
localizado no centro de Aracaju e é frequentado por grupos identificados com
expressões da contracultura. A praça do Rosa Elze é um espaço de sociabilidade dos
estudantes da Universidade Federal de Sergipe e, além do Slam do Tabuleiro, outros
coletivos acionaram essa praça para ocupações culturais. E o Viaduto Carvalho Déda,
ou Viaduto do DIA, como já mencionamos, é, neste ciclo de ocupações, o primeiro
espaço a ser mobilizado por três anos pelo Coletivo Debaixo. Além disso, o uso deste
viaduto tem mais significado, pois parte dos integrantes que construíram o Slam do
51
algumas inquietações presentes no ativismo do Brasil das últimas duas décadas. Para
isso, articulamos dois caminhos percorridos pela literatura nacional nesse período.
Primeiro, os estudos que apontam para a crise de um sistema político e padrão
de participação emergente no período de redemocratização (AVRITZER, 2016;
NOBRE, 2013a, 2013b; SINGER, 2012, 2018; ARANTES, 2014; SAFATLE, 2012).
Essa literatura não possui uma interpretação convergente – por vezes são
antagônicas se considerarmos as críticas de Arantes (2014) e Safatle (2012) – mas
sinalizam para os diversos impasses produzidos pelo sistema de participação pós-
constituinte.
E segundo, a literatura que considera os protestos de junho de 2013 como um
momento paradigmático na medida em que expõe as fraturas desse sistema de
participação (AVRITZER, 2016, 2018; TATAGIBA, 2014; ALONSO, MISCHE, 2017;
BRINGEL, 2013; BRINGEL, PLEYERS, 2015; SILVA, 2014; NOBRE, 2013b;
DOWBOR, SWZAKO, 2014; OLIVEIRA, 2020). Essa literatura traz diversos elementos
para analisarmos a importância daquele período de intensa mobilização para a
reconfiguração do ativismo. Entre essas variáveis podemos identificar o processo de
diversificação dos atores em mobilizações públicas e o tensionamento dos
manifestantes em relação às estruturas de participação mais tradicionais como os
partidos políticos e centrais sindicais.
Ao analisar a configuração da ação coletiva após os protestos de 2013, Bringel
(2015) indica algumas transformações no ativismo que se consolidava nos anos
seguintes às manifestações. O maior descentramento dos sujeitos e das
organizações, a presença de novas tecnologias de informação e comunicação, a
emergência de manifestantes com experiência de vida e cultura política distintas do
campo democrático popular das décadas de 1970 e 1980, o uso de práticas políticas
mais libertárias e expressividades culturalmente orientadas, transversalização das
pautas, novas matrizes discursivas e uma tendência à política de eventos.
Deste modo, articulamos duas literaturas que analisam a crise do sistema
político e a reconfiguração do ativismo contemporâneo para localizar os ocupes como
uma das expressões das novas formas de ação coletiva emergentes pós-junho de
2013. Com isso, consideramos que o processo de emergência e mimetismo
apresentado nesta pesquisa nos permite apreender, a partir de um modo de se fazer
política gestado nos ocupes, um conjunto de mudanças do ativismo contemporâneo.
53
Debaixo, tinha a percepção de que aquele modo de ação não se restringia mais ao
grupo que estudava.
Desta forma, o trabalho de pesquisa e escrita da dissertação foi acompanhado
de uma imersão descompromissada, ainda que cheia de novas perguntas de
pesquisa, em outros grupos que construíam seus ocupes. Naquele momento também
já vislumbrava a possibilidade de pesquisar este processo de repetição de uma
mesma forma de ação coletiva e discurso em territórios e grupos tão diferentes.
Paralelamente a esta replicação, outro fenômeno chamava a atenção. O
Viaduto Carvalho Déda se transformava, pouco a pouco, em cenário de contestação
para outros coletivos, movimentos sociais e partidos políticos. Em artigo desenvolvido
com dados coletados posteriormente à dissertação (SANTOS, 2017), apontei para o
fato de que a efetivação de uma rotina de contestação naquele período, entre os anos
de 2013 e 2016, construiu um novo “lugar de contestação”. Para diversos ativistas
locais, o estacionamento localizado embaixo do viaduto já não era somente um
estacionamento. Ele tinha adquirido significado de contestação. Assim, o viaduto
passou a ser mobilizado por outros grupos nos anos seguintes, até os dias de hoje.
À medida que finalizava a dissertação e construía o projeto de pesquisa do
doutorado, comecei a frequentar com mais recorrência os ocupes. A necessidade de
estar próximo e, em alguns casos, dentro dessas ocupações estava vinculada também
ao fato de que essas ações eram fluidas e pontuais. O afastamento deste ciclo de
ocupações, principalmente em seu ponto alto, era também perder uma oportunidade
empírica de observar essas ações e construir um acúmulo de notas de campo.
Sendo assim, as observações de campo que compõem este capítulo são
realizadas principalmente entre os anos de 2016 e 2018. Entretanto, como já foi
salientado, a minha presença no campo se mantém de 2015 até 2020. O processo de
seguir os interlocutores e os ocupes foi marcado por duas experiências pessoais e
acadêmicas.
Primeiro, acompanhar os ocupes também foi descobrir várias cidades,
principalmente em Aracaju e região metropolitana. À proporção que os eventos
aconteciam em regiões periféricas da capital e região metropolitana, eu era convidado
para transportar os equipamentos e algumas atrações das ocupações, e me
surpreendia com as várias cidades dentro de uma cidade. Em alguns casos, seguido
de avisos de cuidado para “não ter o carro roubado”.
56
Ainda que originalmente esteja vinculado ao modo como Tilly (2005) identificou
o surgimento de formas de ação coletiva nacionais nos séculos XVIII e XIX, o conceito
de repertório modular chama atenção para algumas variáveis que compõem este
problema teórico e empírico da difusão de formas de ação coletiva.
Para Tilly (2005), a difusão e a inovação ocorrem a partir da combinação de
alguns eventos e articulações identificadas em cinco variáveis: a inovação tática, a
negociação, a difusão negociada, os mediadores, a certificação e a adaptação local.
9 Ver Imagem 4.
10 Consultar o quadro de entrevistados.
62
.
Fonte: Registro autoral.
A narrativa do “nós por nós”, do “nós para nós” ou “É a quebrada pela quebrada,
aqui é periferia pela periferia”, frequentemente relatada entre os periféricos, seja em
entrevistas, conversas informais ou em falas públicas, nos permite acessar e
compreender que a emergência dos saraus nas periferias também está vinculada a
uma necessidade de autorrepresentação em um ciclo maior das ocupações culturais
na cidade de Aracaju. Além disso, tais questões se referem a alguns dilemas da
participação que resultam de um sentimento comum aos periféricos de uso dos
problemas sociais das comunidades mais pobres para favorecimentos políticos.
O descontentamento da fala de Mano Brown do Racionais MC’s, em outubro
de 2018, e a narrativa de indignação em relação aos usos da pobreza como forma de
Fonte: http://conexaogloriense.com.br/monte-alegrenses-festejarao-o-aniversario-do-sarau-no-coreto/.
12 Ver: http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2015/06/professores-de-se-vao-peitar-o-que-contra-luta-
pelos-seus-direitos.html.
13 Ver: https://infonet.com.br/noticias/educacao/reportagem-do-sbt-expoe-fraudes-na-merenda-
escolar-em-se/.
14 É importante ressaltar que o processo de entrevistas de Roberto Cabrini em Sergipe já antecipava o
teor da reportagem. Sendo assim, os efeitos do programa foram anteriores à transmissão do conteúdo
em rede nacional.
77
ações dos professores. Nesse momento, a ideia do coletivo Contra Corrente já estava
mais estabelecida e projetada pelos estudantes.
O Ocupe a Praça teve como projeto a realização do sarau uma vez por mês e
manteve-se com essas ações, além de intervenções em escolas públicas, entre 2015
79
e 2017. A ocupação acontecia aos finais das tardes de domingo na praça Tobias
Barreto, em um formato semelhante ao do Sarau Debaixo, Sarau da Caixa D’água, o
Ensaio Aberto, Sintonia Periférica e Sarau de Quebrada.
No caso específico do Ocupe a Praça, o perfil do público e daqueles que
compõem o Coletivo Contra Corrente é estudantil. No entanto, se a pauta da educação
é a primordial para promover a associação desses jovens e da ocupação cultural
promovida pelo coletivo, aquilo que é reivindicado pelo grupo é mais amplo. Em 2015,
a pauta do direito à cidade já havia sido reinterpretada e traduzida para as cidades do
interior do estado, mas também foi adotada por outros grupos na capital Aracaju.
Apresentamos a seguir uma fala do Entrevistado 5 sobre como o debate do direito à
cidade e a ideia de ocupar a cidade aparecem no coletivo.
por acaso, tendo em vista suas proximidades – são dissidências diretas do Sarau
Debaixo.
O Ocupe-Se Todos Pela Cultura surge em dezembro de 2016 após algumas
restrições às ocupações culturais que já aconteciam em Aracaju como o Sarau
Debaixo, o Ensaio Aberto e o Som de Calçada. Esses constrangimentos foram
resultados de ações de instâncias da prefeitura de Aracaju motivadas, ao menos nos
discursos oficiais, pelo transtorno provocado pelo volume do som e pelo lixo produzido
durante as ocupações. O Ocupe-Se teve poucas edições, mas cumpriu com o objetivo
projetado pela rede de coletivos que era o de articular diversos grupos a fim de
traçarem estratégias institucionais para resguardar a realização das ocupações. Por
um lado, houve a reunião de diversos coletivos. Por outro lado, as pressões
institucionais não ocorreram tal como foi a intenção do grupo. O Coletivo, ainda em
suas primeiras edições e nas redes sociais como o Facebook, se apresentava da
seguinte maneira:
MANIFESTO OCUPE-SE
Ruas cheias são sinônimo de segurança, não ao contrário. A cidade ocupação da por
atividades culturais combate a sensação de insegurança na cidade, fruto da
desigualdade social e potencializado por uma indústria do medo que articula agentes
de Estado à mídia hegemônica. É recorrente a opressão policial com acusação de
transtorno ao bem estar social ou outros argumentos palacianos como aconteceu com
o “SaraudeBaixo”, “Ensaio Aberto”, “Som de calçada” entre outros. O que gera
insegurança na cidade são espaços públicos vazios e abandonados de gente. O
parque dos cajueiros, assim como várias praças na cidade, sofre com o descuido do
poder público ou atuação apenas de uma instituição Polícia Militar ou Guarda
municipal opressora e não educativa, são cenas recorrentes no dia a dia dos espaços
públicos na efetivação da cidade dos de cima, uma cidade militarizada.
Por isso o nosso movimento luta pelo direito a cidade, por políticas públicas
permanentes e democratizantes na cultura e na comunicação em toda a sua
diversidade de trabalhos e temos autonomia e sabedoria para dizer que a RUA é
nosso lugar principal de ocupação, de produção de saberes e de pressão sobre
84
aqueles que produzem apenas para si e nega o que é de todos. NADA para mim,
TUDO para TODOS!
Por fim, exigimos uma Audiência Pública com o prefeito de Aracaju e o governador do
Estado e toda a equipe que julgar necessário com o Movimento Cultural de Sergipe a
ser realizada até o dia 20 de dezembro do presente ano, com objetivo de discutir as
reivindicações apresentadas em anexo.
15Fundação de Arte e Cultura do estado de Sergipe, cujo nome é Fundação de Cultura e Arte Aperipê
de Sergipe (Funcap/SE).
86
16 Ver http://istoesergipe.blogspot.com/2018/11/ocupe-praca-homenageia-lider-do.html.
89
Este segundo momento possui como principal cenário a própria praça General
Valadão equipada com iluminação, food trucks com alimentação gourmet, palco
coberto para os dias de chuva, caixas de som e projetor. A segurança é reforçada com
agentes da guarda municipal de Aracaju.
Esses elementos destacados acima, desde o cenário interno – aquele existente
dentro do Centro Cultural de Aracaju – até o cenário externo, neste caso, a praça
General Valadão, marcam algumas diferenças com outras ocupações culturais
realizadas pelos demais coletivos. Entre essas distinções, podemos destacar o
espaço selecionado, o formato da ocupação, o perfil do público e dos agentes
organizadores.
A oficialidade tanto do espaço selecionado quanto dos agentes organizadores
são dois aspectos pertinentes e que diferenciam o Ocupe a Praça das demais
ocupações culturais. O evento é um projeto vinculado à prefeitura de Aracaju e
agentes do Estado. Não obstante, a forma como espaço é mobilizado para o Ocupe a
Praça também passa pela oficialidade e formalidade.
17 Ver https://expressaosergipana.com.br/projeto-ocupe-a-praca-comemora-um-ano-de-incentivo-a-
cultura/.
90
O Ocupe a Praça mostra cada vez mais que quer fazer um diálogo
com os diversos coletivos culturais da cidade e ser bem democrático.
Agora chegou a vez do rap, com uma nova cena no rap sergipano que
está sendo construída e mostrando a importância que estes artistas
estão dando à produção audiovisual para o trabalho deles. Vamos
exibir os videoclipes e prestigiar o show de cada um. (INFONET,
2017).
18 Ver https://expressaosergipana.com.br/projeto-ocupe-a-praca-comemora-um-ano-de-incentivo-a-
cultura/.
19 Ver https://infonet.com.br/noticias/cultura/ocupe-a-praca-tera-como-tema-rap-sergipano/.
92
20Ver https://infonet.com.br/noticias/cultura/ocupe-a-praca-vai-misturar-musica-eletronica-carnaval-e-
forro/.
93
21Ver http://laranjeiras.ufs.br/conteudo/58690-suburbanos-resistencia-do-direito-a-cidade-foi-o-tema-
proposto-pela-vii-semana-de-arquitetura-e-urbanismo-semanau-da-ufs.
95
A grande intenção dos documentários, como é possível perceber por meio dos
vídeos, é a busca por ressaltar os diversos processos de ressignificação do espaço
público. Em parte deles, tal processo de atribuição de novos significados a locais como
o Viaduto Carvalho Déda, a Ponte Construtor João Alves ou até mesmo o Parque dos
Cajueiros.
Deste modo, este capítulo teve dois principais objetivos relacionados ao
processo de difusão da ocupação cultural em Sergipe.
Em primeiro lugar, e utilizando conceitos como repertório modular (TILLY,
2005) e forma social (SIMMEL, 2006), descrevemos o processo de mobilização dessa
forma social, a ocupação cultural, em diversos contextos de reivindicação do direito à
cidade. Para além disso, também apontamos para os diversos conteúdos, a exemplo
dos enquadramentos sobre a cidade, que preencheram essa forma social e
classificamos em periféricos, cosmopolitas, secundaristas, agitadores culturais e
agentes estatais. A finalidade desta classificação foi a de sinalizar para as diferenças
e aproximações em torno do fenômeno do ciclo de ocupações culturais ocorridas entre
os anos de 2014 e 2020. Um dos fatores determinantes para o rápido processo de
difusão dessa forma de ação coletiva está vinculado a um dos elementos destacados
no capítulo anterior: a crise das formas de participação dos movimentos sociais. Como
demonstramos com base na literatura mencionada no primeiro capítulo, o Brasil
experimentou nos últimos anos um processo de fragmentação das formas de ativismo
no país. Tal fato foi importante para que, principalmente após os protestos de 2013,
um conjunto de experimentações de mobilização fosse elaborado e apropriado por
diversos grupos. Na ausência de uma referência de ativismo mais consolidada, a
pauta do direito à cidade e as ocupações culturais tornaram-se uma forma de ação
coletiva disponível.
102
Por fim, neste tópico apontamos para os efeitos da mobilização realizada por
esses grupos identificados anteriormente no debate público a partir, por exemplo, dos
eventos acadêmicos e da produção audiovisual local. Sendo assim, demonstramos
como esses atores e organizações adquirem autoridade, principalmente de fala, em
outros espaços para além das ocupações culturais e os seus pares, como também
seus processos de mobilização se tornam objeto de estudo e atenção em outros
setores.
Nas ocupações também foram desenvolvidas redes de organizações e
trajetórias de engajamento social. Com base nisso, no próximo capítulo analisamos
as redes de organizações e atores que orbitam em torno dos coletivos que
promoveram as ocupações em Sergipe e as diferentes carreiras militantes das
lideranças desses agrupamentos.
103
militante não se tornar algo central – e tal evento passa, substancialmente, pela
capacidade de ser recompensado financeiramente por esse compromisso – em suas
biografias torna o engajamento e as suas ações menos sustentadas.
Para além das qualidades que incluem a ocupação cultural enquanto um
repertório modular, o fenômeno da difusão desse repertório ocorre paralelamente à
popularização, em níveis local, nacional e internacional, da reivindicação do direito à
cidade. A coleção de pesquisas publicada por Combes, Garibay e Goirand (2015) e
no dossiê da Politix (DECHEZELLES; OLIVE, 2017) evidencia como, na Europa e em
países do Oriente Médio, a ocupação de ruas e praças torna-se uma forma de
contestação capilarizada entre diversos grupos.
Em nível nacional, a coleção de Maricato et al. (2013) e a pesquisa de Rafael
Souza (2017) comprovam o mesmo fenômeno em nível nacional. De modo geral, os
autores demonstram uma relação de causalidade com a diversificação dos usos de
espaços para protestos em junho de 2013 e o surgimento de novos espaços de
contestação. Entre 2015 e 2016, esse modelo de ação contestatória é utilizado nas
reivindicações dos estudantes secundaristas em todo o Brasil. O conjunto de
pesquisas publicadas no livro organizado por Medeiros, Januário e Melo (2019) traz
como o a ocupação é mobilizada em estados como São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro,
Ceará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo.
Em nível local, alguns estudos apontam especificamente para o uso da
ocupação cultural dos espaços públicos como forma de mobilização. As pesquisas de
Fusaro (2018), Santos (2017) e Pereira (2016) no campo das Ciências Sociais, e de
Santana (2017), no curso de Arquitetura e Urbanismo, apresentam algumas reflexões
sobre o fenômeno em Sergipe, especialmente em Aracaju. Esses trabalhos podem
ser caracterizados por estudos de caso que analisam, seja com base na experiência
de um grupo em específico ou de grupos com perfil semelhante, os processos de
reivindicação do direito à cidade, principalmente em Aracaju. Neste sentido, a
presente pesquisa avança na medida em que: a) identifica um processo de difusão de
uma forma de ação coletiva; b) analisa as tensões resultantes dos diferentes perfis
dos grupos e territórios nos quais esta pauta e repertório de ação são mobilizados; c)
amplia a análise inserindo como esse fenômeno ocorre nas cidades do interior do
estado; d) identifica como agentes estatais mobilizaram a pauta; e d) investiga as
diferentes redes de movimentos sociais e trajetórias de ativismo formadas em torno
dessas ocupações. Esse último ponto destacado é o objeto de análise deste capítulo.
106
Os estudos sobre redes sociais face a face possuem uma longa trajetória nas
pesquisas sobre ação coletiva e movimentos sociais. De modo geral, esta proposta
se estabelece enquanto uma abordagem teórico-metodológica a partir de autores
como Diani (1992) e Diani e Bison (2010) que, em diálogo com a noção de redes
sociais, propõe uma definição de movimento social. Para o autor: “A social movement
is a network of informal interactions between a plurality of individuals, groups and/or
organizations, engaged in a political or cultural conflict, on the basis of a shared
collective identity.” (DIANI, 1992, p. 13).
Nessa definição, os movimentos sociais estão vinculados às redes de vínculos
caracterizadas por: i) um padrão de conexões sociais; ii) uma identidade coletiva
compartilhada; iii) ação coletiva e pauta reivindicatória; e iv) demonstrações públicas
que ocorrem fora de estruturas institucionais. Apesar da última característica limitar a
definição de movimentos sociais às ações e organizações cuja dinâmica ocorrem
estritamente na “sociedade civil” em oposição ao “Estado”, a definição de Diani (1992)
permite avançar nos estudos que buscam evidenciar como determinadas redes de
organizações se estabelecem em torno de pautas e questões sociais. Nos últimos
anos, a dimensão das redes (OLIVEIRA, 2010) nos estudos sobre movimentos sociais
tem estimulado a investigação dos diferentes padrões de redes, como também as
distintas extensões. Assim, é possível identificar em torno de uma pauta ou forma de
ação coletiva, as redes locais, nacionais, internacionais e transnacionais.
A difusão da ocupação cultural e da reivindicação do direito à cidade
possibilitou a emergência de algumas redes de movimentos sociais, partidos políticos,
coletivos e outras organizações que atuaram de diversas formas em torno dessa
pauta. Essas redes de movimentos sociais permitem que sejam identificados os
padrões de vínculos de alianças e conflitos, como também o desenvolvimento de
biografias em torno dessas redes.
A classificação proposta no capítulo anterior – os periféricos, os
secundaristas, os agitadores culturais, os cosmopolitas e os agentes estatais –
em parte constitui essas diferentes redes sociais. Essas redes são compostas por
atores e grupos com diversos níveis de institucionalização.
107
Mapa 1 – Rede 1
REDE 1
Som de Quebrada Sintonia Periférica
(Porto Dantas)
Som de Quebrada
(Barra dos Coqueiros) Prefeitura de Socorro
Secretaria da Assistência
Som de Quebrada
Social de Aracaju
(Parque dos Faróis)
PCdoB
ALPV
Liderança A
Legenda
Mapa 2 – Rede 2
REDE 2
Sarau de Quebrada
Liderança B Slam do Mangue
Liderança D
Juventude do PT Coletivo Entre
Becos
Liderança A
Liderança C
Legenda
Mapa 3 – Rede 3
REDE 3
Liderança B
Coletivo Contra Corrente
Liderança A
Juventude do
PT
Legenda
Imagem 19 – Coletivo Contra Corrente nas mobilizações pelo Fora Temer, setembro
de 2016
Mapa 4 – Rede 4
REDE 4
Mapa 5 – Rede 5
REDE 5
Legenda
que inicia uma atividade de difusão cultural em espaços semiabertos, mas a liderança
desse coletivo é um ativista com trânsito em todos os grupos citados anteriormente.
Além disso, dessas ocupações culturais, o Sarau da Caixa D’água, realizado na
cidade de Lagarto, localizada na região Centro-Sul de Sergipe, é o responsável pelo
processo de interiorização dessa forma de mobilização. E o Ocupe-se Todos Pela
Cultura, por sua vez, e como buscamos demonstrar na rede, resulta de uma
articulação de lideranças de todas essas ocupações.
De modo geral, e diferentemente das demais redes, a relação entre as
ocupações e com pouca mediação de lideranças, com exceção do Slam do Tabuleiro,
demonstra como as ocupações culturais constituíram espaços de experimentação. O
que mais importou na construção desses novos espaços foi a visualização e a vivência
de diversos atores no Sarau Debaixo. É desse espaço que surgem os demais. Tal fato
fica mais evidente no caso do Sarau da Caixa D’água, inicialmente chamado de Sarau
Debaixo da Caixa D’água, que inicia suas atividades com base na experiência de uma
das suas lideranças do Sarau Debaixo.
Para além desses casos cuja relação é mais direta, há uma outra série de
ocupações culturais que, indiretamente, emergem influenciados pelo Sarau Debaixo,
como o Arte no Farol e o Arte na Praça. Nem sempre essa relação direta é assumida
entre os grupos e parte disso se deve ao fato de que havia uma disputa acerca da
independência, autonomia e originalidade entre eles. Por vezes, essa independência
não era necessariamente entre os grupos, mas entre os segmentos que buscamos
demonstrar no capítulo anterior: os cosmopolitas, os periféricos, os agitadores
culturais, os secundaristas e os agentes estatais. Cada uma dessas redes de
movimentos sociais buscou, a seu modo, demonstrar como “descobriram” essa
mobilização de forma autônoma. Entretanto, e ainda que isso não constitua o objetivo
central deste trabalho, seja na análise do modo como temporalmente se desenvolveu
o processo de difusão dessa forma de ação coletiva ou nas observações acerca de
como diversos atores frequentaram e experimentaram esses espaços de contestação,
é possível identificar essas relações de influência entre os grupos.
Em suma, o processo de surgimento da rede de movimentos sociais que
intitulamos de cosmopolita se difere das demais em um aspecto. Enquanto
encontramos um protagonismo de atores sociais específicos no processo de
expansão das redes periféricos e secundaristas, na rede cosmopolita é o processo
de experimentação de ocupações já existentes que impulsiona o surgimento de novas
121
Mapa 6 – Rede 6
REDE 6
Juventude do
Prefeitura Coletivo Contra
PT
Municipal de Corrente
Aracaju
Núcleo de Produção
Digital Orlando
Fundação Cultural Vieira (NPDOV) Deputada Ana
Cidade de Aracaju Lúcia (PT)
(Funcaju)
Kian Lemos
Anderson Hot Black
Ocupe a Praça
de partidos. No caso da Funcaju, como podemos notar, as duas últimas gestões foram
protagonizadas por uma burocracia do Partido dos Trabalhadores. Ao qualificar tanto
o Cassio Murilo quanto o Silvio Santos como “burocratas” da gestão pública e
partidária, estamos destacando o fato de que esses atores estão estrategicamente
lotados em cargos de gestão pública. Sendo assim, não queremos com isso criar uma
dicotomia entre ativistas e burocratas. Pelo contrário, eles também são ativistas. Mas,
nesse caso específico, aqueles que adquirem um caráter de ativista são a próxima
categoria: os mediadores.
Segundo, os mediadores, cujo papel é o de mediar a relação entre os
movimentos sociais e o projeto Ocupe a Praça. O Ocupe a Praça é um projeto cuja
realização também tem a função de tornar visível um conjunto de questões sociais ou
aquilo que Cefaï (2017a; 2017b) define como problemas públicos. A discriminação
LGBTQIA+, a produção cultural do hip-hop nas periferias, a democratização do
audiovisual, a violência doméstica, o desrespeito aos povos originários são algumas
das questões já presentes no Liquidifica Diálogos. O Liquidifica Diálogos é um
momento no qual, em cada edição do Ocupe a Praça, essas pautas são debatidas
publicamente. É nesse momento que os atores políticos, os mediadores, se
pronunciam em apoio aos temas e, junto com eles, podemos observar suas bases de
ativismo. E a cada temática, no Teatro João Costa, localizado na parte interna do
Centro Cultural de Aracaju, novas bases de ativismo são convidadas ao evento. No
dia 11 de setembro, o Ocupe a Praça, na ocasião de lançamento do documentário
Chega de Fiu Fiu, problematizou a participação das mulheres no espaço público.
125
Na manhã desse mesmo dia, o Infonet, jornal eletrônico local, trouxe a seguinte
descrição do evento e que nos ajuda a entender o papel de mediação exercido pelo
projeto.
Mapa 7 – Rede 7
REDE 7
Sintese
Sarau Debaixo (Tobias
Coletivo Quilombo Barreto)
Comerciantes
Locais Prefeitura de
Sarau Debaixo Som na Praça Simão Dias
(Lagarto) (Lagarto)
Legenda
para além de ter sido mobilizado pela prefeitura enquanto um evento cultural que se
tornou parte da agenda da cidade, a prefeita Marinez Silva Pereira Lino reconheceu o
sarau como Patrimônio Cultural e Imaterial do município (ver Imagem 24 ).
Fonte: https://simaodias.se.gov.br/primeiro-sarau-do-coreto-de-2019-sera-realizado-no-proximo-
sabado/.
Fonte: https://camarademontealegre.se.gov.br/camara-aprova-e-reconhece-o-sarau-patrimonio-
cultural-e-concessao-de-titulos/.
Fonte: http://sergipenoticias.com/pimentas/2017/01/3603/eliane-aquino-se-reune-com-entidades-do-
movimento-negro.html.
Mais do que uma reunião com entidades do movimento negro, acima temos
parte da rede mobilizada pela vice-prefeita em torno dessa pauta. Não é possível
137
afirmar que todas as pessoas e organizações presentes nessa reunião compõem uma
rede de compromissos políticos como, por exemplo, a atuação na prefeitura de
Aracaju. Entretanto, esses grupos estabelecem diversos tipos de relação e
engajamento com a prefeitura. Naquele mesmo ano, em 2017, ocorreria embaixo da
Ponte Construtor João Alves, local onde acontecia a ocupação cultural do Sintonia
Periférica, uma das edições das Pré-conferências de igualdade racial, coordenada
pela rede de organizações citadas acima (ver Imagem 26). Uma parceria semelhante
aconteceu, também em 2017, em um evento realizado pelo Sintonia Periférica e a
prefeitura de Aracaju sobre políticas públicas raciais e de gênero (ver Imagem 27).
O que queremos destacar com essa reunião é como alguns representantes das
ocupações paulatinamente são chamados a realizar determinadas ações em nome da
prefeitura de Aracaju ou governo de Sergipe ou a ocupar determinados cargos
estratégicos. O caso contrário também ocorre, que é quando lideranças das
ocupações culturais buscam parceria com a prefeitura a fim de realizar atividades,
principalmente em torno do campo da educação e assistência social, baseado, por
exemplo, naquilo que alguns interlocutores chamaram de “pedagogia da cidade”. Essa
pedagogia pode ser pensada enquanto uma educação baseada em uma reflexão das
vivências desses sujeitos na cidade. É por meio dela, por exemplo, que os jovens
139
Fonte: https://www.se.gov.br/noticias/inclusao-social/poesia-negra-movimenta-espaco-ze-peixe-em-
primeira-edicao-do-slam-mulungu.
141
Fonte: https://www.se.gov.br/noticias/inclusao-social/poesia-negra-movimenta-espaco-ze-peixe-em-
primeira-edicao-do-slam-mulungu.
Fonte: https://www.se.gov.br/noticias/inclusao-social/poesia-negra-movimenta-espaco-ze-peixe-em-
primeira-edicao-do-slam-mulungu.
142
Esse recorte da notícia completa (ver Imagem 28) nos chama atenção para os
diferentes modos como as diferentes instâncias do Estado incorporaram os coletivos
e movimentos sociais que promoveram ocupações entre os anos de 2013 e 2020 em
Sergipe.
De um lado, as ocupações culturais do interior do estado conquistaram espaços
de atuação nas prefeituras por meio das ideias de “valorização cultural” e “espaços de
sociabilidade e lazer para a juventude”. Este tipo de diálogo entre os coletivos e as
prefeituras localizadas no interior não ocorre coincidentemente, pois, pelo contrário,
está vinculado ao modo como a ocupação cultural é enquadrada por tais grupos, como
demonstramos no capítulo anterior. Do outro lado, os periféricos transformaram um
conjunto de saberes adquiridos a partir de suas experiências de vida em estratégias
de intervenção pedagógica e cultural com grupos juvenis em situação de
vulnerabilidade. Tal fato, que também expressa a diferença de experiências de vida
desses jovens, foram fundamentais para que houvesse caminhos distintos de
aproximação entre esses coletivos e as prefeituras.
143
Após esse percurso, o presente capítulo tem como objetivo analisar as carreiras
militantes das lideranças envolvidas nas mobilizações. Tal investigação nos permitirá
entender três fenômenos. Primeiro, como o contexto de ocupações culturais permitiu
a construção de carreiras militantes iniciadas nesse período. Segundo, a reconversão
de saberes e experiências de ativistas para o tipo de ação coletiva analisada. E
terceiro, como determinadas trajetórias de ativismo vinculadas às ocupações culturais
e a reivindicação do direito à cidade conseguiram acessar outros espaços com base
no acúmulo de prestígio social e político adquirido nessas mobilizações.
No campo da ação coletiva, as biografias dos ativistas têm sido analisadas a
partir de duas abordagens distintas: os estudos de trajetórias e carreiras militantes
(FILLIEULE, 2010, 2015; BECKER, 1960, 2008; DARMON, 2008; OLIVEIRA, 2010;
SILVA, RUSKOWSKI, 2010). Essa tendência, que não é uma particularidade do
campo do ativismo e movimentos sociais, antes consiste nos principais modos de
analisar os relatos e histórias de vida nas Ciências Sociais a partir de perspectivas e
tradições sociológicas diferentes.
O conceito de trajetória, por exemplo, possui uma origem francesa e adquire
forma nos estudos biográficos de Pierre Bourdieu. Para o autor, uma trajetória
consiste em uma sucessão de eventos orientados pela posição objetiva – a exemplo
da classe social à qual pertence – de um indivíduo em um campo. Um campo, por sua
vez, pode ser definido enquanto um espaço social no qual os indivíduos disputam o
seu domínio a partir de estratégias de acúmulo de recursos. Aplicado ao campo do
ativismo, nós podemos dizer que uma trajetória militante se constrói com base na
localização de um determinado ativista no campo dos movimentos sociais. As
possibilidades de ativismo, seguindo a lógica de Bourdieu, estão vinculadas à posição
desse sujeito nos campos – tendo em vista que eles são potencialmente autônomos,
logo os diversos campos também se relacionam – sociais. Um ativista cuja origem
social é de classe baixa possivelmente trilhará, numa abordagem bourdiana, uma
trajetória militante condizente com sua “herança social” que representa sua posição
de classe e, quase que consequentemente, militante. É com base nisso que o autor
define uma história de vida como
os anos de 2013 e 2020 será por meio dos periféricos ou dos secundaristas.
Dificilmente, mas não impossível tendo em vista os fluxos e contatos sociais, seria
com base no circuito dos chamados cosmopolitas.
O segundo aspecto é que essas disposições biográficas, marcadas pelas
experiências de vida desses jovens na cidade, constituem um aspecto central no
modo como esses indivíduos atribuem sentido ao seu ativismo. A plasticidade ou, nos
termos de Tilly (2005, 2006) e Wada (2012), o caráter modular do repertório, como
mencionamos ao longo da pesquisa, possibilitou que pessoas com diversas trajetórias
de ativismo convertessem suas experiências na reivindicação do direito à cidade. O
jovem envolvido com grupos de hip-hop, um militante pelo direito à moradia, os
ativistas pela mobilidade urbana e transporte público do período anterior aos protestos
de junho de 2013 e os estudantes secundaristas, por exemplo, estiveram envolvidos
nas ocupações culturais. Os diferentes espaços de socialização, paralelamente ao
estoque de disposições acumulado em suas experiências de vida, foram fundamentais
para o modo como converteram tais esquemas de pensamento e percepção de mundo
para esse ativismo específico.
Juntamente com esses dois aspectos da experiência de vida que compõe a
carreira militante em sua dimensão subjetiva e que impactam: a) o sentido atribuído
ao ativismo; e b) o modo como essas carreiras são iniciadas; também analisaremos a
dimensão “objetiva” da carreira. Como variáveis objetivas, consideramos
especialmente as vinculações desses atores sociais com espaços sociais a exemplo
de movimentos sociais, coletivos, partidos políticos, cursos universitários, cargos em
prefeituras, etc.
Por fim, o último aspecto a ser objeto de reflexão neste capítulo se trata das
reconversões de uma expertise decorrente do ativismo e prestígio sociopolítico
acumulado para a ocupação de cargos, candidaturas e outros atividades políticas e
profissionais.
Com base nisso, analisamos seis carreiras de ativismos de atores sociais
envolvidos com as ocupações culturais e a reivindicação do direito à cidade entre os
anos de 2013 e 2020 em Sergipe. Para isso, foram realizadas entrevistas
semiestruturais e biográficas com o objetivo de captar os diversos tipos de
envolvimento político – dos mais formais e sustentados em um longo período de tempo
aos mais informais e efêmeros –, os desengajamentos, como também as motivações
e a inserção desses atores no ativismo pelo direito à cidade.
153
de Comunicação Social (Enecos). Nesse momento, ele tem seu primeiro engajamento
político partidário que é com o PSOL, ao qual se filiará no ano seguinte, em 2010.
Ainda em 2009, a Liderança A estabelece contatos de formação política com o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a partir de pautas como a
juventude na cidade e no campo. Desde lá, questionava sobre a necessidade de
mobilizar a pauta da democratização do acesso à terra e à moradia na cidade. Por
fim, tem seu primeiro contato, ao lado de uma importante liderança que iniciará as
ocupações culturais em Aracaju com o Coletivo Debaixo, com os movimentos de
direitos humanos e saraus de São Paulo.
As experiências estabelecidas por essa liderança com os saraus de São Paulo
foram fundamentais para o desenvolvimento de uma performance de ocupação
cultural. Essa performance, como destaquei no capítulo anterior por meio dos
cosmopolitas, está presente nos padrões da poética utilizada, da forma como ocupam
o espaço público e também no modo como enunciam a própria noção de cidade.
A participação em processos de luta pelo direito à moradia nos anos de 2011,
2013 e 2017 também será fundamental para o engajamento futuro desta liderança no
Ocupe-Se Todos Pela Cultura. Desses eventos, o principal deles é a participação dele
no Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o seu protagonismo na fundação
do MTST em Sergipe no ano de 2017. Antes disso, em 2016, ele articularia o Ocupe-
Se Todos Pela Cultura.
Antes mesmo de tentar entender sua inserção e articulação dentro do Ocupe-
Se Todos Pela Cultura, há um outro evento biográfico de ordem acadêmica que é
importante para entender a carreira militante desta liderança.
Durante sua carreira acadêmica na graduação em jornalismo e no mestrado
em Comunicação, ele desenvolveu um conjunto de estudos sobre a ocupação na luta
pelo direito à moradia. No caso da dissertação, projeto de pesquisa que desenvolvia
enquanto articulou o Ocupe-SE, buscou destacar como as ocupações permitem a
emergência de novas formas de sociabilização que intitulou de “contra hegemônicas”
(GONÇALVES, 2017). Nesse período, esteve novamente em São Paulo, entrevistou
a principal liderança do MTST, o ex-candidato à presidência da república Guilherme
Boulos (PSOL), e participou de algumas ocupações em comunidades como Capão
Redondo e Embú das Artes. Nesse momento, acompanhei algumas das suas
reflexões em torno da construção de sua dissertação, tendo em vista que é um antigo
interlocutor e amigo, que foi defendida em 2017.
155
considera como determinante. Para ele: “Naquele dia eu decidi que era isso que eu
queria fazer pelo resto da minha vida. Ali eu decidi que queria fazer política.”
(LIDERANÇA B, 2019).
aspecto de influência indireta, o Sarau Debaixo, para ele, são eventos como o QG
(Quartel General) das Quebradas organizado pela ALPV, e outros a exemplo do
Ocupe a Praça promovido pelo coletivo Contra Corrente, que fornecem um modelo de
ocupação cultural.
No início dos anos 2000 foi para a 2.ª Bienal da União Nacional dos Estudantes
(UNE) e participou do I Encontro da Juventude Negra Periférica do Alto da Vera Cruz
em Belo Horizonte, com o objetivo de articular um plano de ação a ser desenvolvido
nas periferias do país. O resultado dessa experiência é que, em 2001, no período que
essa projeção na segunda década dos anos 2000, foi também candidato a vereador
de Aracaju pelo Partido Comunista do Brasil em 2016.
Esse trânsito que atravessa e conecta espaços como os coletivos culturais, os
partidos políticos, as juventudes partidárias, o movimento hip-hop e o Estado – este
último por meio de secretarias e fundações de cultura – é um movimento que essa
liderança chama de “força centrípeta”. Para isso, ele apresenta uma associação entre
essa mobilidade com o movimento do vinil:
cuja organização, tal qual a Mulheres de Luta, é do Nação Mulher. Parte desses jovens
que organizaram essas ações entre os anos de 2015 e 2018 no bairro Industrial eram
vinculados, em menor ou maior grau, ao Nação Mulher.
Desde os primeiros anos da década de 2000, juntamente com outras lideranças
locais, essa liderança será um ator fundamental em Aracaju e região metropolitana na
construção de redes de ativismo que articulam a União da Juventude Socialista (UJS),
o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e a Nação Hip-Hop. Com isso, não quero e
não é possível afirmar que todos estavam vinculados a todas essas estruturas. A
recusa ao modo de se fazer política partidária presente entre os jovens, principais
atores sociais desses coletivos, é um dos grandes impedimentos a um engajamento
mais institucionalizado.
Em 2018, essa liderança inicia um outro projeto paralelamente à sua atuação
na Fundação Cultural Cidade Aracaju (Funcaju). O nome do projeto é Som de
Quebrada, projeto de ocupação cultural realizado na Orla do Porto Dantas, um novo
equipamento urbano inaugurado em 2018. Desde aquele ano até 2020, quando as
atividades foram interrompidas pela pandemia provocada pela Covid-19, essa
liderança transferiu o Sintonia Periférica que acontecia embaixo da Ponte Aracaju-
Barra para a nova orla. Inclusive, os jovens que iniciaram as ações do Sintonia
Periférica também estiveram nessa nova ação.
De modo semelhante ao Sintonia Periférica e à gramática que acompanha o
modo de ocupar a cidade dos periféricos, para ele grande parte de sua trajetória pode
ser traduzida na busca por um lugar que não seja o “não lugar”. Ao longo da entrevista,
vários fatos são articulados na busca pela explicação dessa experiência de vida, e
que é comum aos demais periféricos, marcada pela ausência de lugar. O “não lugar”
é o sentimento de não pertencimento ao transitar por áreas nobres da cidade, é o não
reconhecimento por suas origens periféricas quando ainda era jovem e é também a
falta de espaços de sociabilidade para os jovens pretos e negros da periferia. Essa
ideia de “não lugar” é definidora, e isso aparece em todos os coletivos e espaços
mencionados nos capítulos anteriores em que nos dedicamos a entender os
enquadramentos em torno da pauta do direito à cidade, uma das motivações para as
ocupações culturais na periferia. Ela não somente diz acerca da experiência desses
jovens com a cidade, mas também com outros aspectos de suas histórias de vida já
mencionados e que caracterizam o modo de inserção do ativismo e a noção de cidade
por eles elaborada.
166
grêmio, disputaria a Uses em seu congresso estadual, em que são reunidos diversos
grêmios estudantis de Sergipe com a pauta “Reconquistar a Uses”.
preenchidas por diversos conteúdos e que derivam, entre outras coisas e no caso
específico das organizações políticas, do perfil dos componentes desse agrupamento.
Sendo assim, ainda que os coletivos estejam impregnados do espírito de seu tempo,
a exemplo da crítica às formas de participação tradicionais e da busca por formas mais
autônomas e menos hierarquizadas, a forma como esses dilemas contemporâneos
são elaborados se distingue entre os grupos.
A característica “estudantil” do perfil de ativismo também influencia diretamente
o modelo de ocupação realizado por coletivos como o Contra Corrente. A dimensão
educativa, em seu sentido escolar, está presente em formas de ação como discutir a
educação e distribuir livros, mas também em uma ética comportamental – não se usa
psicoativos, sejam eles legalizados ou não, nos eventos de ocupação –, são
elementos que caracterizam os coletivos com modelo de ativismo semelhante a este.
Com base nessas “duas estruturas”, para seguir as pistas dadas pela
interlocutora, em 2015 essa liderança apresenta a sua pesquisa no curso de mestrado
em Comunicação intitulada 1ª Conferência Nacional de Comunicação e o mercado de
televisão no Brasil : propostas, interesses, atores e resultados (WESTRUP, 2015). A
orientação da dissertação – ponto importante para entender o trajeto dessa liderança
e de outros intelectuais – é de um professor da Universidade Federal de Sergipe
responsável por orientar trabalhos sobre comunicação e movimentos sociais a partir
de uma chave interpretativa marxista da economia política da comunicação. Além
dela, a Liderança A também teve orientação do mesmo professor (GONÇALVES,
2017).
Em 2017, com a vitória do candidato Edvaldo Nogueira (PCdoB) 26 para a
prefeitura municipal de Aracaju, essa liderança é convidada a participar da Funcaju.
Desde então, passa a integrar o Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPDOV),
situado no Centro Cultural de Aracaju (ver Imagem 15). O Centro fica localizado na
praça General Valadão, região no qual será realizado o Ocupe a Praça.
Inicialmente, a ideia de sua participação no NPDOV era a de criar políticas de
incentivo à produção e divulgação do cinema sergipano. E isso de fato irá acontecer
a partir de exibição de filmes e mostras que serão sediadas no Centro Cultural, que é
um prédio público equipado com sala de cinema e teatro.
É com base nessa trajetória que, em 2017, a liderança E idealiza e inaugura o
projeto Ocupe a Praça. É importante ressaltar que tal projeto também acompanha uma
experiência coletiva que é a emergência e sustentação das ocupações culturais em
Aracaju. E essa liderança também circulava por essas ocupações, estabelecendo um
conjunto de vínculos com os agentes que realizavam essas ações coletivas e que,
posteriormente, serão apoiadores e frequentadores do Ocupe a Praça.
A cidade não tinha acesso a todos os gostos [...]. A cidade não tinha
espaço para os poetas recitarem, para os músicos tocarem com
exceção daqueles que já tinham uma carreira em barzinho e pizzaria.
Não havia espaço para desabafar... aonde descarregar aquela
energia, afinal a arte é uma válvula de escape para artistas... para a
juventude... para todo mundo. Expressar-se é uma necessidade.
Esses [juntamente com a experiência nas mobilizações estudantis]
são os meus primeiros contatos com a política. (Relato de entrevista,
2020).
ações que foram responsáveis pela emergência de um sujeito que, além de artista e
fundador do Sarau da Caixa D’água, também possui um capital político.
atuação em regiões e com públicos vulneráveis. Por fim, é com esse mesmo prestígio
que ele sai como candidato a vereador de Aracaju em 2018 pelo Partido Comunista
do Brasil.
O caso da Liderança B é bem semelhante ao da Liderança C e de outros
entrevistados cuja carreira não foi analisada, mas consta entre o material empírico
coletado ao longo da pesquisa. Aqui há um elemento comum entre os periféricos,
que é a conversão de suas experiências de mobilização e prestígio social e político
acumulado na atuação de áreas como a cultura e, especialmente, a assistência social.
Como já mencionado, isso é explicado pelo know-how adquirido por esses e essas
ativistas com grupos vulneráveis.
Uma segunda forma identificada de emergência de representações políticas é
aquela na qual os movimentos sociais, coletivos e partidos políticos planejam e
realizam ocupações culturais em determinadas comunidades, a fim de adquirir
prestígio e criar novos sujeitos de representação. Se no exemplo da Liderança B, as
representações políticas acumulam prestígio e consecutivamente alcançam cargos
em administrações públicas, essa segunda modalidade ocorre por outro caminho.
Principalmente a partir de 2016, quando os ocupes culturais e a reivindicação
do direito à cidade tornam-se comuns em diversas localidades da capital e interior do
estado, percebe-se um movimento de surgimento de ocupações culturais
impulsionado por agrupamentos políticos. Esse é o caso, por exemplo, do Arte na
Praça, do Ocupe o Farol e, posteriormente, do Slam do Mangue. Todos organizados
pelo Levante Popular da Juventude com o intuito de mobilizar determinados grupos
sociais, principalmente juvenis, mas também de construção de representações
políticas “em suas bases”.
Assim, a ocupação cultural começa a ser uma forma de mobilização que entra
na agenda política dos coletivos, movimentos sociais e partidos políticos. Podemos
representar este processo pela seguinte máxima: se a reivindicação do direito à
cidade era uma forma de ação com alta capacidade de mobilização, todos precisavam
estar representados nessa forma de luta. É com base nisso que alguns grupos, a
exemplo do Levante Popular da Juventude, vão fundar suas ocupações culturais e
adquirir reconhecimento por intermédio de atores mediadores.
Paralelamente a essas duas formas de representação fundamentadas em um
princípio territorial – haja vista a importância dos significados atribuídos nessa forma
de ação coletiva às espacialidades para construir processos de reconhecimento –,
181
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso, desejamos que esta pesquisa contribua para os estudos que
crescem em termos qualitativos e quantitativos sobre as diversas facetas das lutas
pelo direito à cidade em níveis locais e nacionais, como também sirva de memória
para aqueles que, seja na condição de protagonistas ou coadjuvantes, se envolveram
nas ações descritas nessas páginas. Por fim, especificamente para a agenda de
investigações sobre os impactos dos protestos de junho de 2013 nas localidades e a
análise do fenômeno da difusão de uma ação coletiva, que este trabalho tenha
conseguido propor um caminho de pesquisa possível.
189
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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“OCUPE a Praça” terá como tema rap sergipano. Infonet, Cultura, 31 jul. 2017.
Disponível em: https://infonet.com.br/noticias/cultura/ocupe-a-praca-tera-como-tema-
rap-sergipano/. Acesso em: 20 jan. 2020.
OCUPE a Praça vai misturar música eletrônica, Carnaval e forró. Infonet, Cultura,
26 fev. 2019. Disponível em: https://infonet.com.br/noticias/cultura/ocupe-a-praca-
vai-misturar-musica-eletronica-carnaval-e-forro/. Acesso em: 22 jan. 2020.
UMA cidade muda, não muda. Direção: Erna Barros, Aracaju, 2018. (20 min).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xxz6yu5WH5o. Acesso em: 20
dez. 2018.
ANEXOS
199
Anexo A
Ruas cheias são sinônimo de segurança, não ao contrário. A ocupação da cidade por
atividades culturais combate a sensação de insegurança na cidade, fruto da
desigualdade social e potencializado por uma indústria do medo que articula agentes
de Estado à mídia hegemônica. É recorrente a opressão policial com acusação de
transtorno ao bem estar social ou outros argumentos palacianos como aconteceu com
o “SaraudeBaixo”, “Ensaio Aberto”, “Som de calçada” entre outros. O que gera
insegurança na cidade são espaços públicos vazios e abandonados de gente. O
parque dos cajueiros, assim como várias praças na cidade, sofre com o descuido do
poder público ou atuação apenas de uma instituição Polícia Militar ou Guarda
municipal opressora e não educativa, são cenas recorrentes no dia a dia dos espaços
públicos na efetivação da cidade dos de cima, uma cidade militarizada.
Por isso o nosso movimento luta pelo direito a cidade, por políticas públicas
permanentes e democratizantes na cultura e na comunicação em toda a sua
diversidade de trabalhos e temos autonomia e sabedoria para dizer que a RUA é
200
Por fim, exigimos uma Audiência Pública com o prefeito de Aracaju e o governador do
Estado e toda a equipe que julgar necessário com o Movimento Cultural de Sergipe a
ser realizada na até o dia 20 de dezembro do presente ano, com objetivo de discutir
as reivindicações apresentadas em anexo.
A. Cultura e CIDADE
B. Cultura e Comunicação
C. Cultura e Economia/Trabalho
D. Cultura e Democracia.
–---A FUNCAJU
–---SECULT
O projeto de lei que prevê a criação da lei estadual a cultura deve ser encaminhada
à assembleia legislativa.
Anexo B
Programação
06/06/2017
Auditório Museu da Gente Sergipana
08h30 - Credenciamento
09h00 - Abertura do Colóquio
10h00 – Palestra “Tecendo a Cidade”: Prof. Dr. Marcelo Tramontano (IAU/USP)
14h00 - Mesa redonda: Cidade e Interfaces I
Moderador: Prof. Dr. Marcelo Tramontano
Palestrantes: Artistas Urbanos de Aracaju e representante do museu da gente
sergipana. Confirmados: Marcelo Rangel (Instituto Banese), Yuri Alves Vieira (artista
plástico), Allan Jonnes de Souza Araujo (poeta), Débora Arruda (poeta).
07/06/2017
Auditório Museu da Gente Sergipana
10h00 - Palestra “Enobrecimento urbano e intolerância social”: Prof. Dr. Rogério
Proença (DCS/UFS)
10h50 - Palestra “Qual o lugar do centro?”: Prof. Dr. Cesar Henriques Matos e Silva
(DAU/UFS)
Centro Cultural Aracaju/ Praça General Valadão
14h00 - Saída para Oficinas Erráticas
17h00 - Concentração Praça General Valadão: Rodas de Conversa “A cidade que você
imagina”
08/06/2017
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe
08h00 - A Casa de Sergipe recebe e presenteia
Auditório Museu da Gente Sergipana
10h00 - Palestra “A cidade do social”: Profª Drª Maria Cecília Tavares (DAU/UFS)
206
10h50 - Palestra “Mostra de Curtas”: Profª Drª Ana Angela Farias Gomes
(DCOS/UFS)
Centro Cultural Aracaju/ Praça General Valadão
14h00 - Saída para Oficinas Erráticas
16h30 - Visita ao edifício OAB e grupo Burundanga
17h00 - Concentração Praça General Valadão: Rodas de Conversa “A cidade que você
imagina”
09/06/2017
Auditório Museu da Gente Sergipana
10h00 - Palestra Prof. Dr. Igor Guatelli (Universidade Mackenzie - a confirmar)
11h00 - Mesa redonda “Cidade e Interfaces II”
Moderador: Prof. Dr. Márcio da Costa Pereira
Palestrantes: Membros das Instituições Culturais (Circuito Cultural). Confirmados:
Marcelo Rangel (Museu da Gente Sergipana), Giuliana Maria (Escola de Artes
Valdice Teles), Charlie Rodrigues Fonseca (OAB), Nino Karvan (Funcaju)
Centro Cultural Aracaju/ Praça General Valadão
14h00 - Saída para Oficinas Erráticas
17h00 - Concentração Praça General Valadão: Rodas de Conversa “A cidade que você
imagina”
19h00 - Sarau da Praça General Valadão
207
Anexo C
Programação
6 DE NOVEMBRO (QUARTA)
Centro Cultural de Aracaju
Tarde
14:00 hs - Sessão de Abertura: UFS, CAU, OAB, IAB e Funcaju.
15:00 hs – Apresentações 20 X 20
Mediadoras: Marcia Baltazar e Lygia Nunes Carvalho
Noite
19:00 hs - Mesa redonda de abertura
Mediadora: Andrea Depiere. Professora do Departamento de Direito da UFS.
Paulo Renato Vitória, pós-doutorando em Direitos Humanos pela Universidade
Tiradentes (UNIT-SE): Direito à cidade: horizontes e paradoxos desde uma
perspectiva decolonial.
Antonio Dias de Oliveira Neto, advogado, educador popular e militante de Direitos
Humanos: Direito à cidade: sociabilidades invisíveis e (re)existências urbanas.
Maria Cecilia Tavares, professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo UFS:
Direito à cidade de Lefebvre às micropolíticas urbanas.
07 DE NOVEMBRO (QUINTA)
Laranjeiras
Manhã
Precariedade habitacional: experiencias práticas. Como planejar e agir?
Tarde
Mesa redonda (Mediador: Márcio da Costa Pereira)
As apresentações ficarão por conta de Karin Leitão, arquiteta, professora da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), pesquisadora
do Labhab FAU-USP e da assessoria técnica Peabiru, tratando do tema a precariedade
habitacional do Brasil.
08 DE NOVEMBRO (SEXTA)
Manhã
VISITAS TÉCNICAS
1. Conjunto Habitacional José Monteiro Sobral, Povoado Salinas, em Laranjeiras-SE;
e
2. Quilombo da Mussuca, em Laranjeiras-SE
Noite
Centro cultural de Aracaju
Palestra de encerramento ficará com Ricardo Mascarello e Heliana Faria Metting
Rocha (UFBA). E durante a programação do dia terá o lançamento do livro
“Dimensões do intervir em favelas”.
209
Anexo D
Roteiro de Entrevista
___________________________________________________________________
___
Assinatura do Entrevistado
1. Informações Pessoais:
1.1. Nome
completo:______________________________________________________
1.2. Idade:______
1.3. Data de Nascimento:___/___/___
1.4. Bairro e cidade onde mora:
1.5. Sexo/Gênero:
1.6. Autodeclaração étnico-racial:
2. Carreira Militante
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3. A dinâmica do grupo
3.1. Quais foram os motivos que estimularam a criação desse coletivo? Em que ano
o coletivo é criado?
___________________________________________________________________
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___________________________________________________________________
3.3. Por que o nome coletivo? É diferente de um movimento social, partido político,
ONG, etc.? Quais são as diferenças?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
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3.6. O coletivo possui alguma relação com partidos políticos, movimentos sociais ou
outros tipos de organizações?
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3.7. Como você entende a relação entre movimentos sociais (ou outras organizações
sociais) e partidos políticos?
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4.2. Como vocês adotaram a ocupação enquanto modo de contestação? Por que não
protestos ou outras formas?
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4.9. Há alguma pergunta que eu não fiz ou alguma coisa que deseje falar?
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