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Rio de Janeiro
2020
Bianca Ferreira dos Santos
Rio de Janeiro
2020
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A
es CDU 36(81)
___________________________________ _______________
Assinatura Data
Bianca Ferreira dos Santos
Banca Examinadora:
_______________________________________
Prof.ª Dra. Carla Cristina Almeida (Orientadora)
Faculdade de Serviço Social – UERJ
_______________________________________
Prof.ª Dra. Ana Elisabeth Lole dos Santos
Departamento de Serviço Social – PUC-RJ
_______________________________________
Prof. Dr. Renato dos Santos Veloso
Faculdade de Serviço Social – UERJ
Rio de Janeiro
2020
AGRADECIMENTOS
SANTOS, B. F. dos. Social Work and the production of academic and scientific
knowledge: a debate on the phenomenon of violence against a woman through
studies published in the Brazilian Congresses of Social Assistants in the 1990s.
2020. 82 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Serviço
Social, Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.
INTRODUÇÃO.............................................................................................. 11
1 GÊNERO, FEMINISMOS E VIOLÊNCIA ...................................................... 14
1.1 Uma discussão em torno da categoria gênero ........................................ 14
1.2 Feminismos, processo histórico e contexto político .............................. 27
1.3 A agenda feminista sobre a violência contra a mulher ........................... 36
2 SERVIÇO SOCIAL E A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO
CIENTÍFICO: UMA REFLEXÃO SOBRE A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA
CONTRA A MULHER ATRAVÉS DE ESTUDOS SOBRE OS
RESUMOS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES
SOCIAIS NA DÉCADA DE 1990 .................................................................. 42
2.1 Serviço Social, marxismo e feminismos ................................................... 43
2.1 7º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais ...................................... 47
2.3 8º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais ...................................... 52
2.4 9º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais ...................................... 58
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 74
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 78
11
INTRODUÇÃO
A primeira coisa que a gente percebe, nesse papo de racismo é que todo
mundo acha que é natural. Que negro tem mais é que viver na miséria. Por
que? Ora, porque ele tem umas qualidades que não estão com nada:
irresponsabilidade, incapacidade intelectual, criancice, etc. e tal. Daí, é
natural que seja perseguido pela polícia, pois não gosta de trabalho, sabe?
Se não trabalha, é malandro e se é malandro é ladrão. Logo, tem que ser
preso, naturalmente. Menor negro só pode ser pivete ou trombadinha, pois
filho de peixe, peixinho é. Mulher negra, naturalmente, é cozinheira,
faxineira, servente, trocadora de ônibus ou prostituta. Basta a gente ler
jornal, ouvir rádio e ver televisão. Eles não querem nada. Portanto têm mais
é que ser favelados (GONZALEZ, 1983, p. 240).
singularidades do que expressa ser mulher e homem na atualidade, assim como não
se distanciar das determinações culturais e sócio-estruturais que caracterizam a
existência e a ação dos sujeitos.
De forma abrangente, a apreensão de sua característica social coloca as
relações de gênero numa colisão com a consolidação das funções naturais dadas às
mulheres e homens, abalando potências conservadoras persistentes na proteção da
vocação do feminino e do masculino, ou seja, no que se impõe a serem coisas “de
homens” e coisas “de mulheres”.
Desse modo é de grande relevância que se faça uma breve abordagem sobre
a consolidação do ser social (homem ou mulher), sendo assim, a importância de
detalharmos suas descrições enquanto ser social, para posteriormente entrarmos no
debate sobre a consolidação dos gêneros masculinos e femininos.
A elucidação do ser social tendo como base o processo histórico e a
capacitação humana se distingue do fato de apenas existir, isso quer dizer que é na
própria relação com os demais e com a natureza que a particularidade social se
intensifica.
Os fundamentos do método de consolidação do ser social não expõem
princípios que identificam homens e mulheres como seres sociais. Também aqui
devemos destacar que o trabalho não é o único que constitui e gesta o ser social,
embora seja atividade determinante, pelo fato de possibilitar o que difere o homem
da natureza:
A existência de cada elemento da riqueza material não existente na
natureza, sempre teve de ser mediada por uma atividade especial produtiva,
adequada a seu fim, que assimila elementos específicos da natureza a
necessidades humanas específicas. Como criador de valores de uso, como
trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de existência do homem,
independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural
de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, da vida
humana. (MARX, 1985a, p. 50).
o exercido pela mulher. Kergoat (2009, p. 67) evidencia que o termo divisão sexual
do trabalho não pode ser considerado como uma definição “rígida e imutável”.
Salienta que “problematizar em termos de divisão sexual do trabalho não
remete a um pensamento determinista”. A autora reitera que é justamente o oposto,
que há mutações nessa definição, e se os fenômenos da reprodução social vem à
tona, levam a estudar “deslocamentos e rupturas”, assim como a necessidade de
novas definições que indaguem a existência do próprio termo (2009, p. 68).
Para melhor explicar, homens e mulheres na condição humana têm um
conjunto de princípios fundamentais em suas vidas, que se remodelam na evolução
entre si e com o modo reprodutivo e produtivo da vida social. Assim, corroborando
com Lukács, Lessa (2015, p. 27), afirma no que concerne à elucidação do ser social
em sua complexidade.
Identificamos princípios que nos caracterizam como seres humanos e sociais,
de um modo universal. Outros princípios que fazem parte da organização da vida em
sociedade (divisão de tarefas entre homens e mulheres, divisão sexual do trabalho),
a invenção de certos valores que se acentuam em um grupo social e não em outro
(característica de cada ser social em coletividade) e a forma como cada sujeito se
comporta nessa coletividade.
Destaca-se que as relações de gênero e o capitalismo se reproduzem
mutuamente e constituem o conjunto das relações atuais, porém não são
compreensíveis as particularidades da constituição do homem e da mulher fora da
esfera da exploração a qual são subordinados. Há uma opressão capitalista sobre
as desigualdades, como por exemplo de gênero, “uma espécie de oportunismo
sistemático, que permite ao capitalismo aproveitar-se dela”, conforme Wood (2003,
p. 231).
No contexto dessas determinações estão inseridas as discussões acerca da
divisão sexual do trabalho, a respeito dos espaços que homens e mulheres
compartilham nesse meio, a denominação do público e privado nas relações de
gênero. Desse modo, Heilborn (1992, p. 9) corrobora ao reiterar “que a hierarquia
organiza a estrutura binária dos modelos classificatórios de modo a um termo
englobar o outro”.
Para Veloso (2000), gênero não deve ser compreendido como algo isolado,
mas articulado com outras considerações como classe e a questão étnico-racial. O
23
autor ainda relata que esses eixos são importantes, mas devem ser “privilegiados”,
“hierarquizados”, a partir da delimitação do fenômeno a ser esclarecido.
Já o conceito de patriarcado pode ser compreendido no “sentido dado pelas
feministas. É compreendido que a palavra designa a dominação dos homens, quer
sejam eles pais biológicos ou não” (HIRATA et al., 2009, p. 178).
Para Saffioti (1985), são formas de discriminação e subordinação dos homens
sobre as mulheres, que regem a estrutura de organização das sociedades, tendo
essa concepção enraizada no capitalismo.
Para a autora, o capitalismo não seria visto somente como aquele que rege a
estrutura de organização das sociedades pela ótica do capital, já que teria em sua
raiz, um complexo de dominação social, cultural, político, ideológico e econômico,
que traria também, uma utilização diferenciada pelo capital da força de trabalho de
mulheres. Lavinas e Castro (1992) apontam sobre o conceito de patriarcado:
Observa-se que Veloso (2000, p. 01) esclarece que para ter a compreensão
de gênero é importante que tenhamos uma referência para seguir o estudo, mas não
tê-la como um todo. É algo que será um caminho para auxiliar na compreensão
sobre gênero.
Veloso (2000, p. 03) exemplifica que quando se estuda uma situação de
violência contra a mulher é importante que esses eixos (gênero, classe e questão
étnico-racial) sejam bases para o estudo.
Essas relações estão entrelaçadas com outros conjuntos de relações
simultaneamente, conforme o autor cita Saffioti, Almeida e Cançado:
sexuais que diferem o masculino do feminino, mas a forma como são interpretadas e
reconhecidas socialmente e historicamente.
Para Mies (2016, p. 841), tantos os homens quanto as mulheres nessa visão
são definidos pela perspectiva biológica. Sendo definidos “mãos e cabeças” para
exemplificar homens e as mulheres são exemplificadas como “seios e útero”. Aqui a
autora exemplifica o homem como detentor de força, tendo assim, capacidade
necessária para o trabalho adequando-se às necessidades do capitalismo. A mulher
representa de outro lado, a reprodução, o cuidado com a família, diferente da mão
de obra qualificada.
As pesquisadoras feministas ao longo do tempo, buscaram desvelar os
papéis e simbologias sexuais nos diferentes momentos históricos, ponderando o
modo como essas relações se consolidavam. O que suscita uma nova estruturação
histórica, compreendendo assim, o termo gênero como uma categoria de análise
central para a compreensão da realidade social.
Duarte (2019, p.26), expõe os momentos dos feminismos, mas inicialmente
descreve sua concepção sobre feminismos:
Nessa obra a autora elabora uma das frases impactantes dos feminismos: “não se
nasce mulher, se torna mulher”.
Em meio a diversas mudanças políticas, culturais e sociais pelo ocidente
afora, no período da década de 1960, Betty Friedan, publica nos Estados Unidos,
em 1963, um livro que marcou o momento dos feminismos brancos estadunidenses,
“A mística Feminina”. Durante o decênio, nos Estados Unidos e na Europa, o
movimento ressurge com intensidade e as mulheres reiniciaram o debate sobre a
relação de poder entre homens e Mulheres (PINTO, 2010, p.16).
Nessa segunda onda, os feminismos surgiram como um movimento
libertador, que não busca apenas um espaço para as mulheres na sociedade de um
modo geral, mas uma nova forma de convivência, a qual se pratique a liberdade e
autonomia sobre a própria noção de “ser mulher”. As feministas problematizarão a
ideia de uma essência feminina baseada num destino biológico: a maternidade.
Essa visão teve grande relevância no segundo momento dos feminismos, pois
evidenciou uma nova forma de dominação do homem sobre a mulher. As mulheres
se preocupavam em combater a discriminação e a desigualdade entre os sexos.
Essas desigualdades foram identificadas através da junção de problemas sociais e
políticos, os quais impulsionaram as mulheres a serem politizadas e lutarem contra o
poder sexista.
A década de 1960 e 1970 foram períodos antagônicos no Brasil, onde a
Ditadura Civil Militar marcou o país num grande retrocesso político e social, diferente
dos Estados Unidos e a Europa, onde proliferaram movimentos em prol da
liberdade.
Mas foi nesse período, mais especificamente no ano de 1975, no México, que
ocorreu a I Conferência Internacional da Mulher, que foi conduzida pela Organização
das Nações Unidas (ONU), a qual decretou que o decênio seguinte seria o período
da mulher.
No mesmo período no Brasil, ocorreu uma semana de discussões intitulada
“O papel e o comportamento da mulher na realidade brasileira”, com incentivo do
Centro de Informações da ONU (PINTO, 2010, p. 17).
Em 1979, foi lançada em Paris, “A Carta Política”, que foi muito importante ao
descrever a situação em que as mulheres viviam:
ambos os sexos negros, mesmo assim estão num patamar abaixo das mulheres
brancas.
A autora declara que o racismo declina o “status” dos gêneros femininos e
masculinos. Exemplifica que para que as mulheres negras atinjam o mesmo “nível”
das mulheres brancas, será necessário experimentar um “status” surreal de
mudança social, entendendo, em diversos estudos, que estão abaixo das mulheres
brancas.
Carneiro (2019) considera que a diversidade de entendimentos e ações
políticas, levam à confirmação, como citado anteriormente, de que as mulheres
estão se transformando em novos sujeitos políticos, que por um lado pleiteia e
identifica a diversidade e desigualdades entre elas.
Também considera uma citação importante de Lélia Gonzalez, no artigo de
Bairros (2000) ao considerar que as contradições que historicamente marcaram a
trajetória das mulheres negras no interior do movimento feminista e a crítica
elementar da prática política das mulheres negras incorporam nos feminismos
importantes concepções. A autora cita Gonzalez:
Carneiro (2019) declara que a centralidade política das mulheres negras tem
se consolidado através do esforço que estabeleceu transformações na transparência
e mudança política feminista no Brasil.
A partir dos anos 1980, o Brasil inicia o período de redemocratização do país
e uma fase de grande movimentação das mulheres na busca por efetivação de
direitos. Houve grande mobilização de grupos e coletivos, os quais debatiam
diversos temas pelo país: direitos, violência, trabalho, saúde materno-infantil,
identidade sexual e racismo.
A criação do Conselho Nacional da Condição da Mulher (CNDM), em 1984,
foi um marco do feminismo no Brasil, que junto ao Centro Feminista de Estudos e
Assessoria (CFEMEA – Brasília) promoveu uma campanha em nível nacional para
que as mulheres fossem incluídas na nova Constituição. A Carta Magna de 1988 é
considerada a de maior garantia para as mulheres em todo mundo. Entretanto, o
Conselho Nacional da Condição da Mulher (CNDM) perdeu visibilidade nos
governos Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. Posteriormente,
no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi criada a Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres, em caráter ministerial e foi desenvolvido e reformulado o
Conselho, mas de maneira próxima ao que foi idealizado inicialmente (PINTO,
2003).
Segundo Assis, Martins e Ferrari (2018), através do sítio “Gênero e Número”,
a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) foi criada em 2003,
sendo considerada por especialista como um avanço para o movimento de mulheres
no Brasil, mas teve uma redução orçamental entre os anos de 2015 a 2018.
Conforme dados relatados pelo sítio, houve declínio de 68% em ações pela
cidadania para mulheres. As autoras informaram que aumentou a prioridade para
ações direcionadas à violência contra mulheres, com um aumento de 100% de
participação da SPM, no período citado.
Para as autoras, por mais que tenha ocorrido uma variação de orçamento
para políticas para as mulheres no decênio anterior a 2018 e tenha sofrido uma
redução no Governo Dilma Rousseff (2011), nos anos vindouros ocorreu um
aumento contínuo de investimentos da secretaria, com um auge de R$ 62,7 milhões
no ano de 2015. Após o ano de 2016, houve uma redução de ações sendo reduzido
aos R$ 19,9 milhões, até o final de 2018.
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Assis, Martins e Ferrari (2018) descrevem que a SPM foi “rebaixada” por uma
reforma ministerial no final da presidência de Dilma Rousseff/ Temer. Segundo as
autoras, a partir daí a SPM passou por vários Ministérios: das Mulheres, da
Juventude e dos Direitos Humanos, Igualdade Racial, Justiça e Cidadania, pela
Secretaria de Governo da Presidência e pelo Direitos Humanos. Em 2019, passou a
integrar o Ministério das Mulheres, das Famílias e dos Direitos Humanos.
No final do século XX, o movimento feminista sofreu diversas mudanças, uma
delas e de grande destaque foi o processo de profissionalização, através da
concepção de Organizações Não-Governamentais (ONGs), que tem como proposta
ação interventiva junto ao Estado, com o intuito de estabelecer medidas protetoras
para as mulheres e de construir espaços para que as mulheres tenham maior
integração política (PINTO, 2003).
A luta para erradicar a violência contra a mulher teve grande visibilidade na
década de 1980. Já existiam as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
(DEAM), mas foi a Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340, 07/08/2006), que desenvolveu
meios para refrear a violência doméstica e contra a mulher. No ano de 2005 e 2007,
os Planos Nacionais para Mulheres movimentaram milhares de mulheres e
desenvolveram documentos que analisaram a conjuntura da mulher brasileira.
De acordo com Pinto (2003) esta organização tinha o intuito de construir “um
espaço de atendimento de mulheres vítimas de violência e também um espaço de
reflexão e de mudança das condições de vida dessas mulheres” (PINTO, 2003, p.
81). Entretanto, segundo a autora, o SOS Mulher entrou em conflito. Pinto relata que
as feministas entraram em conflito ao perceberem que todos os seus esforços em
intervir sobre as mulheres vítimas de violência, não eram capazes de transformar as
atitudes delas, pois segundo o fluxo de atendimento, as vítimas eram acolhidas pela
organização, mas retornavam ao convívio familiar com os agressores, assim, não
havia continuidade dos atendimentos (PINTO, 2003, p. 81).
A crise que se estruturou no SOS Mulher estava relacionada a realidades
sociais diferentes. As integrantes do SOS Mulher eram politizadas, cultas e tinham
uma realidade financeira diferente das mulheres atendidas por elas. As vítimas
atendidas eram mulheres trabalhadoras, vítimas autênticas do proletariado burguês,
que segundo a autora, as militantes não tinham a mesma empatia por não serem
vítimas de violência como elas. Desse modo, Pinto (2003, p. 81) relata que “as
mulheres que formavam o SOS Mulher não eram as vítimas de violência física. A
vítima, isso sim, a outra, aquela que não era feminista, aquela que não tinha cultura,
aquela que não tinha condições econômicas”.
Decerto, as mulheres atendidas no SOS Mulher se sentiam resguardadas e
fortalecidas para lidar com o agressor, segundo a autora, a organização se tornava
mediadora diante do agressor que temia a retaliação.
Entretanto, as mulheres que procuraram acolhimento no SOS Mulher, apenas
não queriam mais sofrer violência, não tinham o intuito de serem feministas. Essa
decisão contribuiu para o distanciamento entre as feministas que realizavam os
atendimentos e as mulheres vítimas que buscavam auxílio. Porém, a criação da
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temáticos, mas de uma forma geral buscou uma análise qualitativa, pois buscou a
análise dos conteúdos apresentados nos trabalhos.
Mas para pesquisar os resumos dos cadernos de teses ou comunicações dos
CBAS da década de 1990, foi utilizada a técnica de pesquisa denominada o “Estado
da Arte”, que segundo Ferreira (2002) tem por característica um estudo bibliográfico,
que busca mapear e discutir sobre uma determinada produção acadêmica em
diferentes áreas do conhecimento, no nosso caso num mesmo campo disciplinar.
Para a construção dessa dissertação foram utilizados livros, revistas, anais,
resumos, reportagens, sítios eletrônicos, trabalhos acadêmicos, na busca por melhor
alcançar os objetivos apresentados.
O processo de coleta de dados foi dividido em duas partes: a busca por
referência bibliográfica para elencar o debate de gênero, feminismos, violência de
gênero contra a mulher e Serviço Social. A segunda parte foi centrada em pesquisar
os cadernos de teses ou comunicações dos três CBAS ocorridos na década de 1990
(1992, 1995 e 1998).
No período de leitura dos resumos, não foi possível incluir vários documentos,
pois não focavam no debate sobre violência de gênero contra a mulher, embora
apresentassem importantes discussões sobre outros temas como saúde, educação,
previdência social, gênero entre outros. A seguir apresentaremos os resultados da
pesquisa.
A questão da criança e do
_ 11
adolescente
Fonte: Elaboração própria, 2020.
Seguridade e saúde _ 25
Família e sociedade _ 14
Vale destacar o único trabalho sobre Gênero que não integra o eixo Etnia e
Gênero, “Questões de Gênero e Formação Profissional”, de José Augusto Bisneto
(UFRJ) e Renato Veloso (UFRJ). Apresentaremos a seguir o conteúdo do artigo
porque os autores indicam no seu estudo a violência de gênero.
O resumo apresentado por Bisneto e Veloso (1998), que trouxe o título
“Questões de gênero e formação profissional”, abordou a importância do debate de
62
Gonçalo, Rio de Janeiro. Descreve que a unidade foi inaugurada no ano de 1986,
coordenado por uma Assistente Social.
A instituição possui uma equipe multiprofissional composta por Assistentes
Sociais, Psicólogos, Médicos, Enfermeira, Bióloga, Advogados, equipe de apoio
administrativo e acadêmicos de graduação e pós-graduação, que atendem em
horário comercial, mulheres de diversas classes sociais, orientação política e
religiosa que buscam por orientações, assessorias, de forma individual e grupos,
que vivenciavam situações de violência.
A autora descreve que a instituição vai além da exclusividade de
acompanhamento de casos encaminhados pelas Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher na cidade de São Gonçalo. Trata-se de uma instituição que
estando interligada com outras instituições governamentais e não-governamentais
buscava novas formações nas relações entre homens e mulheres. Além do
acompanhamento individual e de grupo com mulheres ofertam suporte às mulheres
por parte de toda equipe multiprofissional abordando temáticas sobre violência de
gênero, sexualidade, Doenças Sexualmente Transmissíveis, planejamento familiar,
prevenção ao câncer, abuso sexual e outros.
Gaspary descreve que até aquela data de 1986, não existia no Estado uma
instituição como o CEOM Zuzu Angel, pois, segundo a autora, não existia instituição
com esse perfil de atendimento. A princípio o atendimento era ofertado para
mulheres vítimas de violência, mas posteriormente foi estendido ao restante da
família e demais envolvidos, sem perder a centralidade nas questões de gênero.
A autora acredita que tanto as pesquisas realizadas como as vindouras,
contribuirão em propostas de políticas públicas para o Conselho Municipal de
Defesa da Mulher, que foi inaugurado no município em 1997.
No período de 10 meses, a autora apresentou um quantitativo de
atendimentos do CEOM – Zuzu Angel realizado no período de dezembro de 1997 a
maio de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Saffioti faz uma crítica relatando que gênero é um conceito que tem utilidade
para o feminismo, pois é capaz de disfarçar o patriarcado:
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