Você está na página 1de 4

A finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade, ou, nas

precisas palavras de Luiz Regis Prado, "o pensamento jurídico moderno reconhece que o escopo imediato e primordial do Direito Penal
radica na proteção de bens jurídicos - essenciais ao indivíduo e à comunidade".
Nilo Batista também aduz que "a missão do direito penal é a proteção de bens jurídicos, através da cominação, aplicação e execução de
pena".

A pena, portanto, é simplesmente o instrumento de coerção de que se vale o Direito enal para a proteção dos bens, valores e interesses
mais significativos da sociedade.

Com o Direito Penal objetiva-se tutelar os bens que, por serem extremamente valiosos, não do ponto de vista econômico, mas sim
político, não podem ser suficientemente protegidos pelos demais ramos do Direito.

Finalidades do Direito Penal

 Proteção de bens jurídicos imprescindíveis à sociedade


o Vida
 Ex: homicídio (art. 121), participação em suicídio (art. 122), infanticídio (art. 123), aborto (vida do feto
– arts. 124, 125 e 126).
o Honra
 Ex: calúnia (art. 138), difamação (art. 139) e injúria (art. 140).
o Patrimônio
 Ex: furto (art. 155), roubo (art. 157) e estelionato (art. 171).
o Liberdade sexual
 Ex: estupro (art. 213).
o Administração pública
 Ex: peculato (art. 312), corrupção passiva (art. 317), corrupção ativa (art. 333) e falso testemunho
(art. 342).
o Pena é coerção para a tutela dos bens jurídicos

5. Expectativas sociais e concretização das finalidades do Direito penal


Há um enlace evidente entre relevância do bem jurídico e eficácia da norma. Quanto mais
próximo da sociedade estiver o valor que o bem jurídico expressa, mais facilmente o
destinatário da

norma penal poderá respeitá-la. Pode-se dizer que ela terá mais legitimidade.

A impossibilidade de assimilar o valor do bem jurídico inquina a motivação conforme a


prescrição normativa e é fator de enfraquecimento da finalidade de proteção de bens jurídicos.
Este processo de motivação opera como um limite desta finalidade, visto que a norma não pode
pretender mais, pois está afastada de qualquer legitimidade a atuação penal que busque a
adesão interna do indivíduo.

O grau de disponibilidade do sujeito a respeito do bem jurídico protegido reflete diretamente


no processo de adesão social da norma, o que é facilitado quando a determinação nela contida é
precedida ou acompanhada de uma função motivadora a ser realizada por outras instâncias de
controle social (incluindo-se as extrajurídicas).

Como observa GONZALO D. FERNÁNDEZ, “o controle normativo-coativo próprio do Direito


penal é um sub-rogado de outros sistemas de controle, ainda informais, que orientam as
decisões valorativas e operam sobre a motivação individual na base da persuasão.”

Por outro lado, voltando-se à gênese das normas, analisando o processo de incriminação
primária, percebe-se, como já dito anteriormente, que elas elegem bens jurídicos e instituem
proibições correlativas, axiologicamente consensuadas pelos setores dominantes da sociedade,
os quais identificam nesses bens jurídicos selecionados pela lei penal autênticos valores
hegemônicos.

A questão relevante, nestes casos, refere-se à conhecida distância entre os bens valorados
penalmente e os destinatários da norma, quando o processo de incriminação primária é
calcado em proibições que traduzem valores oriundos de setores hegemônicos, numericamente
bastante inferiores, da sociedade.

Este intervalo, entretanto, é encurtado por processos de dominação que, a serviço de grupos
privilegiados, implantam nas classes não-hegemônicas valores que não lhes pertencem, mas
são feitos parecer seus. “Remanesce que as classes dominadas acabam sustentando a ordem
estabelecida e dando combate contra os próprios interesses, persuadidas de que estão a
defender a sua causa e a melhor causa.”

O bem jurídico-penal adquire foros de importância sobrelevada quando do estabelecimento da


função de motivação do Direito penal. Quanto mais próximos os valores albergados pela lei
incriminadora estiverem da sociedade, melhor se perfectibilizará a função aludida. A sociedade
precisa sentir como necessário, ou, mais do que isto, imprescindível o bem jurídico que o
Direito penal está pretendendo deixar a salvo. A inexistência de tal sintonia pode ter diferentes
causas. Dentre elas, destaca-se:

1. A conduta criminalizada já não mais atenta contra os valores sociais

2. A consciência acerca da importância do bem jurídico que a lei penal visa a proteger ainda
não foi percebida pela sociedade

No primeiro caso, a descriminalização da conduta impõe-se com urgência.

O Código Penal tipifica inúmeras condutas que, não obstante serem desvaliosas quando da sua
criminalização, hoje, encontram-se descontextualizadas. Pode-se citar, neste sentido, o tipo
penal de escrito ou objeto obsceno (art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua
guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho,
pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos, ou multa), dentre outros.
No concernente à segunda causa apontada, é dever do Estado convocar a atenção dos
jurisdicionados para a importância do bem, buscando, para tanto, recursos fora do sistema
punitivo. É por tal motivo que se encontram vetadas posturas tendentes a agravar
desmesuradamente a pena, querendo, com isto, demonstrar, perante a sociedade, o valor de
determinado bem. O princípio da proporcionalidade da pena, por meio do qual esta deve
corresponder à gravidade do delito, não pode, em hipótese alguma, ceder diante de tal
justificativa.

Quando se trata de cumprir a segunda das finalidades atribuídas ao Direito penal (proteger o
indivíduo das reações sociais que o crime desencadeia), as expectativas sociais também
cumprem destacado papel, eis que tal finalidade somente é alcançada se se consegue
disseminar a ideia de que o Direito penal será aplicado (contrapondo-se à ideia de impunidade)
e se a sociedade a acatar como justa a resposta do Direito penal (contrapondo-se à ideia de leis
“fracas” ou mesmo injustas), a fim de que não se inicie um processo de sedição popular,
bastante prejudicial à estabilização das instâncias de controle, nas quais se inclui o Direito
penal.

2 MOVIMENTO DE LEI E ORDEM

O Movimento de Lei e Ordem é uma política criminal que tem como finalidade transformar conhecimentos empíricos sobre o crime, propondo alternativas e
programas a partir se sua perspectiva. O alemão Ralf Dahrendorf foi um dos criadores deste movimento.

Na década de 70 (setenta) nos Estados Unidos ganhou amplitude até hodiernamente, com a idéia de repressão máxima e alargamento de leis incriminadoras.
“A pena, a prisão, a punição e a penalização de grande quantidade de condutas ilícitas são seus objetivos”[2].

“Um dos princípios do "Movimento de Lei e Ordem" separa a sociedade em dois grupos: o primeiro, composto de pessoas de bem, merecedoras de proteção
legal; o segundo, de homens maus, os delinquentes, aos quais se endereça toda a rudeza e severidade da lei penal. Adotando essas regras, o Projeto
Alternativo alemão de 1966 dizia que a pena criminal era "uma amarga necessidade numa comunidade de seres imperfeitos". É o que está acontecendo no
Brasil. Cristalizou-se o pensamento de que o Direito Penal pode resolver todos os males que afligem os homens bons, exigindo-se a definição de novos delitos
e o agravamento das penas cominadas aos já descritos, tendo como destinatários os homens maus (criminosos). Para tanto, os meios de comunicação
tiveram grande influência (Raul Cervini, Incidencia de la "mass media" en la expansión del control penal en Latinoamérica, Revista Brasileira de Ciências
Criminais, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1994, 5: 36), dando enorme valor aos delitos de maior gravidade, como assaltos, latrocínios, sequestros,
homicídios, estupros, etc. A insistência do noticiário desses crimes criou a síndrome da vitimização. A população passou a crer que a qualquer momento o
cidadão poderia ser vítima de um ataque criminoso, gerando a idéia da urgente necessidade da agravação das penas e da definição de novos tipos penais,
garantindo-lhe a tranquilidade”[3].

Definitivamente, questiona a distinção entre o direito e política sócio-econômica. Vê no direito a exata noção da lei, em que concilia comportamentos
aceitos ou não pela sociedade, não sendo aceitos se aplica de forma máxima e absoluta a lei. Não podendo ser argüido este inadequamento social devido a
política sócio-econômica do governo que gerou essa pobreza, desemprego, etc., posto que nenhum tribunal é competente para abolir tais mazelas, o que irá
implicar é se houve atos ou conjunto de ações que deturparão ou não a lei.

Os adeptos do Movimento de Lei e Ordem vêm neste a única solução para diminuir crimes como os terrorismos, homicídios, torturas, tráfico de drogas, etc.,
é com o endurecimento das penas, e a melhor das penas para eles é a de morte e a prisão perpetua. Pois assim, além de está tirando do meio do convivo
social das “pessoas de bem”, estará também fazendo justiça à vitima.

Essa doutrina sofreu uma ramificação,em meado de 1991, e ficou conhecida também como Tolerância Zero. Originou-se em Nova York, no governo do então
prefeito Rudolph Giuliani, e assim como o Movimento de Lei e Ordem é também político-criminal.

Na obra de Manhattan Institute fica bem claro qual a verdadeira faceta ideológica da Política de Tolerância Zero, em que há uma vulgarização a “teoria da
vidraça quebrada” que se baseou no ditado popular: “quem rouba um ovo, rouba um boi”, essa teoria acredita que com a punição de qualquer conduta
mesmo as mais leves, como a de pular por cima da catraca do ônibus para apresentar exemplos e sensação de autoridade[4].

Na realidade a política de tolerância zero, surgiu não com o intuito primordial de diminuir a criminalidade, mas de refrear a insegurança das classes altas e
médias da sociedade, tirando os “excrementos humanos” de suas vista recriminando severamente delitos menores tais como embriaguez, a jogatina, a
mendicância, segundo Kelling[5].

Com a adoção da política de tolerância zero, que virou febre nos Estados Unidos e na Europa,

“o momento histórico tem reafirmado a gravidade do problema da punição. Atualmente, os EUA contam com uma das maiores taxas de encarceramento do
mundo (680 por 100.000 habitantes). Para se ter uma idéia do que isso representa, comparada com a taxa brasileira, que já é considerada altíssima (168 por
100.000), corresponde a quase sete vezes mais. Em termos de número total de encarcerados o contraste é mais gritante: mais de 2 milhões de pessoas
presas, contra 380.000 no Brasil.”[6]

Loïc Wacquant tem feito inúmeras críticas ao alastramento dessa política, explanando sua preocupação ao chamar essa de “tendência de Ventos Punitivos
vindo do outro lado do Atlântico”[7], que está ameaçando até mesmo a Europa.

Em suma, percebemos que este movimento desabrochou devido classes mais favorecidas da sociedade clamarem por segurança, mas realidade se pretende a
dizimação dos pobres das ruas das grandes cidade, colocando todos atrás das grades, longe da vista da sociedade para que o Estado os tranque e “jogue a
chave fora”. Pois em decorrência de pequenos delitos são adotadas penas de crimes hediondos, para dar exemplo e demonstrar sensação de segurança à
esta pequena parte da sociedade.

Você também pode gostar