Você está na página 1de 3

PRECEITOS MORAIS, LEGAIS, PSICOLÓGICOS E TÉCNICOS

1o Capítulo do Livro - Atire Bem 2.0 (Menezes, Rodrigo 2022)

A sociedade civil é composta por cidadãos regidos por um ordenamento


jurídico vigente e por princípios éticos e morais conduzidos pelos costumes e
hábitos peculiares de cada região e povo. Cada pessoa integrante da
sociedade exerce o papel de olhos fiscalizadores das normas e tem o direito de
fiscalizar as ações do próximo, o que consiste em atos aceitáveis quando
enquadrados nos princípios morais sociais.

A ética está relacionada ao caráter individual de cada um e os seus bons


costumes, assim como suas ações e decisões. O respeito à ética deve ser uma
obediência natural, mesmo que não positivada. A conduta individual deve ser
pautada pela moral, pois comportamentos antiéticos serão condenados pela
sociedade, mesmo que não gere sanções jurídicas, e podem produzir sanções
sociais ou administrativas, como a exclusão de uma pessoa do convívio social
de determinado grupo.

Essas regras éticas individuais regulam o bom convívio social e se encontram


com a moral no momento em que estes comportamentos permitidos se tornam
costumes e hábitos sociais, passando a ter valor social. Esses valores morais,
oriundos do comportamento individual, quando sedimentados numa sociedade,
poderão se tornar lei, e, caso não sejam obedecidos, suscitar sanções. Não
existe lei sem uma ética que lhe sirva de lastro.

Disto isto introdutoriamente, o cidadão que decide ter a posse ou o direito de


portar uma arma de fogo precisa ter ciência de que deverá ter condutas éticas
ao portá-la, admitidas moralmente pela sociedade. Não serão tolerados
comportamentos agressivos e repulsivos dignos de quem não tem a mínima
capacidade de ter uma arma.

Presumindo que a posse e o porte estejam dentro da legalidade, ao citar


preceitos legais no título do capítulo, excedemos a esfera legal de compra,
posse e porte da arma, e passamos a nos preocupar com a conduta
comportamental do indivíduo com sua arma. O cidadão deve saber os
princípios gerais do direito que condicionam a decisão de sacar ou não sua
arma. Princípios como a razoabilidade, proporcionalidade e legalidade devem
estar intrínsecos na mente do indivíduo armado. A razoabilidade deve estar
associada ao subprincípio da adequação e da necessidade, pois não basta que
o ato seja legítimo, é necessário que os meios empregados sejam adequados
ao resultado desejado; deve haver compatibilidade entre o meio escolhido e o
fim, assim como a necessidade do ato.

A proporcionalidade comporta-se como um limitador para determinadas


condutas. O cidadão deve saber que há limites para as suas ações ao buscar
se defender com sua arma, e, caso este limite seja extrapolado, configura-se
excesso e existem sanções previstas para isto. Deve haver proporção entre a
agressão e a reação.

A legalidade é o princípio fundamental que rege a conduta de um indivíduo


armado. Se não for legal, estará tipificado penalmente como crime, e o
indivíduo responderá por isso. Porém, nem todo fato típico é ilícito, pois há
previsão legal de excludentes de ilicitude. A conduta humana formal e material
típica é apenas indício de ilicitude. Neste sentido, citamos Menezes (2020, p.
176):
Desse modo, para ponderar a antijuridicidade de uma conduta, deve-se
analisar se a conduta típica não está permitida por alguma causa de
justificação prevista em direito. Adentra-se, dessa forma, na seara atinente
às causas excludentes de ilicitude, que estão previstas principalmente no
artigo 23 do Código Penal:
Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de
direito.

Conforme visto, a legítima defesa faz parte do ordenamento jurídico brasileiro e


sempre estará em destaque quando houver uma agressão antijurídica contra
interesse próprio ou de terceiros de modo que para impedir seja preciso uma
ação típica por parte do ofendido. Entende-se por agressão o que gera risco de
lesão para determinado bem protegido legalmente, e, como ação defensiva, a
conveniência ofertada para o ofendido de proteger esse bem. Aqui é bom
ressaltar que o bem jurídico mais valioso é a vida.

O ofendido, respeitando os princípios gerais do direito, é quem avaliará, face à


ameaça de agressão atual ou iminente, se tem interesse e meios para se
defender. Considera-se agressão uma conduta humana antijurídica contra um
bem jurídico próprio ou de terceiros. Legítima defesa aparece de forma
antagônica a este ato como uma ação comportamental que visa proteger estes
bens jurídicos atacados, aceitando-se, juridicamente, o uso da própria força.
Não existem limitações legais sobre os instrumentos que serão utilizados para
repelir a agressão, mas deve-se respeitar o princípio da proporcionalidade.

Além desses conhecimentos legais, o cidadão armado também deve possuir


preparo psicológico adequado. Portar arma de fogo significa saber de todas as
consequências do seu uso. Em um combate armado, o atirador deve possuir
uma mente vitoriosa de combatente, treinar sempre à exaustão, mas deve
saber que o inimigo é covarde e utiliza de meios fraudulentos e ardilosos para
conquistar seus objetivos. A vida e a saúde de um ente familiar para um
cidadão de bem tem valor inestimado e sem dúvidas é irreparável, mas, para
um criminoso, isso pouco importa, e a morte de uma criança ou de um idoso
não o comove.

Participar de um tiroteio pode gerar traumas permanentes na vida de uma


pessoa. Decidir por usar uma arma para se defender significa também estar
disposto a morrer e/ou a matar, e nem todos pensam nisso ou procuram se
preparar. Carregar, pelo resto da vida, a culpa da morte de um parente ou de
uma lesão grave em consequência dessa decisão não é algo tão simples.
Assim, seja exigente e sincero consigo mesmo. Antes de decidir comprar uma
arma, questione-se e busque respostas sinceras – a depender, desista ou vá
em frente. Em um mundo cheio de lobos, é sempre bom ter mais um cão
pastor.

E, depois de toda essa análise, o cidadão precisa ter intimidade com armas de
fogo, sentir-se bem manuseando-as. E, para isso, não é necessário comprar
uma para saber; basta ir a um clube de tiro credenciado e iniciar este processo
com aulas assistidas de manuseio básico, partindo para intermediário e
avançado. Da mesma forma, o cidadão deve ser sincero consigo mesmo e
assumir caso não leve jeito com armas ou não possua coordenação motora
suficiente. Não basta gostar e querer; o indivíduo que quer possuir arma de
fogo para defesa é obrigado a dominar sua arma, ter intimidade com a mesma
e sentir-se seguro tecnicamente para portá-la. Ao ingressar nesse mundo das
armas de fogo, aconselha-se manter um ritmo continuado de treinamentos. O
atirador deve ser capaz de executar todas as operações com sua pistola e isso
requer treino e dedicação.

Você também pode gostar