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28/01/2019 Princípio da Ofensividade

jusbrasil.com.br
28 de Janeiro de 2019

Princípio da Ofensividade

Versa o princípio da ofensividade que não há crime sem lesão ou perigo


de lesão a um bem jurídico alheio. Também é conhecido como
princípio da lesividade.

Exemplo: João, querendo matar Manoel, pega uma arma e atira contra
ele. Mas só depois de puxar o gatilho percebe que se trata de uma arma
de brinquedo. João não praticou nenhum crime, pois não lesionou e
nem sequer expôs a perigo de lesão a vida de Manoel (é a chamada
tentativa inidônea).

O princípio da ofensividade orienta tanto ao legislador, que não deve


criminalizar condutas que não ofendam bens jurídicos, quanto o juiz,
que deve verificar no caso concreto se houve lesão relevante ao bem
jurídico tutelado pela norma.

Distinção entre Exclusiva Proteção e Ofensividade

Embora intimamente ligados, deve-se consignar que o princípio da


exclusiva proteção dos bens jurídicos não se confunde com o princípio
da ofensividade.

Isto porque a função principal do princípio da exclusiva proteção de


bens jurídicos é a de delimitar uma forma de Direito penal, o Direito
penal do bem jurídico, daí que não seja tarefa sua proteger a ética, a
moral, os costumes, uma ideologia, uma determinada religião,
estratégias sociais, valores culturais como tais, programas de governo,
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a norma penal em si etc. O Direito penal, em outras palavras, pode e
deve ser conceituado como um conjunto normativo destinado à tutela
de bens jurídicos, isto é, de relações sociais conflitivas valoradas
positivamente na sociedade democrática.

O princípio da ofensividade, por sua vez, nada diz diretamente sobre a


missão ou forma do Direito penal, senão que expressa uma forma de
compreender ou de conceber o delito: o delito como ofensa a um bem
jurídico. E disso deriva, como já afirmamos tantas vezes, a
inadmissibilidade de outras formas de delito (mera desobediência,
simples violação da norma imperativa, etc.).

Destarte, ainda que próximos, não se deve confundir a ofensividade


com a exclusiva proteção dos bens jurídicos. Este, relacionado às
funções do Direito Penal, impede a criminalização de condutas que não
lesem bens jurídicos, enquanto aquele, inserido na teoria do crime,
aponta a maneia pela qual se deve compreender o delito.

Dimensões do Princípio da Ofensividade

Destacam-se três dimensões do princípio da ofensividade:

1) Proibir a incriminação de condutas desviadas que não


afetem qualquer bem jurídico: é a sua principal dimensão. Não há
crime se não houver lesão ou exposição a perigo de um bem jurídico.

Exemplo: Cite-se o caso do “furto de uso”, onde uma pessoa subtraí


coisa alheia móvel para uso momentâneo, sem a intenção de se
apropriar dela. Por não representar uma efetiva ofensa ao patrimônio
alheio (bem jurídico protegido), a conduta daquele que subtrai uma
coisa alheia móvel (um carro ou uma moto, digamos) apenas para uso,
restituindo-a ao seu dono posteriormente, em perfeitas condições, não
configura crime de furto.

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2) Proibir a incriminação de condutas que digam respeito,
tão somente, à esfera pessoal do sujeito: trata-se de uma
decorrência das garantias constitucionais da intimidade e da vida
privada. Não há crime se houver lesão ou exposição a perigo de um
bem jurídico próprio.

Atenção: A prática de prostituição, autolesões e a tentativa de suicídio


não são crimes, porque ocorre uma ofensa a um bem jurídico próprio.

Por outro lado, tradicionalmente considera-se que o uso de drogas


pode ser incriminado porque coloca em risco a saúde pública,
extrapolando assim o âmbito individual, embora essa visão já seja alvo
de fundados questionamentos.

Jurisprudência do STF (RE 635.659): Em 19 de agosto de 2015 o STF


iniciou o julgamento do RE 635.659, com repercussão geral, no qual se
discute a constitucionalidade da criminalização do porte de drogas
para consumo próprio.

Trata-se do caso de um mecânico de 55 anos que foi condenado à


prisão por porte de maconha (três gramas) para consumo próprio em
Diadema, no Estado de São Paulo. A defensoria do Estado, no entanto,
diz que a criminalização desta conduta viola o princípio da intimidade
e da vida privada.

Iniciado o julgamento no STF, advogados de oito instituições admitidas


como amici curiae se manifestaram no sentido da
inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006),
que tipifica como crime o porte de drogas para consumo pessoal.

Um ponto comum das alegações feitas da tribuna foi o de que, como a


opção pelo uso de drogas tem caráter pessoal, não haveria ofensa a
bem jurídico de terceiros e a utilização do direito penal para punir a
conduta seria excessiva.

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Pelo Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), que congrega em
torno de 360 advogados criminalistas, o advogado Augusto de Arruda
Botelho afirmou que a decisão do STF pode ser um ponto de partida
para a revisão da política brasileira de combate às drogas, que
classificou como fracassada. Em seu entendimento, há diversas
medidas terapêuticas e educacionais mais eficientes que o direito penal
para evitar o aumento ou a continuidade do uso de drogas. Segundo
ele, a conduta do usuário de drogas é estranha ao direito penal, pois
afeta unicamente a saúde do cidadão e o ordenamento jurídico
brasileiro não pune a autolesão. “O direito penal tem assuntos mais
importantes a tratar que o consumo de drogas em local privado por um
cidadão”, disse.

O representante do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais


(IBCCRIM), Cristiano Ávila Maronna, argumentou que o Estado não
tem legitimidade para incriminar o porte de drogas para uso pessoal,
pois isso representaria uma violação da intimidade do cidadão.
Segundo ele, com a legislação atual, a pessoa autuada por porte de
pequena quantidade de drogas tem que provar que não pratica o tráfico
e usuários estão sendo condenados como se fossem traficantes. Disse
ainda que deixar de incriminar o usuário não afetará o consumo de
drogas e assegurou que dados de países como Argentina e Uruguai
indicam que a descriminalização não refletiu aumento de usuários.
Observou, ainda, que a penalização é ineficaz, como comprova o
próprio caso concreto, em que a droga foi encontrada em um presídio,
e ressaltou que o padrão de consumo de tabaco foi reduzido sem a
utilização da lei penal.

Representando os amici curiae Conectas Direitos Humanos, Instituto


Sou da Paz, Instituto Terra Trabalho e Cidadania e a Pastoral
Carcerária, o advogado Rafael Carlsson Custódio afirmou que em nove
anos de vigência da Lei 11.343/2006, o percentual de presos
condenados por delitos relacionados a drogas subiu de 11% para 27%.
Disse ainda que 63% das mulheres encarceradas respondem por
eventos relacionados à Lei de Drogas. Em sua opinião, a guerra às
drogas atinge pessoas com um perfil definido: jovens, negros e sem
antecedentes criminais. Segundo ele, na maioria das vezes, essas
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pessoas são presas sozinhas, sem armas, com pequena quantidade de
drogas e sem qualquer evidência de conexão com o tráfico. “O rigor da
Lei de Drogas parte de duas abstrações, a de que chegaremos a uma
sociedade sem consumo de drogas e a da possibilidade de atingir esse
ponto com lei penal”, sustentou.

Em nome da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros


(ABGLT), Rodrigo Melo Mesquita assegurou que a criminalização de
usuários de drogas não se sustenta perante a Constituição Federal, pois
a opção pelo uso ou não é do próprio cidadão, sem afetar a terceiros, o
que tornaria inviável qualquer sanção em decorrência deste
comportamento. De acordo com ele, a Lei de Drogas é
contraproducente em razão do processo de marginalização dos
usuários, muitos dos quais precisam de tratamento de saúde e não
buscam por causa da criminalização e da descriminação que temem
sofrer.

Pela Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos


(ABESUP), a advogada Luciana Boiteux afirmou que a conduta do
usuário não ofende a bens jurídicos de terceiros e que, por este motivo,
não pode ser criminalizada. Segundo ela, o uso de drogas é um hábito
cultural conhecido há milhares de anos, mas que a criminalização do
usuário não existia até o início do século XX. A advogada salientou que
a criminalização do usuário é um mecanismo de exclusão que atinge
minorias, migrantes mexicanos e chineses nos Estados Unidos, onde se
iniciou o proibicionismo, e no Brasil às pessoas escravizadas, pois a
ideia era de que o uso era associado a essa parcela da população. Para a
representante, a criminalização dos usuários também é atentatória à
política pública de proteção à saúde, pois impede o acesso aos serviços
de saúde. “A sociedade é que tem que resolver, não a Justiça”, disse.

Já no dia 20 de agosto, o ministro Gilmar Mendes (relator) apresentou


voto no sentido de dar provimento ao recurso e declarar a
inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006),
que tipifica como crime o porte de drogas para consumo pessoal.

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Segundo o entendimento adotado pelo ministro, a criminalização
estigmatiza o usuário e compromete medidas de prevenção e redução
de danos. Destacou também que se trata de uma punição
desproporcional do usuário, ineficaz no combate às drogas, além de
infligir o direito constitucional à personalidade.

Em seu voto, o relator declarou a inconstitucionalidade do artigo 28 da


Lei de Drogas sem redução de texto, de forma a preservar a aplicação
na esfera administrativa e cível das sanções previstas para o usuário,
como advertência, prestação de serviços à comunidade e
comparecimento em curso educativo. Segundo seu entendimento, os
efeitos não penais das disposições do artigo 28 devem continuar em
vigor como medida de transição, enquanto não se estabelecem novas
regras para a prevenção e combate ao uso de drogas.

O ministro ainda estabeleceu que, nos casos de flagrante por tráfico de


drogas, a fim de dar validade à prisão preventiva, será necessária a
apresentação imediata do autor à presença do juiz. Essa medida seria
necessária a fim de evitar que usuários sejam presos preventivamente
por tráfico sem provas suficientes, atribuindo ao juiz a função de
analisar as circunstâncias do ato e avaliar a configuração da hipótese
de uso ou de tráfico.

O ministro deu provimento ao recurso apresentado pela Defensoria


Pública do Estado de São Paulo e absolveu o réu por atipicidade da
conduta.

O relator destacou que a descriminalização do uso não significa a


legalização ou liberalização da droga, que continua a ser repreendida
por medidas legislativas sem natureza penal, assentando que podem
haver outras medidas adequadas para lidar com o problema. Cita ainda
diversos países que adotaram legislações que optaram por não
criminalizar o uso, havendo ainda casos em que a decisão foi tomada
pela Suprema Corte, como na Colômbia, em 1994, e na Argentina, em
2009.

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Quanto à opção tomada pelo legislador brasileiro na Lei 11.343/2006,
que retirou do ordenamento a previsão da pena de privação de
liberdade, a manutenção do uso como tipo penal acaba tendo ainda
assim efeitos nocivos para o usuário e para a política de drogas.

“Apesar do abrandamento das consequências penais da posse de


drogas para consumo pessoal, a mera previsão da conduta como
infração de natureza penal tem resultado em crescente
estigmatização, neutralizando, com isso, os objetivos
expressamente definidos no sistema nacional de políticas sobre
drogas, em relação a usuários e dependentes, em sintonia com
políticas de redução de danos e prevenção de riscos.”

Para declarar a inconstitucionalidade da previsão do artigo 28 da lei, o


ministro vê que a norma possui vícios de desproporcionalidade, uma
vez que dados indicam que em países em que o consumo foi
descriminalizado, não houve aumento significativo do uso. Isso porque,
entre os fatores que levam o indivíduo ao consumo de drogas, a
criminalização seria um fator de pouca relevância.

O uso de drogas, em seu entendimento, é conduta que coloca em risco


a pessoa do usuário, não cabendo associar a ele o dano coletivo
possivelmente causado à saúde e segurança públicas. “Ainda que o
usuário adquira as drogas mediante o contato com o traficante, não se
pode imputar a ele os malefícios coletivos decorrentes da atividade
ilícita. Esses efeitos estão muito afastados da conduta em si do usuário.
A ligação é excessivamente remota para atribuir a ela efeitos
criminais”, afirma.

Por fim, o ministro entende que a criminalização acaba interferindo no


direito de construção da personalidade dos usuários, principalmente os
jovens, mais sujeitos à rotulação imposta pelo tipo penal, classificados
como criminosos por uma conduta que, se tanto, implica apenas
autolesão.

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“Tenho que a criminalização da posse de drogas para uso pessoal é
inconstitucional, por atingir, em grau máximo e desnecessariamente, o
direito ao desenvolvimento da personalidade em suas várias
manifestações, de forma, portanto, claramente desproporcional”,
afirma.

O voto propôs também que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) seja


acionado para diligenciar, em articulação com Tribunais de Justiça,
Ministério da Justiça, Ministério da Saúde e Conselho Nacional do
Ministério Público os encaminhamentos necessários à aplicação dos
dispositivos do artigo 28 em procedimento cível. Também cabe ao CNJ,
segundo o relator, articular estratégias preventivas e de recuperação de
usuários com os serviços de prevenção. O CNJ também deve, em seis
meses, regulamentar, a apresentação imediata do preso em flagrante
por tráfico ao juiz, e apresentar relatórios semestrais com providências
tomadas e resultados obtidos.

Em seguida, o Min. Edson Fachin pediu vistas dos autos, suspendendo


assim o julgamento, que foi retomado no dia 10 de setembro de 2015.

O ministro propôs a declaração de inconstitucionalidade do artigo 28


da Lei 11.343/2006, que tipifica a aquisição, guarda ou porte de drogas
para consumo pessoal, exclusivamente em relação à cannabis sativa
(maconha). Embora entenda caber ao Poder Legislativo estabelecer
parâmetros para distinguir traficantes de usuários, segundo as
quantidades portadas, o ministro considera ser dever do Judiciário
atuar até que haja lei preenchendo o vácuo normativo.

O ministro observou que restringiu seu voto à droga objeto do recurso


(maconha), pois considera que, em temas de natureza penal, o melhor
caminho é o da autocontenção do Tribunal, pois a atuação fora dos
limites circunstanciais do caso pode conduzir a intervenções judiciais
desproporcionais, seja sob o ponto de vista do regime das liberdades,
seja sob o ponto de vista da proteção social insuficiente.

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“Assim sendo, em virtude da complexidade inerente ao problema
jurídico que está sob a análise do Supremo Tribunal Federal no
presente recurso extraordinário, propõe-se estrita observância às
balizas fáticas e jurídicas do caso concreto para a atuação da Corte em
seara tão sensível: a definição sobre a constitucionalidade, ou não, da
criminalização do porte unicamente de maconha para uso próprio em
face de direitos fundamentais como a liberdade, autonomia e
privacidade”, salientou.

O ministro Facchin propôs que o STF declare como atribuição


legislativa o estabelecimento de quantidades mínimas que sirvam de
parâmetro para diferenciar usuário e traficante. Votou, ainda, para que
se determine aos órgãos do Poder Executivo responsáveis pela
elaboração e a execução de políticas públicas sobre drogas (Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária e Secretaria Nacional de
Políticas sobre Drogas) para que emitam, em até 90 dias, parâmetros
provisórios de quantidade para diferenciar (presunção relativa)
usuários e traficantes. Esses critérios teriam validade até a
promulgação de lei.

“Se o legislador já editou lei para tipificar como crime o tráfico de


drogas, compete ao Poder Legislativo definir os parâmetros objetivos
de natureza e quantidade de droga que devem ser levados em conta
para diferenciação, a priori, entre uso e tráfico de maconha”, afirmou.

No caso concreto do RE, o ministro votou pela absolvição do recorrente


por atipicidade da conduta, nos termos do artigo 386, inciso III, do
Código de Processo Penal.

Em seguida, o Min. Luís Roberto Barroso apresentou voto onde


defendeu que o porte de 25 gramas de maconha ou a plantação de até
seis plantas fêmeas da espécie seriam o parâmetro para diferenciar
consumo (ou produção própria) e tráfico de maconha, que no entender
do ministro deve ser descriminalizado.

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Essas quantidades, contudo, não são parâmetros rígidos, sendo que o
juiz, ao analisar casos concretos nas chamadas audiências de custódia,
pode considerar traficante alguém que porte menos que 25 gramas, ou
usuário alguém que leve consigo mais do que isso, frisou o ministro.
Nesse caso, contudo, o magistrado de primeira instância terá que
fundamentar com maior profundidade as razões de seu
convencimento. Esses parâmetros, segundo o ministro, devem valer até
que o Congresso Nacional se manifeste sobre a matéria.

Cumpre frisar que o ministro se manifestou exclusivamente sobre o uso


de maconha, não fazendo juízo de valor sobre outras drogas.

Disse, ainda, que seu posicionamento pela descriminalização não se


direciona a incentivar o consumo de drogas. Para o ministro, os focos
do debate devem ser as melhores formas de desincentivar o consumo,
tratar os dependentes e combater o tráfico.

A descriminalização do uso da maconha deve ser um passo inicial para


testar se essa política pública é melhor do que a “guerra perdida”
contra as drogas, salientou.

O ministro disse entender que a criminalização do uso de maconha


para uso pessoal fere o direito à privacidade. Esse direito, frisou, é a
esfera do cidadão imune à interferência de terceiros, inclusive do
Estado. Ele considerou, ainda, que a criminalização é uma clara
violação à autonomia individual.

Mesmo lembrando que a liberdade, apesar de valor essencial nas


sociedades democráticas, não é absoluta, o ministro explicou que essa
liberdade tem um núcleo essencial e intangível, que é autonomia do
indivíduo. No entender do ministro, o Estado não pode interferir nessa
autonomia individual.

Em seu voto, o ministro afirmou que a criminalização só aumentou o


consumo de drogas, ao passo que o cigarro, que é lícito mas alvo de
campanhas públicas, apresentou queda no consumo. Além disso, o
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ministro citou o aumento da população carcerária. Segundo Barroso,
em 2006 os presos por drogas representavam 9% da população
carcerária. Em 2013 esse número subiu para 27%. Esses presos entram
primários no sistema prisional e saem cooptados pelas facções,
retroalimentando a violência no país. A atual política, assim, tem um
alto custo humano, social e financeiro que reverte para a sociedade,
resumiu o ministro, lembrando que cada preso custa R$ 2 mil por mês
ao Estado. Os custos que a política repressiva traz para a sociedade são
muito maiores do que os benefícios que se colhem.

O ministro citou as experiências de descriminalização em outros


países. Portugal, por exemplo, descriminalizou o porte de até 25
gramas de maconha. Além de o consumo não ter disparado, como se
temia, houve uma redução no número de jovens que consomem a
droga, além de aumento no número de dependentes em tratamento e
redução de infecção de usuários de drogas pelo vírus HIV, “um
conjunto de resultados positivos testados ao longo de mais de uma
década”.

Na Espanha também houve a descriminalização, lembrou o ministro.


Lá, portar até 100 gramas não é crime. Colômbia e Argentina também
descriminalizaram a maconha. E o vizinho Uruguai, lembrou Barroso,
foi o primeiro país a descriminalizar a produção e comercialização.

Na América do Sul, disse Barroso, apenas Brasil, Suriname e as


Guianas criminalizam a maconha. Além das questões pragmáticas e
jurídicas, frisou o ministro, o mundo revela uma tendência no sentido
de que não é mediante a repressão que se conseguirá algum avanço no
combate às drogas.

No caso concreto analisado no Recurso Extraodinário, o ministro deu


provimento ao pedido para absolver o recorrente.

Em seguida, o ministro Gilmar Mendes ajustou seu voto original para


declarar a inconstitucionalidade, com redução de texto, da parte do
artigo 28 que prevê a pena de prestação de serviços à comunidade, por
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se tratar de pena restritiva de direitos.

Logo após, pedido de vista do ministro Teori Zavascki suspendeu o


julgamento.

3) Proibir a incriminação de condutas desviadas que afetem


minimamente o bem jurídico tutelado (princípio da
insignificância): não há crime quando a lesão ao bem jurídico
tutelado é insignificante. Esta dimensão trata dos chamados “crimes de
bagatela”. A conduta do agente, em seu aspecto exterior (formal),
corresponde a uma ação ou omissão criminosa. Contudo, em seu
aspecto interior (material), ela gera uma lesão insignificante ao bem
jurídico tutelado, e assim se considera como não realizado o crime.

Atenção: No que concerne à origem do Princípio da Insignificância,


entendimento amplamente majoritário afirma que este princípio
originou-se do Direito Romano, especificamente na fórmula minimis
non curat praetor, segundo a qual o magistrado deve desprezar os
casos insignificantes para cuidar das questões realmente inadiáveis.

De acordo, pois, com o brocardo romano, não é função do pretor cuidar


dos delitos bagatelares, pois só deve ocupar-se das lesões significantes,
as quais são capazes de comprometer a paz e a ordem da sociedade.

Modenamente, o Princípio da Insignificância foi reintroduzido na


doutrina penal, no ano de 1964, por meio de Claus Roxin, Catedrático
de Direito Penal da Ludwig-Maximilians-Universität München
(Munique, Alemanha), que o formulou como base de validez geral para
a determinação do injusto.

4) Proibir a incriminação de uma atitude interna (princípio da


transcentralidade ou alteridade): pensamentos, por mais reprováveis
que possam ser, não representam condutas que atingem ou coloquem
em perigo bens jurídicos. Por isso o Direito Penal somente se interessa
por uma atitude interna quando esta excede o âmbito do próprio autor.

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Atenção: A exteriorização de pensamentos pode representar uma
efetiva ofensa a um bem jurídico alheio, notadamente à honra, e por
isso pode configurar a prática de crimes como injuria, calúnia ou
difamação, por exemplo.

5) Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais


(princípio da exteriorização): o direito não pode punir formas de
existência e suas expressões. Isto porque o Estado só pode incriminar
condutas humanas voluntárias, ou seja, ninguém pode ser punido pelo
que é, e sim pelo que fez. Por isso também é chamado de Princípio da
Materialização do Fato.

Em outras palavras, apenas se admite o chamado Direito Penal do


Fato, de modo que pune-se uma pessoa pelo que ela fez.

Por outro lado, é rechaçado por completo o chamado Direito Penal do


Autor, que significa punir uma pessoa pelo que ela é. Dessa forma,
devem ser repudiadas incriminações baseadas apenas e tão somente
em sua origem, sua cor, sua raça, sua etnia, suas opções políticas,
sexuais ou religiosas, seus estados psíquicos ou suas condições físicas,
por exemplo.

Atenção: Não se considera então legítima a incriminação da


homosexualidade. Mas isso não impede que atos de preconceito contra
a pessoa em razão da homosexualidade possam ser incriminados
(homofobia).

Aplicação Prática do Princípio da Insignificância

Para o princípio da insignificância ser utilizado, faz-se necessária a


presença de certos requisitos, tais como: (a) a mínima ofensividade da
conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a
inexpressividade da lesão jurídica provocada, conforme restou fixado
pelo STF em 2009 no julgamento do HC 94.439.

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Sua aplicação decorre no sentido de que o direito penal não se deve
ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor – por não
importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes – não
represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem
jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.

Note-se, contudo, que ele não se aplica a crimes cometidos com


violência ou grave ameaça à pessoa.

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Jurisprudência do STF (HC 111.017): HABEAS CORPUS.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PENAL. TIPICIDADE PENAL.
JUSTIÇA MATERIAL. JUÍZO DE ADEQUAÇÃO DE CONDUTAS
FORMALMENTE CRIMINOSAS, PORÉM MATERIALMENTE
INSIGNIFICANTES. SIGNIFICÂNCIA PENAL. CONCEITO
CONSTITUCIONAL. DIRETRIZES DE APLICABILIDADE DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL. ORDEM DENEGADA.

1. (...).

2. A norma legal que descreve o delito e comina a respectiva pena


atua por modo necessariamente binário, no sentido de que, se, por
um lado, consubstancia o poder estatal de interferência na
liberdade individual, também se traduz na garantia de que os
eventuais arroubos legislativos de irrazoabilidade e
desproporcionalidade se expõem a controle jurisdicional. Donde a
política criminal-legislativa do Estado sempre comportar mediação
judicial, inclusive quanto ao chamado “crime de bagatela” ou
“postulado da insignificância penal” da conduta desse ou daquele
agente. (...).

3. Reiteradas vezes o Supremo Tribunal Federal debateu o tema da


insignificância penal. Oportunidades em que me posicionei pelo
reconhecimento da insignificância penal como expressão de um
necessário juízo de razoabilidade e proporcionalidade de condutas
que, embora formalmente encaixadas no molde legal-punitivo,
materialmente escapam desse encaixe. E escapam desse molde
simplesmente formal, por exigência mesma da própria justiça
material enquanto valor ou bem coletivo que a nossa Constituição
Federal prestigia desde o seu principiológico preâmbulo. Justiça
como valor, a se concretizar mediante uma certa dosagem de
razoabilidade e proporcionalidade na concretização dos valores da
liberdade, igualdade, segurança, bem-estar, desenvolvimento, etc.
Com o que ela, justiça, somente se realiza na medida em que os
outros valores positivos se realizem por um modo peculiarmente
razoável e proporcional. Equivale a dizer: a justiça não tem como
se incorporar, sozinha, à concreta situação das protagonizações
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humanas, exatamente por ser ela a própria resultante de uma certa
cota de razoabilidade e proporcionalidade na historicização de
valores positivos (os mencionados princípios da liberdade, da
igualdade, da segurança, bem-estar, desenvolvimento, etc.). Donde
a compreensão de que falar do valor da justiça é falar dos outros
valores que dela venham a se impregnar por se dotarem de um
certo quantum de ponderabilidade, se por este último termo
(ponderabilidade) englobarmos a razoabilidade e a
proporcionalidade no seu processo de concreta incidência. Assim
como falar dos outros valores é reconhecê-los como justos na
medida em que permeados desse efetivo quantum de
ponderabilidade (mescla de razoabilidade e proporcionalidade,
torna-se a dizer). Tudo enlaçado por um modo sinérgico, no sentido
de que o juízo de ponderabilidade implica o mais harmonioso
emprego do pensamento e do sentimento do julgador na avaliação
da conduta do agente em face do seu subjetivado histórico de vida e
da objetividade da sua concreta conduta alegadamente delitiva.

4. É nessa perspectiva de concreção do valor da justiça que se pode


compreender o tema da insignificância penal como um princípio
implícito de direito constitucional e, simultaneamente, de direito
criminal. Pelo que é possível extrair do ordenamento jurídico
brasileiro a premissa de que toda conduta penalmente típica só é
penalmente típica porque significante, de alguma forma, para a
sociedade e a própria vítima. É falar: em tema de política criminal,
a Constituição Federal pressupõe lesão significante a interesses e
valores (os chamados “bens jurídicos”) por ela avaliados como
dignos de proteção normativa. Daí por que ela, Constituição,
explicitamente trabalha com dois extremos em matéria de política
criminal: os crimes de máximo potencial ofensivo (entre os quais os
chamados delitos hediondos e os que lhe sejam equiparados, de
parelha com os crimes de natureza jurídica imprescritível) e as
infrações de pequeno potencial ofensivo (inciso I do art. 98 da CF).
Mesmo remetendo à conformação legislativa ordinária a descrição
dos crimes hediondos, bem como daqueles de pequeno potencial de
ofensividade.

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5. Ao prever, por exemplo, a categoria de infrações de menor
potencial ofensivo (inciso I do art. 98), a Constituição Federal
logicamente nega a significância penal de tudo que ficar aquém
desse potencial, de logo rotulado de “menor”; ou seja, quando a
Constituição Federal concebe a categoria das infrações de menor
potencial ofensivo, parece mesmo que o faz na perspectiva de uma
conduta atenuadamente danosa para a vítima e a sociedade, é
certo, mas ainda assim em grau suficiente de lesividade para
justificar uma reação estatal punitiva. Pelo que estabelece um
vínculo operacional direto entre o efetivo dano ao bem jurídico
tutelado, por menor que seja, e a necessidade de uma resposta
punitiva do Estado.

6. A contrario sensu, o dano que subjaz à categoria da


insignificância penal não caracteriza, materialmente, sequer lesão
de pequena monta; ou seja, trata-se de ofensividade factualmente
nula, porquanto abaixo até mesmo da concepção constitucional de
dano menor. Donde sua categorização como penalmente atípica.

7. O desafio do intérprete da norma é encontrar aqueles vetores que


levem ao juízo da não-significância penal da conduta. Vetores que
decolam de uma leitura pluridimensional da figura da adequação
típica, principiando pelo ângulo do agente; quero dizer: da
perspectiva do agente, a conduta penalmente insignificante deve
revelar muito mais uma extrema carência material do que uma
firme intenção e menos ainda toda uma crônica de vida delituosa.
Pelo que o reconhecimento da irrelevância penal da ação ou
omissão formalmente delituosa passa a depender de uma
ambiência factual reveladora da extrema vulnerabilidade social do
suposto autor do fato. Até porque, sendo o indivíduo uma realidade
única ou insimilar, irrepetível mesmo na sua condição de
microcosmo ou de um universo à parte, todo instituto de direito
penal que se lhe aplique há de exibir o timbre da personalização.
Logo, tudo tem que ser personalizado na concreta aplicação do
direito constitucional-penal (sobretudo os institutos da pena e da

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prisão), pois é a própria Constituição que se deseja assim
orteguianamente aplicada (na linha do “Eu sou eu e as minhas
circunstâncias”, como luminosamente enunciou Ortega Y Gasset).

8. Já do ângulo da vítima, o exame da relevância ou irrelevância


penal deve atentar para o seu peculiarmente reduzido sentimento
de perda por efeito da conduta do agente, a ponto de não
experimentar revoltante sensação de impunidade ante a não-
incidência da norma penal que, a princípio, lhe favorecia. Espécie
da mais consentida desreificação ou auto-apeamento de situação
jurídico-subjetiva. Sem que estejamos a incluir nesse vetor aquelas
situações atinentes aos bens de valoração apenas no psiquismo da
vítima, porquanto de valor tão-somente sentimental (uma bijuteria
que pertenceu a importante familiar falecido ou muito admirado,
por exemplo).

9. Sob o prisma dos meios e modos de realização da conduta, não se


pode reconhecer como irrelevante a ação que se manifesta
mediante o emprego de violência ou ameaça à integridade física, ou
moral, tanto da vítima quanto de terceiros. É dizer: os meios e
modos de execução da ação formalmente delitiva não podem
consistir em atentado à vida, à saúde, à integridade física, nem à
dignidade de qualquer pessoa. Reversamente, sinaliza infração de
bagatela ou penalmente insignificante aquela que, além de não se
fazer acompanhar do modus procedendi que estamos a denunciar
como intolerável, revela um atabalhoamento ou amadorismo tal na
sua execução que antecipa a sua própria frustração; isto é, já
antecipa a sua marcante propensão para a forma não mais que
tentada de infração penal, porque, no fundo, ditadas por um
impulso tão episódico quanto revelador de extrema carência
econômica do agente.

10. Do ângulo da repressão estatal, a aplicação do princípio da


não-significância penal é de se dar num contexto empírico de óbvia
desnecessidade do poder punitivo do Estado. Situações em que a
imposição de uma pena se auto-evidencie como tão despropositada

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que até mesmo a pena mínima de privação liberdade, ou sua
conversão em restritiva de direitos, já significa um desbordamento
de qualquer idéia de proporcionalidade.

11. Por fim, e invertendo um pouco a visão até hoje prevalecente na


doutrina e na jurisprudência brasileiras acerca do furto e demais
crimes contra o patrimônio, o reconhecimento da atipicidade
material da conduta há de levar em consideração o preço ou a
expressão financeira do objeto do delito. Ou seja: o objeto material
dos delitos patrimoniais é de ser conversível em pecúnia, e, nessa
medida, apto a provocar efetivo desfalque ou redução do
patrimônio da vítima. Reversamente há de propiciar algum
enriquecimento do agente. Enriquecimento sem causa, lógico, apto
à estimulação de recidiva e à formação do juízo malsão de que “o
crime compensa”. É dizer, o objeto material do delito há de exibir
algum conteúdo econômico, seja para efetivamente desfalcar ou
reduzir o patrimônio da vítima, seja para ampliar o acervo de bens
do agente.

12. As presentes diretivas de aplicabilidade do princípio da


insignificância penal não são mais que diretivas mesmas ou vetores
de ponderabilidade. Logo, admitem acréscimos, supressões e
adaptações ante o caso concreto, como se expõe até mesmo à
exclusão, nesses mesmos casos empíricos (...).

13. No caso, nada obstante a reduzida expressividade financeira


dos bens objeto da tentativa de furto, o reconhecimento da
insignificância material da conduta increpada ao paciente servia
muito mais como um nocivo estímulo ao cometimento de novos
delitos do que propriamente uma injustificada mobilização do
Poder Judiciário.

14. Ordem denegada.

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Em termos práticos, a aplicabilidade do princípio da insignificância é
invocada frequentemente em crimes patrimoniais, mais
especificamente em pequenos furtos. Repita-se que nos crimes
praticados com violência ou grave ameaça, como roubo e extorsão,
mesmo que sejam de natureza patrimonial, o princípio em tela não
comporta aplicação. Mas quanto aos pequenos furtos surgiu intensa
discussão sobre a conveniência de se afastar o caráter criminoso da
conduta em casos de reincidência ou de existência de alguma
qualificadora no crime.

Em 2015 o STF concluiu o julgamento de três Habeas Corpus onde essa


questão foi dirimida. Uma concepção mais conservadora firmou-se
vencedora. Seguindo o voto proferido pelo Min. Teori Zavascki, a
maioria do STF guiou-se pelos seguintes fundamentos: (a) embora se
possa afirmar que a vítima pode recorrer à Justiça para buscar a
reparação civil, exatamente pelo baixo valor dos objetos furtados e das
condições dos autores, essa possibilidade seria meramente formal; (b)
adotar o princípio da insignificância indiscriminadamente em casos de
pequenos furtos, com qualificação ou reincidência, seria tornar a
conduta penalmente lícita e também imune a qualquer espécie de
repressão estatal; (c) é inegável que a conduta – cometimento de
pequenos furtos – não é socialmente aceita e que, ante a inação do
Estado, a sociedade pode começar a se proteger e buscar fazer “justiça
com as próprias mãos”, de modo que, a pretexto de proteger o agente, a
imunização da conduta acabará deixando-o exposto a situação de
justiça privada, com consequências imprevisíveis e provavelmente mais
graves. Desta forma, o STF firmou o entendimento de que o princípio
da insignificância não se aplica a pequenos furtos em casos de
reincidência ou de existência de alguma qualificadora no crime. Nada
obstante, o STF fixou que mesmo afastando-se a insignificância, o
encarceramento deve ser fixado em regime inicial aberto domiciliar,
substituindo-se, como regra, a pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos, mesmo em caso de réu reincidente, admitida a
regressão em caso de inobservância das condições impostas. Isto
porque, para o STF, a utilização da pena de reclusão como regra
representa sanção desproporcional, excessiva e geradora de malefícios
superiores aos benefícios.
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28/01/2019 Princípio da Ofensividade
Jurisprudência do STF (HC 123.108): O HC 123.108, que serviu de
parâmetro para o julgamento, se refere a condenado a um ano de
reclusão, com regime inicial semiaberto, e ao pagamento de 10 dias-
multa pelo furto de uma sandália de borracha no valor de R$ 16,00.
Apesar do pequeno valor e da devolução do objeto, o Tribunal negou o
HC porque o réu era reincidente. Em benefício do réu o STF apenas
determinou que o regime inicial de cumprimento da pena fosse o
aberto.

Jurisprudência do STF (HC 123.734):No HC 123.734, o réu foi


condenado à pena de um ano de reclusão, em regime aberto, e ao
pagamento de cinco dias-multa, pela tentativa de furto de 15 bombons
artesanais no valor de R$ 30,00. O princípio não foi aplicado porque se
tratava de furto qualificado, com escalada e rompimento de obstáculos.
A pena privativa de liberdade foi substituída por prestação de serviços
à comunidade ou à entidade pública.

Jurisprudência do STF (HC 123.533):Já no HC 123.533, a ré foi


condenada a dois anos de reclusão – sem substituição por restritiva de
direitos – pelo furto de dois sabonetes líquidos íntimos, no valor de R$
48,00. O princípio da insignificância não foi aplicado porque o furto foi
qualificado por ter havido concurso de agentes – o marido fez barreira
para impedir a visão. Em benefício da ré o STF apenas determinou que
o regime inicial de cumprimento da pena fosse o aberto.

De se notar, contudo, que também em outros crimes (além de


pequenos furtos) é possível a aplicação do princípio da insignificância,
como por exemplo nos crimes de descaminho e de sonegação fiscal.

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Jurisprudência do STF (HC 120.617): HABEAS CORPUS. DIREITO
PENAL. DESCAMINHO. VALOR INFERIOR AO ESTIPULADO
PELO ART. 20 DA LEI 10.522/2002. PORTARIAS 75 E 130/2012
DO MINISTÉRIO DA FAZENDA. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. A
pertinência do princípio da insignificância deve ser avaliada
considerando-se todos os aspectos relevantes da conduta imputada.
2. Para crimes de descaminho, considera-se, para a avaliação da
insignificância, o patamar de R$ 20.000,00, previsto no art 20 da
Lei n.º 10.522/2002, atualizado pelas Portarias 75 e 130/2012 do
Ministério da Fazenda. Precedentes. 3. Na espécie, aplica-se o
princípio da insignificância, pois o descaminho envolveu elisão de
tributos federais que perfazem quantia inferior ao previsto no
referido diploma legal. 4. Ordem concedida.

Atenção: A aplicação do princípio da insignificância aos crimes de


descaminho e de sonegação fiscal considera o valor adotado como
limite mínimo para cobrança judicial de dívidas pela Fazenda Nacional.
Assim, pela Lei 10.522/02, considerou-se como viável a cobrança
judicial apenas das dívidas superiores a R$ 2.500,00. O valor foi
atualizado em 2004 para R$ 10.000,00 (Lei 11.033/04) e novamente
em 2012 para o patamar atual de R$ 20.000,00 (Portaria MF 75/12).

Cuidado: A aplicação do princípio da insignificância aos crimes de


descaminho e de sonegação fiscal é alvo de severas críticas: (a) porque
na verdade não existe perdão da dívida inferior ao limite mínimo,
apenas a utilização de outros métodos (extra-judiciais) de cobrança; (b)
porque nos casos de furto, mesmo quando recuperado o bem subtraído
ou quando se verifica a concordância da vítima em não ver o autor
punido, a jurisprudência não adere à tese de insignificância, o que
significa faz com que sejam violados os princípios da isonomia e da
proporcionalidade; (c) da mesma forma, nos crimes patrimoniais não
se cogita da aplicação princípio da insignificância quando o valor
subtraído é de R$ 20.000,00; (d) porque o bem jurídico tutelado,
nestes crimes, não é patrimônio privado, mas sim o patrimônio
público, a regulação da atividade privada e até mesmo a moralidade
administrativa.
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28/01/2019 Princípio da Ofensividade
Nos crimes ambientais há muita controvérsia sobre a possibilidade de
aplicação do princípio da insignificância, em razão do bem jurídico que
é tutelado.

Jurisprudência do STF (HC 112.563):AÇÃO PENAL. Crime


ambiental. Pescador flagrado com doze camarões e rede de pesca,
em desacordo com a Portaria 84/02, do IBAMA. Art. 34, parágrafo
único, II, da Lei nº 9.605/98. Rei furtivae de valor insignificante.
Periculosidade não considerável do agente. Crime de bagatela.
Caracterização. Aplicação do princípio da insignificância.
Atipicidade reconhecida. Absolvição decretada. HC concedido para
esse fim. Voto vencido. Verificada a objetiva insignificância jurídica
do ato tido por delituoso, à luz das suas circunstâncias, deve o réu,
em recurso ou habeas corpus, ser absolvido por atipicidade do
comportamento.

Justamente pela especificidade do bem jurídico tutelado no crime de


moeda falsa (a fé pública) é que também não se admite a aplicação do
princípio da insignificância nesse tipo de infração.

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28/01/2019 Princípio da Ofensividade
Jurisprudência do STF (HC 97.220):HABEAS CORPUS.
CIRCULAÇÃO DE MOEDA FALSA. ALEGAÇÃO DE
INEXPRESSIVIDADE FINANCEIRA DOS VALORES IMPRESSOS
NAS CÉDULAS FALSAS. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA PENAL AO CASO. NORMA PENAL QUE NÃO
SE LIMITA A COIBIR O PREJUÍZO A QUEM RECEBEU MOEDA
FALSA. ORDEM DENEGADA.

1. O princípio da insignificância penal é doutrinariamente versado


como vetor interpretativo do fato penalmente típico. Vetor
interpretativo que exclui da abrangência do Direito Penal condutas
provocadoras de ínfima lesão a bem jurídico alheio. Tal forma de
interpretação visa, para além de uma desnecessária carcerização,
ao descongestionamento de uma Justiça Penal que se deve ocupar
apenas das infrações tão lesivas a bens jurídicos dessa ou daquela
pessoa quanto aos interesses societários em geral.

2. A norma criminalizadora da falsificação de moeda tutela a fé


pública. Bem jurídico revelador da especial proteção à
confiabilidade do “sistema monetário” nacional. Pelo que o valor
impresso na moeda falsa não é o critério de análise da relevância,
ou da irrelevância da conduta em face das normas penais.

3. Tem-se por violada a fé pública quando a moeda nacional é


falsificada seja qual for o valor estampado no papel-moeda. O que
impossibilita concluir, no caso, pela inexpressividade da lesão
jurídica resultante da conduta do agente.

4. Ordem denegada.

Da mesma forma, não se aplica o princípio da insignificância aos


crimes de falso documental (STF, HC 117.638), de contrabando (STJ,
AgRg no AResp 342.598), de estelionato previdenciário (STF, HC
111.918), estelionato envolvendo o FGTS (STF, HC 110.845) ou o
seguro-desemprego (STF, HC 108.674), violação de direito autoral

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28/01/2019 Princípio da Ofensividade
(STJ, AgRg no REsp 1.380.149) e posse ou porte de arma ou munição
(STJ, RHC 43.756). No crime de tráfico de drogas também não se
aplica o princípio em testilha.

Jurisprudência do STF (HC 88.820): Princípio da insignificância e


tráfico de entorpecentes. É da jurisprudência do Supremo Tribunal que
não se aplica o princípio da insignificancia ao delito de tráfico de
entorpecentes: precedentes. De qualquer sorte, as circunstâncias do
caso, especialmente se considerada a espécie da substância apreendida
e a forma como estava acondicionada, não convencem de que o fato
pudesse ser considerado penalmente insignificante (...).

No crime de atividade clandestina de telecomunicações (“rádio


pirata”), que se amolda ao art. 183 da Lei 9.472/97, aplica-se o
princípio da insignificância apenas quando a rádio opera com potência
efetiva que seja incapaz de causar interferências nos demais meios de
comunicação.

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28/01/2019 Princípio da Ofensividade
Jurisprudência do STF (RHC 119.123):RECURSO ORDINÁRIO EM
HABEAS CORPUS. PENAL. RÁDIO COMUNITÁRIA. OPERAÇÃO
SEM AUTORIZAÇÃO DO PODER PÚBLICO. ART. 183 DA LEI N.
9.472/1997. PRESENÇA DE CRITÉRIOS OBJETIVOS. RECURSO
PROVIDO.

1. A conduta dos Recorrentes não resultou em dano ou perigo


concreto relevante para a sociedade, de modo a lesionar ou colocar
em perigo bem jurídico na intensidade reclamada pelo princípio da
ofensividade, sendo irrelevantes as consequências do fato. Esse fato
não tem importância na seara penal, pois incide na espécie, o
princípio da insignificância, que reduz o âmbito de proibição
aparente da tipicidade legal e, por consequência, torna atípico o
fato denunciado.

2. É manifesta a ausência de justa causa para a propositura da


ação penal. Não há se subestimar a natureza subsidiária,
fragmentária do direito penal, que somente deve ser acionado
quando os outros ramos do direito não forem suficientes para a
proteção dos bens jurídicos envolvidos. Precedentes.

3. Recurso provido.

A Questão dos Crimes de Preconceito e Discriminação

A Lei 7.716/89 (Lei Antipreconceito) incrimina atos de discriminação


ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Este dispositivo legal não torna crime o simples preconceito ou a
simples discriminação, pois por mais reprováveis que sejam, são
apenas formas existenciais. Contudo, a exteriorização desses
sentimentos, em atos concretos ou até mesmo apenas em palavras,
marca o ponto em que passam a exceder o âmbito interno do autor.

No ponto, note-se que o STF já fixou a premissa de que a liberdade de


expressão deve ser limitar frente à necessidade de respeito à dignidade
da pessoa humana.
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28/01/2019 Princípio da Ofensividade
Jurisprudência do STF (HC 82.424): HABEAS-CORPUS.
PUBLICAÇÃO DE LIVROS: ANTI-SEMITISMO. RACISMO. CRIME
IMPRESCRITÍVEL. CONCEITUAÇÃO. ABRANGÊNCIA
CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE EXPRESSÃO. LIMITES.
ORDEM DENEGADA.

1. Escrever, editar, divulgar e comerciar livros “fazendo apologia


de idéias preconceituosas e discriminatórias” contra a comunidade
judaica (Lei 7716/89, artigo 20, na redação dada pela Lei 8081/90)
constitui crime de racismo sujeito às cláusulas de inafiançabilidade
e imprescritibilidade (CF, artigo 5º, XLII).

2. Aplicação do princípio da prescritibilidade geral dos crimes: se


os judeus não são uma raça, segue-se que contra eles não pode
haver discriminação capaz de ensejar a exceção constitucional de
imprescritibilidade. Inconsistência da premissa.

3. Raça humana. Subdivisão. Inexistência. Com a definição e o


mapeamento do genoma humano, cientificamente não existem
distinções entre os homens, seja pela segmentação da pele, formato
dos olhos, altura, pêlos ou por quaisquer outras características
físicas, visto que todos se qualificam como espécie humana. Não há
diferenças biológicas entre os seres humanos. Na essência são todos
iguais.

4. Raça e racismo. A divisão dos seres humanos em raças resulta de


um processo de conteúdo meramente político-social. Desse
pressuposto origina-se o racismo que, por sua vez, gera a
discriminação e o preconceito segregacionista.

5. Fundamento do núcleo do pensamento do nacional-socialismo de


que os judeus e os arianos formam raças distintas. Os primeiros
seriam raça inferior, nefasta e infecta, características suficientes
para justificar a segregação e o extermínio: inconciabilidade com
os padrões éticos e morais definidos na Carta Política do Brasil e do
mundo contemporâneo, sob os quais se ergue e se harmoniza o
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estado democrático. Estigmas que por si só evidenciam crime de
racismo. Concepção atentatória dos princípios nos quais se erige e
se organiza a sociedade humana, baseada na respeitabilidade e
dignidade do ser humano e de sua pacífica convivência no meio
social. Condutas e evocações aéticas e imorais que implicam
repulsiva ação estatal por se revestirem de densa intolerabilidade,
de sorte a afrontar o ordenamento infraconstitucional e
constitucional do País.

6. Adesão do Brasil a tratados e acordos multilaterais, que


energicamente repudiam quaisquer discriminações raciais, aí
compreendidas as distinções entre os homens por restrições ou
preferências oriundas de raça, cor, credo, descendência ou origem
nacional ou étnica, inspiradas na pretensa superioridade de um
povo sobre outro, de que são exemplos a xenofobia, “negrofobia”,
“islamafobia” e o anti-semitismo.

7. A Constituição Federal de 1988 impôs aos agentes de delitos


dessa natureza, pela gravidade e repulsividade da ofensa, a
cláusula de imprescritibilidade, para que fique, ad perpetuam rei
memoriam, verberado o repúdio e a abjeção da sociedade nacional
à sua prática.

8. Racismo. Abrangência. Compatibilização dos conceitos


etimológicos, etnológicos, sociológicos, antropológicos ou
biológicos, de modo a construir a definição jurídico-constitucional
do termo. Interpretação teleológica e sistêmica da Constituição
Federal, conjugando fatores e circunstâncias históricas, políticas e
sociais que regeram sua formação e aplicação, a fim de obter-se o
real sentido e alcance da norma.

9. Direito comparado. A exemplo do Brasil as legislações de países


organizados sob a égide do estado moderno de direito democrático
igualmente adotam em seu ordenamento legal punições para
delitos que estimulem e propaguem segregação racial.
Manifestações da Suprema Corte Norte-Americana, da Câmara dos
Lordes da Inglaterra e da Corte de Apelação da Califórnia nos
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Estados Unidos que consagraram entendimento que aplicam
sanções àqueles que transgridem as regras de boa convivência
social com grupos humanos que simbolizem a prática de racismo.

10. A edição e publicação de obras escritas veiculando idéias anti-


semitas, que buscam resgatar e dar credibilidade à concepção
racial definida pelo regime nazista, negadoras e subversoras de
fatos históricos incontroversos como o holocausto,
consubstanciadas na pretensa inferioridade e desqualificação do
povo judeu, equivalem à incitação ao discrímen com acentuado
conteúdo racista, reforçadas pelas conseqüências históricas dos
atos em que se baseiam.

11. Explícita conduta do agente responsável pelo agravo revelador


de manifesto dolo, baseada na equivocada premissa de que os
judeus não só são uma raça, mas, mais do que isso, um segmento
racial atávica e geneticamente menor e pernicioso.

12. Discriminação que, no caso, se evidencia como deliberada e


dirigida especificamente aos judeus, que configura ato ilícito de
prática de racismo, com as conseqüências gravosas que o
acompanham.

13. Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem


como absoluta. Limites morais e jurídicos. O direito à livre
expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de
conteúdo imoral que implicam ilicitude penal.

14. As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem


ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites
definidos na própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º,
primeira parte). O preceito fundamental de liberdade de expressão
não consagra o “direito à incitação ao racismo”, dado que um
direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de

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condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra.
Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da
igualdade jurídica.

15. “Existe um nexo estreito entre a imprescritibilidade, este tempo


jurídico que se escoa sem encontrar termo, e a memória, apelo do
passado à disposição dos vivos, triunfo da lembrança sobre o
esquecimento”. No estado de direito democrático devem ser
intransigentemente respeitados os princípios que garantem a
prevalência dos direitos humanos. Jamais podem se apagar da
memória dos povos que se pretendam justos os atos repulsivos do
passado que permitiram e incentivaram o ódio entre iguais por
motivos raciais de torpeza inominável.

16. A ausência de prescrição nos crimes de racismo justifica-se


como alerta grave para as gerações de hoje e de amanhã, para que
se impeça a reinstauração de velhos e ultrapassados conceitos que
a consciência jurídica e histórica não mais admitem. Ordem
denegada.

Disponível em: http://leonardoaaaguiar.jusbrasil.com.br/artigos/333123759/principio-da-


ofensividade

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