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Acesso à Justiça e Questões de

Gênero

Defensora Pública Flávia Nascimento


Coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro
Acesso à justiça
Constituição Federal de 1988

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos


desta Constituição;
(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;
Acesso à justiça
Constituição Federal de 1988

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita


aos que comprovarem insuficiência de recursos;
Acesso à justiça
Código de Processo Civil

Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou


lesão a direito.

§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.


§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução
consensual dos conflitos.
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução
consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes,
advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial.
Acesso à justiça
O “conceito atualizado de acesso à justiça” é, pois,
o acesso à ordem jurídica justa. Isto é, o acesso ao
Direito, o acesso aos direitos, o direito a ter
direitos, o acesso à juridicidade – o que pode
ocorrer independentemente de intervenção
judicial, inclusive mediante a educação em direitos
e os chamados meios adequados de solução de
conflitos como a conciliação, a mediação e
arbitragem. (Pedro Gonzalez)
Defensoria Pública

Constituição Federal de 1988

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente,


essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe,
como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos
direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e
extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso
LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.
Defensoria Pública

A Defensoria Pública é a instituição


constitucionalmente idealizada para garantir
o acesso à justiça às pessoas vulnerabilizadas.
Isso porque a mesma presta o serviço de
assistência jurídica gratuita, verdadeira
garantia da garantia do acesso à justiça.
Defensoria Pública
Não se trata apenas de um organismo
incumbido de defender aqueles que não têm
meios materiais de se fazer representar junto à
Justiça estatal, mas de instituição com potencial
de atuar em todo processo de construção da
cidadania: da concretização de direitos até a
busca de soluções, quer sejam judiciais ou
extrajudiciais.
Defensoria Pública
• JUSTIÇA GRATUITA é a isenção do pagamento antecipado
das despesas com o processo

• ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA é a atividade


desempenhada por profissional de direito qualificado, em se
tratando de sede judicial

• ASSISTÊNCIA JURÍDICA INTEGRAL E GRATUITA é a


atividade desempenhada pela Defensoria Pública e não se
limita ao processo judicial
Barreiras ao acesso à justiça
O direito de acesso à justiça é essencial à realização de
todos os direitos, sobretudo os direitos e garantias
fundamentais.
O contexto estrutural de discriminação e desigualdade
em razão de estereótipos de gênero, sexualidade, raça
e etnia, e outros elementos como desigualdade
econômica, deficiência configuram um obstáculo ao
amplo acesso à justiça e constituem persistentes
violações dos direitos humanos.
Defensoria Pública
Lei complementar nº 80/94

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública,


dentre outras:

XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos


da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora
de necessidades especiais, da mulher vítima de violência
doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis
que mereçam proteção especial do Estado;
Defensoria Pública
Lei complementar nº 80/94

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública,


dentre outras:

XVIII – atuar na preservação e reparação dos direitos de


pessoas vítimas de tortura, abusos sexuais, discriminação
ou qualquer outra forma de opressão ou violência,
propiciando o acompanhamento e o atendimento
interdisciplinar das vítimas;
Eixos de Atuação

• VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

• VIOLÊNCIA SEXUAL

• VIOLÊNCIA VIRTUAL

• VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E MORTALIDADE MATERNA

• VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL
A Lei Maria da Penha

LEI Nº 11.340/06

• Art. 8º - Estabelece políticas públicas que visem garantir os


direitos humanos das mulheres no âmbito das relações
domésticas e familiares:

inc. I - Integração operacional entre os Poderes Executivo e


Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público com as áreas
de segurança, assistência social, saúde, educação, trabalho e
habitação;
A Lei Maria da Penha
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a
mulher em situação de violência doméstica e familiar deverá
estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no
art. 19 desta Lei.

28. É garantido a toda mulher em situação de violência


doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria
Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da
lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento
específico e humanizado.
A Lei Maria da Penha

• Integra a REDE DE ENFRENTAMENTO à mulher em situação de


violência (art. 8º, inc. I) (≠ REDE DE ATENDIMENTO)

• Garante o acesso à justiça da mulher em situação de violência


doméstica e familiar (arts. 27 e 28 da LMP e art. 4º, inc. XI da LC nº
80/94)

OBJETIVO: Minimizar os efeitos da VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA


A Lei Maria da Penha

O sistema de justiça, reproduzindo as relações


sociais de poder, muitas vezes dispensa
tratamento discriminatório à mulheres,
contribuindo para o seu silenciamento e a sua
permanência no ciclo de violência, fazendo com
que os crimes praticados no contexto da
violência de gênero ainda se constituam em
uma cifra oculta diante da falta de notificação.
O Papel da Defensoria Pública na Lei nº 11.340/06
O atendimento à mulher vítima de violência de gênero na Defensoria
Pública do Estado Rio de Janeiro:

• NUDEM – Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher Vítima de


Violência de Gênero

•Orientação Jurídica;
•Propositura de ações judiciais:
- Requerimento de medidas protetivas junto ao JVDF c/Mulher
- Ações de competência do juízo de Família, cível e queixa crime.
•Encaminhamento para outros serviços da rede de atendimento à
mulher em situação de violência (abrigamento, tratamento de saúde,
grupos de apoio e orientação ao trabalho)
O Papel da Defensoria Pública na Lei nº 11.340/06

O atendimento à mulher vítima de violência de gênero na


Defensoria Pública do Estado Rio de Janeiro:

• Órgãos de atuação junto aos JVDF c/ Mulher


• Órgãos de atuação junto aos JVDF adjuntos às Varas
Criminais ou JECRIM
• GT Feminicídio
• Órgãos de atuação junto às Varas Criminais em crimes de
violência sexual
Pesquisa CNJ/IPEA
Maiores dificuldades enfrentadas por vítimas que se enquadram na Lei Maria
da Penha e os avanços desde a criação da legislação há 13 anos:
• Falta de sensibilidade de agentes de Justiça

“Promotor: O que acontecia para Advogado do agressor: Tu tinha outro


ele fazer isso? caso conjugal?
Vítima: Ele é muito machista Vítima: Não, como eu teria se ele nem
Advogado do agressor: Tu dava me deixava sair de casa!?
motivo? Juiz: Temos que cuidar quem
Vítima: Não colocamos para dentro de casa”

(Trecho de audiência registrado pelos pesquisadores e destacado no estudo)


BRASIL: 5º Lugar no ranking mundial de mortes violentas de
mulheres

Em quase todas as violências abordadas no Dossiê Mulher


2019, pretas e pardas são a maioria das vítimas mulheres,
evidenciando a maior vulnerabilidade deste grupo à
violência, principalmente às suas expressões mais graves,
como homicídio doloso (59,1%), tentativa de homicídio
(55,0%) e estupro (55,8%)
MULHERES NO CÁRCERE:

Perfil das mulheres gestantes, lactantes e mães atendidas nas audiências de


custódia pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro:
Conclusão:

“Praticamente metade das mulheres (46%) que passaram pelas audiências de


custódia em Benfica se enquadram nesse perfil de mulheres grávidas ou com
suspeita de gravidez, lactantes e com filhos até 12 anos e dessas 36%
permaneceram presas preventivamente. Além disso, 28% das que praticaram
crimes sem violência ou grave ameaça, foram mantidas presas.
Ainda que a decisão do STF e da legislação atual determine a obrigatoriedade da
substituição da prisão preventiva pela domiciliar nesses casos, a não ser em
situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas
pelos juízes que denegarem o benefício, os dados mostram que ainda há muitos
casos em que as mulheres têm esse benefício negado.”
MULHERES NO CÁRCERE:

Decisão em audiência de custódia:


Tráfico de drogas:

“Veja que embora ela tenha dois filhos menores de doze anos, certo é que
tudo leva a crer que no dia dos fatos não estava dispensando os cuidados
aos filhos, sobretudo porque sua prisão já se deu após a meia noite,
quando se presume que seria a hipótese de estar em casa amparando os
infantes, ainda mais quando se infere que o mais velho tem pouco mais de
nove anos. Não se pode perder de vista que a própria indiciada teria, em
sede policial, declarado que seus filhos estariam sob os cuidados da avó
materna
Coordenadoria de Defesa dos Direitos da
Mulher
comulher@defensoria.rj.def.br
Tel.: (21) 2332-6680

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