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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Gabriel Nascimento de Carvalho


Simone Helen Drumond Ischkanian
CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL DAS OBRIGAÇÕES: CREDOR E DEVEDOR.
O ELEMENTO SUBJETIVO (OS SUJEITOS), as obrigações poderão ser: Fracionárias;
conjuntivas; Disjuntivas e Solidárias.
O ELEMENTO OBJETIVO (A PRESTAÇÃO) – além da classificação básica, que também utiliza
esse critério (prestação de dar, fazer e não fazer) -, podemos apontar a existência de modalidades especiais de
obrigações, a saber: Alternativas; Facultativas; Cumulativas; Divisíveis e indivisíveis e Líquidas e ilíquidas.
O ELEMENTO ACIDENTAL encontramos: Obrigação condicional; Obrigação a termo e Obrigação
modal.
QUANTO AO CONTEÚDO, classificam-se as obrigações em: Obrigações de meio; Obrigações de
resultado e Obrigações de garantia.
Obrigações Fracionárias: nestas, há uma pluralidade de devedores ou credores, de forma que cada
um deles responde apenas por parte da dívida ou tem direito apenas a uma proporcionalidade do crédito.
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-
se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

Numa dívida de 90 reais. Qualquer um dos devedores A, B ou C pode pagar a qualquer um dos
credores D, E ou F. Cada devedor responde apenas pela sua quota parte, portanto pagará só 30 reais. Cada um
trabalha com bens de natureza divisível e as relações são sempre autônomas, uma em relação às outras.

OBRIGAÇÃO CONJUNTIVA: Na obrigação conjuntiva, onde o devedor se obriga a cumprir uma


prestação conjuntamente com outra. Mais de uma prestação estabelecida e o adimplemento está ligado a todas.
Podendo ser utilizada a partícula de ligação “e”. Exemplo, deixar roupa na lavanderia para lavar E passar. se
obriga a entregar um barco E um carro.
OBRIGAÇÕES DISJUNTIVAS: são sinônimas de obrigações alternativas, que se caracterizam por
possuírem mais de uma prestação possível, à escolha do devedor, em regra. Diferem da obrigação de dar coisa
incerta, em que há apenas uma prestação cujo objeto é determinável.
Código Civil Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não
se estipulou. § 1 Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em
outra.
OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS: Dispõe o Art. 264 do código Civil que há solidariedade, quando
na mesma obrigação concorrer mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito ou
obrigado a dívida toda. Extrai-se deste conceito que a obrigação solidária pode ser passiva, quando pagamento
poderá ser feito por qualquer um dos devedores, e ativa, quando que qualquer dos credores poderá exigir o seu
cumprimento.
A SOLIDARIEDADE NÃO SE PRESUME, resulta sempre da lei ou da vontade das partes
contratantes. Cabe ressaltar aqui o exemplo trazido pelo diploma civil, em seu artigo 942, parágrafo único, que
considera solidariamente responsáveis, v. G., aqueles elencados nos incisos do artigo 932 - os pais, pelos filhos
menores; o empregador, pelos seus empregados no exercício de suas funções, entre outros.
SOLIDARIEDADE ATIVA: Pouco usual, a solidariedade ativa se dá quando existem vários
credores, podendo qualquer um deles receber o pagamento integral da obrigação, sendo que o devedor se
desobriga pagando a qualquer um dos que se encontram no polo ativo da relação. O professor Caio cita como
exemplos, “o contrato de conta bancária conjunta, que permite que qualquer um dos correntistas saque todo
dinheiro depositado, ou movimentar os valores, atuando sozinhos” e a Lei das Locações, nº 8.245/1991, em seu
Art. 2º, que estabeleceu “Havendo mais de um locador ou mais de um locatário, entende - se que são solidários
se o contrário não se estipulou”.
SOLIDARIEDADE PASSIVA: Como indica o professor CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA,
p.99, “a solidariedade passiva, ao contrário da solidariedade ativa, é muito freqüente”. Seu preceito
fundamental é que cada um dos devedores está obrigado ao pagamento da dívida em sua totalidade, como se
houvesse sozinho, contraído a dívida inteira. Este tipo de obrigação constitui segundo alguns autores, a maior
garantia que um credor pode ter de ver seu crédito satisfeito, pois o encargo da prestação pode ser cobrado de
qualquer um dos que se encontram no pólo passivo da relação obrigacional, sendo que aquele que satisfez a
divida por inteiro sub-roga-se no direito do credor de ter aquilo que foi pago restituído pelos outros devedores,
descontada a parte que lhe cabia, como preceitua o Art. 283 do Código Civil.

OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS: As obrigações podem ser simples, cumulativas ou


alternativas. Quando seu objeto é apenas uma prestação (entrega de um veículo, por ex.), ela é simples;
quando se trata de mais de um objeto (objeto composto ou plural, ex.: entrega de um veículo e um cavalo), ela
é cumulativa ou conjuntiva. Nos dois casos citados, o credor pode exigir a totalidade das prestações ao
devedor, mesmo as obrigações plurais, estas últimas são regidas pelos princípios gerais das obrigações de dar.
Nas obrigações alternativas, as prestações são ligadas pelo “ou”: entrega de um veículo ou de um
cavalo. Diferente das demais obrigações acima referidas, as obrigações alternativas têm disciplina
própria. Essa obrigação diz respeito à várias prestações, sendo que apenas uma será realizada.
OBRIGAÇÕES COM FACULDADE DE SUBSTITUIÇÃO DE OBJETO
OBRIGAÇÕES FACULTATIVAS: nesta, apenas o devedor poderá optar por cumprir o contrato ou
entregar prestação diversa, não podendo o credor reclamar. Nas obrigações facultativas, as partes
convencionam sobre a prestação de determinado objeto, mas optam também por uma alternativa, um meio de
liberar o devedor do cumprimento, também convencionado no contrato. Uma é verdadeiro objeto da obrigação,
a outra é apenas subsidiária ou acessória. O Código foi omisso sobre as obrigações facultativas. Prescinde da
concordância do credor, portanto, a obrigação facultativa dá direito ao devedor de cumprir a obrigação
alternativamente, desde a raiz do contrato. Quando a obrigação principal é nula, deve ser extinguida em sua
totalidade, mas a nulidade da obrigação acessória não acarreta efeito sob a primeira. Aqui, a escolha da
obrigação facultativa é exclusiva do devedor, e o credor só pode exigir a principal.
OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS: nesta, há uma multiplicidade de prestações e o devedor se obriga
a cumprir todas. Ocorre em prestação que requerer uma série de atividade para poder concretizar a obrigação
principal. O devedor tem que cumprir todas as atividades do acordado para ter cumprido enfim a obrigação. Em
caso de inadimplemento, caberá ação de execução da obrigação cumulativa de fazer. Se impossível com culpa:
perdas e danos.

Divisíveis e indivisíveis: A regra geral diz que as obrigações são divisíveis e aplica-se as regras da
obrigação fracionária se existir pluralidade em um dos pólos. No entanto, em algumas prestações o objeto pode
ser indivisível. A natureza do bem é O PRIMEIRO CRITÉRIO A SER OBSERVADO: Exemplo, um cavalo
não tem como dividir, então é um bem de natureza indivisível. Não dá para usar as regras da obrigação
francionária, pois quando o devedor for pagar terá que dar o animal inteiro.
A SEGUNDA REGRA: é da vontade da lei, a lei determina se o bem poderá ou não ser dividido (Lei
6.766/79) como exemplo um terreno não pode ser dividido em menos de 125m².
O TERCEIRO CRITÉRIO: é a vontade das partes, apesar de o bem poder ser dividido, as partes
podem convencionar o contrário. Exemplo, o devedor vai entregar 60 bolas de futebol, pode entregar 20 para
cada um dos três credores, no entanto o contrato acertado que no pagamento seria feito de forma completa,
assim teria que entregar para um dos três credores ou para todos as 60 bolas de uma vez.
O QUARTO CRITÉRIO: é o motivo econômico que fundamentou aquela obrigação, ele vai
determinar a indivisibilidade. Por exemplo: 5000 folhas de papel ofício, o devedor tem que entregar.
Analisando a natureza do bem dá para dizer que é um bem divisível, mas os três devedores vão precisar das
5000 folhas para aplicar um concurso naquele dia, assim não daria para dividir as folhas entre os credores.
Considerando a utilidade ou o motivo econômico, essa obrigação que a princípio seria divisível passa a ser
indivisível.
Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não
suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do
negócio jurídico.

REGRAS ESPECÍFICAS DO ARTIGO 259 - Havendo dois o mais devedores e a prestação não for
divisível cada um será obrigado pela dívida toda. ART. 259. SE, HAVENDO DOIS OU MAIS DEVEDORES, A
PRESTAÇÃO NÃO FOR DIVISÍVEL, CADA UM SERÁ OBRIGADO PELA DÍVIDA TODA. Parágrafo
único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.
Obrigação de dar 30 animais, 10 por cada

devedor:
REGRA DO ARTIGO 260 - Se a pluralidade for de credores poderá cada um destes exigir a dívida
inteira. Lembrando que estamos trabalhando com regras de obrigação indivisível. Cada um dos credores pode
exigir a dívida inteira, mas o devedor se livrará pagando/entregando ao mesmo tempo aos três o objeto da
relação ou entregando a um dos credores; o devedor pode exigir uma caução de ratificação, que é um
documento no qual o credor, a quem foi efetuado o pagamento, afirmar para o devedor que repassará a parte
aos demais credores.

EXEMPLO: "Hebe e Irene decoradoras, são credoras de João, marceneiro, por uma obrigação de
fazer: ele se obrigou a confeccionar uma mesa de jantar para uma casa decorada por elas. Tanto Hebe como
Irene, agindo isoladamente, podem acionar João para obter o cumprimento da obrigação; ele, porém, apenas se
desobriga ao entregar a peça para as duas decoradoras em conjunto ou se a que receber o móvel garantir a
ratificação do ato de recebimento pela outra credora".(COELHO, 2012, pág 101)
ART. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o
devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de
ratificação dos outros credores.
O RECEBIMENTO DE PRESTAÇÃO INDIVISÍVEL POR UM DOS CREDORES É
POSSÍVEL: O devedor paga de uma só vez a dívida a um dos credores (C1); os outros dois credores (C2 e
C3) cobrarão do credor C1 a parte que lhes cabe. Se um só dos credores receber a prestação inteira, e não sendo
possível a restituição in natura aos outros credores, o credor C1 terá que pagar o valor em dinheiro a C2 e C3.
Continuando o exemplo das decoradoras, "se ocorrer de Hebe receber a mesa de jantar e por exemplo,
revendê-la a terceiros, dando ao móvel destinação diversa da originariamente acertada com Irene, terá esta
direito de cobrar daquela sua parte em dinheiro" (COELHO, 2012, pág 101).
Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito
de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total. Se um dos credores perdoar (remitir) a dívida a
obrigação não fica extinta para com os outros. O Devedor D1 pagará 10 para o credor C2 e 10 para o credor C3,
e a parte do credor C1 foi perdoada. Obrigação de 30 reais, 10 para cada credor.
OBRIGAÇÃO DE DAR UM CAVALO OU 30 REAIS. O credor C1 perdoou a dívida, e os credores
C2 e C3 querem o cavalo ao invés dos 30 reais, então eles vão fazer o seguinte: o devedor D1 vai entregar para
o credor C2 o cavalo, e os credores C2 e C3 tem que entregar 10 reais ao devedor D1, para ter consideração do
perdão feita pelo credor C1. Obrigação de 30 reais, 10 para cada credor.

OBRIGAÇÃO LÍQUIDA é aquela determinada quanto ao objeto e certa quanto à sua existência.
Expressa por um algarismo ou algo que determine um número certo.
Ex.: "A" deve dar a "B" R$ 500,00 ou 5 sacos de arroz. OBRIGAÇÃO ILÍQUIDA depende de prévia
apuração, já que o montante da prestação apresenta-se incerto.
Ex.: "A" deve dar vegetais a "B", não se sabe quanto e nem qual vegetal. Diversos artigos do Código Civil
estabelecem essa classificação. Citamos, então, os seguintes: arts. 397, 407, 369, 352, entre outros.
ELEMENTOS ACIDENTAIS DAS OBRIGAÇÕES: Os elementos acidentais são aqueles
que podem ou não estar presentes em uma obrigação e dizem respeito ao plano de eficácia das obrigações,
ou seja, a partir de quando que a obrigação poderá ser exercida ou parará de ser exercida. Os elementos
acidentais são a condição, o termo e o encargo. Portanto, são estipulações ou cláusulas acessórias que as
partes podem adicionar em seu negócio para modificar uma ou algumas de suas consequências naturais
(condição, modo, encargo ou termo).

CONDIÇÃO: Acontecimento de algo que gerará a situação suspensiva ou resolutiva e diz respeito a
um evento futuro e incerto. Na condição suspensiva o efeito da obrigação apenas se iniciará depois de
alcançada esta condição. Por exemplo: Apenas te venderei meu carro se eu comprar outro. Na condição
resolutiva o efeito da obrigação vai extinguir depois de alcançada esta condição. Por exemplo: Você pode usar
meu carro até que eu o venda para um terceiro.

O TERMO: Diz respeito ao acontecimento de um evento futuro e certo que gerará a situação de
iniciar ou terminar uma obrigação. O termo inicial aponta quando a obrigação começará a ter efeito. Por
exemplo: Vou te pagar daqui 1 semana. Já o termo final aponta quando a obrigação se finda. Por exemplo:
Você pode usar meu carro até a semana que vem.
ENCARGO: Um ônus que pode ser imposto ao beneficiário por uma obrigação gratuita. Por
exemplo: eu te doo o imóvel caso você construa uma creche para pessoas carentes e a mantenha por 5 anos.
TEORIA DO PAGAMENTO – CONDIÇÕES SUBJETIVAS E OBJETIVAS
SENTIDO DA EXPRESSÃO “PAGAMENTO” E SEUS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS: Em
geral, a obrigação extingue-se por meio do cumprimento voluntário da prestação. Diz-se, no caso, ter havido a
solução (solutio) da obrigação, com a consequente liberação do devedor. Por isso o termo pagamento,
diferentemente do que a linguagem comum nos sugere, não significa apenas a entrega de uma soma em
dinheiro, mas poderá também traduzir, em sentido mais amplo, o cumprimento voluntário de qualquer espécie
de obrigação.
Nesse sentido, paga não aquele que entrega a quantia em dinheiro (obrigação de dar), mas também o
indivíduo que realiza uma atividade (obrigação de fazer) ou, simplesmente, se abstém de determinado
comportamento (obrigação de não fazer).
OS TRÊS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DO PAGAMENTO: O vínculo obrigacional: trata-
se da causa (fundamento) do pagamento; não havendo vínculo, não há que se pensar em pagamento, sob pena
de caracterização de pagamento indevido; O SUJEITO ATIVO DO PAGAMENTO: o devedor (solvens), que
é o sujeito passivo da obrigação; O SUJEITO PASSIVO DO PAGAMENTO: o credor (accipiens), que é o
sujeito ativo da obrigação.
Vale destacar, para que não pairem quaisquer dúvidas terminológicas que, em matéria de pagamento,
faz-se a inversão dos polos da relação jurídica, como a ver o outro lado da moeda.
Além do PAGAMENTO existem formas especiais de extinção das obrigações: Consignação em
pagamento; Pagamento com sub-rogação; Imputação do pagamento; Dação em pagamento; Novação;
Compensação; Transação; Compromisso (arbitragem); Confusão; Remissão.
NATUREZA JURÍDICA DO PAGAMENTO
TEORIAS DO PAGAMENTO:
1ª SUBTEORIA (ato jurídico de sentido estrito): defendem que o pagamento é um simples
comportamento do devedor, sem conteúdo negocial, cujo principal e único efeito, previsto pelo ordenamento
jurídico, é a extinção da obrigação.
2ª SUBTEORIA (negócio jurídico): identifica no pagamento mais que um simples comportamento,
mas uma declaração de vontade, acompanhada de um elemento anímico complexo: o animus solvendi.
3ª SUBTEORIA: afirma ser o pagamento negócio jurídico unilateral, pois prescindiria a anuência da
parte credora (accipiens).
ROBERTO DE RUGGIERO afirma: “A verdade, quanto à referida discordância, é que a solutio
pode ser ora um negócio jurídico unilateral, ora um negócio jurídico bilateral, conforme a natureza específica
da obrigação quando ela consiste numa omissão e mesmo quando consiste uma ação, não é necessária a
intervenção do credor; é, pelo contrário, necessário o seu concurso, se a prestação consiste num dare, pois neste
caso há a aceitação do credor”.
Para CAIO MÁRIO: “Genericamente considerado, o pagamento pode, portanto, ser ou não um
negócio jurídico; e será unilateral e bilateral, dependendo esta classificação da natureza da prestação, conforme
para a solutio contente-se o direito como a emissão volitiva tão somente do devedor, ou para ela tenha de
concorrer a participação do accipiens”.
CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PAGAMENTO
DE QUEM DEVE PAGAR: Em primeiro plano, o sujeito passivo da relação obrigacional é o
devedor, ou seja, a pessoa que contraia obrigação de pagar. Entretanto, segundo a sistemática do direito
positivo brasileiro, também poderá solver o débito pessoa diversa do devedor – O TERCEIRO -, esteja ou não
juridicamente interessada no cumprimento da obrigação. Neste sentido, clara é a regra do art. 304 do CC/02:
“Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios
conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer
em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste”.

A norma legal indica-nos a existência de DUAS ESPÉCIES DE TERCEIRO: O terceiro interessado


e O terceiro não interessado.
O TERCEIRO INTERESSADO, entenda-se a pessoa que, sem integrar o polo passivo da relação
obrigacional-base, encontra-se juridicamente adstrita ao pagamento da dívida, a exemplo do fiador que se
obriga ao cumprimento da obrigação caso o devedor direto (afiançado) não o faça.
O TERCEIRO NÃO INTERESSADO, trata-se de pessoa que não guarda vinculação jurídica com a
relação obrigacional-base, por nutrir interesse meramente moral. É o caso do pai, que paga a dívida do filho
maior, ou do provecto amigo, que honra o débito do seu compadre.
Em casos tais, duas situações podem ocorrer:
a) O TERCEIRO NÃO INTERESSADO paga a dívida EM NOME E À CONTA DO DEVEDOR
(art. 304 do CC/2002) – neste caso, não tem, a priori, o direito de cobrar o valor que desembolsou para solver a
dívida, uma vez que o fez, não por motivos patrimoniais, mas por sentimentos filantrópicos, pelo que pode,
inclusive, lançar mão dos meio conducentes à exoneração do devedor, a exemplo da consignação em
pagamento. É o caso mencionado de pagamento feito por pais, filhos ou amigos, em que o móvel subjetivo do
indivíduo é a solidariedade.
b) O TERCEIRO NÃO INTERESSADO paga a dívida EM SEU PRÓPRIO NOME (art. 305 do
CC/02) – neste caso, tem o direito de reaver o que pagou, embora não se sub-rogue nos direitos do credor. De
tal forma, se o terceiro não interessado paga em seu próprio nome, poderá cobrar do devedor o que pagou, mas
não substituirá o credor em todas as suas prerrogativas.
DAQUELES A QUEM SE DEVE PAGAR: Segundo a nossa legislação em vigor, o pagamento
poderá ser feito às seguintes pessoas: O credor; O representante do credor; O terceiro. Neste sentido, é a dicção
da regra prevista no art. 308 do CC/02: “Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o
represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito”.
Claro que, em primeiro plano, o pagamento deve ser feito ao próprio credor (accipiens), sujeito
ativo titular do crédito. Poderá, todavia, ocorrer a transferência inter vivos (por meio de cessão de crédito) ou
post mortem (em face da morte do credor originário) do direito, de maneira que o cessionário, no primeiro caso,
e o herdeiro ou legatário, no segundo, passarão a ter legitimidade para exigir o cumprimento da dívida.
Nada impede, outrossim, que o devedor se dirija a um representante legal ou convencional do credor,
para efetuar o pagamento. Tal ocorre quando o pai, representante legal do filho, recebe numerário devido a este,
em virtude de um crédito existente contra terceiro. Da mesma forma, o credor pode, por meio da representação
convencional ou voluntária, outorgar poderes para que o seu procurador possa receber pagamento e dar
quitação.

CONSOANTE BEM ASSEVERA O ILUSTRADO SILVIO VENOSA: “Para a estabilidade das


relações negociais, o direito gira em torno de aparências. As circunstâncias externas, não denotando que o
portador da quitação seja um impostor, tornam o pagamento válido: „considera-se autorizado a receber o
pagamento o portador da quitação, exceto se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante”‟. Daí a
grande importância da previsão do art. 311 do CC/02: “Art. 311. considera-se autorizado a receber o pagamento
o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante”.
CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO
DO OBJETO DO PAGAMENTO E SUA PROVA: Já sabemos que o credor não está obrigado a
receber prestação diversa da que que lhe é devida, ainda que mais valiosa, e, também, não está adstrito a
receber por partes – nem o devedor a pagar-lhe fracionadamente -, se assim não se convencionou (arts. 313 e
314 do CC/02). Tais dispositivos visam a preservar a segurança jurídica dos negócios, uma vez que, se não
forem respeitados, as partes nunca saberão como efetuar corretamente o pagamento: SE SOU CREDOR DE
UM RELÓGIO DE COBRE, NÃO ESTOU OBRIGADO A ACEITAR UM DE OURO. DA MESMA
FORMA, SE FORA ESTIPULADA A ENTREGA DE UMA SACA DE CAFÉ, O DEVEDOR DEVERÁ
PRESTÁ-LA POR INTEIRO, E NÃO POR PARTES.
Se a precípua atividade do devedor é pagar, ou seja, cumprir a sua obrigação, forçoso é convir que terá
direito de exigir um prova de que adimpliu. A QUITAÇÃO, portanto, é, primordialmente, o MEIO DE
PROVA DO PAGAMENTO. O devedor tem direito subjetivo à quitação, e, caso, lhe seja negada, poderá reter
a coisa, facultando-se-lhe depositá-la em juízo, via ação consignatória de pagamento, para prevenir
responsabilidade (art. 319 do CC/02). Não poderá, pois, diante da recusa injustificada do credor de dar-lhe
quitação, abandonar o bem devido à sua própria sorte. Fará jus, outrossim, às despesas efetuadas
durante o tempo em que guardou e conservou a coisa, por conta da negativa do credor de recebê-la,
mediante quitação.
SÃO REQUISITOS LEGAIS DA QUITAÇÃO: O valor e a espécie da dívida quitada; O nome do
devedor ou de quem por este pagou (representante, sucessor ou terceiro); O tempo do pagamento (dia, mês, e,
se quiserem, hora); O lugar do pagamento; A assinatura do credor ou de representante seu.
Pode ocorrer, todavia, que o pagamento seja efetuado, e o devedor, por inexperiência ou ignorância,
não exija a quitação de forma regular, preterindo os requisitos legais acima mencionados. Neste caso, o
parágrafo único do art. 320 do CC/02, sem correspondente direto do Código Civil de 1916, prevê a
possibilidade de se admitir provado o pagamento, se “de seus termos ou das circunstâncias resultar sido paga a
dívida”.
Quem atua no interior do País sabe que o conhecimento das leis é, na generalidade dos casos, raridade.
Por isso, o cidadão humilde não poderia ser alijado do seu direito à quitação pelo simples fato de não haver
exigido o recibo exigido o recibo com todos os requisitos exigidos por lei. Se o juiz concluir, pelas
circunstâncias do caso posto a acertamento, que o devedor pagou, deverá declarar extinta a obrigação. Essa é a
melhor solução, em respeito, inclusive, ao princípio da boa-fé.
EXEMPLIFICANDO: Caio é devedor de Tício, por força de uma cambial (nota promissória),
emitida em benefício deste último. No dia do vencimento, o credor alega ter perdido o título de crédito. Em tal
hipótese, impõe-se ao devedor, no ato do pagamento, exigir uma declaração, datada e assinada
(preferencialmente com firma reconhecida), pelo próprio credor, no sentido de que reconhecia a inutilidade do
título extraviado, e que estava quitando o dívida contraída. Para prevenir responsabilidade frente a terceiro, é de
boa cautela que o credor dê ciência a terceiro, por meio da imprensa, acerca do extravio da cártula, em respeito
ao princípio da boa-fé.

A LEI CIVIL RECONHECE, AINDA, HIPÓTESES DE PRESUNÇÃO DE PAGAMENTO,


QUANDO ESTE NÃO SE POSSA COMPROVAR POR MEIO DE QUITAÇÃO TOTAL E REGULAR.
São as seguintes:
a) No pagamento realizado em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em
contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores (art. 322 do CC/02).
b) Sendo a quitação do capital sem reserva de juros (que são s frutos civis do capital), estes presumem-
se pagos (art. 323 do CC/02).
c) Nas dívidas literais, a entrega do título (nota promissória, cheque, letra de câmbio etc.) ao devedor
firma presunção de pagamento (art. 324 do CC/02).

Todas essas presunções de pagamento, todavia, são relativas. Vale dizer, firmam uma presunção
vencível, cabendo ônus de provar o contrário (a existência do pagamento) ao credor.

DO LUGAR DO PAGAMENTO: Desde o esboço de TEIXEIRA DE FREITAS admitia-se que o


lugar do pagamento, se o contrário não resultasse do título, deveria ser efetuado no domicílio do devedor (art.
1.055, 4º). Para ALVARO VILLAÇA: “... Em princípio o pagamento deve ser feito no domicílio do devedor. A
dívida, neste caso, será quesível, ou seja, deve ser cobrada, buscada, pelo credor, no domícílio do devedor.
Tudo indica que a palavra quesível encontra origem no verbo latino „quaero, is, sivi, ere‟, da terceira
conjugação, que significa buscar, inquirir, procurar, informar-se, indagar, perguntar”.
Nesse sentido, dispõe o artigo 327 do CC/02: “Art. 327. Efetuar-se-à o pagamento no domicílio do
devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da
obrigação ou das circunstâncias”.
DO TEMPO DO PAGAMENTO: Em princípio, todo pagamento deve ser efetuado no dia do
vencimento da dívida. Na falta de ajuste, e não dispondo a lei em sentido contrário, poderá o credor exigir o
pagamento imediatamente (art. 331 do CC/02). Tal regra, de compreensão fácil, somente se aplica às
obrigações puras, eis que se forem condicionais, ficarão na dependência do implemento da condição estipulada
(art. 332 do CC/02).
SE A OBRIGAÇÃO É A TERMO, sendo o prazo concedido a favor do devedor, nada impede que
este antecipe o pagamento, podendo o credor retê-lo. Em caso contrário, se o prazo estipulado for feito para
favorecer o credor, não poderá o devedor pagar antecipadamente. Tudo dependerá de como se convencionou
obrigação.
A respeito da hora em que deve ser feito o pagamento, vale transcrever o pensamento de CAIO
MARIO: “Chegado o dia, o pagamento tem de ser feito. Cabe indagar da hora, pois que o dia astronômico tem
24 horas, mas não é curial que aguarde o devedor a calada da noite, para solver as horas mortas. Já que o
recurso ao nosso direito positivo não nos socorre, é prestimosa a comparação do Direito Comparado. Assim, é o
que Código Civil alemão, no art. 358, manda que se faça nas horas habitualmente consagradas aos negócios. Os
bancos, por exemplo, têm horário de expediente, e irreal que se considerasse extensível o tempo da solução,
ulterior ao seu encerramento”.
SITUAÇÕES EM QUE O CREDOR PODERÁ EXIGIR ANTECIPADAMENTE O
PAGAMENTO, nas estritas hipóteses (numerus clausus) previstas em lei (art. 333 do CC/02).
a) No caso de falência do devedor ou de concurso de credores – nesse caso, o credor deverá acautelar-
se, habilitando o crédito antecipadamente vencido no juízo falimentar;
b) Se os bens, hipotecados ou empenhados (objeto de penhor), forem penhorados em execução de
outro credor – aqui, a antecipação do vencimento propiciará que o credor possa tomar providências imediatas
para garantir a satisfação do seu direito;
c) Se cessarem ou se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias (fiança, por
exemplo), ou reais, (hipoteca, penhor, anticrese), e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las – a negativa de
renovação ou reforço das garantias indica que a situação do devedor não é boa, razão porque a lei autoriza a
antecipação do pagamento.
TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL (SUBSTANCIAL PERFORMANCE)
d) A teoria do adimplemento substancial sustenta que uma obrigação não deve ser resolvida se a
atividade do devedor, posto não haja sido perfeita, aproximou-se consideravelmente (substancialmente) do
resultado esperado.
e) Em outras palavras, se o descumprimento obrigacional for ínfimo ou insignificante, não se deve
extinguir o contrato:
f) Sobre o tema escreve FLÁVIO TARTUCE:
g) “No caso brasileiro, a despeito da ausência de previsão expressa na codificação material privada,
tem-se associado o adimplemento substancial com os princípios contratuais contemporâneos especialmente
com a boa-fé objetiva e a função social contrato. Nesse sentido, na IV jornada de Direito Civil, evento
promovido pelo Conselho da Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em 2006, aprovou-se o
Enunciado n. 361 CJF/STJ, estabelecendo que „O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais
contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando
a aplicação do art. 475‟. Vale lembrar que o art. 475 do Código Civil trata do inadimplemento voluntário ou
culposo do contrato, preceituando que a parte lesada pelo descumprimento pode exigir o cumprimento forçado
dad avença ou a sua resolução por perdas e danos”.

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