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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Simone Helen Drumond Ischkanian


Gabriel Nascimento de Carvalho

CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL DAS OBRIGAÇÕES: CREDOR E DEVEDOR.


O ELEMENTO SUBJETIVO (OS SUJEITOS), as obrigações poderão ser: Fracionárias;
conjuntivas; Disjuntivas e Solidárias.
O ELEMENTO OBJETIVO (A PRESTAÇÃO) – além da classificação básica, que também utiliza
esse critério (prestação de dar, fazer e não fazer) -, podemos apontar a existência de modalidades especiais de
obrigações, a saber: Alternativas; Facultativas; Cumulativas; Divisíveis e indivisíveis e Líquidas e ilíquidas.
O ELEMENTO ACIDENTAL encontramos: Obrigação condicional; Obrigação a termo e Obrigação
modal.
QUANTO AO CONTEÚDO, classificam-se as obrigações em: Obrigações de meio; Obrigações de
resultado e Obrigações de garantia.
Obrigações Fracionárias: nestas, há uma pluralidade de devedores ou credores, de forma que cada
um deles responde apenas por parte da dívida ou tem direito apenas a uma proporcionalidade do crédito.
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-
se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

Numa dívida de 90 reais. Qualquer um dos devedores A, B ou C pode pagar a qualquer um dos
credores D, E ou F. Cada devedor responde apenas pela sua quota parte, portanto pagará só 30 reais. Cada um
trabalha com bens de natureza divisível e as relações são sempre autônomas, uma em relação às outras.

OBRIGAÇÃO CONJUNTIVA: Na obrigação conjuntiva, onde o devedor se obriga a cumprir uma


prestação conjuntamente com outra. Mais de uma prestação estabelecida e o adimplemento está ligado a todas.
Podendo ser utilizada a partícula de ligação “e”. Exemplo, deixar roupa na lavanderia para lavar E passar. se
obriga a entregar um barco E um carro.
OBRIGAÇÕES DISJUNTIVAS: são sinônimas de obrigações alternativas, que se caracterizam por
possuírem mais de uma prestação possível, à escolha do devedor, em regra. Diferem da obrigação de dar coisa
incerta, em que há apenas uma prestação cujo objeto é determinável.
Código Civil Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não
se estipulou. § 1 Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em
outra.
OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS: Dispõe o Art. 264 do código Civil que há solidariedade, quando
na mesma obrigação concorrer mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito ou
obrigado a dívida toda. Extrai-se deste conceito que a obrigação solidária pode ser passiva, quando pagamento
poderá ser feito por qualquer um dos devedores, e ativa, quando que qualquer dos credores poderá exigir o seu
cumprimento.
A SOLIDARIEDADE NÃO SE PRESUME, resulta sempre da lei ou da vontade das partes
contratantes. Cabe ressaltar aqui o exemplo trazido pelo diploma civil, em seu artigo 942, parágrafo único, que
considera solidariamente responsáveis, v. G., aqueles elencados nos incisos do artigo 932 - os pais, pelos filhos
menores; o empregador, pelos seus empregados no exercício de suas funções, entre outros.
SOLIDARIEDADE ATIVA: Pouco usual, a solidariedade ativa se dá quando existem vários
credores, podendo qualquer um deles receber o pagamento integral da obrigação, sendo que o devedor se
desobriga pagando a qualquer um dos que se encontram no polo ativo da relação. O professor Caio cita como
exemplos, “o contrato de conta bancária conjunta, que permite que qualquer um dos correntistas saque todo
dinheiro depositado, ou movimentar os valores, atuando sozinhos” e a Lei das Locações, nº 8.245/1991, em seu
Art. 2º, que estabeleceu “Havendo mais de um locador ou mais de um locatário, entende - se que são solidários
se o contrário não se estipulou”.
SOLIDARIEDADE PASSIVA: Como indica o professor CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA,
p.99, “a solidariedade passiva, ao contrário da solidariedade ativa, é muito freqüente”. Seu preceito
fundamental é que cada um dos devedores está obrigado ao pagamento da dívida em sua totalidade, como se
houvesse sozinho, contraído a dívida inteira. Este tipo de obrigação constitui segundo alguns autores, a maior
garantia que um credor pode ter de ver seu crédito satisfeito, pois o encargo da prestação pode ser cobrado de
qualquer um dos que se encontram no pólo passivo da relação obrigacional, sendo que aquele que satisfez a
divida por inteiro sub-roga-se no direito do credor de ter aquilo que foi pago restituído pelos outros devedores,
descontada a parte que lhe cabia, como preceitua o Art. 283 do Código Civil.

OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS: As obrigações podem ser simples, cumulativas ou


alternativas. Quando seu objeto é apenas uma prestação (entrega de um veículo, por ex.), ela é simples;
quando se trata de mais de um objeto (objeto composto ou plural, ex.: entrega de um veículo e um cavalo), ela
é cumulativa ou conjuntiva. Nos dois casos citados, o credor pode exigir a totalidade das prestações ao
devedor, mesmo as obrigações plurais, estas últimas são regidas pelos princípios gerais das obrigações de dar.
Nas obrigações alternativas, as prestações são ligadas pelo “ou”: entrega de um veículo ou de um
cavalo. Diferente das demais obrigações acima referidas, as obrigações alternativas têm disciplina
própria. Essa obrigação diz respeito à várias prestações, sendo que apenas uma será realizada.
OBRIGAÇÕES COM FACULDADE DE SUBSTITUIÇÃO DE OBJETO
OBRIGAÇÕES FACULTATIVAS: nesta, apenas o devedor poderá optar por cumprir o contrato ou
entregar prestação diversa, não podendo o credor reclamar. Nas obrigações facultativas, as partes
convencionam sobre a prestação de determinado objeto, mas optam também por uma alternativa, um meio de
liberar o devedor do cumprimento, também convencionado no contrato. Uma é verdadeiro objeto da obrigação,
a outra é apenas subsidiária ou acessória. O Código foi omisso sobre as obrigações facultativas. Prescinde da
concordância do credor, portanto, a obrigação facultativa dá direito ao devedor de cumprir a obrigação
alternativamente, desde a raiz do contrato. Quando a obrigação principal é nula, deve ser extinguida em sua
totalidade, mas a nulidade da obrigação acessória não acarreta efeito sob a primeira. Aqui, a escolha da
obrigação facultativa é exclusiva do devedor, e o credor só pode exigir a principal.
OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS: nesta, há uma multiplicidade de prestações e o devedor se obriga
a cumprir todas. Ocorre em prestação que requerer uma série de atividade para poder concretizar a obrigação
principal. O devedor tem que cumprir todas as atividades do acordado para ter cumprido enfim a obrigação. Em
caso de inadimplemento, caberá ação de execução da obrigação cumulativa de fazer. Se impossível com culpa:
perdas e danos.

Divisíveis e indivisíveis: A regra geral diz que as obrigações são divisíveis e aplica-se as regras da
obrigação fracionária se existir pluralidade em um dos pólos. No entanto, em algumas prestações o objeto pode
ser indivisível. A natureza do bem é O PRIMEIRO CRITÉRIO A SER OBSERVADO: Exemplo, um cavalo
não tem como dividir, então é um bem de natureza indivisível. Não dá para usar as regras da obrigação
francionária, pois quando o devedor for pagar terá que dar o animal inteiro.
A SEGUNDA REGRA: é da vontade da lei, a lei determina se o bem poderá ou não ser dividido (Lei
6.766/79) como exemplo um terreno não pode ser dividido em menos de 125m².
O TERCEIRO CRITÉRIO: é a vontade das partes, apesar de o bem poder ser dividido, as partes
podem convencionar o contrário. Exemplo, o devedor vai entregar 60 bolas de futebol, pode entregar 20 para
cada um dos três credores, no entanto o contrato acertado que no pagamento seria feito de forma completa,
assim teria que entregar para um dos três credores ou para todos as 60 bolas de uma vez.
O QUARTO CRITÉRIO: é o motivo econômico que fundamentou aquela obrigação, ele vai
determinar a indivisibilidade. Por exemplo: 5000 folhas de papel ofício, o devedor tem que entregar.
Analisando a natureza do bem dá para dizer que é um bem divisível, mas os três devedores vão precisar das
5000 folhas para aplicar um concurso naquele dia, assim não daria para dividir as folhas entre os credores.
Considerando a utilidade ou o motivo econômico, essa obrigação que a princípio seria divisível passa a ser
indivisível.
Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não
suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do
negócio jurídico.

REGRAS ESPECÍFICAS DO ARTIGO 259 - Havendo dois o mais devedores e a prestação não for divisível
cada um será obrigado pela dívida toda. ART. 259. SE, HAVENDO DOIS OU MAIS DEVEDORES, A PRESTAÇÃO NÃO
FOR DIVISÍVEL, CADA UM SERÁ OBRIGADO PELA DÍVIDA TODA. Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida,
sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. Obrigação de dar 30 animais, 10 por cada devedor:

REGRA DO ARTIGO 260 - Se a pluralidade for de credores poderá cada um destes exigir a dívida
inteira. Lembrando que estamos trabalhando com regras de obrigação indivisível. Cada um dos credores pode
exigir a dívida inteira, mas o devedor se livrará pagando/entregando ao mesmo tempo aos três o objeto da
relação ou entregando a um dos credores; o devedor pode exigir uma caução de ratificação, que é um
documento no qual o credor, a quem foi efetuado o pagamento, afirmar para o devedor que repassará a parte
aos demais credores.

EXEMPLO: "Hebe e Irene decoradoras, são credoras de João, marceneiro, por uma obrigação de
fazer: ele se obrigou a confeccionar uma mesa de jantar para uma casa decorada por elas. Tanto Hebe como
Irene, agindo isoladamente, podem acionar João para obter o cumprimento da obrigação; ele, porém, apenas se
desobriga ao entregar a peça para as duas decoradoras em conjunto ou se a que receber o móvel garantir a
ratificação do ato de recebimento pela outra credora".(COELHO, 2012, pág 101)
ART. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o
devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de
ratificação dos outros credores.
O RECEBIMENTO DE PRESTAÇÃO INDIVISÍVEL POR UM DOS CREDORES É
POSSÍVEL: O devedor paga de uma só vez a dívida a um dos credores (C1); os outros dois credores (C2 e
C3) cobrarão do credor C1 a parte que lhes cabe. Se um só dos credores receber a prestação inteira, e não sendo
possível a restituição in natura aos outros credores, o credor C1 terá que pagar o valor em dinheiro a C2 e C3.

Continuando o exemplo das decoradoras, "se ocorrer de Hebe receber a mesa de jantar e por exemplo,
revendê-la a terceiros, dando ao móvel destinação diversa da originariamente acertada com Irene, terá esta
direito de cobrar daquela sua parte em dinheiro" (COELHO, 2012, pág 101).
Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito
de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total. Se um dos credores perdoar (remitir) a dívida a
obrigação não fica extinta para com os outros. O Devedor D1 pagará 10 para o credor C2 e 10 para o credor C3,
e a parte do credor C1 foi perdoada. Obrigação de 30 reais, 10 para cada credor.
OBRIGAÇÃO DE DAR UM CAVALO OU 30 REAIS. O credor C1 perdoou a dívida, e os credores
C2 e C3 querem o cavalo ao invés dos 30 reais, então eles vão fazer o seguinte: o devedor D1 vai entregar para
o credor C2 o cavalo, e os credores C2 e C3 tem que entregar 10 reais ao devedor D1, para ter consideração do
perdão feita pelo credor C1. Obrigação de 30 reais, 10 para cada credor.
OBRIGAÇÃO LÍQUIDA é aquela determinada quanto ao objeto e certa quanto à sua existência.
Expressa por um algarismo ou algo que determine um número certo.
Ex.: "A" deve dar a "B" R$ 500,00 ou 5 sacos de arroz. OBRIGAÇÃO ILÍQUIDA depende de prévia
apuração, já que o montante da prestação apresenta-se incerto.
Ex.: "A" deve dar vegetais a "B", não se sabe quanto e nem qual vegetal. Diversos artigos do Código Civil
estabelecem essa classificação. Citamos, então, os seguintes: arts. 397, 407, 369, 352, entre outros.
ELEMENTOS ACIDENTAIS DAS OBRIGAÇÕES: Os elementos acidentais são aqueles
que podem ou não estar presentes em uma obrigação e dizem respeito ao plano de eficácia das obrigações,
ou seja, a partir de quando que a obrigação poderá ser exercida ou parará de ser exercida. Os elementos
acidentais são a condição, o termo e o encargo. Portanto, são estipulações ou cláusulas acessórias que as
partes podem adicionar em seu negócio para modificar uma ou algumas de suas consequências naturais
(condição, modo, encargo ou termo).

CONDIÇÃO: Acontecimento de algo que gerará a situação suspensiva ou resolutiva e diz respeito a
um evento futuro e incerto. Na condição suspensiva o efeito da obrigação apenas se iniciará depois de
alcançada esta condição. Por exemplo: Apenas te venderei meu carro se eu comprar outro. Na condição
resolutiva o efeito da obrigação vai extinguir depois de alcançada esta condição. Por exemplo: Você pode usar
meu carro até que eu o venda para um terceiro.

O TERMO: Diz respeito ao acontecimento de um evento futuro e certo que gerará a situação de
iniciar ou terminar uma obrigação. O termo inicial aponta quando a obrigação começará a ter efeito. Por
exemplo: Vou te pagar daqui 1 semana. Já o termo final aponta quando a obrigação se finda. Por exemplo:
Você pode usar meu carro até a semana que vem.
ENCARGO: Um ônus que pode ser imposto ao beneficiário por uma obrigação gratuita. Por
exemplo: eu te doo o imóvel caso você construa uma creche para pessoas carentes e a mantenha por 5 anos.

TEORIA DO PAGAMENTO – CONDIÇÕES SUBJETIVAS E OBJETIVAS


SENTIDO DA EXPRESSÃO “PAGAMENTO” E SEUS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS: Em
geral, a obrigação extingue-se por meio do cumprimento voluntário da prestação. Diz-se, no caso, ter havido a
solução (solutio) da obrigação, com a consequente liberação do devedor. Por isso o termo pagamento,
diferentemente do que a linguagem comum nos sugere, não significa apenas a entrega de uma soma em
dinheiro, mas poderá também traduzir, em sentido mais amplo, o cumprimento voluntário de qualquer espécie
de obrigação.
Nesse sentido, paga não aquele que entrega a quantia em dinheiro (obrigação de dar), mas também o
indivíduo que realiza uma atividade (obrigação de fazer) ou, simplesmente, se abstém de determinado
comportamento (obrigação de não fazer).
OS TRÊS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DO PAGAMENTO: O vínculo obrigacional: trata-
se da causa (fundamento) do pagamento; não havendo vínculo, não há que se pensar em pagamento, sob pena
de caracterização de pagamento indevido; O SUJEITO ATIVO DO PAGAMENTO: o devedor (solvens), que
é o sujeito passivo da obrigação; O SUJEITO PASSIVO DO PAGAMENTO: o credor (accipiens), que é o
sujeito ativo da obrigação.
Vale destacar, para que não pairem quaisquer dúvidas terminológicas que, em matéria de pagamento,
faz-se a inversão dos polos da relação jurídica, como a ver o outro lado da moeda.
Além do PAGAMENTO existem formas especiais de extinção das obrigações: Consignação em
pagamento; Pagamento com sub-rogação; Imputação do pagamento; Dação em pagamento; Novação;
Compensação; Transação; Compromisso (arbitragem); Confusão; Remissão.
NATUREZA JURÍDICA DO PAGAMENTO
TEORIAS DO PAGAMENTO:
1ª SUBTEORIA (ato jurídico de sentido estrito): defendem que o pagamento é um simples
comportamento do devedor, sem conteúdo negocial, cujo principal e único efeito, previsto pelo ordenamento
jurídico, é a extinção da obrigação.
2ª SUBTEORIA (negócio jurídico): identifica no pagamento mais que um simples comportamento,
mas uma declaração de vontade, acompanhada de um elemento anímico complexo: o animus solvendi.
3ª SUBTEORIA: afirma ser o pagamento negócio jurídico unilateral, pois prescindiria a anuência da
parte credora (accipiens).
ROBERTO DE RUGGIERO afirma: “A verdade, quanto à referida discordância, é que a solutio
pode ser ora um negócio jurídico unilateral, ora um negócio jurídico bilateral, conforme a natureza específica
da obrigação quando ela consiste numa omissão e mesmo quando consiste uma ação, não é necessária a
intervenção do credor; é, pelo contrário, necessário o seu concurso, se a prestação consiste num dare, pois neste
caso há a aceitação do credor”.
Para CAIO MÁRIO: “Genericamente considerado, o pagamento pode, portanto, ser ou não um
negócio jurídico; e será unilateral e bilateral, dependendo esta classificação da natureza da prestação, conforme
para a solutio contente-se o direito como a emissão volitiva tão somente do devedor, ou para ela tenha de
concorrer a participação do accipiens”.
CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PAGAMENTO
DE QUEM DEVE PAGAR: Em primeiro plano, o sujeito passivo da relação obrigacional é o
devedor, ou seja, a pessoa que contraia obrigação de pagar. Entretanto, segundo a sistemática do direito
positivo brasileiro, também poderá solver o débito pessoa diversa do devedor – O TERCEIRO -, esteja ou não
juridicamente interessada no cumprimento da obrigação. Neste sentido, clara é a regra do art. 304 do CC/02:
“Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios
conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer
em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste”.

A norma legal indica-nos a existência de DUAS ESPÉCIES DE TERCEIRO: O terceiro interessado


e O terceiro não interessado.
O TERCEIRO INTERESSADO, entenda-se a pessoa que, sem integrar o polo passivo da relação
obrigacional-base, encontra-se juridicamente adstrita ao pagamento da dívida, a exemplo do fiador que se
obriga ao cumprimento da obrigação caso o devedor direto (afiançado) não o faça.
O TERCEIRO NÃO INTERESSADO, trata-se de pessoa que não guarda vinculação jurídica com a
relação obrigacional-base, por nutrir interesse meramente moral. É o caso do pai, que paga a dívida do filho
maior, ou do provecto amigo, que honra o débito do seu compadre.
Em casos tais, duas situações podem ocorrer:
a) O TERCEIRO NÃO INTERESSADO paga a dívida EM NOME E À CONTA DO DEVEDOR
(art. 304 do CC/2002) – neste caso, não tem, a priori, o direito de cobrar o valor que desembolsou para solver a
dívida, uma vez que o fez, não por motivos patrimoniais, mas por sentimentos filantrópicos, pelo que pode,
inclusive, lançar mão dos meio conducentes à exoneração do devedor, a exemplo da consignação em
pagamento. É o caso mencionado de pagamento feito por pais, filhos ou amigos, em que o móvel subjetivo do
indivíduo é a solidariedade.
b) O TERCEIRO NÃO INTERESSADO paga a dívida EM SEU PRÓPRIO NOME (art. 305 do
CC/02) – neste caso, tem o direito de reaver o que pagou, embora não se sub-rogue nos direitos do credor. De
tal forma, se o terceiro não interessado paga em seu próprio nome, poderá cobrar do devedor o que pagou, mas
não substituirá o credor em todas as suas prerrogativas.
DAQUELES A QUEM SE DEVE PAGAR: Segundo a nossa legislação em vigor, o pagamento
poderá ser feito às seguintes pessoas: O credor; O representante do credor; O terceiro. Neste sentido, é a dicção
da regra prevista no art. 308 do CC/02: “Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o
represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito”.
Claro que, em primeiro plano, o pagamento deve ser feito ao próprio credor (accipiens), sujeito
ativo titular do crédito. Poderá, todavia, ocorrer a transferência inter vivos (por meio de cessão de crédito) ou
post mortem (em face da morte do credor originário) do direito, de maneira que o cessionário, no primeiro caso,
e o herdeiro ou legatário, no segundo, passarão a ter legitimidade para exigir o cumprimento da dívida.
Nada impede, outrossim, que o devedor se dirija a um representante legal ou convencional do credor,
para efetuar o pagamento. Tal ocorre quando o pai, representante legal do filho, recebe numerário devido a este,
em virtude de um crédito existente contra terceiro. Da mesma forma, o credor pode, por meio da representação
convencional ou voluntária, outorgar poderes para que o seu procurador possa receber pagamento e dar
quitação.

CONSOANTE BEM ASSEVERA O ILUSTRADO SILVIO VENOSA: “Para a estabilidade das


relações negociais, o direito gira em torno de aparências. As circunstâncias externas, não denotando que o
portador da quitação seja um impostor, tornam o pagamento válido: „considera-se autorizado a receber o
pagamento o portador da quitação, exceto se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante”‟. Daí a
grande importância da previsão do art. 311 do CC/02: “Art. 311. considera-se autorizado a receber o pagamento
o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante”.
CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO
DO OBJETO DO PAGAMENTO E SUA PROVA: Já sabemos que o credor não está obrigado a
receber prestação diversa da que que lhe é devida, ainda que mais valiosa, e, também, não está adstrito a
receber por partes – nem o devedor a pagar-lhe fracionadamente -, se assim não se convencionou (arts. 313 e
314 do CC/02). Tais dispositivos visam a preservar a segurança jurídica dos negócios, uma vez que, se não
forem respeitados, as partes nunca saberão como efetuar corretamente o pagamento: SE SOU CREDOR DE
UM RELÓGIO DE COBRE, NÃO ESTOU OBRIGADO A ACEITAR UM DE OURO. DA MESMA
FORMA, SE FORA ESTIPULADA A ENTREGA DE UMA SACA DE CAFÉ, O DEVEDOR DEVERÁ
PRESTÁ-LA POR INTEIRO, E NÃO POR PARTES.
Se a precípua atividade do devedor é pagar, ou seja, cumprir a sua obrigação, forçoso é convir que terá
direito de exigir um prova de que adimpliu. A QUITAÇÃO, portanto, é, primordialmente, o MEIO DE
PROVA DO PAGAMENTO. O devedor tem direito subjetivo à quitação, e, caso, lhe seja negada, poderá reter
a coisa, facultando-se-lhe depositá-la em juízo, via ação consignatória de pagamento, para prevenir
responsabilidade (art. 319 do CC/02). Não poderá, pois, diante da recusa injustificada do credor de dar-lhe
quitação, abandonar o bem devido à sua própria sorte. Fará jus, outrossim, às despesas efetuadas
durante o tempo em que guardou e conservou a coisa, por conta da negativa do credor de recebê-la,
mediante quitação.
SÃO REQUISITOS LEGAIS DA QUITAÇÃO: O valor e a espécie da dívida quitada; O nome do
devedor ou de quem por este pagou (representante, sucessor ou terceiro); O tempo do pagamento (dia, mês, e,
se quiserem, hora); O lugar do pagamento; A assinatura do credor ou de representante seu.
Pode ocorrer, todavia, que o pagamento seja efetuado, e o devedor, por inexperiência ou ignorância,
não exija a quitação de forma regular, preterindo os requisitos legais acima mencionados. Neste caso, o
parágrafo único do art. 320 do CC/02, sem correspondente direto do Código Civil de 1916, prevê a
possibilidade de se admitir provado o pagamento, se “de seus termos ou das circunstâncias resultar sido paga a
dívida”.
Quem atua no interior do País sabe que o conhecimento das leis é, na generalidade dos casos, raridade.
Por isso, o cidadão humilde não poderia ser alijado do seu direito à quitação pelo simples fato de não haver
exigido o recibo exigido o recibo com todos os requisitos exigidos por lei. Se o juiz concluir, pelas
circunstâncias do caso posto a acertamento, que o devedor pagou, deverá declarar extinta a obrigação. Essa é a
melhor solução, em respeito, inclusive, ao princípio da boa-fé.
EXEMPLIFICANDO: Caio é devedor de Tício, por força de uma cambial (nota promissória),
emitida em benefício deste último. No dia do vencimento, o credor alega ter perdido o título de crédito. Em tal
hipótese, impõe-se ao devedor, no ato do pagamento, exigir uma declaração, datada e assinada
(preferencialmente com firma reconhecida), pelo próprio credor, no sentido de que reconhecia a inutilidade do
título extraviado, e que estava quitando o dívida contraída. Para prevenir responsabilidade frente a terceiro, é de
boa cautela que o credor dê ciência a terceiro, por meio da imprensa, acerca do extravio da cártula, em respeito
ao princípio da boa-fé.

A LEI CIVIL RECONHECE, AINDA, HIPÓTESES DE PRESUNÇÃO DE PAGAMENTO,


QUANDO ESTE NÃO SE POSSA COMPROVAR POR MEIO DE QUITAÇÃO TOTAL E REGULAR.
São as seguintes:
a) No pagamento realizado em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em
contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores (art. 322 do CC/02).
b) Sendo a quitação do capital sem reserva de juros (que são s frutos civis do capital), estes presumem-
se pagos (art. 323 do CC/02).
c) Nas dívidas literais, a entrega do título (nota promissória, cheque, letra de câmbio etc.) ao devedor
firma presunção de pagamento (art. 324 do CC/02).

Todas essas presunções de pagamento, todavia, são relativas. Vale dizer, firmam uma presunção
vencível, cabendo ônus de provar o contrário (a existência do pagamento) ao credor.

DO LUGAR DO PAGAMENTO: Desde o esboço de TEIXEIRA DE FREITAS admitia-se que o


lugar do pagamento, se o contrário não resultasse do título, deveria ser efetuado no domicílio do devedor (art.
1.055, 4º). Para ALVARO VILLAÇA: “... Em princípio o pagamento deve ser feito no domicílio do devedor. A
dívida, neste caso, será quesível, ou seja, deve ser cobrada, buscada, pelo credor, no domícílio do devedor.
Tudo indica que a palavra quesível encontra origem no verbo latino „quaero, is, sivi, ere‟, da terceira
conjugação, que significa buscar, inquirir, procurar, informar-se, indagar, perguntar”.
Nesse sentido, dispõe o artigo 327 do CC/02: “Art. 327. Efetuar-se-à o pagamento no domicílio do
devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da
obrigação ou das circunstâncias”.
DO TEMPO DO PAGAMENTO: Em princípio, todo pagamento deve ser efetuado no dia do
vencimento da dívida. Na falta de ajuste, e não dispondo a lei em sentido contrário, poderá o credor exigir o
pagamento imediatamente (art. 331 do CC/02). Tal regra, de compreensão fácil, somente se aplica às
obrigações puras, eis que se forem condicionais, ficarão na dependência do implemento da condição estipulada
(art. 332 do CC/02).
SE A OBRIGAÇÃO É A TERMO, sendo o prazo concedido a favor do devedor, nada impede que
este antecipe o pagamento, podendo o credor retê-lo. Em caso contrário, se o prazo estipulado for feito para
favorecer o credor, não poderá o devedor pagar antecipadamente. Tudo dependerá de como se convencionou
obrigação.
A respeito da hora em que deve ser feito o pagamento, vale transcrever o pensamento de CAIO
MARIO: “Chegado o dia, o pagamento tem de ser feito. Cabe indagar da hora, pois que o dia astronômico tem
24 horas, mas não é curial que aguarde o devedor a calada da noite, para solver as horas mortas. Já que o
recurso ao nosso direito positivo não nos socorre, é prestimosa a comparação do Direito Comparado. Assim, é o
que Código Civil alemão, no art. 358, manda que se faça nas horas habitualmente consagradas aos negócios. Os
bancos, por exemplo, têm horário de expediente, e irreal que se considerasse extensível o tempo da solução,
ulterior ao seu encerramento”.
SITUAÇÕES EM QUE O CREDOR PODERÁ EXIGIR ANTECIPADAMENTE O
PAGAMENTO, nas estritas hipóteses (numerus clausus) previstas em lei (art. 333 do CC/02).
a) No caso de falência do devedor ou de concurso de credores – nesse caso, o credor deverá acautelar-
se, habilitando o crédito antecipadamente vencido no juízo falimentar;
b) Se os bens, hipotecados ou empenhados (objeto de penhor), forem penhorados em execução de
outro credor – aqui, a antecipação do vencimento propiciará que o credor possa tomar providências imediatas
para garantir a satisfação do seu direito;
c) Se cessarem ou se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias (fiança, por
exemplo), ou reais, (hipoteca, penhor, anticrese), e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las – a negativa de
renovação ou reforço das garantias indica que a situação do devedor não é boa, razão porque a lei autoriza a
antecipação do pagamento.

TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL (SUBSTANCIAL PERFORMANCE)


A teoria do adimplemento substancial sustenta que uma obrigação não deve ser resolvida se a
atividade do devedor, posto não haja sido perfeita, aproximou-se consideravelmente (substancialmente) do
resultado esperado.
Em outras palavras, se o descumprimento obrigacional for ínfimo ou insignificante, não se deve
extinguir o contrato:
Sobre o tema escreve FLÁVIO TARTUCE:
“No caso brasileiro, a despeito da ausência de previsão expressa na codificação material privada, tem-
se associado o adimplemento substancial com os princípios contratuais contemporâneos especialmente com a
boa-fé objetiva e a função social contrato. Nesse sentido, na IV jornada de Direito Civil, evento promovido pelo
Conselho da Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em 2006, aprovou-se o Enunciado n. 361
CJF/STJ, estabelecendo que „O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a
fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art.
475‟. Vale lembrar que o art. 475 do Código Civil trata do inadimplemento voluntário ou culposo do contrato,
preceituando que a parte lesada pelo descumprimento pode exigir o cumprimento forçado dad avença ou a sua
resolução por perdas e danos”.

EXEMPLO:
JOSÉ celebrou contrato de seguro, visando acautelar-se acerca de risco em face de seu veículo.
Dividiu o pagamento do prêmio em cinco prestações.
Pagou as quatro primeiras, atrasando em poucos dias o adimplemento da última.
Sucede que, durante a sua mora, o veículo foi roubado.
A seguradora, por sua vez, negou o pagamento da indenização, invocando o art. 763 do Código Civil:
“Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se
ocorrer o sinistro antes de sua purgação”.

Ora, a par de JOSÉ pode alegar a manutenção da cobertura sob o argumento de que o cancelamento da
apólice não se operaria automaticamente, exigindo prévia comunicação à luz da cláusula geral de boa-fé, tem,
ainda, a seu favor, a possibilidade de poder invocar a teoria do adimplemento substancial, na medida em que
não se afiguraria justo e razoável considerar resolvido o contrato por conta de um adimplemento insignificante.

CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO (artigos 334 a 345 do Código Civil)


Noções gerais e conceituais
STOLZE GAGLIANO (p. 169, 21ª ed.), discorre que:
“Trata-se a consignação em pagamento, portanto, do instituto jurídico colocado à disposição do
devedor para que, antes ao obstáculo ao recebimento criado pelo credor ou quaisquer outras circunstâncias
impeditivas do pagamento, exerça, por depósito da coisa devida, o direito de adimplir a prestação, liberando-se
do liame obrigacional”.
Terminologia adequada sobre os sujeitos:
O devedor – sujeito ativo da consignação – denominado “CONSIGNANTE”.
O credor – sujeito passivo da consignação – denominado “CONSIGNATÁRIO”.

NATUREZA JURÍDICA DA CONSIGNAÇÃO:


Duas observações: Primeira, forma de extinção das obrigações; Segunda, é que a consignação em
pagamento não é um dever, mas sim mera faculdade do devedor, que não pôde adimplir a obrigação, por
mera culpa do credor.

HIPÓTESES DE OCORRÊNCIA:
O art. 335 do CC/02 apresenta a relação de hipóteses em que a consignação pode ter lugar, a saber: a)
SE O CREDOR NÃO PUDER, OU, SEM JUSTA CAUSA, RECUSAR RECEBER O PAGAMENTO,
OU DAR QUITAÇÃO NA DEVIDA FORMA (INCISO I).

EXEMPLO: Se A, locador de imóvel de B, se recusa a receber o valor do aluguel ofertado por este
último, por considerar que deveria ser majorado por um determinado índice previsto em lei, B poderá consignar
o valor, se entender que o reajuste é indevido. Note-se que a norma exige que a recusa seja justa, mas a
constatação da veracidade de tal justiça somente pode ser verificada, em definitivo, pela via judicial.
A hipótese é aplicável também, para o caso de A aceitar receber o valor, mas se recusar a dar quitação,
que é direito do devedor.

b) SE O CREDOR NÃO FOR, NEM MANDAR RECEBER A COISA NO LUGAR, TEMPO E


CONDIÇÃO DEVIDOS (INCISO II).
Exemplo: Se A acerta receber um pagamento de B no dia 03 de maio de 2002, e chegando o dia
combinado A não comparece, nem manda ninguém em seu lugar, a dívida vencerá sem pagamento. Para evitar
as consequências jurídicas da mora, poderá B depositar o valor devido à disposição de A, extinguindo-se a
obrigação. C) SE O CREDOR FOR INCAPAZ DE RECEBER, FOR DESCONHECIDO, DECLARADO
AUSENTE, OU RESIDIR EM LUGAR INCERTO OU DE ACESSO PERIGOSO OU DIFÍCIL
(INCISO III).

EXEMPLO: No caso de incapacidade do menor, este não poderá receber o pagamento, devendo ser
feito ao seu Representante, mas se este estiver em viagem, por exemplo, o pagamento poderá ser feito em
consignação. Se A deve a importância de R$1.000,00 a B e este vem a falecer, não se sabendo quem são seus
efetivos herdeiros, na data de vencimento da obrigação. Nesse caso, sem saber a quem pagar, pode o devedor
realizar a consignação. Outra situação, residindo o credor em lugar incerto, de acesso perigoso ou difícil, não é
razoável se exigir que o devedor tenha de arriscar a sua vida para procurar o credor (que nem se dignou a
receber a sua prestação), se pretender se livre da obrigação, estando autorizado a consigná-la.

SE OCORRER DÚVIDA SOBRE QUEM DEVA LEGITIMAMENTE RECEBER O OBJETO


DO PAGAMENTO (INCISO IV).
Exemplo: Se duas pessoas distintas (A e B) pleiteiam o pagamento de uma determinada prestação em
face de C, dizendo-se, cada uma, o verdadeiro credor, o devedor C para não incidir na regra de “quem paga mal
paga duas vezes”, deve consignar judicialmente o valor devido, para que o juiz verifique quem é o legítimo
credor ou qual a cota de cada um, se ambos legitimados.

SE PENDER LITÍGIO SOBRE O OBJETO DO PAGAMENTO (INCISO V).


Exemplo: A e B disputam judicialmente quem é o legítimo sucessor do credor C, não é recomendável
D antecipe-se à manifestação estatal, para entregar o bem a um deles, pois assumirá o risco do pagamento
indevido. Da mesma forma, se A e B disputam, judicialmente, a titularidade de um bem imóvel locado, não
deve o locador D fazer o pagamento direto , sem ter a certeza de quem é o legítimo credor. Neste sentido
estabelece o art. 344 do CC/02: “O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se
pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento”.

REQUISITOS DE VALIDADE: Na forma do artigo 336 do CC/02, “para que a consignação tenha
força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os
requisitos sem os quais não é válido o pagamento”. ÀS PESSOAS – deverá ser feita pelo devedor ou quem o
represente (arts. 304 e 308 CC/02); AO OBJETO – o pagamento deve ser feito na integralidade, não sendo
obrigado o Credor receber parcelado; MODO – devendo a obrigação ser cumprida da mesma maneira como foi
concebida originalmente; TEMPO – também conforme convencionado pelas partes.

POSSIBILIDADE DE LEVANTAMENTO DO DEPÓSITO PELO DEVEDOR


Realizado o depósito com a finalidade de extinguir a obrigação, poderá ele ser levantado? Depende do
momento em que o devedor pretende realizar tal ato. ANTES DA ACEITAÇÃO OU IMPUGNAÇÃO DO
DEPÓSITO: tem o devedor total liberdade para levantar o depósito, uma vez que a importância ainda não saiu
de seu patrimônio; DEPOIS DA ACEITAÇÃO OU IMPUGNAÇÃO DO DEPÓSITO PELO CREDOR: o
credor já se manifestou sobre o depósito, pretendendo incorporá-lo em seu patrimônio (aceitação) ou
considerando insuficiente (impugnação). O devedor poderá ainda levantá-lo, mas dependerá de aceitação do
credor. JULGADO PROCEDENTE O DEPÓSITO: admitido em caráter definitivo o depósito, o devedor já
não poderá levantá-lo, ainda que o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores (art.
339 do CC/02).

CONSIGNAÇÃO DE COISA CERTA E COISA INCERTA: Se A se obriga entregar uma máquina


a B e este, na data do vencimento, se recusa a recebê-lo, poderá o devedor A se valer da consignação em
pagamento para extinguir a obrigação. Na forma do art. 304 do CC/02, se a coisa devida foi imóvel ou corpo
certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar
recebê-la, sob pena de ser depositada. Se a coisa for indeterminada (leia-se: incerta), na expressão do art. 342
do CC/02, é preciso se proceder à sua classificação, pela operação denominada “concentração de débito” ou
“concentração da prestação devida”.

DESPESAS PROCESSUAIS: Segundo estabelece o art. 343 do CC/02 “as despesas com o depósito,
quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor”.
PERGUNTA-SE: Se A, devedor, em face da recusa de B, credor, na relação jurídica de direito
material, propõe a consignação judicial do pagamento do valor e, nos autos, B aceita, sem impugnação, a
importância ofertada, a quem cabe o pagamento das despesas processuais?

SEGUNDO O ART. 546, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE


2015: “ART. 546. JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO, O JUIZ DECLARARÁ EXTINTA A
OBRIGAÇÃO E CONDENARÁ O RÉU AO PAGAMENTO DE CUSTAS E HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. PARÁGRAFO ÚNICO. PROCEDER-SE-Á DO MESMO MODO SE O CREDOR
RESOLVER E DAR QUITAÇÃO

PRESTAÇÕES PERIÓDICAS: Há situações, todavia, em que a relação obrigacional que envolve os


sujeitos é de trato sucessivo, havendo, portanto, prestações periódicas a serem adimplidas. Exemplo: dívida de
aluguéis, alimentos, prestação de financiamento habitacional e, até mesmo, salários (tendo em vista a
sucessividade do pacto laboral). Tal regra está disposta na legislação processual, de acordo com o artigo 541 do
CPC/2015, in verbis:
“Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignadas uma delas, pode o devedor
continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que
o faça em até 5 (cinco) dias, contados da data do respectivo vencimento”.

PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO (arts. 346-351 CC/02): Segundo o léxico CALDAS


AULETE, sub-rogação (s.f.) é “o ato de sub-rogar. Ato pelo qual se substitui uma pessoa ou coisa em lugar de
outra. (For) Ato pelo qual o indivíduo que paga pelo devedor com o consentimento deste, expressamente
manifestado ou por fatos donde claramente se deduza, fica investido nos direitos do credor (Cód.Civ. Port. Art.
778). F. Lat. Subrogatio”. Para a ciência jurídica, da mesma forma, sub-rogação traduz a ideia de “substituição”
de sujeitos ou de objeto, em uma determinada relação jurídica.
Citando pensamento de HENRY DE PAGE, magistral civilista belga, CAIO MARIO observa que “na
palavra mesma que exprime o conceito (do latim „sub rogare, sub rogatio‟), está contida a ideia de substituição,
ou seja, o fato de uma pessoa tomar o lugar de outra, assumindo a sua posição e sua situação.”

EXISTEM DOIS TIPOS DE SUB-ROGAÇÃO: OBJETIVA OU REAL E SUBJETIVA OU


PESSOAL. Por exemplo: quando o fiador paga a dívida do afiançado, passando, a partir daí, a ocupar a
posição de credor, substituindo-o. Assim, se Caio (fiador) paga a dívida de Tício (devedor principal/afiançado),
junto a Mélvio (Credor), poderá, então, exigir o reembolso do que pagou, sub-rogando-se nos direitos do
Credor.
CONCEITO E ESPÉCIES: Como bem pondera ORLANDO GOMES, “a sub-rogação pessoal
assemelha-se a cessão de crédito, subordinando-se, na sua espécie mais comum, às regras que a disciplinam.
Não se confundem, porém. A sub-rogação pressupõe pagamento, só se verificando se o credor originário for
satisfeito. A cessão de crédito, ao contrário, ocorre antes que o pagamento seja feito”.

ESPÉCIES: Pagamento com sub-rogação legal. Pagamento com sub-rogação convencional.


PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO LEGAL - Em três hipóteses configura-se a sub-rogação legal, ou
seja, de pleno direito (art. 346 do CC/02): EM FAVOR DO CREDOR QUE PAGA A DÍVIDA DO
DEVEDOR COMUM (INCISO I) – se duas ou mais pessoas são credoras do mesmo devedor, operar-se-á a
sub-rogação legal se qualquer dos sujeitos ativos pagar ao credor preferencial (aquele que tem prioridade no
pagamento do crédito) o valor devido.

EXEMPLO: não havendo dívida trabalhista, se o primeiro credor, segundo a ordem legal de
preferência, é a União Federal, detentora do único crédito tributário, poderá qualquer dos outros credores,
objetivando acautelar o seu crédito pagar o Fisco, sub-rogando-se em seus direitos. Dessa maneira poderá
exigir, além do seu próprio crédito, o valor da dívida adimplida.
Também pode acontecer que um credor hipotecário, com segunda hipoteca sobre determinado imóvel
do devedor, queira pagar ao títular do crédito, com primeira hipoteca sobre essa mesma coisa, sub-rogando-se
nos direitos deste, executando, depois os dois créditos hipotecários, sem ficar aguardando que o primeiro seja
executado para, em seguida, executar o segundo sobre o saldo que restar da primeira execução.

EM FAVOR DO ADQUIRENTE DO IMÓVEL HIPOTECADO, QUE PAGA AO CREDOR


HIPOTECÁRIO, BEM COMO DO TERCEIRO QUE EFETIVA O PAGAMENTO PARA NÃO SER
PRIVADO DO DIREITO SOBRE O IMÓVEL (INCISO II) – A hipoteca é um direito real de garantia
incidente sobre imóveis. Em geral quando uma pessoa pretende obter um empréstimo, o credor, antes de
fornecer o numerário, costuma exigir garantias e, em especial, uma garantia real, a exemplo de uma hipoteca de
imóvel do devedor (uma fazenda, por exemplo). Neste caso, o proprietário terá o seu bem gravado (pela
hipoteca), podendo o credor hipotecário reavê-lo em mãos de quem quer que seja, por força do chamado
“direito de seque-la”. Nada impede, porém, que o devedor aliene o bem hipotecado a um terceiro, ciente da
hipoteca (aliás toda hipoteca deverá ser registrada no Cartório de Registro de Imobiliário). Este adquirente (o
comprador da fazenda), portanto, objetivando liberar o imóvel, poderá pagar a soma devida ao credor
hipotecário, sub-rogando-se em seus direitos. Na parte final deste inciso, inovou o Novo Código Civil, ao
reconhecer a incidência da sub-rogação legal também na hipótese de um terceiro efetivar o pagamento para
não ser privado de direito sobre o imóvel.

EM FAVOR DO TERCEIRO INTERESSADO QUE PAGA PELA DÍVIDA PELA QUAL ERA
OU PODIA SER OBRIGADO, NO TODO OU EM PARTE (INCISO III) – Esta é a hipótese mais comum
de sub-rogação legal. Opera-se quando um terceiro, juridicamente interessado no cumprimento da obrigação,
paga a dívida, sub-rogando-se nos direitos do credor. É o que ocorre no caso do fiador, que paga a dívida do
credor principal, passando, a partir daí, a poder exigir o valor desembolsado, utilizando, se necessário, as
garantias conferidas ao credor originário.

PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO CONVENCIONAL: Essa forma de sub-rogação decorre


da vontade das próprias partes e é disciplinada pelo art. 347 do CC/02, que admite em duas hipóteses: Quando
o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transmite todos os seus direitos (inciso I).
Quando uma terceira pessoa empresta ao devedor uma quantia prévia para solver a dívida, sob
a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito (inciso II) – neste
caso, a pessoa que emprestou o numerário (mutuante), para que o devedor (mutuário) pagasse a soma devida,
no próprio ato de concessão do empréstimo ou financiamento estipula expressamente, que ficará sub-rogado
nos direitos do credor satisfeito.

EFEITOS JURÍDICOS DA SUB-ROGAÇÃO: O principal efeito da sub-rogação é, exatamente,


transferir ao novo credor “todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida,
contra o devedor principal e seus fiadores” (art. 349 do CC/02). Dessa forma, se o credor, principal dispunha de
garantia real (um hipoteca ou um penhor, por exemplo) ou pessoal (fiança), ou ambas, o terceiro sub-rogado,
passará a detê-las, podendo, pois, tomar as necessárias medidas judiciais para a proteção do seu crédito, como
se fosse o credor primitivo.

IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO (arts. 352 ao 355 - CC/02). Ninguém está impedido de contrair
mais de uma dívida com a mesma pessoa. Entende-se a imputação do pagamento como “determinação feita
pelo devedor, dentre dois ou mais débitos da mesma natureza, positivos e vencidos, devidos a um só credor,
indicativa de qual dessas dívidas quer solver”. Trata-se muito mais de um meio indicativo de pagamento do
que de um modo satisfativo de adimplemento.

Requisitos legais indispensáveis: a) Igualdade de sujeitos (credor e devedor); b) Liquidez e


vencimento de dívidas da mesma natureza. Esses requisitos são imprescindíveis simultaneamente para que o
devedor possa ter o direito subjetivo de fazer a imputação do pagamento, independentemente da manifestação
do credor. IMPUTAÇÃO DO CREDOR E IMPUTAÇÃO LEGAL: Na ausência, porém, de qualquer
manifestação de vontade e ocorrendo o silêncio do devedor sobre qual das dívidas líquidas e vencidas quer
imputar o pagamento, como deve proceder?
PENSANDO EM SITUAÇÕES COMO AS TAIS, ESTABELECE O ART. 353 DO CC/02:
“Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o
pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito de reclamar contra a imputação feita pelo credor,
salvo provando haver ele cometido violência ou dolo”.
Todavia, pode acontecer que a quitação seja omissa quanto à imputação, escapando da incidência da
norma supramencionada.
NESSE CASO, SERÃO INVOCADAS AS NORMAS DA IMPUTAÇÃO LEGAL.Fazendo a
interpretação conjunta dos art. 354 e 355 do CC/02, podemos estabelecer a seguinte ordem preferencial:
Prioridade para os juros vencidos, em detrimento do capital; Prioridade para as líquidas e vencidas
anteriormente, em detrimento das mais recentes; Prioridade para as mais onerosas, em detrimento das menos
vultosas, se vencidas e líquidas ao mesmo tempo.

E SE TODAS AS DÍVIDAS TIVEREM EXATAMENTE A MESMA NATUREZA,


VENCIMENTO E VALOR? ALVARO VILLAÇA DE AZEVEDO que “seria, analogicamente, de aplicar-se
a regra do art. 433, item 4, do Código Comercial brasileiro que estatui: „Sendo as dívidas da mesma data e de
igual natureza, entende-se feito o pagamento por conta de todas em devida proporção”.

DAÇÃO EM PAGAMENTO (arts. 356 a 359 do CC/02): Trata-se, pois, de forma de extinção
obrigacional, disciplinada pelos arts. 356-359 do CC/02, por força da qual o credor consente em receber
prestação diversa da que fora pactuada. Assim, se o credor obriga-se a pagar a quantia de R$1.000,00, poderá
solver a dívida por meio da dação, entregando um automóvel ou prestando um serviço, desde que o credor
consinta com a substituição das prestações. Aliás, cumpre-nos registrar que a obrigação primitiva não precisa
ser, necessariamente, pecuniária. Pouco importa se fora inicialmente pactuada obrigação de dar, de fazer e não
fazer. O que interessa é a natureza diversa da nova prestação.

REQUISITOS DA DAÇÃO EM PAGAMENTO: São requisitos dessa forma de extinção das


obrigações:
a) Existência de uma dívida vencida – visto que ninguém pode pretender solver uma dívida existente e
exigível;
b) O consentimento do credor – não basta apenas a iniciativa do devedor, mas a anuência do credor para
ter validade;
c) A entrega de coisa diversa da devida – somente a diversidade essencial de prestações caracterizará a
dação em pagamento;
d) O ânimo de solver (animus solvendi) – o elemento anímico subjetivo, da dação em pagamento é,
exatamente o animus solvendi.

EVICÇÃO DA COISA DADA EM PAGAMENTO: A evicção é uma garantia típica dos contratos
onerosos, em que há transferência de propriedade (arts. 447 a 457 do CC/2002).
Ocorre evicção – que traduz a ideia de “perda” -, quando o adquirente de um bem vem a perder a sua
propriedade ou posse em virtude de decisão judicial que reconhece direito anterior de terceiro sobre o mesmo.
Em tal situação, delineiam-se, nitidamente, três sujeitos:
a) O alienante – que responderá pelos riscos da evicção, ou seja, que deverá ser responsabilizado pelo
prejuízo causado ao adquirente;
b) O evicto – o adquirente, que sucumbe à pretensão reivindicatória do terceiro;
c) O evictor – o terceiro que prova o seu direito anterior sobre a coisa.

DAÇÃO “PRO SOLVENDO: Dação em pagamento (datio in solutum), forma de extinção de


obrigação que se concretiza quando o credor aceita receber coisa diversa da que fora inicialmente pactuada.
Entretanto, não há que se confundir a dação “in solutum” com outra figura muito próxima, posto
diversa, a denominação “pro solvendo”, cujo fim precípuo não é solver imediatamente a obrigação, mas
facilitar o seu cumprimento.
Irreparável é o exemplo de dação “pro solvendo”, proposto por ANTUNES VARELA:
“A, pequeno retalhista, deve ao armazém B cem contos, preço da mercadoria que este lhe forneceu.
Como tem a vida um pouco embaraçada e o credor aperta com a liberação da dívida. A cede-lhe um crédito que
tem sobre C, não para substituir o seu débito ou criar outro ao lado dele, mas para que o credor B se cobre mais
facilmente de seu crédito, visto C estar em melhor situação do que A.
Quando esta seja a intenção das partes, a obrigação não se extingue imediatamente. Mantém-se, e só se
extinguirá se e à medida que o respectivo crédito for sendo satisfeito, à custa do novo meio, ou instrumento
jurídico para o efeito proporcionado ao credor.”

No caso a Dação “pro solvendo”, a par de conter, embutida, uma cessão de crédito, não traduz
imediata liberação do devedor (cedente do crédito), uma vez que a extinção da obrigação só ocorrerá quando o
credor (cessionário do crédito) tiver sido plenamente satisfeito.
Por isso que não se trata, tecnicamente, de uma dação em pagamento com finalidade extintiva, mas
sim de simples meio facilitador do cumprimento da obrigação.

NOVAÇÃO (arts. 360 a 367 do CC/02): A expressão novação origina-se da expressão latina (novus,
novo, nova obligatio). Dá-se a novação quando, por meio de uma estipulação negocial, as partes criam uma
nova obrigação, destinada a substituir e extinguir a obrigação anterior. “Trata-se”, no dizer do magistral
RUGGIERO, “de um ato de eficácia complexa, que repousa sobre uma vontade destinada a extinguir um
crédito pela criação de um novo”.
Exemplo clássico: A deve a B a quantia de R$1.000,00. O devedor, então, exímio carpinteiro, propõe a
B que seja criada uma nova obrigação – de fazer -, cujo objeto seja a prestação de serviço de carpintaria na
residência do credor. Este, pois, aceita, e, por meio de convenção celebrada, considera extinta a obrigação
anterior, que será substituída pela nova.

REQUISITOS: A novação, para se caracterizar, deverá conter os seguintes requisitos:


a) Existência de uma obrigação anterior;
b) A criação de uma nova obrigação, substancialmente diversa da primeira;
c) O ânimo de novar (animus novandi);

ESPÉCIES: A doutrina aponta, fundamentalmente, a existência de três espécies de novação:


a) A novação objetiva;
b) A novação subjetiva;
c) A novação mista;

NOVAÇÃO SUBJETIVA (ATIVA, PASSIVA OU MISTA): Três hipóteses:


a) Por mudança de devedor – novação subjetiva passiva;
b) Por mudança do credor – novação subjetiva ativa;
c) Por mudança de credor e devedor – novação subjetiva mista.
A novação subjetiva passiva ocorre quando UM NOVO DEVEDOR SUCEDE AO ANTIGO,
ficando este quite com o credor (art. 360, II, do CC/02).
Quando houver a alteração no POLO PASSIVO DO CREDOR, estar-se-á diante de novação
subjetiva ATIVA (360, II, do CC/02).
Na novação mista, incidente quando, além da alteração de sujeito (credor ou devedor), muda-se o
conteúdo ou objeto da relação obrigacional.

EFEITOS: O principal efeito da novação é liberatório, ou seja, a extinção da primitiva obrigação, por
meio de outra, criada para substituí-la.
Em geral, realizada a novação, extinguem-se todos os acessórios e garantias da dívida (a exemplo da
hipoteca e da fiança), sempre que houver estipulação em contrário (art. 364, primeira parte, do CC/2002).
Ocorrida a novação entre credor e um dos devedores, solidários, o ato só será eficaz em face do
devedor que novou, recaindo sobre o seu patrimônio as garantias do crédito novado, restando, por
consequência, liberados os demais devedores (art. 365 do CC/02).

COMPENSAÇÃO (Arts. 368 a 380 CC/02): É uma forma de extinção de obrigações, em que seus
titulares são, reciprocamente, credores e devedores. Tal extinção se dará até o limite da existência do crédito
recíproco, remanescendo, se houver, o saldo em favor do maior credor, conforme se depreende do art. 368 do
CC/02: “ART. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações
extinguem-se, até onde se compensarem”.
Exemplo: se A tem uma dívida de R$1.000,00 com B, e B também tem uma dívida de R$1.000,00 com
A, tais obrigações, no plano ideal, seriam extintas sem qualquer problema. No mesmo raciocínio, se A tem uma
dívida de R$1.000,00 com B e B tem uma dívida de R$1.500,00 com A, haveria a extinção até o limite de
R$1.000,00, remanescendo saldo de R$500,00 em favor de A.

ESPÉCIES: Legal (é a regra); Convencional (decorrência direta da autonomia da vontade);


REQUISITOS DA COMPENSÇÃO LEGAL: Reciprocidade das obrigações – única exceção na
forma do art. 371 do CC/02; Liquidez das dívidas – é necessário identificar a expressão numérica das dívidas;
Exemplo: se A tem uma dívida de R$1.500,00 com B e B foi condenado judicialmente ao pagamento de perdas
e danos em relação a A, se ainda não foi verificado o valor exato dessa condenação, não há possibilidade de
saber a quanto alcançam para serem compensadas.

EXIGIBILIDADE ATUAL DAS PRESTAÇÕES – VENCIMENTO DA DÍVIDA;


FUNGIBILIDADE DOS DÉBITOS – exige-se que as dívidas sejam de coisas fungíveis entre si, ou
seja, da mesma natureza.
Exemplo: se A tem uma dívida de R$1.000,00 com B, B lhe deve um computador, ainda que no valor
de R$1.000,00, a A não é possível a compensação legal, pois, embora os bens sejam fungíveis, não o são entre
si, pois ninguém é obrigado a receber prestação diversa do pactuado.
Todavia, se A deve cinco sacas de feijão a B e B também tem uma dívida com A, porém de apenas três
sacas de feijão, é possível a compensação.
Atenção: não se poderá, porém, compensar coisas fungíveis do mesmo gênero, se diferem na
qualidade, quando especificado em contrato.

HIPÓTESES DE IMPOSSIBILIDADE DE COMPESAÇÃO


O artigo 373 do CC/02 elenca algumas situações em que não é admissível o instituto da compensação:
a) Dívidas provenientes de esbulho (ato de usurpação pelo qual uma pessoa é privada, ou espoliada, de
coisa de que tenha propriedade ou posse), furto ou roubo (inciso I).
Exemplo: se eu me aproprio de um bem do meu credor, não posso compensar minha dívida com a
devolução de coisa apoderada;
b) Se uma das dívidas se originar de comodato (empréstimo gratuito de coisa não fungível, que deve
ser restituída no tempo convencionado pelas partes), depósito ou alimentos (inciso II).
Exemplo: se A deve R$1.000,00, a título de alimentos, a B, mesmo que este lhe deva valor superior,
não poderá fazer compensação, pois a versa se destina à subsistência de B.
c) se uma das dívidas for de coisa não suscetível de penhora (inciso III) – impenhorabilidade de
determinados bens justifica-se por sua relevância, conforme se pode verificar do art. 833 do CC/02.

DA TRANSÇÃO (art. 840 do CC/02): É o negócio jurídico pelo qual os interessados previnem ou
terminam um litígio, mediante concessões mútuas conceito este extraído da própria previsão legal do art. 840
do CC/02.
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS: Acordo entre as partes: a transação é um negócio jurídico
bilateral em que a convergência de vontades é essencial para impor sua força obrigatória. Existência de relações
jurídicas controvertidas: haver dúvida razoável sobre a relação jurídica que envolve entre as partes é
fundamental para se falar em transação.
“ANIMUS” de extinguir as dúvidas, prevenindo ou terminando o litígio: por meio da transação, cada
uma das partes abre mão de uma parcela de seus direitos, justamente para evitar ou extinguir o conflito.
Concessões recíprocas: como a relação jurídica é controversa, não se sabendo de forma absoluta, de quem é a
razão, as partes, para evitar maiores discussões, cedem mutualmente.
NATUREZA JURÍDICA: Observa CARLOS ROBERTO GONÇALVES: “Divergem os autores
sobre a natureza jurídica da transação. Entendem uns ter natureza contratual; outros, porém, consideram-na
meio de extinção de obrigações, não podendo ser equiparada a um contrato, que tem por fim gerar obrigações.
Na realidade, na sua constituição, aproxima-se do contrato, por resultar acordo de vontades sobre determinado
objeto; nos seus efeitos, porém tem a natureza de pagamento indireto”.
ESPÉCIES: Judicial: já existe uma demanda aforada; Extrajudicial: ocorrendo previamente à
instauração de um litigio;
FORMA: Sobre a forma da transação, estabelece o artigo 842 do CC/02: “Art. 842.A transação far-se-
á por escritura pública, nas obrigações em que a lei o exige, ou por instrumento particular, nas em que ela o
admite; se recai sobre direitos contestados em juízo, será feita por escritura pública, ou por termo nos autos,
assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz”.
OBJETO: Somente podem ser objeto de transação direitos patrimoniais de caráter privado (art. 841
do CC/02). Dessa forma, os direitos indisponíveis, os relativos ao estado e capacidade das pessoas, os direitos
puros de família e os direitos personalíssimos não podem ser objeto de transação, pois esta é direcionada para
direitos que estão dentro do comércio jurídico. Exemplo: direito à alimentos é insuscetível de transação;
ninguém poderá negociar com direito personalíssimo. Nada impede, porém, que uma compensação pecuniária
por dano moral sofrido seja objeto de transação.

CONFUSÃO (arts. 381 ao 384): Opera-se quando as qualidades de credor e devedor são reunidas em
uma mesma pessoa, extinguindo-se, consequentemente, a relação jurídica obrigacional.
CONFUSÃO REAL: mistura de substâncias líquidas que não podem ser separadas. Forma-se um
condomínio (arts. 1.272 a 1.274 do CC). Exemplo: mistura de água e vinho.
CONFUSÃO PESSOAL: é a reunião em uma mesma pessoa das qualidades de credor e devedor.
Como ninguém pode ser credor de si próprio, a obrigação se extingue.
Neste sentido dispõe o art. 381 do CC/02: “Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma
pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor”.

Exemplos: Um sujeito é devedor de seu tio, e, por força do falecimento deste, adquire, por sucessão, a
sua herança. Em tal hipótese, passará a ser credor de si mesmo, de forma que o débito desaparecerá por meio da
confusão. A empresa A deve para a empresa B e a empresa A é incorporada pela empresa B (incorporação da
pessoa jurídica). A empresa incorporada (A) se extingue e a confusão se opera.

ESPÉCIES: A confusão poderá determinar a extinção total ou parcial da dívida, nos termos do art.
382 do CC/02. Podendo ser: Confusão total (de toda a dívida); Confusão parcial (de parte da dívida). Exemplo:
João deve para o tio a importância de R$1.000,00. Por testamento, o tio nomeia Maria e João como únicos
herdeiros. Com a morte do credor, ocorre a confusão na metade do crédito e João prossegue devedor de
R$500,00 para Maria.

DA REMISSÃO DAS DÍVIDAS (arts. 385 ao 388 CC/02) - Remissão é o perdão da dívida pelo
credor, este perdão deve ser aceito pelo devedor (Art. 385). Não traz nenhum acréscimo patrimonial ao credor.
Não confunda: Remissão -> Perdoar - Remição -> Pagar - A remissão é ineficaz se prejudicar
terceiros, assim como o é a compensação (art. 380 do CC/02). Exemplo: A deve para B e B deve para C, B
perdoa A extinguindo a dívida. Com o perdão, C é prejudicado. Pois o crédito (de A para B) lhe garantia o
pagamento. Para C, o perdão não produz efeitos. Haverá uma ineficácia relativa do perdão. A remissão existe, é
válida, e eficaz para as partes e terceiros, com exceção de C. O crédito perdoado não retoma ao patrimônio de
B, mas C poderá penhorá-lo diretamente de A, pois para ele o perdão não produz efeitos.

Remissão expressa: é aquela em que a manifestação de vontade indica que o perdão ocorreu.
Remissão tácita: decorrem de atos que indicam que o credor não quer receber o crédito e o devedor
com isso concorda.
A regra é que a remissão ocorra por ato expresso, entretanto é possível a remissão por presunção/tácita
(Art. 386), entretanto a restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real,
não a extinção da dívida (Art. 387).
Exemplo: se o devedor deve R$5.000,00 ao Banco e deu um relógio em penhor e se o Banco devolve o
relógio ao devedor, a dívida se mantém em R$5.000,00 correndo, apenas a renúncia da garantia.
Remissão da dívida na solidariedade passiva (Art. 388) – apenas a parte do perdoado é extinta,
permanecendo os demais vinculados ao restante da dívida.

Remissão da dívida na solidariedade passiva (Art. 388 do CC/02) – apenas a parte do perdoado é
extinta, permanecendo os demais vinculados ao restante da dívida.
Vejamos:
Art. 388. A remissão concedida a um dos codevedores extingue a dívida na parte a ele correspondente;
de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem
dedução da parte remitida.

Simone Helen Drumond Ischkanian


Gabriel Nascimento de Carvalho

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