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Vulnerabilidade dos consumidores na sociedade da

informação e a necessidade da proteção jurídica de seus


dados nas relações estabelecidas em ambiente digital

VULNERABILIDADE DOS CONSUMIDORES NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO


E A NECESSIDADE DA PROTEÇÃO JURÍDICA DE SEUS DADOS NAS
RELAÇÕES ESTABELECIDAS EM AMBIENTE DIGITAL
Vulnerability of consumers in the information society and the need for legal protection of their data in
the relationships established in the digital environment
Revista de Direito do Consumidor | vol. 141/2022 | p. 201 - 218 | Maio - Jun / 2022
DTR\2022\9974

Fernando Costa de Azevedo


Doutor em Direito pela UFRGS. Mestre em Direito pela UFSC. Professor associado na Faculdade de
Direito da UFPEL. Coordenador-Geral (Líder) do Grupo de Estudos e Pesquisa em Direito do
Consumidor (GECON/UFPEL/CNPq). Membro da Diretoria Nacional do BRASILCON (biênio
2020-2022). fecoaze@gmail.com fernando.azevedo@ufpel.edu.br

Karinne Emanoela Goettems dos Santos


Doutora e Mestre em Direito pela UNISINOS. Professora adjunta da Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Coordenadora do Serviço de Assistência Jurídica da
UFPEL. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Acesso à Justiça no século XXI – O tratamento dos
conflitos na contemporaneidade. Estuda e pesquisa o acesso à justiça a partir do resgate da
dimensão histórica e social do direito processual civil. Professora da graduação e da pós-graduação
em Direito – Mestrado. ORCID: [https://orcid.org/0000-0002-6464-672X_]. karinne.adv@hotmail.com

Tássia Rodrigues Moreira


Mestranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de
Pelotas (UFPEL). Pesquisadora e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). tassia-rodrigues@hotmail.com

Área do Direito: Consumidor; Digital


Resumo: O presente trabalho aborda a proteção jurídica do consumidor na sociedade da
informação, fazendo uma análise da sociedade de consumo contemporânea e da utilização de novas
tecnologias nesse processo social. São abordados os riscos de contratação no comércio eletrônico e
a necessidade de proteção de dados dos consumidores. Reconhece o agravamento da
vulnerabilidade do consumidor no ambiente digital e procura responder como o sistema jurídico
brasileiro protege o consumidor na era da tecnologia. Conclui-se pela necessidade de observância
do diálogo das fontes e conjugação de esforços de todos os atores sociais como importantes
instrumentos para tutela efetiva do consumidor.

Palavras-chave: Vulnerabilidade – Sociedade da informação – Consumidores – Comércio


eletrônico – Proteção de dados – Tutela jurídica
Abstract: The present work addresses the legal protection of the consumer in the information
society, making an analysis of the contemporary consumer society and the use of new technologies
in this social process. Will be approach the e-commerce contracting risks and the need to protect
consumer data. It recognizes the worsening vulnerability of consumers in the digital environment and
seeks to answer how the Brazilian legal system protects consumers in the age of technology. It
concludes by the necessity of observing the dialogue of the sources and the joint efforts of all social
actors as important instruments for effective consumer protection.

Keywords: Vulnerability – Information society – Consumers – E-commerce – Data protection – Legal


protection
Para citar este artigo: Azevedo, Fernando Costa de; Santos, Karinne Emanoela Goettems dos;
Moreira, Tássia Rodrigues. Vulnerabilidade dos consumidores na sociedade da informação e a
necessidade da proteção jurídica de seus dados nas relações estabelecidas em ambiente digital.
Revista de Direito do Consumidor. vol. 141. ano 31. p. 201-218. São Paulo: Ed. RT, mai./jun. 2022.
Disponível em: inserir link consultado. Acesso em: DD.MM.AAAA.
Sumário:

1.Introdução - 2.Sociedade de consumo no ambiente digital - 3.Vulnerabilidade social dos


consumidores e sua proteção jurídica no comércio eletrônico - 4.O direito de proteção de dados dos
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informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
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consumidores na sociedade da informação - 5.Considerações finais - 6.Referências

1.Introdução

Na sociedade de consumo contemporânea, foram contemplados diversos instrumentos jurídicos para


a tutela do consumidor, considerada a sua condição de vulnerabilidade que lhe é inerente. Com o
advento das novas tecnologias, os mecanismos legais existentes começaram a mostrar-se
insuficientes, ensejando, dessa forma, novos meios de proteção efetiva.

Diante disso, na sociedade da informação existe o risco de agravamento da vulnerabilidade,


resultando em uma hipervulnerabilidade, seja pela celebração de negócios jurídicos no comércio
eletrônico, seja pela utilização abusiva de seus dados pessoais. Existe, assim, uma preocupação
com a efetividade dos instrumentos normativos para a proteção do consumidor.

Desse modo, o objetivo deste trabalho é verificar se o sistema jurídico brasileiro é capaz de proteger
o consumidor na era da tecnologia. Para tanto, será utilizado o método dedutivo de abordagem e
realizada pesquisa bibliográfica e documental, por meio do estudo da literatura e da legislação
aplicada ao tema.

Inicialmente, serão feitas algumas ponderações acerca da sociedade de consumo no ambiente


digital. Será feita uma abordagem temporal para analisar a evolução da sociedade, desde a
sociedade moderna até a sociedade contemporânea de consumo. Além disso, serão discriminadas
as principais características da sociedade de consumo e observado o momento de incorporação das
novas tecnologias nesse processo social.

Em um segundo momento, será estudado o comércio eletrônico como instrumento da sociedade de


rede. Na oportunidade, serão analisados quais os mecanismos legais aptos a tutelar o consumidor
nesse ambiente, além de ressaltados os riscos que podem ser causados aos consumidores.

Por fim, serão feitas algumas reflexões sobre o direito de proteção de dados dos consumidores e sua
relação com os demais direitos fundamentais, ressaltando a possibilidade de se acentuar a sua
vulnerabilidade na sociedade informacional.

2.Sociedade de consumo no ambiente digital

A sociedade de consumo contemporânea está associada ao período da pós-modernidade, não


obstante a falta de consenso sobre o surgimento da cultura de consumo.1 Segundo Lipovetsky, o
surgimento da expressão sociedade de consumo remonta à década de 20 do século passado,
embora tenha se popularizado apenas entre as décadas de 1950 e 1960, permanecendo até os dias
de hoje.2 Contudo, é importante destacar que a origem da sociedade de consumo é mais antiga, uma
decorrência das transformações socioeconômicas advindas da Primeira Revolução Industrial entre
os séculos XVIII e XIX, sendo adequado dizer que é na Era Moderna o berço desse modelo de
sociedade. Já a sociedade contemporânea de consumo desenvolve-se, sobretudo, a partir da
segunda metade do século XX, identificando-se com o que relativa parcela dos cientistas sociais
reconhece como Era Pós-Moderna.3

E entre as características fundamentais da sociedade contemporânea de consumo está a


massificação, na medida em que permanece uma padronização da oferta e do processo de produção
já vigente ao tempo da sociedade moderna,4 ou seja, a “pós-sociedade de consumo de massa deve
ser entendida como uma ruptura na continuidade, uma mudança de rumo sobre o fundo de
permanência”.5

Da massificação da sociedade de consumo emergem duas consequências importantes. A primeira é


constatada no momento da contratação, diante do aumento da utilização de contratos de adesão que
exigem o consentimento do consumidor, em vez da manifestação inequívoca de sua vontade. A
segunda consequência é a despersonalização do consumidor que, pouco a pouco, passou a ser
considerado um número e descaracterizado como sujeito de direitos.6

A sociedade de consumo contemporânea também é pluralista. É dotada de um pluralismo cultural,


composto por uma categoria heterogênea de consumidores resultantes das necessidades de
variados grupos, permitindo a compreensão acerca de grupos de pessoas vulneráveis e
hipervulneráveis. Além disso, a sociedade de consumo contemporânea é dotada de um pluralismo
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informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
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jurídico ou hipercomplexidade normativa,7 na medida em que surgem diversos instrumentos legais


em matéria de direito do consumidor.8

Coincide com o período de emergência da sociedade de consumo contemporânea a utilização de


novas tecnologias, pois a chamada Terceira Revolução Industrial ou revolução digital também
ocorreu no século XX.9 O surgimento dos primeiros computadores ocorreu na década de 1940, mas
foi a partir da comercialização de microprocessadores, na década de 1970, que se instaurou a fase
da produção industrial. Assim, com o processo de globalização, passa-se para a era da tecnologia,
quando há uma mudança na visão de mundo, na qual o cidadão começa a ser tratado como um
consumidor e a sociedade como um mercado,10 que acaba sendo moldado pelo avanço tecnológico.

A partir desse momento, em decorrência de um movimento social, aumentou significativamente a


utilização de um novo espaço de comunicação e também mercado da informação e conhecimento, o
ciberespaço.11 Nesse ponto, “El ciberespacio es un microcosmos digital en el que no existen
fronteras, distancias ni autoridad centralizada”.12

Com isso, a inclusão de novas tecnologias no cotidiano das pessoas instaurou a sociedade da
informação ou informacional.13 É uma característica do presente, que tem a informação como maior
instrumento de poder, ou seja, a informação considerada como um bem de consumo imaterial. A
informação também aparece como instrumento de poder jurídico nas relações de consumo,
garantindo aos consumidores o direito à informação clara e adequada,14 capaz de minimizar danos e
abusos por parte dos fornecedores.15

Todavia, do aumento da utilização das tecnologias da informação e da internet, com a consequente


propagação da informação, também podem surgir algumas consequências importantes.16 Desse
modo, a evolução dos tempos ensejou, a partir da mudança de valores sociais, a sociedade de
consumo em massa, que cresceu a partir das revoluções surgidas com as tecnologias da informação
e comunicação, quando emergiu, assim, uma sociedade de rede e do capitalismo informacional
pautada em um sistema cultural pós-materialista e no hiperconsumo, em substituição ao capitalismo
de consumo.17

Todas as características da sociedade de consumo contemporânea ensejam uma sociedade


globalizada, em que há uma tensão entre o mercado de consumo global – demandado pelo Estado
mínimo – e o Estado Social de Direito, que detém a função regulatória do poder econômico.18 Como
ponto positivo dessa transformação social, é possível destacar a facilitação de acesso a bens e
serviços, sendo a inovação tecnológica indispensável para o desenvolvimento econômico.19

Além disso, com o advento da era da tecnologia, também foram surgindo novos direitos, sobretudo a
partir da transformação da sociedade industrial para a virtual.20 Na contemporaneidade, dessa forma,
tem-se uma combinação de direitos fundamentais de extrema relevância para a garantia da
dignidade humana na era da tecnologia: a defesa do consumidor,21 o acesso à internet e a inclusão
digital.

Nesse ponto, importante destacar que a Constituição Federal reconhece o consumidor como sujeito
de direitos, individual e coletivo. A defesa do consumidor constitui, assim, um “direito humano de
nova geração, social e econômico”.22 Além disso, é possível considerar o acesso à internet como
direito fundamental, que, apesar de não estar previsto expressamente na Constituição Federal, é
assim considerado pelo Marco Civil da Internet.23 Também a inclusão digital é um direito humano
fundamental e valor inerente à dignidade da pessoa humana.24

Assim, é possível observar que as novas tecnologias decorrem de um processo social a partir do agir
humano coletivo e complexo em torno de computadores e demais dispositivos de comunicação,25 e
que todos os direitos fundamentais estão relacionados com as novas tecnologias e a cibercultura.26
No que tange especificamente ao direito do consumidor, vale ressaltar que a Política Nacional de
Relações de Consumo deve conciliar a proteção do consumidor com o desenvolvimento econômico
e tecnológico.27

Nesse aspecto, o Código de Defesa do Consumidor possui natureza de norma de ordem pública, de
interesse social e multidisciplinar, e demonstra o principal instrumento jurídico do microssistema de
defesa do consumidor na sociedade de consumo contemporânea.28

3.Vulnerabilidade social dos consumidores e sua proteção jurídica no comércio eletrônico


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Vulnerabilidade dos consumidores na sociedade da
informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
dados nas relações estabelecidas em ambiente digital

A cultura técnico-científica induz os consumidores a buscarem suas necessidades por meio das mais
variadas tecnologias da informação para aquisição de produtos e serviços, sobretudo na internet.29
Assim, a sociedade da informação constitui a sociedade de consumo contemporânea, e o comércio
eletrônico é sua expressão característica.30

Atualmente, e embora o comércio eletrônico há muito faça parte do cotidiano da sociedade


contemporânea, a regulação legal e expressa da matéria pelo direito brasileiro é quase inexpressiva,
contando apenas com uma norma infralegal, o Decreto 7.962/2013 (LGL\2013\2685), a disciplinar o
assunto. O texto atual do CDC (LGL\1990\40), por razões históricas (o período de sua elaboração foi
anterior ao do advento e da popularização da internet no Brasil), não dispôs de modo expresso sobre
as relações de consumo por meio eletrônico. Contudo, o Projeto de Lei 3514/2015 pretende abranger
essa realidade e prevê diversas alterações e inclusão de novos dispositivos na lei geral
consumerista. Entre as modificações previstas, está a inclusão de novos direitos básicos ao
consumidor, tal como a privacidade e a segurança das informações e dados pessoais e a liberdade
de escolha, especialmente diante de novas tecnologias. Além disso, o PL dispõe sobre a
necessidade de facilitação da contratação, com a diminuição da assimetria de informações, que
devem ser claras e objetivas.31

Se a utilização da internet, por um lado, ainda não possui uma adequada regulação jurídica para a
proteção do consumidor internauta em suas relações contratuais de consumo no Brasil, carregando
assim riscos e incertezas,32 por outro, já se apresenta ao menos como possível instrumento
alternativo de resolução de conflitos de consumo. Nesse sentido, um dos instrumentos que podem
ser considerados de extrema relevância para a proteção do consumidor na internet, não obstante
críticas que possa receber,33 é a plataforma Consumidor.gov, na qual os consumidores têm amplo
acesso a informações transparentes sobre determinadas empresas cadastradas e podem ainda
realizar reclamações e pedidos de resolução de problemas diretamente ao fornecedor, sendo o
pedido acompanhado pelo Estado.

Nas relações consumeristas, existem riscos que são acentuados no comércio eletrônico, sobretudo
quando se trata de pessoas em situação de vulnerabilidade acentuada ou hipervulnerabilidade, a
exemplo das pessoas com deficiência. Para a tutela desses consumidores, devem ser utilizadas
ações integradas com o apoio de tecnologias assistivas.34

Vale lembrar que a vulnerabilidade é um princípio35 que reconhece a existência de uma pessoa que
é mais fraca na relação de consumo, ou seja, reconhece o desequilíbrio na relação contratual entre
consumidor e fornecedor. O princípio da vulnerabilidade decorre da necessária observância do
princípio da igualdade36 e equilíbrio entre as partes.

Além disso, existem relações de poder e desigualdades que permanecem no ciberespaço, e existe
um risco real de que a cibercultura – uma cultura oriunda das transformações digitais – possa ser
fonte de exclusão, seja entre classes e grupos sociais, seja entre países ricos e pobres.37 A exclusão
digital pode atingir os consumidores, ensejando o desequilíbrio na relação contratual e, por
conseguinte, ampliando a sua vulnerabilidade.

Nesse ponto, o princípio favor debilis aparece como importante instrumento para a superação da
equivocada ideia de que a igualdade formal é suficiente para a proteção do consumidor. Ao revés, é
preciso reconhecer que alguns são mais fortes que outros na relação consumerista, ensejando vários
tipos de vulnerabilidade, tal como a técnica, jurídica e a informacional.38

Logo, é possível dizer que, no caso de contratação no comércio eletrônico, pode haver acúmulo dos
vários tipos de vulnerabilidade, tal como a vulnerabilidade técnica – entendida como falta de
conhecimento do consumidor para lidar com determinados instrumentos39 –, a vulnerabilidade
neuropsicológica – em decorrência de obediência a determinados padrões que são impostos nas
redes40 –, e, ainda, a vulnerabilidade cibernética – que decorre tanto da falta de acesso à internet
quanto da ignorância no uso da tecnologia.41 Existe, por conseguinte, uma hipervulnerabilidade do
consumidor na rede.

Assim sendo, a hipervulnerabilidade em comento traz à tona a necessidade de ampliação da


proteção jurídica dos consumidores. Nesse ponto, há que se falar na preocupação com o acesso à
justiça do consumidor, que não se restringe ao acesso ao Poder Judiciário, mas, sim, a todos os
mecanismos possíveis para sua tutela jurídica, de modo a possibilitar o exercício de tantos outros
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informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
dados nas relações estabelecidas em ambiente digital

direitos fundamentais indispensáveis para a consecução da dignidade humana.

Por fim, vale lembrar que as contratações eletrônicas de consumo operam por adesão do
consumidor às condições gerais predispostas no ambiente digital e cujo conteúdo, não raras vezes,
apresenta-se de difícil acesso ou compreensão por parte dos consumidores (podendo-se falar em
violação do art. 46 do CDC (LGL\1990\40)) ou ainda trazem conteúdo abusivo, contrário à boa-fé ou
que coloca o consumidor em posição de desvantagem exagerada (CDC (LGL\1990\40), art. 39, V c/c
art. 51, IV e § 1º).42 Nesse caso, o problema é que “as características próprias a esse tipo de
contratação tendem a agravar a já presumida situação de vulnerabilidade dos consumidores no
mercado de consumo”.43

4.O direito de proteção de dados dos consumidores na sociedade da informação

Além da massificação de produtos e serviços, também há a massificação da informação na


sociedade de consumo contemporânea.44 Ressalte-se que, para Rodrigues, Bechara e Grubba, o
termo sociedade da informação já estaria ultrapassado, pois a sociedade atual detém características
e peculiaridades próprias que derivam da absorção de tecnologias digitais, especialmente o acesso à
informação e o tratamento de dados com extrema velocidade.45

Assim, a sociedade atual, embora baseada na informação, também pode ser compreendida como a
sociedade digital, na medida em que se promove a conexão digital entre os indivíduos, a cultura, os
valores, a economia e os produtos.46 Entre as características dessa sociedade, “a
produção/distribuição de informação e de conhecimento e a redução das desigualdades sociais
podem tornar-se mutuamente indispensáveis”.47

Assim, a morte da privacidade é prevista na era pós-moderna, dotada de recursos tecnológicos.48


Logo, um dos maiores desafios contemporâneos é a proteção de dados pessoais,49 que abrange
todo tipo de tratamento de dados independentemente do local ou do modo de armazenamento.50

O problema é que os consumidores muitas vezes desconhecem os riscos do compartilhamento de


informações no ciberespaço, ou então têm a sua utilização dificultada por sites que não contém
dispositivos claros e de fácil acesso. Dessa forma, “[t]odos os usuários da internet são vulneráveis
em relação aos seus dados pessoais. A vulnerabilidade nesse contexto é acentuada principalmente
em razão do desconhecimento dos riscos que permeiam a coleta e o tratamento desses dados”.51
Por isso, para alguns autores, a exemplo de Silva, o mais expressivo direito fundamental
contemporâneo é a proteção de dados pessoais.52

Do ponto de vista legal, os anos 2000 representaram um marco da tecnologia no Direito, sobretudo a
partir de 2003, quando o Brasil ratificou a Declaração de Santa Cruz de La Sierra, na qual consta o
direito à privacidade como direito fundamental.53 Embora a Constituição Federal não mencione
expressamente o direito de proteção de dados como fundamental, prevê a necessidade de sigilo das
comunicações dos dados e remédios processuais hábeis à sua tutela.54 Vale lembrar, contudo, da
existência de uma proposta de emenda à Constituição que trata justamente da alteração da
Constituição para inclusão da proteção de dados pessoais entre os direitos e as garantias
fundamentais.55

Além desses importantes avanços jurídicos, deve-se sempre ressaltar as disposições gerais do CDC
(LGL\1990\40) para o controle do abuso no armazenamento e na disponibilização dos dados de
consumidores em cadastros e bancos de dados em geral, com importante repercussão nos
chamados “cadastros de restrição de crédito” (art. 43 e incisos), bem como a regulamentação do
chamado “Cadastro Positivo dos Consumidores” (Lei 12.414/2011 (LGL\2011\1883)), com foco no
armazenamento de dados para formação do histórico de crédito dos consumidores pessoas físicas e
jurídicas que a ele aderirem.56

Ademais, outro fator de preocupação quanto ao acesso do consumidor às redes é a manipulação


perpetuada por algoritmos na formação de um perfil psicológico do consumidor a partir do seu
monitoramento constante por meio das técnicas de profiling e tracking.57 Isso porque:

“O uso dessas informações, inclusive o uso de dados pessoais sensíveis e o mapeamento do perfil
comportamental da pessoa, acentua sobremaneira a vulnerabilidade do consumidor na rede,
acrescendo-lhe uma nova camada de vulnerabilidade.”58

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Tem-se, assim, uma ampliação do espectro de violações a direitos fundamentais. A utilização


abusiva de dados pessoais dos consumidores sem o seu consentimento tornou-se prática corriqueira
entre os fornecedores de produtos e serviços.59 Em regra, o tratamento de dados pessoais exige o
consentimento de seu titular, à exceção dos dados manifestamente públicos.60 Contudo, não há
definição legal para dados que são manifestamente públicos, o que abre uma ampla margem para
aplicação da normativa, que pode ser realizada em desfavor dos consumidores.61

Dessa forma, o direito de proteção de dados dos consumidores está intrinsecamente relacionado aos
direitos de privacidade, intimidade e livre desenvolvimento da personalidade, em que se inclui a
liberdade de disposição sobre os dados. Logo, o tratamento de dados pessoais pode eventualmente
violar mais de um direito, e é por isso que o Estado assume um papel de tutelar esse direito, seja por
meio de regulação legal ou prestações fáticas.62

Embora a Lei Geral de Proteção de Dados seja uma normativa de extrema relevância com relação
ao tema, é possível afirmar que o veto ao seu texto original, no que diz respeito à criação de órgãos
de fiscalização de tratamento de dados, é um ponto negativo na defesa do consumidor. A LGPD
dispõe de diversas sanções administrativas para o tratamento inadequado de dados, tais como
advertência, multa, bloqueio de dados pessoais, entre outras,63 mas a criação da Autoridade
Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que seria responsável pela aplicação de tais penalidades,
sofreu algumas alterações legais substanciais, a exemplo da sua natureza transitória. Além disso, o
órgão permaneceu vinculado à presidência da República e, portanto, sem autonomia.64

Além disso, vale ressaltar que, inicialmente, a criação do Conselho Nacional de Proteção de Dados
(CNPD) sofreu veto presidencial, o que certamente fragilizaria a responsabilização dos agentes que
utilizassem de forma ilícita os dados dos consumidores.65 Contudo, a lei fora alterada e, atualmente,
trata da composição e da competência do CNPD para o trabalho em conjunto com a ANPD, de modo
a elaborar relatórios e estudos, sugerir ações etc.66 Logo, a fim de possibilitar a plena defesa dos
direitos dos consumidores em matéria de proteção de dados e demais direitos fundamentais
relacionados, deve ser realizado um movimento de articulação entre os atores envolvidos e uma
conjugação de todos os instrumentos integrantes da Política Nacional das Relações de Consumo.67

Aqui, mais uma vez, o diálogo de fontes aparece como um importante instrumento para a proteção
efetiva do consumidor. Devem ser conciliados os pressupostos normativos do microssistema de
proteção dos consumidores para que se evitem maiores violações aos direitos fundamentais e
ampliação da sua vulnerabilidade social no ambiente digital.

5.Considerações finais

A partir do que foi abordado neste trabalho, é possível perceber que a sociedade de consumo
contemporânea está intrinsecamente ligada ao digital, ambiente de contratação do qual podem
resultar consequências positivas – tais como a facilitação de acesso a bens e serviços e o
surgimento de novos direitos – e negativas, tendo em vista as constantes ameaças ao exercício
pleno desses direitos, sobretudo a direitos fundamentais do consumidor.

Dessa forma, com o advento das novas tecnologias, faz-se necessária a ampliação dos mecanismos
legais de tutela do consumidor. Por isso, a aprovação do PL 3514/2015, que trata do comércio
eletrônico, é de extrema relevância para a regulação dessa forma de contração tão utilizada na
sociedade de consumo contemporânea, de modo a proporcionar a sua proteção. Isso porque é a
insurgente a necessidade de garantir o equilíbrio entre as partes, observadas as diversas camadas
de vulnerabilidade que atingem o consumidor na sociedade da informação.

Além disso, a utilização abusiva dos dados pessoais dos consumidores deve ser evitada,
respeitando-se a sua vulnerabilidade e garantindo-se maior humanidade nas relações consumeristas
e, especialmente, a fruição de outros direitos fundamentais também indispensáveis para o exercício
da cidadania e essenciais para a manutenção da dignidade humana no ambiente cibernético. Na
hipótese, atribui-se destaque aos direitos da segurança das informações e dos dados pessoais,
igualdade, proteção de dados pessoais, sigilo das comunicações dos dados, privacidade, intimidade,
livre desenvolvimento da personalidade e liberdade de escolha e disposição sobre os dados. É
possível lembrar, nesse ponto, da ampliação da tutela do consumidor, inclusive do seu acesso à
justiça para o efetivo exercício desses direitos.

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Portanto, o sistema jurídico brasileiro é de extrema relevância para a tutela do consumidor na era da
tecnologia. É necessário que haja uma conjugação de esforços de todas as pessoas e instituições
envolvidas para a eficácia desses instrumentos, a exemplo da atuação conjunta dos órgãos de
fiscalização e ampliação de sua autonomia, especialmente da Autoridade Nacional de Proteção de
Dados (ANPD) e do Conselho Nacional de Proteção de Dados (CNPD). Além disso, é indispensável
a observância das normas consumeristas agregadas a essa atuação conjunta, sendo, assim, o
diálogo de fontes um importante instrumento para efetiva tutela do consumidor.

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SPENGLER, Fabiana Marion; PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A mediação digital de conflitos
como política judiciária de acesso à justiça no Brasil. Rev. Fac. Direito UFMG, Belo Horizonte, n. 72,
p. 219-257, jan.-jun. 2018.

WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução aos fundamentos de uma teoria geral dos “novos” direitos.
Revista Jurídica, [S.l.], v. 2, n. 31, p. 121-148, ago. 2013. Disponível em:
[http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/593]. Acesso em: 14.01.2021.

Legislação

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


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[www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5903.htm]. Acesso em: 15.01.2021.

BRASIL. Decreto 7.962, de 15.03.2013 (LGL\2013\2685). Disponível em:


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BRASIL. Lei 8.078, de 11.09.1990 (LGL\1990\40). Disponível em:


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BRASIL. Lei 12.965, de 23.04.2014 (LGL\2014\3339). Disponível em:


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(LGPD). Disponível em: [www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm]. Acesso
em: 13.01.2021.

BRASIL. PEC 17/2019. Disponível em:


[www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2210757]. Acesso em:
04.03.2021.

BRASIL. Projeto de Lei 3514/2015. Disponível em:


[www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2052488]. Acesso em: 14.01.2021.

1 .AZEVEDO, Fernando Costa de. O desequilíbrio excessivo da relação jurídica de consumo e sua
correção por meio da cláusula geral de proibição de vantagem excessiva no Código de Defesa do
Página 8
Vulnerabilidade dos consumidores na sociedade da
informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
dados nas relações estabelecidas em ambiente digital

Consumidor. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2014.

2 .LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. Trad.


Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 23-25.

3 .AZEVEDO, Fernando Costa de. O desequilíbrio excessivo da relação jurídica de consumo e sua
correção por meio da cláusula geral de proibição de vantagem excessiva no Código de Defesa do
Consumidor. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2014.

4 .Idem.

5 .LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. Trad.


Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 25.

6 .AZEVEDO, Fernando Costa de. O desequilíbrio excessivo da relação jurídica de consumo e sua
correção por meio da cláusula geral de proibição de vantagem excessiva no Código de Defesa do
Consumidor. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2014.

7 .Idem.

8 .Nesse sentido, cumpre observar que a hipercomplexidade normativa demanda, sobretudo em


matéria de proteção ao consumidor, a utilização do método hermenêutico do diálogo das fontes para
a adequada e justa aplicação do sistema jurídico brasileiro, focado na promoção dos princípios e
direitos fundamentais da pessoa humana em vista de sua dignidade individual e social. No campo da
proteção dos consumidores no ambiente digital, realidade própria dessa era contemporânea e
tecnológica, o diálogo das fontes revela-se extremamente útil e necessário para a superação de
eventual conflito entre normas jurídicas e aplicação em complementaridade, conjugando esforços de
todos os instrumentos legais possíveis para propiciar a redução da vulnerabilidade que é inerente
aos consumidores, notadamente a chamada “vulnerabilidade informacional”. Por fim, a aplicação do
sistema jurídico pelo diálogo das fontes deve, inclusive, ir além das normas de direito material,
alcançando também as normas no campo processual. Sobre o tema, v. MARQUES, Claudia Lima;
MIRAGEM, Bruno. Novo Código de Processo Civil e o diálogo das fontes para a proteção do
consumidor. In: MARQUES, Claudia Lima; REICHELT, Luis Alberto. Diálogos entre o direito do
consumidor e o novo CPC (LGL\2015\1656). São Paulo: Ed. RT, 2017.

9 .RODRIGUES, Horácio Wanderlei; BECHARA, Gabriela Natacha; GRUBBA, Leilane Serratine. Era
digital e controle da informação. Revista Em Tempo, [S.l.], v. 20, n. 1, n.p., nov. 2020. Disponível em:
[https://revista.univem.edu.br/emtempo/article/view/3268]. Acesso em: 22.01.2021.

10 .BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. São Paulo: Malheiros


Editores, 2001.

11 .LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

12 .LUÑO, Antonio-Enrique Pérez. Internet y los derechos humanos. Anuario de Derechos Humanos,
Nueva Época, [S.l.], v. 12, 2011. p. 292.

Página 9
Vulnerabilidade dos consumidores na sociedade da
informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
dados nas relações estabelecidas em ambiente digital

13 .CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura.


Trad. Roneide Venâncio Majer. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

14 .O direito à informação adequada e clara sobre produtos e serviços é um dos direitos básicos do
consumidor, conforme dispõe o artigo 6º, III, da Lei 8.078/1990 (LGL\1990\40). Também o Decreto
5.903/2006 (LGL\2006\1594) dispõe sobre as práticas infracionais que atentam contra o direito
básico do consumidor de obter informação adequada e clara sobre produtos e serviços.

15 .AZEVEDO, Fernando Costa de. O desequilíbrio excessivo da relação jurídica de consumo e sua
correção por meio da cláusula geral de proibição de vantagem excessiva no Código de Defesa do
Consumidor. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2014.

16 .Nesse sentido observa Luño que “[i]nternet implica, por tanto, el riesgo de un efecto multiplicador
de los atentados contra derechos, bienes e intereses jurídicos. Su potencialidad en la difusión
ilimitada de imágenes e informaciones la hace un vehículo especialmente poderoso para perpetrar
atentados criminales contra bienes jurídicos básicos: La intimidad, la imagen, la dignidad y el honor
de las personas, la libertad sexual, la propiedad intelectual e industrial, el mercado y los
consumidores, la seguridad nacional y el orden público” (LUÑO, Antonio-Enrique Pérez.
Teledemocracia, ciberciudadania y derechos humanos. Revista Brasileira de Políticas Públicas,
Brasília, v. 4, n. 2, 2014. p. 34).

17 .LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. Trad.


Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 23-25.

18 .AZEVEDO, Fernando Costa de. O desequilíbrio excessivo da relação jurídica de consumo e sua
correção por meio da cláusula geral de proibição de vantagem excessiva no Código de Defesa do
Consumidor. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2014.

19 .LUNARDI, Giovani Mendonça. Direitos humanos e desigualdade social na economia da


inovação. Revista Humanidades e Inovação, [S.l.], v. 7, n. 17, 2020. p. 506. Disponível em:
[https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/3778]. Acesso em:
23.01.2021.

20 .WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução aos fundamentos de uma teoria geral dos “novos”
direitos. Revista Jurídica, v. 2, n. 31, p. 121-148, ago. 2013. Disponível em:
[http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/593]. Acesso em: 14.01.2021.

21 .O inciso XXXII do artigo 5º da Constituição Federal dispõe que o Estado promoverá, na forma da
lei, a defesa do consumidor.

22 .MARQUES, Claudia Lima. Introdução ao direito do consumidor. In: BENJAMIN, Antonio Herman
V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São
Paulo: Ed. RT, 2014. p. 35.

23 .O artigo 4º, inciso I, e o artigo 7º da Lei 12.965/2014 (LGL\2014\3339) dispõem que o direito de
acesso à internet deve ser concedido a todos e é essencial para o exercício da cidadania.

24 .GONÇALVES, Victor Hugo Pereira. Inclusão digital como direito fundamental. Dissertação
(Mestrado em Direitos Humanos) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo,
Página 10
Vulnerabilidade dos consumidores na sociedade da
informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
dados nas relações estabelecidas em ambiente digital

2012. Disponível em: [www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2140/tde-30102012--092412/pt-br.php].


Acesso em: 05.01.2021.

25 .LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

26 .SALDANHA, Alexandre Henrique Tavares; MEDEIROS, Pablo Diego Veras. Processo judicial
eletrônico e inclusão digital para acesso à justiça na sociedade da informação. Revista de Processo,
São Paulo, v. 277, p. 541-561, mar. 2018. p. 6.

27 .O artigo 4º, III, do Código de Defesa do Consumidor prevê que a Política Nacional de Relações
de Consumo deve atender ao princípio da harmonização dos interesses das partes na relação de
consumo, promovendo a compatibilização da proteção do consumidor com o desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios da ordem econômica contidos no
artigo 170 da Constituição Federal e baseado na boa-fé e equilíbrio entre as partes.

28 .Artigo 1º da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 (LGL\1990\40).

29 .AZEVEDO, Fernando Costa de. O desequilíbrio excessivo da relação jurídica de consumo e sua
correção por meio da cláusula geral de proibição de vantagem excessiva no Código de Defesa do
Consumidor. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2014.

30 .AZEVEDO, Fernando Costa de; KLEE, Antonia Espíndola Longoni. Considerações sobre a
proteção dos consumidores no comércio eletrônico e o atual processo de atualização do Código de
Defesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 85, p. 209-260, jan.-fev.
2013. p. 251.

31 .O Projeto de Lei 3514/2015 inclui os incisos XI a XIII no artigo 6º do Código de Defesa do


Consumidor, garantindo novos direitos aos consumidores. Além dos direitos relacionados à utilização
das novas tecnologias, também está o direito à informação ambiental veraz e útil.

32 .BERGSTEIN, Laís; TRAUTWEIN, José Roberto Della Tonia. Desafios da tutela da pessoa com
deficiência no comércio eletrônico. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 125, set.-out.
2019. p. 80-81.

33 .A utilização da plataforma consumidor.gov.br não pode ser considerada um requisito prévio à


propositura dos litígios envolvendo relações de consumo, pois, nesse caso, haveria mitigação do
acesso à justiça dos consumidores, sobretudo dos excluídos digitais. Nesse sentido, v. LEONARDO,
César Augusto Luiz; ZVEIBIL, Daniel Guimarães; AZEVEDO, Júlio Camargo de. O acesso do
consumidor à justiça e a exclusão digital. Jota, 19.05.2021. Disponível em:
[www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-acesso-do-consumidor-a-justica-e-a-exclusao-digital-19052021].
Acesso em: 07.06.2021.

34 .BERGSTEIN, Laís; TRAUTWEIN, José Roberto Della Tonia. Desafios da tutela da pessoa com
deficiência no comércio eletrônico. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 125, set.-out.
2019. p. 85.

35 .O artigo 4º, I, da Lei 8.078/1990 (LGL\1990\40) prevê que o reconhecimento da vulnerabilidade


do consumidor no mercado de consumo é um dos princípios que deve ser atendido pela Política
Nacional das Relações de Consumo.

Página 11
Vulnerabilidade dos consumidores na sociedade da
informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
dados nas relações estabelecidas em ambiente digital

36 .MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Código de Defesa do Consumidor: o princípio da


vulnerabilidade. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009. p. 125.

37 .LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

38 .MARQUES, Claudia Lima. Introdução ao direito do consumidor. In: BENJAMIN, Antonio Herman
V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São
Paulo: Ed. RT, 2014. p. 39-43.

39 .MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Código de Defesa do Consumidor: o princípio da


vulnerabilidade. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009. p. 141.

40 .Ibidem, p. 173-174.

41 .SPENGLER, Fabiana Marion; PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A mediação digital de
conflitos como política judiciária de acesso à justiça no Brasil. Rev. Fac. Direito UFMG, Belo
Horizonte, n. 72, p. 219-257, jan.-jun. 2018.

42 .Sobre a chamada “cláusula geral de proibição de vantagem excessiva” como norma fundamental
de correção do abuso nas relações de consumo, v. AZEVEDO, Fernando Costa de. O desequilíbrio
excessivo da relação jurídica de consumo e sua correção por meio da cláusula geral de proibição de
vantagem excessiva no Código de Defesa do Consumidor. Tese (Doutorado em Direito) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.

43 .AZEVEDO, Fernando Costa de; KLEE, Antonia Espíndola Longoni. Considerações sobre a
proteção dos consumidores no comércio eletrônico e o atual processo de atualização do Código de
Defesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 85, p. 209- -260, jan.-fev.
2013. p. 228.

44 .AZEVEDO, Fernando Costa de. O desequilíbrio excessivo da relação jurídica de consumo e sua
correção por meio da cláusula geral de proibição de vantagem excessiva no Código de Defesa do
Consumidor. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2014.

45 .RODRIGUES, Horácio Wanderlei; BECHARA, Gabriela Natacha; GRUBBA, Leilane Serratine.


Era digital e controle da informação. Revista Em Tempo, [S.l.], v. 20, n. 1, nov. 2020. p. 7. Disponível
em: [https://revista.univem.edu.br/emtempo/article/view/3268]. Acesso em: 22.01.2021.

46 .Idem.

47 .BAUMGARTEN, Maíra. Ciência, tecnologia e desenvolvimento – redes e inovação social.


Parcerias Estratégicas, Brasília, n. 26, jun. 2008. p. 107. Disponível em:
[http://seer.cgee.org.br/index.php/parcerias_estrategicas/article/viewFile/321/315]. Acesso em:
23.01.2021.

48 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a Lei
13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos à privacidade, intimidade e
autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 121, jan.-fev. 2019. p. 399.

Página 12
Vulnerabilidade dos consumidores na sociedade da
informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
dados nas relações estabelecidas em ambiente digital

49 .O artigo 5º, inciso I, da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222) (Lei Geral de Proteção de Dados)
dispõe que dado pessoal é toda informação relacionada à pessoa natural identificada ou identificável.

50 .SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

51 .BERGSTEIN, Laís; TRAUTWEIN, José Roberto Della Tonia. Desafios da tutela da pessoa com
deficiência no comércio eletrônico. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 125, p. 63-90,
set.-out. 2019.

52 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a Lei
13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos à privacidade, intimidade e
autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 121, jan.-fev. 2019. p. 398-399.

53 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a Lei
13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos à privacidade, intimidade e
autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 121, jan.-fev. 2019. p. 378.

54 .SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

55 .Trata-se da PEC 17/2019, de iniciativa do Senado Federal e que atualmente se encontra pronta
para pauta no Plenário. Disponível em:
[www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2210757]. Acesso em:
04.03.2021.

56 .Nesse sentido, destaque para o art. 4º, caput, da Lei 12.414, que prevê a necessidade de
autorização prévia do consumidor, seu consentimento, por manifestação expressa em instrumento
específico ou cláusula apartada. A boa iniciativa da norma esbarra na previsão do § 1º do mesmo
dispositivo, segundo o qual, “[a]pós a abertura do cadastro, a anotação de informação em banco de
dados independe de autorização e de comunicação ao cadastrado”. Vale dizer: a instituição
financeira ou de crédito, tão logo receba o consentimento do consumidor para a inserção da sua
identidade e dados de crédito no cadastro, passa a ter poder de utilização desses dados à revelia do
consumidor, o que certamente pode ser fator para o exercício abusivo da posição jurídica desses
fornecedores.

57 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a Lei
13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos à privacidade, intimidade e
autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 121, jan.-fev. 2019. p. 371-372.

58 .BERGSTEIN, Laís. TRAUTWEIN, José Roberto Della Tonia. Desafios da tutela da pessoa com
deficiência no comércio eletrônico. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 125, set.-out.
2019. p. 84.

59 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a Lei
13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos à privacidade, intimidade e
autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 121, p. 367-418, jan.-fev. 2019.

60 .Dispõe o inciso I do artigo 7º da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222) (LGPD) que o tratamento de


dados pessoais somente pode ser realizado mediante o consentimento do seu titular. O § 4º do
mesmo artigo dispensa o consentimento do titular para o caso de dados manifestamente públicos.
Página 13
Vulnerabilidade dos consumidores na sociedade da
informação e a necessidade da proteção jurídica de seus
dados nas relações estabelecidas em ambiente digital

61 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a Lei
13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos à privacidade, intimidade e
autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 121, jan.-fev. 2019. p. 383-384.

62 .SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

63 .Capítulo VIII da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222) (LGPD).

64 .Artigos 55-A a 57 da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222) (LGPD).

65 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a Lei
13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos à privacidade, intimidade e
autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 121, p. 367-418, jan.-fev. 2019.

66 .Artigos 58-A e 58-B da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222) (LGPD).

67 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a Lei
13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos à privacidade, intimidade e
autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 121, p. 367-418, jan.-fev. 2019.

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