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1. Introdução

O direito à informação adequada, suficiente e veraz é um dos pilares do direito do


consumidor. Nas legislações mundiais, voltadas a regular as relações de consumo, a
referência quase uniforme ao direito à informação fortalece as características universalizantes
desse novo direito. Afinal, os problemas e dificuldades enfrentados pelos consumidores, em
qualquer país, são comuns, a merecerem soluções comuns. Os efeitos do direito à informação
não estão contidos, apenas, no âmbito da legislação infraconstitucional, pois as constituições
mais recentes elevaram-no ao nível dos direitos fundamentais. Portanto, não diz respeito
apenas à ordem privada dos sujeitos, mas irradia-se na consideração pública do campo
indisponível da cidadania activa, segundo a concepção contemporânea que não a vê apenas no
exercício do direito oponível ao poder político, mas em face do poder económico.

O direito à informação, no âmbito exclusivo do direito do consumidor, é direito à prestação


positiva oponível a todo aquele que fornece produtos e serviços no mercado de consumo.
Assim, não se dirige negativamente ao poder político, mas positivamente ao agente de
actividade económica.

Os direitos do consumidor, dentre eles o direito à informação, inserem-se nos direitos


fundamentais de terceira geração e somente foram concebidos tais nas últimas décadas do
século XX. E apenas foi possível quando se percebeu a dimensão humanística e de exercício
de cidadania que eles encerram, para além das concepções puramente económicas. Com
efeito, as teorias económicas sempre viram o consumidor como ente abstracto,
despersonalizado, como elo final da cadeia de produção e distribuição. O homem económico
simboliza o distanciamento da realidade existencial do ser humano que consome. Não é
sujeito; é apêndice do objecto, somente identificável mediante o consumo. No mundo actual,
até mesmo suas necessidades podem ser artificialmente provocadas pelo monumental aparato
publicitário que cerca os produtos e serviços lançados no mercado. A dissolução da pessoa
humana em apenas consumidor bem demonstra o distanciamento da óptica economicista dos
valores que plasmaram a opção jurídica. Do acima exposto, propõe-se o seguinte:

Tema: Direito a Informação como um Direito Fundamental ao Consumidor


2

Objectivos

 Objectivo geral
 Analisar o direito a informação como um direito fundamental ao consumidor.
 Objectivos Específicos
 Descrever direito a informação como um direito fundamental para todos cidadãos;
 Demonstrar o titular do dever à informação ao consumidor e suas vicissitudes face a
Lei da Defesa do consumidor;
 Discutir sobre os meios de reacção face a violação do direito a informação ao
consumidor e Identificar o Responsável pelos danos causados aos consumidores
derivados da falta de informação ou da informação deficiente.

Justificativa

A motivação pela escolha do tema, foi pelo facto de ter um grande interesse nesta área de
direito. É um tema actual e bastante relevante o seu estudo, pois dia-a-dia nos deparamos com
bens e serviços de consumo, onde as informações relacionadas aos produtos, estão patentes na
maioria das vezes encontra-se em línguas estrangeiras o que dificulta ao consumidor a
utilização de tais produtos de forma adequada que podem dar lugar a vários problemas até
mesmo de saúde como por exemplo a intoxicação. Percebe-se que a causa de intoxicação,
entre outros problemas são decorrentes do mau uso dos produtos por falta de informação dos
mesmos.

Sendo o direito do consumidor um direito fundamental, esta aliado ao direito de informação,


cujo objectivo é adaptar melhor o direito e obrigações entre as pessoas, de forma a buscar e
restabelecer o equilíbrio das partes abaladas pelo poder dos mercados fornecedores, tendo em
conta, a efectivação dos direitos do consumidor, a fiscalização dos produtos e
consciencialização dos consumidores é responsabilidade, dever e obrigação do Estado.

No âmbito jurídico com o presente trabalho pretende-se discutir o tema bastante relevante que
afecta os direitos fundamentais no sentido de trazer respostas que possam mitigar esse
problema de falta de informação. Na perspectiva académica esperamos que a pesquisa possa
servir de suporte as futuras investigações relacionados com a matéria em discussão. No
âmbito social, o trabalho configura-se como sendo de extrema importância, na medida em que
o direito do consumidor é um direito com abrangência universal, pois o simples facto de
coexistirmos na sociedade já está ligado a este direito.
3

Problematização

No Estado de Direito como o nosso, onde a Constituição da República estabelece o respeito e


garantia dos direitos e liberdades fundamentais1, esta dimensão encontra-se numa expressão
jurídico-constitucional num complexo de princípios e regras dispersas pelos textos
constitucionais, nos quais encontramos o direito do consumidor. No entanto vivemos numa
constante evolução tecnologia e, com a globalização da economia, fundamentada numa
política capitalista que tem como elemento primordial a busca do lucro, algumas direitos
conectados ao direito do consumidor são postos em causa.

O desenvolvimento da sociedade, no nosso mercado actual verificamos maiores quantidades


de produtos e serviços, postos isto, a informação torna-se de capital importância em qualquer
actividade humana, e nas relações de comerciantes não poderia ser diferente, principalmente
enfâse aos avanços tecnológicos, transformando o consumidor num alvo frente aos grandes
aglomerados comerciantes.

De acordo com o no 1 do artigo 9 da Lei n. o 22/2009 de 28 de Setembro (Lei do consumidor)


incumbe ao Estado e as autarquias locais desenvolver acções e adoptar medidas tendentes a
informação em geral do consumidor e mais que a informação é prestada na língua nacional ou
seja em língua portuguesa2. Contudo, dia opôs dia encontra produtos comercializados, cujas
informações patentes nas suas embalagens e catálogos referente as formas de usos e
composição destes estão em língua estrangeira, dificultando deste modo a percepção do
conteúdo destes aos consumidores e os comerciantes pouco ou se não nenhuma informação da
sobre os produtos. Perante estes factos, surge a seguinte pergunta de partida:

Em que circunstâncias se verifica a violação do direito à informação aos consumidores e


quem são os responsáveis pelos danos causados aos consumidores pela falta de
informação/informação defeituosa?

1
Cfr. Art. 3 CRM.
2
Cfr. No3 do artigo 9 da Lei do consumidor.
4

Hipóteses

H1: O direito à informação é reconhecido no país como um direito do cidadão, tendo em vista
a forma como o mesmo é encarado na nossa ordem jurídica, o silêncio do prestador de bens
ou serviços não pode ser encarrado como violação deste direito, uma vez que cabe ao
particular fazer jus ao seu direito e solicitar e as informações sobre o bem ou serviço que
pretende adquirir;

H2: O direito a informação é visto como um direito fundamental a nível constitucional,


salvaguardado no artigo 3 da CRM, é um direito difuso e constitucionalmente consagrado,
porém, apesar da obrigatoriedade normativa de que todos os cidadãos tenham informação este
direito torna-se ineficaz para os consumidores devido as constantes violações dos mesmos
pelos prestadores de bens ou serviços uma vez que incumbe a estes a difusão de informações
sobre os seus bens ou serviços aos consumidores.

Revisão da Literatura

A revisão de literatura é a fundamentação lógica do trabalho, cuja finalidade é expor, discutir,


argumentar e demonstrar as ideias principais sobre o tema da pesquisa. Deve conter
argumentos directos ou indirectos de outros autores. Entretanto, é importante realçar que o
trabalho não se resume à cópia de trechos de livros ou revistas. A fundamentação teórica é
preferencialmente baseada em literatura actual, dando maior sustentação ao tema tratado.

Direito à Informação

ALMEIDA3, diz que o direito à informação, não se restringe ao fornecimento de informações


demandadas pelos cidadãos, estende-se a obrigatoriedade de o Estado publicar e divulgar, de
forma voluntaria e proactiva, todas as informações consideradas de interesse público.

CAVALEIRI4 afirma que o direito à informação significa a possibilidade de toda


comunicação de informações, sem obstáculos ou descriminação, ou seja, garantir o livre fluxo
de informação entre os cidadãos. O direito à informação é um direito individual, visto que
afigura-se como sendo institucional contra o poder público ou contra os particulares. E por
outro lado, apresenta-se como um direito associado ao princípio democrático e, nesta medida

3
Cfr. ALMEIDA, João Baptista de. Manual de direito do consumidor. Saraiva editores. São Paulo, 2003.p 76.
4
Cfr. CAVALEIERI, Filho, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 3ª Ed. Atlas, São Paulo, 2011.p 132.
5

uma componente fundamental da ordem democrática por via do qual o cidadão tem a
possibilidade de participar de forma informada.

PINTO MONTEIRO 5, avança que a expressão "Direito à Informação" refere-se ao direito do


público, de aceder à informação colectada, processada e arquivada por entidades públicas ou
entidades privadas cuja actividade produz impacto na vida da sociedade.

O direito à informação corresponde a uma norma internacional de direitos humanos,


preconizada em instrumentos relevantes, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e a Carta Africana dos Direitos do
Homem e dos Povos.

O conceito de direito à informação integra duas vertentes intrinsecamente ligadas: por um


lado, ele refere-se a um conjunto de garantias legais, consagradas em lei específica, (distinta
de uma lei de consumidor); e, por outro, um conjunto de garantias institucionais, que o
fornecedor de bens e serviços deve assegurar aos seus cidadãos. Significa, na primeira
vertente, a obrigação do fornecedor, de reconhecer uma prerrogativa dos cidadãos e, na
segunda, a obrigação de provimento, por parte das entidades públicas a que a Lei vincula, de
meios e condições para a plena efectivação desse acesso.

Nos termos do artigo 13o da Lei n.º 34/2014, de 31 de Dezembro – Lei do Direito à
Informação, os cidadãos, pessoas colectivas públicas ou privadas e órgãos de comunicação
social interessados gozam do direito de solicitar, procurar, consultar, receber e divulgar a
informação de interesse público que está em poder das entidades públicas e privadas
mencionadas no artigo 3º da Lei do Direito à Informação.

Há que ressaltar que o direito a informação é, por um lado, um direito individual, visto que
afigura-se como sendo uma figura institucional contra os poderes públicos ou contra os
particulares e, por outro lado, apresenta-se como um direito associado ao princípio
democrático e, nessa medida, uma componente fundamental da ordem democrática, por via
do qual os cidadãos têm a possibilidade de participar de forma informada.

Direito do Consumidor

5
PINTO MONTEIRO, Sobre o direito do consumidor em Portugal, in Estudos de Direito do Consumidor. 4º
Ed., Coimbra, 2002, p. 121.
6

Segundo BENJAMIN6 o direito do consumidor é uma ramificação do direito civil e do direito


empresarial que trata das relações jurídicas entre os fornecedores e os consumidores.

Para CARVALHO7 o direito do consumidor é baseado a partir de um conjunto de normas que


defendem e protegem a pessoa física ou jurídica que adquire bens de consumo, sejam serviços
ou produtos.

Assim, o direito do consumidor seria um conjunto de princípios e normas jurídicas, que visam
disciplina e proteger todas as relações jurídicas estabelecidas entre os consumidores e os
fornecedores de produtos.

Direitos Fundamentais

Além de abordar a cerca da estrutura do Estado e os seus princípios fundamentais a


Constituição da Republica de Moçambique (2004) consagra direitos e liberdades
fundamentais. Esses se referem a todos os cidadãos.

Segundo GOUVEIA8, direitos fundamentais são as posições jurídicas activas das pessoas
integradas no Estado-Sociedade, exercidas por contraposição ao Estado-Poder positivadas no
texto constitucional.

CANOTILHO9, refere que os direitos fundamentais são os direitos do homem, jurídico-


constitucionalmente garantidos e limitados espácio-temporalmente. Os direitos consagrados e
reconhecidos pela Constituição designam-se por vezes, direitos fundamentais formalmente
constitucionais, porque eles são enunciados e protegidos por normas com valor Constitucional
formal. O mesmo autor defende que a Constituição admite outros direitos fundamentais
constantes das Leis e das regras aplicáveis de direito internacional. Em virtude de as normas
que reconhecem e protegem não terem a forma constitucional, estes direitos são chamados
direitos materialmente fundamentais.

MAGALHÃES10, refere que direitos fundamentais são direitos baseados nos princípios de
direitos humanos, garantindo a liberdade, informação, vida, igualdade, educação, trabalho,
6
Cfr. BENJAMIM, A. Marque. Manual do direito do consumidor. 2ª ed. São Paulo. Revista dos tribunais 2009.
P.132.
7
Op cit. P. 56 .
8
GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de Direito Constitucional. 4ª ed. Ver. e actualiz. Volume II, Coimbra.
Almedina editora, 2011. P. 1031.
9
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra, Livraria Almedina, 7ª
Edição, 2003. P.393.
7

saúde e segurança. Sabe-se que os direitos fundamentais existem porque a humanidade


reconheceu que todos os homens precisavam de respeito independentemente das suas
diferenças. Mesmo sendo reconhecidos como inerente à condição humana, dos direitos
fundamentais, ainda carecem de efectividade, de meios necessários à garantia desses direitos
porque de nada adiantará ter direitos e não poder garantir a materialização deles.

TIMBANE11 (2008) define os direitos fundamentais como sendo posições jurídicas básicas
reconhecidas pelo direito moçambicano e internacional, com vista a defesa dos valores e
interesses mais relevantes que assistem as pessoas singulares e colectivas em Moçambique,
independentemente da nacionalidade.

Os direitos fundamentais nasceram como sendo aqueles considerados indispensáveis à pessoa


humana, necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual, aí o porquê da
denominação de fundamentais a tais direitos.

Metodologia

Segundo MARCONI & LAKATOS12, a metodologia é um conjunto detalhado e sequencial de


métodos e técnicas científicas a serem executadas ao longo de pesquisa, de tal modo que se
consiga atingir os objectivos inicialmente propostos e ao mesmo tempo, atender aos critérios
de menor custo, maior rapidez, maior eficácia e mas contabilidade de informação.

A efectivação do mesmo foi possível com base numa intensa busca de informação doutrinal e
legislativa, no esforço de conseguir os objectivos modelados e acima mencionados. Para tal
foi necessário dissociar nas fontes e métodos das quais compensaram o intuito do mesmo. O
tipo de investigação que levou avante, isto é, quanta forma de abordagem pesquisa qualitativa,
quanto aos objectivos pesquisa exploratória e quanto aos procedimentos técnicos revisão
bibliográfica e hermenêutica jurídica.

Quanto a forma de abordagem

10
MAGALHÃES, Pedro & MOREIRA, César. Direitos fundamentais do homem: uma abordagem geral.
Lisboa, Universidade Católica, 2011.
11
TIMBANE, Tomas Luís. O futuro dos direitos humanos fundamentais. Maputo, UEM, 2008.

12
Cfr. LAKATOS. Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade, Metodologia Científica, São Paulo, 5ͣ Edição,
Editora Atlas, 2009, p. 40.
8

Para GIL13, Pesquisa qualitativa, é aquela que busca entender um fenómeno específico em
profundidade. Ao invés de estatísticas, regras e outras generalizações, a qualitativa trabalha
com descrições, comparações e interpretações.

Quanto aos objectivos

De acordo com GIL14, Pesquisa exploratória, investigação de pesquisa empírica, cujo


objectivo é a formulação de questões ou de um problema, com finalidade de desenvolver
hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, facto ou fenómeno,
para a realização de uma pesquisa futura mais precisa.

Quanto aos procedimentos técnicos

Quanto aos procedimentos técnicos foi a revisão bibliográfica e hermenêutica jurídica.

MARCONI & LAKATOS15 assevera que, Revisão bibliográfica tem como finalidade de
colocar o pesquisador em contacto directo com tudo o que já foi dito ou escrito sobre um tema
ou ainda, que esteja relacionado. Este método consiste na análise dos assuntos contidos como
por exemplos em livros, artigos, revista e relatórios.

Este método foi importante porque permitiu o enriquecimento da base teórica, colocando-se
assim em condições melhores para utilizar métodos adequados.

MAGALHÃES16 refere que a Hermenêutica jurídica, é o ramo da hermenêutica que se ocupa


da interpretação das normas jurídicas, estabelecendo métodos para a sua compreensão legal.

CAPÍTULO I
13
Cfr. GIL. Antônio Carlos, Como Elaborar Projetos de Pesquisa, São Paulo, 3ͣ Edição, Editora Atlas, 2002, p.
57.
14
Cfr. GIL. Antônio Carlos, Como Elaborar Projetos de Pesquisa, São Paulo, 3ͣ Edição, Editora Atlas, 2002,
p.58.
15
Cfr. LAKATOS. Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São
Paulo, 5ͣ Edição, Editora Atlas, 2003, p. 62.
16
MAGALHÃES. Maria da Conceição Ferreira, A Hermenêutica Jurídica. Rio de Janeiro, Forense, 1989, p. 20.
9

Direito à Informação Como um Direito Fundamental ao Consumidor

O direito à informação, no âmbito exclusivo do direito do consumidor, é direito à prestação


positiva oponível a todo aquele que fornece produtos e serviços no mercado de consumo.
Assim, não se dirige negativamente ao poder político, mas positivamente ao agente de
actividade económica. Esse segundo sentido, próprio do direito do consumidor, cobra
explicação de seu enquadramento como espécie do género de direitos fundamentais.

Para os propósitos desta exposição, podem ser dispensadas as formulações doutrinárias acerca
da natureza e do alcance dos direitos fundamentais e sua vinculação com os direitos humanos
e os direitos naturais. Com todos os riscos epistemológicos possíveis, adopta-se a concepção
corrente de direitos fundamentais como aqueles que se encontram positivados nas normas
constitucionais de cada país e nas normas infraconstitucionais que as densificam.

Os direitos fundamentais costumam ser classificados em gerações, na medida em que


historicamente foram ocorrendo. WILLIS17, refere que, os direitos fundamentais não foram
reconhecidos de uma só vez. A partir do séc. XVIII, diversos documentos influenciaram na
evolução dos direitos fundamentais, tais como a Declaração do Bom Povo da Virgínia, a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789 e a Convenção Interamericana
dos direitos humanos. No que tange à evolução propriamente dita, os direitos fundamentais
são tradicionalmente classificados pela doutrina em gerações. No entanto, actualmente, tal
expressão vem sendo alvo de críticas. Autores modernos entendem que a mesma traz em si
uma ideia de ruptura em relação ao estágio anterior, quando, em verdade, as ditas gerações se
complementam.

Assim é que, vem se adoptando como nomenclatura para tal classificação a expressão
“dimensão”, que revela essa ideia de cumulação, visto que, através das diversas dimensões, há
a adaptação do mesmo direito a uma nova realidade.

 Direitos Fundamentais da Primeira Dimensão

Os direitos fundamentais de primeira dimensão, contemporâneos do liberalismo político,


surgem como resposta ao absolutismo monárquico e objectivavam proteger o homem na sua

17
WILLIS, Santiago Guerra Filho. Dos Direitos Humanos aos direitos fundamentais. Porto Alegre, Editora
Livraria do Advogado, 2015. P. 34 -35.
10

esfera individual contra a interferência abusiva do Estado. São direitos de cunho meramente
negativo, que visam garantir as liberdades públicas.

Negavam o Estado no seu poder de interferir nas liberdades individuais, porque este era visto
como inimigo para o homem. São direitos civis e políticos como a liberdade de locomoção, de
pensamento, inviolabilidade do domicílio, liberdade de religião, por exemplo.

 Direitos Fundamentais da Segunda Dimensão

Após a 1ª Guerra Mundial, o regime político liberal, caracterizado pela mínima intervenção
estatal, entrou em crise. A sociedade passou a exigir um Estado mais actuante, clamando a
substituição da Constituição, antes apenas garantista, por uma constituição dirigente, que
estabelecessem normas instituidoras de programas governamentais. Surge o Estado do Bem
Estar Social.

Nesse contexto, surgiram os direitos fundamentais de segunda dimensão, denominados de


direitos sociais, económicos e culturais. Esses direitos impõem ao Estado uma actuação
prestacional voltada para a satisfação das carências da colectividade. Através deles, buscavam
se tornar os homens, já livres, iguais no plano ecuménico.

São exemplos destes direitos: direito à saúde, ao trabalho, liberdade de sindicalização, a


educação, a habitação, a informação. É nesse leque de direitos que o nosso trabalho se
enquadra e desenvolve-se.

 Direitos Fundamentais da Terceira Dimensão

Os direitos fundamentais até então assegurados, tinham como destinatário o homem enquanto
indivíduo. Já os direitos fundamentais de Terceira Dimensão têm como traço característico o
facto de não mais estarem centrados no homem individualmente considerado, mas sim na
colectividade. Surgem os direitos colectivos e difusos. Como exemplo pode-se citar o direito
a paz, ao meio ambiente e a conservação do património cultural.

Portanto, os direitos fundamentais tem o escopo de promover a emancipação do homem,


como efectivar o combate de todas as formas de opressão que o ser humano possa estar
sujeito, ou seja, são direito considerados essenciais ao resguardo e à promoção da dignidade
humana.
11

O direito do consumidor recuperou a dimensão humana do consumidor, na medida em que o


afirma como sujeito, titular de direitos constitucionalmente protegidos. Proteger o consumidor
é, na incisiva lição de António Pinto Monteiro "lutar pela qualidade do relacionamento
humano, no que ele implica de respeito pela dignidade do Homem e pelo seu poder de
autodeterminação, e no que ele significa de uma solidária e responsável participação na vida
em comunidade"18. Desse modo, a migração para o campo dos direitos fundamentais, na
concepção ampla que ostentam na actualidade, tornou-se inevitável.

Direito à Informação e Garantia de Conhecimento

O direito fundamental à informação visa à concreção das possibilidades objectivas de


conhecimento e compreensão, por parte do consumidor típico, destinatário do produto ou do
serviço. Cognoscível é o que pode ser conhecido e compreendido pelo consumidor.

Não se trata de fazer com que o consumidor conheça e compreenda efectivamente a


informação, mas deve ser desenvolvida uma actividade razoável que o permita e o facilite. É
um critério geral de apreciação das condutas em abstracto, levando-se em conta o
comportamento esperado do consumidor típico em circunstâncias normais. Ao fornecedor
incumbe prover os meios para que a informação seja conhecida e compreendida.

A cognoscibilidade abrange não apenas o conhecimento (poder conhecer) mas a compreensão


(poder compreender). Conhecer e compreender não se confundem com aceitar e consentir.
Não há declaração de conhecer, o consumidor nada declara. A cognoscibilidade tem carácter
objectivo; reporta-se à conduta obscura. O consumidor em particular pode ter conhecido e não
compreendido, ou ter conhecido e compreendido. Essa situação concreta é irrelevante. O que
interessa é ter podido conhecer e podido compreender, ele e qualquer outro consumidor típico
destinatário daquele produto ou serviço. A declaração de ter conhecido ou compreendido as
condições gerais ou as cláusulas contratuais gerais não supre a exigência legal e não o impede
de pedir judicialmente a ineficácia delas. Ao julgador compete verificar se a conduta concreta
guarda conformidade com a conduta abstracta tutelada pelo direito.

Pretende-se com a garantia de conhecimento facilitar ao consumidor a única opção que se lhe
coloca nos contratos de consumo massificados, notadamente quando submetidos a condições
gerais, isto é, "pegar ou largar" ou avaliar os custos e benefícios em bloco, uma vez que não
18
Actas do Congresso Internacional sobre "Comunicação e Defesa do Consumidor", cit., p. 492.
12

tem poder contratual para modificar ou negociar os termos e o conteúdo contratual. Portanto,
o direito à informação deve ser garantido de modo adequado e com antecedência necessária,
tendo em conta a extensão e a complexidade das condições, a possibilidade de seu
conhecimento efectivo por quem use de comum diligência, cabendo ao fornecedor o ônus da
prova da efectiva e adequada comunicação.

Um dos meios comuns mais usados pelos fornecedores de produtos e serviços para a
informação, é a publicidade e o contacto pessoal com os consumidores.

A publicidade é "toda actividade destinada a estimular o consumo de bens e serviços, bem


como promover instituições, conceitos e ideias 19. Para atingir suas finalidades, a publicidade
deve observar os princípios básicos de liberdade, identificação, veracidade, lealdade e ordem
pública. Porém, há uma distinção qualitativa com a informação em sentido restrito. A
publicidade tem por fim, atrair e estimular o consumo, e por outro lado garantir a informação
e dotar o consumidor de elementos objectivos de realidade que lhe permitam conhecer os
produtos e serviços e exercer suas escolhas. Sem embargo da distinção, ambas são espécies do
género informação, incidindo o dever de informar.

Tal como avançamos, a informação obriga o fornecedor a informar de modo adequado,


suficiente e veraz decorre da actividade que exerce. Essa obrigação desponta com especial
força na publicidade dos produtos e serviços lançados no mercado de consumo, modificando
substancialmente os valores jurídicos. A publicidade utiliza principalmente os meios de
comunicação social, mas pode estar contida em mensagens dirigidas directamente ao
consumidor, seja por mala directa seja pela Internet, e nos próprios produtos.

Há tempos atrás a consolidação do direito do consumidor, através da publicidade não gerava


consequências jurídicas a quem dela se utilizasse ou mesmo abusasse. Entendia-se que era o
preço a pagar ou a ser suportado pela sociedade, para o desenvolvimento das actividades
económicas, em favor do irrestrito princípio da livre iniciativa. Afirmava-se que era um
"dolus bonus", tolerado ou desconsiderado pelo direito, pois sua função era apenas a de
estimular e atrair ao consumo. Mas, já se disse que "a evolução contemporânea do direito
positivo, caracterizado pela protecção e informação dos consumidores, a regulamentação da
publicidade, a força obrigatória dos documentos publicitários e o desenvolvimento da

19
A doutrina Portuguesa define a publicidade como "qualquer forma de comunicação feita no âmbito de uma
actividade comercial, artesanal ou liberal tendo por fim promover o fornecimento de bens ou de serviços,
incluindo os bens imóveis, os direitos e as obrigações".
13

obrigação de informar, parece deixar um lugar muito reduzido ao ‘dolus bonus’20. Ao meu
sentir não há mais lugar algum ao "dolus bonus".
Para realizar o direito fundamental à informação, o direito do consumidor toma a
publicidade sob dois aspectos: no primeiro, a publicidade preenche os requisitos de
adequação, suficiência e veracidade, considerando-a lícita; no segundo, a publicidade
ultrapassa limites positivos e negativos estabelecidos na lei, para defesa do consumidor,
tornando-a ilícita. A publicidade ilícita é enganosa quando divulga o que não corresponde ao
produto ou serviço, induzindo em erro; é abusiva quando discrimina pessoas e grupos sociais
ou agride outros valores morais. A publicidade ilícita não produz efeitos face a garantia do
direito fundamental à informação do consumidor.

Capitulo II

20
Jacques Ghestin, Traité de Droit Civil – La Formation du Contrat, 3ª edição, Paris, LGDJ, 1993, p. 534.
14

O Dever de Informar ao Consumidor

O direito fundamental à informação resta assegurado ao consumidor se o correspectivo dever


de informar, por parte do fornecedor, estiver cumprido. É o ónus que se lhe impõe, em
decorrência do exercício de actividade económica lícita.

Para o professor argentino Roberto M. Lopez 21, o dever de informar, imposto a quem produz,
importa ou comercializa coisas ou presta serviços, se justifica em razão de se enfrentarem
nessa peculiar relação, um profissional e um profano, e a lei tem um dever punitivo com este
último.

O dever de informar tem raiz no tradicional princípio da boa-fé objectiva, significante da


representação que um comportamento provoca no outro, de conduta matrizada na lealdade, na
correcção, na probidade, na confiança, na ausência de intenção lesiva ou prejudicial. A boa-fé
objectiva é regra de conduta dos indivíduos nas relações jurídicas obrigacionais. Interessam as
repercussões de certos comportamentos na confiança que as pessoas normalmente neles
depositam22. Confia-se no significado comum, usual, objectivo da conduta ou comportamento
reconhecível no mundo social. No direito comum dos contratos, esse princípio implícito, sem
embargo da omissão propositada da codificação tradicional, como a brasileira, foi recorrente
na doutrina mais atenta à evolução do direito contratual.

O princípio da boa-fé objectiva foi teve uma ampla função no direito do consumidor,
optimizando-se sua dimensão de cláusula geral, de modo a servir de parâmetro de validade
dos contratos de consumo, principalmente nas condições gerais dos contratos. Anteriormente
ao advento das legislações específicas, a jurisprudência dos tribunais socorreu-se à larga da
boa fé como cláusula geral definidora do limite das condições gerais dos contratos e do
efectivo cumprimento do dever de informar.

Contudo, o dever de informar não é apenas a realização do princípio da boa-fé. Na evolução


do direito do consumidor assumiu feição cada vez mais objectiva, relacionado à actividade
lícita de fornecimento de produtos e serviços. A teoria contratual também construiu a doutrina
dos deveres anexos, deveres acessórios ou deveres secundários ao da prestação principal, para
enquadrar o dever de informar23. O desenvolvimento do direito do consumidor foi além,
transformando-o no correspectivo do direito à informação, como direito fundamental, e o
21
Información al usuário, in Revista Ajuris, edição especial, Porto Alegre, Março 1998, p. 256.
22
António Manuel da Rocha e Menezes Cordeiro. Da Boa-fé no Direito Civil, Coimbra, Almedina, 1997, p.1234.
15

elevando a condicionante e determinante do conteúdo da prestação principal do fornecedor.


Não se trata apenas de dever anexo.

A Constituição moçambicana, assegura no artigo 92º, que os consumidores têm direito à


qualidade dos bens e serviços consumidos, à formação e a informação, a protecção da saúde,
da segurança dos seus interesses económicos, bem como à reparação de danos. O princípio é
dirigido não só ao Estado mas, principalmente, aos agentes económicos. O princípio é
abrangente do direito à informação, referido explicitamente no artigo retro mencionado.

A fraca densidade semântica do princípio não constitui obstáculo à sua aplicação ou


executividade imediata. Havendo, como há, legislação infraconstitucional regulamentando a
matéria, sua aplicação deverá ser, sempre, informada do princípio.

A concepção, a fabricação, a composição, o uso e a utilização dos produtos e serviços atingiu,


em nossa era, elevados níveis de complexidade, especialidade e desenvolvimento científico e
tecnológico cujo conhecimento é difícil ou impossível de domínio pelo consumidor típico, ao
qual eles se destinam. A massificação do consumo, por outro lado, agravou o distanciamento
da informação suficiente. Nesse quadro, é compreensível que o direito avance para tornar o
dever de informar um dos esteios eficazes do sistema de protecção.

O dever de informar impõe-se a todos os que participam do lançamento do produto ou


serviço, desde sua origem, inclusive propostos e representantes autónomos. É dever solidário,
gerador de obrigação solidária. Essa solidariedade passiva é necessária 24, como instrumento
indispensável de eficaz protecção ao consumidor, para que ele que não tenha de suportar o
ónus desarrazoado de identificar o responsável pela informação, dentre todos os integrantes
da respectiva cadeia económica (produtor, fabricante, importador, distribuidor, comerciante,
prestador do serviço).

Requisitos do Dever de Informar

23
Cláudia Lima Marques, Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 2ª edição, São Paulo, Ed. Revista dos
Tribunais, 1995, p. 241.
24
Cfr. art.10, 14 e 15 da Lei no22/2009 de 28 de setembro (Lei da defesa do consumidor).
16

Cumpre-se o dever de informar quando a informação recebida pelo consumidor típico


preencha os requisitos de adequação, suficiência e veracidade. Os requisitos devem estar
interligados. A ausência de qualquer deles importa descumprimento do dever de informar.

A Adequação dos Meios de Informação

A adequação diz com os meios de informação utilizados e com o respectivo conteúdo. Os


meios devem ser compatíveis com o produto ou o serviço determinados e o consumidor
destinatário típico. Os signos empregados (imagens, palavras, sons) devem ser claros e
precisos, estimulantes do conhecimento e da compreensão. No caso de produtos, a informação
deve referir à composição, aos riscos, à periculosidade. Maior cautela deve haver quando o
dever de informar veicula-se por meio da informação publicitária, que é de natureza diversa,
como adiante se dirá. Tome-se o exemplo do medicamento. A informação da composição e
dos riscos pode estar neutralizada pela informação publicitária contida na embalagem ou na
bula impressa interna. Nessa hipótese, a informação não será adequada, cabendo ao
fornecedor provar o contrário.

A legislação de protecção do consumidor destina à linguagem empregada na informação


especial cuidado. Em primeiro lugar, o idioma será o português. Em segundo lugar, os termos
empregados hão-de ser compatíveis com o consumidor típico destinatário. Em terceiro lugar,
toda a informação necessária que envolva riscos ou ónus que devem ser suportados pelo
consumidor será destacada, de modo a que "saltem aos olhos". Alguns termos em língua
estrangeira podem ser empregados, sem risco de infracção ao dever de informar, quando já
tenham ingressado no uso corrente, desde que o consumidor típico com eles esteja
familiarizado. No campo da informática, por exemplo, há universalização de alguns termos
em inglês, cujas traduções são pouco expressivas, a exemplo do aparelho denominado mouse.

Suficiência da Informação

A suficiência relaciona-se com a completude e integralidade da informação. Antes do advento


do direito do consumidor era comum a omissão, a precariedade, a lacuna, quase sempre
intencionais, relativamente a dados ou referências não vantajosas ao produto ou serviço. A
ausência de informação sobre prazo de validade de um produto alimentício, por exemplo, gera
confiança no consumidor de que possa ainda ser consumido, enquanto que, a informação
suficiente permite-lhe escolher aquele que seja de fabricação mais recente. Situação
amplamente divulgada pela imprensa mundial foi a das indústrias de tabaco que sonegaram
17

informação, de seu domínio, acerca dos danos à saúde dos consumidores. Insuficiente é,
também, a informação que reduz, de modo proposital, as consequências danosas pelo uso do
produto, em virtude do estágio ainda incerto do conhecimento científico ou tecnológico.

Problema mais delicado diz respeito ao chamado risco do desenvolvimento. Considera-se


assim o lançamento do produto ou do serviço, que posteriormente vêm a ser demonstrados
inadequados ou inseguros em virtude do desenvolvimento científico ou tecnológico posterior.
No momento em que foram concebidos ou desenvolvidos mostravam-se compatíveis com o
nível do conhecimento existente. Há forte controvérsia na doutrina. Pessoalmente, conforme
escrevi Paulo Lôbo25, entendo que, no geral o risco de desenvolvimento deve ser considerado
como exoneratório de responsabilidade. Todavia, a falta de informação suficiente, acerca do
estágio do conhecimento científico e tecnológico sobre a matéria, infringe o dever de
informar, pois sonega dados necessários à escolha do consumidor.

Todo produto ou serviço lançado no mercado, em conformidade com os dados de ciência e


tecnologia actualmente irrefutáveis, considera-se adequado e seguro ao consumo. Porém, o
progressivo desenvolvimento científico e tecnológico poderá alcançar estágios de
aperfeiçoamento e qualificação dos mesmos produtos e serviços que tornem os anteriores
inadequados ao uso.

É de se ter como unívocos os significados de state of theart (o produto está de acordo com os
padrões correntes na data de seu lançamento) e risco de desenvolvimento (o produto não
alcançou o nível de qualidade e segurança que seria lícito esperar, na data de seu lançamento),
que a doutrina estrangeira busca distinguir26 Exemplifica-se a primeira hipótese com o cinto
de segurança nos automóveis que não se tinha como necessário décadas atrás; a segunda, com
a inadequação do produto por excessiva toxidade, apenas mais tarde reconhecida.

Veracidade da Informação

A veracidade é o terceiro dos mais importantes requisitos do dever de informar. Considera-se


veraz a informação correspondente às reais características do produto e do serviço, além dos
dados correctos acerca de composição, conteúdo, preço, prazos, garantias e riscos. A

25
Paulo Luiz NettoLôbo, Responsabilidade por Vício do Produto ou do Serviço, Brasília, Ed. Brasília Jurídica,
1996.
26
Geraint G. Howells, Strict Liability in Common Law: Historical Development and Perspectives. Documentos
Básicos do Congresso Internacional de Responsabilidade Civil. Blumenau, out./nov. 1995, p. 82.
18

publicidade não verdadeira, ou parcialmente verdadeira, é considerada enganosa e o direito do


consumidor destina especial atenção a suas consequências.

Capitulo III
19

Responsabilidade pelos danos causados aos Consumidores derivados da violação do


Direito à informação e Meios de reacção face a violação do direito a informação.

A informação que o fornecedor deve ao consumidor se extrai da Constituição, e da Lei de


Defesa do Consumidor. Sendo o consumidor considerado vulnerável, antes do exercício da
sua liberdade de escolha precisará conhecer a qualidade do serviço ou o produto que lhe está à
disposição. O direito à informação e o princípio da transparência são fundamentais para os
consumidores. A ausência de informação decorrente da culpa ou do abuso de direito provoca
o vício e a consequente obrigação de indemnizar pelos danos materiais ou morais.

Nesse capítulo, o nosso objectivo consiste em demonstrar que a falta de informação


corresponde a um dos elementos da responsabilidade civil.

A protecção moral e material dos consumidores é garantida pelo capítulo II, artigo 5 da
LDC.O direito do consumidor à informação e o dever de informar do fornecedor: O direito à
informação que todos têm decorre do artigo 90, da CRM, na legislação infraconstitucional se
verifica que o consumidor tem direito à informação e o fornecedor tem o dever de informar,
conforme a Lei de Defesa do Consumidor. O dever de informar decorre do princípio da
transparência que obriga o fornecedor a dar todas as características do produto ou do serviço
oferecido no mercado.

No dizer de Cláudia Lima Marques27, o dever de informar corresponde a um verdadeiro dever


essencial, dever básico para a harmonia e transparência das relações de consumo; é verdadeiro
ónus atribuído aos fornecedores, parceiros contratuais ou não do consumidor. Se o
consumidor não receber as informações adequadas, se resta provado o vício e a consequente
obrigação de indemnizar.

A Responsabilidade Civil e a Lei da Defesa do Consumidor

Entre muitos fornecedores existe uma ideia muito equivocada de que aqueles (fornecedores)
que não têm contacto directo com o consumidor, não teriam que responder nos termos dos
preceitos previstos na Lei de Defesa do Consumidor. É até certo ponto complexa e, às vezes,
problemática, esta realidade de haver na cadeia de fornecimento uma empresa fornecedora
real e outra que é fornecedora aparente do produto ou serviço. Ou seja, uma empresa é aquela
que tem o contacto directo com o consumidor para vender-lhe o produto e serviço

27
Marques, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 4. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 646.
20

(fornecedora aparente), enquanto outra é a real fornecedora, mas não se identifica para o
consumidor nesta condição.

Esta técnica é denominada de sistemas expertos, fórmula pela qual duas ou mais empresas
combinam meios e esforços no processo de prover o mercado de consumo, sendo que o
consumidor nem sempre tem conhecimento de quais fornecedores integram a cadeia de
fornecimento.

Nesta conjuntura, então, ainda subsiste em parte do meio empresarial a crença de que, aquela
empresa que permanece oculta para o consumidor não responderia nos termos da LDC, tendo
sua responsabilidade civil resumida ao que esteja previsto nos termos estabelecidos nos
contratos feitos entre as empresas (fornecedora real e fornecedora aparente), sendo a relação
jurídica regulada pelas disposições do Código Civil (e, eventualmente, o Código Comercial).
Há um profundo engano nesta concepção. A legislação não ignora a realidade dos fatos que
permeiam os vários tipos de relações negociais como parcerias, cessões de utilização de
marcas, e outras espécies de negócios. Há pessoas físicas ou jurídicas que possuem apenas a
marca que outras empresas utilizam para fabricar o produto ou denominar o serviço que será
comercializado, inclusive por um terceiro fornecedor.

Do mesmo modo, existem aquelas empresas que utilizam componentes de várias fábricas em
seus produtos e serviços e têm o atendimento do consumidor feito por empresas de fora de seu
grupo. Em um Estado democrático-liberal, dentro dos limites legais, existe liberdade para os
fornecedores se valerem de inúmeras técnicas empresariais para ganhar mercado, diminuir
custos, aumentar lucros e serem competitivos no fornecimento de seus produtos ou serviços.

Entretanto, nesta complexidade de relações isto não os exime de serem alcançados pelo
regramento imposto na LDC, norma de ordem pública e interesse social, que prevê
expressamente a responsabilidade solidária de participantes da cadeia de fornecimento
(ostensivos ou não) quando dela resultar dano ao consumidor.
Este princípio é materializado por inúmeros dispositivos do código, como, por exemplo: o
artigo 15 da LDC, ao estabelecer que os fornecedores de bens de consumo duradouros e não
duradouros respondem solidariamente pelos vícios de qualidade e de quantidade que os
tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que destinam ou lhes diminuam o valor,
assim como por aqueles decorrentes da disparidade em relação às indicações constantes nos
21

recipientes, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitaria, respeitadas as variações


decorrentes da sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
Acrescente-se que a aplicação do princípio da responsabilidade civil solidária ganha maior
importância ainda, nos casos em que os fornecedores constroem verdadeiras teias de artifícios
para criar uma cortina de fumaça destinada a evitar que eles sejam identificados e atingidos
pelo dever de reparar as lesões aos consumidores.

Os preceitos de direito, determinados desde Justiniano consistem em: viver honestamente, não
lesar outrem, dar a cada um o seu, conforme o Digesto de Justiniano, D.1.1.10.1: "Iuris
praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere.". O Código
Civil, ao cogitar da responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado, aludiu a
estas no artigo 500, transpondo para este terreno a responsabilidade do comitente

Caio Mário da Silva28 nos ensina que a responsabilidade civil do empregador ou comitente
pelos actos dos empregados ou prepostos aboliu a subordinação da responsabilidade à culpa
in eligendo ou in vigilando, marchando-se para a teoria objectiva. As pessoas jurídicas de
direito privado, qualquer que seja a sua natureza e os seus fins, respondem pelos actos de seus
dirigentes ou administradores, bem como de seus empregados ou prepostos que, nessa
qualidade, causem dano a outrem. Em relação à culpa em sentido estrito, é irrelevante de que
maneira ocorreu a investidura culposa da administração. O que importa é determinar a
existência do dano e sua autoria, apurando que o agente procedia nessa qualidade ou por
ocasião dele.

A falta de informação decorre da culpa em sentido amplo (dolo e a culpa em sentido estrito)
ou do abuso de direito e fere a função social dos contratos, a probidade e a boa-fé objectiva.
Desta forma, os fornecedores, por deixar de informar, são responsáveis pela reparação
material ou moral do consumidor, Cfr. Arts.15 e 16 da LDC.

A prática da publicidade enganosa e abusiva, além de ser proibida e resultar ao causador do


dano um ilícito civil no dever de indemnizar, pode ainda ensejar a configuração de um ilícito
penal resultando ao causador do dano a responsabilidade penal pelo ato praticado.

Responsabilidade Civil – Dever de Indemnizar

28
PEREIRA, Caio Mário da Silva, op cit, p.124
22

O artigo 483 do Código Civil preceitua que “Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar
ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses
alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação”.

A Lei de Defesa do Consumidor - Lei 22/2009 de 28 de Setembro, em seus artigos 15 e 16


especifica a responsabilidade sobre os produtos e serviços pelo fornecedor, o qual responde
solidariamente pelos vícios causados ao consumidor quando ocorrer alguma lesão e violação
nas relações de consumo.

Responsabilidade Civil – Dever de Indemnizar

A prática da publicidade enganosa e abusiva, além de ser proibida e resultar ao causador do


dano um ilícito civil no dever de indemnizar, pode ainda ensejar a configuração de um ilícito
penal resultando ao causador do dano a responsabilidade penal pelo ato praticado.

O artigo 483 do Código Civil preceitua que “Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar
ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses
alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação”.

A Lei de Defesa do Consumidor - Lei 22/2009 de 28 de Setembro, em seus artigos 15 e 16


especifica a responsabilidade sobre os produtos e serviços pelo fornecedor, o qual responde
solidariamente pelos vícios causados ao consumidor quando ocorrer alguma lesão e violação
nas relações de consumo.

O direito a reparação deverá ocorrer a favor do consumidor quando não for solucionado o
vício pelo fornecedor em relação aos produtos, conforme especificações a seguir29.

Bens não duráveis e duráveis

Para bens não duráveis e duráveis, dentro do prazo de 30 dias, caberá ao consumidor exigir
alternativamente e à sua escolha:

1 - A substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

2 - A restituição imediata da quantia paga, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

3 – A redução proporcional do preço.

Vício de Quantidade ou de Mensagem Publicitária

29
Cfr. Arts. 9 a 11 do Decreto 27/2016 de 18 de Julho.
23

No caso de vício de quantidade na embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária,


podendo o consumidor exigir alternativamente e à sua escolha:

1 – A redução proporcional do preço;

2 – O ajustamento do peso ou medida;

3 - A substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo;

4 - A restituição imediata da quantia paga, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.

Não sendo atendidos os procedimentos previstos no Código de Protecção e Defesa do


Consumidor em relação aos serviços e produtos, e os vícios não sendo sanados, cabe ao
consumidor o direito de ser indemnizados com a competente acção judicial de perdas e danos,
em razão da publicidade enganosa e abusiva a qual o produto ou serviço estiver relacionado.
24

Meios de reacção face a violação do direito a informação

Perfilhando a posição de que incumbe ao prestador de bens ou serviços dar informações sobre
o produto que pretende colocar no mercado, e o mesmo não dando informações ou prestando
informações deficientes aos consumidores, este acto constitui uma autentica violação aos
direitos dos consumidores, importa aqui saber quais serão as consequências em relação ao
agente que faltou com o seu dever de informar aos consumidores?

O Direito à Petição

A Constituição consagra o direito de petição (vide art.º 79 da CRM), pressupõe que todos os
cidadãos têm direito de apresentar petições, queixas e reclamações perante a autoridade
competente para exigir o restabelecimento dos seus direitos violados ou em defesa do
interesse geral.

Incumbe aos órgãos e departamentos da Administração da Pública promover a criação e


apoiar centros de arbitragem com o objectivo de dirimir os conflitos de consumo, e nesse
sentido é assegurado ao consumidor o direito à isenção de preparos nos processos em que
pretenda a protecção dos seus interesses e direitos, a condenação por incumprimento do
fornecedor ou prestador de bens e serviços, ou a reparação de perdas e danos emergentes de
factos ilícitos ou da responsabilidade civil objectiva30.

30
Cfr. Art18 da LDC
25
26

Bibliografia

ALMEIDA, João Baptistade. Manual de direito do consumidor. Saraiva editores. São Paulo,
2003.

ANDRADE, Mário. Introdução á metodologia do trabalho cientifico.7ª edição, São Paulo,


Revista dos tribunais, 2008.

BENJAMIM, A. Marque. Manual do direito do consumidor. 2ª ed. São Paulo. Revista dos
tribunais 2009.

CARVALHO, José Carlos de Maldonado de. Direito do consumidor: fundamentos


doutrinários e visão jurisprudencial. 3ª ed.Rio de Janeiro. LumenJuris, 2008.

CAVALEIERI, Filho, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 3ª ed. Atlas, São Paulo,
2011.

CASTRO, J. M. Métodos e Técnicas de pesquisa: uma introdução. São Paulo.

GIL. Antônio Carlos, Como Elaborar Projetos de Pesquisa, São Paulo, 3ͣ Edição, Editora
Atlas, 2002.

LAKATOS. Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade, Metodologia Científica, São
Paulo, 5ͣ Edição, Editora Atlas, 2009.

MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 4. ed. São Paulo:
RT, 2004.

NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2004.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

Legislação

REÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique, in Boletim da


República, I Série Número 51, de 22 de Dezembro de 2004.

Lei n.o 22/2009 de 28 de Setembro (Aprova a Lei de defesa consumidor).


27

Decreto n.o 27/2016 de 18 de Julho (Aprova o Regulamento da Lei de defesa consumidor).

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