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CURSO PREPARATÓRIO PARA 1ª FASE DO 37º EXAME DA ORDEM DOS

ADVOGADOS DO BRASIL (OAB)


Direito Civil
2 Fernanda Barretto

APRESENTAÇÃO

Estimados Guerreiros e Guerreiras!

É com muita alegria que apresentamos o módulo de Direito Civil do preparatório para o 37º exame
da Ordem dos Advogados do Brasil. Sejam todos muito bem-vindos!

Preparei esse roteiro pensando no seu exame e sabendo da importância desses temas para sua prova,
então, valerá a pena o nosso esforço durante essas aulas!

Nosso módulo não dispensa suas anotações pessoais e, principalmente, a leitura e os grifos dos
dispositivos específicos de cada assunto que abordaremos. Utilize, portanto, o seu Vade Mecum (1ª Fase
da OAB e Concursos) e vamos juntos!

Espero que vocês tenham um excelente proveito!

Receba o nosso sincero abraço!

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DIREITO DA PERSONALIDADE

A personalidade jurídica é a
aptidão genérica para
titularizar direitos e
Projeções biopsíquicas
obrigações na esfera civil.
integrativas da personalidade,
que derivam da cláusula geral
de proteção à pessoa humana
(princípio da dignidade
humana, art. 1º, III, da
CRFB/88).
Base legal: art. 11 a 21 → Rol dos direitos
da personalidade.

- No Brasil, é meramente exemplificativo.

➢ Todos os direitos da personalidade também estão previstos no art. 5º, da CRFB/88.


➢ Autores como Anderson Scheiber, afirmam que os direitos da personalidade são direitos
fundamentais, mas nem todos os direitos fundamentais são direitos da personalidade.
o Ex.: propriedade privada.

➢ Art. 11, CC: esse artigo traz que os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis,
não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
o A indisponibilidade é relativa e não absoluta. O sujeito poderá dispor dos seus direitos da
personalidade, desde que essa disposição seja específica, limitada temporariamente, e que
não ofenda a dignidade do titular disponente.

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1) TEORIAS DO MOMENTO AQUISITIVO DA PERSONALIDADE


Teoria Natalista Teoria Concepcionista Teoria da Personalidade
Condicional
- Determina que a - A personalidade se adquire - Inicia-se desde a concepção, para fins
personalidade se adquire com desde a concepção (fixação do existências, mas só se aperfeiçoa e
o nascimento com vida (art. embrião no útero materno). gera direitos patrimoniais após o
2°, CC/02). - Em regra, o embrião congelado nascimento com vida.
* ADOTADA PELO BRASIL* não tem personalidade (sem - Não cai na prova, em regra.
fixação).

ATENÇÃO!

Os direitos patrimoniais só terão a


sua aquisição aperfeiçoada se o
bebê nascer com vida.

➢ Art. 2, CC/02. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro > TEORIA NATALISTA.

O nascimento com vida se dá com a entrada de ar nos pulmões.


“Nascer e respirar, significa herdar!”

➢ Para a prova, a TEORIA NATALISTA é adotada pelo direito brasileiro quanto ao momento
aquisitivo da personalidade, mas o nascituro é protegido pelo direito civil, ainda que não tenha
personalidade jurídica, ainda.
➢ Vejamos alguns exemplos de direitos reconhecidos ao nascituro:
1. VIDA: Proíbe-se o aborto, com exceção das hipóteses do código penal (estupro e risco de
vida da gestante) e a hipótese do STF, que é a anencefalia.
2. ALIMENTOS (LEI 11.804/08): Alimentos gravídicos, que englobam todos os cuidados que
a gestante precisa, como pré-natal, alimentação adequada, etc. Lembre-se que o direito não é
da gestante, mas sim do feto. Para serem conferidos, é necessário que existam indícios
mínimos de paternidade (não é necessário DNA). Esses alimentos não se tratam de pensão
alimentícia. Depois do nascimento, os alimentos gravídicos são convertidos em pensão
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alimentícia, automaticamente. Se a mãe ou pai desejarem


majorar, reduzir ou exonerar o valor, deverão ingressar com ação judicial (revisão ou
exoneração).
3. DIREITO A RECEBER DOAÇÃO – SER DONATÁRIO (ART. 542, CC/02): Só é válida se for
aceita pelo representante legal (condição de validade), e não se confunde com herança. Não
existe tratativa sobre capacidade do nascituro. A transmissão de propriedade só se
aperfeiçoa pelo nascimento com vida.
4. DIREITO À HERANÇA: Fundamentado nos artigos 1.798 e 1.799, do CC/02. O direito
confere-se por ordem de vocação hereditária, independente de testamento. O nascituro é
aquele que já está no corpo da mãe, fixado ao útero materno. Os embriões congelados
(embriões criogenizado), no laboratório, não são considerados nascituros, em regra geral,
mas, poderão herdar se forem contemplados em testamento, nos moldes do art. 1.799, inciso
I, c/c 1.800, § 4º, da CC/02 (prole eventual). Tratando-se da prole eventual, o art. 1.800, § 4º,
do CC/02, disciplina que, se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for
concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do
testador, caberão aos herdeiros legítimos. O direito hereditário do nascituro só se aperfeiçoa
se ele nascer com vida. Enquanto for menor, a administração e usufruto será, em regra, dos
seus pais.
5. DIREITO A UM CURADOR (ART. 1.779, CC/02): Se o pai for falecido ou ausente, será
nomeado um curador ao ventre.

DIREITOS CONFERIDOS PELA JURISPRUDÊNCIA

6. SEGURO DPVAT: Pelo STJ, os pais do nascituro têm direito ao seguro DPVAT pela sua
morte, causada por veículo automotor.
7. DANO MORAL: O STJ declarou que o nascituro pode sofrer dano moral, quando há violação
dos seus direitos de personalidade.

➢ Alguns direitos são reconhecidos ao natimorto (aquele que nasceu sem vida; não respirou).
Segundo o enunciado da primeira jornada do direito civil do Conselho da Justiça Federal (CJF), o
natimorto tem direito a:
1) Nome
2) Imagem
3) Sepultura
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2) CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


a. Intransmissíveis e irrenunciáveis;
b. Os direitos da personalidade são extrapatrimoniais. Ou seja, sua índole é intangível, imaterial;
c. Os direitos da personalidade são impenhoráveis;
d. Os direitos da personalidade são imprescritíveis.
e. Os direitos da personalidade são absolutos (não significa ilimitado, mas oponíveis erga omnes).
Obs.: direitos patrimoniais também são erga omnes.
f. Os direitos da personalidade são inatos (inerentes a condição de pessoa).

3) DIREITOS DA PERSONALIDADE “EM ESPÉCIE”


➢ Art. 13 (direito ao corpo vivo), 14 (direito ao corpo morto) e art. 15 (consentimento informado)
→ Direito ao corpo.
➢ Art. 16 (partes do nome), 17 e 18 (tutela do nome) e 19 (pseudônimo) → Direito ao nome.
➢ Art. 20: imagem e honra.
➢ Art. 21: vida privada.

3.1. Direito ao corpo:


➢ Art. 13: Ninguém pode dispor do próprio corpo se isso gerar diminuição permanente da sua
integridade física, ou contrariar os bons costumes.
o Exceção: exigência médica.
o Ex.: Maria não pode cortar uma orelha porque quer simplesmente arrancá-la, mas pode
caso esteja com câncer e seja exigência médica.
o O Brasil admite a realização de tratamentos médicos de qualquer ordem para a transição
de gênero, mas eles não são obrigatórios para a mudança de nome e de gênero no registro
civil.
o A internação psiquiátrica involuntária é admitida excepcionalmente, depois de esgotado
o tratamento ambulatorial e quando a pessoa oferecer risco a si, em primeiro lugar, ou
quando oferecer risco, secundariamente, a sociedade.
o Gestação por substituição só é permitida se for gratuita > aquela que quer ser mãe (dona
do projeto parental) tem que comprovar a impossibilidade biológica de ser mãe, exigindo
relação de parentesco, em regra, ou ser colateral até 4º grau entre a gestante ou um dos
pais.
Colaterais:
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- 1º grau: não existem.


- 2º grau: irmãos (unilaterais ou bilaterais =
germanos)
- 3º grau: tios e sobrinhos
- 4º grau: tios-avós - sobrinhos netos
- Primos “carnais de 1º grau”

➢ Art. 14: o titular pode dispor do próprio corpo para depois da morte, desde que com o objetivo
científico ou altruístico.

Observação: Os transplantes são admitidos no Brasil, seja inter vivos, seja mortis
causa.
 Para o transplante em função da morte exige-se a morte cerebral do
doador.
 É sempre gratuito, seja entre mortes ou entre vivos.
 Entre vivos, só se pode transplantar órgãos dúplices ou regeneráveis.
 Transplante pós-morte se admite para todas as partes do corpo e
obedece à fila.

➢ Art. 15: Direito que o paciente tem de ser informado sobre todos os elementos e circunstâncias
relevantes para o seu tratamento médico, já que a lei estabelece, neste artigo, que ninguém pode
ser constrangido a se submeter a tratamento médico ou intervenção cirúrgica com risco de vida
> é o que chamam de consentimento informado.

3.2. Direito ao nome:


➢ Art. 17: O nome da pessoa não pode ser empregado/lesado por outrem em publicações ou
representações que exponha ao desprezo público, mesmo que não haja intenção de difamar.
➢ Art. 18: Qualquer utilização comercial do nome depende de autorização do titular.
➢ Art. 19: O pseudônimo é equivalente ao nome de fantasia da pessoa natural; substitui social e
profissionalmente seu nome, sem que tenha havido alteração no registro civil.
o Ex.: Silvio Santos; Fernanda Montenegro; Pelé.
o Nome social é o nome que as minorias LGBTQI+ podem usar para a sua identificação
social.

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3.3. Direito a imagem e a honra


➢ Art. 20: Os direitos de honra e imagem são autônomos, independentes, com base na CF/88.
➢ A imagem se divide em três dimensões:
a) Retrato: “estampa”.
b) Imagem atributo: é o conjunto de características que servem para identificar
alguém.
c) Imagem vocal: identifica o timbre vocal.

➢ Súmula 403, STJ: reconhece o dano moral in re ipsa (contido no próprio ato ofensivo) pela
publicação não-autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
➢ O consentimento para utilização da imagem pode ser expresso ou tácito, como regra geral.
➢ Já o direito a honra, também previsto no art. 20, se subdivide em duas espécies:
a) Honra subjetiva: mais ou menos a ideia de autoestima; o que o sujeito pensa sobre si
mesmo.
b) Honra objetiva: é mais ou menos “fama social”; diz respeito ao que terceiros pensam
sobre a pessoa.
➢ Art. 21: Refere-se a vida privada/privacidade.
a) Intimidade: gostos pessoais; orientações (religiosas, sexuais, política...).
b) Segredo: é mais amplo e engloba os sigilos (bancários, fiscais, telefônicos, de
correspondência etc.).

Observação:
➢ Direito ao esquecimento: Direito que uma pessoa tem de não ser confrontada, no presente,
com atos conectados a ela no passado, verídicos ou não.
o O STF entendeu que é incompatível com a CF/88 a ideia de um direito ao
esquecimento “assim entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do
tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em
meios de comunicação social analógicos ou digitais”.

4) EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE:
➢ A extinção ocorre com a morte.
➢ Em regra, temos a morte natural, que é a morte com cadáver, cujo critério é a morte encefálica,
pronunciada via atestado de óbito.

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➢ Temos ainda a morte presumida, que é a morte sem cadáver, via


decisão judicial. Mas, precisamos lembrar que existem duas espécies de morte presumida:
a) Morte presumida sem decretação de ausência: art. 7º do CC + art. 88 LRP (Lei de Registros
Públicos) → Via decisão judicial em procedimento de jurisdição voluntária.
o Essa decisão deve fixar o provável dia do falecimento.
o Pode ser declarada a morte presumida sem decretação de ausência em duas situações:
- Quando for muito provável a morte de quem estava em perigo de vida. Ex.:
Brumadinho; Ulisses Guimarães; desastres ambientais.
- Quando alguém foi para guerra, desapareceu em campanha ou foi feito
prisioneiro e não retornou até dois anos após o fim do conflito.
o Não se pode solicitar antes de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença
fixar a data provável do falecimento. → Essa sentença funcionará como atestado de óbito,
por exemplo, para recebimento de seguro de vida, prova da morte no inventário, questões
previdenciárias etc.
Observação: também existe a possibilidade desse tipo de morte para os
desaparecidos durante a ditadura militar.

Atenção!! O art. 8º do CC, prevê o instituto da comoriência, que é a presunção


legal de morte simultânea de dois ou mais indivíduos que morreram na mesma
ocasião, quando não for possível averiguar quem morreu primeiro.
- Só pode herdar se estava nascido ou concebido no momento da morte
do autor da herança (o de cujus).

b) Morte presumida com decretação de ausência: art. 6º, segunda parte + art. 22 a 39, do
CC/02.
o Destina-se ao sujeito que some sem deixar notícias.
o O procedimento de ausência é judicial e trifásico, objetivando a declaração da morte de
quem desapareceu sem deixar notícias:
I. Arrecadação e curadoria dos bens do ausente (art. 22 ao 25, CC/02) – Não tem
prazo para ser iniciada. Só tem finalidade patrimonial > busca alguém para
assumir a função de administrar o patrimônio do ausente, e somente é
necessária se o ausente não tiver deixado representante ou procurador, ou se
esse mandatário não queira ou não possa exercer o mandato. Nessa fase, não
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há transmissão de bens. Os curadores


preferenciais são o cônjuge, companheiro, os pais e os descendentes. Na falta
de curadores preferenciais, o juiz escolhe um.
II. Sucessão provisória (art. 26 ao 36, CC/02) – Mais longa das fases. Há
necessidade do cumprimento de prazos legais. Gera transmissão de bens do
ausente para seus sucessores, que para receberem a posse desses bens terão
que dar garantias de restituição (penhor ou hipoteca). Excepcionalmente,
ascendentes, descendentes, cônjuges e companheiro estão liberados de prestar
garantia de restituição. Os imóveis só poderão ser alienados ou hipotecados
por ordem judicial e em benefício do ausente, evitando a ruína dos bens.
III. Sucessão definitiva (art. 27 ao 39, CC/02) – Prazo de abertura de 10 anos após
o trânsito em julgado da sentença que abriu a sucessão provisória. Os
interessados podem requerer o levantamento das cauções prestadas. Nas
hipóteses em que o ausente já está com 80 anos na data do pedido, e há pelo
menos 5 anos ninguém tem notícia dele, também será possível requerer a
abertura da sucessão definitiva.

Atenção!!! O art. 38 do CC diz que, se o ausente já


tem atualmente pelo menos 80 anos de idade e, a no
mínimo cinco anos não há notícias dele, se poderá
requerer a sua sucessão definitiva.

4.1. Possibilidade de retorno do ausente:


1ª fase: caso retorne, o ausente tem direito a todos os bens no estado em que deixou.
2ª fase: se o ausente retorna nesta fase, também terá direito aos bens no estado em que
deixou e em caso de dano, poderá cobrar por estes e pedir levantamento das cauções, ou
indenização.
3ª fase: se o ausente retorna nesta fase (entre os 10 anos), terá direito aos bens no estado
em que se encontrarem quando do seu retorno.
- Também terá direito aos bens sub-rogados e, se o os herdeiros venderam os seus
bens e ainda tem o dinheiro, ele terá direito a este valor.

Atenção: Presume-se a morte quanto aos ausentes nos casos que a lei autoriza
abertura da sucessão definitiva.
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QUESTÕES PARA TREINO:

1) João Marcos, renomado escritor, adota, em suas publicações literárias, o pseudônimo Hilton Carrillo,
pelo qual é nacionalmente conhecido. Vítor, editor da Revista “Z”, empregou o pseudônimo Hilton
Carrillo em vários artigos publicados nesse periódico, de sorte a expô-lo ao ridículo e ao desprezo
público. Em face dessas considerações, assinale a afirmativa correta.
A) A legislação civil, com o intuito de evitar o anonimato, não protege o pseudônimo e, em razão
disso, não há de se cogitar em ofensa a direito da personalidade, no caso em exame.
B) A Revista “Z”pode utilizar o referido pseudônimo em uma propaganda comercial, associado a
um pequeno trecho da obra do referido escritor sem expô-lo ao ridículo ou ao desprezo público,
independente da sua autorização.
C) O uso indevido do pseudônimo sujeita quem comete o abuso às sanções legais pertinentes,
como interrupção de sua utilização e perdas e danos.
D) O pseudônimo da pessoa pode ser empregado por outrem em publicações ou representações
que a exponham ao desprezo público, quando não há intenção difamatória.

2) Com relação ao direito da pessoa, assinale a opção correta.


A) Os direitos da personalidade são intransmissíveis, irrenunciáveis, inatos ou decorrentes,
perpétuos e insuscetíveis de apropriação.
B) A capacidade de exercício é imanente a toda pessoa, o que significa dizer que toda pessoa tem
capacidade de adquirir direitos e contrair obrigações.
C) A emancipação voluntária ocorre pelo exercício de emprego público efetivo.
D) Depois de transitada em julgado, a sentença judicial que decreta a nulidade ou anulação do
casamento deve ser registrada no cartório de registro de pessoas naturais.

3) Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXIX -
Primeira Fase
Gumercindo, 77 anos de idade, vinha sofrendo os efeitos do Mal de Alzheimer, que, embora não
atingissem sua saúde física, perturbavam sua memória. Durante uma distração de seu enfermeiro,
conseguiu evadir-se da casa em que residia. A despeito dos esforços de seus familiares, ele nunca foi
encontrado, e já se passaram nove anos do seu desaparecimento. Agora, seus parentes lidam com as
dificuldades relativas à administração e disposição do seu patrimônio. Assinale a opção que indica o
que os parentes devem fazer para receberem a propriedade dos bens de Gumercindo.

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a) Somente com a localização do corpo de Gumercindo será possível a decretação de sua morte
e a transferência da propriedade dos bens para os herdeiros.
b) Eles devem requerer a declaração de ausência, com nomeação de curador dos bens, e, após
um ano, a sucessão provisória; a sucessão definitiva, com transferência da propriedade dos bens,
só poderá ocorrer depois de dez anos de passada em julgado a sentença que concede a abertura
da sucessão provisória.
c) Eles devem requerer a sucessão definitiva do ausente, pois ele já teria mais de oitenta anos de
idade, e as últimas notícias dele datam de mais de cinco anos.
d) Eles devem requerer que seja declarada a morte presumida, sem decretação de ausência, por
ele se encontrar desaparecido há mais de dois anos, abrindo-se, assim, a sucessão.

4) Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXI -
Primeira Fase
André possui um transtorno psiquiátrico grave, que demanda uso contínuo de medicamentos, graças
aos quais ele leva vida normal. No entanto, em razão do consumo de remédios que se revelaram
ineficazes, por causa de um defeito de fabricação naquele lote, André foi acometido de um surto que, ao
privá-lo de discernimento, o levou a comprar diversos produtos caros de que não precisava. Para
desfazer os efeitos desses negócios, André deve pleitear
a) a nulidade dos negócios, por incapacidade absoluta decorrente de enfermidade ou deficiência
mental.
b) a nulidade dos negócios, por causa transitória impeditiva de expressão da vontade.
c) a anulação do negócio, por causa transitória impeditiva de expressão da vontade.
d) a anulação do negócio, por incapacidade relativa decorrente de enfermidade ou deficiência
mental.

5) Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XX -
Primeira Fase (Reaplicação Salvador/BA)
Pedro, em dezembro de 2011, aos 16 anos, se formou no ensino médio. Em agosto de 2012, ainda com
16 anos, começou estágio voluntário em uma companhia local. Em janeiro de 2013, já com 17 anos, foi
morar com sua namorada. Em julho de 2013, ainda com 17 anos, após ter sido aprovado e nomeado em
um concurso público, Pedro entrou em exercício no respectivo emprego público. Tendo por base o
disposto no Código Civil, assinale a opção que indica a data em que cessou a incapacidade de Pedro.
a) Dezembro de 2011.
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b) Agosto de 2012.
c) Janeiro de 2013.
d) Julho de 2013.

6) Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XX -
Primeira Fase
Cristiano, piloto comercial, está casado com Rebeca. Em um dia de forte neblina, ele não consegue
controlar o avião que pilotava e a aeronave, com 200 pessoas a bordo, desaparece dos radares da torre
de controle pouco antes do tempo previsto para a sua aterrissagem. Depois de vários dias de busca,
apenas 10 passageiros foram resgatados, todos em estado crítico. Findas as buscas, como Cristiano não
estava no rol de sobreviventes e seu corpo não fora encontrado, Rebeca decide procurar um advogado
para saber como deverá proceder a partir de agora. Com base no relato apresentado, assinale a
afirmativa correta
a) A esposa deverá ingressar com uma demanda judicial pedindo a decretação de ausência de
Cristiano, a fim de que o juiz, em um momento posterior do processo, possa declarar a sua morte
presumida.
b) A esposa não poderá requerer a declaração de morte presumida de Cristiano, uma vez que
apenas o Ministério Público detém legitimidade para tal pedido.
c) A declaração da morte presumida de Cristiano poderá ser requerida independentemente de
prévia decretação de ausência, uma vez que esgotadas as buscas e averiguações por parte das
autoridades competentes.
d) A sentença que declarar a morte presumida de Cristiano não deverá fixar a data provável de
seu falecimento, contando-se, como data da morte, a data da publicação da sentença no meio
oficial.

7) Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVI -
Primeira Fase
Os tutores de José consideram que o rapaz, aos 16 anos, tem maturidade e discernimento necessários
para praticar os atos da vida civil. Por isso, decidem conferir ao rapaz a sua emancipação. Consultam,
para tanto, um advogado, que lhes aconselha corretamente no seguinte sentido:
a) José poderá ser emancipado em procedimento judicial, com a oitiva do tutor sobre as
condições do tutelado.
b) José poderá ser emancipado via instrumento público, sendo desnecessária a homologação
judicial.
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c) José poderá ser emancipado via instrumento público ou


particular, sendo necessário procedimento judicial.
d) José poderá ser emancipado por instrumento público, com averbação no registro de pessoas
naturais.

GABARITO:
1) C 2) A 3) C 4) C 5) D 6) C 7) A

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CAPACIDADE CIVIL
É a “medida da personalidade”. Aptidão genérica para titularizar
direitos e obrigações.

A CAPACIDADE CIVIL SE DIVIDE EM

CAPACIDADE DE DIREITO OU DE GOZO: CAPACIDADE DE FATO OU DE EXERCÍCIO:


Todos os nascidos com vida possuem, e Aptidão para exercer, pessoalmente, os atos
não sofre redução sob qualquer aspecto. da vida civil, podendo sofrer redução.

Toda incapacidade é de fato, e não de direito.

1) TEORIA DAS INCAPACIDADES:


1.1. ABSOLUTA (ART. 3º, CC/02): Depois da entrada em vigor do EPD/LBI (Lei 13.146/1), a
incapacidade absoluta foi restringida ao menor de 16 anos (dos 0 até o último instante dos 15
anos; fez 16 anos, já muda de categoria).
 Foram revogados pela Lei 13.146/2015 os incisos do art. 3º, do CC/02, que traziam
incapacidade por razões mentais ou psíquicas.
 O absolutamente incapaz precisa de representante para atuar na vida civil. A sua vontade
é substituída pela dele, para efeitos civis. Sem ele, os atos e negócios jurídicos realizados
pelo absolutamente incapaz são nulos (invalidade absoluta, sem prazos, reconhecível de
ofício pelo juiz, arguível pelo Ministério Público.
 O EPD reconheceu ampla liberdade de direitos sexuais, reprodutivos e de formação de
família (casamento e união estável), para pessoas com deficiência, que não são mais
considerados absolutamente incapazes.
 Atualmente, somente os menores de 16 anos são absolutamente incapazes.

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1.2. RELATIVAMENTE INCAPAZ (ART. 4º, CC/02)


I) Pessoa com 16 ou 17 anos;
II) Ébrios habituais (alcoólatras) e viciados em drogas; ➔ questão patológica!
III) Pessoa que, por causa permanente ou transitória, não consegue exprimir vontade (ex.:
pessoa em coma);
IV) Pródigos (gastos desmedidos/compulsivos). ➔ questão patológica!

 A pessoa é declarada incapaz mediante processo judicial, em ação de curatela de


interditos.
 O relativamente incapaz precisa ser assistido, para que seus atos tenham validade. Do
contrário, os atos serão anulados.
 O EPD mudou o paradigma da capacidade civil no Brasil (a capacidade como regra, e a
incapacidade como exceção), contudo, a interdição civil não acabou. A ação de curatela
continua regulada no Código Civil, em seus artigos 1.767 a 1.872, sendo necessária a ação
de curatela ou de interdição para qualquer interdição, para declaração da incapacidade
RELATIVA, por motivos não etários, requerendo, ainda, perícia médica e oitiva do
interditando pelo juízo.
o Atenção: Se a síndrome não afeta a cognição da pessoa, não se fala em relativização
da capacidade.

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MACETE DO RIA:

Observação 1: O relativamente incapaz precisa ser assistido, sob pena dos atos serem
anulados. Se o absolutamente incapaz pratica ato sem representação, em regra geral, os
atos se tornam nulos, já o relativamente incapaz que pratica atos sem assistência, em
regra geral, terá os atos anulados.
Exceções:
1. Ser testemunha em processo aos 16 anos
2. Celebrar testamento aos 16 anos
3. Votação aos 16 anos

Observação 2: A tomada de decisão apoiada, por sua vez, é instituto trazido pelo EPD
para o art. 1.783, do CC/02, e consiste num processo judicial pela pessoa com deficiência
(capaz) para escolha de, dois ou mais apoiadores, para auxiliá-la nos atos da vida civil.
- A legitimidade ativa é da própria pessoa com deficiência.
- Se houver conflito entre a opinião dos apoiadores e do apoiado, a decisão será do
juiz.
- Instituto que precisa de processo judicial (não pode ser feito em cartório).

Observação 3: A ação de curatela visa a proteger a pessoa maior, padecente de alguma


incapacidade ou de certa circunstância que impeça a sua livre e consciente manifestação
de vontade, resguardando-se, com isso, também, o seu patrimônio, como se dá, na mesma
linha, na curadoria (curatela) dos bens do ausente, disciplinada nos arts. 22 a 25,
CC/2002.

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Observação 4: Atualmente, o indígena não é considerado absolutamente ou


relativamente incapaz. Conforme o art. 4º, parágrafo único, CC/02, as normas indígenas
deverão ser tratadas por legislações específicas (Lei 6.001/1973). É importante dizer que,
se o índio optar por viver na sociedade, como qualquer outra pessoa, deverá fazer um
requerimento, via judicial, que conte com a participação do Ministério Público. Salienta-
se que o índio terá de comprovar que: possui 21 anos ou idade superior, que é apto a
exercer atividades úteis à comunhão nacional, e que conhece a língua portuguesa, e os
usos e costumes da região.

Observação 5: A pessoa com deficiência é livre para casar, viver em união estável e
decidir ter ou não prole.

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EMANCIPAÇÃO

É a antecipação dos efeitos da capacidade civil


plena > a pessoa fica habilitada à prática de todos
os atos da vida civil.

A emancipação só produz efeitos civis! Não antecipa os efeitos


penais (maioridade), a pessoa continua sujeita ao ECA, não pode
tirar CNH e tem a proteção dada ao menor no direito do trabalho.

Base legal no art. 5º, do CC/02.

O PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 5º, CC/02, DEFINE TRÊS ESPÉCIES:

Voluntária Judicial Legal


- Art. 1, parte I. - Art. 1, parte II + direito de família. - Art. 1, incisos II a V.
- Menor com 16 ou 17 anos. - Menor com 16 ou 17 anos. - É automática (não
- Via escritura pública, - Feita por sentença do juiz, em duas precisa de
feita/concedida por ambos os pais, situações: instrumento), só
ou por um deles na falta do outro I) Menor sob tutela, sendo precisa de
(independente de decisão judicial), obrigatório ouvir o tutor, mas o juiz enquadramento das
registrando no cartório. tem livre convencimento; hipóteses legais.
- O registro no cartório de pessoas II) Divergência entre os pais sobre
naturais é requisito de eficácia a emancipação voluntária.
perante terceiros. - A oitiva do tutor é obrigatória, mas sua
opinião não é imperativa ao juízo.

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Atenção!
Quanto ao casamento, segundo o art. 1517 do CC/02, a idade núbil é de 16 anos,
porém, o CC/02 previa no art. 1.520 duas exceções que autorizavam,
possivelmente, o casamento para menores de 16 anos.
A Lei 13.811/2019, revogou essas duas hipóteses, que eram:
- Casamento em função de gravidez, tanto da menina, como do rapaz
que engravidou alguém;
- Casamento para evitar imposição ou cumprimento de penal criminal.

Observações:
➢ A emancipação só produz efeitos civis, ou seja, não altera a maioridade
penal; o menor emancipado continua, caso cometa delito, sujeito ao ECA e
não ao Código Penal.
➢ Emancipação não retroage, porém, se o casamento for nulo, por exemplo, a
maioria da doutrina pontua que a emancipação não se implementou.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Márcia, adolescente com 17 anos de idade, sempre demonstrou uma maturidade muito superior à
sua faixa etária. Seu maior objetivo profissional é o de tornar-se professora de História e, por isso,
decidiu criar um canal em uma plataforma on-line, na qual publica vídeos com aulas por ela própria
elaboradas sobre conteúdos históricos. O canal tornou-se um sucesso, atraindo multidões de jovens
seguidores e despertando o interesse de vários patrocinadores, que começaram a procurar a jovem,
propondo contratos de publicidade. Embora ainda não tenha obtido nenhum lucro com o canal, Márcia
está animada com a perspectiva de conseguir custear seus estudos na Faculdade de História se
conseguir firmar alguns desses contratos. Para facilitar as atividades da jovem, seus pais decidiram
emancipá-la, o que permitirá que celebre negócios com futuros patrocinadores com mais agilidade.
Sobre o ato de emancipação de Márcia por seus pais, assinale a afirmativa correta.
A) Depende de homologação judicial, tendo em vista o alto grau de exposição que a adolescente
tem na internet.
B) Não tem requisitos formais específicos, podendo ser concedida por instrumento particular.

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C) Deve, necessariamente, ser levado a registro no cartório


competente do Registro Civil de Pessoas Naturais.
D) É nulo, pois ela apenas poderia ser emancipada caso já contasse com economia própria, o que
ainda não aconteceu.

2) Os tutores de José consideram que o rapaz, aos 16 anos, tem maturidade e discernimento necessários
para praticar os atos da vida civil. Por isso, decidem conferir ao rapaz a sua emancipação.
Consultam, para tanto, um advogado, que lhes aconselha corretamente no seguinte sentido:
A) José poderá ser emancipado em procedimento judicial, com a oitiva do tutor sobre as
condições do tutelado.
B) José poderá ser emancipado via instrumento público, sendo desnecessária a homologação
judicial.
C) José poderá ser emancipado via instrumento público ou particular, sendo necessário
procedimento judicial.
D) José poderá ser emancipado por instrumento público, com averbação no registro de pessoas
naturais.

GABARITO:
1) C 2) A

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Relação entre
Credor e Devedor

Sinônimos
Prestação = Obrigação
Adimplemento = Cumprir
Inadimplemento = Não cumprir

Composto por um devedor que assumiu a responsabilidade de cumprir uma


prestação, e o credor, que tem o direito de receber por essa prestação.

As Obrigações podem ser de:


→ Pagar quantia
→ Fazer
→ Não fazer
→ Entrega de coisa

OBRIGAÇÃO DE DAR É DIFERENTE DA OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR, OBSERVE:

OBRIGAÇÃO DE DAR
I. Coisa certa
 Devedor assume a responsabilidade de entregar com as especificações corretas.
 Toda vez que a coisa se perder ou se desgastar sem culpa do devedor não tem direito
a indenização. A obrigação foi resolvida.
 Toda vez que a coisa se perder ou se desgastar com culpa do devedor tem direito a
indenização. A obrigação continua, cobra-se o Valor da coisa + Indenização.

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 No caso de desgaste o credor pode requerer a coisa


abatido o valor do prejuízo (Sem Culpa do devedor)
 No caso de desgaste o credor pode requerer a coisa + indenização (com culpa do
devedor)

II. Coisa Incerta


 No momento em que se fixa a obrigação.
 Salvo em disposição em contrário, compete ao devedor no momento de cumprimento
obrigação a especificação. Concentração da obrigação só ocorre na modalidade de
coisa incerta.

OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR
 Se fala em restituição se o objeto/bem já pertencer ao credor antes da obrigação.
 Na obrigação de restituir coisa certa se a coisa se perde sem culpa do devedor ele não
tem o dever de indenizar, mas deve pagar os eventuais créditos pretéritos ao credor.
 Nos outros casos a forma é igual a obrigação de dar!

Observações:
Perecimento = Perda da coisa
Deterioração da coisa = Desgaste da coisa

OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA
▪ Solidariedade Passiva – Na condição de devedores solidários poder exigir a dívida de cada um ou
cobrar apenas de um. O que for escolhido para pagar unicamente pode cobrar dos outros devedores
solidários (direito de regresso).

▪ Solidariedade Ativa – todos os credores solidários podem exigir a dívida toda ou apenas um credor
pode exigir a dívida. O devedor pode pagar a dívida toda apenas a um e esse repassa.

Observação:
 Solidariedade não se presume. Ou está previsto na lei ou no contrato. Em caso de pagamento
parcial feito por um devedor solidário o saldo pode ser cobrado dos demais

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 No que tange a responsabilidade se a obrigação tornou


impossível em virtude de um devedor solidário a indenização é paga por este devedor O
credor pode renunciar a solidariedade em relação a um devedor solidário.
 Em caso de um dos devedores solidários for insolvente, o valor recai sobre os demais,
inclusive ao que foi renunciado a solidariedade.
 No caso de falecimento de um dos devedores solidários os herdeiros respondem até as forças
da herança do devedor.

OBRIGAÇÃO DE MEIO
▪ Deve empreender todos os esforços, mas não existe garantia de resultado, não tem obrigação de
indenização.
▪ É diferente da Obrigação de Resultado, onde o não cumprimento da obrigação gera indenização).

OBRIGAÇÃO DE RESULTADO
▪ Sem culpa não existe indenização, com culpa existe indenização.

OBRIGAÇÃO PROPTER REM


▪ Obrigação real, que decorre da relação entre o devedor e a coisa. Difere das obrigações comuns
especialmente pelos modos de transmissão. Propter rem significa “por causa da coisa”. Assim, se o
direito de que se origina é transmitido, a obrigação o segue, seja qual for o título translativo. A
transmissão é automática, independente da intenção específica do transmitente, e o adquirente do
direito real não pode recusar-se a assumi-la.

OBRIGAÇÃO DE FAZER X OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER

1. Obrigação de Fazer
1.1. Fungível – em caso de urgência independente de autorização judicial o credor pode mandar
executar ou pode mandar executar por terceiros – sendo ressarcido.
1.2. Infungível – em caso de urgência só pode ser praticado por ele mesmo.

2. Obrigação de não fazer


O devedor se abstenha da pratica de determinado ato.
2.1. Com culpa – Indenizável.
2.2. Sem culpa – Não tem indenização.
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QUESTÕES PARA TREINO:

1) Ano: 2018 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2018 – OAB – Exame de Ordem Unificado XXVII
- Primeira Fase
Renata financiou a aquisição de seu veículo em 36 parcelas e vinha pagando pontualmente todas as
prestações. Entretanto, a recente perda de seu emprego fez com que não conseguisse manter em dia a
dívida, tendo deixado de pagar, justamente, as duas Últimas prestações (35ª e 36ª). O banco que
financiou a aquisição, diante do inadimplemento, optou pela resolução do contrato. Tendo em vista o
pagamento das 34 parcelas anteriores, pode-se afirmar que a condutada instituição financeira viola o
princípio da boa-fé, em razão do(a)
A) dever de mitigar os próprios danos
B) proibição de comportamento contraditório (venire contra factum proprium)
C) adimplemento substancial.
D) dever de informar.

2) Ano: 2018 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2018 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXVI
- Primeira Fase
Paula é credora de uma dívida de R$ 900.000,00 assumida solidariamente por Marcos, Vera, Teresa,
Mirna, Júlio, Simone, Úrsula, Nestor e Pedro, em razão de mútuo que a todos aproveita. Antes do
vencimento da dívida, Paula exonera Vera e Mirna da solidariedade, por serem amigas de longa data.
Dois meses antes da data de vencimento, Júlio, em razão da perda de seu emprego, de onde provinha
todo o sustento de sua família, cai em insolvência. Ultrapassada a data de vencimento, Paula decide
cobrar a dívida. Sobre a hipótese apresentada, assinale a afirmativa correta.
A) Vera e Mirna não podem ser exoneradas da solidariedade, eis que o nosso ordenamento
jurídico não permite renunciar a solidariedade de somente alguns dos devedores.
B) Se Marcos for cobrado por Paula, deverá efetuar o pagamento integral da dívida e,
posteriormente, poderá cobrar dos demais as suas quotas-partes. A parte de Júlio será rateada
entre todos os devedores solidários, inclusive Vera e Mirna.
C) Se Simone for cobrada por Paula deverá efetuar o pagamento integral da dívida e,
posteriormente, poderá cobrar dos demais as suas quotas-partes, inclusive Júlio.
D) Se Mirna for cobrada por Paula, deverá efetuar o pagamento integral da dívida e,
posteriormente, poderá cobrar as quotas-partes dos demais. A parte de Júlio será rateada entre
todos os devedores solidários, com exceção de Vera.

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3) Ano: 2017 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2017 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXIV
- Primeira Fase
André, Mariana e Renata pegaram um automóvel emprestado com Flávio, comprometendo-se
solidariamente a devolvê-lo em quinze dias. Ocorre que Renata, dirigindo acima do limite de velocidade,
causou um acidente que levou à destruição total do veículo. Assinale a opção que apresenta os direitos
que Flávio tem diante dos três.
A) Pode exigir, de qualquer dos três, o equivalente pecuniário do carro, mais perdas e danos.
B) Pode exigir, de qualquer dos três, o equivalente pecuniário do carro, mas só pode exigir perdas
e danos de Renata.
C) Pode exigir, de cada um dos três, um terço do equivalente pecuniário do carro e das perdas e
danos.
D) Pode exigir, de cada um dos três, um terço do equivalente pecuniário do carro, mas só pode
exigir perdas e danos de Renata.

4) Ano: 2017 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2017 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXII
- Primeira Fase
Antônio, vendedor, celebrou contrato de compra e venda com Joaquim, comprador, no dia 1º de
setembro de 2016, cujo objeto era um carro da marca X no valor de R$ 20.000,00, sendo o pagamento
efetuado à vista na data de assinatura do contrato. Ficou estabelecido ainda que a entrega do bem seria
feita 30 dias depois, em 1º de outubro de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, domicílio do vendedor.
Contudo, no dia 25 de setembro, uma chuva torrencial inundou diversos bairros da cidade e o carro foi
destruído pela enchente, com perda total. Considerando a descrição dos fatos, Joaquim
A) não faz jus à devolução do pagamento de R$ 20.000,00.
B) terá direito à devolução de 50% do valor, tendo em vista que Antônio, vendedor, não teve
culpa.
C) terá direito à devolução de 50% do valor, tendo em vista que Antônio, vendedor, teve culpa.
D) terá direito à devolução de 100% do valor, pois ainda não havia ocorrido a tradição no
momento do perecimento do bem.

5) Ano: 2016 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2016 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XX -
Primeira Fase
Paulo, João e Pedro, mutuários, contraíram empréstimo com Fernando, mutuante, tornando-se, assim,
devedores solidários do valor total de R$ 6.000,00 (seis mil reais). Fernando, muito amigo de Paulo,
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exonerou-o da solidariedade. João, por sua vez, tornou-se insolvente. No


dia do vencimento da dívida, Pedro pagou integralmente o empréstimo. Considerando a hipótese
narrada, assinale a afirmativa correta.
A) Pedro não poderá regredir contra Paulo para que participe do rateio do
quinhão de João, pois Fernando o exonerou da solidariedade.
B) Apesar da exoneração da solidariedade, Pedro pode cobrar de Paulo o valor de R$ 3.000,00
(três mil reais).
C) Ao pagar integralmente a dívida, Pedro se sub-roga nos direitos de Fernando, permitindo-se
que cobre a integralidade da dívida dos demais devedores.
D) Pedro deveria ter pago a Fernando apenas R$ 2.000,00 (dois mil reais), pois a exoneração da
solidariedade em relação a Paulo importa, necessariamente, a exoneração da solidariedade em
relação a todos os codevedores.

GABARITO
1) C 2) B 3) B 4) D 5) B

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PESSOA JURÍDICA (ART. 44, CC/02)

➢ O art. 44 define quais são as pessoas jurídicas de direito privado:


I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações;
IV - as organizações religiosas;
V - os partidos políticos;
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.

➢ O art. 45 trata do ato constitutivo.


Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato
constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação
do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

➢ Os art. 53 ao 58 do CC/02 tratam das Associações.


• Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não
econômicos.
• Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com
vantagens especiais.
• A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário.
• A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em
procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.
• Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido
legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto.

➢ Os art. 59 ao 69 do CC/02 tratam das Fundações.


 Pessoa jurídica criada pela dotação de bens livre (afetação) para cumprir finalidade previstas
em lei, pode ser criada por escritura pública, ou testamento.
• Possuem finalidades de assistência social; cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico
e artístico; educação; saúde; segurança alimentar e nutricional; defesa, preservação e
conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; pesquisa científica,
desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e
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divulgação de informações e conhecimentos técnicos e


científicos; promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; atividades
religiosas.
• Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro
modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual
ou semelhante.
• Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo
de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a
extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo,
ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou
semelhante.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


(ART. 50, CC/02)
➢ Teoria do Disregard > possibilidade ignorar no caso concreto a personalidade da PJ para atingir o
patrimônio com o fito de adimplir obrigações assumidas pela PJ.
• Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios
da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.

➢ Para o direito civil – Não pode ser reconhecido de oficio, a desconsideração não extingue a
empresa.
• Insolvência da PJ
• Abuso da personalidade

Observação: Como os direitos da personalidade decorrem da dignidade da


pessoa humana, parte da doutrina (enunciado 286 JDC do CJF) entende que
a PJ não possui direitos da personalidade. Aplica-se a PJ, naquilo que
couber, a proteção dos direitos da personalidade (Súmula 227, do STJ > PJ
sofre dano moral).

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DOMICÍLIO

O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela fixa residência com


animus definitivo (Art. 70 do CC).

I. Domicilio Plural ou Alternado (Art. 71 do CC) –


Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-
se-á domicílio seu qualquer delas.

II. Domicilio profissional (Art. 72 e o parágrafo único do CC) –


É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde
é exercida. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá
domicílio para as relações que lhe corresponderem.

III. Domicilio eventual (Art. 73 do CC) –


Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for
encontrada.

MUDANÇA DE DOMICILIO (ART. 74 DO CC)


Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos
lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizerem, da própria mudança, com
as circunstâncias que a acompanharem.

DOMICÍLIO DAS PESSOAS JURÍDICAS (ART. 75 AO 78 DO CC)


➢ Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretoria se
administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos
constitutivos.

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§ 1. Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada


um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.
§ 2. Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por
domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das
suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.
➢ Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do
servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar,
onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do
preso, o lugar em que cumprir a sentença.
➢ Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade
sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou
no último ponto do território brasileiro onde o teve.
➢ Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem
e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Ano: 2016 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2016 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XIX
- Primeira Fase
Júlia, casada com José sob o regime da comunhão universal de bens e mãe de dois filhos, Ana e João, fez
testamento no qual destinava metade da parte disponível de seus bens à constituição de uma fundação
de amparo a mulheres vítimas de violência obstétrica. Aberta a sucessão, verificou-se que os bens
destinados à constituição da fundação eram insuficientes para cumprir a finalidade pretendida por Júlia,
que, por sua vez, nada estipulou em seu testamento caso se apresentasse a hipótese de insuficiência de
bens. Diante da situação narrada, assinale a afirmativa correta.
A) A disposição testamentária será nula e os bens serão distribuídos
integralmente entre Ana e João.
B) O testamento será nulo e os bens serão integralmente divididos entre José, Ana e João.
C) Os bens de Júlia serão incorporados à outra fundação que tenha propósito igual ou semelhante
ao amparo de mulheres vítimas de violência obstétrica.

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32 Fernanda Barretto

D) Os bens destinados serão incorporados à outra fundação


determinada pelos herdeiros necessários de Júlia, após a aprovação do Ministério Público

2) Ano: 2014 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2014 – OAB – Exame de Ordem Unificado XV -
Tipo1 - Branca
Paulo foi casado, por muitos anos, no regime da comunhão parcial com Luana, até que um
desentendimento deu início a um divórcio litigioso. Temendo que Luana exigisse judicialmente metade
do seu vasto patrimônio, Paulo começou a comprar bens com capital próprio em nome de sociedade da
qual é sócio e passou os demais também para o nome da sociedade, restando, em seu nome, apenas a
casa em que morava com ela. Acerca do assunto, marque a opção correta:
A) A atitude de Paulo encontra respaldo na legislação, pois a lei faculta a todo cidadão defender
sua propriedade, em especial de terceiros de má-fé
B) É permitido ao juiz afastar os efeitos da personificação da sociedade nos casos de desvio de
finalidade ou confusão patrimonial, mas não o contrário, de modo que não há nada que Luana
possa fazer para retomar os bens comunicáveis.
C) Sabendo-se que a “teoria da desconsideração da personalidade jurídica”
encontra aplicação em outros ramos do direito e da legislação, é correto afirmar que os
parâmetros adotados pelo Código Civil constituem a Teoria Menor, que exige menos requisitos
D) No caso de confusão patrimonial, gerado pela compra de bens com
patrimônio particular em nome da sociedade, é possível atingir o patrimônio da sociedade, ao
que se dá o nome de “desconsideração inversa
ou invertida'', de modo como matrimoniais e comunicáveis.

GABARITO
1) C 2) D

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ATO, FATO E NEGÓCIO JURÍDICO

Segundo Pontes de Miranda, os Fatos Jurídicos são todos os fatos com potencial de gerar efeitos
jurídicos.

Fatos Humanos Fatos Naturais


- Subdividem-se em fatos lícitos e fatos ilícitos. - Também são
a) Lícitos: Também chamados de atos humanos. São todos os fatos harmônicos, chamados de fatos
obedientes ao direito, praticados de acordo com o direito, voluntariamente. jurídicos em sentido
 Se subdividem em: estrito.
 Atos jurídicos em sentido estrito: Nasce da expressão de vontade - Não são atos jurídicos,
humana, exteriorizada e consciente, dirigida a obter efeitos jurídicos que é outra coisa, e
que a lei exaure. Ex.: reconhecimento de paternidade, confissão, dividem-se em
fixação de domicílio, dentre outros. ordinários e
 Negócios Jurídicos: Nasce da exteriorização de vontade consciente e extraordinários.
dirigida a obter efeitos jurídicos e a criar efeitos dentro das balizas que
a lei exige. O ordenamento jurídico brasileiro abarca negócios
uni/bi/plurilaterais, a depender de quantas são as vontades
necessárias para que o negócio nasça.
 Atos-fatos jurídicos: Tem a vontade humana como gatilho, ou seja,
ela é necessária para deflagrá-lo, mas a vontade não precisa ser
consciente na intenção de obter efeitos jurídicos. Ex.: descoberta,
abandono de propriedade, achado de tesouro, etc.
b) Ilícitos: São atos desarmônicos, que ofendem a ordem jurídica.
 Todo contrato é negócio jurídico bilateral ou plurilateral, mas
pode ser classificado como CONTRATO UNI/BI/PLURILATERAL, a
depender dos direitos e obrigações derivados do contrato. Ex.: a
doação é negócio jurídico bilateral, mas é, se for pura (não tiver
encargos), contrato unilateral (só o doador tem obrigação).

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34 Fernanda Barretto

2. DEFEITOS DO NEGÓCIO
➢ O negócio jurídico, para Pontes de Miranda, deve ser estudado em planos, fazendo uso da Teoria
da Escada Ponteana.

Eficácia

- Condição

Validade - Termo

- Consequências do
- Capacidade do
inadimplemento
agente
(juros, multa,
Existência
- Liberdade (da perdas e danos)
vontade ou
- Agente - Outros elementos
consentimento
- Vontade
- Ilicitude,
- Objeto possibilidade (do
(Efeitos do negócio)

- Forma objeto);

- Adequação

(Pressupostos do negócio)

(Requisitos de validade)
PLANO DE EXISTÊNCIA:
→ Plano dos pressupostos do negócio jurídico.
→ Precisa ter agente, objeto, forma, e, se for um ato humano, precisa ter manifestação de vontade.

PLANO DA EFICÁCIA:
→ É o plano dos elementos acidentais, que são aqueles que não são obrigatórios; impactam os
efeitos do negócio jurídicos.
o Condição: art. 121 a 130, do CC – Depende de evento futuro e incerto.
o Termo: (art. 131 a 135, CC) – Evento futuro e certo, ou seja, há certeza de que irá ocorrer.
O termo pode ser uma data, ou um marco.
o Encargo: art. 136 e 137 do CC – Traz um ônus relacionado com uma liberalidade.

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35 Fernanda Barretto

PLANO VALIDADE:
→ É o plano dos requisitos, que nada mais são que os pressupostos de existência qualificados, ou
seja, o legislador acrescenta a eles qualidades que precisam ser cumpridas.
a) O agente precisa ser capaz (art. 3º e 4º do CC).
b) Objeto lícito, possível (física e juridicamente).
c) Determinado ou determinável;
d) Forma prescrita = prevista ou não defesa em lei (permitida mesmo não prevista);
e) Manifestação de vontade precisa ser livre e desembaraçada.

3) INVALIDADE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS


3.1. Absoluta (art. 166, 167 e 170, do CC):
 Geram a nulidade do negócio (art. 167 do CC/02).
 A ação própria para discutir as nulidades é a Ação Declaratória de Nulidade.
 Características:
a) As nulidades são de índole pública.
b) As nulidades não têm prazo para serem arguidas.
c) O MP ou qualquer interessado poderá arguir as nulidades.
d) O juiz poderá reconhecer as nulidades de ofício.
e) Não admitem convalidação/confirmação/ratificação.
f) Admite conversão substancial (art. 170, CC/02).
g) Admite redução ou isolamento parcial da invalidade.
 Espécies de Nulidade (art. 166):
a) Negócio jurídico celebrado por incapaz (menor de 16 anos) sem representação.
b) Quando o objeto por ilícito, impossível ou indeterminável.
c) Que não atendam a forma ou não obedeçam às solenidades que a lei considere
essenciais para sua validade.
d) Cujo objetivo for fraudar a lei.
e) Quando a lei o declara, e também quando proíbe sua pratica, mas não diz qual
a sanção adequada em caso de descumprimento.
- Herança de pessoa viva, vedando o pacta corvina.
f) A simulação, onde o negócio jurídico é celebrado em dissonância real com a
vontade do declarante. Normalmente, o negócio jurídico simulado (“fake”,
aparente) esconde um negócio jurídico dissimulado.
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o O negócio dissimulado pode ser


válido, e por isso, aproveitável, se válido for na substância e na forma
> com vício aparente.

3.2. Relativa (art. 171 ao 178, CC/02):


 Gera a anulabilidade do negócio (art. 171 do CC/02).
 Hipóteses (art. 171):
I – Incapacidade relativa do agente incapaz sem assistência;
II – Defeitos do negócio:
o Vícios do consentimento > erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão.
o Vício social > fraude contra credores.
 Características:
a) De índole privada;
b) A anulabilidade é arguida pelos interessados. Em regra, o MP não atua.
c) O negócio não é conhecível de ofício, pelo juiz.
d) O negócio deve ser discutido em Ação Anulatória > natureza desconstitutiva.
e) Prazo decadencial para arguir.
f) Admite confirmação/sanação/convalidação.
- A convalidação pode ser expressa ou tácita.
g) Não se fala em conversão consubstancial.
 Prazo para anulação (art. 178, CC):
o É de quatro anos, prazo decadencial, a contar de: no caso da coação, do dia em
que ela acaba;
o Para todos os demais defeitos do negócio, data em ele se realizou;
o Dos atos de incapazes, no dia em que cessar a incapacidade.
o O art. 179 traz o prazo genérico de dois anos, que será aplicado sempre que a
lei disser que um ato é anulável sem estabelecer um prazo específico.

4) VÍCIOS EM ESPÉCIE
→ Erro (138 a 144, CC): trata-se do autoengano, auto equívoco. Quem erra, erra sozinho, não é levado
a errar.
 O erro, para anular o negócio, precisa ser substancial, ou seja, o erro decisivo, importante.
 É aquele que se a pessoa soubesse da verdade, da realidade, não estivesse equivocada, a teria
impedido de celebrar o contrato.
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Art. 143, CC: erro de cálculo não autoriza anulação, mas apenas
correção.
Atenção!! Erro substancial é o oposto de erro acidental. Erro acidental é aquele de pouca
relevância, não decisivo em que, caso soubesse que está equivocada, ainda assim celebraria. Ou
seja, não impediria a celebração do negócio.

→ Dolo (art. 145, CC): é o “dolo” provocado por outrem, maliciosamente induzido. O dolo também
precisa ser substancial para ser causa de anulação.
 O dolo acidental não anula negócio; o negócio é válido. Ele só obriga a satisfação de perdas e danos,
ou seja, no prejuízo que o dolo provocar à vítima.
Art. 147: o Código Civil atual reconhece não só o dolo comissivo, mas também o dolo omissivo ou de
reticências, que é o dolo pela omissão de uma informação importante para a outra parte, desde que essa
omissão seja intencional.
 A base desse artigo é a boa-fé objetiva.
 O dolo também pode ser praticado por terceiros e não apenas pelas partes envolvidas no negócio. →
Dolo de terceiro:
a) Geral, de terceiro não representante: o negócio jurídico anula ou não o negócio? Depende.
O negócio jurídico será anulável se a parte beneficiária sabia ou deveria saber do dolo. D
contrário, o negócio jurídico é válido e o terceiro que agiu com dolo responde sozinho pelas
perdas e danos sofridos pela parte prejudicada.
b) Dolo de terceiro representante: sempre anula o negócio jurídico.
- Dolo de terceiro representante legal: a parte beneficiada só responde no limite do seu
proveito.
- Dolo do representante convencional: haverá solidariedade na responsabilidade entre
representante e representado.
Art. 150 do CC: Dolo bilateral, também chamado de recíproco. Se as partes agem com dolo, ninguém
pode anular negócio, nem pedir perdas e danos. Um dolo neutraliza o outro.

→ Coação é a ameaça para celebração de negócio. A ameaça pode se dirigir a pessoa coagida, a sua
família, ou aos seus bens.
 No caso da coação, ela também pode ser exercida por terceiros, e o negócio será anulável se a parte
beneficiada pela coação sabia ou devia ter conhecimento da coação. E neste caso haverá
responsabilidade solidária entre o autor da coação (coator) e a parte beneficiada pela coação. Do

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contrário, art. 155, o negócio subsiste, ou seja, é válido e o terceiro


responde sozinho por todas as perdas e danos causados ao coacto (vítima).
A coação que anula o negócio é a chamada coação moral/psicopsicológica (vis compulsiva).
- Coação absoluta, que é a coação física (também chamada de vis absoluta): essa, diz a doutrina,
o negócio jurídico nem existe, não se forma.

→ Lesão e estado de perigo: art. 156 do CC.


 Estado de perigo: é o defeito que se configura quando alguém assume uma obrigação excessivamente
onerosa, ou seja, desequilibrada, desproporcional ao valor da prestação oposta, movido urgentemente
pela necessidade de salvar a si ou pessoa de sua família de um grave dano conhecido da outra parte.
Essa expressão grave dano conhecido pela parte a doutrina chama de dolo de aproveitamento.
 A lesão é o defeito que se configura sempre que uma pessoa contrai uma obrigação excessivamente
onerosa.
- A razão dessa contração configura obrigação excessivamente onerosa é o fato de a pessoa estar
sobre premente necessidade, ou ser muito inexperiente.
Art. 157, §2º, CC – Princípio da Conservação dos negócios jurídicos.

→ Fraude contra credores ocorre quando o devedor desfalca maliciosa seu patrimônio com o objetivo
de não mais garantir o pagamento de suas dívidas/credores.
 Os requisitos são:
I. “Eventus Damini”, que é o evento danoso, lesivo (elemento objetivo);
II. “Concilium Fraudia”, que é o conluio fraudulento, má-fé, que une as partes celebrante de um
negócio fraudulento (elemento subjetivo).
 Embora, a regra, seja a presença dos dois elementos para que a fraude se configure, há hipóteses em
que o código civil presume o conluio, ou seja, em que não é necessário prová-lo. São elas:
a) os negócios de transmissão gratuita de bens (art. 158, CC – Ex.: doação);
b) remissão de dívidas (também previsto no art. 158, CC);
c) art. 163 do CC, concessão de garantias de dívidas que o devedor insolvente dê a algum
credor já durante a sua insolvência presumem-se fraudulentas.

Remissão = perdão.

Remição = “resgate”.

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Atenção: o art. 158 do CC estabelece que serão também anuláveis por fraude contra credores os
contratos onerosos que o devedor insolvente celebrar quando a insolvência for notória ou houver
motivo para ser conhecida do outro contratante.

 Ao contrário das presunções de conluio fraudulento, o art. 164 do CC, traz uma hipótese de presunção
de negócio jurídico de boa-fé, celebrado pelo devedor insolvente.
 A ação para desconstituir a fraude contra credores é chamada de Ação Pauliana (art. 161, CC), ou
revocatória, que é tão somente uma ação desconstituitiva, anulatória.
- A legitimidade passiva dessa ação é do devedor insolvente, a pessoa que com ele contrata ou
terceiros adquirentes que ajam precedidos de má-fé.

 O art. 165 do CC estebelece que, julgada procedente uma ação Pauliana, ou seja, anulado o negócio
fraudulento, a vantagem resultante (=benefício econômico), não necessariamente irá beneficiar o autor
da ação (o credort que movimentou a justiça). Essa vantagem se reverterá em vantagem do acervo sob
o qual deve se realizar o concurso de credores.
- Essa posição legal é criticada por parte da doutrina e há até decisões do STJ antigas em sentindo
contrário, no sentido que o negócio seria ineficaz e não anulável.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Ano: 2018 - Banca: FGV – Órgão: OAB - Prova: FGV – 2018 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXVII
- Primeira Fase
Arnaldo foi procurado por sua irmã Zulmira, que lhe ofereceu R$ 1 milhão para adquirir o apartamento
que ele possui na orla da praia. Receoso, no entanto, que João, o locatário que atualmente ocupa o imóvel
e por quem Arnaldo nutre profunda antipatia, viesse a cobrir a oferta, exercendo seu direito de
preferência, propôs a Zulmira que constasse da escritura o valor de R$ 2 milhões, ainda que a totalidade
do preço não fosse totalmente paga. Realizado nesses termos, o negócio
A) pode ser anulado no prazo decadencial de dois anos, em virtude de dolo.
B) é viciado por erro, que somente pode ser alegado por João.
C) é nulo em virtude de simulação, o que pode ser suscitado por qualquer interessado.
D) é ineficaz, em razão de fraude contra credores, inoponíveis seus efeitos perante João.

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2) Ano: 2018 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2018 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXVI
- Primeira Fase
A cidade de Asa Branca foi atingida por uma tempestade de grandes proporções. As ruas ficaram
alagadas e a população sofreu com a inundação de suas casas e seus locais de trabalho. Antônio, que
tinha uma pequena barcaça, aproveitou a ocasião para realizar o transporte dos moradores pelo triplo
do preço que normalmente seria cobrado, tendo em vista a premente necessidade dos moradores de
recorre a esse tipo de transporte. Nesse caso, em relação ao citado negócio jurídico, ocorreu
A) estado de perigo.
B) dolo.
C) lesão.
D) erro.

3) Ano: 2017 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2017 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXIV
- Primeira Fase
Eduardo comprometeu-se a transferir para Daniela um imóvel que possui no litoral, mas uma cláusula
especial no contrato previa que a transferência somente ocorreria caso a cidade em que o imóvel se
localiza viesse a sediar, nos próximos dez anos, um campeonato mundial de surfe. Depois de realizado
o negócio, todavia, o advento de nova legislação ambiental impôs regras impeditivas para a realização
do campeonato naquele local. Sobre a incidência de tais regras, assinale a afirmativa correta.
A) Daniela tem direito adquirido à aquisição do imóvel, pois a cláusula
especial configura um termo.
B) Prevista uma condição na cláusula especial, Daniela tem direito adquirido à aquisição do
imóvel.
C) Há mera expectativa de direito à aquisição do imóvel por parte de Daniela, pois a cláusula
especial tem natureza jurídica de termo.
D) Daniela tem somente expectativa de direito à aquisição do imóvel, uma vez que há uma
condição na cláusula especial.

4) Ano: 2017 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2017 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXIII
- Primeira Fase
Em um bazar beneficente, promovido por Júlia, Marta adquiriu um antigo faqueiro, praticamente sem
uso. Acreditando que o faqueiro era feito de prata, Marta ofereceu um preço elevado sem nada
perguntar sobre o produto. Júlia, acreditando no espírito benevolente de sua vizinha, prontamente
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aceitou o preço oferecido. Após dois anos de uso constante, Marta


percebeu que os talheres começaram a ficar manchados e a se dobrarem com facilidade. Consultando
um especialista, ela descobre que o faqueiro era feito de uma liga metálica barata, de vida Útil curta, e
que, com o uso reiterado, ele se deterioraria.
De acordo com o caso narrado, assinale a afirmativa correta.
A) A compra e venda firmada entre Marta e Júlia é nula, por conter vício em seu objeto, um dos
elementos essenciais do negócio jurídico.
B) O negócio foi plenamente válido, considerando ter restado comprovado que Júlia não tinha
qualquer motivo para suspeitar do engano de Marta.
C) O prazo decadencial a ser observado para que Marta pretenda judicialmente o desfazimento
do negócio deve ser contado da data de descoberta do vício.
D) De acordo com a disciplina do Código Civil, Júlia poderá evitar que o negócio seja desfeito se
oferecer um abatimento no preço de venda proporcional à baixa qualidade do faqueiro.

5) Ano: 2016 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2016 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXI
- Primeira Fase
Durante uma viagem aérea, Eliseu foi acometido de um mal súbito, que demandava atendimento
imediato. O piloto dirigiu o avião para o aeroporto mais próximo, mas a aterrissagem não ocorreria a
tempo de salvar Eliseu. Um passageiro ofereceu seus conhecimentos médicos para atender Eliseu, mas
demandou pagamento bastante superior ao valor de mercado, sob a alegação de que se encontrava de
férias. Os termos do passageiro foram prontamente aceitos por Eliseu. Recuperado do mal que o atingiu,
para evitar a cobrança dos valores avençados, Eliseu pode pretender a anulação do acordo firmado com
o outro passageiro, alegando
A) erro.
B) dolo.
C) coação.
D) estado de perigo.

GABARITO
1) C 2) C 3) D 4) B 5) D

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RESPONSABILIDADE CIVIL

Indenizar é dever jurídico secundário, que surge pela violação de um dever jurídico primário,
presente na lei ou no contrato.

Normalmente, decorre de um ato ilícito, mas cabem exceções, como nos casos:
a) Dano decorrente de estado de necessidade (art. 188 + art. 929 e 930 do CC/02) > mesmo sendo
ato lícito, há o dever de indenizar.
b) Dano ambiental.
c) Dano nuclear.

ELENCADOS DO ART. 927 AO 954, CC/02.

1) CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL


1.1. Quanto a Origem:
a) Responsabilidade Contratual: Decorre de violação de norma contratual. Gera
presunção de culpa da parte que descumpre o contrato (responsabilidade subjetiva com
culpa presumida). O STJ entende pelo prazo prescricional de 10 anos.
b) Responsabilidade Extracontratual, Aquiliana ou Delitual: Decorre de violação de
norma legal. Prazo prescricional de 3 anos.

1.2. Quanto aos Elementos:


a) Responsabilidade Subjetiva (art. 186 + art. 927, caput, CC/02): Conduta + Dano
moral ou material + Nexo causal + Culpa.
- A conduta será ação ou omissão humana.
- O nexo causal obedece a teoria do nexo causal direto e imediato (art. 403, CC/02),
segundo a doutrina majoritária.
- O dano pode ser moral ou extrapatrimonial, ou material (dano emergente e lucro
cessante).
- A pessoa jurídica pode sofrer dano moral, naquilo que couber.
- A culpa é descrita como imprudência, imperícia ou negligência (sentido estrito).
A culpa lato sensu (geral) engloba essas hipóteses anteriores, somadas ao dolo.
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b) Responsabilidade Objetiva (art. 187 + art. 927, caput e parágrafo único, CC/02):
Conduta + Dano + Nexo Causal.
- Não é necessário discutir culpa para se configurar o dever de indenizar.
- Dano por ato ilícito objetivo deve ser indenizado.
- O art. 927 afirma que fica obrigado a indenizar aquele que comete ilícito objetivo,
nos casos:
i) determinação do juiz.
ii) responsabilidade objetiva por previsão legal > responsabilidade no
âmbito do CDC, responsabilidade por danos ambientais e nucleares,
responsabilidade por dano de animal, responsabilidade por propriedade
predial e suas ruínas, etc.
iii) também possui responsabilidade de nindenizar por fato de terceiro >
responsabilidade dos pais por atos dos filhos menores, responsabilidade do
tutor e do curador por atos dos pupilos e curatelados que estiverem sob sua
autoridade e companhia, responsabilidade do empregador por seus
empregados, responsabilidade dos donos de hotéis por seus hospedes, etc.

2) INDENIZAÇÃO
➢ Art. 944, CC/02: A indenização mede-se pela extensão do dano.
o Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o
dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.
➢ Art. 948, CC/02: No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras
reparações, no pagamento de despesas com tratamento da vítima, funeral e luto da família e
prestação de alimentos a quem o morto os devia, considerando a duração provável da vida
da vítima.
➢ Art. 949, CC/02: Trata da indenização por ofensa à saúde. A indenização abarca despesas
com o tratamento e lucros cessantes, até o fim da convalescença do doente, sem prejuízo de
outros valores que o ofendido prove ter sofrido.

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CONTRATOS

Negócio jurídico bi ou plurilateral que constitui um acordo numa


composição de vontades que faz nascer direitos e obrigações
normalmente de índole patrimonial.

Decorrem de previsão legal.

1) PRINCÍPIOS
→ Autonomia de vontade privada
→ Liberdade contratual
→ Força obrigatória = “Pacta sunt Servanda”
→ Relatividade dos efeitos

2) ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO:


➢ Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação.
➢ Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe
a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor.
➢ Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato,
independentemente da sua anuência e da do outro contratante.
o Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de
última vontade.

3) CONTRATOS SOCIAIS /CONTEMPORÂNEOS


➢ Boa-fé Objetiva (Art. 113 ao 422 do CC) – Consagra a diretriz da eticidade nas relações
negociais, significa que as partes devem manter um trato leal e ético desde a fase pré-contratual
até depois do seu término, aí nascem os conceitos de responsabilidade civil pré e pós contratual.
➢ Funções da boa –fé:
a. Interpretativo (Art. 113 CC)
b. Integrativa – Cria deveres anexos (Restritiva)
➢ Figuras
a. Parcelares Venire contra
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b. Factum próprio Duty To


c. Mitigate The Loss
➢ Funções
a. F. Social (art. 421, CC)
b. Equilíbrio econômico e financeiro / Equivalência material

4) VICIO REDIBITÓRIO – Defeito oculto na coisa que lhe desnatura a utilidade ou lhe diminui o valor.
Só se pode arguir vicio redibitório em contratos onerosos e comutativos, mas o parágrafo do Art. 441
estabelece que também se aplica as doações onerosas (é contrato gratuito, mas com encargo).

5) AÇÕES EDILÍCIAS (art. 442 e Art. 500 do CC)


a) Redibitória para devolver a coisa e receber de volta o que pagou;
b) Estimatória “quanti minoris” para ficar com coisa e obter abatimento no preço;
c) “Ex Empto”para reclamar complementação de área quando houver diferença entre o tamanho do
bem adquirido e o que foi entregue ao adquirente. Só cabe para diferença superior a 1/20 da área
total. Só é cabível para compra e venda “Ad Mensuram”, ou seja, por medida de extensão, não cabe
para compra e venda “Ad Corpus”.
Observação: cabe reclamação de perdas e danos pela diferença de tamanho mesmo que não
caiba a complementação de área.

Prazos – Art. 445 e 446 do CC


➢ Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de
trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava
na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
o § 1. Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-
se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias,
em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
➢ Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia;
mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu
descobrimento, sob pena de decadência.

Perda de um bem por decisão


EVICÇÃO judicial ou administrativo
que atribui esse bem a
terceiro.

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Observação:
→ Para ter direito a garantia ao prazo legal o adquirente tem o dever de denunciar ao alienante o
aparecimento do defeito dos 30 dias após o seu descobrimento.
→ Enquanto o vício redibitório é uma garantia legal por um defeito do próprio bem alienado a
evicção é uma garantia legal por defeito na transmissão do bem, só incide em contratos onerosos,
mas o Art. 447 ressalta que a garantia subsistira mesmo que a aquisição tenha se dado em hasta
publica

6) CONTRATO ESTIMATÓRIO OU CONSIGNATÓRIO (art. 534 a 537, CC/02) –


➢ Art. 534. É aquele pelo qual o consignante entrega ao consignatário bens móveis, para que esse
possa vende-los pagando ao consignante o preço combinado ou restituindo no prazo
estabelecido a coisa consignada.
➢ Art. 535. O consignatário torna-se possuidor direto, enquanto o consignante é o possuidor
indireto. O consignatário tem responsabilidade de pagar o preço da coisa, mesmo que não
consiga vende-la ou restitui-la em sua integridade, se isso se tornar impossível, ainda que sem
culpa.
➢ Art. 536. A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou sequestro pelos credores do
consignatário, enquanto não pago integralmente o preço.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXIX -
Primeira Fase
Márcia transitava pela via Pública, tarde da noite, utilizando uma bicicleta que lhe fora emprestada por
sua amiga Lúcia. Em certo momento, Márcia ouviu gritos oriundos de uma rua transversal e, ao se
aproximar, verificou que um casal discutia violentamente. Ricardo, em estado de FÚria e munido de
uma faca, desferia uma série de ofensas à sua esposa Janaína e a ameaçava de agressão física. De modo
a impedir a violência iminente, Márcia colidiu com a bicicleta contra Ricardo, o que foi suficiente para
derrubá-lo e impedir a agressão, sem que ninguém saísse gravemente ferido. A bicicleta, porém, sofreu
uma avaria significativa, de tal modo que o reparo seria mais caro do que adquirir uma nova, de modelo
semelhante. De acordo com o caso narrado, assinale a afirmativa correta.
A) Lúcia não poderá ser indenizada pelo dano material causado à bicicleta.

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B) Márcia poderá ser obrigada a indenizar Lúcia pelo dano


material causado à bicicleta, mas não terá qualquer direito de regresso.
C) Apenas Ricardo poderá ser obrigado a indenizar Lúcia pelo dano material causado à bicicleta.
D) Márcia poderá ser obrigada a indenizar Lúcia pelo dano material causado à bicicleta e terá
direito de regresso em face de Janaína.

2) Ano: 2018 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2018 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXV
- Primeira Fase
Marcos caminhava na rua em frente ao Edifício Roma quando, da janela de um dos apartamentos da
frente do edifício, caiu uma torradeira elétrica, que o atingiu quando passava. Marcos sofreu fratura do
braço direito, que foi diretamente atingido pelo objeto, e permaneceu seis semanas com o membro
imobilizado, impossibilitado de trabalhar, até se recuperar plenamente do acidente. À luz do caso
narrado, assinale a afirmativa correta.
A) O condomínio do Edifício Roma poderá vir a ser responsabilizado pelos danos causados a
Marcos, com base na teoria da causalidade alternativa.
B) Marcos apenas poderá cobrar indenização por danos materiais e morais do morador do
apartamento do qual caiu o objeto, tendo que comprovar tal fato.
C) Marcos não poderá cobrar nenhuma indenização a título de danos materiais pelo acidente
sofrido, pois não permaneceu com nenhuma incapacidade permanente.
D) Caso Marcos consiga identificar de qual janela caiu o objeto, o respectivo morador poderá
alegar ausência de culpa ou dolo para se eximir de pagar qualquer indenização a ele.

3) Ano: 2018 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2018 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXV
- Primeira Fase
João, empresário individual, é titular de um estabelecimento comercial que funciona em loja alugada
em um shopping-center movimentado. No estabelecimento, trabalham o próprio João, como gerente,
sua esposa, como caixa, e Márcia, uma funcionária contratada para atuar como vendedora. Certo dia,
Miguel, um fornecedor de produtos da loja, quando da entrega de uma encomenda feita por João, foi
recebido por Márcia e sentiu-se ofendido por comentários preconceituosos e discriminatórios
realizados pela vendedora. Assim, Miguel ingressou com ação indenizatória por danos morais em face
de João.
A respeito do caso narrado, assinale a afirmativa correta.
A) João não deve responder pelo dano moral, uma vez que não foi causado direta e
imediatamente por conduta sua.
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B) João pode responder apenas pelo dano moral, caso reste


comprovada sua culpa in vigilando em relação à conduta de Márcia.
C) João pode responder apenas por parte da compensação por danos morais diante da
verificação de culpa concorrente de terceiro.
D) João deve responder pelos danos causados, não lhe assistindo alegar culpa exclusiva de
terceiro.

4) Ano: 2017 - Banca: FGV - Órgão: OAB - Prova: FGV – 2017 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXIII
- Primeira Fase
Juliana, por meio de contrato de compra e venda, adquiriu de Ricardo, profissional liberal, um carro
seminovo (30.000km) da marca Y pelo preço de R$ 24.000,00. Ficou acertado que Ricardo faria a
revisão de 30.000km no veículo antes de entregá-lo para Juliana no dia 23 de janeiro de 2017. Ricardo,
porém, não realizou a revisão e omitiu tal fato de Juliana, pois acreditava que não haveria qualquer
problema, já que, aparentemente, o carro funcionava bem. No dia 23 de fevereiro de 2017, Juliana sofreu
acidente em razão de defeito no freio do carro, com a perda total do veículo. A perícia demostrou que a
causa do acidente foi falha na conservação do bem, tendo em vista que as pastilhas do freio não tinham
sido trocadas na revisão de 30.000km, o que era essencial para a manutenção do carro.
Considerando os fatos, assinale a afirmativa correta.
A) Ricardo não tem nenhuma responsabilidade pelo dano sofrido por Juliana (perda total do
carro), tendo em vista que o carro estava aparentemente funcionando bem no momento da
tradição.
B) Ricardo deverá ressarcir o valor das pastilhas de freio, nada tendo a ver como acidente sofrido
por Juliana.
C) Ricardo é responsável por todo o dano sofrido por Juliana, com a perda total do carro, tendo
em vista que o perecimento do bem foi devido a vício oculto já existente ao tempo da tradição.
D) Ricardo deverá ressarcir o valor da revisão de 30.000km do carro, tendo em vista que ela não
foi realizada conforme previsto no contrato.

GABARITO:
1) D 2) A 3) D 4) C

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POSSE

Teoria Subjetiva (Savigny) Teoria objetiva (Jhering)


Posse = Corpus + Animus (apreensão fática + Posse = Corpus
desejo de dono)

O Código Civil adota a TEORIA OBJETIVA DA POSSE – Art. 1196


do CC.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes
à propriedade.

A teoria subjetiva foi lembrada nas hipóteses de Usucapião, pois, nenhuma Usucapião existe sem a
presença de “aninums domini”.

POSSE X DETENÇÃO
a) Exemplo: Famulo / Gestor / Administrador da posse – Empregados domésticos, motorista,
gerente da fazenda. (Art. 1198, CC)
b) Mero detentor por ato de permissão ou tolerância. Exemplo: Vizinho que estaciona na vaga do
outro.
c) Mera detenção por atos violentos ou clandestinos – Durante uma tentativa de esbulho com
violência ou clandestinidade enquanto dura o ato violento ou ato de clandestinidade não há
posse e sim detenção.
d) Mera Detenção da coisa pública

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1) CLASSIFICAÇÃO DA POSSE
I. Compossuidores (Art. 1.199 do CC) –
 Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela
atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.
Exemplo: Casal locatário de um apartamento, composse dos herdeiros (cada um
dos compossuidores pode defender o todo da coisa contra atos de terceiros)

II. Posse Direta x Posse Indireta (desdobramento da posse)


 Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em
virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida,
podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
• Só ocorre desdobramento através de negócio jurídico

III. Possuidores precários (Art. 1.200 do CC)


 É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

2) VICIOS SUBJETIVOS DA POSSE


a) Posse de Boa-fé – é de boa-fé aquele que ignora a existência de obstáculo entre ele e a coisa
possuída.
b) Posse de má-fé - é de má fé aquele que não ignora a existência de obstáculo entre ele e a coisa
possuída.

Observação:
➢ O justo título faz presumir a boa-fé, presunção essa relativa.
➢ Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a
aquisição da coisa.
o Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo
prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.

3) EFEITOS DA POSSE
I. Frutos (art. 1.214 do CC)
 O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
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Observação: A boa fé se converte em má fé com a citação em ação para retomada


da coisa desde que ela seja julgada procedente. Nesse momento, a má fé retroage
à data da citação.
 Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são
separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.

II. Benfeitorias (art. 1.219 do CC)


 O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem
como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem
detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis.

III. Responsabilidade Civil


 Boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa
(responsabilidade subjetiva).

Atenção!!
➢ É possível compensar o valor das benfeitorias com indenização por
responsabilidade civil devida pelo possuidor (art. 1221 do CC).
➢ O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor
de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo;
ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual (art. 1222 do CC).

4) PROTEÇÃO DA POSSE
4.1. Proteção Penal / Legitima Defesa da Posse / Desforço Incontinente – Art. 1210, § 1, CC
 O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de
esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
o § 1. O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua
própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não
podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

4.2. Proteção Civil / Ações Possessórias –


a) Interdito Proibitório (combate a ameaça)
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b) Manutenção de Posse (combate a turbação)


c) Reintegração de Posse (combate o esbulho que pode ser violento, clandestino ou
precário.
• Possessório de força nova: Ajuizada com menos de 1 ano e um dia da agressão.
• Dá direito a liminar que flexibiliza o “ PERICULUM IN MORA”.
• Possessória de força velha: Ajuizada com mais de 1 ano e um dia da agressão. Não
dá direito a liminar especifica das possessórias.

4.2.1. Princípio da fungibilidade:


 Art. 554, CPC: A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a
que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àqueles
cujos pressupostos estejam provados.
 Art. 555, CPC: É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:
I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida
necessária e adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou fina.
 Art. 556, CPC: É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em
sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos
resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXIX -
Primeira Fase
Em 05/05/2005, Aloísio adquiriu uma casa de 500 m2 registrada em nome de Bruno, que lhe vendeu o
imóvel a preço de mercado. A escritura e o registro foram realizados de maneira usual. Em 05/09/2005,
o imóvel foi alugado, e Aloísio passou a receber mensalmente o valor de R$ 3.000,00 pela locação, por
um período de 6 anos. Em 10/10/2009, Aloísio é citado em uma ação reivindicatória movida por
Elisabeth, que pleiteia a retomada do imóvel e a devolução de todos os valores recebidos por Aloísio a
título de locação, desde o momento da sua celebração. Uma vez que Elisabeth é judicialmente

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reconhecida como a verdadeira proprietária do imóvel em 10/10/2011,


pergunta-se: é correta a pretensão da autora ao recebimento de todos os aluguéis recebidos por Aloísio?
A) Sim. Independentemente da sentença de mérito, a própria contestação automaticamente
transforma a posse de Aloísio em posse de má-fé desde o seu nascedouro, razão pela qual todos
os valores recebidos pelo possuidor devem ser ressarcidos.
B) Não. Sem a ocorrência de nenhum outro fato, somente após uma sentença favorável ao pedido
de Elisabeth, na reivindicatória, é que seus argumentos poderiam ser considerados verdadeiros,
o que caracterizaria a transformação da posse de boa-fé em posse de má-fé. Como o possuidor
de má-fé tem direito aos frutos, Aloísio não é obrigado a devolver os valores que recebeu pela
locação.
C) Não. Sem a ocorrência de nenhum outro fato, e uma vez que Elisabeth foi vitoriosa em seu
pleito, a posse de Aloísio passa a ser qualificada como de má-fé desde a sua citação no processo
– momento em que Aloísio tomou conhecimento dos fatos ao final reputados como verdadeiros
–, exigindo, em tais condições, a devolução dos frutos recebidos entre 10/10/2009 e a data de
encerramento do contrato de locação.
D) Não. Apesar de Elisabeth ter obtido o provimento judicial que pretendia, Aloísio não lhe deve
qualquer valor, pois, sendo possuidor com justo título, tem, em seu favor, a presunção absoluta
de veracidade quanto a sua boa-fé.

2) Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXIII -
Primeira Fase
À vista de todos e sem o emprego de qualquer tipo de violência, o pequeno agricultor Joventino adentra
terreno vazio, constrói ali sua moradia e uma pequena horta para seu sustento, mesmo sabendo que o
terreno é de propriedade de terceiros. Sem ser incomodado, exerce posse mansa e pacífica por 2 (dois)
anos, quando é expulso por um grupo armado comandado por Clodoaldo, proprietário do terreno, que
só tomou conhecimento da presença de Joventino no imóvel no dia anterior à retomada.
Diante do exposto, assinale a afirmativa correta.
A) Como não houve emprego de violência, Joventino não pode ser considerado esbulhador.
B) Clodoaldo tem o direito de retomar a posse do bem mediante o uso da força com base no
desforço imediato, eis que agiu imediatamente após a ciência do ocorrido.
C) Tendo em vista a ocorrência do esbulho, Joventino deve ajuizar uma ação possessória contra
Clodoaldo, no intuito de recuperar a posse que exercia.
D) Na condição de possuidor de boa-fé, Joventino tem direito aos frutos e ao ressarcimento das
benfeitorias realizadas durante o período de exercício da posse.
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3) Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVI -
Primeira Fase
Mediante o emprego de violência, Mélvio esbulhou a posse da Fazenda Vila Feliz. A vítima do esbulho,
Cassandra, ajuizou ação de reintegração de posse em face de Mélvio após um ano e meio, o que impediu
a concessão de medida liminar em seu favor. Passados dois anos desde a invasão, Mélvio teve que trocar
o telhado da casa situada na fazenda, pois estava danificado. Passados cinco anos desde a referida obra,
a ação de reintegração de posse transitou em julgado e, na ocasião, o telhado colocado por Mélvio já se
encontrava severamente danificado. Diante de sua derrota, Mélvio argumentou que faria jus ao direito
de retenção pelas benfeitorias erigidas, exigindo que Cassandra o reembolsasse. A respeito do pleito de
Mélvio, assinale a afirmativa correta.
A) Mélvio não faz jus ao direito de retenção por benfeitorias, pois sua posse é de má-fé e as
benfeitorias, ainda que necessárias, não devem ser indenizadas, porque não mais existiam
quando a ação de reintegração de posse transitou em julgado.
B) Mélvio é possuidor de boa-fé, fazendo jus ao direito de retenção por benfeitorias e devendo
ser indenizado por Cassandra com base no valor delas.
C) Mélvio é possuidor de má-fé, não fazendo jus ao direito de retenção por benfeitorias, mas deve
ser indenizado por Cassandra com base Np valor delas.
D) Mélvio é possuidor de má-fé, fazendo jus ao direito de retenção por benfeitorias e devendo
ser indenizado pelo valor atual delas.

GABARITO
1) C 2) C 3) A

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DIREITO DE FAMÍLIA

➢ O art. 226, CF/88 consagra como princípios:


I. Pluralidade das entidades familiares;
II. Planejamento familiar e paternidade responsável;
III. Igualdade entre filhos.

➢ Nosso ordenamento dispõe dos tipos de famílias:


I. Casamentária;
II. Convivencial (união estável);
III. Monoparental (qualquer um dos genitores e sua prole);
IV. Homoafetiva > reconhecida pelo STF;
V. Anaparental (irmãos que residem juntos, avó e neto, tios e sobrinhos, etc.) > base
defendida;

Atenção!
➢ A lei e a jurisprudência majoritária não reconhecem as famílias poliafetivas
ou poliamorosas. O argumento principal é a monogamia como princípio do
direito. O CNJ, em 2018, proibiu que se lavrem escrituras públicas de Poliamor
nos cartórios.
➢ A “família” simultânea ou paralela também não é reconhecida para a lei e
nem para jurisprudência > relações paralelas são equivalentes ao concubinato
(art. 1.727, CC/02)
➢ Sobre o abandono afetivo, embora polêmico, o STJ possui algumas teses, como:
- Não há responsabilidade moral decorrente do abandono afetivo antes do
reconhecimento da paternidade.
- O prazo prescricional da reparação por abandono afetivo só começa a fluir
a partir da maioridade.
- O abandono afetivo de filho, em regra, não gera dano moral indenizável,
mas pode, excepcionalmente, se comprovada a ocorrência de ilícito civil
que ultrapasse o mero dessabor, ser reconhecida a existência do dever de
indenizar.

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CASAMENTO

O casamento é um instituto civil, mas que admite a celebração religiosa (qualquer religião).

Artigos 1.512, 1515 e 1516, do CC/02.

→ Para o registro civil do casamento é necessário:


1) Idade núbil: 16 anos.
2) Habilitação prévia com validade de 90 dias.
3) Autoridades: Juiz de paz, juiz de direito e autoridade religiosa.
4) Admite-se celebração religiosa > precisa ser registrado em cartório.

1) CAPACIDADE PARA CASAR


• Art. 1.517 (idade mínima = idade núbil) - O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar,
exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida
a maioridade civil.
• Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização.
• Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz.
• Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil.

2) REGIME DE BENS DO CASAMENTO


→ Regido pelo princípio da liberdade de escolha.
Exceção: separação obrigatória (art. 1.641, CC). É também chamada de separação legal,
porque é imposta pela lei.
- É diferente da absoluta (=total = convencional).
- Não é escolhida, mas imposta por lei.

→ No casamento, a escolha do regime de bens é feita por pacto pré-nupcial, via escritura pública.
- Depende do casamento para produzir efeitos.
- Na união estável, a escolha se dá por contrato de convivência (pode ser via escrito
particular).

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PACTO CONTRATO
- Solene, formal > via escritura pública. - Informal, não solene > via contrato
- Só será eficaz após o casamento. escrito particular.
- Será eficaz desde a celebração, mas se
o casal vivia junto, o regime era o da
comunhão parcial.

2.1. Comunhão Universal:


 A regra é que se comungam os bens que os bens já tinham ao casar, bem como os doados
ou herdados por um deles. Quase tudo se comunga, menos os bens previstos no art. 1.668,
CC.
 Não se comungam as dívidas anteriores ao casamento, salvo se essas dívidas sobrevierem
de despesas com seus aprestos (gastos com o casamento, festa de noivado), ou se
reverterem em proveito dos dois ou da família.
 Não entram na comunhão universal os bens de uso pessoal, livros e instrumentos de
profissão, proventos de trabalho pessoal de cada cônjuge, as pensões, meios-soldos,
montepios e outras rendas semelhantes.
o Sobre os preventos pessoais de cada cônjuge, isso se refere ao salário, gorjetas,
honorários etc., mas apenas o direito de recebê-los.

Atenção: o art. 1.669, do CC, diz que a incomunicabilidade


dos bens excluídos da comunhão universal não abrange os
frutos desses bens quando forem percebidos ou vencidos
durante o casamento.

2.2. Comunhão Parcial de Bens:


 A lógica é de que haverá meação sobre os bens adquiridos onerosamente durante a
comunhão, o casamento.
 Os bens excluídos da comunhão parcial são os do art. 1.659, CC/02. Também são
incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento.
 Os bens que entram na comunhão são:
o Os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso,
ainda que só em nome de um dos cônjuges;

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o Os bens adquiridos por fato eventual,


com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior (mega sena,
jogos de azar...);
o Os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos
os cônjuges;
Atenção: as benfeitorias realizadas nos bens particulares de cada
cônjuge são meáveis na comunhão universal e parcial. Ex.: o curral,
as instalações construídas já durante o casamento; piscina, os
armários embutidos que foram colocados etc. → Terá direito a
metade as benfeitorias.
o Os frutos dos bens, sejam comuns ou dos particulares, são meáveis na
comunhão parcial.

3) PLANO DE VALIDADE
a) Nulo > inválido absolutamente (art. 1548 e 1521, CC/02)
b) Anulável > inválido relativamente (art. 1550 a 1558, CC/02)

Atenção: Casamento putativo é um casamento nulo ou anulável


contraído de boa-fé por uma ou por ambos os cônjuges.

4) INVALIDADE DO CASAMENTO:
➢ O casamento será nulo por infringência dos impedimentos matrimoniais (art. 1.521, CC).
➢ Art. 1.521, CC – São proibidos de casar (não podem casar):
1ª Hipótese: Os parentes em linhas reta, seja o parentesco natural, civil, ou por afinidade.
- Essa hipótese corresponde aos incisos I, II e III.
Natural: exame de DNA.
Civil: adoção ou reconehcimento judicial de paternidade/maternidade socioafetiva;
Parentesco por afinidade: é aquele que une uma pessoa aos parentes do seu cônjuge
ou companheiro. Ex.: sogro, sogra, nora, genro, enteados.
 O divórcio não dissolve o parentesco por afinidade.
2ª Hipótese: não podem casar os parentes colaterais, seja o parentesco natural ou civil, até o
terceiro grau. Com exceção de tios e sobrinhos que fizerem exame de compatibilidade sanguínea.
- Essa hipótese corresponde aos incisos IV e V.

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3ª Hipótese: não pode casar as pessoas já casadas (a chamada bigamia no direito penal). Para o
Direito Civil é causa de nulidade.
 O poliamor não é proibido expressamente.
4ª Hipótese: os cúmplices em homicídio, ou tentativa de homicídio, contra o consorte do outro.
- Esse homicídio é doloso.
 Não tem prazo para arguir. Esses impedimentos, diz o art. 1.522, podem ser alegados por qualquer
pessoa capaz até o momento da celebração (por isso a celebração deve se feita em locais públicos e
de portas abertas).

5) CASAMENTO ANULÁVEL: art. 1.550, CC (+1.556 A 1.558).


➢ Art. 1.550, CC: fazer a leitura.
I- É anulável o casamento de quem não completou a idade mínima para casar.
II - Do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III- Os vícios de vontade que anulam o casamento são o erro e a coação;
IV- É anulável o casamento do incapaz de consentir ou manifestar de modo inequívoco o
consentimento.
- Lembre-se que, o §2º introduzido pelo EPD reconhece o direito ao casamento
para pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil, que expressa a
sua vontade diretamente ou através do responsável ou curador.
V- Casamento realizado por procuração;
VI- é anulável o casamento celebrado por autoridade incompetente.

São autoridades competentes para celebrar o casamento:


a) Juiz de paz, onde existirem;
b) Juiz de Direito (de família e sucessões);
c) Autoridade religiosa (qualquer religião).
Observação: A competência irá variar conforme a lei de
organização judiciária de cada Estado.

6) CAUSAS SUSPENSIVAS DO CASAMENTO: art. 1.523, CC.


 No plano de eficácia existem as causas suspensivas do casamento.
 O art. 1.523 deve ser lido junto com o art. 1.597, inciso, que traz a presunção de paternidade
(“pater is est”).
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 Art. 1.523, CC – Traz o rol de quem não deve se casar.


- A consequência jurídica da violação da causa suspensiva não é a invalidade, mas tão
somente a impossibilidade de escolher o regime de bens no novo casamento. → Se casar,
será com separação obrigatória de bens (art. 1.641, CC).

Atenção! O art. 226 da CF consagra o princípio da pluralidade das entidades


familiares. Famílias expressamente mencionadas no artigo são:
a) Casamentária;
b) Convivêncial (união estável);
c) Monoparental: formada por um dos genitores e sua prole.
- Esse rol é exemplificativo – Ex.: família homoafetiva (reconhecida pelo STF, na
ADIN 4277 + ADPF 132).
- Também pode casar (resolução 175 do CNJ).
- Família anaparental: é a família formada por pessoas que não formam um casal,
sem a ideia do casal envolvido.

7) DIVÓRCIO

A CRFB/88 determina, em seu art. 226, a facilitação


do divórcio.

→ O divórcio põe termo ao casamento e aos efeitos civis do matrimônio religioso.


- O pedido somente competirá aos cônjuges, podendo, contudo, ser exercido, em caso de
incapacidade, por curador, ascendente ou irmão.
→ O divórcio rompe todos os laços do casamento e os envolvidos podem casar-se novamente.

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6.1. Tipos de Divórcio


Litigioso Consensual
- Sempre judicial. - Divórcio sem litigio/sem briga, em comum acordo.
- A oposição/briga, em - Subdivide-se em:
geral, será por outras a) Administrativo ou Cartorário:
questões, como o Partes maiores e capazes;
alimentos, guarda ou o Ausência de filhos menores ou incapazes;
partilha, isto porque o o Ausência de litígio sobre qualquer tema (guarda, partilha, alimentos
direito ao divórcio é etc.).
potestativo, ou seja, o Presença de advogado (pode ser o mesmo advogado para ambos);
direito que não precisa da o A mulher divorcianda não pode estar grávida.
colaboração da outra
parte para ser satisfeito. b) Judicial: Servirá para situações em que, embora seja com consenso,
algum dos outros requisitos não foi preenchido.
o Enquanto não houver partilha, os bens serão mantidos pelo ex-casal
em condomínio e mancomunhão.
o A ação de divórcio é personalíssima, portanto, só os cônjuges podem
fazer o pedido. Se, contundo, o cônjuge divorciando for incapaz de
propor a ação ou para respondê-la, terão legitimidade o seu curador,
o seu ascendente ou irmão.
o O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perderá
o direito de usar o sobrenome do outro, desde que o cônjuge
inocente o requeira, e se essa alteração não acarretar prejuízo para
a sua identificação profissional.
o Não pode haver perda do nome, mesmo que o cônjuge seja culpado,
é quando essa perda ocasiona falta de identificação entre ele e os
seus filhos (sobrenome de família).

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UNIÃO ESTÁVEL
Base legal > CF/88 e o art. 1.723, CC/02.

Requisitos para o reconhecimento > relação pública,


contínua, duradoura e com intenção de constituir família
(“intuito familiae”).

➢ A Súmula 382/STF dispensa a necessidade da coabitação.


➢ Regime de bens aplicável: O casal pode escolher qualquer um dos regimes disponíveis
(comunhão universal; comunhão parcial; separação, que pode ser convencional ou obrigatória;
e a participação final nos aquestos).
o Se não exerce a sua escolha, este será a comunhão parcial de bens (que é chamado de
regime legal).
➢ O STF reconhece a diferença entre namoro qualificado (é um namorado muito avançado, em
que o casal tem uma frequência de contato maior, mas, a partir da dilação probatória, é possível
verificar que ambos não tinham intenção de constituir família) e união estável.
➢ Os impedimentos matrimoniais serão aplicados à união estável, com exceção da pessoa já
casada, que esteja separada de fato ou de judicialmente.

1) DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL


➢ Forma mais segura de desfazer a relação.
➢ Pode acontecer extrajudicialmente > caso haja divergências ou filhos envolvidos, ela ocorre na
justiça, obrigatoriamente.
➢ Poderá acontecer de dois modos. São eles:
a) Dissolução Extrajudicial: As partes devem estar de acordo, sem conflitos ou
impedimentos. Não podem ter filhos menores de 18 anos ou maiores de idade que sejam
juridicamente incapazes. Podem finalizar a união no cartório.
b) Dissolução Judicial: Se as partes tiverem filhos menores ou incapazes, o término deve
ser judicial. O mesmo ocorre se discordarem quanto ao término da relação ou divisão de
bens, por exemplo. Nesses casos, o advogado deverá entrar com uma ação na justiça.
Dessa forma, a separação ocorrerá após o fim do processo.

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SEPARAÇÃO JUDICIAL

 É um instituto previsto no Código Civil nos artigos 1.572 a 1.577, CC/02.


 Existem três tipos de separação litigiosa, que são:
a) Sanção (art. 1.572, caput + art. 1.573, do CC/02)
Consequências:
i. Mudança no caráter dos alimentos (art. 1.704, §único);
ii. Perda do direito de usar o sobrenome de casado (art. 1.578 CC).
o Não haverá perda do sobrenome se houver prejuízo para identificação do cônjuge
culpado, profissionalmente ou, se houver a perda do nome, isso prejudique a
identificação do cônjuge culpado com sua prole.
b) Falência (art. 1.572, §1º, do CC/02)
Diz respeito ao afastamento do casal há mais de um ano e impossibilidade de volta/restituição.
c) Remédio (art. 1.572, §2º, do CC/02)
Só é aplicado no âmbito da comunhão universal de bens.

Observação:
 Deveres do casamento estão descritos no art. 1.566 do CC.
 Deveres da união estável – art. 1.724, do CC.

Atenção!!
A Emenda Constitucional 66/2010, alterou o artigo 226 da Constituição Federal
para estabelecer que, o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio (§6º). A
emenda apenas excluiu os requisitos temporais para facilitar o divórcio, sem,
contudo, revogar o instituto da separação.

Atenção 2!!
Só o divórcio, a morte e a invalidação do casamento extinguem o vínculo conjugal. A separação judicial,
por sua vez, põe fim a sociedade conjugal, que do ponto de vista jurídico se traduz como regime de bens +
deveres do casamento. Para o STJ, a separação de fato também põe fim à sociedade conjugal. Separação de
corpos é diferente de separação judicial. A de corpos é normalmente utilizada para garantir o afastamento
do domicílio, ou impedir que o outro permaneça, para preservar a integridade.

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RELAÇÕES PATERNOFILIAIS

Os pais têm poder familiar/autoridade parental sob os filhos até a maioridade, que em regra é de
18 anos.

Atenção!!
Não há exoneração automática de
alimentos aos 18 anos, com a maioridade.
Para a nossa jurisprudência, os alimentos
são devidos, em regra, até a conclusão da
graduação ou 24 anos.

1) GUARDA DE FILHOS:
→ Não se confunde com poder familiar.

1.1. Tipos de guarda:


a) Unilateral ou Guarda Exclusiva (art. 1.583, caput, § 4º, 6º e 6º do CC/02)
 Um só é o guardião e o outro, que não deixa de ter poder familiar, terá direito, em
regra, a convivência/visita.
 Estabelecida em acordo ou decisão judicial condenatória.
 Não há, na lei, preferência pelo gênero, no caso de guarda exclusiva.
b) Compartilhada (art. 1583, caput, CC/02)
 Art. 1583, §§ 2º e 3º; art. 1584 e seus incisos, §§ 1º ao 4º (dispositivos específicos sobre
guarda compartilhada).
 Guarda compartilhada é aquela em que há um equilíbrio maior no exercício dos papéis
parentais, com também um tempo de convívio dividido de forma mais equilibrada entre
mãe e pai (§2º, art. 1.853 do CC).

Observações:
➢ A guarda compartilhada não se confunde com a guarda alternada,
que é aquela na qual a criança se alterna de forma rígida entre as casas

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de mãe e pai, e cada período com um


deles se assemelha a uma guarda exclusiva.
o A guarda alternada não está prevista em nosso ordenamento
e não é bem vista pelo judiciário.
➢ A guarda compartilhada também não se confunde com a guarda
nidal, que é aquela em que os pais é que se alternam para conviver com
a criança, que permanece sempre em uma mesma casa (é como se fosse
um território neutro, uma casa do filho).

→ O art. 1.583, §3º, CC/02, regulamenta a situação em que há cidades diferentes entre os pais e
a guarda compartilhada, estabelecendo que, a cidade base para moradia do filho deve ser a que
melhor atender aos seus interesses.
→ No STJ tem prevalecido o entendimento de que brigas entre os pais só afastarão a guarda
compartilhada se forem graves o suficiente para comprometer o convívio saudável dos filhos.
→ O art. 1.584, §2º, CC/02, estabelece que, quando o pai e mãe não chegarem a um acordo quanto
ao modelo de guarda a ser adotado, se ambos os genitores estiverem aptos a exercerem o poder
familiar, o juiz deve priorizar a adoção da guarda compartilhada. A não ser que um dos genitores
declare que não a deseja.
o É errado dizer que a guarda compartilhada é obrigatória no Brasil, ela é prioritária.
o A guarda compartilhada só deve ser afastada se um deles não desejam ou não pode
exercê-lo, ou se o juízo entender que esse modelo é lesivo ao melhor interesse dos filhos.

Atenção!! O STJ, mais recentemente, tem adotado uma linha de que a guarda compartilhada seria
obrigatória e não apenas preferencial.
- Obrigatoriedade com caráter não absoluto.
- A guarda compartilhada será afastada se um dos genitores não a quiser, se teve o seu
poder familiar suspenso ou extinto, ou em situações que evidenciam a absoluta inaptidão
de um dos genitores para a guarda, e nas quais esse modelo de guarda é lesivo ao interesse
dos filhos.

Observação:
 A guarda assim como os alimentos é um tema que pode ser revisto a qualquer
tempo, já que está submetido as intermitências da vida e ao superior interesse
da criança e do adolescente.
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→ O art. 1.584, §5º, CC/02, deixa claro que o juiz pode atribuir a guarda da criança a terceiros
se verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe.
o Para a escolha desse terceiro deve-se observar, de preferência, o grau de parentesco e
relações de afinidade e afetividade.
→ Sobre os avós, eles têm, por lei, a possibilidade do direito de convivência/visita, a critério do juiz,
observados os interesses da criança ou do adolescente (art. 1.589, § único, CC).

2) MULTIPARENTALIDADE:
 Consiste na possibilidade jurídica do reconhecimento de mais de um pai ou de mais de uma
mãe para uma pessoa.
 Em 2016, no julgamento do recurso extraordinário 898.060, o STF aprovou na repercussão geral
622 a seguinte tese: “a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro, não impede o
reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseada na origem biológica com os efeitos
jurídicos próprios”.
 Se houver o reconhecimento da multiparentalidade, ou seja, a inserção do novo pai ou nova mãe,
essa figura será, juridicamente, pai e mãe para todos os efeitos jurídicos.
 Não importa se a paternidade é pautada no vínculo socioafetivo, biológico ou registral, é pai e
filho para todos os efeitos, sem discriminação.

3) ALIMENTOS:
 Os alimentos decorrem ou do parentesco, ou da conjugalidade (casamento ou união estável).
o Quando referentes a conjugalidade, são baseados no princípio da solidariedade familiar.
 Os alimentos englobam tudo o que for necessário para que alimentando viva dignamente e de
modo compatível com a sua condição social.
o Em regra, englobam os gastos com comida, saúde, moradia, vestuário, educação, etc.
o O art. 1.694, o §2º, CC/02, diz que eles serão apenas os necessários a subsistência do
alimentando quando quem os requer agiu com culpa.
 Ao conferir alimentos, deve-se observar:
o A possibilidade de dar e a necessidade de quem recebe.
 Os alimentos serão devidos quando o alimentando não tem bens suficientes, nem pode prover
pelo próprio trabalho a sua mantença. Já o alimentante (quem presta os alimentos), não pode
ser privado da própria sobrevivência para (vídeo).

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 O direito a alimentos pode ser pedido entre ascendentes e descendentes, sem limite de grau, mas
sempre priorizando os graus mais próximos com relação aos mais remotos. Ou seja, primeiro os
pais com relação aos filhos, inclusive o direito a prestação de alimentos é recíproco entre pais e
filhos (art. 1696, CC).
 Avós podem ser chamados para pagar alimentos, desde que os pais da criança não tenham
condições de fazê-lo. Em regra, deve-se esgotar a perquirição judicial entre os pais, para só
depois se chamar os avós.
o Chamados de Alimentos Avoengos.
o A responsabilidade dos avós em fornecer os alimentos é subsidiária e não solidária.
 O valor fixado para alimentos pode ser alterado através de ação revisional ou, se fixado
provisoriamente nos mesmos autos, pode haver pedido nos mesmos autos se houver mudança
na situação de quem recebe ou deve os alimentos.
 A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor nos limites da herança.
 Entre ex-cônjuges ou ex-companheiros, nota-se uma tendência jurisprudencial ao caráter
provisório dos alimentos.
o Exceções: quando ex-cônjuge tem uma doença, não tem aptidão para trabalhar em razão
de idade avançada, doença.
 Com o casamento, a união estável ou concubinato cessa do credor o dever de prestar alimentos.
o Também é causa da cessação de prestar alimentos o chamado comportamento indigno
do credor com relação ao devedor. A lei não diz o que é comportamento indigno, porém,
a doutrina sugere aproximação com as causas de indignidade do art. 1.814 do CC (causas
de exclusão da herança). Mas a maioria entende que o juiz pode reconhecer outras
situações, inclusive, também pode reconhecer os comportamentos de causas de
deserdação previstos nos arts. 1.962 e 1.963, CC (rol taxativo).
o O novo casamento do devedor, não extingue a obrigação de pagar alimentos.
 O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as três
últimas prestações e as vencidas durante a execução.
o O devedor de alimentos não pode ser preso novamente pelo pagamento da mesma dívida.
o Caso pague o débito, será liberto, ainda que tenha pena para cumprir.
o Alimentos gravídicos também autoriza a prisão do devedor.
 Para a doutrina, os efeitos são retroativos.
 Prescrição para pagamento de é de dois anos (art. 206, §2º, do CPC).

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DIREITOS REAIS

1) USUCAPIÃO:
→ É um modo originário de aquisição da propriedade, que exige no mínimo a presença de três
elementos/requisitos, quais sejam:

Posse mansa e pacífica + “animus domini” + prazo

Observações:
→ Modo originário = o bem passará a titularidade do usucapiente sem ônus ou gravames
anteriormente existentes. Não há incidência de ITIV, por ser modo de originário > não há
transmissão.
→ O bem de família pode ser usucapido, assim como o bem gravado com cláusula de
inalienabilidade (art. 1.911 do CC/02 inclui a incomunicabilidade e a impenhorabilidade
do bem).
→ Bem público, de qualquer dos tipos (uso comum do povo, especial e dominical) não pode
ser usucapido (art. 102 do CC).

1.1. TIPOS DE USUCAPIÃO:


I. Usucapião Extraordinária (art. 1.238, CC/02)
 Posse mansa e pacífica + “animus domini” + prazo de 15 anos.
 Posse mansa e pacífica + “animus domini” + função social pró-moradia ou pró-
trabalho + prazo de 10 anos.

II. Usucapião Constitucional ou Especial pró-labore/rústica (art. 1.239, CC/02)


 Posse mansa e pacífica + “animus domini” + prazo de 05 anos + imóvel apenas rural +
tamanho máximo do imóvel de 50 hectares + função social + usucapiente não seja
titular de nenhum outro imóvel urbano ou rural.

III. Usucapião Constitucional ou Especial Urbana / pró moradia (art. 1.240, CC/02)
 Posse mansa e pacífica + “animus domini” + prazo de 05 anos + imóvel em área urbana
+ tamanho máximo de 250 m² + função social pró-moradia + que o usucapiente não
seja proprietário de nenhum outro imóvel urbano ou rural.
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o O título de proprietário em função da


usucapião pode ser concedido tanto ao homem como a mulher possuidores, ou
aos dois, independente do estado civil.
o Esse tipo de usucapião não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma
vez > o rural pode ser concedido mais de uma vez.

IV. Usucapião Especial Urbana ou Familiar ou por Abandono de Lar (art. 1.240-A,
CC/02)
 Posse mansa e pacífica + “animus domini” + prazo de 02 anos + imóvel urbano +
tamanho máximo de 250 m² + que o usucapiente dívida a titularidade deste imóvel
com ex-cônjuge ou ex-companheiro (separação de fato, não precisa de divórcio, nem
de dissolução de união estável) + que seja utilizado para a moradia, mas que o ex tenha
abandonado o lar + o usucapiente não seja proprietário de outro imóvel urbano ou
rural.

V. Usucapião Ordinária (art. 1.242, CC/02)


 Posse mansa e pacífica + “animus domini” + prazo de 10 anos + justo título + boa-fé.
o Justo título é todo título aparentemente hábil a transmitir o domínio, mas que
não chega a transmiti-lo normalmente por um vício ou defeito de forma.
Ex.: 0escritura pública de compra e venda de uma fazenda a “non domini”.
o Boa-fé é a ignorância do vício ou obstáculo que impede a aquisição da coisa.
Art. 1.201 do CC, § único → O justo título faz presumir a boa-fé (presunção
relativa).
 Posse mansa e pacífica + “animus domini” + prazo de 05 anos + justo título oneroso +
que o título tenha sido registrado e permanecido como tal por cinco anos no mínimo
+ cancelamento do título + função social.

1.2. USUCAPIÃO DE COISA MÓVEL


 Subdivide-se em:
I. Usucapião Ordinária de Coisa Móvel (art. 1.260 do CC/02)
o Posse mansa e pacífica + “animus domini” + prazo de 03 anos + justo título +
boa-fé.

II. Usucapião Extraordinária (art. 1.261 do CC/02)


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o Posse mansa e pacífica + “animus domini” +


prazo de 05 anos.

Observações:
a) A usucapião especial urbana não se confunde com a desapropriação judicial
indireta do art. 1.228, §§4º e 5º do CC.
- Esse é o único caso de desapropriação feito pelo poder judiciário.
- Ela exige os seguintes requisitos: Posse ininterrupta e de boa-fé, de uma
extensa área, por no mínimo cinco anos, de uma coletividade de pessoas
(esse grupo de pessoas precisa ter dado ao imóvel uma destinação social
econômica relevante).
- A maior diferença deste instituto para a usucapião é o direito a
indenização.
b) O art. 10 da lei 10.257/01, o Estatuto das Cidades, prevê, inclusive, uma
modalidade de usucapião coletiva em área urbana, apelidada pela doutrina como
Usucapião de Favela. Ela exige como requisitos posse mansa e pacífica + “animus domini”
+ área imóvel maior que 250 m² + uma coletividade de possuidores, mas que não sejam
proprietárias de outro imóvel urbano ou rural + prazo de 05 anos. Cada possuidor,
individualmente, neste caso, não poderá utilizar mais de 250 m². Será formado um
condomínio, por sentença, entre eles que é, em regra, indivisível, com exceção de
deliberação de 2/3 dos condôminos.

2) DIREITO DE LAJE
➢ O direito de laje está previsto no art. 1.225, XIII, do CC/02 e, por isso, podemos afirmar que se trata
de um direito real.
➢ O art. 1.510-A regulamenta o direito de laje, que é a circunstância em que o proprietário de uma
construção base cede a outrem, superfície superior ou inferior da sua construção, para que na
superfície desta, esse terceiro mantenha unidade autônoma, distinta da construção base que está
sob o solo.
§1º → O direito de laje abrange espaço aéreo ou subsolo de terrenos públicos ou privados,
considerados verticalmente. Não abrange as demais áreas edificadas já existentes no terreno,
nem as áreas que não pertençam, ou seja, que não sejam de titularidade do dono da construção
base.

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§2º → O titular do direito real de laje é responsável pelos encargos e tributos referentes à sua
unidade.
§3º → A laje é autônoma, tem matrícula própria e dá ao seu titular direitos de uso, gozo e
disposição.
§4º → O titular do direito real de laje não tem, em regra, a fração ideal no terreno, nem tem
participação proporcional nas áreas já construídas.
§6º → O titular da laje pode ceder à superfície da sua construção para que se institua sobre ela
outra laje, e assim sucessivamente, desde que haja autorização expressa do titular da construção
base e das demais lajes.

Observação: art. 1.510-D → Em caso de alienação de qualquer das lajes sobrepostas,


terão direito de preferência tanto por tanto (igualdade de condições com terceiro), os
titulares da construção base e da laje, nessa ordem, que devem ser notificados por escrito
para que se manifestem no prazo de 30 dias, a não ser que o contrato entre as partes traga
outro prazo.
 Se o direito de preferência for desrespeitado, a parte prejudicada pode desfazer
a venda para terceiros, depositando o respectivo preço no prazo decadencial de
180 dias, a contar da data da alienação da laje.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXIV -
Primeira Fase
João e Carla foram casados por cinco anos, mas, com o passar dos anos, o casamento se desgastou e eles
se divorciaram. As três filhas do casal, menores impúberes, ficaram sob a guarda exclusiva da mãe, que
trabalha em uma escola como professora, mas que está com os salários atrasados há quatro meses, sem
previsão de recebimento. João vinha contribuindo para o sustento das crianças, mas, estranhamente,
deixou de fazê-lo no último mês. Carla, ao procurá-lo, foi informada pelos pais de João que ele sofreu
um atropelamento e está em estado grave na UTI do Hospital Boa Sorte. Como João é autônomo, não
pode contribuir, justificadamente, com o sustento das filhas. Sobre a possibilidade de os avós
participarem do sustento das crianças, assinale a afirmativa correta.

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A) Em razão do divórcio, os sogros de Carla são ex-sogros, não


são mais parentes, não podendo ser compelidos judicialmente a contribuir com o pagamento de
alimentos para o sustento das netas.
B) As filhas podem requerer alimentos avoengos, se comprovada a impossibilidade de Carla e de
João garantirem o sustento das filhas.
C) Os alimentos avoengos não podem ser requeridos, porque os avós só podem ser réus em ação
de alimentos no caso de falecimento dos responsáveis pelo sustento das filhas.
D) Carla não pode representar as filhas em ação de alimentos avoengos, porque apenas os
genitores são responsáveis pelo sustento dos filhos.

2) Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXIII -
Primeira Fase
Arlindo e Berta firmam pacto antenupcial, preenchendo todos os requisitos legais, no qual estabelecem
o regime de separação absoluta de bens. No entanto, por motivo de saúde de um dos nubentes, a
celebração civil do casamento não ocorreu
na data estabelecida. Diante disso, Arlindo e Berta decidem não se casar e passam a conviver
maritalmente. Após cinco anos de união estável, Arlindo pretende dissolver a relação familiar e aplicar
o pacto antenupcial, com o objetivo de não dividir os bens adquiridos na constância dessa união. Nessas
circunstâncias, o pacto antenupcial é?
A) válido e ineficaz.
B) válido e eficaz.
C) inválido e ineficaz.
D) inválido e eficaz.

GABARITO
1) B 2) A

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DIREITO DAS SUCESSÕES

▪ O art. 1.784, CC/02, prevê o princípio do “droit de saisine” > determina a transmissão
automática da herança do de cujus/autor da herança/morto/extinto para seus sucessores.
o A transmissão da sucessão automática é na data da morte.
o Art. 1.787, CC/02: A lei aplicável a sucessão é a do momento da morte (abertura de
sucessão).
o O STF determinou que o ITCMD (súmula 112/STF), será devido pela alíquota vigente no
momento da abertura da sucessão/morte.

Atenção!
A legitimidade para suceder é a participação na sucessão e em ser
beneficiado, diferente da legitimidade para testar, que é a legitimidade e
capacidade para elaborar o testamento. Portanto, a legitimidade para testar
não obedece “saisine”, ela é auferida no momento da elaboração do
testamento.

1) SUCESSORES
1.1. Legítimos: Herdam por força de lei. Não precisam estar contemplados em testamento
porque estão na ordem de vocação hereditária do art. 1.829 do CC/02.
- Não precisam estar no testamento para ter condição de herdeiro, mas é possível
beneficiar um herdeiro no testamento.
1.1.1. Legítimos Necessários: Em regra, não pode ser excluído da herança por simples
vontade, somente por deserdação ou indignidade. Possuem direito à legítima, que são os
50% indisponíveis da herança do de cujus. São os ascendentes, descendentes e o cônjuge.
- O companheiro não é herdeiro necessário.

1.1.2. Legítimos Facultativos: Também estão previstos na ordem de vocação


hereditária, mas ainda que contemplados por lei, podem ser excluídos da herança por
simples vontade do seu autor, ou seja, por simples testamento. São os colaterais até 4º
grau (irmãos, tios e sobrinhos, primos carnais, e tios-avós e sobrinhos-netos).
- Não são herdeiros obrigatórios > é possível excluí-los.
- Não possuem direito à legítima.
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1.2. Testamentários: Não estão na ordem de vocação hereditária, mas foram beneficiados pelo
de cujus em testamento.
1.2.1. Herdeiros: Recebem quinhão/percentual/fração.
1.2.2. Legatário: Recebem bens específicos.

2) ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA


▪ Ordem que disciplina quem recebe primeiro os bens do de cujus, dentro da sucessão legítima
(art. 1.829 do CC/02).
▪ A sucessão defere-se na seguinte ordem:
I. Descendentes em concorrência com o cônjuge/companheiro supérstite. Mas, quando
a concorrência for com descendentes, é obrigatório avaliar o regime de bens do
casamento/união estável. Os cônjuges/companheiros com regime de comunhão
universal, de separação obrigatória e de comunhão parcial não herdam.
- A separação convencional não dá direito de meação, mas dá direito de herança.
- Meação só existe para cônjuges e companheiros (50% dos bens comuns) e pode
ser aberta em vida ou causa mortis. A herança existe para cônjuges, companheiros,
parentes em linha reta e colaterais até 4º grau, e qualquer pessoa contemplada em
testamento (percentual variável, dos bens comuns), sendo aberta somente após a
morte.
II. Ascendentes em concorrência com cônjuge/companheiro sobrevivente. Se o falecido
não deixou descendentes, seus ascendentes concorrerão com o viúvo ou a viúva.
- Não é necessário observar o regime de bens da relação afetiva.
III. Ao cônjuge sobrevivente. Se o falecido não deixou descendentes e ascendentes, o
cônjuge/companheiro sobrevivente herdará sozinho, independente do regime.
IV. Aos colaterais. Se o falecido não deixou descendentes, ascendentes e
cônjuge/companheiro, os colaterais até 4º grau herdarão.

Atenção: O CC/02 disciplinou a sucessão na união estável com base


no art. 1.790. Porém, esse artigo foi considerado inconstitucional
pelo STF em 2018, com base nas assimetrias que ele estabelecia
entre a sucessão dos companheiros e dos cônjuges. Esse julgamento
teve a repercussão geral de n. 809, que consagrou a tese da
inconstitucionalidade para distinção de regimes sucessórios entre
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75 Fernanda Barretto

cônjuges e companheiros, prevista


no art. 1.790, devendo ser aplicado tanto nas hipóteses de
casamento quanto nas de união estável o regime do art. 1.829
do CC/02.

Observação: O Estado não está na ordem de vocação


hereditária, mas arrecadará a herança de quem não deixou
herdeiros legítimos ou testamentários, ou se algum desses parentes
tiver renunciado a herança (art. 1.844, CC/02).

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PARABÉNS PELO EMPENHO!

NÓS ACREDITAMOS
EM VOCÊ!!

Família CEJAS: Líderes em aprovação em todo o Brasil!

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