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Direito Constitucional
Data: 30/08/2023 Prof.: Gustavo Balbino
Aula 02
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E
COLETIVOS (ART. 5º, CF).
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
1. DIREITO À VIDA
O direito à vida é apresentado em duas perspectivas:
a) Direito de continuar vivo:
É a proteção da integridade física do indivíduo contra
violência estatal ou de particulares. É o direito de estar e
permanecer vivo.
b) Direito de ter uma vida digna:
É a garantia de uma vida digna ao indivíduo
proporcionando o acesso a serviços essenciais, o
exercício de direitos e tudo aquilo que pode contribuir
para uma existência digna.
1.1. Início da vida humana.
A Constituição Federal não determina qual o momento
de início da vida humana. Algumas teorias tentam
determinar esse marco temporal, por exemplo:
É a fecundação do óvulo pelo
Concepção espermatozoide que forma o
zigoto.
É a fixação do zigoto no útero
Nidação
materno.
Formação do sistema É a capacidade neurológica
nervoso central de sentir prazer e dor.
Jurisprudência STF:
Para a corte, é permitida a utilização de células-tronco
embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos
por fertilização in vitro e não utilizados.
É possível concluir que, para o STF, a vida não se inicia
com a concepção.
O artigo 2º do Código Civil dita que a personalidade civil
da pessoa começa com o nascimento com vida; mas
a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do
nascituro (pessoa por nascer, já concebida no útero
materno).
1.2. Aborto.
O aborto é tipificado como crime pelo direito penal. Em
algumas hipóteses o abordo não será criminoso:
a) Aborto necessário: quando não há outro meio de
salvar a vida da gestante (código penal).
b) Aborto sentimental: quando a gravidez resulta de um
estupro (código penal).
c) Interrupção da gravidez de feto anencefálico (STF).
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2. DIREITO À PRIVACIDADE
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
2.1. Direito à intimidade.
São as opções e relações mais íntimas e pessoais do
indivíduo. Envolve a sua sexualidade, particularidades
confidenciais, segredos e informações mais pessoais.
2.2. Direito à vida privada.
Alguns autores afirma que vida privada e intimidade são
a mesma coisa.
Para os autores que distinguem as duas, a vida privada
é mais abrangente e contém a intimidade. Protege as
relações pessoais, familiares, negociais, momentos de
lazer etc.
2.3. Direito à honra.
É a reputação, o bom nome de um indivíduo na
sociedade (honra objetiva) e o sentimento próprio de
estima e dignidade (honra subjetiva).
2.4. Direito à imagem.
Protege a representação visual da pessoa ou traços de
sua fisionomia.
Jurisprudência STF:
Para a reparação do dano moral (no caso do uso
indevido da imagem) não se exige a ocorrência de
ofensa à reputação do indivíduo.
RE 215.984
2.5. Sigilos pessoais.
2.5.1. Inviolabilidade do domicílio.
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
O conceito de domicílio é amplo e engloba:
• Qualquer compartimento habitado (casa, barraca,
etc.);
• Aposento ocupado de habitação coletiva (quarto de
hotel, motel, pensão);
• Compartimento não aberto ao público onde alguém
exerce atividade profissional;
A inviolabilidade do domicílio pode, em alguns casos,
sofrer restrições. Além do consentimento do morador,
será possível violar a “casa”:
a) Flagrante delito;
b) Desastre; a qualquer hora do dia ou da noite.
c) Prestação de socorro;
d) Durante o dia, por determinação judicial.
Não existe um consenso em relação ao que seja dia.
Para alguns o dia vai da aurora ao crepúsculo (físico-
astronômico).
Outros adotam o critério cronológico (das 06hs às 18hs).
Existe uma exceção em que o STF admitiu o
cumprimento de ordem judicial durante a noite. No caso
em questão (inquérito 2424) a polícia implantou escuta
ambiental em um escritório de advocacia.
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2.5.2. Inviolabilidade das comunicações.
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal;
3. DIREITO À IGUALDADE
3.1. Igualdade formal.
Dentre outras previsões constitucionais, se destaca a
apresentada no caput do artigo 5º da Constituição
Federal, “todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza”. De acordo com essa percepção,
existe uma igualdade perante a lei onde não é possível
utilizar critérios discriminatórios que não decorram da
própria lei.
Na igualdade formal, a aplicação da lei é igual para
todos, sem distinção.
3.2. Igualdade material (substancial).
A igualdade material leva em consideração as
desigualdades encontradas nos contextos fáticos da
vida, permitindo um tratamento distinto para situações
desiguais. Em outras palavras, os desiguais devem ser
tratados desigualmente, na medida de suas
desigualdades.
São exemplos da aplicação da igualdade material:
a) Isenção das mulheres ao serviço militar em tempo de
paz;
b) Idades distintas de aposentadoria para homens e
mulheres;
c) Candidata gravida pode fazer TAF em data distinta
(concurso público);
d) Cotas raciais e sociais.
4. DIREITO À LIBERDADE
4.1. Liberdade de ação.
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.
Também conhecido como princípio da legalidade,
expressa a liberdade de agir do indivíduo. Somente a lei
pode fazer com que alguém seja impelido a fazer algo
ou não.
4.2. Liberdade de manifestação do pensamento.
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem;
A Constituição não protege o anonimato, pois no caso
de uma pessoa afrontar direitos de outrem, será
necessária a sua identificação para posterior
responsabilização.
Além das responsabilizações previstas no inciso V outras
podem ser aplicadas, como por exemplo sanções penais
no caso de cometimento de crimes contra a honra.
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Em outro dispositivo a Constituição Federal garantiu a
proteção da liberdade de expressão intelectual, artística,
científica e de comunicação.
IX - é livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença;
4.3. Liberdade de consciência e crença.
Diante da pluralidade de religiões e concepções
filosóficas o Estado deve se posicionar de forma neutra,
não interferindo nas preferencias e liberdades religiosas
dos indivíduos.
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias;
O Estado brasileiro é laico, ou seja, há uma separação
entre igreja e o Estado.
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;
São exemplos de entidades de internação coletiva os
hospitais e presídios. A assistência religiosa deve ser
prestada com a anuência do interno ou de seus
familiares, quando não tiver condições de consentir.
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
É a previsão do direito à “escusa de consciência”,
“objeção de consciência” ou ainda “imperativo de
consciência”. Esse direito permite que um indivíduo não
cumpra uma obrigação legal que seja contrária às suas
convicções religiosas, filosóficas ou políticas. A negativa
ao cumprimento da obrigação só será legítima se o
sujeito cumprir uma prestação alternativa prevista em
lei.
O não cumprimento da obrigação e da prestação
alternativa enseja privação de direitos, como por
exemplo a restrição de direitos políticos.
Existe na Constituição Federal uma previsão expressa de
escusa de consciência no artigo 143:
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da
lei.
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei,
atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz,
após alistados, alegarem imperativo de consciência,
entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa
e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de
atividades de caráter essencialmente militar.
§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do
serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos,
porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.
No Código de Processo Penal Brasileiro é possível
encontrar uma previsão sobre imperativo de consciência
relacionado ao tribunal do júri:
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Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
convicção religiosa, filosófica ou política importará no dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
dever de prestar serviço alternativo, sob pena de judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o julgado;
serviço imposto.
Dissolução
4.4. Liberdade profissional. Decisão judicial
compulsória da
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou TRANSITADA EM JULGADO.
associação
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a Suspensão das Decisão judicial (sem
lei estabelecer; atividades de uma necessidade do trânsito em
Quando não existe uma lei regulamentando a prática associação julgado).
determinada atividade profissional, é livre o seu
exercício. A regra é a liberdade profissional. XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
Exemplo de regulamentação o corre com o bacharel em permanecer associado;
direito, que para se tornar um advogado precisa ser XXI - as entidades associativas, quando expressamente
aprovado no exame da OAB. autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;
4.5. Liberdade de locomoção.
Exercícios
XV - é livre a locomoção no território nacional em
tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos 01) No que se refere à aplicabilidade das normas
da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus constitucionais e aos direitos e garantias fundamentais,
bens; julgue o item a seguir.
Os direitos e garantias previstos pela Constituição
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, Federal de 1988 estão dispostos em rol taxativo, em
em locais abertos ao público, independentemente de razão da ampla rede de proteção a eles destinada.
autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo Certo ( ) Errado ( )
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; 02) No que se refere à aplicabilidade das normas
4.6. Direito de reunião. constitucionais e aos direitos e garantias fundamentais,
julgue o item a seguir.
O direito de reunião é um direito individual de expressão
Os direitos fundamentais caracterizam-se por seu
coletiva, ou seja, é um direito que cada pessoa possui,
caráter absoluto, característica que permanece mesmo
mas somente será exercido coletivamente.
havendo eventuais colisões entre eles.
Para ser exercido de forma constitucional, o exercício do
direito deve pressupor: Certo ( ) Errado ( )
a) Ser pacifico;
03) À luz da Constituição Federal de 1988, julgue o item
b) Sem armas;
a seguir, acerca de direitos e garantias fundamentais.
c) Ser exercido em locais abertos ao público;
A manifestação do pensamento é livre, sendo garantido,
d) Independe de autorização do poder público;
também, o anonimato.
e) Não pode frustrar outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local; Certo ( ) Errado ( )
Quem primeiro convocou e organizou a reunião e avisou
04) A Constituição Federal de 1988 (CF) dispensa
os órgãos competentes terá preferência.
extenso tratamento quanto aos direitos e às garantias
f) É exigido o aviso prévio à autoridade competente
fundamentais. Acerca desse assunto, julgue o item a
(Polícia Militar, Órgãos de trânsito etc.).
seguir.
4.7. Liberdade de associação. A associação de pessoas para fins lícitos é garantida
A associação pode ser definida como uma aliança constitucionalmente, sendo vedada a interferência
estável entre uma pluralidade de indivíduos, com estatal em seu funcionamento; contudo, é possível a
objetivos comuns e que buscam fins lícitos. É, nos suspensão de suas atividades, desde que precedida de
mesmos moldes do direito de reunião, um direito decisão judicial, independentemente de trânsito em
individual de expressão coletiva. julgado.
XVII - é plena a liberdade de associação para fins Certo ( ) Errado ( )
lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a
de cooperativas independem de autorização, sendo
vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

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05) A respeito dos direitos e deveres individuais e
coletivos previstos na Constituição Federal de 1988 (CF),
julgue o item a seguir.
A CF, ao garantir a liberdade de expressão, vedou o
anonimato, prestigiando o direito de resposta e eventual
pleito judicial por indenização em relação a dano
material, moral ou à imagem.
Certo ( ) Errado ( )
06) A interceptação telefônica pode ser realizada
independentemente de ordem judicial, porquanto o
sigilo das comunicações telefônicas pode ser quebrado
quando houver investigação criminal.
Certo ( ) Errado ( )
07) Clara, praticante de uma religião de matriz africana,
um dia, ao chegar à escola pública em que estuda no
Distrito Federal usando um colar de contas típico de sua
prática religiosa, foi impedida, pela diretora, de entrar
na instituição. A diretora alegou que, ali, não era
permitido entrar usando aquele tipo de colar. Na
ocasião, a diretora exigiu que a estudante retirasse o
adereço para poder entrar no estabelecimento de
ensino.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item a
seguir.
O direito à liberdade de consciência e de crença é
considerado um direito fundamental de segunda
geração.
Certo ( ) Errado ( )
08) Acerca dos direitos e das garantias fundamentais,
julgue o item a seguir.
A eficácia dos direitos fundamentais não se restringe às
relações entre os cidadãos e o poder público.
Certo ( ) Errado ( )
09) Com relação aos direitos fundamentais, julgue o
item a seguir.
O direito fundamental à vida é hierarquicamente
superior aos demais direitos fundamentais.
Certo ( ) Errado ( )
10) Os direitos fundamentais são prerrogativas próprias
dos cidadãos em função de sua especial condição de
pessoa humana, e as garantias fundamentais são os
instrumentos e mecanismos necessários para a
proteção, a salvaguarda ou o exercício desses direitos.
Com relação a esse assunto, julgue o item que se segue.
Ações afirmativas, como a reserva de vagas para negros
em concursos públicos, são uma forma de garantia dos
direitos fundamentais e visam minimizar ou eliminar
uma situação histórica de desigualdade ou
discriminação.
Certo ( ) Errado ( )

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