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• Doação com reserva de usufruto – considerada pelo Professor Menezes Leitão como
sucessão por vida, tendo em conta que se verifica em vida a aquisição, e o usufruto
tem sempre um prazo limitado;
• Doação com reserva do direito a dispor;
• Doação com cláusula cum moriar – celebração de negócio em vida sujeito a um termo
suspensivo, a morte do doador. A maioria da doutrina tem entendido esta cláusula
como válida, no entanto, o Professor Menezes Leitão tem vindo a defender o contrário
com base no disposto no artigo 946.º;
• Doação com cláusula si praemoriar – estamos perante a mesma situação descrita a
cima, a que acresce a condição suspensiva relativa à morte do doador ocorrer antes
da do donatário. O Professor Menezes Leitão, à semelhança do exposto
anteriormente, considera também uma cláusula inválida pelo disposto no artigo 946.º;
• Partilha em vida.
pessoa falecida); os direitos de autor (apesar do exercício incumbir aos sucessores até a obra cair
em domínio público – 57.º/1); direitos relativos a cargos públicos ou administração de uma
sociedade, responsabilidades parentais, tutela e curatela; atribuição da faculdade de prosseguir
ações de perfilhação ou de impugnação da maternidade ou paternidade, uma vez que a
legitimidade processual é estendida aos herdeiros; direitos excluídos da hereditariedade por força
da lei como o usufruto, o uso e habitação, e a testamentaria.
2. Categorias de sucessores
Resulta do artigo 2030.º uma distinção dos sucessores entre herdeiros e legatários,
esclarecendo o nº 2 que o herdeiro sucede na totalidade ou numa quota do património do falecido,
enquanto o legatário sucede em bens ou valores determinados. É de ressaltar que a atribuição de
um legado de usufruto constituirá sempre uma herança, ainda que esteja em causa o usufruto da
totalidade ou de uma quota da herança. A lei, no entanto, não clarifica os casos em que o testador
procede à divisão da herança de uma forma não aritmética, falando-se numa herança ex re certa
(por exemplo, o testador deixar os seus bens imóveis a um herdeiro e os seus bens móveis a outro).
A doutrina tem vindo a entender que, numa extensão do artigo 2030.º/2, a deixa seria
qualificada como herança quando o património é dividido nas deixas dicotómicas referidas e nas
situações de legado por conta da quota (posição do Professor Menezes Leitão), no entanto, para
autores como os Professores Jorge Duarte Pinheiro, Pereira Coelho, Capelo de Sousa e Galvão
Telles, têm vindo a qualificar estas situações como legado, enquanto o Professor Daniel Morais
vem dizer que se deverá analisar a vontade do testador casuisticamente.
Esta hierarquia resulta da forma como a lei estabelece a relevância dos factos
designativos, permitindo determinar qual deve prevalecer. No topo da hierarquia temos a sucessão
legitimária, que não pode ser afastada (2027.º), reservando-se uma porção da herança aos
herdeiros legitimários da qual o testador não pode dispor, e, caso o faça, os herdeiros podem
proceder à sua redução através da redução por inoficiosidade (2168.º). Em segundo lugar, temos
a sucessão contratual, atenta a irrevogabilidade dos pactos sucessórios, o testador não pode afetar
a posição do donatário após a aceitação (1701.º e 1705.º), prevalecendo esta designação sobre a
designação testamentária. A seguir vem a sucessão testamentária que prevalece sobre a legítima,
uma vez que esta só acontece se o testador não dispuser dos seus bens.
O artigo 2031.º determina que a abertura da sucessão dá-se no momento da morte do seu
autor. A fixação do momento do momento da abertura da sucessão poderá ser importante para a
fixação dos sucessíveis que podem ser chamados à herança (por exemplo, caso marido e mulher
venham a falecer num acidente sem deixar filhos, será importante determinar quem faleceu
primeiro para perceber quais os parentes – do marido ou da mulher – recebem a herança). Quando
é difícil provar quem faleceu primeiro, o artigo 68.º/2 impõe a presunção de comoriência,
determinando que faleceram no mesmo momento, evitando transmissões sucessórias entre eles.
É neste momento que se concretiza a designação sucessória e, consequentemente, a vocação
sucessória. O artigo 2032.º/1 determina que, com a abertura da sucessão serão chamados à
titularidade das situações jurídicas do falecido aqueles que gozam de prioridade na hierarquia dos
sucessíveis. O mesmo acontece caso vocação sucessória seja subsequente, uma vez que o artigo
2032.º/2 determina que a devolução a favor dos sucessíveis subsequentes retroage ao momento
da abertura da sucessão, assim como a verificação de condição (2242.º/1), a aceitação e repúdio
da herança ou legado (2050.º/2, 2062.º e 2249.º), e a partilha (2119.º). O momento da abertura da
sucessão é ainda relevante para determinar o valor dos bens sujeitos à colação (2109.º/1), o cálculo
da legítima (2162.º/1), e eventual redução por inoficiosidade (2168.º).
4. Vocação sucessória
A vocação sucessória consiste na atribuição do direito de aceitar ou repudiar a herança ou
legado, sendo esse direito o chamado direito a suceder ou ius delationis. Quanto a este conceito,
a doutrina discute a existência de uma diferença conceptual entre vocação e devolução, existindo
quatro teses a este respeito:
a) A tese da autonomia dos dois conceitos (tese inicialmente defendida pelos Professores
Pires de Lima e Gomes da Silva) – este último definia a devolução como a escolha, de
entre os sucessíveis designados, o que ou os que deviam efetivamente suceder, dizendo
que após a devolução, devem ser citados pela lei que lhes atribui o direito de suceder,
traduzível num poder potestativo de adquirir a herança. Atualmente é defendida por
Cristina Dias, que considera a devolução sucessória consequência do chamamento e
aceitação da herança quando se dá a colação dos bens à disposição do chamado;
b) A tese da identidade entre os dois conceito (defendida pelos Professores Galvão Telles
e mais tarde por Carlos Pamplona Corte-Real) – esta tese diz que os conceitos são
sinónimos, na medida em que tanto faz dizermos “chamamento à sucessão” como
dizermos “devolução da sucessão”;
c) A tese de que os dois conceitos exprimem diferentes perspetivas da mesma realidade
(defendida pelos Professores Pereira Coelho, Carvalho Fernandes e Jorge Duarte
Pinheiro) – para estes autores a vocação corresponderia a uma perspetiva subjetiva do
fenómeno, sendo a atribuição aos sucessíveis designados direitos de suceder, enquanto
que a devolução seria uma perspetiva objetiva, a que corresponderia a possibilidade de
atribuir aos sucessores dos bens que integram a sucessão. A diferença na perspetiva
funda-se na vocação referir o chamamento de pessoas e a devolução a possibilidade de
aquisição de situações jurídicas. O Professor Menezes Leitão também adere a esta visão,
dizendo-nos que a vocação pode ser encarada através de uma vertente pessoal, através
1) A personalidade jurídica;
2) A capacidade sucessória;
3) A titularidade da designação prevalecente.
A lei, porém, não estabelece se a PMA post mortem dará ou não lugar a efeitos
sucessórios, havendo várias posições na doutrina:
Tem surgido na doutrina a questão de perceber qual a forma de realizar a partilha quando
os interessados são nascituros ainda não concebidos. O artigo 1092.º/1/c) do CPC prevê a
suspensão da instancia no processo de inventário até ao nascimento do interessado, no entanto, é
uma disposição dificilmente aplicável aos nascituros ainda não concebidos, pelo que surgem
quatro posições na doutrina:
Quanto a outras pessoas coletivas, não parece admissível a validade deixas testamentárias
a favor de pessoa coletiva que não se constituiu.
A capacidade sucessória em sentido amplo, pode ser definida como sendo a capacidade
para suceder a toda e qualquer pessoa, enquanto em sentido restrito, toma-se em consideração
apenas a idoneidade para suceder a uma certa e determinada pessoa, aproximando-se de certa
forma do conceito de legitimidade (o que acontece com a indignidade e deserdação que só
impedem a sucessão de uma determinada pessoa).
a) Professores Oliveira Ascensão e João Lemos Esteves – ambos os autores têm vindo
a defender que se trata de uma tipicidade delimitativa, podendo ser objeto de
integração por forma a abranger casos que não os previstos na lei
b) Professores Galvão Telles, Pamplona Corte-Real, Carvalho Fernandes, Jorge Duarte
Pinheiro e Cristina Araújo Dias (posição maioritária) – considera que se trata de uma
enumeração taxativa, não apenas por ser uma norma excecional, mas também por se
tratar de uma matéria penal civil sujeita ao princípio da legalidade.
Outra questão que se tem vindo discutir é saber se a indignidade resulta automaticamente
da prática dos factos referidos ou se estes têm de resultar de uma declaração emitida pelo
Ministério Público. O Professor Oliveira Ascensão tem vindo a defender que a indignidade opera
de pleno direito, ou seja, apenas se existirem bens em poder indigno é que seria necessário
reclamar esses bens através de uma ação. Já os Professores Pereira Coelho, Carlos Pamplona
Corte-Real, Antunes Varela e Carvalho Fernandes têm ido em sentido contrário. Outra questão
diferente é saber se, depois de decorridos os prazos previstos no artigo 2036.º, o sucessor deixa
de poder ser declarado indigno. O Professor Oliveira Ascensão, em consonância com a sua
posição na temática anterior, considera relevantes os prazos do artigo 2036.º, considerando por
analogia com o artigo 287.º que a indignidade poderá ser invocada a todo o tempo. Esta posição
foi seguida pela jurisprudência assim como outros autores como os Professores Capelo de Sousa
e Carvalho Fernandes. Outra discussão relativamente a este tema tem sido sobre a ação relativa à
declaração de indignidade, se será uma ação de mera apreciação, de condenação ou constituição.
Autores como o Professor Antunes Varela qualificam-na como constitutiva, enquanto o Professor
Oliveira Ascensão sustenta que não será constitutiva por operar de pleno direito, tendo assim
caráter de mera apreciação, posição seguida pelo Professor Carvalho Fernandes.
Quanto aos efeitos da indignidade, o artigo 2037.º/1 diz-nos que declarada a indignidade,
a devolução da sucessão ao indigno é havida como inexistente, sendo ele considerado, para todos
os efeitos, possuidor de má-fé. Neste campo, surge também a questão de saber se esta figura se
aplicará na sucessão legitimária, atendendo à existência do instituto da deserdação. O Professor
Leite de Campos tem vindo a defender que, sendo a indignidade um regime geral, deveria ceder
perante o regime especial da deserdação. Já o Professor Oliveira Ascensão, tem vindo a defender
que a indignidade só funciona a título supletivo neste campo, quando não fosse possível recorrer
à deserdação. Os Professores Pereira Coelho e Capelo de Sousa seguem outra via, dizendo-nos
que constitui uma figura geral, plenamente aplicável à sucessão legitimária, não constituindo a
deserdação um regime especial. Os Professores Pamplona Corte-Real, Jorge Duarte Pinheiro e
Menezes Leitão entende que o artigo 2034.º se aplica igualmente ao herdeiro legitimário, sendo
apenas dispensável interpor a respetiva ação se o herdeiro legitimário já tiver sido deserdado pelo
autor da sucessão.
4.1.2.2. A deserdação
A deserdação é um instituto da sucessão legitimária, previsto no artigo 2166.º, permitindo
ao autor da sucessão privar um dos herdeiros legitimários da sua legítima quando se verifiquem
as situações enunciadas no artigo referido. Este processo tem de ocorrer por testamento, pelo que
está sujeita às regras de forma do testamento, podendo também ser revogada. Para se efetuar, o
testador terá de indicar a causa que só pode ser alguma das causas taxativamente referidas no
artigo 2166.º, sob pena de nulidade.
Sobre as causas referidas no artigo que são bastante autoexplicativas, a única a realçar
será certamente a opinião do Professor Cunha Gonçalves relativamente a uma das causas, a do
artigo 2166.º/1/c), dizendo que é uma causa absurda, uma vez que i pedido de alimentos pressupõe
uma falta absoluta de bens e meios de subsistir, no entanto, quem possui bens de que pretende
deserdar alguém, não carece de alimentos nem pode exigi-los. Este argumento é facilmente
ultrapassado, por exemplo, caso um filho a quem o pai tenha negado alimentos na infância venha
a adquirir bens pelo seu trabalho. Será ainda de referir que para as hipóteses da alínea a) e b) é
necessária a efetiva condenação pelo crime, no entanto, os Professores Pamplona Corte-Real e
Jorge Duarte Pinheiro admitem a hipótese de uma deserdação condicional, para a hipótese da
condenação vir a ocorrer posteriormente à feitura do testamento, por analogia do artigo 2035.º.
Apesar da lei referir apenas a sucessão legitimária para a deserdação, é evidente que será
também aplicável à sucessão legítima e testamentária, e quanto à sucessão contratual existe um
outro instituto paralelo, a revogação da doação por ingratidão do donatário. Assim, caso seja
excluído da sucessão legitimária, será também excluído da sucessão legítima e sucessão legal,
bem como o que lhe tenha sido atribuído em testamento. Admite-se, porém, que após a deserdação
exista uma deixa testamentária a seu favor, podendo suceder dentro dos limites da disposição
(aplicação analógica do artigo 2038.º/2).
Tem vindo a surgir na doutrina a questão de perceber se a deserdação poderá ser parcial,
por exemplo, o testador privar o herdeiro legitimário de metade da legítima:
como inexistente (opinião subscrita pelo Professor Menezes Leitão, uma vez que não faz sentido
arguir a nulidade quando não está elencado no artigo 2166.º), enquanto o Professor Jorge Duarte
Pinheiro sustenta que o deserdado pode arguir a nulidade da disposição testamentária nos termos
do artigo 2308.º.
Esta qualificação não é pacífica. Galvão Telles, por exemplo, considera que a solução
em relação aos sucessíveis chamados posteriormente, a devolução só será uma
realidade quando se produzir retroativamente a destruição da devolução anterior, pela
ocorrência de factos resolutivos. Gomes da Silva considera que não se produziria a
favor dos sucessíveis subsequentes qualquer forma de devolução no momento da
abertura da vocação. Assim, o que se verificou foi um facto genérico que, combinado
com a morte, teve como efeito a atribuição a alguém da qualidade de sucessível, e em
seguida houve uma nova operação de escolha entre os sucessíveis de quem se
atribuirá o direito de suceder. Já Oliveira Ascensão vem dizer-nos que a atribuição
do direito a suceder dos sucessíveis subsequentes está condicionada em virtude da
possibilidade de aceitação da herança por parte dos sucessíveis chamados em
primeiro lugar, havendo um direito condicional próprio, o que explica a atenuação
dos seus efeitos, havendo uma atribuição originária do direito que sucedeu. Já em
relação à vocação dos nascituros, os Professores Capelo de Sousa e Eduardo dos
Santos, consideram existir uma forma de vocação originiária (apesar da exigência da
condição do nascimento), tal como o Professor Leite de Campos, apesar de só o
considerar para nascituros já concebidos. O Professor Menezes Leitão tende a
considerar que a vocação só ocorra no momento do nascimento completo e com vida,
podendo ser considerada subsequente, uma vez que, apesar de se incluir os nascituros
já concebidas no artigo 2033.º/1, deverá aplicar-se a regra geral do artigo 66.º/2,
ficando os seus direitos dependentes do nascimento. É ainda controvertida a
classificação da vocação do sucessível instituído sob condição suspensiva (2229.º),
pelo que os Professores Pereira Coelho e Capelo de Sousa consideram que é uma
vocação originária, apesar de só se concretizar com a verificação da condição,
retroagindo-se ao momento da abertura da sucessão. Já os Professores Menezes
Leitão e Galvão Telles, entendem ser mais correta a qualificação como vocação
subsequente, havendo exemplos de casos em que as vocações subsequentes
retroagem à data da abertura da sucessão (2032.º/2 e 2242.º/1, por exemplo);
Esta transmissão não se pode verificar no âmbito da sucessão contratual, uma vez que
neste caso, o beneficiário das doações mortis causa tem que aceitar a doação em vida do doador
(artigo 945.º/1), não sendo possível que o beneficiário venha a falecer sem aceitar essa sucessão.
Isto só ocorre caso após a abertura da sucessão se verificou o chamamento do titular da designação
sucessória prevalecente, mas este vem a falecer sem aceitar ou repudiar.
a) Galvão Telles e Pamplona Corte-Real – dizem-nos que sim, uma vez que o fenómeno
sucessório não se encontrava concluído relativamente ao de cuius primitivo, só indo
sê-lo por via da atuação da vocação pelos sucessores do transmitente que acabam por
suceder ao de cuius;
b) Oliveira Ascensão, Antunes Varela, Jorge Duarte Pinheiro e Menezes Leitão – dizem-
nos que não há uma vocação indireta mas sim uma situação de dupla transmissão,
pelo que os pressupostos da vocação só têm de se verificar quanto à segunda abertura
da sucessão. Menezes Leitão diz-nos que, ao contrário do que acontece nas vocações
indiretas, o transmissário tem que aceitar a herança, assim como existe um requisito
da existência do chamado que não tem de se verificar relativamente à abertura da
primeira sucessão, podendo quem não era nascido adquirir por transmissão o direito
a aceitar ou repudiar a sucessão deste, tendo ainda de se verficiar capacidade
sucessória relativamente a ambas as vocações, o que não acontece nas vocações
indiretas (2037.º/2).
Este processo ocorre em qualquer das hipóteses em que o substituído não queira ou não
possa aceitar a herança ou legado (casos como a pré-morte, indignidade, deserdação ou repúdio
da herança). A sua vontade depende sempre do testador, livre de determinar a sua aplicação para
apenas algum ou alguns dos casos, excluindo os outros. Entende-se, no entanto, que se o testador
só previr um dos casos, queria abranger o outro salvo declaração em contrário (2281.º/2).
Outra questão será saber se esta poderá operar na sucessão legitimária. Pamplona Corte-
Real, Capelo de Sousa, Cristina Araújo Dias e Menezes Leitão respondem que não é possível
designar substituto do herdeiro legitimário tendo em conta o caráter injuntivo destas normas.
Oliveira Ascensão e Carvalho Fernandes, por outro lado, admitem que seja possível para a
hipótese de não funcionar o direito de representação ou o direito de acrescer.
Resulta do artigo 2042.º que a representação na sucessão legal necessita apenas de dois
pressupostos:
a) Que um filho ou irmão do falecido não possa ou não queira aceitar a herança,
independentemente de qual a causa porque tal se verifica – daqui resulta que não se
pode invocar o direito de representação relativamente ao cônjuge ou ascendentes;
b) Que esse filho ou irmão do falecido tenha deixado descendentes ou adotados.
Apesar da lei restringir neste caso o direito de representação aos filhos daquele casal, tal
parece justificar-se pelo facto de objetivo do terceiro ao estabelecer a doação ser o favorecimento
da união daquele casal, o que justifica o tratamento especial da sua prole. Não parece então que
este regime esteja a infringir a disposição constitucional contra a discriminação dos filhos
nascidos fora do casamento, uma vez que abrange também filhos nascidos de outros casamentos.
Será, no entanto, inconstitucional a interpretação que impeça a sua aplicação a descendentes de
segundo grau e seguintes, nascidos fora do casamento dos seus progenitores.
Daniel, Eduardo e Filipe, e Carlos dois filhos, Gabriel e Horácio. Neste caso, embora não esteja
em questão a regra da preferência de grau constante do artigo 2135.º, a posição de Bernardo e
Carlos continua a ser considerada para efeitos de repartição da herança. Vejamos que, os três
filhos de Bernardo e os dois filhos de Carlos não sucedem igualmente a Abel, uma vez que
ocupam a posição Bernardo e Carlos respetivamente, tendo de dividir a parte que a estes caberia
na herança entre si. A existência do direito de representação afasta a regra da divisão por cabeça
prevista no artigo 2136.º.
C) Unidade de estirpes
Na hipótese de unidade de estirpe, vejamos o exemplo: sendo Abel o de cuius, que tem
apenas um filho, Bernardo, pré-falecido, mas que deixou um filho, Carlos. Abel, em vida, tinha
feito uma doação de um prédio a Bernardo e doou as suas joias a uma amiga, Daniela. Neste caso,
o direito de representação poderá ser importante para se averiguar a necessidade de reduzir as
liberalidades efetuadas em vida. A doação para Daniela poderia ser considerada inoficiosa
(2168.º) se o prédio não entrasse no cálculo da legítima, no entanto, como sucede por efeitos do
direito de representação, o prédio doado conta para efeitos de cálculo da legítima (2162.º)
No âmbito da sucessão legal, o acrescer só funciona dentro de cada título. Por isso, o
herdeiro legítimo não beneficia do direito de acrescer em caso de pré-morte, incapacidade ou
repúdio do herdeiro testamentário, ocorrendo antes a caducidade da deixa (artigo 2137.º/a), b), c)
e d)). Assim, no caso de os herdeiros legítimos previamente chamados faltarem ou repudiarem a
herança, não ocorre acrescer para os herdeiros testamentária, sendo antes chamados os herdeiros
da classe de sucessíveis subsequente. O acrescer funciona apenas dentro da mesma classe de
sucessíveis, assim, faltando apenas alguns dos sucessíveis da mesma classe a sua parte acresce à
dos outros (2137.º/2). Assim, se se verificar a falta de um dos descendentes, a sua parte acresce à
dos outros descendentes e ao cônjuge. Já se faltar o cônjuge, não se verifica o direito de acrescer
pelas razões acima expostas. Se se verificar a falta de descendentes, o cônjuge é chamado à
totalidade da herança (2141.º).
Surge a questão de saber se se verifica o acrescer quando o cônjuge concorrer com mais
de três descendentes, caso em que a lei lhe atribui o direito a suceder em um quarto da herança.
No caso de o cônjuge concorrer com seis filhos, este recebe 1/4 e os restantes 1/8 da herança. Mas
caso um dos filhos não queira ou não possa suceder, questiona-se se o acrescer se faz por cabeça,
cabendo 1/6 a cada um dos filhos ou se o cônjuge receberá uma porção dupla da dos filhos. O
artigo 2301.º/2 parece dar a entender que a segunda opção será a correta.
impedindo a regra da preferência do grau nos termos do artigo 2143.º/3 e 2145.º, que os
ascendentes de segundo grau concorram à sucessão.
Caso não haja lugar ao acrescer entre legatários, o artigo 2303.º determina que o objeto
do legado é atribuído ao herdeiro ou legatário onerado com o encargo do seu cumprimento (esta
cabe, em princípio, aos herdeiros – 2265.º/1 – sendo os mesmos considerados um encargo de toda
a herança (2068.º), pelos quais os bens desta respondem coletivamente (2097.º), só sendo o
herdeiro responsável após a partilha em proporção da quota que tiver recebido da herança
(2098.º/1)), salvo se esse objeto estiver genericamente compreendido noutro legado.
O artigo 2307.º determina que aquele que houver o acrescer, independentemente de ser
herdeiro ou legatário, sucede nos mesmos direitos e obrigações, de natureza não puramente
pessoal, que caberiam aquele que não pode ou não quis receber a deixa. Esta formulação suscitou
a dúvida sobre se, estando o sucessor originário sujeito à obrigação de conferir por virtude da
colação, essa obrigação passa para o beneficiário do acrescer. A doutrina tem entendido que, uma
vez que nesta norma estão em causa as obrigações recebidas do de cuius e não as obrigações
pessoais do faltoso, a obrigação de conferir em resultado da colação não se pode considerar aqui
incluída. Tal é confirmado pelo facto de, no regime da colação, se prever a manutenção dessa
obrigação em caso de direito de representação (2106.º e 2114.º/2), mas não em matéria de
acrescer.
O artigo 944.º/2 prevê que a falta de uma declaração do doador não prejudica o direito de
acrescer entre os beneficiários quando o usufruto seja constituído por doação. É aplicável à doação
mortis causa o artigo 1442.º que prevê a existência de acrescer relativamente a usufrutuários
nomeados conjuntamente.
No nosso sistema o acrescer é qualificado como um direito de não decrescer. Esta situação
pode parecer clara na sucessão legal onde a lei não pressupõe uma segunda vocação do sucessível
legal para receber a parte acrescida, não sendo consequentemente essa mesma parte sujeita a
aceitação ou repúdio. Por isso, na sucessão legal, há um direito de não decrescer resultante de
uma eficácia expansiva da vocação inicial. Isto acontece igualmente na sucessão testamentária,
não se pressupondo uma nova vocação sempre que a parte acrescida não esteja onerada com
nenhum encargo especial nos termos do artigo 2306.º. Neste caso, a parte acrescida é adquirida
pelo beneficiário por força da lei, não podendo ele repudiar separadamente, não se verificando
nova vocação. Porém, verifica-se direito de acrescer em sentido estrito quando a parte acrescida
está onerada com encargo especial, tendo de haver aceitação por parte do beneficiário neste caso
(2306.º, 2.ª parte).
a) Dupla liberalidade com o mesmo objeto (poderá ser uma deixa testamentária – 2286.º
- ou ser deixada a título de herança ou um legado – 2296.º -, podendo igualmente
resultar de uma doação por morte – 1700.º/2 – ou em vida – 962.º);
b) Encargo imposto ao beneficiário da liberalidade de conservar durante a sua vida o
objeto da mesma para que este reverta por sua morte a favor do segundo beneficiário;
c) Ordem sucessiva.
5. A sucessão legítima
A sucessão legítima (2131.º) ocorre sempre que o de cuius não tenha disposto de forma
válida e eficaz da totalidade dos bens dos quais podia dispor, ocorrendo assim a título supletivo.
Tradicionalmente, a sucessão legítima é construída à volta da ideia de que corresponderia à
vontade presumida do de cuius, sendo as classes de sucessíveis hierarquizadas de a acordo com a
ordem natural dos seus afetos. Esta ideia tem sido um pouco ultrapassada, correspondendo a uma
opção do legislador em relação aos sucessíveis que devem ser chamados em caso de ausência de
testamento, tendo ainda lugar caso uma disposição testamentária seja considerada inválida
(2308.º), for revogada (2310.º) ou caducar (2317.º).
O artigo 2133.º/1 determina que a sucessão legítima se defere pela seguinte ordem:
a) Cônjuge e descendentes;
b) Cônjuge e ascendentes;
a) Preferência de classes – esta regra diz que os sucessíveis de uma classe preferem aos
sucessíveis das classes subsequentes, pelo que apenas aqueles são chamados à
sucessão (2133.º), sendo apenas chamados os sucessíveis de uma classe se nenhum
dos sucessíveis da classe anterior quiser ou puder aceitar a herança (2137.º);
b) Preferência de graus de parentesco – esta regra determina que dentro de cada classe,
os parentes dos graus mais próximos preferem aos parentes dos graus mais afastados
(2135.º), podendo, no entanto, ser posta em causa pelo instituto do direito de
representação (2138.º). O melhor exemplo será o caso de o de cuius deixar dois filho
e um neto, neste caso, os filhos são sucessíveis prioritários;
c) Divisão por cabeça – esta regra dita que os sucessíveis legítimos prioritários sucedem
em partes iguais e aplica-se entre parentes da mesma classe (2136.º), e na situação de
concurso do cônjuge com até três descendentes (2139.º). É de notar que esta regra é
aplicável mesmo nos casos de existirem colaterais que são duplamente parentes do
falecido (2148.º). Existem quatro exceções a esta regra:
i. A sucessão do cônjuge com mais de três descendentes (2139.º/1);
ii. A sucessão do cônjuge com ascendentes (2142.º/1);
iii. A sucessão dos irmãos germanos e unilaterais (2146.º);
iv. Direito de representação (2138.º).
6. A sucessão testamentária
A sucessão testamentária é uma modalidade de sucessão voluntária, resultante da
autonomia privada do testador, e consiste na espécie de sucessão em que a designação sucessória
resulta de um testamento.
• Unilateral;
• Não receptício;
• Mortis causa;
• Gratuito;
• Formal;
• Individual (apenas se admite uma pessoa como autor), exceto as seguintes exceções:
o A conversão da doação por morte em testamento (946.º/2);
o A autorização do cônjuge para a disposição de coisa certa ou determinada do
património conjugal;
o A inclusão de disposições testamentárias na convenção antenupcial.
• Pessoal (a lei não admite que possa ser realizado por um representante, por exemplo, ou
depender do arbítrio de outrem), exceto as exceções:
O artigo 2204.º refere duas formas de testamento (não sendo permitidos testamentos sem
intervenção notarial – ológrafo – ou por via oral – nuncupativo), no entanto, podemos destacar
três formas comuns de testamento:
a) O testamento público (2205.º) – testamento escrito pelo notário no seu livro de notas,
não sendo de acesso público, dada a sua natureza confidencial até à morte do testador.
O Professor Galvão Telles refere que a natureza “pública” do testamento resulta do
facto de resultar de o instrumento lavrado e lido perante pessoas cuja presença é
juridicamente indispensável, mas que poderão dar a conhecer o seu conteúdo a
pessoas interessadas nesse conhecimento;
b) O testamento cerrado (2206.º) – aquele que é elaborado e assinado pelo testador ou
por outrem em virtude de instrução sua. Para o Professor Cunha Gonçalves o
testamento tem uma parte puramente privada (o testamento em si) e outra elaboração
pública (o auto de aprovação notarial). O artigo admite três possibilidade quanto à
elaboração privada do testamento cerrado:
i. O testamento ser escrito e assinado pelo testador;
ii. O testamento ser escrito e assinado por outra pessoa a rogo do
testador;
iii. O testamento ser escrito por outra pessoa a rogo do testador e
assinado pelo testador.
É de salientar que são proibidas quaisquer disposições que não constem do documento.
O artigo 2184.º proíbe os testamentos per relationem, dizendo que não são válidas deixas em que
a disposição dependa de instruções ou recomendações feitas secretamente e assinados pelo
testador com data anterior à data do testamento ou contemporâneo desta.
• O menor não emancipado (uma vez que não se encontra razão para excluir os menores
emancipados pelo casamento, mesmo sem autorização, não impedindo os artigos
133.º e 2189.º de testar, mesmo dos bens excluídos da sua administração, no entanto,
quanto a estes últimos, os Professores Guilherme de Oliveira e Jorge Duarte Pinheiro
têm vindo a considerar a disposição sobre esses bens nula);
• O maior acompanhado quando exista determinação judicial em sentido contrário
(147.º/1), uma vez que, à partida, será um direito pessoal onde se inclui o direito de
testar (147.º/2).
O artigo 2298.º prevê a substituição quase-pupilar prevê que o progenitor possa exercer
esta faculdade na sequencia de uma sentença de acompanhamento. O artigo 2299.º determina que
a substituição pupilar se converte em substituição quase-pupilar se este for de alvo de uma
sentença de acompanhamento. Esta fica sem efeito quando cesse a limitação referida ou quando
o substituído falecer sem descendentes (2298.º/2), no entanto, a questão que surge será saber o
que acontece quando o substituído vier a falecer casado, deixando cônjuge. Os Professores
Pamplona Corte-Real, Capelo de Sousa e Cristina Araújo Dias, têm ido no sentido de considerar
que a substituição fica igualmente sem efeito, enquanto os Professores Oliveira Ascensão, Daniel
Morais e Menezes Leitão vieram a considerar que não deverá a substituição caducar, uma vez que
está em causa essencialmente uma futura transmissão dos bens deixados pelos pais deixados ao
filho.
a) Professor Oliveira Ascensão – entende que “o problema está em aberto”, uma vez
que, não havendo declaratário no testamento, não seria uma razão decisiva para
excluir a aplicabilidade da regra, se pudéssemos pensar que ela se estenderia ao
destinatário das atribuições feitas em testamento;
b) Professor Guilherme de Oliveira – tem vindo a defender que, apesar as expectativas
dos interessados e a confiança na sua satisfação devem ser menos digna de tutela,
seria exagerado afirmar que nunca se indemnizará o dano causado por uma disposição
testamentária não séria;
c) Professores Jorge Duarte Pinheiro e Menezes Leitão – entendem que, tendo caráter
não reptício, não há lugar a tal indemnização, só existindo em negócios com
declaratário.
6.4.4. Simulação
A simulação no testamento vem prevista no artigo 2200.º, sendo anulável a disposição
feita, aparentemente, a favor de uma pessoa, mas que, na realidade e por acordo com essa pessoa,
visa beneficiar outra. Este apresenta a diferença de ser anulável e não nulo, e ainda de a simulação
ser feita entre o testador e a pessoa aparentemente designada. O artigo 2200.º prevê a simulação
do testamento por interposição fictícia de pessoa, embora, por aplicação subsidiária, seja
igualmente relevante para os efeitos da anulação a existência de simulação absoluta e relativa
objetiva.
A disposição testamentária dissimulada pode vir a ser válida nos termos do artigo 241.º/2,
enquanto nos termos do artigo 2259.º/1, encontramos um caso de aplicação desta solução, tendo
em conta que se o testador pretender fazer uma liberalidade dissimulando o pagamento de uma
dívida, a lei considera válido o legado, ainda que não exista dívida, salvo se a mesma de destinar
a elidir a incapacidade de o legatário a receber por sucessão. Na falta de interposição fictícia de
pessoa, é difícil admitir-se a validade da disposição a favor de quem se pretendia, uma vez que
não há o mínimo de correspondência entre o ato dissimulado e o contexto do testamento (2187.º).
qualquer disposição testamentária contrária à vontade real do testador, feita com o intuito de
enganar qualquer pessoa, exigindo-se apenas que o testador tenha um mínimo de correspondência
no contexto do testamento (2187.º), no entanto, não admite qualquer indemnização ao beneficiário
enganado.
A questão que se colocou na doutrina foi saber se o erro na declaração gera nulidade ou
anulabilidade. O Professor Oliveira Ascensão entende resultar do preceito que a disposição não
vale em relação aqueles a que se referiam, tratando-se de uma nulidade. Já os Professores
Guilherme de Oliveira e Menezes Leitão entendem aplicar-se o regime da anulabilidade pelo
artigo 2201.º.
6.4.7. Erro-vício
Resulta do artigo 2201.º que é anulável a disposição testamentária determinada por erro.
O erro sobre os motivos resulta do artigo 2202.º, podendo ser de facto, por exemplo, alguém
referir que fez a disposição a favor daquela pessoa por este ter administrado os seus bens na sua
ausência quando isso não aconteceu, ou de direito, quando, por exemplo, alguém deixa
determinada pensão de alimentos ao seu filho, referindo que o faz porque a lei obriga os padrinhos
a prestar alimentos a afilhados.
Neste caso, exige-se ainda a essencialidade do erro sobre os motivos, ou seja, o testador
não teria feito a disposição em causa sem o mesmo, no entanto, não vigoram aqui os requisitos
do regime geral do negócio jurídico para o erro-vício, como é a cognoscibilidade e o
reconhecimento da mesma. No entanto, a lei exige que a essencialidade neste caso resulte do
próprio testamento, o que tem levantado a questão na doutrina de saber se é admitida prova
complementar relativamente à essencialidade do erro sobre os motivos:
a) Professor Oliveira Ascensão – tendo em conta que o artigo 2202.º reflete matéria
testamentária a contraposição dos artigos 251.º e 252.º para o regime geral do negócio
jurídico, pelo que apenas se aplica o regime do erro sobre os motivos que não se
refiram ao objeto da disposição ou à pessoa do beneficiário (abrangidos pelo 2202.º),
que não estabelece qualquer exigência de prova complementar;
b) Professor Pamplona Corte-Real, Jorge Duarte Pinheiro e Menezes Leitão – entendem
que o artigo 2202.º é aplicável a todo o erro-vício, excluindo-se a admissibilidade de
prova complementar em relação à essencialidade exigida para a sua anulação.
a) Professora Maria Nazareth Guimarães – considera que está incluído no erro sobre os
motivos;
b) Professores Oliveira Ascensão e Jorge Duarte Pinheiro – sendo o testamento
unilateral e não recepetício, haverá que adaptar o regime dessa disposição
testamentária viciada por erro sobre as circunstancias que fundaram a decisão de
testar;
c) Professor Menezes Leitão – concorda com a relevância deste erro, no entanto,
considera que está sujeito ao regime do artigo 2202.º, não sendo necessário adaptar o
artigo 252.º.
6.4.8. Dolo
O artigo 2201.º prevê a anulação do testamento por dolo, salientando-se que, caso seja
pratica por um beneficiário do testamento, constitui incapacidade sucessória (2034.º), sendo
mesmo assim relevante para anular o testamento. O Professor Cunha Gonçalves tem vindo a
considerar que no testamento, o dolo presente no artigo 253.º, consiste em insinuações (mentiras
ou cartas anónimas, por exemplo) contra as pessoas que o testador beneficiaria e também para se
aproximar do testador e ser beneficiado. O autor do dolo não será relevante para anulação , uma
vez que a confiança do declaratário não merece tutela, ao contrário do que acontece no regime
geral.
6.4.10. Usura
Tem sido controvertido na doutrina saber se o testamento pode ser anulado por usura
(artigo 282.º), uma vez que a lei não faz qualquer referencia a esse vicio no testamento:
A doutrina tem vindo a ter entendimentos difusos quanto à regra geral do artigo 236.º. O
artigo 2187.º afasta o critério objetivo do artigo 236.º, pelo que o Professor Jorge Duarte Pinheiro
tem entendido que se aplica só aos casos em que não seja possível aplicar o critério subjetivista
do artigo 2187.º, enquanto o Professor Menezes Leitão entende que não se deve aplicar, ao
contrário dos Professores Oliveira Ascensão e Carvalho Fernandes. Quanto à disposição do artigo
237.º, os Professores Capelo de Sousa e Jorge Duarte Pinheiro sustentam a aplicação,
considerando que, se do testamento resultarem dois sentidos igualmente ponderosas, deve adotar-
se o menos oneroso para os herdeiros, enquanto o Professor Daniel Morais entende que não será
possível adequar o preceito ao testamento.
6.7.2.2. Os legados
Estamos perante um legado quando o testador atribua ao beneficiário bens e valores
determinados (2030.º/2), sendo ainda classificado como legatário o usufrutuário (2030.º/4).
Existem quatro classificações que podemos dar aos legados:
a) Legados típicos e atípicos – esta distinção faz-se consoante o tipo de legado está ou
não regulado na lei (sendo o legado de um crédito típico, uma vez que consta do artigo
2261.º, e o legado de uma joia atípico, porque não tem regulação legal);
b) Legados per vindicationem e per damnationem – esta distinção ocorre consoante
ocorra a atribuição da propriedade ou de outro direito real, ou apenas um direito de
crédito contra o herdeiro;
c) Legados dispositivos e obrigacionais – de acordo com a definição do Professor
Galvão Telles, os legados dispositivos seriam aqueles em que a propriedade do objeto
legado se transmite diretamente para o legatário, representando uma diminuição do
ativo da herança através da disposição de bens (podem recair sobre direito existentes,
direitos novos, a constituir sobre os bens, e exoneração de obrigações em que se
perdoa uma divida ao legatário), enquanto nos legados obrigacionais a coisa só é
adquirida com o cumprimento do encargo por parte do sucessor, representando um
aumento no passivo através da constituição de obrigações;
determinadas que não é obrigado a contribuir para este encargo, a não ser que lhe
tenha sido expressamente imposto (2073.º/3);
d) O legado de crédito (2261.º) – constitui a deixa de um crédito existente na herança,
e só produz efeitos relativamente à parte que subsista no património do testador no
momento da sua morte, sendo que a obrigação herdeiro se limita à entrega ao legatário
dos títulos respeitantes ao crédito (2261.º/2). O artigo 2262.º estabelece que se deve
entender, em caso de dúvida, que o legado só compreende créditos em dinheiro,
excluídos os depósitos bancários e os títulos ao portador ou nominativos. O artigo
2263.º estabelece que o recheio da casa ou do dinheiro nela existente, são também
legados os créditos, ainda que na casa se encontrem os documentos respetivos, no
entanto, esta regra é restrita a legados do recheio referente a uma casa. A lei apenas
deixa por esclarecer saber se o legado de todos os créditos do testador se deve
entender como referente aqueles que se encontram no património aquando da feitura
do testamento ou aquando da abertura da sucessão. O Professor Cunha Gonçalves
manifestou-se no sentido da primeira opção, a título supletivo, dizendo que eram os
únicos que podia contemplar aquando da disposição testamentária, enquanto o
Professor José Tavares defende a segunda opção por constituir a última vontade do
testador. O Professor Menezes Leitão tem considerado a questão dependente de
apuramento da vontade do testador (2187.º).
6.7.2.2.3. O pré-legado
O pré-legado constitui um legado efetuado pelo testador a favor de um dos seus herdeiros
legais, testamentários ou contratuais. O artigo 2264.º estabelece que o legado a favor de um dos
co-herdeiros e a cargo de toda a herança vale por inteiro, resultando isto do facto de podermos
questionar se, ao atribuir o legado a um dos herdeiros, o testador pretendia integra-lo na sua quota
hereditária ou atribui-lo para além da mesma, consagrando-se esta última solução com a expressão
“vale por inteiro”, presumindo-se assim um acrescento à sua quota hereditária. Entende-se assim
que a deixa testamentária de bem ou valor determinado antecede e prevalece sobre a instituição
dos herdeiros, entre os quais se encontra o pré-legatário. O pré-legatário tem a faculdade de aceitar
a herança e repudiar o legado, ou vice-versa, mas apenas caso a deixa repudiada não esteja sujeita
a encargos.
Este regime passa por: instituição de uma entidade especifica para o seu cumprimento
(em principio a camara municipal, a não ser que se destinem a fins da religião católica, caso em
que é a autoridade eclesiástica); nos outros casos, incumbe ao donatário ou aos seus herdeiros, se
já tiver falecido; a lei prevê também a determinação do Ministro da Administração Interna aos
legados que impliquem a criação e estabelecimento de fundações ou organizações, ou ainda que
procedam à venda de prédios.
6.7.4.1. Condição
O artigo 2229.º confirma a possibilidade de sujeitar a instituição de herdeiro ou legatário
a condição suspensiva ou resolutiva, com algumas limitações. A principal limitação que
encontramos é a impossibilidade de condições contrárias à lei, ordem pública ou ofensivas dos
bons costumes no artigo 2230.º, sob pena da cláusula se ter por não escrita. A diferença reside no
regime entre a condição física ou legalmente impossível, em que a lei admite que o testador possa
declarar inválido o próprio negócio em virtude da não realização da condição (2230.º/1). A
condição impossível é aquela que desde o inicio insuscetível de se verificar, não correspondendo
assim ao facto futuro e incerto. A lei dá vários exemplos de condições contrárias à lei, como são
a condição captória do artigo 2231.º, do artigo 2202.º.
6.7.4.2. Termo
O testamento pode estar sujeito a termo, mas a sua admissibilidade é bastante restrita de
acordo com o artigo 2243.º, limitando a aplicação do artigo 278.º e 279.º. A lei não admite a
sujeição da instituição de herdeiro inicial nem a termo final, considerando-se as cláusulas como
não escritas (2243.º/2), implicando que o herdeiro adquire imediatamente a herança a título
definitivo. Em relação à nomeação de declaratário, a mesma pode ser sujeita a termo inicial, mas
este apenas suspende a execução da disposição, não impedindo que o legatário adquira logo o
direito ao legado (2243.º/1), exemplo do artigo 2274.º. Em relação ao termo final na nomeação
de legatário, este é igualmente proibido, considerando.se essa cláusula como não escrita, exceto
se a disposição versar sobre direito temporário (2243.º/2).
A lei manda aplicar ao legado sujeito a termo inicial o regime do legado sujeito a condição
suspensiva, podendo ser imposta pelo tribunal a prestação de caução no interesse do beneficiário
(2236.º/2), podendo ser dispensada pelo testador. Em caso de não cumprimento dessa obrigação,
o legado é posto sob administração (2237.º), que compete ao seu beneficiário, embora o tribunal
possa providenciar de forma diferente, havendo justo motivo (2238.º).
A verificação do termo suspensivo no âmbito do legado não tem eficácia retroativa, uma
vez que apenas a sua execução é suspensa, dado que o legatário adquire imediatamente o seu
direito.
7. Sucessão contratual
O artigo 2028.º/1 proíbe a sucessão contratual, o que se compreende tendo em conta que
o testamento é um ato unilateral e revogável. Estando o pacto sucessório sujeito ao artigo 406.º/1,
estaria vedada a revogação unilateral, impedindo o de cuius de alter as suas disposições. Assim,
serão apenas admitidos os pactos sucessórios previstos nas disposições legais especiais e da
possibilidade de conversão da doação por morte em testamento, prevista nos artigos 946.º/2.
a) O casamento não se celebre dentro de um ano ou venha a ser declarado inválido, salvo
o disposto para o casamento putativo;
b) Se ocorrer divórcio ou separação judicial de pessoas e bens;
c) Caso o donatário venha a falecer antes do doador.
considerando-se a disposição com caráter contratual existindo pacto sucessório (1705.º), podendo
reservar-se a faculdade de revogar, ou tal não venha a ocorrer como no caso da disposição a favor
de pessoa indeterminada ou determinada que não intervenha no ato como aceitante (1704.º),
considerando-se neste último caso com valor meramente testamentário.
a) Professores Pires de Lima e Antunes Varela – entendem que poderá, uma vez que a
natureza contratual das doações por morte não impedem o beneficiário de repudiar,
não obstando o facto de não poderem ser unilateralmente revogadas;
b) Professores Jorge Duarte Pinheiro e Menezes Leitão – entende que, tendo aceite a
proposta, à data da abertura da sucessão não adquire o direito de aceitar ou repudiar,
uma vez que já aceitou, a seu ver a solução é confirmada pelo artigo 2055.º que não
prevê o chamamento contratual;
c) Professor Daniel Morais – entende que não poderá repudiar, no entanto, nada impede
que no momento da abertura da sucessão, o mesmo possa aceitar a herança a benefício
do inventário.
8. Sucessão legitimária
A sucessão legitimária é uma modalidade injuntiva de sucessão, uma vez que o elenco de
herdeiros legitimários se encontra legalmente fixado (2157.º), mandando o legislador reservar
uma parte da herança, a legítima, a favor destes herdeiros (2156.º), não podendo o autor da
sucessão impor encargos sobre a legítima nem designar os bens que a devem integrar contra a
vontade do herdeiro (2163.º - Princípio da Intangibilidade da Legítima). O autor da sucessão só
poderá privar os herdeiros legitimários da sucessão através da deserdação (2166.º). A sucessão
legitima é uma modalidade de sucessão legal, no entanto, distingue-se da sucessão legitima quer
seja pelo universo de sucessíveis, quer seja em relação ao regime da incapacidade sucessória
(2034.º e 2166.º) quer pela forma de cálculo da legítima, estabelecendo-se institutos para tutelar
os herdeiros legitimários (a defesa contra os encargos ou legados e a redução das doações por
inoficiosidade). As regras da legitimária são examinadas para a sucessão legítima (2131.º), como
a preferência de classes (2133.º e 2134.º), a preferência de graus de parentesco (2135.º) e a divisão
por cabeça (2154.º).
8.2. A legítima
O artigo 2156.º define a legitima como a porção de bens de que o testador não pode dispor
por ser legalmente destinada aos herdeiros legitimários. A porção de bens varia consoante o
número de herdeiros legitimários (2158.º), variando ainda em consequência da consideração do
valor dos bens alienados gratuitamente pelo de cuius.
A divisão da quota faz-se de acordo com as regras da sucessão legítima (2157.º), pelo que
se aplica a regra da divisão por cabeça (2136.º), sendo esta regra quebrada no caso do cônjuge
concorrer com mais de três descendentes, uma vez que lhe é atribuído pelo menos um quarto da
quota indisponível (2139.º).
Esta divergência só terá relevância prática se a herança for deficitária, sendo que nesse
caso a Escola de Coimbra privilegia os herdeiros legitimários sobre os donatários, enquanto a
posição da escola de Lisboa faz o inverso. (VER EXEMPLO DO MANUAL – PÁGINA 300 DO
MANUAL)
A redução abrange todas e quaisquer liberalidades efetuadas pelo autor da sucessão que
determinem que os herdeiros legitimários receberão menos do que aquilo que lhes competiria a
título de legítima. São abrangidas nas liberalidades, tanto liberalidades diretas como liberalidades
indiretas, sendo exemplo destas as que são realizadas por interposta pessoa ou pagamento de
dívidas alheias feito com animus donandi. O artigo 2168.º/2 exceciona aqui as liberalidades a
favor do cônjuge sobrevivo que tenha renunciado à herança nos termos do 1700.º/1/c), até à parte
da herança correspondente à legítima do cônjuge caso a renuncia não existisse. Entende-se como
nulo qualquer negócio celebrado em vida do autor da sucessão com o propósito que afete a
intangibilidade quantitativa da legítima, tendo em conta que não é permitido que o autor, em vida,
renuncie ao direito a reduzir as liberalidades (2170.º), a mesma pode ser efetuada mesmo que o
herdeiro a ela tivesse renunciado. As liberalidades só devem ser afetadas na medida em que seja
necessário para permitir o preenchimento da legítima.
O artigo 2169.º estabelece que têm legitimidade para requerer a redução os herdeiros
legitimários e os seus sucessores (2169.º). Os Professores Jorge Duarte Pinheiro e Menezes Leitão
têm vindo a entender que têm também legitimidade os adquirentes de quinhão hereditário do
herdeiro legitimário em caso de alienação da herança e os credores do repudiante que aceitem a
herança em nome deste (2067.º). Os Professores Pires de Lima e Antunes Varela têm vindo a
entender que a questão será duvidosa tendo em conta que a lei faz questão de conceder ao próprio
herdeiro legitimário a liberdade de aceitar. Já o Professor Batista Lopes rejeita abertamente a
legitimidade dos credores do repudiante para exercer a redução.
A redução começa pelas disposições a título da herança, passando apenas para os legados
se a redução daquelas não for suficiente. O Professor Galvão Telles exceciona os legados de
usufruto de quota ou da totalidade da herança, entendendo que devem ser reduzidas
simultaneamente com a redução das disposições a título da herança. Se for suficiente a redução
das deixas, esta é efetuada proporcionalmente, tanto no caso das deixas a título da herança como
no caso de deixas a título do legado (2172.º/1), podendo o testador optar por dar preferência a
algumas das deixas (2172.º/2). As deixas remuneratórias beneficiam de preferência nos termos da
lei, sendo reduzidas em último lugar (2172.º/3). Não sendo suficiente, passamos à redução das
doações, começando-se pela última, se não for suficiente a anterior, e assim sucessivamente
(2173.º/1). Havendo várias liberalidades no mesmo ato ou na mesma data, far-se-á a redução
rateadamente, salvo se uma delas for remuneratória, caso em que beneficia igualmente de
preferência (2173.º/2 e 2172.º/3). É discutido na doutrina se esta hierarquização é imperativa ou
supletiva:
O artigo 2174.º determina que, ao contrário do que acontece na colação, onde existe
apenas uma obrigação de conferencia do valor dos bens doados, só havendo restituição do bem
em caso de acordo entre os herdeiros (2108.º/1), na redução prevê-se a restituição em espécie dos
bens doados. Assim, caso seja necessário afetar toda a disposição para preencher a legítima, os
bens devem ser restituídos aos herdeiros legitimários, e caso seja parcial, e os bens divisíveis, a
redução faz-se separando-se a parte necessária para preencher a legítima (2174.º/1), não sendo
divisíveis, se a importância da redução exceder metade, o bem será integralmente do herdeiro
legitimário e o legatário ou donatário ficará com o resto em dinheiro (2174.º/2). Caso não exceda
metade, receberão os herdeiros legitimários a importância necessária para preencher a legítima
(2174.º/2). Haverá igualmente esta restituição caso os bens tenham perecido (2175.º). Sempre que
houver lugar à restituição em dinheiro, a insolvência daqueles que, segundo a ordem estabelecida,
devem suportar o encargo da redução não determina a responsabilidade dos outros (2176.º).
Quanto aos frutos ou benfeitorias, o donatário é considerado possuidor de boa-fé até ao pedido de
redução (2177.º).
A) Cautela sociniana
Surge outra questão na doutrina que será saber quem tem legitimidade para recorrer a este
instituto. O Professor Galvão Telles recorre às regras da sociedade civil (artigo 985.º/3 e 4),
dizendo que tem de haver uma deliberação maioritária dos legitimários para se aplicar. Já o
Professor Antunes Varela, considera que caso exista divergência entre os legitimários, devemos
aplicar as regras relativas à contitularidade dos direitos sobre a mesma coisa (1406.º e seguintes).
Já o Professor Jorge Duarte Pinheiro entende que se trata de um direito que pode ser exercido por
qualquer um dos legitimários em separado e independentemente.
O que tem sido mais controverso no legado por conta da legítima, é o funcionamento das
vocações indiretas:
A natureza desta figura, isto é, se estamos perante um verdadeiro legado ou uma herança,
tem sido alvo de discussão na doutrina. Os Professores Carvalho Fernandes e Galvão Telles
seguem o entendimento de que se trata de um estatuto misto, ou seja, uma situação de herdeiro-
legatário. Os Professores Oliveira Ascensão, Armindo Ribeiro Mendes e Menezes Leitão
consideram não existir um verdadeiro legado, apenas um preenchimento da quota de herdeiro. Já
o Professor Pamplona Corte-Real defendeu que se deverá aplicar o estatuto de herdeiro, por essas
qualificações serem incompatíveis. Finalmente, o Professor Jorge Duarte Pinheiro entende que
no caso do valor dos bens determinados exceder o valor da quota, será herdeiro até ao montante
desta e legatário quanto ao remanescente. Ainda para os Professores Pamplona Corte-Real e Jorge
Duarte Pinheiro, entendem que se deve aplicar o regime da colação quanto ao excedente do
legado.
8.3.3. Colação
A colação está prevista no artigo 2104.º, constituindo um instituto privativo da sucessão
dos descendentes, pretendendo-se que as liberalidades efetuadas pelo autor da sucessão aos seus
descendentes sejam juntas à herança para garantir uma partilha igualitária. Parte-se do princípio
que o autor da sucessão, quando fez as liberalidades, não pretendia prejudicar os outros
descendentes, limitando-se a adiantar esse bem, tendo o mesmo de voltar à herança para evitar
que seja prejudicada a posição dos demais descendentes (2104.º/1).
O artigo 2105.º estabelece que estão sujeitos à colação os descendentes que eram à data,
presuntivamente, herdeiros legitimários do doador, excluindo-se o cônjuge e os ascendentes
(2175.º). Presume-se que a doação aos descendentes foi feita como antecipação do que lhe caberia
na sucessão legal, não sendo esta intenção normal quanto a outros herdeiros legitimários. O artigo
2105.º acaba por definir que estão sujeitos à colação apenas os herdeiros legitimários prioritários,
ou seja, não se incluem netos, podendo ser chamado em caso de pré-morte do pai (2039.º). A
sujeição do sucessível à colação, no entanto, não é inevitável, podendo ser afastada no caso de
este não pretender entrar na sucessão (2104.º/1). Isto implica, no entanto, a possibilidade de
redução por inoficiosidade, uma vez que a doação é imputada na quota disponível (2114.º/1), uma
vez que a doação é imputada na quota disponível (isto só não ocorre quando o donatário repudiar
sem ter descendentes – 2114.º/2). No entanto, tem sido objeto de discussão saber se também o
cônjuge deve ser chamado à colação:
• Professores Oliveira Ascensão e Capelo de Sousa - têm vindo a defender que também o
cônjuge deverá ser chamado à colação (por uma suposta lacuna depois da reforma de
1977 quando o cônjuge passa a ser herdeiro legitimário), quando concorrer com
descendentes;
• Professores Galvão Telles, Pereira Coelho, Antunes Varela, Pamplona Corte-Real, Jorge
Duarte Pinheiro, Ana Sousa Leal e Cristina Pimenta Coelho – consideram não existir
qualquer lacuna legal, baseando-se o instituto da colação numa presunção iuris tantum
(de que um pai não pretende beneficiar o filho em relação aos outros), não se aplicando
ao cônjuge, não havendo qualquer obstáculo a que o cônjuge seja beneficiado pela
colação dos descendentes;
• Professores Fernando Nogueira e Carvalho Fernandes – o cônjuge não estará sujeito à
colação, uma vez que a sua intenção será avantajá-lo em relação aos descendentes, no
entanto, não deve aproveitar da conferencia que os descendentes sejam obrigados a fazer
as quais reverterão apenas a favor dos outros descendentes, devendo interpretar-se o
artigo 2108.º/2 como referente aos descendentes e não aos herdeiros em geral (VER
EXEMPLO DO MANUAL DO PROFESSOR MENEZES LEITÃO – PÁGINA 318).
O artigo 2108.º/1 determina que a colação pode ser efetuada de duas formas:
À partida é adotada a primeira forma, tendo em conta que a segunda requer o acordo de
todos os herdeiros. Assim, deduz-se à quota da herança a que o herdeiro tem direito, o valor da
doação que recebeu. Se, mesmo assim, os bens na herança não permitirem a igualação das
posições dos diversos herdeiros, isto implica que devem ser reduzidas as doações (exceto em caso
de inoficiosidade – 2108.º/2). A redução do bem apenas ocorre se a doação exceder o valor da
legítima que caberia ao donatário. Para efetuar a imputação, tem de se atender ao valor que têm
os bens à data da abertura da sucessão (2109.º/1), enquanto que, se já não existirem por algum
motivo, atender-se-á ao valor que hipoteticamente teriam nessa data (2109.º/2). Se a doação teve
por objeto dinheiro ou envolveu encargos em dinheiro que a oneram e foram cumpridos pelo
donatário, determina-se a atualização nos termos do artigo 551.º (2109.º/3).
A colação apenas abrange o que tenha sido doado pelo autor da sucessão pelo que, se
ocorrer a doação de bens comuns por parte de ambos os cônjuges, é apenas conferida metade dos
bens doados por morte de cada um deles (2117.º/1). A lei refere que a eventual redução das
doações sujeitas à colação constitui um ónus real que incide sobre os bens doados, estabelecendo
o mesmo em relação aos bens imóveis, que não pode fazer-se o registo da doação sem se efetuar
simultaneamente o registo desse ónus (2118.º/2). Assim, evita-se que os bens sejam transmitidos
a terceiros, ficando o donatário insolvente em relação à obrigação de conferir o seu valor.
8.3.4. A imputação
Caso o autor da sucessão efetue atribuições patrimoniais gratuitas coloca-se o problema
de determinar a que quota da herança as mesmas devem ser afetas, sendo esta operação a
imputação. As formas de imputar as diversas liberalidades são:
Os descendentes estão sujeitos à colação como referido, sendo nesse caso a doação
imputada na quota indisponível (2108.º/1), salvo na parte em que a exceder, em que é imputada,
quando ao excesso, na quota disponível. A doação será imputada na quota disponível nos casos
em que não haja lugar à colação por alguma razão (2114.º/1). É mais complexa a questão da
imputação de doações feitas ao descendente único, caso em que não se justifica a colação por não
haver qualquer razão para fazer a igualação dos quinhões dos descendentes, pelo que se poderá
aplicar o artigo 2114.º/1 e imputar na quota disponível. Isto poderia levar à inoficiosidade de
disposições feitas pelo autor da sucessão a terceiros, pelo que se entende que deverão ser
imputadas na quota indisponível, uma vez que não seria a vontade do autor da sucessão.
b) Doações feitas aos descendentes que não queiram ou não possam aceitar a
sucessão
Não haverá colação relativamente às doações feitas a descendentes que repudiem ou não
tiverem descendentes que os representem, pelo que o artigo 2114.º/2 determina que a doação será
imputada na quota indisponível, criando-se uma legítima subjetiva fictícia que suporta o valor da
liberalidade. Se esta for inferior à respetiva quota legal hereditária legal, verifica-se acrescer
relativamente aos co-herdeiros, relativamente à diferença. Os Professores Pamplona Corte Real e
Jorge Duarte Pinheiro têm vindo a defender que se aplica este preceito analogicamente em caso
do herdeiro legitimário não poder ou não querer aceitar, defendendo que não existe razão para por
em causa disposições testamentárias a serem cumpridas à custa dessa mesma quota ou doações
nela imputáveis ou mais recentes, através de uma imputação da doação nessa quota. O Professor
Menezes Leitão, em defesa desta posição, argumenta ainda que se pressupõe que a doação não
tenha sido revogada por ingratidão do donatário (970.º). Já em caso de o donatário não poder
aceitar por não ter sobrevivido ao doador, a doutrina tem vindo a dividir-se, defendendo os
Professores Capelo de Sousa e Cristina Coelho a aplicação analógica do artigo 2114.º/2, enquanto
os Professores Pamplona Corte Real, Jorge Duarte Pinheiro e Menezes Leitão sustentam a
imputação na quota indisponível, entendendo que se poderá generalizar excessivamente a
aplicação do preceito.
A questão da imputação de doações feitas ao cônjuge está ligada com a questão discutida
quanto à colação. Quem defender que o cônjuge está efetivamente sujeito à colação, defenderá
naturalmente que a imputação do cônjuge se faz na quota indisponível, enquanto quem defende o
contrário, defende que se fará na quota disponível (2114.º/2), baseando-se esta tese no teor literal
do artigo 2114.º/1.
No entanto, os Professores Pamplona Corte Real e Jorge Duarte Pinheiro têm vindo a
defender que, apesar de não haver lugar a colação, a imputação deverá fazer-se na quota
indisponível, dizendo que na ausência de qualquer explicitação do doador, estas devem ser
imputadas na quota indisponível, como antecipação do preenchimento da legítima, evitando-se o
avantajamento de certos legitimários face a outros. O Professor Paulo Barbosa defende a
imputação na quota disponível, a não ser que o cônjuge concorra com descendentes sujeitos à
colação, dizendo que, nesse caso, deverá ser imputada na quota indisponível de modo a garantir
algum equilíbrio. O Professor Menezes Leitão segue o argumento literal, dizendo ainda que a lei
prevê um regime diferente para as doações do feitas ao cônjuge (o da livre revogabilidade), não
estando o cônjuge sujeito a colação, e devendo as doações ser imputadas na quota disponível
(2114.º/1).
do legado for inferior ao da legítima, a aceitação do legado implica a perda do valor da diferença
(2165.º/2).