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DIREITO DAS SUCESSÕES.

O conceito de sucessão

a) A sucessão como um efeito jurídico mortis causa

A sucessão é um efeito jurídico, mais concretamente uma aquisição (ou


vinculação) mortis causa. Quer isto dizer que a morte de alguém é, em
conjugação com os chamados factos designativos, o facto gerador ou
determinante, “a causa ou concausa” da aquisição de bens (ou da vinculação)
de sucessíveis. De acordo com a noção analítica e vincadamente estrutural, a
sucessão mortis causa, dá-se quando a pessoa falecida é substituída por uma
ou mais pessoas vivas na titularidade das suas relações jurídico patrimoniais,
com a consequente devolução dos bens que lhe pertenciam, através de um
processo escalonado ou progressivo que se concretiza por quatro elementos
distintos:

1. A morte do titular das relações jurídicas patrimoniais, como pressuposto


necessário da substituição operada;

2. O chamamento (ou vocação do sucessor);

3. A subsequente devolução dos bens;

4. A manutenção da identidade das relações jurídico-patrimoniais


compreendidas na herança, a despeito da mudança operada nos seus
titulares.

A sucessão mortis causa, aberta com a morte do de cuius, principia


realmente por um acto de chamamento do sucessor, que o art. 2024.º CC
caprichou em destacar, para afastar decididamente a ideia de que a sucessão
hereditária seja considerada pelo Direito como uma simples transmissão ou
transferência de bens de uma pessoa (falecida) para outra (que lhe sobrevive).

b) A sucessão: noção de transmissão

A transmissão é uma transferência de direitos e obrigações da esfera


jurídica do titular para a de outro, direitos e obrigações que mantêm na
esfera do transmissário a sua identidade jurídica.
O conceito de sucessão é o que vem descrito no Artigo 2024.º

Artigo 2024.º
Das sucessões em Geral
(Noção)

Diz-se sucessão o chamamento de uma ou mais pessoas á titularidade ds


relações jurídicas patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente
devolução dos bens que a esta pertenciam.

Primeiro sector da doutrina: A sucessão é vista como uma


harmonização mortis causa ou seja, existem determinados direitos e
obrigações que se encontravam na esfera jurídica do de cujus , e , devido a
morte deste, estes direitos e obrigações deixam de estar nesta esfera jurídica.
Para este sector da doutrina, estes direitos e obrigações transferem-se da
esfera jurídica do de cujus para a esfera jurídica dos seus sucessores. Devido à
morte, os direitos e obrigações mudam de titular.

Segundo sector da doutrina: a morte faz extinguir a personalidade


jurídica do de cujus e, portanto, alguém tem que ocupar a posição de de cujus
que foi deixada vaga, ou seja, não são os direitos e obrigações que mudam de
titular, pelo contrário o titular é que é substituído.

CONCLUSÃO

Tanto para um sector da doutrina como para outro, a sucessão será sempre
uma aquisição mortis causa; ou seja, é a morte de uma determinada pessoa que
faz com que os bens dessa mesma pessoa sejam adquiridos por outrem.

Ex: venda com reserva de propriedade até a morte do alienante. Para a


sucessão, o fundamento de aquisição tem de ser a morte.

OBJECTO E ÂMBITO DA SUCESSÃO.

2025.º C.C
(Objecto da sucessão)
1. Não constituem objecto de sucessão as relações jurídicas que devam
extinguir-se por morte do respectivo titular, em razão da sua natureza
ou por força da lei.
2. Podem também extinguir-se à morte do titular, por vontade deste, os
direitos renunciáveis.

Ao determinarmos o objecto da sucessão pretendemos aferir as situações


jurídicas que são transmissíveis por morte e as que não são. Para tal, temos de
efectuar uma distinção prévia entre situações jurídicas de carácter patrimonial
e situações jurídicas de carácter pessoal.

SITUAÇÕES JURÍDICAS DE CARÁCTER PATRIMONIAL.

Em determinados casos a lei determina a intransmissibilidade dessas


situações, nomeadamente nos seguintes casos:
1 Direito de usufruto;
2 Direito de uso e habitação;
3 Direito a alimentação;
4 Direito de preferência convencional.

Para além desses casos em que a lei determina intransmissibilidade, existem


também alguns direitos de carácter patrimonial que se extinguem devido a
vontade dos interessados e não directamente através da lei. Para tal temos de
analisar o artigo 2025.º

O artigo 2025.º efectua uma delimitação negativa do objecto da sucessão; ou


seja, não diz aquilo que se transmite, refere sim, aquilo que não se transmite;
ou seja, tudo quanto não for excluído pela lei pode ser transmitido.

O artigo 2025.º tem todavia, uma dificuldade de interpretação. O artigo fala


em relação jurídica que se extingue com a morte por uma de duas vias.

1. Em razão da sua natureza


2. Por força da lei.

Temos de saber quando é que estamos em presença de uma ou de outra.


Querela.

PR. GALVÃO TELES.

Quando o legislador diz “em razão da sua natureza” significa que estamos
perante uma norma imperativa, que não pode ser afastada pela vontade das
partes.
Quando o legislador diz “ por força da lei”, tal significa que estamos perante
uma norma supletiva, ou seja, em princípio, a lei proíbe a transmissão, mas, se
o de cujus quiser estipular o contrário, poderá fazê-lo.

PR. ESPINOSA GOMES DA SILVA

Quando o legislador diz “em razão da natureza” refere-se a direitos intuitus


personae; ou seja, são direitos que mesmo que a lei dissesse que se
transmitiam por sucessão, tal não poderia acontecer, porque isso seria
incompatível com a natureza do direito.

Quando o legislador diz “por força da lei”, trata-se de situações jurídicas em


que a lei dispõe daquele modo, mas, poderia ter disposto de outro, o legislador
entendeu que essas relações jurídicas não devem ser transmissíveis, mas tal,
nada tem a ver com a natureza do direito em causa. Trata-se de mera política
legislativa.

E x: o artigo 420.º C.C diz que o direito de preferência convencional não se


transmite por morte. O legislador assim o fez porque entendeu que era melhor,
mas não há nada na natureza do direito de preferência que impeça que o
mesmo seja transmitido por morte.

A opinião do Professor da cadeira é a de que é mais sustentável a opinião do


Pr. Espinosa Gomes da Silva.

Artigo 2025.º
2.Podem também extinguir-se à morte do titular, por vontade deste, os
direitos renunciáveis.
Pr. GALVÃO TELES.

Diz que esse preceito não faz sentido porque a intransmissibilidade por morte
não pode ser convencionada. Ou seja, não pode existir um contrato que diga
que não serão transmitidos por morte determinados bens.

PARA O PR. PAMPLONA CORTE-REAL.

Para ele, neste artigo, a lei admite que os titulares dos direitos possam
determinar unilateralmente a sua intransmissibilidade por morte. A lei admite
que o titular de um determinado direito possa convencionar, porque se se pode
renunciar a um direito também se pode determinar que este se extinga por
morte do titular.
Caso contrário, o que o de cujus poderia fazer era momentos antes de morrer,
renunciava ao direito, o direito saia da sua esfera jurídica e, assim, já não era
transmitido.

NOSSA POSIÇÃO: temos dúvida em relação a esse dois entendimentos.

Em relação a posição do Pr. Galvão Teles, é certo que a intransmissibilidade


por morte não pode ser convencionada, todavia, tal não faz com que o artigo
2025.º n.º 2 deixe de ter sentido. Nada obsta a que os titulares dos direitos
determinados unilateralmente a sua intransmissibilidade por morte.

Em relação a posição do PR. Pamplona Corte-Real


Não é correcto afirmar que o titular do direito pode convencionar a sua
intransmissibilidade desde que o direito em causa se trate de um direito
renunciável. Não é correcto porque os pactos sucessórios, ou seja, os contratos
relativos a sucessão por morte estão proibidos por lei. Nesta parte, o Pr.
Pamplona esta errado.

CONCLUSÃO FINAL.

O artigo 2025.º n.º 2 refere-se apenas ao facto de os titulares de determinados


direitos poderem unilateralmente determinar a sua intransmissibilidade por
morte. Todavia, para tal, terão de estar em causa direitos renunciáveis.
SITUAÇÕES JURÍDICAS DE CARÁCTER PESSOAL

Tratam-se de situações insusceptíveis de avaliação pecuniária; ou seja, não


podem ser quantificadas em dinheiro.

São por ex:


1 Direitos de personalidade
2 Direitos familiares
3 Direitos de carácter político.

Esses direitos não são transmissíveis por morte. No entanto, há algumas


situações duvidosas, constantes nos artigos 71 n. 1 e 2; 73 e 75. Em todos
esses casos, parece ter existido a transmissão por morte de uma situação
jurídica de carácter pessoal; ou seja, parece que o falecido tinha determinados
direitos de carácter pessoal e que esses direitos se transmitiram para os seus
sucessores. No entanto, toda a doutrina considera que não há transmissão. Não
se tratam de direitos de carácter pessoal que se transmitem, mas sim, de
direitos novos que surgem na esfera jurídica dos familiares ou herdeiros.

Por ex: Direito ao bom nome.

Não se trata da transmissão do direito ao bom nome do de cujus para os seus


familiares, trata-se sim do direito que os familiares têm de não ver o nome de
um ente querido já falecido a ser ofendido; ou seja, é um direito que desde o
princípio pertence aos familiares. É um direito que nasce na esfera jurídica dos
familiares. Para o de cujus, em termos jurídicos já não tem qualquer relevância
que o nome ou a sua imagem venha a ser difamada, ma media em que ele já
não tem personalidade jurídica.

Para os familiares do de cujus é relevante que a memória de um ente querido


seja difamada. Tal facto é motivo para danos morais, inclusivamente, a sua
própria honra e bom nome podem ser postos em causa.
Como conclusão, não há transmissão por morte na situação de carácter
pessoal, existem sim direitos novos (direito de não verem a memória de um
ente querido ser ofendida) que surgem na esfera jurídica dos familiares.
CASO PRÁTICO.

Ambrósio ao sair da discoteca é assaltado por B que tem como arma uma
seringa com VIH-SIDA. Ambrósio oferece resistência e B espeta-lhe a seringa
injetando o seu conteúdo. Dois anos depois, Ambrósio vem a falecer.
Quid Iuris

INDEMNIZAÇÃO DO DANO MORTE.

Relativamente a esta temática levantam-se duas questões

1. Será que a vítima tem direito a receber a indemnização pela sua morte
2. Se eventualmente a vítima tiver direito adquirido a receber a
indemnização a quem é que a mesma será transmitida

Vamos analisar quatro argumentos no sentido de que o de cujus não pode


beneficiar de uma indemnização decorrente do dano morte.

1. Antigo e ultrapassado – o bem vida não pode ser avaliado


pecuniariamente; portanto, não existirá direito a indemnização para o bem
vida.

2. Não faz sentido atribuir a vítima uma indemnização na medida em que


ele nunca poderá beneficiar da mesma.

3. A vítima não pode receber nenhuma indemnização porque já não tem


personalidade jurídica.

4. Caso se aceitasse que a vítima tem direito a receber a indemnização pela


morte, cujo objectivo era transmitir essa indemnização aos seus herdeiros,
os herdeiros iriam receber duas indemnizações pelo mesmo facto.

1 Primeira, a indemnização que era adquirida pela vítima, depois


transmitida;
2 A indemnização atribuída pelo sofrimento causado pela morte de um
familiar próximo.

Argumentos no sentido de que a vítima pode receber indemnização pela


sua morte.
1. É certo que a vida não é avaliada em dinheiro, mas, é melhor
indemnizar do que não fazer nada.

2. Se se indemnizam danos menos graves como são as ofensas


corporais, por maioria de razão, também se deverá indemnizar o dano mais
grave que é a morte.

3. Para o Pr. Galvão Teles – “o argumento que diz que a pessoa não
pode receber a indemnização porque já não tem personalidade jurídica não
procede; não procede porque a morte é o último momento da vida.
Portanto, quando a pessoa começa a morrer ainda está viva, e,
consequentemente, possui personalidade jurídica. A maioria da doutrina
discorda deste entendimento. Para a maioria da doutrina há
incompatibilidade lógica entre a morte e a vida; ou seja, a morte começa
quando a vida termina; não há um campo de intercepção.

4. Para o Pr. Vaz Serra – “o que determina o direito a indemnização não é o


dano, mas sim o facto ilícito. O facto ilícito ocorre quando se provoca a
morte a alguém, quando se provoca a morte a pessoa ainda está viva, logo,
tem personalidade jurídica, logo pode receber a indemnização. Esta teoria
tem um erro de base que é o seguinte: o facto ilícito neste caso é
precisamente a morte e, quando a morte começa já não há vida, não há
personalidade jurídica e, sem ela, não se pode receber a indemnização.

5. Para o Pr. Leite Campos – “o momento decisivo para se atribuir a


indemnização é o início do dano. Defende a teoria de que quando começa a
morte ainda há vida, havendo vida, há personalidade jurídica, havendo
personalidade jurídica, há direito a indemnização.

Crítica a esta posição – A esta posição faz-se a mesma crítica formulada a


posição do Pr. Galvão Teles.

Analise do artigo 496. º n.º 2 em contraposição ao artigo 2133.º ambos do


C.C

Artigo 496.º
(Danos não patrimoniais)

2. Por morte da vítima, o direito à indemnização por danos não patrimoniais


cabe, em conjunto, ao cônjuge não separado judicialmente de pessoas e
bens e aos filhos ou outros descendentes; na falta destes, aos pais ou outros
ascendentes; e, por último, aos irmãos ou sobrinhos que os representem.

3. O montante da indemnização será fixado equitativamente pelo


tribunal, tendo em atenção, em qualquer caso, as circunstâncias
referidas no artigo 494.º; no caso de morte, podem ser atendidos não
só os danos não patrimoniais sofridos pela vítima, como os sofridos
pelas pessoas com direito a indemnização nos termos do número
anterior.

A doutrina dominante vê esta indemnização como um direito concedido “ab


initio” aos familiares do de cujus; ou seja, trata-se de uma indemnização que
decorre do facto de se ter causado um grande sofrimento a alguém devido a
perda de um ente querido; ou seja, o que se irá indemnizar é o sofrimento de
se perder alguém e não a morte propriamente dita. Assim sendo, esta
indemnização trata-se de um direito que nasce na esfera jurídica dos familiares
do de cujus. Não se trata, portanto, de uma indemnização que entra na esfera
jurídica do de cujus e que é transmitida por via sucessória aos seus herdeiros
ou familiares.

O artigo 496.º n.º 3; apenas nos interessa a parte final: “em caso de morte...”,
podem ser atendidos não só os danos não patrimoniais sofridos pela vítima,
como os sofridos pelas pessoas com direito a indemnização nos termos do
número anterior”.

O artigo 496.º n.º 3 in fine, levanta algumas dificuldades de interpretação,


sobretudo para o sector da doutrina que entende que a vítima não tem direito a
indemnização pela sua própria morte.

EIS A QUERELA.

PARA O PR. GALVÃO TELES.

Defende que a vítima tem direito a indemnização pela sua própria morte,
portanto, para este Pr., o artigo 496 n. 3 fala da existência de duas
indemnização:
1 Trata-se da indemnização que a vítima recebe devido aos danos não
patrimoniais causado pela sua própria morte. Esta indemnização será
transmitida aos seus sucessores pela via sucessória; ou seja, de acordo
com a ordem que se encontra no artigo 2133 C.C
2 Trata-se de uma indemnização por direito próprio que é atribuído aos
familiares da vítima em virtude do sofrimento causado pela perda de um
ente querido. Esta indemnização será atribuída às pessoas que constam
do artigo 496 n. 2; ou seja, de acordo com a seguinte ordem:

1. Cônjuge e descendente;
2. Ascendente;
3. Irmãos ou sobrinhos caso estes exerçam o direito de
representação.

POSIÇÃO DO PR. SPINOZA GOMES DA SILVA E DO PR. PEREIRA


COELHO.

Para estes autores, não estão em causa duas indemnizações, mas apenas uma.
Só há indemnização que é atribuída às pessoas que constam do artigo 496 n.2.
Todavia, para se calcular o valor desta indemnização vai se ter em
consideração:

1. Os danos referidos nas pessoas no artigo 496 n.2 devido ao facto de


terem perdido um ente querido.
2. Os danos sofridos pela própria vítima; ou seja, trata-se de uma só
indemnização, mas com duas parcelas. Esta posição é criticável por
duas razões:

• Pretere as regras da responsabilidade civil, na medida em que


ninguém pode ser indemnizado por um dano sofrido por outrem.
As pessoas só são indemnizadas pelos danos que elas próprias
sofrem;
• Como as pessoas que recebem a indemnização são apenas
aquelas que constam do artigo 496 n.2; ou seja, cônjuge,
descendente, ascendente, irmão ou sobrinhos, caso não existam
estas pessoas, também não existirá indemnização. Assim sendo, o
bem vida em termos civis será tutelado ou não, caso existam ou
não existam determinadas pessoas. Isto não parece aceitável, o
bem vida é um bem supremo, tem que ser tutelado por todas e em
quaisquer circunstâncias.
POSIÇÃO DO PR. PAMPLONA CORTE-REAL.

Para o Pr. Pamplona, o artigo 496 n.3 refere-se a dois tipos de danos, e,
consequentemente, a duas indemnizações:
1. São os danos não patrimoniais sofridos pela própria vítima que não o
dano morte, neste caso, será a própria vítima a receber esta
indemnização.
2. São os danos não patrimoniais sofridos pelos familiares da vítima em
virtude da perda de um ente querido; ou seja, o artigo 496 n.3, aplica-se
a situações em que existe um lapso de tempo entre a lesão que vai
provocar a morte e a própria morte (este ponto, não se aplica quando a
morte é extantânea).
A vítima não vai ser indemnizada pela sua própria morte, mas sim, pela
presciência da mesma na medida em que causa sofrimento de saber-se que
devido a actuação de um terceiro se vai morrer mais cedo do que se
imaginava. No entanto, este sofrimento é um dano não patrimonial que deverá
ser indemnizado.

A VÍTIMA DEVERÁ SER INDEMNIZADA POR DUAS VIAS:

1. Pelo sofrimento causado pela presciência da morte, que são os danos


morais;
2. Pelos danos ocorridos quando a morte não é extantânea. Também
existem os danos patrimoniais. O direito a esta indemnização nasce na
esfera jurídica da vítima sendo depois transmitido aos familiares do
falecido. A transmissão será feita às pessoas constantes do artigo 496
n.2 e não as constantes do artigo 2133.º
O Pr. Pamplona Corte-Real defende a sua posição com base no termo
“podem” constante no artigo 496 n.2. O artigo diz “podem” porque quando a
morte for extantânea, ou seja, quando não existir um lapso de tempo entre a
lesão, quando não existir e a própria morte, não existirá lugar a esta
indemnização.

POSIÇÃO DO PR. OLIVEIRA ASCENSÃO.

Tem uma posição muito semelhante a do Pr. Pamplona, ou seja, diz que o
artigo 496 n.3 diz respeito a indemnização atribuída a própria vítima quando
ocorre um lapso de tempo entre o facto que da origem a morte e a própria
morte. Todavia, esta indemnização deve ser transmitida pela via sucessória
normal e não às pessoas constantes no artigo 496 n.2; ou seja, deve ser
transmitida de acordo com a ordem constante do artigo 2133.

A posição mais aceitável é a do Pr. Oliveira Ascensão, por duas razões:


1. O que defende que não é a própria vítima que beneficia da
indemnização da sua própria morte.
2. Porque a indemnização que advém da existência de um lapso de tempo
entre o facto que dá origem a morte e a própria morte, será sempre
transmitida, quer existam ou não as pessoas do artigo 496.º n.º 2, na
medida em que será transmitida por via sucessória normal. Esta é a
única falha cometida pelo Pr. Pamplona, atribuir indemnização
unicamente às pessoas constantes no artigo 496.º n.º2

DISTINÇÃO ENTRE HERDEIRO E LEGATÁRIO

Existem duas espécies de sucessores, ou seja, os herdeiros e os


legatários.
O artigo 2030, nomeadamente nos seus números 2 e 3, diz-nos como é
que podemos distinguir estas duas figuras.

HERDEIROS – são aqueles que sucedem na totalidade ou numa quota


do património do falecido, nos termos do 2030,2.

Noção legal de quota – é uma fracção abstracta do património a


que corresponde uma relação numérica, vg 1/ 3 ; metade, 10%.

É também herdeiro o que sucede no remanescente dos bens do


falecido, desde que não haja especificação destes. Vg: deixo a casa aos meus
familiares e o remanescente ao meu amigo X.

LEGATÁRIO – é aquele que sucede em bens ou valores determinados.


Vg. deixo a minha casa aos meus amigos; eu deixo um milhão de kwanzas ao
meu amigo.

Situações duvisosas

1ª Situação duvidosa: O de cujus faz um testamento, no qual atribui


todos os seus bens especificadamente à mesma pessoa. Vg. o de cujus diz o
seguinte: deixo ao meu amigo Sebastião a minha casa de férias no Lubango, a
minha casa na Mutamba, o meu automóvel, os meus créditos bancários, etc,
ou seja, através de deixas que contêm bens determinados, o autor da
sucessão deixa a totalidade do seu património. (parece herdeiro porque
deixa todo o património; mas deixa bens determinados o que parece ser
legatário).

Galvão Teles diz que nesta situação estamos perante um legatário,


porque, embora o artigo 2030 se refira à totalidade do património para atribuir
a qualidade de herdeiro, o que o legislador na realidade pretende dizer é a
universalidade, ou seja, o património como um todo. E o que aconteceu neste
caso concreto foi uma mera coincidência, ou seja, os bens deixados pelo
autor da sucessão coincidiram com a totalidade do património. Mas, podiam
não ter coincidido.
(A pessoa que é instituída nestas deixas, na verdade é legatária. Porque
se tivesse o estatuto de herdeiro, ele diria que receberia a totalidade da
herança. O que aconteceu é que coincidiu, pois podia não ter coincidido) -

NOSSA POSIÇÃO:

O que é importante é saber qual foi a vontade do testador, ou seja,


vamos ter que fazer a interpretação desta vontade. Se a vontade do testador foi
a de deixar bens determinados, estamos perante o legatário. Se a vontade do
testador foi a de deixar a totalidade do seu património, nesse caso, estamos
perante um herdeiro. (Temos de fazer uma análise casuística).

2ª Situação duvidosa: Desdobra-se em duas.

É a seguinte: diz-se herdeiro todo aquele que suceder numa quota do


patrimônio. Esta qualificação levanta duas questões:

Primeira: poderá esta quota ser preenchida com bens determinados?

Segunda: será que se pode deixar um bem determinado, dizendo que o


valor desse bem corresponde a uma quota da herança?

Vamos analisar estas duas situações:

Primeira situação: o autor da sucessão deixa uma quota, mas quer que
esta quota seja preenchida com determinado bem. Por exemplo: o autor da
sucessão diz: deixo ao Joel, meu grande amigo, um quinto do meu património,
mas quero que esse um quinto seja preenchido com a minha casa no Waku
Kungu.

O professor Oliveira Ascensão diz que o autor da sucessão não pode


fazer uma deixa deste género porque isso seria subverter o princípio que
distingue o herdeiro do legatário, e, portanto, se eventualmente se admitisse
esta deixa, o critério de distinção entre o herdeiro e o legatário ficaria
desprovido de sentido.

Uma deixa deste género só é admitida num único caso que vem
expressamente previsto na lei e que se trata do instituto do legado por conta
da legítima. 2163.

(Há herdeiros que devem receber sempre alguma. Há uma parte da


herança que o autor da sucessão não pode dispor dela: a legítima subjectiva. O
autor da sucessão pode dizer que deixo um carro ao filho para preencher a sua
legítima subjectiva. Este é o único caso, segundo O. Ascensão).

Os professores PAMPLONA CORTE - REAL E PEREIRA


COELHO dizem que esta situação pode perfeitamente verificar-se. O autor
da sucessão pode deixar uma quota, e determinar quais são os bens que
preenchem essa quota. Nesse caso, como estamos no âmbito da sucessão
testamentária, a pessoa que vai ser beneficiada com a deixa não poderá dizer:
“eu quero receber a quota, mas não quero que ela seja preenchida com o bem
determinado. Quero, antes, dinheiro, no valor correspondente a esta quota.”
Como estamos no âmbito da sucessão testamentária, a vontade do autor da
sucessão deverá prevalecer. Já não seria assim se estivéssemos perante a
sucessão legitimaria.

Esta situação é admissível. Estamos perante um instituto em concreto


que é herança “ex re” certa ou legado por conta da quota. Quem beneficie
duma deixa deste género é herdeiro e não legatário.

Surgem dois problemas:


- o quê que acontece se existir uma discrepância entre o valor da quota e
o valor do bem?

Respondendo a esta questão, se o valor do bem for inferior ao valor da


quota, como nos encontramos diante de um herdeiro, o beneficiário da deixa
tem direito à diferença. (se fosse legatário não).

Se o valor do bem for superior ao valor da quota, o beneficiário deve


receber o bem porque essa foi a vontade do testador.

TUDO ISTO PARA RESPONDER SE A QUOTA PODIA OU NÃO SER


PREENCHIDA COM DETERMINADO BEM.

Segunda situação: saber se se pode deixar um bem determinado,


dizendo que se pretende que o respectivo valor desse bem equivalha a uma
quota. Por exemplo, o autor da sucessão diz: deixo o meu carro ao meu amigo
Nuno, e quero que ele valha como uma quota correspondente ao seu valor.

1ª Será que isto se pode fazer ou não? Colocam-se duas questões: será
estaremos realmente na presença de uma quota?

2ª Podemos admitir que esta deixa corresponda a uma quota e que,


portanto, o sucessor em causa seja qualificado como herdeiro?

A RESPOSTA É SEMPLES: NÃO, não é possível para uma e para


outra. PORQUÊ? Não é possível, porque se fosse, todos os legados podiam
ser considerados como heranças, na medida em que todos eles
correspondem a uma certa quota da herança. E assim sendo, deixaria de
fazer sentido a distinção entre legado e herança.

Nesta segunda situação estamos perante um legado e não perante uma


herança.

VAMOS INTERPRETAR AGORA O ARTIGO 2030.º n.º 3.

Artigo 2030.º
3. É havido como herdeiro o que sucede no remanescente dos bens do
falecido, não havendo especificação destes.

É herdeiro aquele que sucede no remanescente dos bens do falecido.


Suponhamos que o autor da sucessão designou alguns legatários, não esgotou
a herança com as deixas feitas a estes legatários, e deixou o que sobrou para
outra pessoa. Essa pessoa será herdeira.
Vg. O autor da sucessão faz um testamento no qual diz: “deixo o meu
imóvel a B, o meu automóvel a C, e o que sobrar dos meus bens eu quero que
seja doado a D.

Aquilo que D vai receber corresponde a uma quota, na medida em que


existe um grau de indeterminação, ou seja, não se sabe quanto é que D vai
receber. Logo, D vai receber uma quota abstracta e, consequentemente, D é
herdeiro. Aquilo que D vai receber é tão indeterminado que D até pode não
receber nada. Basta, para tal, que o autor da sucessão quando morra não tenha
mais nada no seu património, senão o imóvel e o automóvel.

Portanto, o remanescente é aquilo que fica depois de ser feita a


atribuição de bens determinados. Todavia, não é necessário que a deixa
comece pelos bens determinados. O autor da sucessão pode, por exemplo,
dizer o seguinte: deixo os meus bens a B, mas o meu imóvel será para C e o
meu automóvel para D. Neste, quem foi instituído foi B, apesar de ele ter sido
o primeiro a ser nomeado pelo autor da sucessão.

AS DEIXAS CATEGORIAIS

Tratam-se de deixas de bens determinados que esgotam a totalidade do


património do autor da sucessão, ou seja, são deixas em que o autor da
sucessão divide todo o seu património em duas grandes categorias, atribuindo
uma a uma pessoa e a outra a outra pessoa diferente.

Vg. o autor da sucessão diz: deixo todos os meus bens imóveis ao César
e todos os meus bens móveis ao Edson. Coloca-se a questão: são deixas a
título de herança ou são deixas a título de legado? Qual é a sua natureza?

1ª Posição = Pr. Galvão Teles.

Diz-nos que essas deixas são deixas a título de legado porque os sucessores
vão receber bens determinados.

Pr. Pamplona Corte-Real

Dizem que são deixas a título de herança porque o autor da sucessão não quis
atribuir bens determinados. O que ele quis foi dividir o património por duas
pessoas. O autor poderia ter dito algo deste género: “deixo todos os meus bens
móveis a A e o remanescente a B”. Pelo menos B seria sem qualquer dúvida
herdeiro na medida em que seria instituído no remanescente.

Nesta situação de deixas categoriais, uma das deixas é sempre o remanescente


da outra porque se o autor da sucessão divide o seu património em duas
grandes categorias, uma delas é sempre o remanescente da outra. Ora, se uma
é o remanescente da outra, ambos os sucessores são instituídos no
remanescente e, assim sendo, nos termos do artigo 2030.º n.º 3 “ambos os
sucessores são herdeiros”.

Artigo 2030.º
3. É havido como herdeiro o que sucede no remanescente dos bens do
falecido, não havendo especificação destes”.

Para a Dra. Cristina Coelho = ( É a posição mais acertada)

Estas deixas são deixas a título de legado porque o autor da sucessão teve
como objectivo atribuir a A apenas os bens imóveis e, atribuir a B apenas os
bens móveis.
Se considerarmos estas deixas como deixas a título de herança, caso um deles
não possa ou não queira receber a respectiva deixa, devido ao instituto do
direito de acrescer, o outro iria beneficiar dessa deixa e assim sendo seria
preterida a vontade do autor da sucessão. Como estamos no âmbito da
sucessão testamentária tal não pode acontecer porque a vontade do autor da
sucessão tem de prevalecer.

Artigo 2030.º
4. “ O usufrutuário, ainda que o seu direito incida sobre a totalidade do
património, é havido como legatário”.

Quem é constituído no usufruto será sempre legatário. Pode se tratar do


usufruto de um bem determinado ou do usufruto da totalidade do património.
O sucessor será sempre legatário.

Artigo 2030.º
5. “A qualificação dada pelo testador aos seus sucessores não lhes confere o
título de herdeiro ou legatário em contravenção do disposto nos números
anteriores”.

A qualificação que o testador dá aos seus sucessores como herdeiros ou


legatários não pode prevalecer sobre a qualificação dada pela lei através do
artigo 2030. Ou seja, o artigo 2030 trata-se de uma norma imperativa ou
injuntiva.

Ex: O testador não pode dizer: “deixo a B um terço do meu património e


quero que ele seja tratado de acordo com o estatuto de legatário”.

Este sucessor, não obstante ter sido designado como legatário, terá de ser
tratado como o herdeiro, na medida em que recebeu uma quota abstracta e, de
acordo com o artigo 2030 n. 2 é herdeiro. O testador também não pode dizer:
“deixo a B o meu automóvel e quero que ele seja tratado como meu
herdeiro”.
Se o sucessor recebeu um bem determinado, tem de ser aplicado o estatuto de
legatário e não de herdeiro.

1° DIFERENCA DO ESTATUTOS LEGAIS DO HERDEIRO E DO


LAGATÁRIO

RESPONSABILIDADE PELOS ENCARGOS DA HERANÇA

Artigo 2068
(Âmbito da herança)
“A herança responde pelas despesas com o funeral e sufrágio do seu autor,
pelos encargos com a deixa testamentária, administração e liquidação do
património hereditário, pelo pagamento das dívidas do falecido, e pelo
cumprimento dos legados”.

Os legados são apresentados como encargos da herança. Logo, podemos tirar


a ilação de que os responsáveis pelos encargos da herança são os herdeiros e
não os legatários.

ORDEM DE SATISFAÇÃO DOS ENCARGOS DA HERANÇA


Artigo 2070.º n.º 2.

Para aferirmos a ordem de satisfação dos encargos da herança, temos de


conjugar os artigos 2070.º n.º 2 com o artigo 2068; através dessa conjugação,
podemos ver que a ordem de satisfação dos encargos é a seguinte:

Artigo 2070.º
(Preferência)
2. Os encargos da herança são satisfeitos segundo a ordem por que vêm
indicados nos artigos 2068.º

1. Despesa com o funeral.


2. Encargos com a administração da herança.
3. Dívidas do falecido.
4. Legados.

Só se passará para o próximo encargo caso existam na herança bens


suficientes para satisfazer os antecedentes.
Ex: Se a herança for tão pequena que se esgota com as despesas do funeral e
com os encargos da administração, as dívidas do falecido e os legados ficam
por satisfazer.

A responsabilidade do herdeiro é uma responsabilidade limitada; ou seja,


encontra-se limitado aos bens da herança. Assim sendo, caso exista uma
herança deficitária; ou seja, uma herança cujo passivo é superior em relação o
activo, em princípio, o herdeiro não responderá com os seus próprios bens
pelas dívidas da herança.

EXISTEM DUAS MODALIDADES DE ACEITAÇÃO DA HERANÇA.

Cada uma destas modalidades tem um regime diferente de responsabilidade


pelos encargos. As duas modalidades são:
1 Aceitação da herança a benefício de inventário;
2 Aceitação da herança pura e simples.

Consoante esteja em causa uma ou outra modalidade, assim será o regime de


responsabilidade pelos encargos.

Artigo 2071.º
(Responsabilidade do herdeiro)

1. Sendo a herança aceita a benefício de inventário, só respondem pelos


encargos os bens inventariados, salvo se os credores ou legatários
provarem a existência de outro bens.

2. Sendo a herança aceita pura e simplesmente, a responsabilidade pelos


encargos também não excede o valor dos bens herdados, mas incumbe,
neste caso, ao herdeiro provar que na herança não existem valores
suficientes para cumprimento dos encargos.

1. Herança aceita a benefício de inventário.

Só os bens que constam do inventário é que irão responder pelas dívidas da


herança. Todavia, pode acontecer que os herdeiros como não querem pagar
a totalidade do imposto sucessório não indiquem certos bens, ou seja,
certos bens que pertencem a herança não são colocados no inventário de
forma a se fugir aos impostos.
Se os credores da herança forem conhecedores dessa situação podem alegar
que existem mais bens pertencentes a herança. Todavia, serão os credores
da herança que terão de provar que esses bens existem e que não constam
do inventário. Ou seja, o ónus da prova é dos credores da herança.

2. Herança aceita pura e simplesmente.

Neste caso também são só os bens da herança que respondem pelos


encargos da mesma. Todavia, será o herdeiro que aceitou a herança que
terá de provar que os bens da herança não são suficientes para cobrir os
encargos; ou seja, verifica-se aqui uma inversão do ónus da prova.
Portanto, não são os credores da herança que têm de provar que os bens da
herança são suficientes para fazer face aos encargos, pelo contrário, é o
herdeiro que aceitou a herança que tem de provar que os bens da mesma
são insuficientes para responder pelas dívidas desta.

O QUE É QUE SE DEVE FAZER PERANTE UMA HERANÇA


DEFICITÁRIA

O herdeiro pode fazer uma de duas coisas:


1 Não aceitar a herança – ele é livre de o fazer;
2 Aceitá-la na primeira modalidade “ herança aceita a benefício de
inventário”.

MODO COMO OS ENCARGOS VÃO SER SATISFEITOS:~

Para aferirmos o modo como os encargos vão ser satisfeitos, temos que ter em
consideração duas situações:
1. A herança encontra-se indivisa; ou seja, a partilha ainda não foi
efectuada.
2. Verifica-se quando a partilha já foi efectuada.

1ª Herança indivisa – 2091.º n.º 1

Artigo 2091.º
(Exercício de outros direitos)
1. Fora dos casos declarados nos artigos anteriores, e sem prejuízo do
disposto no artigo 2078.º, os direitos relativos à herança só podem ser
exercidos conjuntamente por todos os herdeiros ou contra todos os
herdeiros.

Os direitos relativos à herança só podem ser exercidos conjuntamente


contra todos os herdeiros ou seja, os credores da herança para verem o seu
crédito satisfeito terão de demandar todos os herdeiros; não podem demandar
apenas alguns sob pena de ilegitimidade (litisconsórcio necessário legal)
artigo 28.º CPC).

2ª Quando a herança já está partilhada – 2098.º n.º1

Artigo 2098.º
(Pagamento dos encargos após a partilha)
1. Efectuada a partilha cada herdeiro só responde pelos encargos em
proporção da quota que lhe tenha cabido na herança.

Caso a herança já tenha sido partilhada, mas os encargos ainda não


tenham sido satisfeitos, ou seja, se a herança já tiver sido partilhada mas ainda
não tiver sido liquidada, os credores terão de demandar cada um dos herdeiros
na proporção da sua quota.

Por exemplo, há dois herdeiros: a A coube 3000 e a B 1000. A dívida é


de 2000. Como é que iriam responder os herdeiros? O A responde com 1500,
e B com 500. Cada um responde com 50%.

Artigo 2098.º n.º2 “podem, todavia, os herdeiros deliberar que o


pagamento se faça à custa de dinheiro ou outros bens separados para esse
efeito, ou que fique a cargo de algum ou alguns deles” – A lei permite nos
termos deste artigo, que os herdeiros possam convencionar duas coisas:
1º - Que apenas um ou alguns dos herdeiros serão responsáveis pelos
encargos. Geralmente, quando isto acontece, atribui-se ao herdeiro que vai
pagar a dívida mais bens, de modo que ele possa pagar a dívida e ficar em
igualdade de circunstâncias com os demais.

2º Se deixará um determinado montante à parte, ou um bem


específico que não será partilhado pelos herdeiros e que como função
responder pelos encargos da herança.
Caso uma ou outra coisa convencionada, os credores da herança são
obrigados a respeitar o acordo efectuado pelos herdeiros e assim sendo, não
poderão demandar os herdeiros na proporção das suas quotas.

OS LEGADOS E A RESPONSABILIDADE PELOS ENCARGOS DA


HERANÇA

À primeira vista, parece que os legatários nunca são responsáveis pelos


encargos da herança, todavia, tal não corresponde à realidade. Existem
situações em que os legados respondem pelas dívidas da herança:

1ª situação: verifica-se quando todos os bens da herança foram


distribuídos em legados, 2277.º.

Pode ocorrer situações em que não existem herdeiros legitimários, e nas quais,
o autor da sucessão distribui toda a sua herança, através de legados. Neste
caso, os legatários terão de desempenhar o papel que competia aos herdeiros,
se eram os herdeiros que tinham de responder pelos encargos, neste caso
concreto serão os legatários. Portanto, existindo vários legatários, estes irão
responder pelos encargos da herança na proporção dos bens que receberam,
EXCEPTO se o testador tiver disposto outra coisa. O testador tem a liberdade
e autonomia para dizer:

por exemplo:
Que apesar de ter distribuído toda a herança em legados, quer
que apenas um dos legatários seja responsável pelos encargos da
herança.

Se o testador não disser nada, os legatários respondem na proporção do


legado que receberam.
2ª situação: Verifica-se quando os bens da herança são insuficientes
para pagar a totalidade das dívidas do autor da sucessão e ainda os legados.
2278.

De acordo com este artigo ou de acordo com a ordem da satisfação dos


encargos da herança, os legados são o último encargo a ser satisfeito.

Quando os bens da herança não são suficientes para pagar as dívidas da


herança e ainda os legados, estes serão reduzidos proporcionalmente. Poderão
ser de tal modo reduzidos que deixem de existir. Neste caso os legatários
acabam por suportar os encargos da herança na medida em que não vão
receber os legados a que tinha direito.

3ª Situação: 2276.º n.º 1 – É a situação do chamado sub-legado.

De acordo com este artigo o autor da sucessão tem a responsabilidade de


impor encargos sobre os legados.

Por exemplo: o autor pode dizer: “deixo a minha casa de férias a B desde que
ele ofereça 10.000 USD a C.”.

Nesta imposição de encargos poderá estar englobado o encargo do pagamento


de dívidas do autor da sucessão.

Por exemplo, o autor da sucessão pode dizer: “deixo o meu carro a D que,
todavia deverá pagar a dívida do mecânico”.

Sobre esta situação há uma divergência doutrinária:

1ª Posição: OLIVEIRA ASCENSÃO – no caso em que o autor da


sucessão deixa um legado que se encontra onerado com uma dívida que era
sua, não estamos perante um encargo geral da herança, mas diante de um
encargo específico do legado, e assim sendo o legatário não é responsável
pelas dívidas da herança.

2ª Posição: PAMPLONA CORTE – REAL – discorda. Diz que o


legatário cumpre o encargo geral da herança, na medida em que se trata de
uma dívida que pertencia ao de cujus e que portanto teria de ser paga através
da herança. Assim sendo, não obstante o encargo cair sobre o legatário e
portanto, desta forma, ele ser o responsável pelos encargos da herança. Perante
os credores da herança, serão sempre os herdeiros que irão responder,
herdeiros estes é que poderão posteriormente exercer o direito de regresso
sobre o legatário. É A POSIÇÃO QUE SEGUIMOS.

2ª DIFERENÇA ENTRE O ESTATUTO DO LEGATÁRIO COM


O DO HERDEIRO: QUE É O DIREITO DE EXIGIR A PARTILHA –
2101.º – 2103.º

Regra geral – o herdeiro tem que recorrer à partilha para receber os


bens que lhe pertencem e o legatário não.

A partilha trata-se do modo de pôr fim à indivisão dos bens, portanto,


até a partilha ser efectuada, a herança encontra-se numa situação de
indivisão e é por isso que é chamada herança indivisa.

Artigo 2101 – Qualquer dos co-herdeiros, bem como o cônjuge meeiro,


tem o direito de exigir a partilha. Não é obrigatório que a partilha seja
efectuada assim que o autor da sucessão venha a falecer (...?) Se os herdeiros
o entenderem podem acordar que a partilha não se faça durante um
determinado período. Em princípio este período não pode exceder 5 anos,
todavia, terminados estes 5 anos é possível renovar o acordo por períodos
idênticos, a partilha poderá ficar por efectuar durante vários anos.

A PARTILHA PODE SER FEITA DE DUAS FORMAS:

1ª FORMA: Judicialmente – Verifica-se quando não há acordo entre os co-


herdeiros.

2ª FORMA: extra-judicialmente – verifica-se quando há acordo entre os co-


herdeiros.

No entanto, em algumas situações, apesar de existir acordo entre os co-


herdeiros, como a herança tem de ser feita a benefício de inventário, a
partilha terá de ser judicial.

A herança é obrigatoriamente aceite a benefício de inventário quando


for transmitida a um incapaz ou a uma pessoa colectiva, nos termos do
artigo 2053.º n.º1.

Artigo 2053.º
(Aceitação a benefício de inventário)
1. A herança deferida a menor, interdito, inabilitado ou pessoa colectiva
só pode ser aceita a benefício de inventário.

O legatário, em princípio, não necessita de recorrer à partilha para


adquirir os bens a que tem direito. Mesmo no caso em que é deixado um
único bem a vários legatários, não se irá recorrer à partilha. A forma de pôr
fim a esta indivisão não será a partilha, mas sim o processo de divisão de coisa
comum, na medida em que os vários legatários a quem é deixado um único
bem, são considerados comproprietários.

Já no caso dos herdeiros, não é a compropriedade que está em causa,


mas sim a indivisão resultante da comunhão que existe relativamente aos bens
herança.

SITUAÇÕES EM QUE O HERDEIRO NÃO TEM DE RECORRER À


PARTILHA

1ª situação: no caso de existir um herdeiro universal, ou seja, um


herdeiro a quem é deixada a totalidade da herança.

2ª situação: trata-se do caso do herdeiro remanescente, ou seja, o


herdeiro que sucede em tudo aquilo que não foi atribuído discriminadamente
através de legados.

SITUAÇÃO EM QUE O LEGATÁRIO TEM QUE RECORRER À


PARTILHA

Trata-se do caso em que alguém é instituído no usufruto de uma


quota da herança. Quem é instituído no usufruto é sempre legatário (2030.º
n.º4).

Neste caso o legatário terá interesse em intervir na partilha porque


interessa-lhe saber quais são os bens sobre os quais vai ter direito ao usufruto
e só poderá sabê-lo depois de efectuada a partilha.

Artigo 2030.º
4. O usufrutuário, ainda que o seu direito incida sobre a totalidade do
património, é havido com legatário.
3ª DIFERENÇA ENTRE O HERDEIRO E O LEGATÁRIO: O
FUNCIONAMENTO DO DIREITO DE ACRESCER.

1ª situação: direito de acrescer entre herdeiros. Artigo 2301.º

Entre herdeiros, o direito de acrescer só funciona dentro de cada


título de vocação. Ou seja, os herdeiros testamentários não acrescem sobre os
herdeiros legais (legitimários e legítimos – 2133.º); e os herdeiros legais não
acrescem sobre os herdeiros testamentários.

Artigo 2301.º
(Direito de acrescer entre herdeiros)
1. Se dois ou mais herdeiros forem instituídos em partes iguais
na totalidade ou numa quota dos bens, seja ou não conjunta
a instituição, e algum deles não puder ou não quiser aceitar
a herança, acrescerá a sua parte à dos outros herdeiros
instituídos na totalidade ou na quota.
2. Se forem desiguais as quotas dos herdeiros, a parte do que
não pôde ou não quis aceitar é dividida pelos outros,
respeitando-se a proporção entre eles.

2ª situação: direito de acrescer entre legatários

Entre legatários o direito de acrescer funciona em termos muito


restritos; funciona nos termos do artigo 2302.º – Só há direito de acrescer
entre legatários que tenham sido designados em relação ao mesmo bem.

Vg: António deixou uma casa a Beto e a Carlos. Se eventualmente


Beto não poder ou não quiser aceitar, Carlos acresce a Beto e fica com a sua
parte na medida em que foram designados relativamente ao mesmo bem.

vg: António deixou um automóvel a Beto, e outro automóvel a Carlos.


Beto pré - morreu a António. Carlos não beneficiará do direito de acrescer na
medida em que foram instituídos em bens diferentes.

Artigo 2302.º
(Direito de acrescer entre legatários)
1. Há direito de acrescer entre os legatários que tenham sido
nomeados em relação ao mesmo objecto, seja ou não
conjunta a nomeação.
2. É aplicável, neste caso, com as necessárias adaptações, o
disposto no artigo anterior.

4ª DIFERENÇA ENTRE HERDEIRO E LEGATÁRIO:


POSSIBILIDADE DE SE FAZEREM INSTITUIÇÕES A TERMO

Relativamente ao herdeiro, não se pode fixar um termo inicial nem um


termo final, ou seja, não é possível sujeitar deixas a título de herança a
qualquer tipo de termo.

Se eventualmente o autor da sucessão sujeitar uma deixa a título de


herança a termo, essa declaração considera-se como não escrita.

Relativamente ao legatário, o termo final não é admissível, mas é


admissível o termo inicial.

Vg: O autor da sucessão pode dizer: “quando o meu amigo X fizer 35


anos, poderá ficar com a minha carrinha”. O autor da sucessão sujeitou a
sucessão a uma condição inicial.

No entanto, de acordo com o artigo 2243. º n.º 1, o termo inicial não


impede que o legatário adquira a propriedade do bem. Impede que o legatário
tenha a posse, mas não a propriedade. Portanto, se, eventualmente o legatário
falecer antes do termo se verificar o bem será atribuído aos seus sucessores e
não aos sucessores do autor da sucessão.

Artigo 2243.º
(Termo inicial ou final)
1. O testador pode sujeitar a nomeação do legatário a termo
inicial; mas esse apenas suspende a execução da disposição,
não impedindo que o nomeado adquira direito ao legado.

5ª DIFERENÇA ENTRE HERDEIRO E LEGATÁRIO: TRATA-


SE DA ALIENAÇÃO DA HERANÇA. ARTIGO 2130.º n.º1

Se um dos co-herdeiros pretender alienar a parte que lhe compete na


herança, os outros co-herdeiros terão direito de preferência na aquisição
desta parte. O mesmo não se passa com os legatários.
Se um herdeiro ou um legatário pretender alienar a parte que lhe
compete, o legatário que quiser adquirir essa parte encontra-se na mesma
posição que qualquer outro terceiro.
(Resumindo: o herdeiro tem direito de preferência e o legatário, não.)

Artigo 2130.º
(Direito de preferência)
1. Quando seja vendido ou dado em cumprimento a estranhos
um quinhão hereditário, os co-herdeiros gozam do direito de
preferência nos termos em que este direito assiste aos
comproprietários.

A DESIGNAÇÃO SUCESSÓRIA

É uma fase anterior à morte e consiste na atribuição à alguém da


qualidade sucessiva.

A designação sucessória ocorre através de determinados factos aos


quais se dá o nome de factos designativos.

Os factos designativos são de duas espécies diferentes.


1 factos designativos de natureza legal;
2 factos designativos de natureza negocial.

Os factos designativos legais são os seguintes:

1º Parentesco (incluindo a adopção);


2º Vínculo conjugal;
3º Vínculo de cidadania.

O facto designativo negocial é o testamento. Só existe este.

Antes de 1988 existia o pacto sucessório. Mas este pacto sucessório e


as convenções ante nupciais deixaram de existir. É negocial porque depende
de um acto do autor da sucessão.

Os factos designativos legais são legais porque é a lei que os determina.


Fazer atenção que a afinidade não é um facto designativo. Não há
sucessão legal por via da afinidade.

Os diferentes factos designativos dão origem às diferentes modalidades


de sucessão.

- Os factos designativos legais dão origem à sucessão legal.


- O facto designativo negocial dá origem à sucessão
voluntária. E é voluntária porque depende da vontade do autor da
sucessão.

A sucessão legal subdivide-se em duas modalidades:


1 sucessão legitimária;
2 sucessão legítima.

A sucessão voluntária dá origem, unicamente, à sucessão


testamentária.

Actualmente, existem três modalidades de sucessões:

1.A sucessão legitimária;


2.A sucessão testamentária;
3.A sucessão legítima.

- Parentesto (+ adopção) - suc. legitimária


Legais - Vínculo conjugal suc. legal
- Vínculo de cidadania
Factos - Suc. legítima
Designativos

Negocial – Testamento – sucessão voluntária – Sucessão


Testamentária.
(A sucessão contratual deixou de existir)

4.1 .- MODALIDADES SUCESSÓRIAS


4.1.1. – SUCESSÃO LEGITIMÁRIA – 2027.º

A principal característica da sucessão legitimaria consiste no facto de


esta ser imperativa para o autor da sucessão. Ou seja, mesmo que o autor da
sucessão não queira que os sucessíveis legitimários sejam chamados, nada
poderá fazer neste sentido. (São os ascendentes e os descendentes).
A sucessão legitimaria é imperativa para o autor da sucessão, mas não é
imperativa para os sucessíveis, ou seja, os sucessíveis não são obrigados a
aceitar a herança.

QUEM SÃO OS Sucessíveis legitimários ?

Artigo 2157.º
(Herdeiros legitimários)
são herdeiros legitimários os descendentes e os ascendentes, pela ordem e
segundo as regras estabelecidas nos artigos 2133.º a 2138.º

nos termos deste artigo, os sucessíveis legitimários são:


1 descendentes
2 ascendentes.

A sucessão legitimária faz uma remissão para as regras da sucessão legítima,


e, portanto, serão os artigos 2133.º e seguintes que nos irão dizer quem é que,
efectivamente, será chamada à sucessão. (ATT: só os ascendentes e os
descendentes é que são sucessores legitimários, nos termos das alíneas a) e
b) ao artigo 2133.º).

Os 2133.º a 2136.º estabelecem a ordem pela qual os herdeiros


legitimários são chamados. Não são chamados todos os potenciais sucessíveis,
mas apenas os sucessíveis prioritários.

A primeira classe é dos descendentes, incluindo os adoptados, nos


termos dos artigos 7.º,8.º e 197.º do Código da Família.

A segunda classe é dos ascendentes, incluindo o adoptante. Os artigos


são os mesmos: 7.º;8.º e 197.º do Código da Família.

Nos termos do 2134.º, só se chamam os ascendentes se não existirem


descendentes.
2135.º – Vg. dentro da classe dos descendentes, os filhos preferem aos
netos.

Artigo 7.º C.F


( Constituição da família)
são fontes das relações familiares o parentesco, o casamento, a união de facto
e a afinidade.

Artigo 8.º C.F


(Parentesco)
O parentesco estabelece-se, quer por laços de sangue, quer por adopção.

Artigo 197.º C.F


(Fins da adopção)
A adopção visa a protecção social, moral e afectiva do menor, constituindo o
adoptado e o adoptante vínculo de parentesco igual àquele que liga os filhos
aos pais naturais.

Atendamos ao seguinte caso de determinação dos herdeiros legitimários


prioritários:

D é progenitor comum de A e B. A, adopta F e casa com E em regime de


comunhão de adquiridos, tiveram um filho G. F, tem um filho H. Quid Juris?
Esquematizando

D
/ \
E ________ A B
[ \
G F – adoptado
[
H

RESOLUÇÃO:
Nos termos do artigo 2157.º determinam-se os sucessores legitimários.
4 descendentes = G, F (artigos 7.º, 8.º; 197.º C.F); H
5 ascendentes = D

Nos termos do artigo 2133.º são excluídos = E; B

De acordo com o artigo 2134.º, “os herdeiros de cada uma das classes de
sucessíveis preferem aos das classes imediatas”
Assim teremos:
4 descendentes = G, F, H
5 é excluído = D

Nos termos do artigo 2135.º “dentro de cada classe os parentes de grau mais
próximo preferem aos de grau mais afastado”.

4 Descendentes do 1º grau = G e F
5 Descendente do 2º grau = H é excluído.

Solução: G e F são os herdeiros legitimários prioritários.

1ª - PARTE.

CÁLCULO DA LEGÍTIMA.

O artigo 2162.º tem como epígrafe o cálculo da legítima mas em bom o que
está em causa é o cálculo da herança para efeitos da legítima objectiva.

A legítima obedece a quota disponível; trata-se da porção de bens de que o


autor não pode dispor, porque se encontra reservada aos herdeiros
legitimários.

Nos termos do n.º 2, os bens que não sejam objecto de colação de acordo com
o artigo 2112.º não serão tidos em conta para o cálculo da herança.

Ex: Inagimenos que A durante a sua vida, oferece um automóvel ao seu amigo
B. Num dia de grande tempestade, o relâmpago acerta numa árvore que cai
sobe o automóvel deixando-o sem qualquer valor comercial. Esse automóvel
não será tido em consideração para efeitos de cálculo da herança.

FÓRMULA PARA SE CALCULAR A HERANÇA

Vem contida no artigo 2162.º

Artigo 2162.º
(cálculo da herança)

1. Para o cálculo a legítima, deve atender-se ao valor dos bens existentes


no património do autor da sucessão à data da sua morte, ao valor dos
bens doados, às despesas sujeitas a colação e às dívidas da herança.
2. Não é atendido para o cálculo da legítima o valor dos bens que, nos
termos do artigo 2112.º, não são objectos de colação.

H= R+ D - P

H – herança

R – relictum (património do autor da sucessão)

D – donatum (doações feitas em vida)

P – passivo (são as dívidas do autor da sucessão feitas em vida)

QUOTA INDISPONÍVEL

O autor da sucessão é obrigado a aceitar que determinada parte dos seus


bens sejam atribuídos aos herdeiros legitimários. Todavia, os herdeiros
legitimários não são obrigatoriamente chamados à totoalidade dos bens. Ou
seja, há sempre uma parcela dos bens do autor da sucessão que é reservada
para que ele possa deixar a quem ele bem entender. Assim sendo, a herança
com herdeiros legitimários tem de ser dividida em duas partes:

4 Quota indisponível (QI), ou legítima objectiva (LO); ou seja, a parte da


qual o autor da sucessão não pode dispor, e tem de ser obrigatoriamente
atribuída aos herdeiros legitimários;

5 Quota disponível (QD), ou seja, a parte da qual o autor da sucessão


pode dispor deixando-a a quem bem entender.

A LO, ou QI não tem sempre o mesmo valor; ou seja, varia consoante a


quantidade e qualidade dos herdeiros legitimários chamados a sucessão.
Para determinar a QI e a QD, teremos que analisar os artigos 2158.º a 2161.º

Artigo 2158.º
(Legítima dos filhos)
1. A legítima dos filhos é de metade da herança se existir um só filho, e
de dois terços se existirem dois ou mais.

O n.º 2 deste artigo foi revogado pela Lei n.º 10/77 de 9 de Abril.
Neste artigo estão previstas duas situações:

1ª - existência de um só filho 2ª - existam dois ou mais filhos.

H = 900
QI QD QI QD
450 450 600 300

C = 150
Art. 2158.º n.º 1
B 450 D = 150 2ª parte.
E = 150 H = 900
Art. 2158.º n.º 1 1ª parte. QI = 900*2=600
QD = H – QI
QD = 900 – 600
QD = 300

Artigo 2159.º
(Legítima dos descendentes do segundo grau e seguintes)
os descendentes do segundo grau e seguintes têm direito à legítima que
caberia ao seu ascendente, sendo a parte de cada um fixada nos termos
prescritos para a sucessão legítima.

Artigo 2160.º
(Legítima dos pais)
A legítima dos pais é de metade da herança.
Neste caso, a QI é de metade da herança.

H = 900
QI QD
450 450

Artigo 2161.º
(Legítima dos ascendentes do segundo grau e seguintes)
A legítima dos ascendentes do segundo grau e seguintes é de um terço da
herança.

H = 900 QI QD
300 600

LEGÍTIMA SUBJECTIVA

Depois de se determinar qual é a sua QI ou LO, é necessário determinar dentro


da legítima objectiva, qual é a parte que compete a cada um dos herdeiros
legitimados. Essa parte denomina-se Legítima Subjectiva (LS).
Para aferirmos a legítima subjectiva (LS), temos de ter em consideração os
artigos 2136.º e 2139.º a 2142.º

O princípio geral da LS, encontra-se consagrado no artigo 2136.º

Artigo 2136.º
(Sucessão por cabeça)
Os parentes de cada classe sucedem por cabeça ou em parte iguais, salvas as
excepções previstas neste código.
Artigo 2139.º
(Descendentes do primeiro grau)
1. A partilha entre filhos faz-se por cabeça, dividindo-se a herança em
tantas partes quantos forem os herdeiros, salvo o disposto no número
seguinte.
2. (Revogado pela Lei n.º 10/77 de 9 de Abril).

O artigo 2139.º n.º 1 confirma a regra do artigo 2136.º que é a divisão por
cabeça em metade da herança.
Quando é que as disposições testamentárias devem ser inseridas no relictum e
quando é que não devem?

A análise desta questão tem de ser casuística.


O relictum é o património do autor da sucessão. Portanto, se o autor da
sucessão deixa através de testamento um bem que ainda não tinha aparecido
no enunciado, o valor desse bem tem de ser inserido no relictum. Todavia, tal
nem sempre se verifica.
Imaginemos que o autor da sucessão deixa através de testamento o bem X que
vale 100 e, no final do enunciado é dito o seguinte: “sabendo que a totalidade
do património do autor da sucessão corresponde a 1.800, proceda a partilha.

Neste caso, não se irão somar os 100 aos 1800 porque o enunciado diz que a
totalidade do património, ou seja, o relictum é de 1.800. Logo, os 100 estão
contidos nos 1.800.

Outra situação em que a disposição testamentária não é totabilizada no


relictum.

Se o autor da sucessão disser; deixo 10% do meu património a B não se irão


somar os 10% ao valor do relictum porque estes valores já lá estão inseridos;
ou seja, pertencem a massa da herança. Têm é que ser retirados para satisfazer
a disposição.

Resolução de casos práticos. (1º Caso prático da folha)

1º PASSO – Elaboração do mapa familiar.

A _________ B regime de separação de bens – artigo 49.º n.º 2


C.F
/ [
C D E

2º PASSO – Determinação da herança.


Artigo 2162.º

R = 1.000.000
100.000
H= R + D - P
D= 200.000
P = 400.000

3º PASSO – Determinação dos sucessores legitimários.

Artigo 2157.º + 2133.º


4 descendentes = C, D e E.
5 Cônjuge = B é excluído.

Artigo 2134.º - ninguém é excluído por serem todos descendentes do mesmo


grau.

Artigo 2135.º - ninguém é excluído por serem todos descendentes do mesmo


grau.
Solução: São sucessores legitimários prioritários: C, D e E, descendentes do 1º
grau da linha colateral.

4º PASSO – Determinação da L.O ou quota indisponível.


Artigo 2158.º n.º 1 2ª parte.

QI = H/2/3
QI = 900 * 2 = 600

3
QD = H – QI
QD = 900 – 600 = 300

5º PASSO – Determinação da L.S – artigo 2136.º + 2139.º


L.S = QI/ n.º de H.L
L.S = 600/3 = 200

6º PASSO – Abertura do mapa da sucessão.

QI QD
600 300
-----------------------------
C – 200 200
D – 200 100
E - 200

Obs: Tanto na quota indisponível como na quota disponível, tem de dar resto
zero, o resultado da distribuição.

O que é que acontece quando a quota disponível (QD) não cobre as


liberalidades deixas pelo autor da sucessão? A resposta nos é dada pelo tema a
ser analisado seguidamente.

REDUÇÃO POR INOFICIOSIDADE

O instituo jurídico da inoficiosidade traduz-se na proibição para o autor da


sucessão fazer doações que atinjam a legítima dos herdeiros legitimários.

As doações são frequentemente consideradas no cômputo da herança


imputadas na quota disponível, excedendo o valor destas são inoficiosas.

A redução por inoficiosidade trata-se do conteúdo garantístico do princípio da


intangibilidade quantitativa da legítima.

A legítima subjectiva dos herdeiros legitimários têm obrigatoriamente de ser


satisfeita. Portanto, se existir alguma deixa testamentária a nível de legado ou
de herança ou alguma doação em vida que afecte a legítima destes os bens
doados terão de ser atacados. A este ataque denomina-se redução por
inoficiosidade.

Os bens doados não obstante em vida já não fazerem parte do património do


autor da sucessão, incide no património do donatário, ainda os sucessores do
donatário podem assim exigir a restituição dos bens.

Artigo 2168.º
Redução de liberalidades
(Liberalidades inoficiosas)
Dizem-se inoficiosas as liberalidades, entre vivos ou por morte, que ofendam
a legítima dos herdeiros legitimários.

Artigo 2169.º
(Redução)
As liberalidades inoficiosas são redutíveis, a requerimento dos herdeiros
legitimários ou dos seus sucessores, em tanto quanto for necessário para
que a legítima seja preenchida.

Artigo 2170.º
(Proibição da renúncia)
Não é permitida em vida do autor da sucessão a renúncia ao direito de
reduzir as liberalidades.

De acordo com este artigo, o autor da sucessão não pode renunciar, ou seja,
não pode dizer o seguinte: “deixo o meu carro a B, o imóvel a G, e não quero
que estas liberalidades sejam reduzidas.

Artigo 2171.º
(Ordem da redução)
A redução abrange em primeiro lugar as disposições testamentárias a título
de herança, em segundo lugar os legados, e por último as liberalidades que
hajam sido feitas em vida do autor da sucessão.

Nos termos deste artigo, a ordem é a seguinte:

1 Reduz-se as disposições testamentárias a título de herança;


2 Reduz-se as disposições testamentárias a título de legado;
3 Reduz-se as doações inter vivos.

Só se passa para a ordem posterior se a anterior não for suficiente. Dentro de


cada grau, existe uma forma de fazermos as reduções; consta do artigo 2172.º

Artigo 2172.º
(Redução das disposições testamentárias)
1. Se bastar a redução das disposições testamentárias, será feita
proporcionalmente, tanto no caso de deixas a título de herança como
a título de legado.

Ex: tendo duas disposições testamentárias, uma no valor de 40 feita a A e,


outra no valor de 20 feita a B, ambas a título de herança e uma inoficiosidade
de 30. Neste caso reduzimos 20 a A que tinha 40 e 10 a B que tinha 20; logo,
houve uma redução proporcional conforme dispõe o artigo 2172.º

Artigo 2172.º
2. No caso, porém, de o testador ter declarado que determinadas
disposições devem produzir efeito de preferência a outras, as
primeiras só serão reduzidas se o valor integral das restantes não for
suficiente para o preenchimento da legítima.

O testador não pode renunciar a redução mas, pode fazer o que consta no
artigo 2172.º n. 2. Neste caso, não há redução proporcional, e sim, de acordo
com a vontade do testador.
Ex: tendo feito as liberalidades, o testador diz que se alguém tiver que ser
reduzido, prefiro que seja o meu amigo J.

Artigo 2173.º
(Redução de liberalidades feitas em vida)
1. Se for necessário recorrer às liberalidades feitas em vida, começar-se-
á pela última, no todo ou em parte; se isso não bastar, passar-se-á à
imediata; e assim sucessivamente.

Existindo várias doações feitas em vida, a redução opera-se da seguinte forma:


• A primeira redução a ser efectuada é a da doação mais recente,
pois caminha-se para as mais antigas; isto porque o critério de
redução do donatum é um critério cronológico.

Ex: Se A recebeu uma doação em 1975, B recebeu em 1980 e C em 1990.


Começa-se pela doação de C que foi constituída em último lugar, se esta
não for suficiente passamos para a de B; se ainda assim não bastar, passamos
para doação feita a A.
Se as doações em vida forem feitas ao mesmo tempo reduzimos
proporcionalmente, tal como consta no artigo 2173 n. 2

Artigo 2173.º
2. Havendo muitas liberalidades feitas no mesmo acto ou na mesma
data, a redução será feita entre elas reteadamente, salvo se alguma
delas for remuneratória, porque a essa é aplicável o disposto no n. 3
do artigo anterior.
LEGADO POR CONTA DA LEGÍTIMA

O direito a legítima tem de ser obrigatoriamente cumprido. Este facto


denomina-se efectivação do direito à legítima.

Regra geral, a efectivação do direito à legítima faz-se unicamente através da


partilha dos bens existentes a data da abertura da sucessão.

Ex: Em determinados casos pode acontecer que o autor da sucessão indique


alguns bens que de acordo com a sua vontade devem preencher a legítima
subjectiva.

Artigo 2163.º
(Proibição de encargos)
O testador não pode impor encargos sobre a legítima nem designar os bens
a que devem preencher, contra a vontade do herdeiro.

Se existir vontade do herdeiro, o autor da sucessão pode indicar bens


específicos para preencher a sua legítima.

A pessoa que recebe um legado por quota, não obstante receber bens
determinados, não perde a sua qualidade de herdeiro. Portanto, estamos
perante uma figura sui generis que se denomina “herança surpresa certa” –
herança ex re certa.

O facto de se saber que o legado por quota da legítima só é admissível com o


acordo do legitimário, conclusão que tiramos do artigo 2163.º

Se o legitimário não tiver interesse em receber o bem, pode repudiar o legado


e, o facto de ter repudiado o legado não o afastará da sucessão; ou seja, não
perderá a sua qualidade de legitimário.
Geralmente, as expressões utilizadas pelo autor da sucessão quando deixa um
legado por quota são as seguintes:
4 “deixo o bem X para preencher a legítima subjectiva do meu filho”.
5 “deixo o bem Y como forma de satisfazer o direito a legítima”.

Tem de existir nas palavras do autor da sucessão a ideia de que o legado se


destina a satisfazer o direito a legítima.

LEGADO POR CONTA DE VALOR INFERIOR A LEGÍTIMA.

Partimos do pressuposto que aquele que aceita o legado por conta continua a
ser herdeiro legitimário. Assim sendo, a doutrina é unânime em considerar que
ele tem direito a diferença existente entre o montante da legítima subjectiva e
o montante referente ao legado.

L.P.C = 20 QI QD
60 30
B – 30 ............15
C – 30 ............ 15

LEGADO POR CONTA DE VALOR SUPERIOR A LEGÍTIMA.

Perante esta situação temos várias posições.

Prof. Galvão Teles e Oliveira Ascensão

Para estes autores, o legado por conta de valor superior a legítima, consiste
num facto de o herdeiro poder receber um legado para além da sua quota;
ou seja, o pré legado é um benefício que acresce o herdeiro e, portanto,
imputa-se na quota disponível.

A legítima subjectiva não tem capacidade para receber a totalidade do legado,


logo, teremos 30 na legítima subjectiva que é o valor deste, e o excedente, vai
para a quota disponível.

Para estes autores, o autor da sucessão quis privilegiar o herdeiro legitimário.


Eles partem do princípio de que neste caso, o autor da sucessão quis
avantajar o herdeiro legitimário.
Prof . Pamplona Corte-Real.

Para este autor, nesta figura, o autor da sucessão não tem como objectivo
avantajar o sucessível legitimário.

Na posição do Pr. Pamplona o valor que excede é imputado na parte da


quota disponível que pertence aos herdeiros através da sucessão legítima.
Portanto, desta forma, ninguém é beneficiado, procede-se a igualação.

Efectua-se a igualação porque o objectivo do autor da sucessão não foi


beneficiar o sucessível legitimário.

Se o objectivo do autor da sucessão tivesse sido avantajar o sucessível


legitimário, a posição do Pr. Oliveira Ascensão e Galvão Teles procederia.
Mas, como não foi este o objectivo do autor da sucessão a posição do Pr.
Pamplona prevalece.

A igualação pode ser :


4 absoluta;
5 igualação tendencial.

Ex: L.P.C = 50
QI QD
60 30
B – 30 .......... 20
C – 30 ..........10

O que o autor da sucessão procura é tão somente preencher a legítima


subjectiva de um determinado sucessível legitimário com um bem concreto.
Acontece porém que devido a vários factores que conduzem, a valorização e
desvalorização dos bens é extremamente difícil para o autor da sucessão
deixar um bem através do legado por conta que coincida exactamente com o
valor da legítima subjectiva. Se aquilo que se procura assegurar é tão somente
o preenchimento da legítima subjectiva quando o valor do legado por conta for
inferior o legitimário deve ter direito a diferença.
Se o valor do legado por conta for superior o legitimário não deve ser
beneficiado.

Na posição de Oliveira Ascensão e Galvão Teles, o herdeiro sucessível


legitimário ficava beneficiado porque recebia o legado para além da sua quota.
Neste caso, não seria possível igualar tudo o que se poderia fazer era atribuir o
que sobrava da quota disponível a C; ou seja, far-se-á a igualação na medida
do possível.

Neste caso haverá um pré legado de 5 a favor de B. Se fizermos a igualação


teríamos 15 para cada um. Se fosse possível fazer a igualação B só receberia
15, mas como não é possível B é efectivamente avantajado.

LEGADO EM SUBSTITUIÇÃO DA LEGÍTIMA SUBJECTIVA

O legado em substituição da legítima subjectiva é outra forma de se efectuar o


direito a legítima subjectiva, tal como consta no artigo 2165.º n.º 1
o autor da sucessão decidiu dar ao herdeiro legitimário uma alternativa. Este
tem duas hipóteses
- ou escolhe a legítima
- ou o legado.

Enquanto no legado por conta, este iria preencher a legítima neste caso, o
legado vai substituí-lo. O sucessível legitimário não irá receber a legítima e
sim um legado com natureza legitimária. Legado esse que substitui a legítima.
Por isso denominamos "legado em substituição da legítima".

Quando está em causa o legado em substituição, o autor da sucessão utiliza


expressões desse género:
- "deixo ao meu filho A em vez da sua legítima o bem X"
- "deixo para substituir a legítima do meu filho B o bem Y"

nas palavras do autor da sucessão tem de existir sempre uma ideia de


substituição. A aceitação da legítima implica a perda do legado e a aceitação
do legado implica a perda da legítima. Consta no artigo 2165.º n.º 2

Artigo 2165.º
2. A aceitação do legado implica a perda do direito a legítima, assim como a
aceitação da legítima envolve a perda do direito ao legado.

No que se refere a aceitação precisamos ter em conta o que constado artigo


2165.º n.º 3 + 2049.º
Artigo 2165.º
3. Se o herdeiro, notificado nos termos do n.º 1 do artigo 2049.º. nada
declarar, ter-se-á por aceite o legado.

Artigo 2049.º
1. Se o sucessível chamado à herança, sendo conhecido, a não aceitar nem a
repudiar dentro dos quinze dias seguintes, pode o tribunal, a requerimento
do Ministério Público ou de qualquer interessado, mandá-lo notificar para,
no prazo que lhe for fixado, declarar se a aceita ou repudia.

2. Na falta de declaração de aceitação, ou não sendo apresentado


documento legal de repúdio dentro do prazo fixado, a herança tem-se por
aceite.

Se em 15 dias o sucessível não optar entre o legado e a legítima subjectiva,


será notificado para o fazer. Dá-se um prazo para ele fazer a opção. Se ainda
assim, este não fizer qualquer escolha, entender-se-á, que o legado foi aceite
em detrimento da legítima subjectiva.

Este artigo indica-nos quais são as regras de imputação de um legado em


substituição da legítima subjectiva. O legado é imputado na quota indisponível
e o excesso na quota disponível.

LEGADO EM SUBSTIYUIÇÃO DE VALORR SUPERIOR A


LEGITIMA SUBJECTIVA

ex: L.C.S = 40
H = 90 QI QD
60 30

B - 30 ......... 10
C - 30

Relativamente a esta questão temos uma querela.

Pr. Oliveira Ascensão.

Para este professor, aquele que recebe um legado em substituição da legítima


esgota a sua posição sucessória. Logo, já não terá direito a mais nada no
âmbito da quota disponível.
No exemplo, os 20 que sobrariam atribuem-se a C.

Pr. Pamplona Corte-Real.

Para este professor, o legitimário vai escolher entre a legítima subjectiva e o


legado em substituição, mas isso não lhe vai retirar a posição de sucessível
legitimário. Se existirem bens no âmbito da quota disponível, o sucessível
legitimário que aceitou o legado vai concorrer a sucessão legítima.

No exemplo analisado seria: 10 para B e 10 para C.

Segundo o Pr. Pamplona Corte-Real, ao contrário do que acontece no


legado por conta, não se procura fazer a igualação, porque há um risco que o
sucessível legitimário corre.
Se o legado em substituição for inferior a legítima subjectiva, o sucessível
legitimário perde o direito a diferença. Assim sendo, se o legatário assume o
risco de ficar prejudicado quando o legado é inferior a legítima subjectiva
deverá ser beneficiado no caso do legado ser superior. Por isso, não se faz a
igualação. O legitimário deve beneficiar do excesso.

LEGADO EM SUBSTITUIÇÃO DE VALOR INFERIOR A LEGÍTIMA


SUBJECTIVA.

Ex: H = 90
L.E.S = 20 - C QI QD
60 30
B - 30
C - 20

Para a doutrina, C recebe apenas 20 porque ele perdeu o direito a legítima


subjectiva ao aceitar o legado. Os 10 que sobram não vão beneficiar D por via
do direito de representação. O direito de representação não deve funcionar
neste caso porque os representantes ocupando o lugar do representado têm os
mesmos direitos e deveres que estes. Se C não tinha direito aos 10, D como
representante também não vai ter. Neste caso atribuímos o valor que sobrar a
B devido ao princípio da unidade da legítima. Portanto, se aquele herdeiro for
afastado a legítima aumenta para o outro herdeiro legitimário.
Neste caso teremos:

QI QD
60 30

B - 40

C - 20.

COLAÇÃO.

Quem está sujeito a colação?


A resposta é-nos dada pelo artigo 2105.º
Artigo 2105.º
(Descendentes sujeitos à colação)
Só estão sujeitos à colação os descendentes que eram à data da doação
presuntivos herdeiros legitimários do doador.

Segundo este artigo, estão sujeitos a colação:


4 Os descendentes que eram legitimários prioritários a data da doação

Ex: A, faz uma doação a C seu neto, em 2000. Todavia, A, falece em 2005.
Estará C sujeito a colação?
A resposta é negativa. C, não estaria sujeito a colação porque apesar de ser
descendente, não era legitimário prioritário à data da doação.

Sobre quem é que recai a obrigação?


Artigo 2106.º
(Sobre quem recai a obrigação)

A obrigação de conferir recai sobre o donatário, se vier a suceder ao doador,


ou sobre os seus representantes, ainda que estes não hajam tirado benefício
da liberalidade.

Segundo este artigo, a obrigação não recai só sobre o donatário, mas também
sobre os seus representantes. Esta situação trata-se de uma situação diferente
da anterior.
Na situação anterior C era representante de B, mas, a colação não recaia sobre
ele porque a data da doação, C, não era legitimário prioritário de A. Todavia,
se a colação recaísse sobre B, C como seu representante também ficaria
sujeito a colação na medida em que os representantes são instituídos nos
mesmos direitos e deveres dos representados.

Ex: A, doa a B seu filho, em 2000, uma cerca quantia. Em 2001 B, pré-
morreu ao autor da sucessão, deixando um descendente C. A, chegou a falecer
em 2005.
Quid juris?

Segundo o artigo analisado, nestes termos, C, será chamado a representar B


seu pai, nos termos dos artigos 2138.º e 2140.º, sendo instituído nos mesmos
direitos e deveres do representado. É a C, a quem recai a obrigação.

O que é que se encontra sujeito a colação? Qual é o objecto da colação?


A resposta é-nos dada pelo artigo 2110.º
Artigo 2110.º
(Despesas sujeitas e não sujeitas a colação)
1. Está sujeita a colação tudo quanto o falecido tiver despendido
gratuitamente em proveito dos descendentes.
2. Exceptuam-se as despesas com o casamento, alimentos,
estabelecimento e colocação dos descendentes, na medida em que se
harmonizem com os usos e com a condição social e económica do
falecido.

A colação recai sobre as liberalidades feitas pelo autor da sucessão em favor


dos seus descendentes. Ou seja, são englobados não só os bens doados, mas
também todas as despesas que o autor da sucessão tiver tido com os
descendentes. Só não são incluídas as despesas que constam do n.º 2 do artigo
2110.º

Artigo 2111.º
(Frutos)
Os frutos da coisa doada sujeita a colação, percebidos desde a abertura das
sucessão, devem ser conferidos.

Os frutos das coisas doadas sujeitas a colação também estão sujeitas a colação
após a abertura da sucessão.

Ex: Se, eventualmente um imóvel for sujeito a colação, as rendas que dela
advenham após a abertura da sucessão também estão sujeitas a colação.
Artigo 2112.º
(Perda da coisa doada)
Não é objecto de colação a coisa doada que tiver perecido em vida do autor
da sucessão por facto não imputável ao donatário.

Ex: Uma árvore destruir um carro doado. Este carro não será chamado à
colação devido a este facto natural superveniente que destruiu a coisa.

Artigo 2109.º
(Valor dos bens doados)
1. O valor dos bens doados é o que eles tiveram á data da abertura da
sucessão.
2. Se tiverem sido doados bens que o donatário consumir, alienou ou
onerou, ou eu pereceram por sua culpa, atende-se ao valor que esses
bens teriam na data da abertura da sucessão, se não fossem
consumidos, alienados ou onerados, ou não tivessem perecido.
3. A doação em dinheiro, bem como os encargos em dinheiro que a
oneraram e foram cumpridos pelo donatário, são actualizados nos
termos do artigo 551.º

Segundo este artigo, o bem doado é conferido pelo valor que tem na data da
abertura da sucessão.

Como opera a colação?

Artigo 2104.º
Colação
(Noção)
1. Os descendentes que pretendam entrar na sucessão do ascendente
devem restituir à massa da herança, para igualação da partilha, os
bens ou valores que lhes foram doados por este: esta restituição tem o
nome de colação.
2. São havidas como doação, para efeitos de colação, as despesas
referidas no artigo 2110.º

Ao lermos este artigo, ficamos com a ideia de que a colação opera pela
restituição dos bens ou valores doados; ou seja, ficamos com a ideia de que os
descendentes têm de devolver os bens que receberam ou pagar o montante
equivalente a despesa que foi feita em seu favor. Todavia, temos de ter em
consideração o artigo 2108.º n.º 1
Artigo 2108.º
(Como se efectua a conferência)
1. A colação faz-se pela imputação do valor da doação ou da
importância das despesas na quota hereditária, ou pela restituição
dos próprios bens doados, se houver acordo de todos os herdeiros.

De acordo com este artigo, a restituição em virtude da colação só se verificará


quando existir acordo entre todos os herdeiros, inclusivamente do herdeiro que
recebeu a doação; ou seja, a forma de operar do 2104.º será uma forma
excepcional.
A regra será a imputação na quota hereditária do bem sujeito a colação. A
quota hereditária trata-se da legítima subjectiva, mais o que o herdeiro tinha
direito no âmbito da quota disponível.
No entanto, uma doação sujeita a colação será imputada na legítima subjectiva
e o excesso na quota disponível de forma a igualar os legitimários prioritários.

Ex : A B = 40 ( doação)
B C R= 50
H= 90
Qi Qd
60 30
__________
B=30.....10+5
C=30-----10+5

B= 45 Qi Qd B= 60 Qi Qd
R=50 60 30 R=30 60 30

________________
-------------------- B=30.............30
B=30.......15 C=30
C=30-------15

Dispença de colação
A colação tem como objectivo igualar os herdeiros legitimários, ou seja,
faz que nenhum deles seja avantajado relativamente aos demais. Porem,
o autor da sucessão pode ter tido como objectivo avantajar um dos
herdeiros legitimários. Neste caso terá de se recorrer ao instituto da
dispensa de colação.

Art.2113

A colação pode ser dispensada em dois momentos:

- No acto da colação
- Ou posteriormente

Se a doação tiver ofendido de uma forma específica, a dispensa de colação


só pode ser efectuada:

- Através da mesma forma pela qual se efectuou a doação


- Através de testamento

Ex : o autor da sucessão doa um imóvel ao seu filho e quer que esta doação
seja dispensada de colação.

Como a doação de imóvel tem de ser efectuada por escritura publica (art.
875) a dispensa de colação só pode ser feita

- ou por escritura pública


- ou por testamento

Art.2114, n 1

Se não existir colação, devido a dispensa, a doação será imputada na


quota disponível e não na legítima subjectiva do legitimário. Isto é,
entende-se que o autor da sucessão quis, definitivamente, avantajar o
legitimário.
INTANJIBILIDADE QUANTITATIVA E QUALITATIVA DA
LEGITIMA SUBJECTIVA

INTANJIBILIDADE QUANTITATIVA

Consiste no facto de o montante que perfaz a legitima subjectiva não


poder ser afectado. Ou seja, se a legítima subjectiva tiver um determinado
valor em dinheiro, será esse valor que terá de ser entregue ao legitimário.
Não lhe poderá ser entregue menos.

Esta directamente relacionada com a existência de uma quota indisponível


e com a existência do instituto de redução por inoficiosidade.

O instituto da redução é que irá salvaguardar a intangibilidade quantitativa


da legítima, na medida em que reduzirá as doações efectuadas pelo autor
da sucessão, sempre que estas ultrapassem o montante da quota disponível
e, assim, atinjam a legitima subjectiva dos legitimários.

INTANJIBILIDADE QUALITATIVA

ART. 2163

Consiste no facto de o herdeiro legitimário não ser obrigado a ver a sua


legitima subjectiva ser preenchida com bens que não deseja receber ou
onerada com qualquer encargo.

Manifestações do principio da intangibilidade qualitativa

1° Trata-se do regime do legado por conta da legitima Art. 2163 a


contrário sensu

O autor da sucessão deixa um legado que como objectivo preencher a


legitima subjectiva do legitimário.

Verifica-se o principio da intangibilidade qualitativa, porque o herdeiro


pode aceitar o legado ou não. Isto é, ele não é obrigado a ver a sua legitima
ser preenchida com um bem concreto.

Se ele rejeitar o legado, não pode perder o direito a legitima subjectiva.

2° Trata-se do regime do legado em substituição da legitima. Art.


21655°

O autor da sucessão deixa um legado que tem como objectivo substituir a


legitima subjectiva do legitimário.

Verifica-se o principio da intangibilidade qualitativa, porque o herdeiro


legitimário tem uma alternativa :

- ou aceita o legado
- ou aceita a legitima

Ele não é obrigado a receber o legado ao invés da legitima.

3° Cautela sociniana . Art. 2164°

Se o autor da sucessão deixar um usufruto ou constituir uma pensão


vitalícia que afecta a legitima subjectiva do legitimário, este tem duas
opções:

1 – Cumprir o legado e, neste caso, suportar o encargo;


Ou

2- Entregar ao legatário a totalidade da quota disponível e ver,


assim, a sua legitima subjectiva livre de qualquer encargo.

Ex: A tem um filho B. A faz um testamento a favor de C no qual lhe


concede o usufruto do imóvel que tem. O imóvel é o único património de
que A é proprietário.
A
B C QI QD
50 50
----------------------
Bem X = 100 B= 50....... 30
H= 100 50 - C
Usufruto= 20
B tem um encargo, porque é proprietário de um
imóvel, porém, não o pode ocupar dado que C tem direito de viver na casa
( usufruto igual a 20).

Qi Qd
50 50
----------------------
B= 50
50 = C

Não obstante não existir inoficiosidade, a legítima subjectiva é onerada


pelo usufruto e, portanto, se o legitimário desejar, pode entregar ao
usufrutuário a totalidade da quota disponível ficando, assim, a legítima
subjectiva livre do usufruto.

Encontramo-nos perante uma intangibilidade qualitativa, porque o


legitimário pode optar em ter a legítima subjectiva totalmente livre ou
não.

Situações em que o princípio da intangibilidade não passa de mera


aparência.

1 – O autor da sucessão tem como patrimónios os imóveis X, Y e um hiat.


Estes três bens têm valor aproximado.

A tem três filhos B, C, D.

A deixa, através de legado por conta, o imóvel X a B, e o imóvel Y a C. B


e C aceitam os legados. D não terá qualquer outra possibilidade, senão, de
ficar com o Hiat. Portanto, viu a sua legítima subjectiva ser preenchida
com o bem que não desejava.

2- Quando se verifica a colação


O instituto da colação pretere o princípio da intangibilidade qualitativa.

A doação feita a um legitimário durante a vida o autor da sucessão será,


obrigatoriamente, imputada na legitima subjectiva.

Ainda que o legitimário quisesse receber outro bem, não poderá fazer.

SUCESSÃO TESTAMETARIA

Na sucessão testamentaria o facto designativo é o testamento.

TESTAMENTO

NOÇÃO art. 2177°

De acordo com o art. 2177°, n° 2, o testamento poderá conter disposições


de carácter não patrimonial.

Ex: o testador, pelo testamento, pode designar um tutor para o seu filho.

CARACTERISTICAS DO TESTAMENTO

1 Negocio juridico mortis causa

O testamento só produz efeitos depois da morte. È a morte que constitui a


causa dos efeitos do testamento.

2 Negocio jurídico unilateral

O testamento encontra-se completo a partir do momento em que é feito pelo


testador.
Não obstante só produzir efeitos se o sucessível chamado o aceitar, ele esta
completo desde o momento em que é feito.
A aceitação não constitui uma condição da existência do testamento, mas sim
da verificação dos seus efeitos.

O testamento em si só tem uma parte que é o testador

3 Negocio jurídico gratuito

Não existe qualquer contrapartida para o testador. Não pode existir


contrapartida na medida em que o testamento só produz efeitos por morte
do testador. Para além disso, os pactos sucessórios são proibidos pelo
ordenamento jurídico angolano.

4 Acto singular

Art. 2181

Os testamentos de mão comum são proibidos, isto é, não podem testar, no


mesmo acto, duas ou mais pessoas; não podem faze-lo reciprocamente, ou
seja, A dispor a favor de B e B dispor a favor de A ; nem podem faze-lo a
favor de terceiro, ou seja, A e B testarem simultaneamente a favor de C

Esta regra existe de forma a evitar que uma pessoa influencie a outra, porque
a vontade do testador tem de ser a mais livre possível.

5 Acto pessoal

Art. 2182, n 1

O testamento, sendo um acto pessoal, não pode ser feito por meio de
representante

Ex: não pode ser feito através de um procurador

Existem aspectos fundamentais que não podem ficar sujeitos a vontade de um


terceiro, terá de ser o testador a defini-lo. Estes aspectos são:
• As pessoas que beneficiadas com as deixas, isto é, os herdeiros
ou legatários
• O objecto das deixas, isto é, o que é deixado
• O cumprimento integral ou não das disposições testamentárias

Ex: deixo o meu carro ao meu amigo Micky, todavia, se existir


uma inoficiosidade, ele não deverá receber

Existem outros aspectos não fundamentais que o testador pode incumbir a um


terceiro de os definir. Estes aspectos são os constantes no
art. 2182, n 2

ex: - a) deixo os meus bens aos pobres da minha paróquia e nomeio o pároco
para os distribuir

- b) deixo o meu carro àquele que, de entre os meus amigos, for escolhido
pelo meu irmão.

6 Acto formal

Prevêem-se dois tipos de formas para o testamento, nomeadamente formas


comuns e formas especiais

1 Formas especiais: referem-se a testamentos militares, testamentos


feitos a bordo de aviões, de navios ou em aeronaves, testamentos no
caso de calamidades públicas. A ratio é estar-se na eminência de
morrer.

Os testamentos especiais têm um prazo de validade de apenas dois meses.


Art.2222, n 1

2 Forma comum:

Subdivide-se em duas formas:

1. forma de testamento público


Trata-se de um testamento escrito pelo próprio notário num
livro que existe unicamente para que nele se escrevam
testamentos públicos Art. 2205

2. testamento cerrado

É escrito e assinado pelo testador ou, escrito por outra


pessoa e assinado pelo testador.

Tem de ser aprovado pelo notário, caso contrario será nulo.


Art. 2206, n 4 e 5

Têm uma forma como noutra, tem de existir a intervenção


do notário.

Art. 2208
Só pode fazer testamento cerrado quem saiba ler. Os que
não sabem ler são inábeis. Esta inabilidade tem como caso
uma qualidade da pessoa, aplicar-se-á uma sanção – a da
incapacidade de testar, ou seja, a nulidade. Art. 2109

Faz sentido que a lei só admita que quem saiba ler é que
possa fazer testamento cerrado.

Ex: pode se ter dado o caso de uma pessoa não ter


capacidade para escrever devido a um acidente ou por já
estar muito debilitado e, ditar o testamento para que outra
pessoa escreva.

Só se a pessoa souber ler é que poderá confirmar se aquilo


que ditou foi efectivamente escrito.

O que não faz sentido é que o legislador admita que


existam pessoas que sabem ler mais que não sabem
escrever ( ver art. 2206 ) tem-se, nestes casos, que se fazer
uma interpretação restritiva
O testamento cerrado tem de ser aprovado pelo notário. A
data do testamento será a data da aprovação e não a data
em que foi redigido. Tal facto pode ter consequências
muito relevante à nível da capacidade testamentária activa.

O testamento público fica, obrigatoriamente, no notário, já


o testamento cerrado pode ficar com o testador, com um
terceiro ou com o cartório notarial.

7 Acto revogável

É uma caracteistica essencial do testamento. É uma qualidade intrínseca.


O testamento tem de ser sempre o reflexo da ultima vontade do de cujus.

Esta característica faz com que o sucessível testamentário nem possa ter a
certeza de que irá suceder ao de cujus. Quem é sucessível testamentário hoje
amanha poderá já não ser.

Existem três tipos de revogação

3. Revogação expressa

Terá de ser feita através de um novo testamento ou de escritura pública. Tanto


num quanto noutro, o testador diz expressamente que revoga o testamento
anterior.

4. Revogação tácita

Quando há uma incompatibilidade entre dois testamentos. Neste caso, deve


prevalecer o testamento posterior, porque reflecte a ultima vontade do testador

A revogação pode ser total ou parcial.


5. Revogação real art. 2315.º

Este art. Aplica-se apenas ao testamento cerrado. A ideia que esta presente no
art. é da revogação através da distribuição do testamento por parte do testador.

Para que este tipo de revogação se verifique é necessário que se preencha dois
requisitos cumulativos:

3 Que o testamento seja destruída


4 Que a destruição seja uma manifestação da vontade do testador

Assim sendo, não existirá revogação real nas seguintes situações:

- quando o testamento for destruído por um terceiro e não pelo testador.


- quando o testador destruir o testamento sem ter intenção de o fazer
- quando o testador destrói o testamento no momento em que se
encontrava privado do uso da razão.

Ex: o testador incapacitado acidentalmente (bêbado) e rasga o


testamento.

Art. 2315, n 3

De acordo com este art. se existirem disposições testamentárias riscadas,


desde que se consiga ler e perceber em que consiste a disposição, a mesma
será valida

Obs: para o professor da cadeira, se o testador riscou, é porque não quis que
aquela disposição fosse atendida.

Art. 2316

Este art. Aplica-se tanto ao testador cerrado como ao testamento público.

Neste caso, a revogação esta directamente relacionado com o objecto da deixa


e não com o suporte material do testamento

Ex: A deixa ao seu amigo B através de testamento o imóvel X. Todavia, três


anos depois, A vende a C o referido imóvel. Neste caso verificou-se a
revogação real.

A alienação da coisa que constitui o objecto do legado, trata-se da revogação


real deste mesmo legado.

Existem, porém, duas situações em que a alienação da coisa legada não


implica a revogação:

1 Quando se verificar a anulação da anulação devido a existência de


vícios da vontade ex. Erro, dolo, coação, etc.

2 Quando o testador adquira novamente a coisa através de um acto de


alienação da parte do proprietário. Art. 2316.º, n.º 1

Art. 2316.º, n.º 2

Se o testador deixou como legado um objecto que vem a ser transformado


adquirindo uma forma e denominação diferente ou uma natureza diferente,
esta transformação implica a revogação do legado.

Ex. O testador faz um testamento no qual deixa a um amigo seu uma


pilha de madeira de pau preto. Entretanto, o testador resolve fazer estatuetas
com essa pilha de pau preto. Verifica-se, portanto, uma revogação real do
testamento.

Art. 2316.º, nº 3

A lei admite, todavia, que se prove que o testador, ao alienar ou ao


transformar a coisa que é objecto do legado, não pretendia revogar o legado.

CAPACIDADE TESTAMENTARIA ACTIVA

Art. 2188.º - 2189º C.C

Em regra todas as pessoas têm capacidade de testar. Só não podem testar as


pessoas que constam do art. 2189. Ou seja:

1 Os menores não emancipados


2 Os interditos por anomalia psíquica

Há que ter em consideração que a data para se aferir a capacidade de testar é a


da aprovação do testamento.

Ex. se um interdito por anomalia psíquica fizer um testamento enquanto se


encontra interdito e, se depois a interdição se levanta e se ele aprovar o
testamento no notário após levantamento da interdição, o testamento será
valido. Art. 2191º; 2207º cc

Por outro lado, há que ter em consideração que aqueles que não sabem ou não
podem escrever, não podem fazer testamento cerrado. São obrigados a
fazerem um testamento público. Art. 2208.º C.C

CASOS DE INDISPONIBILIDADE RELATVA

ART. 2192.º, C.C

O legislador, querendo evitar que a vontade do testador fosse influenciada,


estipulou que:

5 Quando o testador for interdito ou inabilitado, não poderá fazer um


testamento a favor de certas pessoas que têm sobre ele um ascendente
moral. Estas são:

3 O tutor
4 O curador
5 O administrador legal de bens

Todavia, o legislador permitiu que os interditos e inabilitados pudessem testar


a favor destas pessoas quando elas fossem:

1 Descendentes
2 Ascendentes
3 Colaterais até ao terceiro grau
4 O cônjuge do testador

O legislador entendeu que, sendo estas pessoas familiares próximos do de


cujus. Nunca iriam usar o seu ascendente moral para influenciarem o testador
e, assim, serem beneficiados.

A presunção efectuada pelo legislador é criticável, porque o laço de sangue


não determina a boa fé das pessoas.

O Art. 2193.º não faz sentido, porque o menor não tem capacidade para testar,
a menos que seja emancipado.

Art. 2194.º - 2195.º C.C

Pretende-se aqui salvaguardar a liberdade de testar. Pretende-se evitar que o


médico, ex, influencie o doente que se encontra débil; que o sacerdote, ao
prestar assistência espiritual, influencie o testador que esta débil.

Todavia, temos de ver a excepção do art. 2195.º al. b). Ou seja:

1 Se o médico ou o sacerdote forem ascendentes, descendentes,


colaterais até ao terceiro grau ou cônjuge do testador, a disposição não
será nula.

Art. 2197.º

Pretende-se evitar que o notário que lavrou o testamento público, ou aprovou


o testamento cerrado, a pessoa que escreveu o testamento e as demais pessoas
que se encontrem contempladas no artigo possam alterar aquilo que o testador
disse. Assim sendo, não podem existir disposições a favor destas pessoas.

Art. 2196.º
( esta parte não faz sentido e o nosso ordenamento jurídico, não prevê)

O que aqui esta em causa é que o testador não pode testar a favor do seu
amante.

Neste art. O que se pretende proteger, não é a liberdade de testar, mas sim, a
defesa da instituição familiar. Verifica-se uma reprovação social. Reprova-se
o facto de o autor da sucessão, casado, ter cometido adultério e, ainda para
agravar, fazer um testamento a favor da amante ou do amante.

Portanto, uma deixa feita ao amante ou amante será nula, mas não existirá
nulidade se, na altura da abertura da sucessão, o casamento já se encontrar
dissolvido.

O legislador entendeu que, neste caso, não é reprovável uma deixa efectuada a
favor da pessoa com quem o testador cometeu o adultério.

Art. 2198º

De acordo com este art. As disposições testamenteiras que sejam às pessoas


que constam dos Art. 2192.º - 2197.º C.C serão também nulas se forem feitas
através de interpostas pessoas.

De acordo com o art. 579.º, n.º 2 C.C as interpostas pessoas são:

2 O cônjuge do inibido
3 A pessoa de quem o inibido seja herdeiro presumido
4 Qualquer terceiro que, posteriormente, vá transmitir ao inibido a coisa
ou direito que lhe tenha sido cedida.

SUBSTITUIÇÃO PUPILADA E SUBSTITUIÇÃO QUASE PUPILADA

SUBSITUIÇÃO PUPILADA
Art. 2297.º, n.º 1 C.C

A tem um filho B. Este morre antes de ter capacidade testamentaria activa. A,


prevendo tal situação, designa quem serão os herdeiros e legitimários do seu
filho

A ratio do preceito é que, como o filho de A viria a morrer sem ter os seus
herdeiros, dá-se ao progenitor a possibilidade de escolher, por ele, as pessoas
que irão ser suas herdeiras. Isto desde que o filho de A venha a falecer sem
deixar descendentes ou ascendentes. Art. 2297.º, n.º 2 C.C

SUBSTITUIÇÃO QUASE PUPILAR

Art. 2298.º, n.º 1 C.C

A tem um filho B que é interdito por anomalia psíquica, pelo que nunca
poderá testar.
A, diante disso, supre essa incapacidade, nomeando C e D para herdeiros e
legitimários de B caso este morra.

A substituição pupilar e quase pupilar:

- tratam-se de uma excepção ao principio do carácter pessoal do


testamento. Art. 2182.º C.C

- Tratam-se de casos de representação legal num negócio testamentário


Tratam-se de meios de suprimento da incapacidade de testar.

Como a substituição pupilar e quase pupilar têm como natureza serem meios
de suprimento da incapacidade, assim que o pupilo ou que pupilo adquirirem
ou readquirirem a capacidade testamentária activa, a substituição pupilar ou
quase pupilar caducam. Art. 2297.º, n.º 2; 2298.º, n.º 2

Os bens abrangidos são os do art. 2300.º

A substituição pupilar e quase pupilar abrange apenas os bens que o


substituído tenha recebido através do testamento. Ou seja, os bens em causa
são os que o substituído herdou do testador. Herdou não só a nível da sucessão
testamentária, mas herdou também a nível da sucessão legitimária e legítima.

Por outro lado, para que a substituição pupilar e quase pupilar possam ter
lugar, o substituído não pode deixar herdeiros, isto é, nem ascendentes nem
descendentes. Art. 2297, n.º2; 2298, nº 2 cc

A SUCESSÃO LEGITIMA
Art. 2131.º ss
Art. 2133.º
Art 2145.º
Art.2152.º ss

Para o Estado aceitar tem de correr um processo. A aceitação opera ope legis
FENOMENO JURIDICO SUCESSORIO

Aspectos:

 Momento da abertura da sucessão

Será o momento da morte física, em principio, porque existem quer a morte


presumida, quer a curadoria provisória, etc..

Lugar da abertura da sucessão

 É o lugar do último domicílio do de cujus

Ex. se o autor da sucessão vivesse em Luanda, mas viesse a falecer em


Espanha, o último lugar relevante seria o lugar da última residência e não
onde este veio a falecer.

Seria relevante para:

 Efeitos processuais,

Isto é, para se determinar o tribunal competente para o processo de


inventário e de habilitação judicial do herdeiro.

 Efeitos fiscais

Para se saber onde é que se vai liquidar o imposto sucessório Art. 2031.º C.C

VOCAÇÃO SUCESSÓRIA

Esta em causa o direito de suceder

CARACTERISTICAS

 Trata-se de um direito potestativo


 É um direito originário

é um direito que não existe na esfera jurídica do decujus. É um direito novo


que nasce na esfera jurídica dos sucessíveis

11 é um direito com carácter instrumental, porque destina-se a permitir a


aquisição dos bens deixados pelo decujus.

PRESSUPOSTOS

1. Existência do chamado

Este pressuposto levanta dois problemas:

7 O da sobrevivência do chamado ao autor da sucessão

É preciso provar que o chamado sobreviveu ao autor de sucessão.


O que acontece quando não se sabe quem morreu em primeiro lugar?

ex. A e B, pai e filho, encontram-se num automóvel que é abalroado por um


camião. Não se sabe quem é que faleceu em primeiro lugar, porque ficaram
esmagados.

Nestes casos, presume-se que faleceram ao mesmo tempo. É o chamado


PRESUNÇÃO DE PREMORIÊNCIA art. 68, nº 2

 O problema do chamado ter ou não personalidade jurídica

ART. 2033.º

Para que alguém possa suceder a outrem é necessário que tenha personalidade
jurídica.

Isto levanta o problema do:

- Dos nascituros já concebidos art. 2033, nº 1


- Dos nascituros ainda não concebidos ou concepturos art. 2033.º, nº 2
al. a)

Apesar do art. 2033 fazer referência a nascituros e concepturos, estes só


poderão ser chamados a sucessão se adquirirem personalidade jurídica, ou
seja, se tiverem o nascimento completo e com vida . art. 66.º C.C
(o teste é feito da seguinte maneira: vê-se se os pulmões do nascituros estão ou
não abertos. Se estiverem, é porque chorou, logo viveu).

O que o art. 2033.º pretende dizer é unicamente que se podem designar em


testamento nascituros e concepturos.

ex. Pode-se fazer uma deixa desse género : ‘deixo os meus bens aos
filhos que o meu amigo Satchimuma vier a ter ‘.

A questão que se levanta é como é que se fará a partilha de uma designação


desse género.

Ex. A faz um testamento deixando todos os bens aos filhos que B vier a ter.
Quando A morre B tem três filhos. O que é que acontece se B tiver mais
filhos?

Quanto a essa questão há uma querela doutrinária:

Prof. Pereira Coelho: faz-se a partilha no momento em que A falecer, porém,


a partilha fica sujeita a condição resolutiva de aparecerem mais herdeiros. Se
B tiver mais um filho, aparece mais um herdeiro, logo terá de se fazer uma
nova partilha.

Portanto, far-se-ão tantas partilhas quantos filhos nascerem.

Prof Pamplona Real: não se poderá efectuar partilha enquanto não haver a
certeza de que B já não poderá mais ter filhos. Essa certeza pode ser obtida
das seguintes formas:

 Se B morre, já não pode ter mais filhos


 Pode-se provar por vias médicas que B já não poderá ter filhos

Prof. Vaz Cruz: concorda com o professor Pereira Coelho.

2. Pressuposto é A TITULARIDADE DA DESIGNIÇÃO


PREVALENTE OU Prioridade na hierarquia dos sucessíveis
significa que não são chamados todos os sucessíveis, mais sim apenas os
sucessíveis prioritários.

3. CAPACIDADE SUCESSORIA ' passiva

Trata-se de um noção típica do direito das sucessões e consiste na idoneidade


para ser destinatário de uma vocação sucessória.

É diferente da capacidade de exercício do direito civil e da capacidade


judiciária do direito processual civil.

Os menores, interditos e inabilitados são incapazes nos termos gerais, mas não
são afectados pela incapacidade sucessória.

A incapacidade sucessória está sempre relacionada com a sucessão de uma


pessoa determinada. Só em relação à essa pessoa é que pode determinar se o
sucessível é ou não incapaz de suceder.

Existem dois casos em que a lei priva o sucessível da sua capacidade de


suceder. São os institutos da:

• INDIGNIDADE

Art. 2034.º Causas

a) Actos praticados contra o autor da sucessão e a certos familiares seus

b) Actos praticados contra a honra do autor da sucessão e certos familiares


seus

c) Contra a liberdade de testar

d) Actos praticados contra o próprio testamento

A indignidade é uma pena civil e, portanto, as causas previstas no art. 2034.º


são taxativas. (principio da tipicidade)
Esta norma é excepcional, porque a regra é existir capacidade sucessória. Pelo
que, por ser excepcional, não admite analogia.

Existe uma querela doutrinária sobre a necessidade de declaração judicial para


que a indignidade opere.

QUERELA

Prof. Oliveira Ascensão

A indignidade tem um carácter automático, portanto, a declaração judicial não


será necessária.

Ela só será necessária no caso de o indigno já se encontrar na posse dos bens.

Prof. Pamplona Real

A indignidade não opera automaticamente e, portanto, terá de existir uma


declaração judicial. Essa declaração pode ser obtida tanto em vida do autor da
sucessão, como depois, desde que sejam respeitados os prazos do art. 2036.º

Os argumentos da necessidade de uma declaração judicial estão na al. c) e d)


do art. 2034.º, porque só através de um processo judicial é que se poderá
provar a existência de dolo ou coacção.

Porém, para o Prof. Oliveira Ascensão, em relação a al. a) e b), poderíamos


dizer que já existe um processo judicial no qual se provou que o indigno
cometeu determinado crime e que, portanto, não será necessário haver um
segundo processo judicial para se obter a declaração de indignidade.

O Prof. Pamplona Real discorda dizendo que o que o art. 2036º tem por
epígrafe a declaração de indignidade e trata todas as alíneas do art. 2034.º de
forma igual, não distinguindo a al. a) e b) das al. c) e d), chegando a conclusão
que será necessário haver um processo judicial para todas as causas de
indignidade.

Para o prof. Pamplona a declaração judicial de indignidade é obrigatória para


qualquer caso de indignidade.

Prof. Salgueiro Cruz

Tem um pendor intermédio:


Em relação a al. a) e b) considera que o Prof. Oliveira Ascensão tem razão, na
medida em que já teve lugar um processo crime com sentença transitada em
julgado que provou que o sucessível praticou aqueles actos ilícitos contra o
autor da sucessão, logo, não será necessário haver mais um processo judicial
para se obter a declaração de indignidade, o que seria contra o principio da
economia processual.

Em relação a al. c) e d) considera que o Prof. Pamplona Real tem razão,


porque é necessário haver processo judicial para se apurar se houve dolo ou
coacção.

LEGITIMIDADE PARA SE PROPOR UMA ACÇÃO DE


DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE

- Durante a vida do autor da sucessão só este é que tem legitimidade para


propor a acção. É ele quem decide se quer que determinada pessoa seja
afastada da sucessão, porque cometeu uma das faltas previstas no
art.2034.º
- Depois da abertura da sucessão, têm legitimidade para propor a acção
todos os sucessíveis que beneficiarem com o afastamento do indigno.

Art.2038.º

Fala sobre o instituto da reabilitação do indigno. Esta pode ser expressa ou


tácita.

Reabilitação expressa art. 2038,nº1

Para se verificar é necessário que se obedeça a uma determinada forma, ou


seja, a reabilitação tem de ser feita:

- Por testamento
- Por escritura pública
Se o autor da sucessão reabilitar expressamente um determinado
sucessível apôs a abertura da sucessão, aqueles que beneficiariam com o
afastamento indigno já têm legitimidade para propor a acção de declaração
de indignidade.

Reabilitação tácita art. 2038º,nº2

Verifica-se quando:

- Não há reabilitação expressão


- O autor da sucessão teve conhecimento do facto que dá origem a
indignidade, não obstante, ainda assim contempla o sucessível no
testamento.

Obs.: é necessário provar que o autor da sucessão, quando fez o


testamento, já conhecia a causa de indignidade, caso contrario não há
reabilitação

. Existindo uma reabilitação tácita, o indigno só irá suceder dentro dos


limites da sucessão testamentária. Art. 2038.º, nº 2 in fine

Se o indigno for um legitimário, existindo reabilitação tácita, terá direito a


disposição testamentária mas não receberá a sua legitima subjectiva.

• DESERDAÇÃO art. 2166º

Para a deserdação, o autor da sucessão pode afastar os legitimários da sua


sucessão.

A deserdação é aplicável apenas aos legitimários.

A sucessão legitimária é obrigatória para o autor da sucessão, mas, no caso de


ter existido ou se verificado uma das causas da deserdação, o autor da
sucessão poderá afastar os seus sucessíveis legitimários da sua sucessão.

Obs.: DIFERENÇA ENTRE O ART. 2034º e 2166º

- Existem causas específicas da indignidade que são as da al. c) e


d) art. 2034.º
- Existem causas especificas da deserdação que são as do art.
2166 al. c)

confrontação

- No art. 2166,nº1 al. a) prevê-se como de deserdação qualquer


crime doloso, desde que, ao tipo legal deste crime corresponda pena
superior a seis meses de prisão

- No art. 2034 al. a) prevê-se como causa de indignidade o


homicídio doloso, seja na forma consumada ou como tentativa.

A indignidade é mais restrita, é mais exigente. A deserdação é mais ampla, é


menos exigente e mais fácil de se verificar.

Obs. DIFERENÇA ENTRE art. 2166.º, n.º 1 al. b) e Art. 2034.º al. b)

- Na deserdação, art. 2166, prevê-se o crime de denúncia


caluniosa ou falso testemunho sem indicar qualquer moldura penal

- Na indignação, art. 2034º, prevê-se o mesmo crime, mas a pena


terá de ser superior a dois anos de prisão

NB.: As causas de indignidade são mais restritas que a de deserdação e a


deserdação é mais fácil de se verificar em relação a indignidade.

Casos de deserdação art. 2166.º al. c)

Formas de deserdação

A forma da deserdação é o testamento. Quem tem legitimidade para efectuar a


deserdação é o autor da sucessão art. 2166.º, n.º1º

Pode dar-se o caso de existir uma deserdação condicional, ou seja, sujeita a


condição resolutiva.

Ex. o autor da sucessão, prevendo que não irá sobreviver a um processo


judicial, faz a designação seguinte: ‘deserdo o meu filho se vier a ser
condenado pelo homicídio da sua madrasta.

As causas da deserdação são taxativas, porque está em causa uma pena civil.

Art. 2166.º, n.º2

Diz-se que o deserdado é equiparado ao indigno para todos os efeitos legais.


Ambos ficam privados de suceder e ambos podem ser reabilitados.

Art. 2167.º

O legitimário tem dois anos, a contar da data da abertura da sucessão, para


impugnar a deserdação.

O instituto da deserdação aplica-se unicamente aos legitimários. A questão


que se coloca é saber se a indignidade também se aplica aos legitimários ou só
se aplica aos não legitimários.

QUERELA

PROF. Oliveira Ascensão

• As causas especificas de indignidade, isto é, al. c) e d) art. 2034º - actos


praticados contra a liberdade de testar ou contra o testamento: também
se aplica aos legitimários.
• As causas comuns à deserdação e indignidade, a indignidade só poderão
ser aplicada legitimários subsidiariamente. A indignidade só poderá ser
aplicada caso de o autor da sucessão não ter tido a possibilidade de
deserdar o sucessível.

ex. A tem três filhos B C D


C mata B em 1999 e é condenado por homicídio doloso. A vem a falecer em
2004

Se A quisesse poderia ter deserdado C, mas não o fez, também não se poderá
aplicar a indignidade. Todavia, os sucessíveis que forem beneficiados com o
afastamento de C podem recorrer a indignidade.

Aqui a indignidade é subsidiária.


PROF. Pamplona Real

• Se tivermos perante uma causa específica de deserdação, só se aplica a


deserdação.
• Se estivermos perante uma causa especifica da indignidade, aplica-se a
indignidade aos legitimários art. 2034.º al. c) e d)
• Se estivermos perante uma causa comum a deserdação e a indignidade,
poderá se aplicar tanto a deserdação como a indignidade, isto é, a não
deserdação por parte do autor da sucessão não equivale a uma
reabilitação tácita

Ex. A tem três filhos B C D


C mata B em 1999. A morre em 2004
Se A não deserdou C durante o tempo em que foi vivo, tal não impede que D,
sucessível que tem interesse no afastamento de C, invoque a indignidade para
afastar o seu irmão. Aqui esta a diferença com o Prof. Oliveira ascensão

A indignidade só não poderá ser invocada se o autor tiver reabilitado


expressamente o sucessível.

VOCAÇÕES INDIRECTAS

Verifica-se quando alguém é chamado a sucessão, não porque tem uma


especial relação com o autor da sucessão, mas sim, porque tem uma especial
relação com terceiro que foi chamado a sucessão e que não pode ou não quis
aceitar.

MODADALIDADES DE VOCAÇÕES INDIRECTAS

1. Substituição directa ou vulgar


2. Direito de representação
3. Direito de acrescer

As vocações indirectas têm um pressuposto genérico e um pressuposto


específico

* O pressuposto genérico: consiste no facto de alguém ser chamado. Não


pode ser o titular da designação prevalente, sim um, por este não pode ou não
quis
Não quis: o que esta em causa é o repúdio da herança, isto é, alguém repudia a
herança. art. 2062.º ss

A forma do repúdio é escrita, ou pública ou documento particular. art. 2126º e


2063º

Não pode: este pode ser:

- fanático: que consiste em três situações


* pré morte ao autor da sucessão
* a comoriência
* a morte presumida
Jurídico: esta relacionado com a capacidade sucessória, que tem duas formas:

- a indignidade
- a deserdação

* O pressuposto especifico: é uma das modalidades das vocações indirectas.

1. SUBSTITUIÇÃO DIRECTA OU VULGAR


art. 2281.º ss

para que exista substituição directa é necessário existir um testamento. No


testamento A prevê que B será seu herdeiro, todavia, o diz se B não quiser ou
não poder aceitar, será substituído por C. se C não quiser ou não poder aceitar
será substituído por D e assim sucessivamente.

se o testador se tiver referido apenas ao não quer aceitar, entende-se que se


deve incluir também o não poder. A inversa também é verdadeira. art. 2281, nº
2 esta presunção é elidível.

O legislador estabeleceu este regime porque entendeu que o testador não é um


técnico de direito e que, portanto, não sabe utilizar devidamente a expressão
não poder e não querer.

art. 2283º Substituição plural: uma pessoa pode ser substituída por varias
pessoas e várias podem ser substituídas por uma.
2. DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

É uma modalidade por excelência da modalidade indirecta art. 2039.º ss

Verifica-se quando a lei chama os descendentes de um herdeiro ou legatário


que não pode ou não quis aceitar o a herança ou o legado, o descendentes irá
ocupar o legado deixado vago pelo sucessível que não que não pode ou não
quis.

Art. 2040.º

O direito de representação verifica-se tanto na sucessão legal como na


sucessão testamentária.

- Direito de representação na sucessão testamentária

Gozam de direito de representação:


- os descendentes do sucessível que pré morreu ao autor ou que
repudiou a herança ou o legado.

A situação de incapacidade sucessória não é contemplada, ou seja, se o


sucessível não poder receber devido a incapacidade sucessória, o seu
descendente não poderá beneficiar do direito de representação.
Ex. A faz um testamento a favor de B, seu amigo. B é pai de C. Se B for
considerado indigno em relação a A, logo C não poderá ser chamado no
âmbito da sucessão testamentária. Podemos chegar a essa conclusão através de
uma interpretação a contrário sensu do art. 2037.º, n.º 2

- Direito de representação na sucessão legal

art. 2042.º e 2043.º

O direito de representação vai ter lugar sempre a favor dos descendentes:

- Na linha recta: a favor dos descendentes dos filhos independentemente


do grau.
- Na linha colateral, ou seja, quando quem sucede é o irmão, a favor dos
descendentes do irmão sem limites de graus.
- Não existirá direito de representação a favor dos descendentes de 1º
grau do ascendente do 1º grau, ou seja, não há direito de representação a
favor do irmão.

Art.2043

A + 2002
‫׀‬
B++ 1999
‫׀‬
C

C representa sempre B em relação a sucessão de ª


independentemente do que tenha acontecido com ele relativamente a
herança de B

C pode ter repudiado a herança de B ou mesmo ter sido


considerado indigno ou deserdado, porém, nada disso fará que C deixe
de representar B relativamente a herança de A

Art. 2037º,nº2

Na sucessão legal, ao contrário do que acontece na sucessão testamentária, se


um determinado sucessível não poder herdar porque é indigno ou porque foi
deserdado, tal facto não prejudica o direito de representação dos seus
descendentes.

Art. 2044.º

O direito de representação funciona por estirpes.

Estirpe: é constituída pelos descendentes daquele que não pode ou não quis
aceitar.

Funcionando o direito de representação por estirpe, à cada estirpe vai caber o


que competiria ao ascendente respectivo. Estamos, portanto, diante de uma
excepção ao princípio da representação por cabeça do art. 2136º
ex. A
B C D
E,F G H,I,J

Se Qi = 900 ; logo Qi
L.S = 300 900
G = 300
E = 150
F = 150
H = 100
I = 100
J = 100

3. DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

ART. 2301º ss e art. 2137º

Verifica - se tanto na sucessão legal como na sucessão testamentária

O acrescer opera dentro da cada titulo de vocação sucessória, ou seja, teremos


um regime diferente para a sucessão legal e para a sucessão testamentária.

- O acrescer entre herdeiros testamentários


art. 2301º e 2306º

Art. 2301,nº2º
O acrescer entre herdeiros testamentários ocorre na proporção das contas dos
mesmos.

Ex. Se temos três herdeiros, o primeiro com direito a 75.00; o segundo com
direito a 100.00 e o terceiro com direito 50.00

Se o que tem direito a 75.00 repudiar, a sua parte vai acrescer aos demais.
Assim, o segundo, que tinha 100.00, fica com 150.00 e o terceiro, que tinha
50.00, fica com 75.00

Art. 2306º

A aquisição da parte acrescida dá-se por força da lei, ou seja, a aceitação não é
necessária; inclusivamente o beneficiário não pode repudiar apenas a parte
acrescida. Ou repudia tudo ou tem que aceitar a parte acrescida.

O beneficiário só poderá repudiar a parte acrescida se a mesma se encontrar


onerada com encargos.

Se a parte acrescida estiver onerada com encargo, a aceitação da mesma será


necessária e, neste caso, poderá existir um repúdio automático. Ou seja,
poderá ser repudiada a parte acrescida onerada.

Se a parte acrescida for repudiada, ela reverterá para a pessoa a favor de quem
o encargo tenha sida constituído.

- O acrescer entre os herdeiros legais


art. 2137º nº2

De acordo com este art., são beneficiados com a parte acrescida os sucessíveis
da mesma classe e grau.

Os descendentes são beneficiados com a parte acrescida de outros


descendentes do mesmo grau que não poderão ou não quiseram aceitar. O
mesmo se passa com os ascendentes e com as demais classes de sucessíveis,
no âmbito da sucessão legítima

Ex. se um dos irmão do autor da sucessão repudiar a parte que lhe compete,
caso tenham sido chamados mais irmãos, essa parte será dividida
proporcionalmente entre eles.

Art. 2306º

Também no acrescer entre herdeiros legais existirá aquisição automática da


parte acrescida, ou seja, não será necessário a aceitação.

HIERERQUIA DAS VOCAÇÕES INDIRECTAS

- Hierarquia na sucessão testamentária


1. Substituição directa art. 2041,nº 2 al. a)

A substituição directa prevalece sobre o direito de representação

2. Direito de representação art. 2304º


3. Direito de acrescer art. 2304º

HIERARQUIA NA SUCESSÃO LEGAL

Só temos dois patamares.

1. Direito de representação art. 2138º


2. Direito de acrescer art. 2137º nº 2

HERANÇA JACENTE E ADMINISTRAÇÃO

A figura da herança jacente esta no art. 2046.º ss.

A fase da pendência da herança é a fase em que se desconhece se o sucessível


irá ou não aceitar a herança. Se aceitar, torna-se sucessor. Se repudiar,
considera-se como nunca tendo sido chamado e, regra geral, chamam-se os
sucessíveis subsequentes. Art. 2032.º, n.º 2

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