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Direito Constitucional Comparado

Breves aspectos epistemológicos

Orione Dantas de Medeiros

Sumário
1. Enunciação do problema: diferenças e
semelhanças entre sistemas constitucionais.
2. Epistemologia e Direito Comparado: algu-
mas questões de base. 2.1. Funções do Direito
Comparado e recepção legislativa. 2.2. Micro e
Macrocomparações. 2.3. Comparação horizon-
tal e comparação vertical. 3. Sistemas jurídicos
contemporâneos e Direito Constitucional Com-
parado. 3.1. Classificação dos grandes sistemas
jurídicos. 3.2. Agrupamento dos direitos em
famílias: Common Law e Civil Law. 4. Direito
Constitucional Comparado: elementos teóricos.
5. Considerações finais.

1. Enunciação do problema:
diferenças e semelhanças entre
sistemas constitucionais
O Direito Comparado tem sido de
grande interesse para os juristas. Ainda
que os temas tenham-se diversificado e
as divergências que estes provocam na
atualidade, as questões fundamentais que
encontramos no passado persistem em
se manter. Trata-se de saber se o Direito
Comparado é ciência ou método.
O presente artigo busca apresentar, de
Orione Dantas de Medeiros é Doutorando forma breve, aspectos epistemológicos re-
em Direito pela Universidade Federal de Per-
lacionados com o Direito Comparado, em
nambuco (UFPE), Mestre em Ciências Jurídicas
pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), geral, e o Direito Constitucional Compara-
Professor Assistente da Universidade Federal do, em particular, como um “novo” espaço
do Rio Grande do Norte (UFRN), bolsista do de reflexão o qual, a cada dia, tem atraído
CNPq. estudiosos do direito, preocupados com os
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problemas advindos de um mundo globali- Na atualidade, o que justifica o estudo
zado, marcado pelas diferenças, inseguran- do Direito Comparado como ramo do co-
ça e incertezas que desafiam os teóricos do nhecimento jurídico ou como método para
direito neste início de século XXI. se chegar a ele? Quais são os pressupostos
Pensar o Direito Constitucional Compa- que os levam a caracterização como co-
rado, em sua perspectiva epistemológica, nhecimento científico? Depois da Segunda
significa tentar perceber o surgimento da Guerra Mundial, constata-se o surgimento
ciência do direito em geral1, sua trajetória e de novas abordagens acerca do fenômeo
transformação ao longo da história, a partir jurídico, sobretudo com a crise do positivis-
do século XIX, na Europa Ocidental. Com mo jurídico, de viés legalista, que produziu
efeito, a precedência do Direito Comparado uma visão distanciadora entre o direito e a
concorreu para a lenta formação do Direito moral. No que tange ao Direito Comparado,
Constitucional Comparado, objeto de nossa vários são os trabalhos realizados. O ensino
reflexão. do Direito Comparado avançou nas Uni-
Neste sentido, afirma-se que o Direito versidades; importantes instituições, como
Constitucional Comparado resulta do a Organização das Nações Unidas para a
avanço que emerge dos trabalhos de legis- Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),
lação estrangeira e das obras fragmentárias ocuparam-se do Direito Comparado. Entre-
do Direito estrangeiro, matérias geralmente tanto, tais estudos ainda são incipientes, tal-
percorridas pelo estudioso para alcançar a vez pelos juristas se encontrarem presos a
temática do Direito Comparado2. uma formação científica contida nos limites
de um horizonte histórico e nacional, reféns
1
Ferraz Jr. (1980, p. 10), ao abordar o discurso da de uma visão do Direito limitada ao espa-
Ciência do Direito, escreve que: “costuma-se, de modo ço interno. Todavia, o mundo jurídico na
geral, entender a Ciência do Direito como um ‘sistema’
de conhecimentos sobre a ‘realidade jurídica’. Esta
atualidade é muito mais complexo do que
concepção é, evidentemente, muito genérica e pressu- se pensou anteriormente. Ele é portador de
põe uma série de discussões que se desenvolvem não outras dimensões e perspectivas (CONS-
só em torno da expressão ciência jurídica propriamente TANTINESCO, 1998). Fala-se hoje de uma
dita, mas também, em torno do próprio termo ciência”.
“geografia jurídica”, cujo conhecimento é
E prossegue: “Os pontos cruciais desta discussão são,
a nosso ver, os seguintes: a) o termo ciência não é especialmente útil a uma época marcada,
unívoco; (...). c) embora haja um certo acordo em clas- ao mesmo tempo, pela coexistência – e pela
sificar a Ciência do Direito entre as ciências humanas, confrontação ou harmonização – de dois ou
surgem aí debates entre as diversas epistemologias
mais sistemas3 existentes.
jurídicas sobre a existência ou não de uma ciência
exclusiva do Direito, havendo aqueles que preferem Justifica-se o estudo do Direito Constitu-
vê-lo como uma simples técnica ou arte, reduzindo-se cional Comparado, entre outros fatores, de-
a ciência propriamente dita do Direito a uma parte da vido ao impacto causado pela globalização4
Sociologia, da Psicologia, da História, da Etnologia etc.
ou de todas elas no seu conjunto”. da delegação legislativa na Inglaterra, na França, nos
2
Abordando o tema Direito Constitucional Com- Estados Unidos e na Alemanha” (DANTAS, 2006).
parado, Raul Machado Horta salienta que, em 1938, 3
Sistema aqui entendido como “blocos de legisla-
com a publicação de uma coletânea de estudos em ções particulares, em face dos quais o comparativista
homenagem a Edouard Lambert, compreendendo três deve se colocar antes de qualquer comparação insti-
alentados volumes, sob o título comum Introduction a tucional mais profunda.” (ANCEL, 1980, p. 59). A dis-
létude du Droit Compare, um breve espaço é dedicado cussão acerca dos sistemas jurídicos contemporâneos
ao Direito Constitucional Comparado. E prossegue será tratada no item 3 do presente artigo.
afirmando que “dos cinco textos incluídos na seção do 4
A globalização apresenta várias perspectivas,
Direito Constitucional Comparado, apenas o de Carl tais como, econômica, cultural, política, jurídica etc.
Schmitt, intitulado Lévolution recente du problème des de- Em seu aspecto jurídico, podemos citar o Direito
legations legislatives, na versão francesa de Paul Roubier, Comunitário, o Direito da Integração, como parte
preenche os requisitos do tema do Direito Constitucio- de sua manifestação. Conforme o entendimento de
nal Comparado pelo tratamento dispensado à técnica José Eduardo Faria (1999, p. 52), “a globalização

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sobre o constitucionalismo clássico, sobre Durante muito tempo, o Direito Compa-
o papel do Estado na esfera de direitos rado foi confundido com Direito Estrangei-
fundamentais e inclusive sobre o uso do ro e Legislação Comparada7. Diante de tal
direito comparado pelos juízes constitu- ambiguidade, buscou-se uma delimitação
cionais5. Este último fator, pela relevância semântica, pois, para o estudo de Direito
que assume na atualidade, já merece um Comparado, não basta fazer comparação
estudo comparado, embora não seja objeto entre a legislação nacional e a legislação
de nossa reflexão aqui. estrangeira (elementos do Direito Compa-
Cabe ao Direito Constitucional Compa- rado); é preciso uma análise dentro de um
rado, como ramo do Direito Comparado, quadro geral em que se incluem aspectos
apresentar-se como um dos elementos doutrinários e jurisprudenciais. O Direito
desse universalismo, tentando ajudar na Comparado tem a comparação (semelhan-
compreensão dessa complexidade, de uma ças ou diferenças), entre sistemas e/ou ins-
realidade cada vez mais cambiante, em um titutos jurídicos vigentes, como seu objeto.
contexto de desenvolvimento científico e Os grandes sistemas jurídicos e as famílias
tecnológico, representado pelo surgimento de direito (as diferenças e semelhanças) não
e difusão em escala global da comunicação, são opostos, mas conceitos interdependen-
via Internet, que torna as relações da vida tes que estão necessariamente em tensões.
nacional e internacional cada vez mais Tentando uma melhor visualização do
próximas e mais complexas, em sua multi- tema, dividiu-se este artigo nos seguintes
plicidade de direitos, facilitando recepções pontos: Epistemologia e Direito Compara-
legislativas6 para solução de problemas do: algumas questões de base, no qual são
semelhantes.
aqui la razón última de la necesidad de ver la razón
corresponde à integração sistêmica da economia em última de la necesidad de ver lo que hace el vicino
âmbito transnacional, iniciada pela crescente mudan- para aprovechar los logros ya alcanzados por este, y
ça estrutural e funcional nos sistemas produtivos e ello no solo por la notória escasez de recursos, sino
pela conseqüente ampliação das redes empresariais, también por puro y simple ahorro de tiempo y trabajo.
comerciais e financeiras em escala mundial atuando De ahí la primera toma de contactos con lo foráneo;
de modo cada vez mais independente dos controles léase con las primeras recepciones. Es posible que en
políticos e jurídicos em âmbito nacional”. ello actúe como factor sugestivo la propia efectividad
5
Gustavo Zagrebelsly (2007, p. 92) aponta que vá- del ejemplo, ajeno, añadiendose posteriormente las
rios “centros académicos de investigación comparada corrientes propias del denominado espíritu de la época
en todo el mundo, a su vez, contribuyen eficazmente a e incluso las propias modas. Desde un punto de vista
um diálogo que, entre todos los que se desarrollan sobre histórico, podríamos decir que dicho momento bien
los grandes temas del derecho público, es ciertamente podría llamarse la hora de las recepciones, si bien hay
de los más fructíferos”. E arremata: “En los últimos que tener en cuenta que no siempre se dan en igual
tiempos, sin embargo, este intercambio de experiencias medida las condiciones adecuadas para que las refor-
há sido enfocado como problema de derecho constitu- mas se efectúen siguiendo los modelos extranjetos. (...)
cional general, bajo la forma de controversia sobre la los siguientes cauces y procedimentos de recepción a
utilización y la citación por parte de las Cortes de ma- través de los que se asume lo creado en otros Estado.
teriales normativos y jurisprudenciales ‘externos’”. 1) Por vía de la revisión total de la Constitución (Sui-
6
Escreve Peter Häberle (1996, p. 151-185 apud za, por ejemplo). 2) Por vía de la revisión parcial de
DANTAS, 2006, p. 108-109) que a atual interdepen- la Constitución. 3) Por vía legislativa. 4) por vía de la
dência efetiva entre as Constituições, especialmente, jurisprudência constitucional, incluyendo el Tribunal
enquanto ao sem número de recepções atualmente Europeo de Derechos Humanos y la Corte Constituio-
produzidas, induz a buscar um modelo teórico geral. nal europea. 5) Por vía de la Teoria de la constitución.
E prossegue em seu raciocínio afirmando que: “A 6) Por vía de la práxis jurídica (por ejemplo, la relativa
esto hay que añadir que el actual mundo uniformado a acuerdos de los länder com la Federación)”.
cada vez se hace más pequeno gracias a las intensas 7
Existe uma tradição de estudos comparados
posibilidades de comunicación, por un lado, y tambien que, segundo alguns autores, remontam à Antigui-
gracias, por otro, a que los problemas globales existen- dade clássica, com Aristóteles (Política), ou à Idade
tes son similares para todos, como, por ejemplo, los Moderna, com Montesquieu (Do Espírito das Leis),
derivados del medio ambiente y de la tecnologia. He segundo outros.

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abordadas categorias, funções do Direito os estudiosos do Direito. A posição aqui
Comparado e recepção legislativa, micro adotada será a do Direito Comparado
e macro comparações, comparação hori- como sendo ciência, isto é, o equivalente
zontal e comparação vertical; em seguida, à expressão Teoria do Direito Comparado
são abordados alguns sistemas jurídicos (DANTAS, 2006, p. 6-13). Isso já é o bastante
contemporâneos e Direito Constitucional para identificar uma opção filosófica diante
Comparado, agrupamento dos direitos do Direito em geral, bem como no âmbito
em famílias, como a do Civil Law e Com- do Direito Comparado, em particular, a
mon Law. Por último, abordam-se alguns qual repercutirá no Direito Constitucional
elementos teóricos para um Direito Cons- Comparado, caracterizando-o de conhe-
titucional Comparado. cimento jurídico e não como apenas um
método.
2. Epistemologia e Direito Comparado: No Vocabulaire Juridique, publicado em
algumas questões de base Paris em 1936 e coordenado por Henri
Capitant, definiu-se o Direito Comparado
Inicialmente, surge uma questão, como “o ramo da ciência do direito que tem
de ordem filosófica, que precisa ser posta, por objeto a aproximação sistemática das
visto não haver posição pacífica entre os instituições jurídicas de diversos países”.
autores: trata-se do significado da expres- Essa definição também correspondeu, ao
são “epistemologia”. O termo epistemolo- mesmo tempo, à da Academia Internacio-
gia é frequentemente considerado como nal de Direito Comparado de Haia, nos
sinônimo de gnoseologia (MORA, 2001, estatutos de sua fundação (13 de setembro
t. 2, p. 852). Entretanto, por Gnoseologia de 1924) (ANCEL, 1980, p. 43).
entende-se o estudo do conhecimento como Quando se afirma a não existência do
gênero (vulgar, científico, filosófico etc.), Direito Comparado como ciência jurídica
ao passo que a Epistemologia é o estudo autônoma, geralmente toma-se como ponto
do conhecimento científico. Epistemolo- de partida uma sistemática do Direito, na
gia – do grego episteme – designa um tipo qual se fala de Direito Civil, de Direito Penal
especial de conhecimento que se pretende ou de Direito Administrativo. Nesse senti-
verdadeiro, racional, sistematizável. Aqui do, considera-se que o Direito Comparado
será entendida como o estudo da Teoria não tem um objeto próprio, como o têm os
do Conhecimento Científico8. Ligado ao diferentes ramos do direito. Adotando tal
fenômeno jurídico, compreende-se o es- visão, é que diversos autores apontam a
tudo do conhecimento jurídico, ou seja, impossibilidade de autonomia do Direito
uma epistemologia jurídica, um estudo Comparado como um ramo da ciência ju-
sistemático dos pressupostos, do objeto e rídica. Para os que adotam tal perspectiva,
do método. o Direito Comparado é método jurídico9 de
A questão de o Direito Comparado ser
ciência ou método ainda hoje incomoda
9
Vale lembrar que, durante décadas, o direito
comparado foi considerado apenas como um método,
definido como conjunto de diligências e de processos,
8
Discutindo a temática, Ivo Dantas (2006, p. 13) encadeados de forma racional, destinados a conduzir
afirma: “... preferimos a expressão Teoria do Conheci- o jurista a considerar e a perceber, mediante um
mento como sinônimo de Gnoseologia, ou seja, tendo processo ordenado, metódico e progressivo de con-
por objeto o conhecimento em si, seu conceito e fases frontação e comparação entre os sistemas jurídicos,
de formação, independentemente de estarmos diante as semelhanças e as diferenças, neles existentes, assim
do conhecimento vulgar, científico ou filosófico; à como suas causas, isto é, a comparação consistiria,
expressão Epistemologia reservamos como seu objeto precipuamente, em extrair as relações existentes entre
o estudo da Teoria do Conhecimento Científico, ou seja, as estruturas e as funções dos termos a serem com-
Teoria da Ciência, investigando seus caracteres e me- parados, pertencentes a ordens jurídicas diferentes
todologia”. (FRADERA, 2001, p. 5-8).

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comparação que se aplica às matérias que signar o método e a ciência autônoma.
pertencem a um outro ramo do Direito, ou Entretanto, esclarece que: “Cada vez que se
melhor, um modo científico de unificação aluda al Derecho Comparado como método
(coordenação) e aperfeiçoamento dos ins- se empleará el término método comparativo.
titutos jurídicos vigentes. Siempre que se aluda a la disciplina autô-
A esses problemas de geografia jurídi- noma se utilizará la expresión Ciência de los
ca, acresce Marc Ancel (1980, p. 19-51) um Derechos Comparados” (CONSTANTINES-
problema metodológico de monta, que CO, 1998, p. 26).
relega a um segundo plano as controvérsias Por último, há aqueles autores que se
teórico-doutrinárias, tradicionais desde inclinam para o lado que considera o Di-
1900, sobre a função e a natureza do Direito reito Comparado como ciência autônoma.
Comparado. Após 1945, as perspectivas Entre eles podemos destacar Marc Ancel
críticas do comparativismo foram inicial- com seu Utilité et méthodes du droit comparé
mente sustentadas na Inglaterra por H. C. – Eléments d’introduction à l’étude comparative
Guitteridge, na célebre obra Compative Law des droits, publicado em 1971. Nessa mesma
de H. C. Guitteridge, publicada em 1946 perspectiva, no Brasil, podemos citar, por
e apresentada como An Introduction to the exemplo, Caio Mário da Silva Pereira, em
Comparativa Method of Legal Study and Rese- seu artigo intitulado Direito Comparado,
arch. No mesmo sentido, Hamson publica Ciência Autônoma, de 1952, ao defender o
em 1955 The Law: Study and Comparison. caráter científico e o sentido de autonomia,
Esses autores ingleses partem da ideia de que possui o Direito Comparado, e Ivo
que o Direito Comparado não é um ramo Dantas10, em seu “Direito Constitucional
autônomo da ciência jurídica; ele (o direito Comparado”. Em sentido contrário, pode-
comparado) consiste unicamente no em- mos citar entre outros, José Afonso da Silva,
prego de um método particular, o método com “Um Pouco de Direito Constitucional
comparativo, o qual pode e deve ser usado Comparado”11.
em todos os ramos do direito. Quanto às inúmeras objeções postas
Seguindo essa linha crítica, na França, pelos críticos do Direito Comparado, ao
René David em muito tem contribuído menos duas são refutadas. A primeira das
para o estudo e o aperfeiçoamento do objeções diz respeito ao acesso às fontes
Direito Comparado, sobretudo na obra estrangeiras, ligadas aos ordenamentos
Traité Elémentaire du Droit Comparé, de 1960, que se pretende comparar (fontes enten-
chegando a afirmar categoricamente que o didas não apenas no sentido de textos
Direito Comparado nada mais é do que “o legislativos, mas também como Doutrina,
método comparativo aplicado no terreno Jurisprudência e costumes); a segunda está
das ciências jurídicas”. Do mesmo modo,
na Itália, vamos encontrar tal posição na 10
Esse autor considera que, “... à medida em que
se compreendam os conceitos de método e ciência, bem
doutrina de Túlio Ascarelli em La Funzione como do que seja autonomia científica, não haverá,
del Diritto Comparatio e il Nóstro Sistema di em sã consciência, como assumir posição diferente,
Diritto Privato, de 1949. Todos eles acres- sobretudo, se levarmos em conta os modernos es-
centam valiosa contribuição para o estudo tudos da Epistemologia”. E arremata dizendo: “No
caso específico do Direito Comparado, o seu estudo
da Teoria do Direito Comparado, embora apresenta dificuldades que, entretanto, uma prepa-
negando-lhe a autonomia científica. ração metodológica correta do pesquisador, poderá
Por outro lado, há autores como Leon- superá-las” (DANTAS, 2006, p. 99).
tin-Jean Constantinesco, em sua obra Ein- 11
Acerca desta questão, assim se expressa: “No
nosso entender é difícil mostrar o direito comparado
führung in die Rechtsvergleichung, publicada como ciência. O direito comparado não passará de mé-
em 1971, que emprega indistintamente a todo – não é ciência, porque lhe falta objeto próprio”
expressão Direito Comparado para de- (SILVA, 2009, p. 34).

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relacionada ao problema linguístico, ou se intitulam de direito comparado, quando
seja, conhecimento da língua usada pelo efetivamente o que fazem é justapor dispo-
Estado cujo Direito se pretende comparar. sições de ordenamentos estrangeiros, sem
Tais obstáculos são superáveis por uma a preocupação de detectar, sistematica-
preparação metodológica e intelectual que mente, semelhanças e diferenças em torno
englobará a adequada terminologia utiliza- de pontos específicos (TAVARES, 1999, p.
da pelo sistema ou ordenamento jurídico 89-104).
estrangeiro e seu significado. A distinção entre o Direito Comparado
Em linha de defesa, para caracterizar o e o Direito Estrangeiro era clássica, desde
Direito Comparado como conhecimento antes de 1900, data do I Congresso Inter-
científico, basta que disponha de um obje- nacional de Direito Comparado, mas ela
to (a pluralidade de ordens jurídicas), um nunca foi muito clara e, por conseguinte,
método específico (o método comparativo) teoricamente negligenciada (ANCEL, 1980,
(ALMEIDA, 1998, p. 27), bem como de um p. 109-110). O Direito Comparado depende
terceiro elemento, que é sua autonomia em muito dos estudos de Direito Estrangei-
doutrinária e didática12. ro, que é a sua matéria-prima.
Em síntese, pode-se afirmar, com base No que diz respeito à expressão Legis-
em alguns dos autores aqui já menciona- lação Comparada, vale ressaltar que a sua
dos, que existe um Direito Comparado impropriedade inicia-se no instante em que
com caracterização de ciência, e não como se tenta identificar Direito com Legislação.
método. Esse é apenas um dos elementos Pois “aquele tem um sentido mais amplo
que autorizam a dita caracterização, ao lado que a segunda, sendo esta (legislação),
de um objeto formal e de uma autonomia apenas, uma das formas de manifestação
doutrinária e didática, além da questão daquele (=Direito Positivo)” (DANTAS,
terminológica. De início, é preciso lembrar 2006, p. 66).
a distinção necessária entre Legislação Aliás, lembra Caio Mário da Silva Pe-
Comparada, Direito Estrangeiro e Direito reira (1955, p. 33-47), no Brasil, quando da
Comparado, pois elas não correspondem criação das primeiras cátedras, a concepção
a mesma coisa. dada à disciplina era Curso de Legislação
A denominação Direito Comparado Comparada. Nas obras publicadas em
normalmente é confundida equivocada- fins do Século XIX e início do Século XX,
mente com Direito Estrangeiro e Legislação pode-se registrar esta tendência dominante.
Comparada13. Muitos são os trabalhos que Quem lê, por exemplo, Lições de Legislação
Comparada (1897), de Clóvis Beviláqua, e
12
Quanto à autonomia doutrinária, contempo- Curso de Legislação Comparada (1903),
raneamente, milhares de trabalhos monográficos,
tratados, manuais confirmam tal perspectiva, entre os de Cândido de Oliveira, poderá constatar
quais podemos citar, no geral, os estudos de Cañizares, tal fato.
Gutteridge e René David, enquanto que, no caso espe- Entretanto, o estudo de Direito Com-
cífico do Direito Constitucional Comparado, temos os parado vai além do aspecto legislativo
trabalhos de Garcia Pelayo, Sanches Agesta, Biscareti
di Ruffia, G. de Vergottini e outros mais (DANTAS,
(instante refletido no texto posto); inclui
2006, p. 101). No tocante à autonomia didática, existe também os aspectos doutrinário e juris-
nos cursos de Pós-Graduação e nas diversas institui- prudencial. Compreende a realidade dos
ções internacionais e nacionais criadas para cultivar sistemas jurídicos em seu conjunto tais
o Direito Comparado, como exemplo, o Instituto Per-
nambucano de Direito Comparado, entre outros.
como a legislação, a jurisprudência, o
13
Neste sentido, adverte Ivo Dantas (2006) que: conhecimento do meio social, a prática
“este equívoco é muito comum entre os autores bra-
sileiros os quais, em bom número, costumam dizer, direito estrangeiro, a Constituição italiana...’. O Direito
por exemplo, ‘no direito comparado, a Constituição ita- comparado é a análise que será feita, levando-se em
liana...’ quando deveriam, corretamente, afirmar: ‘no conta o direito nacional e o direito estrangeiro”.

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contratual, a tendência da técnica jurídica Direito Comparado Luso-Brasileiro, Instituto
(PEREIRA, 1955, p. 38). de Direito Comparado Luso-Brasileiro, Rio
Para a grande maioria dos comparativis- de Janeiro; em Recife, foi criado, no ano de
tas, a expressão “Direito Comparado” deve 2000, o Instituto Pernambucano de Direito
ser entendida em seu sentido restrito, que Comparado.14
é bastante distinta de Direito estrangeiro. De um modo geral, tais terminologias
A esse respeito, escreve Ana Lúcia de Lyra chegam a expressar as concepções teóricas,
Tavares (1999, p. 96) que, segundo as quais se projetam para o Direito
“na verdade, o estudo de ordena- Comparado, apontando vários objetivos
mentos jurídicos alienígenas constitui que constituem funções próprias e espe-
uma fase preparatória indispensável cíficas do Direito Comparado. Entretanto,
para a comparação jurídica, mas com antes de apontar algumas posições dou-
ela não se confunde, uma vez que trinárias sobre o tema, é preciso lembrar
pode limitar-se a meras descrições que o Direito Comparado não terá funções
sobre um ou outro aspecto daqueles práticas. Suas conclusões serão utilizadas
ordenamentos ou a eventuais cotejos pelos “operadores” do direito, como os
sistemáticos. Nos casos em que são legisladores, os magistrados, os advogados
focalizadas com exclusividade as etc., visando a uma melhor e adequada
fontes legislativas, têm-se ensaios de regulamentação dos acontecimentos sociais
legislação comparada, campo que, relevantes de determinada sociedade.
de resto, precedeu historicamente o
direito comparado”. 2.1. Funções do Direito Comparado
Legislação Comparada, Direito Compa- e recepção legislativa
rado são expressões também encontradas O Direito Comparado possui funções
nas denominações de algumas Sociedades, próprias e específicas. As suas finalidades,
Institutos e Periódicos especializados. Vários segundo Paolo Biscaretti di Ruffia (1975,
são os exemplos: a Sociedade de Legislação p. 13-15 apud DANTAS, 2009), podem
Comparada criada em Paris, em 1869; o pri- ser agrupadas em quatro: na satisfação de
meiro Congresso Internacional de Direito meras exigências de ordem cultural; na
Comparado, realizado em 1900, que incor- interpretação e valorização das instituições
porava em sua designação oficial; o Bulletin jurídicas do ordenamento nacional; na
Mensual de la Societé de Legislation Compare notável aportação que a ciência do direito
de Paris (revista esta que circula desde 1949 constitucional pode proporcionar ao campo
com a denominação de Revue Internationale da “nomotética”, isto é, em relação com a po-
de Droit Compare); Documentação e Direito lítica legislativa; e na unificação legislativa.
Comparado, Boletim do Ministério da Justiça, Giuseppe de Vergottini (1985 apud
Lisboa; Comparative Judicial Review, Rein- DANTAS, 2006, p. 106), ao afirmar que com-
forth Foundation, Flórida, USA; Boletin del parar significa, antes de tudo, cotejar para
Instituto de Derecho Comparado de México, Ins- manifestar analogias e diferenças, entende
tituto de Investigaciones Jurídicas – UNAM que é preciso também perguntar qual é a ra-
(revista esta que circula desde 1968 com a zão de tal operação lógica. Indica finalidades
denominação Boletin Mexicano de Derecho do Direito Constitucional Comparado entre
Comparado); Annuario di Diritto Comparato e
di Studi Legislativi, Insituto Italiano di Studi 14
Sob a presidência do Prof. Ivo Dantas (2006, p.
Legislativi, Roma, Itália. No Brasil, Revista 70), o Instituto Pernambucano de Direito Comprado
patrocinou o I Congresso Brasileiro de Direito Cons-
de Direito Comparado, Universidade Federal titucional Comparado, tendo como tema central das
de Minas Gerais, Faculdade de Direito, Cur- discussões, Constitucionalismo & Globalização. Veja
so de Pós-Graduação em Direito; Revista de também Dantas (2009).

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as quais estão a “clasificación y agrupación permitem-nos falar em uma Macrocompa-
de ordenamientos; interpretación de las ração e uma Microcomparação, bem como
instituciones constitucionales; preparación em uma comparação horizontal e uma
de la normación; unificacción de derechos y comparação vertical.
armonización de la normativa pluralista”.
No que toca à unificación legislativa, 2.2. Micro e Macrocomparações
como uma das finalidades do Direito Com- Nos estudos de Direito Constitucional
parado, referida por Ruffia, e à unificacción Comparado, German J. Bidart Campos
de derechos y armonización de la normativa e Walter F. Carnota (BIDART CAMPOS;
pluralista, defendida por Vergonttini, estas CARNOTA, 1998, p. 11-15 apud DAN-
fazem parte de uma visão que afirma a TAS, 2006, p. 112), ao fazerem referência
necessidade de o mundo contemporâneo à metodologia de análises, apontam dois
difundir soluções jurídicas cada vez mais critérios: o primeiro consistiria em uma
aproximadas pelos diversos Estados, exposição resumida ou pormenorizada
mesmo sabendo da impossibilidade de do Direito Constitucional de cada país sub
transportar um instituto jurídico de uma examine (Estados Unidos, Grã-Bretranha,
sociedade para outra, sem se levar em conta Alemanha, França, Suíça, Espanha etc.). Tal
os condicionamentos a que estão sujeitos metodologia de unidades políticas isoladas
todos os modelos jurídicos. obriga o estudioso a extrair das exposições
Marc Ancel (1980, p. 17-18) não se di- parcelas de sua própria comparação.
ferencia dos autores acima mencionados, Quanto ao segundo critério, procura-se
quando aponta que: abreviar essa tarefa. Em vez de se estudar
“apesar da diversidade das legislações, o Direito Constitucional país por país,
existe uma universalidade do direito; procura-se expor, agrupando-se as linhas
o conhecimento do direito estrangeiro comuns ou similares de um grupo de esta-
é frequentemente indispensável ao dos, assinalando-se também as diferenças.
advogado, ao juiz e ao árbitro; permite Não se explica, separadamente, como é o
ao jurista uma melhor compreensão Direito Constitucional britânico, francês,
do direito nacional, cujas característi- norte-americano, português, brasileiro etc.
cas particulares se evidenciam, muito Em síntese, trata-se de elaborar algumas
mais, através de uma comparação com tipologias empíricas que levam em conta
o direito estrangeiro; o método com- uma certa uniformidade, analogia ou deno-
parativo é indispensável ao estudo da minações comuns. Tais tipologias, embora
História do Direito e da Filosofia do não alcancem a totalidade de estados que
Direito; nenhuma legislação nacional tem no mundo, abarcam alguns blocos de
pode dispensar o conhecimento das países, por exemplo, da União Europeia,
legislações estrangeiras”. do lado Latino-americano etc.
Nesse sentido, pode-se falar do fenôme- Ambos os critérios utilizados são típicos
no denominado de Recepção Legislativa, da macrocomparação. Seria mais produtivo
que, para Ana Lúcia de Lyra Tavares (1987, ao comparatista se dedicar a setores do siste-
p. 2), corresponde à “introdução, em um ma e/ou determinado instituto, tornando o
sistema jurídico, de normas ou institutos estudo mais viável do que aquele que visa o
de outro sistema”. A Constituição brasi- sistema jurídico, como um todo. Dessa for-
leira de 1988 traz vários exemplos, entre os ma, poderá o comparativista voltar-se para
quais podemos citar a Medida Provisória e o sistema constitucional, sistema tributário,
o Mandado de Injunção. sistema penal, como partes do sistema jurí-
São várias as possibilidades de compa- dico total, ou ainda dentro de cada um deles,
ração que, de todo ou de parte do sistema, fixar-se em determinado instituto como, por

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exemplo, fato gerador, pena, sistema parti- nem sempre assumem o mesmo significado
dário ou controle da constitucionalidade das entre os autores. Surge, então, a necessida-
leis (DANTAS, 2006, p. 113). de de que ambas as expressões sejam com-
Essas possibilidades de comparação, do preendidas, uma vez que, dependendo do
todo ou de parte do sistema, que permitem sentido que se atribui a elas, pode-se chegar
falar em dois tipos de comparação: a Ma- a caminhos diferentes, sobretudo no tocan-
crocomparação e a Microcomparação. Mas te à distinção entre o Direito Comparado e
devemos atentar para o fato de que essas ex- a História do Direito.
pressões assumem sentido diverso entre os Partindo-se da ideia de que o Direito
autores. Por exemplo, para Mauro Cappel- Comparado assenta em sistemas jurídicos
letti (1993, p. 13-42), o direito comparado é, positivos não necessariamente vigentes ou
na realidade, um método (Rechtsvergleichung de sistemas coexistentes em determinada
[comparación jurídica] e não vergleichendes época, admite-se um caráter vertical à
Recht [derecho que compara]). É, em suma, comparação. Esse é o posicionamento as-
uma maneira de analisar o direito de dois ou sumido por autores como Jorge Miranda.
mais sistemas jurídicos diversos. Assim, Argumenta ele: “O Direito constitucional
“existe aquella que podemos llamar comparado – se se quiser, a comparação de
‘micro-comparación’, cuando la com- Direitos constitucionais – assenta, todavia,
paración se efectúa en el âmbito de em sistemas jurídicos positivos, embora não
ordenamentos que pertenecem a la necessariamente vigentes” (MIRANDA,
misma ‘familia jurídica’ (por ejemplo, 1997, p. 26).
entre Francia e Itália), o bien, ‘macro- Dessa forma, resulta não ser adequado
comparación’, si el análisis compara- supor que a única perspectiva do Direito
tivo se conduce a caballo entre dos o Comparado (em geral) e do Direito Cons-
más famílias jurídicas, por ejemplo, titucional Comparado (em particular) seja
entre un ordernamiento del Civil Law, a espacial. Pode-se também encontrar uma
como el de Itália, y uno del Common outra perspectiva, a temporal, conforme já
Law, como el de Inglaterra.” assinalada acima.
Mas, a comparação de sistemas, de Por outro lado, contrariamente, há
instituições atuais em dois ou mais países, autores para os quais, falar em Direito
poderá ser feita numa perspectiva micro Comparado, implica necessariamente
ou macro, independentemente da família a comparação de dois ou mais sistemas
à qual eles se vinculam. jurídicos vigentes. Por exemplo, para Ivo
Além das micro e macrocomparações, Dantas (2006, p. 115-116), o Direito Com-
alguns autores apontam para o fato de que parado implica sempre a existência de dois
esta não seja a única perspectiva do Direito ou mais sistemas jurídicos vigentes que
Comparado. Ao lado de uma perspectiva serão objeto de comparação, dos quais,
espacial, poderá haver comparação no preferencialmente, um deles é o sistema
tempo. Nesse sentido, fala-se de compa- jurídico nacional. Nesse sentido, não se
ração horizontal e de comparação vertical, admite falar em comparação vertical, no
termos que serão explicitados a seguir, sentido de comparação no mesmo sistema,
pois poderão causar equívocos de natureza ou seja, fazendo a evolução do instituto
epistemológica. em suas diversas fases, dentro do mesmo
sistema jurídico.
2.3. Comparação horizontal Ao Direito Comparado interessa os
e comparação vertical sistemas legais ou sistemas jurídicos vi-
Acerca das expressões “comparação gentes. A comparação feita no âmbito do
horizontal” e “comparação vertical”, elas Direito (nacional) pode ser utilizada com

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independência dos direitos estrangeiros ao primeiro de comparação vertical,
(comparação interna), estando nesse caso e ao segundo de comparação hori-
fora do objeto da chamada Ciência do Di- zontal.”
reito Comparado. Cumpre destacar ainda que o Direito
Referindo-se à comparação vertical e Comparado estende nossos conhecimen-
à comparação horizontal, Caio Mário da tos através do espaço, enquanto que a
Silva Pereira (1955, p. 35-51) esclarece que História do Direito nos permite enriquecer
o processo comparativo pode ser aplicado nossa cultura com referência ao tempo. O
nos dois sentidos e que todos os compa- estudo do Direito Comparado nos permite
ratistas o aceitam. Pode o investigador, às compreender melhor os distintos sistemas
vezes, recuar no tempo e buscar os dados jurídicos; compreender as bases fundamen-
informativos da instituição em sua origem, tais dos direitos contemporâneos ou de
rastreando-a pelos séculos, até alcançar o determinada época histórica, assim como as
momento atual. Nesse sentido, o pesqui- líneas essenciais de seu desenvolvimento.
sador pode investigar, comparando a con- Também nos ajuda a descobrir as relações
cepção contemporânea de algum instituto que há entre as normas jurídicas por um
com os seus lineamentos no passado, fixar lado, e, por outro, as realidades sociais e
a sua linha de evolução, que lhe permite os problemas da sociedade. Ademais, o
contextualizar o instituto no presente, e Direito Comparado nos dá a possibilidade
prognosticar as suas tendências no futuro. de explicar nosso sistema jurídico a um
Mas, quem assim procede, jurista estrangeiro e, sobretudo, nos faz
“vale-se da História do Direito e compreender profundamente nosso pró-
faz paleontologia jurídica, na feliz prio Direito.
expressão lembrada por CLÓVIS Por fim, o objetivo principal do Direito
BEVILÁQUA e repetida por JOSÉ Comparado é estudar – comparando – or-
EDUARDO DA FONSECA ao deno- dens ou sistemas jurídicos, podendo-o fazer
minar as investigações de SUMMER sob as perspectivas do macro ou micro-
MAINE e HERMANN POSTA de comparação, entendidas estas expressões
paleontologia social. tanto no sentido da quantidade dos siste-
Outras vezes, o estudioso estende os mas (vários sistemas = macrocomparação)
olhos pelo horizonte jurídico e foca- quanto da quantidade de institutos (ex: o
liza os sistemas atualmente em vigor fato gerador do Imposto de Renda em dez
entre os diversos povos, compara-os, sistemas, hipótese em que se pode falar em
procurando assinalar as suas apro- análise macro, ou em dois – microcompa-
ximações e divergências. Tendo em ração) (DANTAS, 2006, p. 124).
vista o seu próprio direito, ou o objeto
de determinado estudo, perquire a 3. Sistemas jurídicos
maneira pela qual o mesmo assunto
contemporâneos e Direito
encontra tratamento noutro organis-
mo jurídico, indaga de que maneira
Constitucional Comparado
o legislador de outro país positivou De início, pelas razões já externadas an-
as normas de seu regime, ou como os teriormente, reafirma-se a importância do
tribunais as aplicaram e os cientistas conceito de sistema jurídico no estudo do
o compreenderam. E aqui está em Direito Comparado e no Direito Constitu-
pleno campo do direito comparado. cional Comparado, em particular. Sem em-
Tendo em vista os dois sentidos de bargo, parte-se aqui de uma ideia, segundo
comparação, e inspirado na sua ma- a qual o sistema é um conjunto ordenado
terialização geométrica, eu chamo de elementos que traz consigo a caracte-

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rística da unidade, da coerência e da (in) essa regularidade, nem que seja mínima,
completude, ou seja, deverá ser visto como o Direito não teria qualquer consistência,
sistema em seus elementos mais genéricos. ideal ou real: ininteligível, imperceptível
Em particular, o sistema jurídico pressupõe e ineficaz, ele deveria ser afastado das ca-
o elemento da vigência; e o direito vigente tegorias existentes. Impõe-se, desde logo,
é aquele direito positivo15 que rege uma uma primeira ideia de sistema: o Direito
determinada época e lugar, por exemplo, assenta em relações estáveis, firmadas entre
a Constituição americana de 1787, embora fenômenos que se repetem, seja qual for a
seja permanentemente interpretada, como consciência que, disso, haja.
qualquer texto jurídico. Em consequência, A multiplicidade dos direitos é um dado
a vigência supõe sempre a positividade; na factual. Tal fenômeno deve ter sua dimen-
positividade supõe a vigência, pois pode são avaliada, bem como a sua significação.
haver direitos positivos não vigentes. Pergunta-se: em que consiste e como se
O conceito de sistema jurídico é tam- manifesta a diversidade dos direitos? Há
bém importante porque a partir dele é elementos variáveis e elementos constantes
que serão apresentadas as diversas clas- no direito. A diversidade dos direitos não
sificações, quer seja em uma perspectiva corresponde unicamente a uma variedade
genérica, quer seja, no âmbito específico de normas que eles comportam. O fenôme-
do Direito Constitucional Comparado, no jurídico é mais complexo. Está longe de
com o agrupamento das diversas famílias ser uniforme, entre todos os povos.
constitucionais, apontando, por exemplo, Se no mundo contemporâneo existem
as diferenças e semelhanças entre o modo muitos direitos, cada direito constitui de
ou não de Controle de constitucionalidade fato um sistema. Emprega-se um deter-
das leis, entre Cortes Constitucionais, Tri- minado vocabulário para expressar certos
bunais Constitucionais e Supremas Cortes conceitos, agrupam-se regras em certas cate-
de Justiça Constitucional etc. gorias, comporta-se o uso de certas técnicas
Entretanto, a ideia de sistema em Direi- para formular regras e certos métodos para
to é uma questão que provoca dúvidas e interpretá-las. Tudo isso ligado a uma dada
discussões, conforme já alertado no início concepção da ordem social que determina
do presente trabalho. Abordando a teoria o modo de aplicação e a própria função do
evolutiva dos sistemas, a ideia de sistema direito (DAVID, 2002, p. 19-20). Apesar
como base do discurso científico nos forne- desta diversidade, autores e cultores do
ce um dado e nos leva a pensar o Direito Direito Comparado insistem na necessidade
assentado numa série de fenômenos que de classificação dos diversos sistemas.
se concretizam com regularidade16. Sem Seria impossível estudar todos os siste-
mas existentes; são muitos, tanto quanto o
15
Toda a tradição do pensamento jurídico oci- número que se tem de Estados. Mas seme-
dental é denominada pela distinção entre “direito
positivo” e “direito natural”, distinção que, quanto
lhante estudo ameaçava confundir-se com
ao conteúdo conceitual, já se encontra no pensamento
grego e latino; o uso da expressão “direito positivo” direito como um sistema de comunicações” (NIKLAS
é, entretanto, relativamente recente, de vez que se LUHMANN); “do apoio sociológico da estruturação
encontra apenas nos textos latinos medievais (BOB- jurídica” (KAUFMANN/HASSEMER); “do tipo de
BIO, 1996, p. 15). pensamento dos juristas” (AULIS AARNIO), etc.
16
Cordeiro (2002, p. 62-66). Há referência a autores Acrescenta: “Mas depõem, sobretudo, as considera-
e obras que tomam a ideia de sistema como a base de ções muito simples, acima efectuadas, sobre a própria
qualquer discurso científico, em Direito. A seu favor existência do Direito e sobre a necessidade de, na sua
depõem como o(s): “da necessidade de um mínimo de comunicação, utilizar uma linguagem inteligível e
racionalidade na dogmática” (WERNER KRAWIETZ); redutora, sob pena de inabarcável a complexidade.
“da identificação das instituições com sistemas de Ou seja: há um sistema interno e deve haver um
acções e de interacções” (TALCOTT PARSONS); “do externo”.

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o que é realizado pela Ciência Jurídica. O pondo em primeiro plano as considerações
que há de específico no direito comparado é substanciais, o tipo de sociedade que se
o uso do método comparativo, pelo qual os pretende estabelecer com a ajuda do di-
elementos retirados de várias ordens jurídi- reito, ou, ainda, o lugar que é reconhecido
cas são comparados, assinalando-se seme- ao direito como fator de ordem social. Em
lhanças e diferenças. Desse modo, afirma-se face de tais posições, de modo pragmático,
que o Direito Comparado pretende levar- limita-se optar por caracterizar três grupos
nos ao conhecimento dos direitos estrangei- de direitos que, no mundo contemporâneo,
ros, pela determinação dos traços essenciais, ocupam uma situação predominante, pelo
à demarcação de agrupamentos que, por menos para nós ocidentais: família romano-
sua vez, nos permitirá a determinação dos germânica, família da comonn law e família
sistemas jurídicos contemporâneos. dos direitos socialistas (DAVID, 2002, p. 22-
Para José de Oliveira Ascensão (1978, p. 23). Não restam dúvidas de que essa é uma
120-121 apud DANTAS, 2006, p. 131), posição eurocêntrica ocidentalizada, que
“A posse das fundamentais linhas deixa de fora outros sistemas jurídicos.
orientadoras de um grupo de direitos A crítica à ótica eurocêntrica provocou a
permite ao jurista vencer as gran- reflexão sobre características distintivas dos
des dificuldades que prova sempre sistemas presentes na China, na Índia, nos
um embate com um direito alheio, países muçulmanos e na África. Para essa
dificuldades que são tanto maiores tomada de consciência, contribuiu a cons-
quanto mais afastado do seu for o tatação de que a ocorrida adoção de fontes
direito que deve trabalhar.” europeias (códigos franceses ou códigos
Os problemas enfrentados na classifica- anglo-indianos) não significou uma cor-
ção dos sistemas jurídicos começam com a respondente recepção do direito europeu
existência de omissões de certas propostas, por parte daqueles países (SACCO, 2001,
que se limitam aos Direitos Ocidentais, p. 227). Assim, surge o reconhecimento da
eurocêntricos, esquecendo-se de levarem existência de particulares grupos de siste-
em conta os Direitos Orientais. Assente- mas, extraeuropeus, dotados de profundas
se que inúmeras são as classificações características próprias.
apresentadas pelos estudiosos do Direito Nesse sentido, observa René David
Comparado, cada uma tomando por base (2002, p. 23) que nenhum quadro realista
critérios próprios. pode ser estabelecido no que diz respeito
aos direitos do mundo contemporâneo, sem
3.1. Classificação dos grandes se ter em conta outros sistemas que não
sistemas jurídicos se reportam às três famílias enumeradas
Em razão da limitação do presente tra- acima. São eles os Direitos muçulmano,
balho e da falta de consenso entre os cul- hindu e judaico; o do Extremo Oriente e
tores do Direito Comparado, trata-se aqui também o da África e de Madagascar. As-
de apresentar as propostas de classificação sim também é a posição de Mário Losano,
dos sistemas jurídicos apenas em alguns numa concreta e ampla análise que faz
autores, embora não se negue a importância dos grandes sistemas jurídicos do mundo
daqueles que ficarem de fora. – anglo-americano e indiano, islâmico e
Há autores que tomam por base para a romanístico (nas suas ramificações russa e
sua classificação a estrutura conceitual dos sul-americana) – comparados com o direito
direitos ou a importância reconhecida às europeu e examinados antes e depois do
diferentes fontes do direito. Há outros que encontro com a civilização ocidental17.
julgam estas diferenças de ordem técnica 17
Para uma síntese dos sistemas jurídicos, cf.
como de caráter meramente secundário, Losano (2007).

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O agrupamento dos direitos em família,18 abrange todas as legislações de filiação ge-
para René David (2002, p. 22), é o meio nética romana e de inspiração cristã; Grupo
próprio para facilitar, reduzindo-os a um dos Direitos do sistema do Common Law;
número restrito de tipos e a compreensão Grupo dos Direitos do sistema soviético e
dos diferentes direitos do mundo con- Grupo dos Direitos dos sistemas filosófico-
temporâneo. Todavia, adverte que “não religiosos. Este último se subdivide em 3
há concordância sobre o modo de efetuar (três) outros grupos: o sistema muçulmano
este agrupamento, e sobre quais famílias – direitos da comunidade islâmica, que tem
de direitos se deve, por conseguinte, re- o Alcorão como livro supremo; o sistema
conhecer”. hindu, que realiza a filosofia bramânica; e o
Por outro lado, adverte Felipe de Sola sistema chinês – expressão do pensamento
Cañizares (1954, p. 169-176 apud DANTAS, filosófico confucionista (Cf. DANTAS,
2006, p. 141-142) que, teoricamente, e mes- 2006, p. 147-148). Para José Cretella Júnior
mo prescindindo dos direitos que não estão (2007, p. 221-240), defensor da ideia de
vigentes, o campo da comparação é muito que o Direito Comparado consiste em um
vasto, pois pode estender-se a todos os simples método, os sistemas se classificam
sistemas jurídicos contemporâneos. Podem fundamentalmente em dois: sistemas de
distinguir-se três grandes sistemas basean- base romanista e sistemas de base não
do-se no espírito comum dos direitos que romanista.
agrupam. Os Sistemas Ocidentais: Common Apresentando sentido diferente à ex-
Law (Norte-americano e Inglês), Sistemas pressão famílias jurídicas em face da ideia
Romanistas, Sistema de Direito Romano, de sistema, Consuelo Sirvent Gutiérrez e
Sistemas Escandinavos, Sistemas Ibero- Margarita Villanueva Colin (1996, p. 5-6
americanos; Sistemas Soviéticos (ex-URSS e apud DANTAS, 2006, p. 212-213) afir-
sistemas sovietizados); Sistemas religiosos mam que “el vocablo sistema se usa para
(Direito canônico, Direito muçulmano e hacer referencia al derecho nacional y el
Direito Hindu) e Sistema Chinês. de família para denominar al conjunto de
No Brasil, no tocante à classificação dos sistemas que desbordan las fronteras de
grandes sistemas jurídicos, encontra-se de una Nación”.
forma original19 em trabalhos de Clóvis Apesar de a maioria dos autores se
Beviláqua (1897, p. 69), que leva em con- referirem apenas às famílias do Civil Law e
ta as especificidades da América do Sul. do Common Law, salienta Ivo Dantas (2006,
Posteriormente, em outo momento histó- p. 213) que não se pode desprezar a exis-
rico, coube a Caio Mário da Silva Pereira tência de famílias com caráter nitidamente
(1954, p. 25 et seq.) apresentar os sistemas religioso (modelo muçulmano) e aquelas
agrupados da seguinte forma: Grupo dos que se inspiram nas ideias marxistas. Ele
Direitos do sistema romano-cristão, que acrescenta ainda que, apesar da queda do
Muro de Berlim e de todas as modificações
18
A noção de “família de direito” não corresponde ocorridas na Europa, não parece que possa
a uma realidade biológica; recorre-se a ela por questões justificar a exclusão do modelo socialista,
de ordem didática, valorizando as semelhanças e dife-
do que seria exemplo (e só ele bastaria para
renças que existem entre os diferentes direitos. Sendo
assim, todas as classificações têm o seu mérito. justificar) o sistema jurídico cubano.
19
Ao tratar dos grandes sistemas jurídicos, a par- Portanto, são várias, e diferentes umas
tição de Clóvis Beviláqua “é original e não se encontra das outras, as propostas de classificação
nas obras dos autores europeus, porque leva em conta apresentadas pelos cultores do Direito
a situação em que ficaram as ex-colônias ibéricas
da América do Sul depois das respectivas indepen-
Comparado, de forma que cada autor busca
dências.” (...) Clóvis Beviláqua não é eurocêntrico” amparo em um ou mais critérios e tendo
(LOSANO, 2007, p. 36). todas as classificações o seu mérito. Tudo

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depende do quadro em que se coloquem séculos, sendo que sofreram influência da
e da preocupação que, para uns e outros, moral cristã e das doutrinas filosóficas em
seja dominante, sentencia René David voga, desde a época da Renascença, que
(2002, p. 22). construíram valores, como o individua-
A classificação em famílias de Direito lismo, o liberalismo e a noção de direitos
será tratada abaixo de forma sumária, em subjetivos.
razão dos limites e dos propósitos do pre- A expressão do Common Law não deve
sente trabalho, levando-se em consideração ser confundida nem entendida como o sis-
duas grandes famílias: a família do Civil tema inglês. Embora nascido na Inglaterra,
Law e a família do Common Law. o Common Law se aplica a vários Estados;
não deve ser confundido como britânico,
3.2. Agrupamento dos direitos em tendo-se em vista que essa expressão diz
famílias: Common Law e Civil Law respeito à Grã-Bretanha, entidade política
O agrupamento dos direitos em famí- que engloba a Escócia, a qual, por sua vez,
lia, certamente, é uma forma arbitrária de adota e está incluída no sistema romano-
reduzir a complexidade, mas a que didati- germânico; por último, não deve ser iden-
camente se recorre, como importante meio tificado com a expressão “anglo-saxão”,
utilizado para racionalizar a compreensão em face de que esta refere-se ao sistema
dos diferentes direitos do mundo contem- de direitos que regiam as tribos, antes da
porâneo. conquista normanda da Inglaterra, por-
De início, cumpre advertir que o sentido tanto, anterior à criação do Common Law,
de família aqui não corresponde a uma rea- naquele país.
lidade biológica (vide nota de rodapé no 18), Ao tratar da importância histórica do
bem como lembrar que não há concordância direito inglês, verifica René David (Idem,
sobre os critérios de se efetuar agrupamento p. 351-352) que o Common Law tem sua ela-
dos direitos em famílias, e que nenhuma boração na Inglaterra, principalmente pela
classificação consegue dar conta de toda a ação dos Tribunais Reais de Justiça, depois
realidade do mundo jurídico contemporâ- da conquista normanda, mas que compre-
neo. O que se tentará aqui é pôr em relevo ende outros países de língua inglesa.
as características essenciais de dois grupos O direito inglês, elaborado historicamen-
de direitos que, no mundo contemporâneo, te pelos Tribunais de Westminster (common
ocupam uma situação de destaque: trata-se law) e pelo Tribunal da Chancelaria (equity),
da família do Common Law e da família do é um direito jurisprudencial, (case law), e é
Civil Law ou Romano-Germânica. pelo estudo da jurisprudência que convém
Da contraposição entre o Civil Law iniciar o estudo das suas fontes.
(sistema continental europeu, de origem Vale ressaltar que a palavra “jurispru-
Romanista) e o Common Law (sistema anglo- dência” não tem um sentido único. Na
saxão), surgem entre eles elementos que França, serve para designar as decisões
informam semelhanças e diferenças. Se, por judiciárias. A palavra inglesa jurisprudence
exemplo, a escolha do critério diferenciador tem um sentido muito diferente; aplica-se
for a principal fonte do direito, centra-se ao que se chama na França a teoria geral
na lei (Civil Law) e em precedente judicial e a filosofia do direito. A palavra francesa
(Common Law). jurisprudence é traduzida em inglês por The
Ao referir-se às relações entre essas fa- decisions of the Courts.
mílias de direitos, René David (2002, p. 26) Por outro lado, quanto à família ro-
informa que os países de direito romano- mano-germânica ou Civil Law, no tocante
germânico e países de Common Law tiveram às fontes, a lei, considerada lato sensu, é
numerosos contatos ao longo de vários aparentemente, nos nossos dias, a fonte pri-

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mordial, quase exclusiva. Todos os países Partindo de uma visão geral, ficaram
da Civil Law surgem como sendo países de resumidamente acima as classificações das
direito escrito. Os juristas procuram, antes famílias de Direito do Civil Law e do Common
de tudo, descobrir as regras e soluções Law, tomando as fontes como um dos crité-
do direito, estribando-se nos textos legis- rios diferenciadores. Civil Law ou Romano-
lativos ou regulamentares emanados do germânica, a Lei como sua principal fonte
parlamento ou das autoridades governa- (lei em sentido amplo, incluindo-se aí a
mentais ou administrativas. A função dos Constituição); Common Law, a Jurisprudên-
juristas parece ser fundamentalmente a de cia, no sentido de decisões das cortes.
descobrir, com auxílio de vários processos O tópico a seguir analisará apenas o
interpretativos, a solução que cada caso sistema constitucional, entendido como
corresponde à vontade do legislador. A subsistema do ordenamento total, isto é,
lei assume uma posição de superioridade do sistema jurídico como um todo.
diante de outras fontes. René David (Ibi-
dem, p. 112) faz crítica a essa posição, nos
4. Direito Constitucional Comparado:
seguintes termos:
“Esta análise, por mais corrente que elementos teóricos
seja, está de fato muito distante da Nunca é demais lembrar que a simples
realidade. A doutrina na qual se descrição dos diversos sistemas jurídicos
resume esta descrição bem pode ter não significa que estejamos fazendo Di-
sido o ideal de uma certa escola de reito Comparado. Trata-se de questão de
pensamento, dominante no século natureza epistemológica, já anteriormente
XIX, na França. Contudo, ela nunca tratada, importante para compreendermos
foi plenamente aceita na prática e a perspectiva da qual estamos falando.
hoje reconhece-se na própria teoria, O sistema jurídico estrangeiro é ele-
cada vez mais claramente, que a so- mento indispensável para a análise do Di-
berania absoluta da lei é, nos países reito Comparado. Mas a simples descrição
da família romano-germânica, uma não é suficiente, porquanto é necessário
ficção; há lugar, ao lado da lei, para que se faça a confrontação desse sistema
outras fontes muito importantes do jurídico estrangeiro em face do sistema
direito.” jurídico nacional, ou de sistemas jurídicos
Pode-se inferir que os sistemas jurídicos diversos, para que possamos falar em
levam em conta os condicionamentos his- Direito Comparado. Ou seja, com relação
tóricos e temporais, bem como identificar ao Direito Constitucional Comparado, o
algumas características comuns àqueles sistema constitucional estrangeiro é ele-
modelos que formam as diversas famílias, mento indispensável ao estudo do Direito
seja a Família do Common Law, seja a família Constitucional Comparado. Partindo desse
do Civil Law, seja qualquer outra com seus ponto de vista, é importante ressaltar que
variados sistemas. há controvérsias entre os autores acerca dos
Neste sentido, procura-se apontar al- critérios de seleção dos sistemas. Vejamos
guns elementos que marcam os sistemas a posição de alguns deles.
jurídicos do Civil Law, por exemplo, a Paolo Biscaretti di Ruffia, ao analisar di-
Supralegalidade do texto constitucional e versas premissas metodológicas referentes
consequente sistema hierarquizado de nor- ao Direito Comparado, admite estar diante
mas, com controle de Constitucionalidade; de uma difícil questão, em razão de uma
predomínio da Lei escrita; e a atuação do generalidade de critérios. Mas considera
Poder Judiciário restrita à interpretação e necessária para servir de orientação nas
aplicação da Constituição e das Leis. investigações comparativas. Neste passo,

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refere-se às posições de Pierre Arminjon, Quanto às famílias21 de Direito Constitu-
Baron Boris Nolde, Martin Wolff e René cional e seu método de formação, observa
David. Jorge Miranda (Ibidem) que esse método
Em sua análise, esclarece Ruffia (1996, p. consiste,
91-94 apud DANTAS, 2006, p. 158-161) que, “por um lado, em examinar o Direito
se realizarmos exame preliminar dos orde- Constitucional de um país tal como
namentos constitucionais contemporâneos, se apresenta na sua realidade de um
podemos comprovar sua origem recente. sistema dotado de vida própria e,
As distintas Constituições promulgadas por outro lado, em tentar agrupar
nos diversos países, a partir de 1787, podem sistemas semelhantes ou afins num
ser distribuídas em uma série concatenada pequeno número de famílias ou tipos
de ciclos constitucionais sucessivos.20 constitucionais. (...) oferece uma trí-
Por sua vez, tratando do mesmo as- plice vantagem. Baseia-se no Direito
sunto, observa Jorge Miranda (1997, p. Constitucional como um todo, em-
101 et seq.), apontando o difícil problema bora tenha de escolher os elementos
de traçar um quadro capaz de dar conta sobre que vai incidir a comparação;
das múltiplas formas e instituições, que: torna-o integrado no sistema jurídico
“... não é fácil surpreender um quadro a que pertence; visa descobrir a con-
suficientemente largo e preciso não só das tinuidade institucional, mas, ainda
múltiplas formas e instituições como das mais, a coerência actual de valores,
grandes coordenadas do Direito Constitu- conceitos e normas.
cional”. Atualmente são aproximadamente É um método que abre tanto para
200 Estados formalmente soberanos, todos uma dimensão temporal quanto para
com os seus ordenamentos particulares uma dimensão espacial (de tendência
e revestidos na sua grande maioria por universalizante) como nenhum outro
Constituições escritas. e que, assim, se situa bem entre as
Mas, é necessário levar ao fim tal tarefa, tentativas de agrupamento de ordens
quer no âmbito de trabalhos comparativos, jurídicas a que procede o Direito
quer no da exposição do estudo de temas comparado. Contudo, tem de ser
da teoria da Constituição. Jorge Miranda usado com prudência, por se terem
(Idem, p. 101) apresenta as perspectivas tornado menos firmes os contornos
para alcançar tal tarefa. São elas: “o recurso
à Teoria Geral do Estado, a tipologia das 21
Jorge Miranda (1997, p. 107-109) denomina de
fases pelas quais se desdobra o processo intelectual
formas políticas, a observação de experiên- de agrupamento dos sistemas em famílias de Direito
cias constitucionais, a formação de sistemas constitucional. São elas: “1o) – Observação dos siste-
e famílias de Direito Constitucional”. mas constitucionais (não de todos necessariamente,
mas de uma maior parte e mais significativa, na sua
20
Em nota de rodapé de no 82, página 158, de seu realidade e diversidade); 2o) – Recolha de caracteres
livro aqui citado, fazendo referência aos ciclos consti- comuns e destrinça de caracteres diferenciadores;
tucionais, o Prof. Ivo recorda que, entre nós, Pinto Fer- 3o) – Procura ou conformação de sistemas com ca-
reira (1983, v. 1, p. 55-67), nos seus Princípios Gerais do racteres semelhantes; 4o) – Sempre que essenciais os
Direito Constitucional Moderno, refere-se a diversos pontos de contacto, inclusão dos sistemas nas mesmas
Ciclos Constitucionais, afirmando: “A doutrina dos famílias – sendo, porém, imprescindível proceder a
ciclos constitucionais tem profunda importância para análise histórica e sistemática; 5o) – Averiguação da
o direito público, melhor esclarecendo a sua essência e possível existência de um sistema donde derivem
tendência evolutivas. O ciclo constitucional define-se historicamente os outros sistemas, por comunidade de
pelo seu traço de originalidade e pela sua expansão origem, imitação, influência ideológica ou imposição;
no mundo das formas políticas, a exemplo dos ciclos 6o) – Com os elementos comuns aos vários sistemas
constitucionais inglês, norte-americano, francês, ale- integrados em cada família, construção da unidade
mão e soviético, como Constituições-tipos, que têm dogmática ideal correspondente a esta e sua conside-
servido de figurino ou modelos a outras nações”. ração como sistema abstracto coerente”.

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de sistemas e famílias num mundo “Si hay una rama jurídica que está
em mundança.” mejor posicionada para lograr sín-
Por último, Jorge Miranda (1997) re- tesis integradora, es el derecho
conhece a existência de quatro grandes constitucional comparado. Captando
famílias de Direito constitucional no século analogias y diferencias, aprehendien-
XX: a inglesa, a norte-americana, a francesa do datos culturales diversos, estable-
e a soviética. ciendo patrones comunes, se logra
Partindo de um entendimento tridimen- el avance de los valores de libertad,
sional do Direito, Bidart Campos e Walter de pluralismo político y social, y de
Carnota (1998, t.1, p. 29-50 apud DANTAS, solidariedad a los que debe aspirar
2006, p. 165-166) propõem um critério que toda comunidad.
denominam de Marcos Generales para o estu- (...)
do do Direito Constitucional Comparado: El derecho constitucional comparado,
“El derecho constitucional compara- en cuanto confronta los ordenamien-
do que nosotros propugnamos no se tos jurídicos y los regímenes políticos
encuentra enclausurado en las nor- existentes en el mundo, requiere de
mas de la constitución documental. un conocimiento interdisciplinario
Por el contrário, fieles al realismo y de los marcos donde tales ordena-
al trialismo jurídico, visualisamos a mientos y regímenes se incardinan.
un derecho constitucional de cara o El cuadro resulta amplísimo y, en
solidário con la realidad existencial. consecuencia, difícil de ser abordado
Por eso podemos afirmar también en su totalidad y plenitud. Modes-
que estado, en su sentido dinâmico, tamente hemos de procurar una
es sinônimo no sólo a régimen polí- prieta síntesis” (BIDART CAMPOS;
tico, sino a constitución en su acepción CARNOTA, 1998, t. 1, p. 29-50 apud
material o real. DANTAS, 2006, p. 165-166).
La preanotada dimensión existencial Esses autores, em vez de descreverem
que le imprimimos al derecho cons- sistemas constitucionais, utilizam-se da
titucional comparado nos obliga a técnica que se volta para o estudo de de-
detenermos, siquiera brevemente, terminados temas, como, por exemplo,
en los marcos en que se despliega su Classes de Constituições, Rigidez e Fle-
capacidad ordenadora y estructura- xibilidade Constitucionais, Supremacia
dora. Constitucional, Constitucionalismos,
Sabemos que el derecho constitucio- Controle de Constitucionalidade, Mutações
nal de cada estado es su causa formal, Constitucionais (DANTAS, 2006, p. 167),
es dicer, es aquel ingrediente agluti- entre outros temas.
nante que lo informa, que le infunde
organización y encuadre. Ahora bien,
5. Considerações finais
la pregunta clave a formular es ésta:
qué es lo que se organiza, estructura u O Direito Constitucional Comparado
ordena? é uma criação do século XX e representa
Ao analisar, “el território como uno de um esforço teórico-conceitual no âmbito
los suspuestos del régimen político”, “El de uma Teoria Geral do Direito. Con-
supuesto humano o pobación”, “como forme demonstrado ao longo do texto, o
cambia el ejercício del poder? Su influencia Direito Constitucional Comparado tem
en el derecho”, esses autores, apresentam objeto próprio, que é a comparação entre
o Direito Constitucional Comparado como dois ou mais sistemas constitucionais; sua
disciplina integradora. Assim escrevem: problematização está relacionada com as

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diferenças e semelhanças entre sistemas; direito”, de 1891, e o “Resumo das Lições
utiliza-se de um método, que não lhe é de Legislação Comparada sobre o Direito
exclusivo, que é o método comparativo. O Privado”, de 1897. No início do século XX,
objetivo principal do Direito Comparado é Cândido Luiz Maria de Oliveira publica
estudar – comparando – ordens ou sistemas o “Curso de Legislação Comparada”.
jurídicos, podendo-o fazer sob as perspecti- Posteriormente, tivemos a publicação do
vas da macro ou microcomparação, enten- “Direito Comparado, Ciência Autônoma”,
didas estas expressões tanto no sentido da de Caio Mário da Silva Pereira, publicado
quantidade dos sistemas (vários sistemas = em 1952, que representou um novo marco
macrocomparação) quanto da quantidade teórico na doutrina do Direito Comparado
de institutos (exemplo: a prisão civil por no Brasil. Como crítico dessa perspectiva,
dívidas em dez sistemas, hipótese em que temos Cláudio Souto, com “Da Inexistência
se pode falar em análise macro, ou em dois Científico-Conceitual do Direito Compara-
sistemas – microcomparação). do”, escrito em 1956.
Sem pretensão de determinar rigida- Após essa data, tantos outros trabalhos
mente o seu nascimento, chega-se a consi- e autores não menos importantes, que
derar que dois artigos servem como marco são dignos de serem lembrados, também
importante do Direito Constitucional fazem parte do rol de publicações acerca
Comparado. O primeiro artigo, intitulado do Direito Comparado, como por exemplo,
Lévolution recente du problème des delegations Haroldo Valladão, com “O Estudo e o Ensi-
legislatives, de autoria de Carl Schmitt, foi no do Direito Comparado no Brasil: séculos
publicado na coletânea de estudos em ho- XIX e XX”, publicado em 1971, na Revista
menagem a Edouard Lambert, no ano de de Informação Legislativa; José Cretella
1938; o segundo, A comparative study of the Junior, Droit Administratif Compare, de 1973,
Austrian and the American Constitution, de traduzido para a língua portuguesa em
Hans Kelsen, publicado no Journal of Poli- 1990, com o título “Direito Administrativo
tics, em maio de 1942, com tradução para Comparado”.
a língua portuguesa com o seguinte título: No que diz respeito ao Direito Constitu-
“O controle judicial da constitucionalidade cional Comparado, a produção bibliográfica
(um estudo comparado das Constituições brasileira comporta pouco mais de uma dú-
austríaca e americana)”. Entretanto, esses zia de publicações nestes últimos anos, entre
autores não estavam preocupados com o as quais, podemos citar, a título de exemplo,
estudo do Direito Constitucional Compa- o artigo publicado por Ana Lúcia de Lyra
rado como ramo do Direito Comparado ou Tavares, em 1999, intitulado “Notas sobre
do caráter científico deste, embora estives- as dimensões do Direito Constitucional
sem inaugurando um novo espaço para a Comparado”; a obra “Direito Constitucional
reflexão teórica. Comparado. Introdução. Teoria e Metodo-
No Brasil, não obstante o pioneirismo logia”, de autoria de Ivo Dantas, publicado
e a originalidade, a produção bibliográfica em 2000, obra que já se encontra em sua
acerca do Direito Comparado ainda é inci- terceira edição; cite-se também o livro “Um
piente. Os primeiros trabalhos datam do Pouco de Direito Constitucional Compara-
final do século XIX, na Faculdade de Direito do”, de José Afonso da Silva, publicação de
do Recife, com os escritos de Tobias Barreto, 2009. Deixamos de citar aqui outras obras e
no contraponto feito entre teoria jurídica autores brasileiros cultores do Direito Cons-
brasileira e teoria alemã, e os estudos sis- titucional Comparado, em razão do espaço,
temáticos de Clóvis Beviláqua (LOSANO, não por serem menos importantes.
2007, p. 15-40), retratados na “Aplicação Atualmente reconhece-se a importância
do methodo comparativo ao estudo do do estudo do Direito Comparado, em geral,

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e do Direito Constitucional Comparado, CAPPELLETTI, Mauro. Dimensiones de la justicia en
em particular, como mais uma ferramenta el mundo contemporâneo: cuatro estudios de Derecho
comparado. México: Porrúa, 1993.
para ajudar a reflexão no campo jurídico,
uma vez que a ele se atribui uma visão CONSTANTINESCO, Leontin-Jean. Tratado de Direito
mais global do direito, promovendo uma comparado: introdução ao Direito comparado. Rio de
Janeiro: Renovar, 1998.
consciência integradora, em suas múltiplas
diferenças e semelhanças existentes entre CORDEIRO, A. Menezes. Pensamento sistemático e
os vários sistemas jurídicos, rompendo conceito de sistema na ciência do Direito. 3. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.
com uma postura que leva o direito a um
certo “gueto jurídico nacional”, sem se pre- CRETELLA JÚNIOR, José. Direito Administrativo
ocupar com os desafios globais que temos comparado. Rio de Janeiro: Forense, 1990.
de enfrentar. Evidentemente que o Direito DANTAS, Ivo. Direito Constitucional comparado: in-
Comparado tem seus limites, mas quer seja trodução, teoria e metodologia. 2. ed. Rio de Janeiro:
como ciência autônoma, quer seja como Renovar, 2006.
método próprio de comparação de direitos, ______. Teoria do Direito comparado. Recife: Programa
poderá quiçá ajudar na solução global para de Pós-Graduação da UFPE, 2009.
problemas globais. DAVID, René. Os grandes sistemas do Direito contempo-
É preciso reconhecer a infuência, ou râneo. 4. ed. São Paulo: Martins Editora, 2002.
quem sabe a aproximação das famílias do FARIA, José Eduardo. O Direito e a economia globalizada.
Civil Law e do Common Law, com a expe- São Paulo: Malheiros, 1999.
riência atual europeia. Ao estudioso do
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. A ciência do Direito.
Direito Constitucional Comparado cabe 2. ed. São Paulo: Atlas, 1980.
buscar compreender esses fenômenos,
FRADERA, Véra Jacob. Apresentação. In: SECCO,
pelos quais se verifica a recepção (ou im-
Rodolfo. Introdução ao Direito comparado. São Paulo:
posição) de institutos constitucionais; influ- RT, 2001.
ência entre modelos constitucionais, como
KELSEN, Hans. O controle judicial da constituconali-
exemplo, no controle da constitucionali-
dade: um estudo comparado das constituições austrí-
dade, na adoção de súmulas vinculantes, aca e americana. In: ______. Jurisdição constitucional. 2.
nas garantias dos direitos fundamentais, ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
no papel das Cortes Constitucionais, dos
LOSANO, Mário G. Os grandes sistemas jurídicos:
Tribunais Constitucionais, das Supremas introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-
Cortes de Justiça nas decisões de grande europeus. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
relevância na vida dos cidadãos.
MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo:
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