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2024

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO


Prof.Dra.Silvana R. B Colombo Tombini

1. LIMITES DA JURISIDÇÃO ESTATAL

Regra = a jurisdição é fruto da soberania do Estado e, por consequência


natural, deve ser exercida dentro do seu território.
Mas o Direito Internacional Privado excepciona essa regra.
A necessidade de convivência entre os Estados, independentes e soberanos,
levam um Estado a acatar as decisões proferidas por juízes de outros Estados.
O Código de Processo Civil no artigo 20 a 25 traz às regras sobre essa matéria.
Observa-se os seguintes princípios:
*Efetividade: a jurisdição nacional não deve abranger hipóteses de
impossibilidade ou improbabilidade de se obter o cumprimento de determinada
decisão de juiz nacional em território estrangeiro.
*Relevância = a jurisdição nacional não deve abranger casos em que os
interesses envolvidos no conflito sejam irrelevantes para o Estado brasileiro.
*Imunidade jurisdicional relativa de Estados estrangeiros: em razão da
igualdade entre os Estados um Estado não deve julgar por seus tribunais, atos de
soberania de outro Estado, mas pode julgar atos de gestão, ou seja, atos em que o
Estado estrangeiro se equipara a particular, como atos de natureza laboral ou
comercial;
*Autonomia da vontade: quando houver concorrência de jurisdições (dois ou
mais Estados se dispõem, unilateralmente, a submeter certa demanda às suas
jurisdições) será possível a escolha da jurisdição pelas partes envolvidas, inclusive com
cláusula de eleição de jurisdição.
*Proximidade: a lei aplicável deve ser a mais próxima possível das partes, ou
seja, casos irrelevantes para a ordem jurídica nacional devem ser afastados.
Há dois tipos de competência:
*Competência concorrente: autoridade nacional + autoridade estrangeira.
*Competência exclusiva: somente a justiça brasileira tem competência para
julgar determinada matéria.
No artigo 21 do Código de Processo Civil, admite-se a apreciação pelos órgãos
jurisdicionais nacionais das causas ali previstas, sem se excluir a possibilidade de tais
causas serem submetidas à jurisdição de Estado estrangeiro caso suas normas assim
disponham.
Admite-se, portanto, que decisões estrangeiras de causas de tal ordem possa
ser homologadas pelo Superior Tribunal de Justiça, produzindo efeitos no território
nacional.
Sendo concorrente as jurisdições, caberá à parte autora definir perante qual
Estado será proposta a demanda.
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Em síntese, a competência concorrente ocorre nas seguintes hipóteses:


1ª Hipótese: o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado
no Brasil. A posição da pessoa do réu é fator atrativo da jurisdição nacional. O réu,
nacional ou estrangeiro, residente no Brasil, independentemente da matéria tratada.
2ª Hipótese: no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação. Quando se
convencionar que a obrigação pactuada no plano material deverá ser cumprida no
Brasil. Nas relações puramente virtuais, a noção de território do cumprimento
aparenta inadequação.
3ª Hipótese: o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Quando o fundamento da causa de pedir seja fato ocorrido ou ato praticado – ou que
se lhe exija o cumprimento – no Brasil
Além dessas, na última alteração do Código de Processo Civil foram incluídas as
seguintes hipóteses (artigo 22).
4ª Hipótese: alimentos (credor tiver domicílio no Brasil ou se o réu mantiver
vínculos com o Brasil). Essa regra condensa orientação assentada em Tratados
Internacionais dos quais o Brasil é signatário, a exemplo da Convenção Interamericana
Sobre Obrigação de Alimentar.
5ª Hipótese: relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou
residência no Brasil. Quando o consumidor for domiciliado ou mantiver residência no
Brasil, eventualmente, em concorrência com outros países.
6ª Hipótese: as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição
nacional. Quando as partes apontarem a autoridade judiciária brasileira como
competente para dirimir possíveis controvérsias.
Em síntese, temos as seguintes hipóteses de competência concorrente.

O artigo 22 do Código de Processo Civil traz às hipóteses de competência


exclusiva da jurisdição nacional.
1ª Hipótese: conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil.
Ex.: Cidadão americano que é proprietário de imóveis no Brasil e um cidadão
francês resolverem questionar na justiça francesa. O STJ não pode homologar, pois a
competência é absoluta da autoridade judiciária.
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Essa refere-se apenas à localização do bem, abrangendo não apenas as ações


reais, mas também qualquer outra espécie de ação relativa a tais bens, como ações
possessórias, ações relativas à alienação fiduciária de imóveis etc.
2ª Hipótese: Procedimento de inventário e partilha de bens móveis e imóveis
situados em território brasileiro, ou seja, existência de bens localizados precisa
estarem vinculado ao pleito de inventariação e partilhamento.
3ª Hipótese: divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável,
proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
A razão de ser dessa norma é proteger a soberania nacional, o que se faz, no
caso, proibindo a eficácia de decisão de juiz estrangeiro sobre bens situados no Brasil.
Não existe, todavia, proibição de celebração de negócio jurídico relativo a tais
bens. Assim, quando o casal realiza partilha consensual de bens e o juiz estrangeiro
limita-se a homologar tal negócio, não existe qualquer ameaça à soberania nacional.
A exclusividade da jurisdição brasileira é relativa à partilha não consensual.
Em síntese, temos as seguintes hipóteses de competência exclusiva.

O artigo 24 do Código de Processo Civil determina que a “ação proposta


perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade
judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as
disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no
Brasil”.
Neste sentido, caso a homologação ocorra primeiro, o processo brasileiro será
extinto sem resolução do mérito por coisa julgada. Contudo, transitado em julgado o
processo intentado no Brasil, durante eventual processamento de homologatória,
extingue-se esta última.
Não se importou o legislador com o momento em que as demandas foram
propostas. Importante é o momento em que a primeira delas obtiver status de coisa
julgada e eficácia no Brasil. Neste sentido é o artigo 963 do Código de Processo Civil:
“Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão: (…) IV - não ofender
a coisa julgada brasileira”. Não foi colocada como requisito a ausência de
litispendência.
Por fim, o artigo 25 do Código de Processo Civil traz a possibilidade de eleição
do foro exclusivo estrangeiro.
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Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento


da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato
internacional, arguida pelo réu na contestação.
A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e
aludir expressamente a determinado negócio jurídico, além de não ser aplicada no
caso de competência exclusiva da justiça brasileira.
Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser tida como
ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de
domicílio do réu. Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de
foro na contestação, sob pena de preclusão.
QUESTÃO 01
Em relação à função jurisdicional, é correto afirmar:
(A) Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, em nenhuma hipótese.
(B) A possibilidade jurídica da ação é uma das condições preliminares a serem
observadas no
atual CPC por ocasião da prestação jurisdicional, até mesmo de ofício.
(C) É admissível a ação meramente declaratória, salvo se houver ocorrido a violação do
direito.
(D) A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta
a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são
conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos
bilaterais em vigor no Brasil.
(E) Compete à autoridade judiciária brasileira, em qualquer hipótese, o processamento
e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo
estrangeiro em contrato internacional, por sua ineficácia.

QUESTÃO 02
Sobre a competência do Poder Judiciário brasileiro, identifique como verdadeiras (V)
ou falsas (F) as seguintes afirmativas:
( ) A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a
que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são
conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos
bilaterais em vigor no Brasil.
( ) Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que o réu,
qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil.
( ) Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que no
Brasil tiver de ser cumprida a obrigação.
( ) Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra,
conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.
a) F – F – V – F.
b) V – F – V – F.
c) V – V – V – V.
d) F – V – F – V.
e) F – V – F – F
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QUESTÃO 03
Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:
I. O réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil.
II. O fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
III. De alimentos, quando o credor tiver domicílio ou residência no Brasil.
IV. Decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou
residência
no Brasil.
A sequência correta é:
a) As assertivas I, II, III e IV estão corretas.
b) Apenas as assertivas II e IV estão incorretas.
c) Apenas a assertiva IV está incorreta.
d) Apenas as assertivas I e IV estão corretas

QUESTÃO 04
Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
a) processar e julgar as ações de alimentos, quando o credor tiver domicílio ou
residência no Brasil
b) julgar as ações em que o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
c) conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil.
d) julgar as ações em que o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver
domiciliado no Brasil.

QUESTÃO 05
São de jurisdição exclusiva da autoridade judiciária brasileira as ações:
a) de alimentos, quando o alimentando tiver domicílio no Brasil.
b) relativas a imóveis situados no Brasil.
c) de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil.
d) em que a obrigação tiver que ser cumprida no Brasil.
e) em que o fundamento seja fato ou ato praticado no Brasil.

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