O alcance da jurisdição estende-se por todo o território nacional. O
juiz no Brasil é regido pelas regras de competência, que determinam até que ponto ele pode exercer a jurisdição dentro dos limites estabelecidos pelas leis nacionais. Essas regras também determinam como o juiz brasileiro e os tribunais estrangeiros podem coexistir. A doutrina da jurisdição no Brasil é norteada por três princípios: o Princípio da Efetividade, que limita a jurisdição aos casos passíveis de execução; o Princípio do Interesse, que restringe a jurisdição aos casos de interesse do Estado; e, por último, o Princípio da Submissão, que exige que os países honrem a escolha das partes quanto à jurisdição internacional em contratos internacionais. Os limites da jurisdição dentro das nações podem ser classificados em duas categorias: jurisdição concorrente e jurisdição exclusiva. Em ambos os cenários, os juízes brasileiros têm autoridade para presidir o caso. Entretanto, no primeiro caso, se um juiz estrangeiro finalmente decidir a disputa, a sentença estrangeira poderá ser implementada no Brasil. Inversamente, neste último caso, uma sentença estrangeira não terá peso dentro do Brasil. JURISDIÇÃO CONCORRENTE O termo “competência mista” refere-se aos casos em que tanto a jurisdição cível brasileira, como regra, quanto a jurisdição cível internacional, como exceção, estão autorizadas a operar. Como resultado, os processos judiciais podem ocorrer tanto nacional quanto internacionalmente. Porém, como a jurisdição internacional não é a norma, para ter validade jurídica no Brasil, a sentença deve ser homologada pelo STJ. Dispostos nos artigos 24 e 25 do CPC, e dizem o que segue: Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil. Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil. Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação. § 1º Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional exclusiva previstas neste Capítulo. § 2º Aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1º a 4º (mesmo procedimento da alegação de incompetência absoluta ou relativa). Após a leitura dos artigos acima mencionados, é evidente que pode haver casos em que um único procedimento seja apresentado em ambas as jurisdições brasileiras e estrangeiras simultaneamente. Nessas circunstâncias, ambos os procedimentos podem prosseguir sem problemas até que um veredicto final seja proferido. No entanto, deve-se notar que a decisão que se torna definitiva e irrevogável primeiro será executada, e não haverá litispendência. Se o processo no Brasil transitar em julgado, o processo de homologação é anulado sem decisão de mérito em razão da existência de litispendência. Isso significa que somente após o trânsito em julgado de um dos processos é que o processo de homologação pode prosseguir. Caso a sentença estrangeira seja homologada pelo STJ, o processo em andamento no Brasil também é encerrado sem decisão de mérito, pelos mesmos motivos. Quando existir um tratado internacional ou acordo bilateral entre o Brasil e um país estrangeiro, que estabeleça regras para evitar conflitos jurisdicionais entre as duas nações, quaisquer exceções a este acordo tornam- se exclusivas nos termos nele estabelecidos. Isso significa que ambos os países não podem processar suas respectivas ações simultaneamente. Além disso, se as partes envolvidas em um possível conflito decidirem eleger um país específico para exercer a jurisdição, a jurisdição não será mais concorrente. Prevalece a cláusula de escolha e prevalecerá o que for acordado entre as partes. JURISDIÇÃO EXCLUSIVA As matérias em questão que estão vinculadas à soberania nacional são de competência exclusiva da justiça cível brasileira. Ressalta-se que nem a homologação de sentença estrangeira nem a inclusão de cláusula de eleição de foro farão com que a sentença estrangeira produza efeitos jurídicos no Brasil. Hipóteses de Jurisdição Exclusiva Dispostas no artigo 23 do CPC, e são as que seguem: Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, COM EXCLUSÃO DE QUALQUER OUTRA: I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, AINDA QUE o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, AINDA QUE o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Sempre que se tratar de imóveis localizados no Brasil, é importante
observar que a jurisdição brasileira sempre terá precedência. Em caso de sucessão, o inventário e a distribuição dos bens móveis ou imóveis situados no Brasil devem ser efetuados, independentemente da nacionalidade ou residência do falecido, ainda que estrangeiro ou residente fora do Brasil. A regra sucessória permanece a mesma para partilha de bens em caso de divórcio ou dissolução de união estável envolvendo bens, móveis e imóveis, situados no Brasil, independentemente da nacionalidade ou domicílio do titular fora do Brasil. Observe que houve uma sucessão de ativos estrangeiros. O artigo 5º, inciso XXI, da Constituição da República estabelece que "os bens dos estrangeiros situados no território nacional serão regidos pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, nos casos em que a lei pessoal do falecido deixar de ser favorável ao eles." Esta norma constitucional é uma questão de direito material e, portanto, não afeta a jurisdição no Brasil, pois os juízes brasileiros sempre terão autoridade para presidir tais casos. No entanto, eles podem aplicar a lei brasileira ou estrangeira, dependendo de qual beneficia mais os filhos e o cônjuge do falecido.