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TEMA I – RMI, INTRODUÇÃO À JURISPRUDÊNCIA

TRIBUTÁRIA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES E ISS

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


Direito Financeiro e Tributário II (2022.2)
Professor: Bruno de Paula Soares
PARTE I – REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA E
JURISPRUDÊNCIA TRIBUTÁRIA DOS TRIBUNAIS
SUPERIORES
NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA E SEUS ELEMENTOS

1. Normas jurídicas tributárias (Paulo de Barros Carvalho):


a. Normas tributárias principiológicas;
b. Normas tributárias stricto sensu (norma padrão de incidência ou Regra-Matriz de
Incidência Tributária);
c. Normas tributárias operacionalizadoras do tributo;
2. Elementos da norma jurídica tributária:
a. Antecedente (descritor, hipótese normativa): critérios material, espacial e temporal.
Olhe para o fato e pergunte: o que ocorreu? Quando? Onde?
b. Consequente (prescritor, consequência normativa): critérios pessoal e quantitativo.
Olhe para a obrigação e pergunte: quem deve pagar? Quanto?
REGRA-MATRIZ DE
INCIDÊNCIA

1. Modal obrigatório e modal facultativo: art.


2º da IN 2.065/2022 da RFB (obrigação
acessória);
2. Modal obrigatório: Lei Estadual
2.657/1996, do Estado do Rio de Janeiro,
sobre o ICMS (obrigação principal).
“JURISPRUDÊNCIA”

1. Jurisprudência, precedente (vertical e horizontal), julgado;


2. Ratio decidendi e obiter dictum;
3. Decisão majoritária: maioria na conclusão e maioria na ratio decidendi ou nas rationes
decidendi;
4. Decisão plural: maioria na conclusão, mas sem maioria na ratio decidendi ou nas
rationes decidendi;
5. Estabilidade, coerência e integridade da jurisprudência (art. 926 do CPC);
6. Sistema de precedentes (art. 927 do CPC);
7. Distinguishing e overruling.
JURISPRUDÊNCIA TRIBUTÁRIA

1. Administrativamente: nos tribunais administrativos de cada ente;


2. Judicialmente:
a. Em matéria de fatos: nos tribunais regionais (TJs e TRFs);
b. Em matéria de direito: em todos os tribunais. Para uniformizar a jurisprudência sobre
direito infraconstitucional, no STJ. Para uniformizar a jurisprudência sobre Direito
Constitucional, no STF. Qual é a linha que divide o que é “matéria constitucional” e o
que não é?
i. Tribunais especializados têm competência para conhecer sobre relações jurídico-
tributárias? Taxas judiciárias e jurisprudência do TST.
PARTE II – IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER
NATUREZA (ISS)
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

1. Art. 156, III e §3º, da CF;


2. Art. 9º do Decreto-lei 406/1968;
3. Lei complementar 116/2003, modificada pela Lei complementar 157/2016 e
legislação municipal pertinente;
4. Competência municipal/distrital;
5. Lançamento por homologação.
CRITÉRIO MATERIAL

1. Art. 1º, caput, da Lei complementar 116/2003: “O Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador a
prestação de serviços constantes da lista anexa, ainda que esses não se constituam como
atividade preponderante do prestador”;
a. É necessário caráter mercantil? Profissionais liberais recolhem ISS?
b. É necessário haver efetivo pagamento pelo serviço?
2. Serviço (art. 3º, §2º, do CDC): “Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”;
a. Serviço como empreendimento de esforço humano;
b. Em outros dispositivos de Direito Privado: arts. 593 e 594 do CC.
CRITÉRIO MATERIAL

1. Critério para diferenciar a incidência de ISS e de ICMS: natureza


personalíssima do serviço ou mesmo o próprio prestador (profissional
liberal, sociedade de pessoas). Exemplos:
a. Cartões de visita por uma gráfica;
b. Softwares de computador desenvolvidos especificamente para um
consumidor (REsp 814.075/MG e RE 688233/MG – Tema 590);
2. Operações mistas: contratos que conjugam obrigações de fazer e obrigações
de dar. Art. 155, §2º, IX, “b”, da CF.
CRITÉRIO MATERIAL

Operações mistas e puras

O serviço misto é previsto na Incidirá o ISS sobre o valor do serviço (mão de obra) e incidirá ICMS sobre o valor da mercadoria (art. 155, §2º, IX, “b”, da
lista anexa e há ressalva na CF). É o exemplo dos subitens 7.02 e 7.05, sobre serviços de engenharia, arquitetura, agronomia, geologia, urbanismo,
lista anexa para a incidência paisagismo e congêneres, quando o fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador ocorrer fora do local da
do ICMS prestação dos serviços e quando houver reparação, conservação e reforma de edifícios, estradas, pontes, protos e
congêneres se houver fornecimento de mercadorias pelo prestador dos serviços fora do local da prestação dos serviços que
ficam sujeitos ao ICMS.

O serviço misto é previsto na Incidirá tão somente ISS (é a maioria dos serviços na lista anexa – art. 1º, §2º, da Lei complementar 11). Inclusive, se
lista anexa e não há ressalva houver prestação mista, o ISS incidirá sobre o valor total da operação: mão de obra, partes, peças, produtos etc.
na lista anexa para a
incidência do ICMS Segundo a súmula 274 do STJ, o ISS incide sobre o valor dos serviços de assistência médica, incluindo-se neles as
refeições, os medicamentos e as diárias hospitalares.
O serviço misto não é Incidirá ICMS sobre este serviço (artigo 2º, IV, da Lei complementar 87/1996 e art. 155, §2º, IX, “b”, da CF). É o caso dos
previsto na lista anexa serviços de bares, restaurantes e similares, cujas operações com os seus consumidores estão sujeitas ao ICMS (artigo 2º, I,
da Lei complementar 87/1996 e súmula 163 do STJ), mas os outros serviços deverão ser tributados pelo ICMS com base no
artigo 2º, IV, da Lei complementar 87/1996.

O serviço puro não é previsto Não haverá incidência de ISS ou ICMS.


na lista anexa
CRITÉRIO MATERIAL

1. A lista anexa da Lei complementar 116/2003 é taxativa? É taxativa somente nos itens ou também nos subitens? A expressão
“e congêneres”;
2. Taxatividade vertical e exemplificatividade horizontal (RE 361.829/RJ e REsp 121.428/RJ, julgados na égide da Lei
complementar 56/1987, mas a sistemática se impõe). RE 784.439/DF (Tema 296): é taxativa a lista de serviços sujeitos ao
ISS a que se refere o art. 156, III, da Constituição Federal, admitindo-se, contudo, a incidência do tributo sobre as
atividades inerentes aos serviços elencados em lei em razão da interpretação extensiva;
3. Outras hipóteses de incidência mais comuns:
a. Serviços bancários não expressamente listados (incide ISS desde que congêneres, pelo item 15 da lista anexa);
b. Leasing financeiro e lease back (incide ISS por serem contratos mistos em que o caráter de serviço é mais proeminente
que no leasing operacional, no qual prevalece o caráter de locação de bem móvel, segundo o RE 592.905/SC);
c. Factoring (anteriormente, o STF não entendia como incluído na lista anexa por não haver menção expressa na lista
anexa do Decreto-lei 406/1968 e por não haver a expressão “e congêneres”, mas agora há no item 10.04);
d. Franquia (Tema 300 – RE 603.136/RJ);
e. Cessão de direitos autorais em plataformas de streaming a título precário (REsp 1.559.264/RJ), com resistência
doutrinária.
CRITÉRIO MATERIAL

1. Hipóteses de não incidência (art. 2º da Lei complementar 116/2003 et al):


a. Prestação de serviços em relação de emprego, dos trabalhadores avulsos, dos
diretores e membros de conselho consultivo ou de conselho fiscal de sociedades e
fundações, bem como dos sócios-gerentes e dos gerentes-delegados;
b. O valor intermediado no mercado de títulos e valores mobiliários, o valor dos
depósitos bancários, o principal, juros e acréscimos moratórios relativos a operações
de crédito realizadas por instituições financeiras;
c. As exportações de serviços para o exterior do País – não se enquadram os serviços
desenvolvidos no Brasil, cujo resultado aqui se verifique, ainda que o pagamento
seja feito por residente no exterior (art. 2º, § único, da Lei complementar 116/2003);
d. Sobre locação de bens móveis (súmula vinculante 31).
CRITÉRIO MATERIAL

1. Caso para análise do art. 2º, § único, da Lei complementar 116/2003:


empresa brasileira é contratada por empresas do exterior e recebe motores e
turbinas para reparos, retificação e revisão. Esta inicia, desenvolve e conclui a
prestação do serviço dentro do território nacional e somente depois de testados,
envia-os de volta aos clientes,q ue procedem à sua instalação nas aeronaves;
2. Teor do REsp 831.124/RJ: “Na acepção semântica, ‘resultado’ é consequência,
efeito, seguimento. Assim, para que haja efetiva exportação do serviço
desenvolvido no Brasil, ele não poderá aqui ter consequências ou produzir
efeitos. A contrário senso, os efeitos decorrentes dos serviços exportados devem-
se produzir em qualquer outro País. É necessário, pois, ter-se em mente que os
verdadeiros resultados do serviço prestado, os objetivos da contratação e da
prestação. O trabalho desenvolvido pela recorrente não configura exportação
de serviço, pois o objetivo da contratação, o resultado, que é efetivo conserto
do equipamento, é totalmente concluído no nosso território”.
CRITÉRIO TEMPORAL

1. Está implícito na Lei complementar 116/2003, mas pode ser complementado com o teor
do art. 116, II, do CTN, ao se considerar o serviço como fracionável ou não
fracionável;
a. Se fracionável: apenas se completa o critério temporal com o final de cada fração,
etapa, fase, trecho ou ainda período de tempo;
b. Se não fracionável: só se concretiza o critério temporal com a integral conclusão do
fato.
CRITÉRIO ESPACIAL

1. Serviço proveniente do exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior do País


(art. 1º, §1º, da Lei complementar 116/2003). O ISS tem extraterritorialidade?
a. Não. Neste caso, o artigo 1º, §1º, da Lei complementar 116/2003 seria
inconstitucional por alargar a hipótese de incidência do art. 156, III, da CF, de
“prestar” serviço;
b. Sim. Neste caso, o artigo 1º, §1º, da Lei complementar 116/2003 contemplaria duas
hipóteses compatíveis com o art. 156, III, da CF, que não definiu o verbo. Poderia ser
“prestar” serviço, como “consumir” serviço e, neste caso, o sujeito passivo seria o
consumidor do serviço – recrudesce esta tese o fato de que é responsável pelo
recolhimento o tomador ou o intermediário de serviço proveniente do exterior do País
ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior (art. 6º, §2º, II, da Lei complementar
116/2003).
CRITÉRIO ESPACIAL

1. Art. 3º, caput, da Lei complementar 116/2003: “O serviço considera-se prestado e o imposto, devido, no local do
estabelecimento prestador ou, na falta do estabelecimento, no local do domicílio do prestador, exceto nas
hipóteses previstas nos incisos I a XXV, quando o imposto será devido no local [...]”. Ficção jurídica para conferir
segurança;
a. Regra geral é o local do estabelecimento prestador, considerada a regra do art. 4º da Lei complementar 116/2003:
“Considera-se estabelecimento prestador o local onde o contribuinte desenvolva a atividade de prestar serviços, de
modo permanente ou temporário, e que configure unidade econômica ou profissional, sendo irrelevantes para
caracterizá-lo as denominações de sede, filial, agência, posto de atendimento, sucursal, escritório de representação
ou contato ou quaisquer outras que venham a ser utilizadas”;
b. Exceções (art. 3º da Lei complementar 116/2003);
i. Local do estabelecimento tomador ou do intermediário do serviço (para serviços provenientes do exterior – art.
3º, I, da Lei complementar 116/2003);
ii. Local de prestação de serviços (art. 3º, II a XXV, da Lei complementar 116/2003 – os últimos três incisos estão
com a eficácia suspensa pela ADI 5835);
iii. Jurisprudência do STJ: no caso de leasing financeiro, no local de efetiva prestação (decisão sobre a aprovação
CRITÉRIO ESPACIAL

Regra geral Exceções (artigo 3º da Lei complementar 116/2003)

Estabelecimento prestador Local do estabelecimento Local de prestação de


do serviço ou, não tomador ou do serviços (artigo 3º, II a
havendo estabelecimento, intermediário do serviço XXV, da Lei
o domicílio do prestador. (serviços provenientes do complementar 116/2003).
exterior).
CRITÉRIO PESSOAL

1. Art. 5º da Lei complementar 116/2003: “O sujeito passivo é o prestador do serviço”;


a. E no caso de serviço importado do exterior? O consumidor do serviço, caso se
entenda pela constitucionalidade do art. 1º, §1º, da Lei complementar 116/2003;
b. Art. 6º da Lei complementar 116/2003: “Os Municípios e o Distrito Federal, mediante
lei, poderão atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário
a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a
responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do
cumprimento total ou parcial da referida obrigação, inclusive no que se refere à multa
e aos acréscimos legais”. Esta terceira pessoa é o tomador do serviço. Ver os artigos
131 e 132 do CTMSeropédica;
2. O sujeito ativo é o Município ou o Distrito Federal.
CRITÉRIO QUANTITATIVO

1. Art. 7º da Lei complementar 116/2003: “A base de cálculo do imposto é o preço do serviço”. Cálculo por fora;
2. Arts. 8º e 8º-A da Lei complementar 116/2003: alíquota máxima de 5% e alíquota mínima de 2%;
a. Exceção: ISS fixo (art. 9º, §1º, do Decreto-Lei 406/1968), com alíquota específica. Requisitos para o pleito do
ISS fixo;
i. A sociedade deve ter um tipo de profissional no quadro societário, mas não necessariamente deve ser
unipessoal. Somente são admitidas as profissões relacionadas no artigo 9º, §3º, do Decreto-Lei 406/1968;
ii. A sociedade não pode ter elemento de empresa (sociedade simples do art. 982 do CC), o que significa que os
fatores de produção não devem se sobrepor à atuação profissional e direta dos sócios. Embargos de
Divergência EAREsp 31.084/MS: a tipologia da sociedade simples é desimportante se não houver elemento
de empresa (caso de uma sociedade simples que tinha tipo LTDA);
iii. Se se tratar de sociedade que recolha os tributos pelo Simples Nacional, não poderá haver recolhimento de
ISS fixo, pois o cálculo do ISS está embutido no valor próprio do DAS (Documento de Arrecadação do
Simples). Isto não se confunde com o ISS fixo e o ICMS fixo das MEs que aufiram até R$360 mil
anuais (artigo 33 da Resolução 140/2018 do CGSN).
OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS E SUBSTITUIÇÃO
CONCOMITANTE (RETENÇÃO NA FONTE)

1. Inscrição municipal (artigo 139 do CTMSeropédica);


2. Declaração para fins de cálculo do ISS (artigo 144 e artigo 147, I, do
CTMSeropédica) e declaração mensal ou anual de dados (artigo 145 do
CTMSeropédica);
3. Retenção do ISS (artigo 132 do CTMSeropédica) e nota fiscal;
1. ATENÇÃO (RE 1.167.509/SP – Tema 1020): é incompatível com a
Constituição Federal disposição normativa a prever a obrigatoriedade de
cadastro, em órgão da Administração municipal, de prestador de serviços não
estabelecido no território do Município e imposição ao tomador da retenção do
ISS quando descumprida a obrigação acessória.

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