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DIREITO TRIBUTÁRIO - AULAS

I - Jurisprudência Tributária nos Tribunais Superiores e Imposto sobre


Serviços de Qualquer Natureza

Parte I – regra-matriz de incidência e jurisprudência tributária dos


tribunais superiores

Norma jurídica tributária e seus elementos

1. Normas jurídicas tributárias (Paulo de Barros Carvalho):


a. Normas tributárias principiológicas;
b. Normas tributárias stricto sensu (norma padrão de incidência ou
Regra-Matriz de Incidência Tributária);
c. Normas tributárias operacionalizadoras do tributo;
2. Elementos da norma jurídica tributária:
a. Antecedente (descritor, hipótese normativa): critérios material,
espacial e temporal. Olhe para o fato e pergunte: o que ocorreu?
Quando? Onde?
b. Consequente (prescritor, consequência normativa): critérios
pessoal e quantitativo. Olhe para a obrigação e pergunte: quem
deve pagar? Quanto?

“Jurisprudência”

1. Jurisprudência, precedente (vertical e horizontal), julgado;


2. Ratio decidendi e obiter dictum;
3. Decisão majoritária: maioria na conclusão e maioria na ratio decidendi ou
nas rationes decidendi;
4. Decisão plural: maioria na conclusão, mas sem maioria na ratio decidendi
ou nas rationes decidendi;
5. Estabilidade, coerência e integridade da jurisprudência (art. 926 do CPC);
6. Sistema de precedentes (art. 927 do CPC);
7. Distinguishing e overruling.

JURISPRUDÊNCIA TRIBUTÁRIA

1. Administrativamente: nos tribunais administrativos de cada ente;


2. Judicialmente:
a. Em matéria de fatos: nos tribunais regionais (TJs e TRFs);
b. Em matéria de direito: em todos os tribunais. Para uniformizar a
jurisprudência sobre direito infraconstitucional, no STJ. Para
uniformizar a jurisprudência sobre Direito Constitucional, no STF.
Qual é a linha que divide o que é “matéria constitucional” e o que
não é?
i. Tribunais especializados têm competência para conhecer
sobre relações jurídico-tributárias? Taxas judiciárias e
jurisprudência do TST.

Parte II – Imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS)

Legislação aplicável

1. Art. 156, III e §3º, da CF;


2. Art. 9º do Decreto-lei 406/1968;
3. Lei complementar 116/2003, modificada pela Lei complementar 157/2016
e legislação municipal pertinente;
4. Competência municipal/distrital;
5. Lançamento por homologação.

Critério material

É o fato/conduta que deve ser praticado para ser o devedor.


1. Art. 1º, caput, da Lei complementar 116/2003: “O Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do
Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação de serviços
constantes da lista anexa, ainda que esses não se constituam como
atividade preponderante do prestador”;
a. É necessário caráter mercantil? Profissionais liberais
recolhem ISS? Sim. Sociedades simples também pagam ISS.
b. É necessário haver efetivo pagamento pelo serviço? Não.
2. Serviço (art. 3º, §2º, do CDC): “Serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista”;
a. Serviço como empreendimento de esforço humano;
b. Em outros dispositivos de Direito Privado: arts. 593 e 594 do
CC.

3. Critério para diferenciar a incidência de ISS e de ICMS: natureza


personalíssima do serviço ou mesmo o próprio prestador (profissional
liberal, sociedade de pessoas). Se o contrato tiver natureza
personalíssima nas características do serviço, atrai-se o ISS. Exemplos:
a. Cartões de visita por uma gráfica; ISS porque o cartão é
personalíssimo.
b. Softwares de computador desenvolvidos especificamente
para um consumidor (REsp 814.075/MG); ISS porque é
personalíssimo.

4. Operações mistas: contratos que conjugam obrigações de fazer e


obrigações de dar. Art. 155, §2º, IX, “b”, da CF.

1. A lista anexa da Lei complementar 116/2003 é taxativa? É taxativa


somente nos itens ou também nos subitens? A expressão “e congêneres”;
2. Taxatividade vertical e exemplificatividade horizontal (RE 361.829/RJ e
REsp 121.428/RJ, julgados na égide da Lei complementar 56/1987, mas a
sistemática se impõe);

3. Outras hipóteses de incidência mais comuns:


a. Serviços bancários não expressamente listados (incide ISS
desde que congêneres, pelo item 15 da lista anexa);
b. Leasing financeiro e lease back (incide ISS por serem
contratos mistos em que o caráter de serviço é mais
proeminente que no leasing operacional, no qual prevalece o
caráter de locação de bem móvel, segundo o RE
592.905/SC);
c. Factoring (anteriormente, o STF não entendia como incluído
na lista anexa por não haver menção expressa na lista anexa
do Decreto-lei 406/1968 e por não haver a expressão “e
congêneres”, mas agora há no item 10.04).

4. Serviço proveniente do exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no


exterior do País (art. 1º, §1º, da Lei complementar 116/2003). O ISS tem
extraterritorialidade?
a. Não. Neste caso, o artigo 1º, §1º, da Lei complementar
116/2003 seria inconstitucional por alargar a hipótese de
incidência do art. 156, III, da CF, de “prestar” serviço;
b. Sim. Neste caso, o artigo 1º, §1º, da Lei complementar
116/2003 contemplaria duas hipóteses compatíveis com o
art. 156, III, da CF, que não definiu o verbo. Poderia ser
“prestar” serviço, como “consumir” serviço e, neste caso, o
sujeito passivo seria o consumidor do serviço – recrudesce
esta tese o fato de que é responsável pelo recolhimento o
tomador ou o intermediário de serviço proveniente do
exterior do País ou cuja prestação se tenha iniciado no
exterior (art. 6º, §2º, II, da Lei complementar 116/2003).

5. Hipóteses de não incidência (art. 2º da Lei complementar 116/2003):

a. Prestação de serviços em relação de emprego, dos


trabalhadores avulsos, dos diretores e membros de conselho
consultivo ou de conselho fiscal de sociedades e fundações,
bem como dos sócios-gerentes e dos gerentes-delegados;
b. O valor intermediado no mercado de títulos e valores
mobiliários, o valor dos depósitos bancários, o principal, juros
e acréscimos moratórios relativos a operações de crédito
realizadas por instituições financeiras;
c. As exportações de serviços para o exterior do País – não se
enquadram os serviços desenvolvidos no Brasil, cujo
resultado aqui se verifique, ainda que o pagamento seja feito
por residente no exterior (art. 2º, § único, da Lei
complementar 116/2003).

Caso para análise do art. 2º, § único, da Lei complementar 116/2003:


empresa brasileira é contratada por empresas do exterior e recebe motores e
turbinas para reparos, retificação e revisão. Esta inicia, desenvolve e conclui a
prestação do serviço dentro do território nacional e somente depois de testados,
envia-os de volta aos clientes, que procedem à sua instalação nas aeronaves;

Teor do REsp 831.124/RJ: “Na acepção semântica, ‘resultado’ é consequência,


efeito, seguimento. Assim, para que haja efetiva exportação do serviço
desenvolvido no Brasil, ele não poderá aqui ter consequências ou produzir
efeitos. A contrário senso, os efeitos decorrentes dos serviços exportados
devem-se produzir em qualquer outro País. É necessário, pois, ter-se em mente
que os verdadeiros resultados do serviço prestado, os objetivos da contratação e
da prestação. O trabalho desenvolvido pela recorrente não configura
exportação de serviço, pois o objetivo da contratação, o resultado, que é
efetivo conserto do equipamento, é totalmente concluído no nosso
território”.

Critério temporal

1. Está implícito na Lei complementar 116/2003, mas pode ser


complementado com o teor do art. 116, II, do CTN, ao se considerar o
serviço como fracionável ou não fracionável;
a. Se fracionável: apenas se completa o critério temporal com o final
de cada fração, etapa, fase, trecho ou ainda período de tempo;
b. Se não fracionável: só se concretiza o critério temporal com a
integral conclusão do fato.

Critério espacial

1. Art. 3º, caput, da Lei complementar 116/2003: “O serviço considera-se


prestado e o imposto, devido, no local do estabelecimento prestador
ou, na falta do estabelecimento, no local do domicílio do prestador,
exceto nas hipóteses previstas nos incisos I a XXV, quando o imposto será
devido no local [...]”. Ficção jurídica para conferir segurança;
a. Regra geral é o local do estabelecimento prestador, considerada a
regra do art. 4º da Lei complementar 116/2003: “Considera-se
estabelecimento prestador o local onde o contribuinte desenvolva a
atividade de prestar serviços, de modo permanente ou temporário,
e que configure unidade econômica ou profissional, sendo
irrelevantes para caracterizá-lo as denominações de sede, filial,
agência, posto de atendimento, sucursal, escritório de
representação ou contato ou quaisquer outras que venham a ser
utilizadas”;
b. Exceções (art. 3º da Lei complementar 116/2003);
i. Local do estabelecimento tomador ou do intermediário do
serviço (para serviços provenientes do exterior – art. 3º, I,
da Lei complementar 116/2003);
ii. Local de prestação de serviços (art. 3º, II a XXV, da Lei
complementar 116/2003 – os últimos três incisos estão com
a eficácia suspensa pela ADI 5835);
iii. Jurisprudência do STJ: no caso de leasing financeiro, no local
de efetiva prestação (decisão sobre a aprovação do
financiamento).

Critério pessoal

1. Art. 5º da Lei complementar 116/2003: “O sujeito passivo é o prestador


do serviço”;
a. E no caso de serviço importado do exterior? O consumidor do
serviço, caso se entenda pela constitucionalidade do art. 1º, §1º,
da Lei complementar 116/2003;
b. Art. 6º da Lei complementar 116/2003: “Os Municípios e o Distrito
Federal, mediante lei, poderão atribuir de modo expresso a
responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa,
vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a
responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter
supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação,
inclusive no que se refere à multa e aos acréscimos legais”. Esta
terceira pessoa é o tomador do serviço. Ver os artigos 131 e 132
do CTMSeropédica;
2. O sujeito ativo é o Município ou o Distrito Federal.

Critério quantitativo

1. Art. 7º da Lei complementar 116/2003: “A base de cálculo do imposto é o


preço do serviço”. Cálculo por fora;
2. Arts. 8º e 8º-A da Lei complementar 116/2003: alíquota máxima de 5% e
alíquota mínima de 2%;
a. Exceção: ISS fixo (art. 9º, §1º, do Decreto-Lei 406/1968), com
alíquota específica. Requisitos para o pleito do ISS fixo;
i. A sociedade deve ter um tipo de profissional no quadro
societário, mas não necessariamente deve ser unipessoal.
Somente são admitidas as profissões relacionadas no artigo
9º, §3º, do Decreto-Lei 406/1968;
ii. A sociedade não pode ter elemento de empresa (sociedade
simples do art. 982 do CC), o que significa que os fatores de
produção não devem se sobrepor à atuação profissional e
direta dos sócios. Embargos de Divergência EAREsp
31.084/MS: a tipologia da sociedade simples é desimportante
se não houver elemento de empresa (caso de uma sociedade
simples que tinha tipo LTDA);
iii. Se se tratar de sociedade que recolha os tributos pelo
Simples Nacional, não poderá haver recolhimento de ISS
fixo, pois o cálculo do ISS está embutido no valor próprio do
DAS (Documento de Arrecadação do Simples). Isto não se
confunde com o ISS fixo e o ICMS fixo das MEs que
aufiram até R$360 mil anuais (artigo 33 da Resolução
140/2018 do CGSN).

Obrigações acessórias e substituição concomitante (retenção na fonte)

1. Inscrição municipal (artigo 139 do CTMSeropédica): prestador de serviços


precisa ter.
2. Declaração para fins de cálculo do ISS (artigo 144 e artigo 147, I, do
CTMSeropédica) e declaração mensal ou anual de dados (artigo 145 do
CTMSeropédica);
3. Retenção do ISS (artigo 132 do CTMSeropédica) e nota fiscal.

II - IPTU E ICMS

PARTE I – IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE PREDIAL E TERRITORIAL


URBANA (IPTU)

Legislação aplicável

1. Art. 156, I e §1º, da CF e art. 182, §4º, II, da CF;


2. Arts. 32 a 34 do CTN;
3. Legislação municipal pertinente;
4. Competência municipal/distrital;
5. Lançamento ex officio. Súmula 397 do STJ: “O contribuinte do IPTU é
notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço”.

Critério material
1. Art. 32 do CTN: “O imposto, de competência dos Municípios, sobre a
propriedade predial e territorial urbana tem como fato gerador a
propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou
por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do
Município”;
a. Houve alargamento da hipótese de incidência constitucional?
A jurisprudência entende que não (posse ad usucapionem),
mas José Eduardo Soares de Melo reconhece a controvérsia;
2. Propriedade (art. 1228 do CC): “O proprietário tem a faculdade de usar,
gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer
que injustamente a possua ou detenha”;
3. Posse (art. 1196 do CC): “Considera-se possuidor todo aquele que tem
de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade”. Com animus domini, isto é, posse ad usucapionem;
4. Domínio útil (doutrina): direito de algum ou alguns dos poderes
inerentes à propriedade, inerente ao foreiro (enfiteuse) ou ao
usufrutuário, em relação ao uso de terrenos da União, dos Municípios, de
Igrejas ou até de particulares.

1. Não incidência de IPTU: cessionário de uso de bem imóvel particular ou


público (direito pessoal), mero detentor de bem imóvel (locatário),
arrendatário e comodatário de bem imóvel, servidão de passagem em
imóvel alheio, esbulhado em desapropriação indireta, circos, quiosques,
barracas de camping e bancas de jornal. Hipóteses de imunidade (art.
150, VI e §4º, da CF c/c súmula 724 do STF c/c súmula vinculante 52);
2. Incidência de IPTU:
a. Situações com posse ad usucapionem: usuário, usufrutuário, direito
real de habitação ou outro direito real em que se verifique
propriedade desdobrada com posse com animus domini;
b. Superfície (art. 1371 do CC, STJ e parte da doutrina), mas com
crítica pelo art. 146, III, da CF;
c. Promessa de compra e venda de bem imóvel (REsp 1.110.551/SP e
súmula 399 do STJ): cabe à legislação municipal estabelecer o
sujeito passivo do IPTU, e a existência de possuidor apto a ser
considerado contribuinte do IPTU não implica a exclusão automática
do titular do domínio;
d. Art. 169, §1º, do CTM/Seropédica: “Respondem solidariamente pelo
pagamento do imposto o justo possuidor, o titular do direito de
usufruto, uso ou habitação, os promitentes compradores imitidos na
posse, os cessionários, os posseiros, comodatários e os ocupantes a
qualquer título do imóvel, ainda que pertencente a qualquer a
qualquer pessoa física ou jurídica de direito público ou privado,
isenta do imposto ou imune”.
1. Bem imóvel (arts. 79 do CC): o solo e tudo quanto se lhe incorporar
natural ou artificialmente;
2. Bem imóvel meramente territorial e predial:
3. Elemento jurídico: construções incorporadas permanentemente ao solo
(acessão) – mas se não houver construção, o IPTU também é devido, mas
pode haver progressividade para cumprir a função social da propriedade
urbana se estiver sendo descumprida (há casos em que não há
construção, mas a função social é cumprida, segundo o Estatuto da
Cidade e o Plano Diretor);
4. Elemento econômico: destinação social ao bem, como habitação ou o
exercício de uma atividade econômica, sob consequência da aplicação do
IPTU extrafiscal progressivo.
5. Zona urbana (art. 32, §1º, do CTN): “Entende-se como zona urbana a
definida em lei municipal; observado o requisito mínimo da existência de
melhoramentos indicados em pelo menos 2 dos incisos seguintes,
construídos ou mantidos pelo Poder Público. I – meio-fio ou calçamento,
com canalização de águas pluviais; II – abastecimento de água; III –
sistema de esgotos sanitários; IV – rede de iluminação pública, com ou
sem posteamento para distribuição domiciliar; V – escola primária ou
posto de saúde a uma distância máxima de 3 quilômetros do imóvel
considerado”;
6. Art. 15 do Decreto-lei 57/1966: “O disposto no art. 32 da Lei nº 5.172, de
25 de outubro de 1966, não abrange o imóvel de que, comprovadamente,
seja utilizado em exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agro-
industrial, incidindo assim, sobre o mesmo, o ITR e demais tributos com o
mesmo cobrados”;
7. E zona rural?
8. Áreas urbanizáveis ou de expansão urbana (art. 32, §2º, do CTN): “A
lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de
expansão urbana, constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos
competentes, destinados à habitação, à indústria ou ao comércio, mesmo
que localizados fora das zonas definidas nos termos do parágrafo
anterior”;
9. Súmula 626 do STJ: “A incidência do IPTU sobre imóvel situado em área
considerada pela lei local como urbanizável ou de expansão urbana não
está condicionada à existência dos melhoramentos elencados no artigo 32,
§1º, do CTN”;
10. Sítios de recreio e a posição do STJ.

Critério temporal

1. A ser apurado pela legislação municipal, mas a maioria fixa em 1º de


janeiro de cada exercício financeiro – fato gerador continuado ou
permanente;
2. E se houver conclusão de obra com melhoramentos ou acessão
física ao imóvel? Apelação em MC 213.230/SC: “Estando previsto em
legislação municipal que o fato gerador do imposto predial e territorial
urbano se dará a cada 1º de janeiro, não pode o município efetuar seu
lançamento no meio do exercício em razão da conclusão de obra
edificadora. Ademais, uma vez lançado o tributo sobre o proprietário do
terreno onde está sendo realizada a construção, verifica-se ilegal segunda
cobrança sobre os adquirentes de seus apartamentos, porquanto é o IPTU
um imposto único e, assim, não pode ser repartido em imposto predial e
imposto territorial, sob pena de caracterização de tributação bis in idem”

Critério espacial

1. O IPTU é devido ao Município de localização do imóvel (art. 32, §1º,


do CTN), segundo a zona urbana definida em lei municipal;
2. E se houver imóvel localizado em dois Municípios? Que medida jurídica
tomar se houver cobrança de IPTU sobre o mesmo imóvel em relação a
Municípios distintos?

Critério pessoal

1. O sujeito ativo é o Município da situação do bem (confirmação da


competência tributária);
2. O sujeito passivo é o proprietário, possuidor com animus domini ou
detentor de domínio útil, pessoa física ou jurídica. Em relação aos
possuidores, relembre a súmula 399 do STJ;
3. Responsabilidade tributária (art. 128 do CTN) nos casos de possuidores e
detentores de domínio útil. Nas legislações municipais, há alargamento
dessas hipóteses, o que pode ser criticado (art. 169, §1º, do
CTM/Seropédica);
4. Responsabilidade tributária stricto sensu do adquirente (art. 130 do CTN).

Critério quantitativo

1. A base de cálculo é o valor venal do imóvel (art. 33 do CTN);


2. Valor venal (Aliomar Baleeiro): “Valor provável que o imóvel atingirá
diante de transação à vista e diante de mercado estável e quando
comprador e vendedor têm plena consciência do potencial de uso e
ocupação que o imóvel pode ser dado”; Tabela do município geralmente é
muito defasado e não necessariamente coincide com o valor do ITBI.
3. Parâmetro: testada do imóvel para o logradouro. Se o imóvel tiver mais
de uma testada, será considerada a de maior valor venal e, não sendo
possível distinguir, pelo de maior testada (art. 179 do CTM/Seropédica);
4. Valor venal do IPTU Valor venal do ITBI : localização, área do bem
imóvel, utilização do bem imóvel, etc. Estes valores constam da Planta
Genérica de Valores, no Plano Diretor, e deve ser majorado o valor venal
por meio de lei;
a. Exemplo: valor venal de IPTU é R$50 mil e o valor de venda é de
R$100 mil. O ITBI incide sobre R$100 mil. Pode haver defasagem
entre os valores venais, sendo mais comum que o valor de venda
seja a base de cálculo do ITBI. O conceito é o mesmo, mas a
prática impõe que a planta de valores fique defasada, então isso é
um problema do imposto sobre a propriedade, não do de
transmissão. Por isso, o valor venal de ITBI pode ser maior que o
do IPTU. Sobre isso, AgR no AgREsp 36.740/RS;
b. ATENÇÃO: há precedentes em alguns tribunais com o entendimento
de que a existência de dois valores venais é inconstitucional, por
violação ao princípio da legalidade tributária (ler todas as peças
disponibilizadas do processo 1004539-95.2021.8.26.0053).
A mesma hipótese serve para o ITCMD.

1. Exceção à anterioridade da noventena (art. 150, §1º, da CF); Se 31 de


dezembro for publicada a lei, pode ser cobrada a base de calcula nova
logo em 1º de janeiro.
2. Súmula 160 do STJ: “É defeso ao Município atualizar o IPTU, mediante
decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária”.
Art. 97, §2º, do CTN.
3. E em condomínios edilícios? Áreas privadas e áreas comuns. Exemplo em
Volta Redonda. Há alíquotas da edificação e as do terreno. Se fosse uma
casa, a alíquota do terreno seria aplicada para a área do terreno, e a
alíquota da edificação para a sai respectiva área. Com isso, tiraríamos a
média entre os dois. Nos condomínios, as áreas comuns são
compartilhadas pelos condôminos.
1. As alíquotas poderão ser determinadas por lei municipal, vedada a
utilização com efeito de confisco;
2. Progressivas em razão do descumprimento da função social da
propriedade urbana (art. 156, §1º, e art. 182, §4º, II, da CF), até o
máximo de 15% – progressividade extrafiscal;
3. Progressivas em razão do valor do imóvel (art. 156, §1º, I, da CF,
incluído pela EC 29/2000) – progressividade fiscal. Em razão da área
(art. 145, §1º, da CF) – progressividade fiscal;
4. Diferenciadas (seletivas) em razão da localização e do uso do
imóvel (art. 156, §1º, II, da CF, incluído pela EC 29/2000). Súmula 539
do STF: “É constitucional a lei do Município que reduz o IPTU sobre imóvel
ocupado pela residência do proprietário, que não possua outro”, inclusive
em qualquer lugar do País. Súmula 589 do STF: “É inconstitucional a
fixação de adicional progressivo do IPTU em função do número de imóveis
do contribuinte”;
5. Súmula 668 do STF: “São inconstitucionais as leis municipais que
determinavam, antes da EC 29/2000, progressividade ao IPTU em razão
do valor venal, da localização e do uso, salvo se destinada a assegurar o
cumprimento da função social da propriedade urbana”;
6. Impostos progressivos: IR, IPTU, ITR e ITCMD (súmula 656 do STF).

1. Art. 186 do CTM/Seropédica:


a. Imóveis territoriais: 1%;
b. Imóveis prediais residenciais: 0,5%;
c. Imóveis prediais não residenciais, inclusive galpões e telheiros: 1%.

Obrigações acessórias

1. Cadastro imobiliário (arts. 175 e 176 do CTM/Seropédica), devendo


mantê-lo atualizado em relação aos dados e às acessões que ocorrerem
no imóvel (art.s 178 e 180 do CTM/Seropédica);
2. Persiste a necessidade de ter e atualizar o cadastro mesmo que o
contribuinte seja isento ou haja imunidade (art. 175 do CTM/Seropédica).

PARTE II – IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO DE BENS IMÓVEIS (ITBI)

Legislação aplicável

1. Art. 156, II e §2º, da CF;


2. Arts. 35 a 42 do CTN – recepção pelo texto constitucional como tributo de
competência municipal;
3. Lei municipal/distrital pertinente;
4. Competência municipal/distrital;
5. Lançamento por declaração. Em alguns municípios, ex officio e por
homologação.

Critério material

1. Art 156, II, da CF: “transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato
oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos
reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a
sua aquisição”;
2. Art. 35 do CTN: “O imposto, de competência dos Estados, sobre a
transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos tem como fato
gerador;
a. A transmissão, a qualquer título (a título oneroso e inter
vivos) da propriedade ou do domínio útil de bens
imóveis por natureza ou por acessão física, como
definidos na lei civil;
b. A transmissão, a qualquer título (a título oneroso e inter
vivos) de direitos reais sobre imóveis, exceto os
direitos reais de garantia;
c. A cessão (a título oneroso e inter vivos) de direitos
relativos às transmissões referidas nos incisos I e II
(art. 35 do CTN) e transmissão de direitos reais sobre
imóveis (art. 156, II, da CF);
3. Transmissão de bem imóvel (arts. 1227 e 1245 do CC);
4. Jurisprudência: somente e tão somente no registro. A antecipação da
ocorrência do fato gerador é inconstitucional, como na promessa de
compra e venda. Esta jurisprudência não protege a figura do “contrato de
gaveta”.
5. Cessão de direitos relativos às transmissões de bens imóveis:
transferência de direitos de que detém um sujeito, em relação a um
imóvel, para terceiros. Exemplos: cessão onerosa de direitos hereditários
ou à sucessão, cessão onerosa de compromisso de compra e venda
irretratável de imóvel e quaisquer outros atos onerosos ou contratos
translativos de imóveis;
6. José Eduardo Soares de Melo, citando José Alberto Oliveira Macedo:
“Celebrado um compromisso de compra e venda de bem imóvel, pode
acontecer, por razões diversas, de o promissário comprador – depois de
certo tempo, inclusive residindo no imóvel, e de ter pago certo número de
parcelas – não estar mais interessado em permanecer no imóvel. Ele,
então, cede seus direitos sobre o compromisso celebrado originalmente
para um terceiro. É realizado, pois, um contrato de cessão de direitos,
sobre compromisso de compra e venda, a partir do qual o atual
cessionário, muitas vezes, também já passa a residir no imóvel. Acontece
que essa cadeia de sucessão de direitos (de natureza pessoal, apesar de
ter gerado manifestações de riqueza pelas partes em cada contrato), pode
passar ao largo da tributação se tais negócios não forem registrados.
Basta que o último cessionário, ao quitar a dívida, convoque para
participar da lavratura da escritura pública apenas aquele que figurou
como promitente vendedor no compromisso de compra e venda original.
Uma sucessão de posses de imóvel e de cessões de direito à aquisição
constará registrado na matrícula do imóvel”. Crítica possível à forma de
lançamento e à fiscalização;
7. Cessão de direitos reais sobre imóveis (exceto os de garantia).
8. Incidência de ITBI: (i) compra e venda registrada ou permuta
registrada, permuta, (ii) mandato em causa própria com poderes
equivalentes para a transmissão de bem imóvel (criticável), (iii)
arrematação em hasta pública (criticável – aquisição originária), (iv)
partilha de imóvel que, na divisão do patrimônio comum for atribuído a
um dos cônjuges separados na meação não exata dos bens, de forma a se
configurar transmissão onerosa; A aquisição da propriedade pode ser
originária ou derivada. Arrematação em hasta pública cessa a cadeia,
como se o imóvel não tivesse sido de ninguém. Não é uma transmissão.
Você paga por parte da dívida e leva o imóvel por um preço menor.
9. Não incidência de ITBI: (i) usucapião e outros modos originários de
aquisição da propriedade, (ii) desapropriação, (iii) instituição de servidões
administrativas, (iv) contratos de promessa de compra e venda sem
registro no Cartório de Registro de Imóveis (contrato de gaveta) e (v)
contratos de promessa de compra e venda com pactuação de
arrependimento, mesmo se registrados;
10. Imunidade de ITBI (art. 156, §2º, I, da CF): “Não incide sobre a
transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa
jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou
direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa
jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do
adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação
de bens imóveis ou arrendamento mercantil”;
11. Atividade preponderante: 50% da receita bruta operacional (art.
37, §1º, do CTN), apurada 2 anos antes e 2 anos depois da transmissão.
Se for pessoa jurídica nova, apenas 3 anos depois da transmissão (art.
37, §2º, do CTN).
12. Não incidência de ITBI: segundo o art. 36 do CTN, o ITBI não
incide sobre a transmissão aos mesmos alienantes, dos bens e direitos
adquiridos, em decorrência da sua desincorporação do patrimônio da
pessoa jurídica a que foram conferidos. Segundo o AgRg no AREsp
55.873/RS: “O acórdão recorrido, acolhendo ensinamento de Hugo de
Brito Machado, concluiu que a norma contida no art. 36, parágrafo único,
do CTN há de ser interpretada com a Carta Magna, de modo que, na
hipótese de extinção da pessoa jurídica, é irrelevante quem seja o
destinatário dos bens transferidos. Salienta que a interpretação a ser dada
pelo referido normativo federal, para harmonizar-se com o texto
constitucional, implica sua aplicação aos casos de simples redução do
capital social, com desincorporação dos bens imóveis ou direito a eles
relativos do patrimônio de pessoas jurídicas”;
13. Imunidade ou isenção heterônoma?
14. Este artigo foi recepcionado pela CRFB/1988? E se lei municipal
previr essa hipótese?

1. A evasão/elusão fiscal na transferência de imóveis entre pessoas;


2. O Município pode desconsiderar o fato gerador? Art. 116, § único, do CTN;
A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios
jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato
gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação
tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei
ordinária.
3. Cabe restituição do imposto pago quando houver fraude/simulação que
originou a anulação da compra e venda? Art. 118 do CTN e o REsp
1.175.640/MG. A pretensão de recuperação dos valores pagos a título de
ITBI deve-se dar em ação indenizatória movida contra aquele que deu
causa à anulação do negócio, e não contra a Fazenda.

1. Incidência de ITBI: o direito de retrocessão, quando o bem


desapropriado é retransmitido ao antigo proprietário mediante
pagamento, faz incidir o ITBI (súmula 111 do STF). Se a lei municipal
definir o sujeito passivo como o adquirente, este deverá recolher o ITBI;
se definir o alienante como contribuinte, a União e o Estado serão imunes
em razão da imunidade recíproca, e o Município não poderá cobrar de si
mesmo pela confusão do crédito tributário;
2. Não incidência de ITBI: valores mobiliários, como ações de sociedade
anônima.

Critério espacial

1. Entende-se devido o imposto no Município da situação do bem (art.


156, §2º, II, da CF e art. 41 do CTN), mesmo se não houver Cartório de
Registro Geral de Imóveis em uma circunscrição;
2. E se houver imóvel localizado em dois Municípios? Que medida jurídica
tomar se houver cobrança de ITBI sobre o mesmo imóvel em relação a
Municípios distintos?

Critério temporal

1. Reputa-se ocorrido o fato gerador no momento da transmissão do bem


imóvel ou no momento da cessão de direitos à aquisição de bem
imóvel ou de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia,
isto é, no momento do registro do bem ou do direito sobre o bem imóvel
(arts. 1227 e 1245 do CC);
2. E as leis municipais que preveem como critério temporal o momento da
cessão de direitos à aquisição, como a cessão de um imóvel ainda na
planta?
a. Jurisprudência do STJ e do STF: são inconstitucionais (vide REsp
57.641/PE, ARE 1.037.372/SP e RE 1.241.480/SP). Art. 193, §
único, do CTM/Seropédica;
b. José Eduardo Soares de Melo, citando José Alberto Oliveira Macedo:
“A antecipação do critério temporal do ITBI, do registro para a
escritura, reforça a segurança jurídica na medida em que a
Administração não fica sujeita aos comportamentos protelatórios
de realização do ato de registro, o que, em pese dar a certeza do
direito de propriedade ao adquirente, do imóvel, não impede , no
mais das vezes, esse adquirente de usufruí-lo”;
c. ATENÇÃO: o STF pode reorientar ou reafirmar a sua jurisprudência
no sentido de que o registro é o momento da incidência do imposto
na Repercussão Geral no RE 1.294.969/SP. Isso acontece pela
ausência de IRDR sobre essa matéria.

Critério pessoal

1. O sujeito ativo é o Município da situação do imóvel;


2. O sujeito passivo pode ser o cessionário/adquirente ou o
cedente/alienante (art. 42 do CTN), pessoa física ou jurídica. Se for
permuta, serão cada uma das partes pelo valor tributável do bem ou
direito que recebe (art. 197, II, do CTM/Seropédica). Caberá à
legislação municipal, mas o mais comum é que o adquirente ou
cessionário seja o sujeito passivo.
1. Responsabilidade solidária do adquirente e do alienante se não
houver recolhimento prévio do imposto devido (art. 197, §1º, do
CTM/Seropédica);
2. Na venda de imóveis em inventário, inter vivos, se não houver
recolhimento do imposto devido, respondem solidariamente os co-
herdeiros e o inventariante (art. 197, §2º, do CTM/Seropédica).

Critério quantitativo
1. A base de cálculo é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos
(art. 38 do CTN);
2. A base de cálculo é o valor de venda ou o mesmo valor venal a título de
IPTU? REsp 1.199.964/SP, com citação da professora Misabel Derzi:
“Como é tarefa difícil para a Administração, em um tributo lançado de
ofício, como é o caso do IPTU, avaliar a propriedade imobiliária de
milhares de contribuintes, medidas de simplificação da execução da lei
têm sido tomadas pelo Poder Executivo. Uma dessas medidas são as
plantas ou tabelas de valores […]. No ITBI, o preço efetivamente pago
pelo adquirente do imóvel tende a refletir, com grande proximidade, seu
valor venal, considerado como, repito, o valor de uma venda regular, em
condições normais de mercado”;
3. Lançamento do IPTU versus lançamento do ITBI;
4. O fato de haver descompasso entre o valor de mercado e o valor da
transação não impede que o Município lance o restante do que entende
devido a título de ITBI ex officio, arbitrando o valor que entende
efetivamente devido (AgRg no AREsp 263.685/RS e art. 148 do CTN).
Proteção do Fisco contra evasão fiscal.
5. Súmula 108 do STF: “É legítima a incidência do ITBI sobre o valor do
imóvel ao tempo da alienação, e não da promessa, na conformidade da
legislação local”;
6. Súmula 407 do STF: “O ITBI não incide sobre a construção, ou parte dela,
realizada inequivocamente pelo promitente comprador após a promessa
de compra e venda, mas sobre o valor do que tiver sido construído antes
da promessa de venda”.
7. As alíquotas não poderão ser progressivas segundo a jurisprudência do
STF (súmula 656 do STF e seus julgados-paradigma);
8. Serão fixadas segundo a lei municipal, vedada a utilização com efeito de
confisco. É possível instituir alíquotas distintas para o valor financiado do
imóvel e o valor que é pago a título de entrada (art. 199 do
CTM/Seropédica).

Obrigações acessórias

1. Entrega de documentos e informações necessárias ao lançamento do


imposto (art. 201 do CTM/Seropédica);
2. Entrega do título translativo em até 30 dias da celebração do contrato, da
carta de adjudicação ou de arrematação, ou de qualquer título
representativo de transferência de bem ou direito (art. 204 do
CTM/Seropédica).

III - IPVA e ITCMD

PARTE I – IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE DE VEÍCULOS AUTOMOTORES (IPVA)

Legislação aplicável

1. Art. 155, III e §6º, da CF;


2. Legislação estadual/distrital pertinente. Lei Estadual 2.877/1997;
3. Competência estadual/distrital;
4. Lançamento ex officio.

Critério material

1. Art. 155, III, da CF: “Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre propriedade de veículos automotores”;
2. Propriedade (art. 1228 do CC): “O proprietário tem a faculdade de usar,
gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer
que injustamente a possua ou detenha”;
3. Veículo automotor (Anexo I do CTB): “Todo veículo a motor de
propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente
para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de
veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo
compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não
circulam sobre trilhos (ônibus elétrico)”;
4. A discussão sobre a incidência de IPVA sobre a propriedade de
embarcações e aeronaves. RE 379.572/RJ, RE 255.111-2/SP e a falácia
argumentativa da interpretação da Constituição atual sobre situações pré-
constitucionais (Taxa Rodoviária Única) e dos órgãos de registro da
propriedade de embarcações e aeronaves (Registro Aeronáutico Brasileiro
e Tribunal Marítimo, com jurisdição interestatal). Conceito de
embarcação: usa água (elemento natural) para se mover. Conceito de
aeronave: usa o ar para se sustentar e circular, mediante reações
aerodinâmicas.
5. Não incidência de IPVA (não ocorrência do fato gerador – arts. 13 e 13-
A da Lei Estadual 2.877/1997): perda total por sinistro, roubo ou furto,
apropriação indébita ou qualquer outro delito que resulte a privação do
direito de propriedade a partir da data do sinistro, dividindo-se o valor do
IPVA por 12 e se excluindo o mês do sinistro. O contribuinte terá direito à
restituição do valor pago até o mês do sinistro;
6. Não incidência de IPVA (isenções – art. 4º, VI, e art. 5º da Lei Estadual
2.877/1997): de empresas públicas estaduais custeadas pelo Tesouro
Estadual, de países do estrangeiro, de estrangeiros que possuam
habilitação para circular e conduzir por até 1 ano no Brasil (só para
veículos brasileiros), tratores e máquinas agrícolas, veículos de PCD ou de
seu representante legal, veículos com mais de 15 anos de fabricação,
táxis de propriedade de profissionais autônomos (inclusive se arrendados
em leasing), ambulâncias pertencentes às instituições de saúde e
assistência social sem fins lucrativos, veículos automotores de associações
representativas de PCDs; vans, kombis, topics ou veículos similares
pertencentes às cooperativas destinadas ao transporte complementar de
passageiros e veículos para transporte escolar, devidamente legalizados
pelo órgão público municipal.

Critério espacial

1. Art. 146, III, da CF e art. 24, §3º, da CF: a ausência de lei complementar
federal sobre o IPVA e a proliferação de divergências;
2. Quando há identidade do domicílio do contribuinte e do local de
licenciamento, não há qualquer empecilho. E quando não houver?
3. José Eduardo Soares de Melo: “O local de recolhimento do imposto
constitui matéria controvertida no Judiciário […]”. Afirma haver
repercussão geral firmada no STF no sentido de se decidir pelo domicílio
do contribuinte ou o local onde for registrado e licenciado o veículo
automotor. Vários Estados cobram IPVA em relação ao local do domicílio
do contribuinte, e é esse o local em que o contribuinte praticaria em tese
a maior parte dos atos relativos ao fato continuado (propriedade),
também em consonância com o art. 120 do CTB, mas a relação de
propriedade de veículo automotor pode ser travada em qualquer lugar;
4. Art. 1º, caput, da Lei estadual 2.877/1997 (RJ): “O Imposto sobre a
Propriedade de Veículos Automotores Terrestres – IPVA, devido
anualmente, tem como fato gerador a propriedade de veículo automotor
terrestre por proprietário domiciliado ou residente no Estado do Rio de
Janeiro”.
5. Mas o art. 158, III, da CF prevê que a repartição do IPVA com os
Municípios se dará em relação aos Municípios em que estiverem
licenciados os veículos (o STF está se afiliando a esta tese no RE
1.016.605/MG – ATENÇÃO a este leading case, que só teve tese de
repercussão geral julgada);
6. A propriedade de veículo automotor pode ser exercida em muitos locais,
então não é relevante o fato de o automóvel estar dentro ou fora de um
Estado em um dado momento, mas sim que nele esteja registrado. A
relação de propriedade é importante, e o licenciamento é um indício de
riqueza de que pode se servir à lei para disciplinar a incidência do IPVA.
7. Parecer da PGR (Rodrigo Janot) sobre a inconstitucionalidade de
lei de Minas Gerais que elegeu como critério espacial o domicílio
do contribuinte: “É de se destacar aqui incidir o IPVA sobre o
proprietário final, que assim se intitula mediante registro e licenciamento
do veículo no órgão próprio. Do contrário, a exação também incidiria, por
exemplo, sobre as montadoras. O registro e o licenciamento são sinais
distintivos ímpares na caracterização da propriedade veicular, elemento
escolhido pelo legislador como sinal distinto de riqueza a justificar o
tributo. Críticos desse entendimento apontam a possibilidade de entes
federativos flexibilizarem as regras de licenciamento para atraírem as
rendas decorrentes do imposto devido por pessoas naturais ou jurídicas
domiciliadas ou sediadas em outras unidades da federação, estabelecendo
assim modalidade específica de guerra fiscal. Todavia, a própria
Constituição trouxe remédio apto a solucionar tal patologia: a fixação das
alíquotas mínimas pelo Senado Federal, conforme previsto no seu art.
155, §6º, inciso I. É certo que tal poder ainda não foi exercido pela Casa
Legislativa. É preciso lembrar, porém, ser essa uma opção legislativa
válida, resultante da dinâmica dos debates parlamentares”;
8. Apesar de o domicílio ser o local presumido de exercício da propriedade do
veículo, ele não cobre todas as hipóteses e não faz referência formal
alguma com o veículo (uma pessoa pode ser domiciliada no Estado X e ter
seu veículo licenciado no Estado Y). O licenciamento refere-se ao veículo.

Critério temporal

1. Como fato gerador continuado, a lei indica o critério temporal como


ficção jurídica;
2. Art. 1º, § único, da Lei estadual 2.877/1997 (RJ): 1º de janeiro (veículo
usado);
a. Na data de sua primeira aquisição por consumidor final:
veículo novo;
b. Na data do desembaraço aduaneiro: veículo novo ou usado
importado do exterior pelo consumidor final;
c. No primeiro dia do exercício subsequente ao registro da
transferência no órgão executivo de trânsito: veículo
transferido de outra unidade da federação.

Critério Pessoal

1. O sujeito ativo é o Estado ou Distrito Federal em que estiver licenciado


o veículo ou em que se localizar o domicílio do proprietário;
2. O sujeito passivo é o proprietário de veículo automotor. É possível
verificar algumas indicações de responsáveis tributários;
a. O adquirente do veículo, pelo IPVA e acréscimos
anteriormente devidos e não pagos. Nesse caso, as legislações
estaduais em geral dão concretude ao art. 131, I, do CTN.
ATENÇÃO: a jurisprudência histórica do STJ é no sentido de
reconhecer a responsabilidade pessoal sobre os IPVAs de antes da
alienação do adquirente, conforme o art. 131, I, do CTN.
Automóveis adquiridos em hasta pública com IPVA atrasado fazem
o adquirente sub-rogar a obrigação tributária no preço, conforme o
art. 130, § único, do CTN, aplicável também a bens móveis (REsp
807.455/RS);
b. O alienante do veículo que não comunicar a alienação do
veículo ao órgão executivo de trânsito no prazo (90 dias).
ATENÇÃO: o REsp 1.881.788/SP será julgado para apaziguar a
jurisprudência dos tribunais regionais e do próprio STJ sobre a
responsabilidade do alienante sobre IPVAs posteriores à alienação,
quando não houver comunicação ao órgão de trânsito, podendo
ser revista a súmula 585 do STJ (art. 146, III, da CF –
sujeito passivo tem que estar previsto em lei
complementar). ATENÇÃO: havendo alienação fiduciária, os
Fiscos estaduais têm buscado responsabilizar o credor fiduciário
(alienante) pelos IPVAs não pagos – isso será analisado pelo STF no
RE 1.355.870/MG;
c. O leiloeiro ou a empresa contratada pela realização do leilão
público, se houver, em relação ao veículo adquirido ou
arrematado em leilão público e entregue sem comprovação
do pagamento do IPVA e acréscimos;
d. O arrendatário em relação ao veículo objeto de
arrendamento mercantil.
Critério quantitativo

1. A base de cálculo é o valor venal do automóvel (art. 6º da Lei estadual


2.877/1997 do RJ);
a. Para carros novos, será aquele constante da nota fiscal;
b. Para carros usados, será aquele valor constante de tabela
administrada pela Secretaria de Estado de Fazenda, com base na
Tabela FIPE, que contém os preços mensalmente praticados no
mercado (art. 7º da Lei estadual 2.877/1997 do RJ);
2. Alteração da base de cálculo: exceção à anterioridade da noventena (art.
150, §1º, da CF). Se o Executivo desejar conceder correção monetária,
poderá por meio de decreto (art. 97, §2º, do CTN);
3. A alíquota é de fixação do Estado-membro, mas as alíquotas mínimas são
fixadas pelo Senado Federal (art. 155, §6º, I, da CF);
4. A alíquota poderá ser diferenciada em razão do tipo e da utilização do
veículo (art. 155, §6º, II, da CF) – o IPVA não é progressivo em razão do
valor venal, mas pode ser seletivo;
5. É vedado que Estados, Distrito Federal e Municípios estabeleçam diferença
tributária entre bens e serviços em razão da sua procedência ou destino
(o IPVA mais invasivo relativo a veículos importados ou de regiões mais
favorecidas não é constitucional – art. 152 da CF).

Obrigações acessórias

1. Do sujeito passivo (artigo 28-C da Lei Estadual 2.877/1997):


a. Acompanhar a tabela dos valores venais;
b. Comunicar em 30 dias: a aquisição de veículo automotor, qualquer
alteração de característica do veículo, a alteração do endereço ou
domicílio, a alienação (informando nome, endereço e CPF/CNPJ do
adquirente) e a mudança de categoria, se anteriormente utilizado
como táxi;
c. Guardar os comprovantes de pagamento do imposto pelo prazo
decadencial;
2. De terceiros (artigo 28-D da Lei Estadual 2.877/1997): prestar
esclarecimentos e informações solicitadas pela SEFAZ sobre veículos
novos e usados. Os terceiros são: fabricantes, revendedores, empresas
locadoras, leiloeiros, despachantes, notários, seguradoras de veículos,
empresas de leasing, instituições financeiras e qualquer pessoa que
alugue veículo de locadora. Estes terceiros poderão ser responsabilizados
se houver previsão legal.

PARTE II – IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E POR DOAÇÃO (ITCMD)

Legislação aplicável
1. Art. 155, I e §1º, da CF;
2. Arts. 35 a 42 do CTN – recepção pelo texto constitucional como tributo de
competência estadual;
3. Lei estadual/distrital pertinente;
4. Competência estadual/distrital;
5. Lançamento por homologação, a depender da legislação estadual.

Critério material

1. Art. 155, I, da CF: “Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir


impostos sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens
ou direitos”;
2. Transmissão por doação: art. 1245 e art. 1267 do CC, por registro do
bem imóvel ou por tradição do bem móvel doado. Doação é o contrato de
transferência de bens ou vantagens de um patrimônio para outro, por
liberalidade (art. 538 do CC), e não perde este caráter se acompanhar
encargo, remuneração ou contemplação do merecimento do donatário
(art. 540 do CC);
3. Transmissão causa mortis: art. 1784 do CC, com a morte do de cujus.
Segundo a súmula 331 do STF, é legítima a incidência do ITCMD sobre
transmissão causa mortis no inventário por morte presumida. O ITCMD
não incide na renúncia simples de herança ou legado (em favor dos
sucessores – REsp 36.076/MG), mas se houver renúncia em favor de
terceiro, em tese, haverá incidência de algum imposto de transmissão: ou
ITBI, se oneroso e relativo a bem imóvel, ou ITCMD se gratuito e em
relação a qualquer bem;
4. Quaisquer bens ou direitos: bens imóveis e respectivos direitos, bens
móveis em geral, bens incorpóreos, títulos de crédito, etc.
5. Não incidência de ITCMD: doações e transmissões causa mortis com
bens e direitos oriundos do exterior, conforme o art. 155, §1º, III, da CF,
e a ADO 67;
6. Não incidência de ITCMD (art. 7º da Lei Estadual 7.786/2017):
renúncia à herança sem ressalva ou condição, desde que o renunciante
não indique beneficiário ou tenha praticado ato que demonstre aceitação,
no recebimento de capital estipulado de seguro de vida contratado com
cláusula de cobertura de risco, sobre o fruto e o rendimento do bem do
espólio havidos após o falecimento do autor da herança ou legado;
7. Isenção de ITCMD (art. 8º da Lei Estadual 7.786/2017):
transmissão dos bens ao cônjuge, em virtude da comunicação decorrente
do regime de bens do casamento, assim como ao companheiro, em
decorrência de união estável; doação de imóvel a ex-combatentes da
Segunda Guerra Mundial; transmissão causa mortis de valores não
recebidos em vida pelo falecido, correspondentes a salário, remuneração,
rendimentos de aposentadoria e pensão, honorários e saldos de FGTS e
PIS/PASEP; transmissão causa mortis de bens e direitos cujo monte-mor
não ultrapasse 13 mil UFIRs-RJ; doações, em dinheiro, de valor que não
ultrapasse a 11.250 UFIRs-RJ; entre muitas outras.
8. Incidência de ITCMD (transmissão causa mortis – art. 3º da Lei
Estadual 7.786/2017): inclusive na sucessão provisória, mas se
aparecer o ausente, fica assegurada a restituição em decorrência de
sucessão provisória. Incide sobre a sucessão legítima ou testamentária,
ainda que gravados a herança ou o legado;
9. Incidência de ITCMD (doação – art. 4º da Lei Estadual
7.786/2017): cessão gratuita a qualquer título (inclusive de herança ou
legado); revogação ou reversão de doação ou cessão (exceto as operadas
em 12 meses do pagamento do imposto); excesso de meação ou quinhão
quando, na divisão do patrimônio comum ou partilha, em sucessão causa
mortis, dissolução de sociedade conjugal ou de união estável qualquer dos
cônjuges, companheiros, herdeiros, condôminos, associados ou cotistas
receber montante que exceda a meação, quinhão, quota ou fração ideal a
que fizer jus; permuta, quando uma das partes receber montante que
exceda o recebido pela outra parte; instituição gratuita de quaisquer
direitos reais sobre coisa alheia, exceto os de garantia; doação de direito
de superfície; não restituição de bem emprestado, quando o mutuante
abrir mão do bem em favor do mutuário; remissão de dívida; transmissão
patrimonial não onerosa decorrente de reorganizações ou operações
societárias, entre outros.

Critério material

1. Se houver transmissão causa mortis, o ITCMD é devido a partir do


momento do óbito (art. 1784 do CC c/c art. 116 do CTN);
2. Qual é a alíquota aplicada? Aquela da data do óbito (art. 144 do CTN e
art. 150, III, “a”, da CF);
3. Qual é a base de cálculo aplicada? Aquela da avaliação dos bens (súmula
114 do STF) – o ITCMD não é exigível antes da homologação do cálculo
pelo juiz no inventário;
4. Se houver transmissão por doação, o ITCMD é devido a partir da
tradição do bem móvel ou do registro do bem imóvel.

Critério pessoal

1. O sujeito ativo coincide com o critério espacial: o Estado ou o Distrito


Federal de localização do bem imóvel transmitido causa mortis ou doação,
ou o bem móvel transmitido causa mortis ou doação;
2. O sujeito passivo pode ser qualquer das partes na operação tributada,
como dispuser a lei (art. 42 do CTN).
a. Se causa mortis, o ITCMD é um tributo devido pelos sucessores,
herdeiros ou legatários, como responsáveis pessoais até o
quinhão do legado ou da meação (art. 131, II, do CTN);
b. Se por doação, o ITCMD é devido pelo doador ou pelo donatário
(a regra é instituir o donatário como sujeito principal).

Critério quantitativo

1. A base de cálculo será o valor venal dos bens ou direitos


transmitidos (art. 38 do CTN);
2. Calcula-se o ITCMD sobre o saldo credor da promessa de compra e venda
de imóvel, no momento da abertura da sucessão do promitente vendedor
(súmula 590 do STF);
3. A alíquota é fixada pelo Estado-membro, mas a alíquota máxima é
definida por resolução do Senado Federal (art. 155, §1º, IV, da CF).
Segundo a Resolução 9/1992, a alíquota máxima é de 8%;
4. O STF reconheceu que o ITCMD poderá ser progressivo (súmula 656 do
STF), principalmente em relação à capacidade contributiva (art. 145, §1º,
da CF), mesmo que se trate de tributo real.

IV – ICMS
Parte I – REGRA MATRIZ DE INCIDÊNCIA DO ICMS-MERCADORIAS
(Imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços)

Legislação aplicável

1. Art. 155, II e §§ 2º, 3º, 4º e 5º, da CF;


2. Lei complementar 87/1996 (“Lei Kandir”);
3. Convênios do CONFAZ;
4. Legislação estadual pertinente (no Estado do Rio de Janeiro, Lei Estadual
2.657/1996);
5. Competência estadual/distrital;
6. Lançamento por homologação.

Critério material (ICMS - mercadorias e serviços)

1. Art. 155, III, da CF: “Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação, ainda que as operações e prestações se iniciem no
exterior”;
2. Art. 155, § 2º, IX, da CF: “Incidirá também: a) sobre a entrada de bem
ou mercadoria importados do exterior por pessoa física ou jurídica, ainda
que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua
finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o
imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento
do destinatário da mercadoria, bem ou serviço; b) sobre o valor total da
operação, quando mercadorias forem fornecidas com serviços não
compreendidos na competência tributária dos Municípios”;
3. Art. 155, §3º, da CF: “à exceção dos impostos de que tratam o inciso II
do caput deste artigo e o art. 153, I e II, nenhum outro imposto poderá
incidir sobre operações relativas a energia elétrica, serviços de
telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do
País”.
4. Art. 2º da Lei Kandir: “O imposto incide sobre: I – operações relativas à
circulação de mercadorias, inclusive o fornecimento de alimentação e
bebidas em bares, restaurantes e estabelecimentos similares; II –
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, por
qualquer via, de pessoas, bens, mercadorias ou valores; III – prestações
onerosas de serviços de comunicação, por qualquer meio, inclusive a
geração, a emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão, a
repetição e a ampliação de comunicação de qualquer natureza; IV –
fornecimento de mercadorias com prestação de serviços não
compreendidos na competência tributária dos Municípios; V –
fornecimento de mercadorias com prestação de serviços sujeitos ao
imposto sobre serviços, de competência dos Municípios, quando a lei
complementar aplicável expressamente o sujeitar à incidência do imposto
estadual”;
5. Art. 3º da Lei Kandir (isenções heterônomas).

Critério material

1. Imunidade de ICMS (art. 155, §2º, X, e §3º, da CF):


a. Operações que destinem mercadorias para o exterior, assegurada a
manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado
nas operações e prestações anteriores;
b. Operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive
lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados;
c. Operações sobre o ouro na qualidade de ativo financeiro ou
instrumento cambial;
d. Prestações de serviço de comunicação nas modalidades de
radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e
gratuita.
2. Operações de circulação de mercadorias;
3. Circulação: negócio jurídico bilateral oneroso e translativo de domínio
(compra e venda ou permuta de bem móvel);
4. Mercadoria: bem móvel inserido em cadeia de comércio, inclusive
virtuais (softwares). O ICMS não incide sobre mercadorias ou produtos
que já passaram por toda a cadeia de produção e saíram do comércio;
5. Situações de incidência e não incidência de ICMS-mercadorias, segundo o
fato gerador:
a. Incidência: programas de software cujas características são
ordinárias como de qualquer outro; importação de mercadoria ou
produto do estrangeiro, ainda que não seja contribuinte habitual do
imposto, cabendo ao Estado do domicílio ou do estabelecimento do
destinatário (art. 155, §2º, IX, “a”, da CF);
b. Não incidência: quando a mercadoria sai do estabelecimento e vai
para outro do mesmo titular, mesmo em Estados distintos (súmula
166 do STJ – ver a ADC 49/DF); venda de bens do ativo fixo,
água canalizada (serviço público sobre bem público), arrendamento
mercantil, alienação de salvados de sinistro pelas seguradoras
(súmula vinculante 32) por ser descartável, download de softwares
sem contrato (cessão de direitos de uso).

Critério temporal

1. Art. 12 da Lei Kandir: “Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto no


momento: I – da saída de mercadoria de estabelecimento de contribuinte,
ainda que para outro estabelecimento do mesmo titular; II – do
fornecimento de alimentação, bebidas e outras mercadorias por qualquer
estabelecimento; […] VIII – do fornecimento de mercadoria com
prestação de serviços: a) não compreendidos na competência tributária
dos Municípios e b) compreendidos na competência tributária dos
Municípios e com indicação expressa de incidência do imposto de
competência estadual, como definido na lei complementar aplicável; IX –
do desembaraço aduaneiro de mercadorias ou bens importados do
exterior; […]”;
2. José Eduardo Soares de Melo: “As mercadorias que são furtadas ou
roubadas do estabelecimento, ou retiradas em razão de incêndio,
enchentes etc.; o veículo que é objeto de teste pela via pública (pelo
cliente da empresa); e a simples exposição de mercadorias na calçada ou
na rua representam meras saídas físicas, sem nenhuma relevância para o
imposto”;
3. E os precedentes do STJ sobre o IPI em caso de furto ou perda da carga?
Precedente favorável aos contribuintes: REsp 1.220.141/ES.

Critério espacial

1. Art. 11 da Lei Kandir: “O local da operação ou da prestação, para os


efeitos da cobrança do imposto e definição do estabelecimento
responsável é: I – tratando-se de mercadoria ou bem: a) o do
estabelecimento onde se encontre, no momento da ocorrência do fato
gerador; b) onde se encontre, quando em situação irregular pela falta de
documentação fiscal ou quando acompanhado de documentação inidônea,
como dispuser a legislação tributária; […] d) importado do exterior, o do
estabelecimento onde ocorrer a entrada física; e) importado do exterior, o
do domicílio do adquirente, quando não estabelecido; […] g) o do Estado
onde estiver localizado o adquirente, inclusive consumidor final, nas
operações interestaduais com energia elétrica e petróleo, lubrificantes e
combustíveis dele derivados, quando não destinados à industrialização ou
à comercialização; h) o do Estado de onde o ouro tenha sido extraído,
quando não considerado como ativo financeiro ou instrumento cambial; i)
o do desembarque do produto, na hipótese das captura de peixes,
crustáceos e moluscos”;
2. E nas operações interestaduais? Art. 155, VII e VIII, da CF.
3. O sujeito ativo é o Estado-membro ou Distrito Federal competente
para a cobrança e fiscalização do imposto (art. 11 da Lei Kandir) –
princípio da fonte;
4. O sujeito passivo é a pessoa física ou jurídica que realiza operação
jurídico-mercantil de circulação de mercadoria, com a transferência de
titularidade – art. 4º da Lei Kandir. No caso da importação, pode ou não
ser contribuinte habitual do imposto;
1. Responsabilidade tributária lato sensu (art. 5º da Lei Kandir): “Lei
poderá atribuir a terceiros a responsabilidade pelo pagamento do
imposto e acréscimos devidos pelo contribuinte ou responsável,
quando os atos ou omissões daqueles concorrem para o não
recolhimento do tributo”;
2. Substituição tributária (art. 6º da Lei Kandir): para frente e para
trás. Art. 7º da Lei Kandir: “Para efeito de exigência do imposto por
substituição tributária, inclui-se, também, como fato gerador do
imposto, a entrada de mercadoria ou bem no estabelecimento do
adquirente ou em outro por ele indicado”. Art. 150, §7º, da CF
(inclusive se o fato gerador presumido não se verificar ou se
verificar com base de cálculo a menor).

Critério pessoal (substituição tributária)

1. Substituição tributária: hipótese de transferência legal da


responsabilidade para o recolhimento de um tributo plurifásico de um ou
mais contribuintes substituídos a um substituto. A não-cumulatividade não
dá direito a crédito;
a. Substituição para trás: os fatos geradores ocorrem
anteriormente ao recolhimento do tributo (há recolhimento diferido)
e o substituto integra o polo passivo das obrigações relativas a
estes fatos. Exemplo: produtores rurais e indústrias alimentícias. O
valor do tributo é encontrado com base no valor da venda dos bens
às indústrias;
b. Substituição para frente (art. 150, §7º, da CF): os fatos
geradores ocorrem posteriormente ao recolhimento do tributo (há
recolhimento antecipado). O valor do tributo é encontrado com
base em estimativas de valor (PMPF, MVA etc.). Se esse valor for
verificado a menor na ponta da cadeia, há direito à restituição
preferencial.

Substituição tributária para trás

Substituição tributária para frente


Critério pessoal (tributação monofásica)

1. Tributação monofásica: isenção ou estipulação de alíquota zero para


produtos que circulam e estão sujeitos à tributação plurifásica a todas as
etapas da cadeia, salvo uma (em geral, os industriais). Artigo 5º, § único,
da Lei 10.485/2002 e artigo 2º da Lei 10.147/2002. Não há direito à
restituição, é uma política tributária de facilitação para a fiscalização
abandonando o viés plurifásico de um tributo, como é o caso das
contribuições PIS/COFINS. A não-cumulatividade não dá direito a crédito.

Critério pessoal (diferimento e suspensão)

1. Diferimento: adiamento do recolhimento de um tributo em uma cadeia


produtiva, transferindo-o ao próximo contribuinte, por razão de
fiscalização (o próximo é melhor para fiscalizar). No exemplo abaixo, tem-
se o ICMS a 10%, com diferimento na primeira etapa (somente na
terceira coluna). Substituição tributária.
2. Suspensão: adiamento do recolhimento de um tributo em razão de uma
condição específica – em geral, o recolhimento é realizado pelo próprio
contribuinte. Exemplos: importação em drawback, importação para
trânsito de bens, industrialização por encomenda.

Critério quantitativo

1. A base de cálculo é o preço da operação (art. 13º, I, da Lei Kandir),


considerado o valor do serviço se se tratar de operação mista com
ressalva para o ICMS na Lei complementar 116/2003 (art. 13, II, da Lei
Kandir). Cálculo por dentro: ICMS = Al x ([Merc + Frete + Seguro +
Juros] + ICMS);
2. Elementos da base de cálculo do ICMS comum (art. 13, §1º, da Lei
Kandir): o valor correspondente a seguros, juros e demais importâncias
pagas, bem como descontos condicionados (súmula 457 do STJ); e o frete
caso o transporte seja efetuado pelo próprio remetente ou por sua conta e
ordem e seja cobrado em separado (preço Cost, Insurance and Freight –
CIF, que difere da cláusula Free On Board – FOB);
3. Art. 8º da Lei Kandir: base de cálculo para fins de substituição tributária.
Se antecedentes os fatos geradores, será o valor da operação ou
prestação praticado pelo contribuinte substituído. Se subsequentes os
fatos geradores, será o valor da operação ou prestação própria realizada
pelo substituto tributário ou pelo substituto intermediário, o montante dos
valores de seguro, de frete e de outros encargos e a margem de valor
agregado (MVA), inclusive lucro, relativa às operações ou prestações
subsequentes.
4. A alíquota é aquela determinada pelo Estado-membro, se em
operações intraestaduais, ou por convênio do CONFAZ, se em
operações interestaduais;
5. A questão da seletividade do ICMS (art. 155, §2º, III, da CF): a energia
elétrica e as operações de comunicação no Estado do Rio de Janeiro e o AI
0046584-48.2008.8.19.0000 (TJRJ) – Lei Complementar 194/2022;
6. Alíquotas interestaduais (diferencial de ICMS ou DIFAL, regulado pelo
Convênio 93/2015 do CONFAZ): o Estado do remetente fica com a
alíquota interestadual e o Estado do destinatário (que não precisa ser
contribuinte do ICMS) fica com a diferença entre a sua alíquota interna
e a alíquota interestadual. A responsabilidade pelo recolhimento do ICMS
é do destinatário quando este for contribuinte do ICMS ou do remetente
quando o destinatário não for contribuinte do ICMS. Ver as ADIs 7066,
7070 e 7078, cujo julgamento está pendente. Lei Complementar
190/2022 e anterioridade;
7. Benefícios fiscais: Lei Complementar 24/1975. Convênio CONFAZ
190/2017.
8. Não cumulatividade (art. 155, §2º, I, da CF e art. 20 da Lei Kandir):
compensa-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de
mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas
anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal. Proteção
à formação de preços artificiais;
9. Modalidade de não cumulatividade “imposto sobre imposto” ou tax on tax;
10. Quebra da cadeia de não cumulatividade (art. 155, §2º, I e II, da
CF): somente a lei pode autorizar o aproveitamento de crédito em
operações isentas e quando houver não-incidência. A questão da ZFM –
em SP, os créditos não são autorizados, mesmo se tratando de hipótese
de imunidade. Precedentes do IPI (RE 592.891/SP) em sentido contrário.

1. Não cumulatividade: crédito físico e crédito financeiro;


2. Crédito físico (Hugo de Brito Machado e art. 20 da Lei Kandir): regime
segundo o qual somente geram créditos as entradas de mercadorias que
se destinem a sair do estabelecimento, tal como entraram ou integraram,
fisicamente, ao produto cuja fabricação constituem insumos;
3. Crédito financeiro (Hugo de Brito Machado): regime segundo o qual
todos os custos, em sentido amplo, que vierem onerados pelo ICMS,
ensejam o crédito respectivo no montante do imposto destacado na nota.
Ou existem vedações, ou existem restrições, como nos seguintes
exemplos:
a. Creditamento de bens do ativo fixo (compra de maquinários,
edifícios, tecnologias – art. 20, §5º, da Lei Kandir): pode ser
creditado com restrições – somente em 1/48 avos mensais;
b. Creditamento de bens de uso e de consumo (bens destinados ao
apoio administrativo, comercial e operacional e também de apoio
aos bens do ativo fixo, como lâmpadas, óleo e graxa): pode ser
creditado a partir de 1º de janeiro de 2033 (sétima prorrogação). A
energia elétrica pode ser creditada (art. 33, II, “b”, da Lei Kandir);
c. Creditamento de bens e mercadorias alheios à atividade-fim
do estabelecimento (brindes): não poderá haver creditamento
(art. 20, §1º, da Lei Kandir).

Obrigações acessórias

1. Inscrição estadual (artigo 43 da Lei Estadual 2.657/1996), que pode ser


desativada nas hipóteses do artigo 44-A da Lei Estadual 2.657/1996;
2. Regime comum – manter documentos (nota fiscal artigo 47, §2º, da Lei
Estadual 2.657/1996) e escrita fiscal (EFD) (artigo 47 da Lei Estadual
2.657/1996 e Resolução SEFAZ 720/2014): registro de entrada, de saída,
de controle da produção e do estoque, de apuração do ICMS, da
impressão de documentos fiscais, de inventário etc.;
3. Regime especial (artigo 48, III, da Lei Estadual 2.657/1996), como é o
caso dos devedores contumazes;
4. Atendimento à fiscalização para dar informações (artigo 55 da Lei
Estadual nº 2.657/1996).

08.12.22

DECISÕES IMPORTANTES (matéria de prova)

“Kit boa-fé” e declaração de inidoneidade de notas fiscais com


aproveitamento de crédito pelo comprador

Art. 24. Considera-se documento inidôneo para todos os efeitos fiscais,


sujeitando o infrator à penalidade cabível, fazendo prova apenas em favor do
Fisco, aquele que incida em qualquer das seguintes hipóteses:
I - omita indicação prevista na legislação; II - não guarde requisito
ou exigência prevista na legislação; III - contenha indicação inexata,
esteja preenchido de forma ilegível ou contenha rasura ou emenda
que lhe prejudique a clareza; IV - tenha sido emitido além da data-limite,
observado o disposto no art. 25 deste Livro; V - não seja documento
fiscal, a exemplo de "Nota de Conferência", "Orçamento", "Pedido" e
outros do gênero, quando indevidamente utilizado como documento
fiscal; VI - seja emitido por equipamento ECF não autorizado pelo Fisco; VII
- não seja o documento fiscal exigido para a respectiva operação ou
prestação, quando a legislação expressamente considere esta hipótese como
caso de inidoneidade; VIII - a impressão não tenha sido autorizada pelo
Fisco, quando obrigatória; IX - apresente divergência entre dado
constante de suas diversas vias; X - seja utilizado fora do prazo de
validade que lhe for atribuído pela legislação tributária para o fim respectivo;
XI - tenha como destinatário contribuinte não inscrito no cadastro estadual,
ou que esteja com sua inscrição inabilitada, sempre que obrigatória tal
inscrição, observado o disposto no § 1º deste artigo; XII - seja emitido por
quem não esteja inscrito ou, se inscrito, esteja com sua inscrição
inabilitada, observado o disposto no §1º deste artigo; XIII - não
corresponda a operação realmente realizada, excetuadas as
hipóteses previstas na legislação; XIV - tenha sido emitido por
pessoa distinta da que constar como emitente; XV - tenha
destinatário diverso do constante no documento fiscal, excetuadas as
hipóteses previstas na legislação; XVI - seja emitido por empresa
cuja inscrição tenha sido declarada nula nos termos do art. 44-B da
Lei nº 2.657/96.

§ 1º Não é considerado inidôneo o documento fiscal emitido ou recebido por


contribuinte com inscrição na situação cadastral de “Paralisada” relativo a
operações de entrada e de saída de bens do ativo fixo e de uso ou de
consumo.
§ 2º Constatada a inidoneidade de documento fiscal, nos termos
deste artigo, a autuação independe de ato declaratório prévio que o
tenha considerado inidôneo.
§ 3º Caso seja solicitada declaração de inidoneidade pela
administração tributária da unidade da Federação de localização do
destinatário do documento, poderá ser emitido ato declaratório
conforme dispuser o Secretário de Estado de Fazenda.
§ 4º Nas hipóteses dos incisos I a IV do caput deste artigo, o documento
somente será considerado inidôneo caso constatado que as irregularidades
dele constantes: I - configurem simulação ou falsidade do documento fiscal;
ou II - impossibilitem identificar o emitente, o destinatário ou a operação ou
prestação efetivamente ocorrida.
§ 5º Caso não seja constatada a inidoneidade do documento nos termos do §
4º deste artigo, o infrator fica sujeito à penalidade cabível por emissão de
documento irregular.
§ 6º A aplicação das penalidades a que se refere este artigo não
exclui, quando cabível, a cobrança do imposto e das multas previstas
nos art. 60 da Lei nº 2.657/96, observado o disposto no art. 61-B da
mesma lei.

1. Arts. 136 e 137 do CTN: responsabilidade por infrações independe de


dolo. Mas de quem é a infração?
2. Tese do Fisco em todas as situações: como a nota fiscal foi declarada
inidônea, o adquirente não tem direito a crédito de ICMS, perseguindo
toda a cadeia. O problema é que este comportamento parece transferir
os efeitos de uma responsabilidade por infrações do real autor a
quem pode não ter nada a ver com a história.

EMENTA:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.


ARTIGO 543-C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. CRÉDITOS DE ICMS. APROVEITAMENTO
(PRINCÍPIO DA NÃO-CUMULATIVIDADE). NOTAS FISCAIS POSTERIORMENTE
DECLARADAS INIDÔNEAS. ADQUIRENTE DE BOA-FÉ.
1. O comerciante de boa-fé que adquire mercadoria, cuja nota fiscal (emitida
pela empresa vendedora) posteriormente seja declarada inidônea, pode
engendrar o aproveitamento do crédito do ICMS pelo princípio da não-
cumulatividade, uma vez demonstrada a veracidade da compra e venda
efetuada, porquanto o ato declaratório da inidoneidade somente produz
efeitos a partir de sua publicação (Precedentes das Turmas de Direito Público:
EDcl nos EDcl no REsp 623.335/PR, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma,
julgado em 11.03.2008, DJe 10.04.2008; REsp 737.135/MG, Rel. Ministra Eliana
Calmon, Segunda Turma, julgado em 14.08.2007, DJ 23.08.2007; REsp 623.335/PR,
Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 07.08.2007, DJ 10.09.2007;
REsp 246.134/MG, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado
em 06.12.2005, DJ 13.03.2006; REsp 556.850/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon,
Segunda Turma, julgado em 19.04.2005, DJ 23.05.2005; REsp 176.270/MG, Rel.
Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 27.03.2001, DJ 04.06.2001;
REsp 112.313/SP, Rel. Ministro Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, julgado
em 16.11.1999, DJ 17.12.1999; REsp 196.581/MG, Rel. Ministro Garcia Vieira,
Primeira Turma, julgado em 04.03.1999, DJ 03.05.1999; e REsp 89.706/SP, Rel.
Ministro Ari Pargendler, Segunda Turma, julgado em 24.03.1998, DJ 06.04.1998).
2. A responsabilidade do adquirente de boa-fé reside na exigência, no
momento da celebração do negócio jurídico, da documentação pertinente à
assunção da regularidade do alienante, cuja verificação de idoneidade
incumbe ao Fisco, razão pela qual não incide, à espécie, o artigo 136, do
CTN, segundo o qual "salvo disposição de lei em contrário, a
responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da
intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão
dos efeitos do ato" (norma aplicável, in casu, ao alienante).
3. In casu, o Tribunal de origem consignou que: "(...)os demais atos de declaração
de inidoneidade foram publicados após a realização das operações (f. 272/282),
sendo que as notas fiscais declaradas inidôneas têm aparência de regularidade,
havendo o destaque do ICMS devido, tendo sido escrituradas no livro de registro de
entradas(f.
35/162). No que toca à prova do pagamento, há, nos autos, comprovantes de
pagamento às empresas cujas notas fiscais foram declaradas inidôneas (f. 163, 182,
183, 191, 204), sendo a matéria incontroversa, como admite o fisco e entende o
Conselho de Contribuintes."
4. A boa-fé do adquirente em relação às notas fiscais declaradas inidôneas
após a celebração do negócio jurídico (o qual fora efetivamente realizado),
uma vez caracterizada, legitima o aproveitamento dos créditos de ICMS.
5. O óbice da Súmula 7/STJ não incide à espécie, uma vez que a insurgência especial
fazendária reside na tese de que o reconhecimento, na seara administrativa, da
inidoneidade das notas fiscais opera efeitos ex tunc, o que afastaria a boa-fé do
terceiro adquirente, máxime tendo em vista o teor do artigo 136, do CTN.
6. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do
CPC, e da Resolução STJ 08/2008.
1. Ratio decidendi: o vendedor possui responsabilidade tributária pela
infração de forma objetiva (isto é: praticou a infração, vai ser autuado).
O comprador possui responsabilidade tributária de forma subjetiva pelo
crédito tomado, porque o ICMS é um imposto não-cumulativo e
dependente de se apurar o crédito e o débito para se verificar
quanto o comprador deverá pagar ao Fisco. Basicamente, o julgado
privilegia o princípio geral do Direito da boa-fé, segundo o qual ninguém
pode se valer da própria torpeza. Isto é: sabendo da possível inidoneidade
da nota, o comprador deverá não fazer a compra ou não se aproveitar do
crédito. O conluio e a má-fé nunca são presumidos no Direito;
2. No mercado, a prática das vendas à vista é que a confiança se baseia no
preço, nas condições de entrega e na própria mercadoria. Muito
dificilmente esta certificação documental do vendedor era feita pelo
comprador, mas agora tem que ser feita;
3. Este julgamento teve caráter de recurso repetitivo (jurisprudência
vinculante) e está sumulado. Súmula 509 do STJ: “É lícito ao
comerciante de boa-fé aproveitar os créditos de ICMS decorrentes de nota
fiscal posteriormente declarada inidônea, quando demonstrada a
veracidade da compra e venda”;
4. “Kit boa-fé”: reunião de documentos, pelo comprador, que atestam que
o comprador tomou todos os cuidados na operação de circulação de
mercadoria, principalmente no que se refere à “veracidade da compra e
venda”:
a. Consulta ao SINTEGRA da empresa vendedora na data da compra e
venda, comprovando a situação regular;
b. Declaração de inidoneidade pelo Fisco estadual com data posterior
à compra e venda e contrato de compra e venda;
c. Livros registro do vendedor/comprador provando a entrada e a
saída das mercadorias, além das suas respectivas notas fiscais de
saída;
d. Comprovantes de pagamento da mercadoria pelo vendedor (extrato
bancário, pix, títulos de crédito);
e. Em Fiscos mais rígidos: prova da existência de estabelecimento
distribuidor do vendedor com CNPJ e telefone na nota fiscal de
venda, entre outros.

Estorno do crédito de ICMS incidente em operação oriunda de outro ente


federado que concede, unilateralmente, benefício fiscal de ICMS

1. Concessão de benefícios fiscais: art. 155, §2º, XII, “g”, da CRFB/1988 e


Lei Complementar 24/1975 (CONFAZ);
2. Art. 8º, I, da Lei Complementar 24/1975: “A inobservância dos
dispositivos desta Lei acarretará, cumulativamente: I – a nulidade do ato
e a ineficácia do crédito fiscal atribuído ao estabelecimento recebedor da
mercadoria; II – a exigibilidade do imposto não pago ou devolvido e a
ineficácia da lei ou ato que conceda remissão do débito correspondente”;
3. Estados de destino, em operações interestaduais, glosavam os créditos
dos destinatários porque os Estados de origem concediam benefícios
inconstitucionais. Exemplo: venda de mercadoria do RJ para SP. O RJ
concedia um crédito presumido de 7%. Considera-se que a alíquota
interestadual é de 12%, então o RJ ficaria com 5%. SP ficaria com a
diferença da alíquota interestadual para a sua alíquota interna (18%). O
vendedor fluminense se beneficia desta redução e paga uma alíquota de
5% ao RJ e o DIFAL a SP. O comprador paulista vende a mercadoria
internamente e o Fisco paulista entende que este crédito presumido de
7% não deveria existir, o que faria o comprador ter que adquirir aquela
mercadoria por um valor mais caro, aumentando o valor do ICMS a ser
pago em SP.
1. Os argumentos do Fisco foram melhor encampados pelo relator, Min.
Edson Fachin, acompanhado pelos Ministros Marco Aurélio Mello e Luís
Roberto Barroso. O voto divergente foi exarado pelo Ministro Gilmar
Mendes e acompanhado pelos Ministros Dias Toffoli, Celso de Mello,
Ricardo Lewandowski, Luiz Fux, Rosa Weber e Alexandre de Moraes;
2. Não há efeitos vinculantes segundo o art. 927 do CPC (Teoria dos
Precedentes).

ICMS na base de cálculo de PIS/COFINS


1. PIS/COFINS: contribuições sociais para a Previdência Social (artigo 195,
§1º, I, “b”, da CRFB/1988) incidentes sobre faturamento ou receita
bruta;
2. Lei 9.718/1998 (regime cumulativo): sobre o faturamento. PIS: 0,65%.
COFINS: 3%;
3. Lei 10.637/2002 (PIS-não cumulativo) e Lei 10.833/2003 (COFINS-não
cumulativo): sobre a receita bruta. PIS: 1,65%. COFINS: 7,6%;
4. Faturamento: ato de “faturar”, vender bens e serviços. Receita bruta:
conceito análogo, segundo a jurisprudência do STF.
5. PIS/COFINS: contribuições sociais para a Previdência Social (artigo 195,
§1º, I, “b” e “c”, da CRFB/1988) incidentes sobre faturamento ou
receita bruta;
6. Faturamento: ato de “faturar”, vender bens e serviços (segundo o artigo
12 do Decreto-Lei 1.598/1977). Receita: entrada definitiva para a pessoa
jurídica que pode (segundo o artigo 12 do Decreto-Lei 1.598/1977) ou
não ter a ver com o faturamento. Receita (receita bruta + outras receitas)
> faturamento (receita bruta);
7. Art. 12, §4º, do Decreto-Lei 1.598/1977: “Na receita bruta não se incluem
os tributos não cumulativos cobrados, destacadamente, do comprador ou
contratante pelo vendedor dos bens ou pelo prestador dos serviços na
condição de mero depositário” – ICMS e ISS na base de cálculo de
PIS/COFINS. Art. 12, §5º, do Decreto-Lei 1.598/1977: “Na receita
bruta, incluem-se os tributos sobre ela incidentes...” – PIS/COFINS na
base de cálculo de PIS/COFINS.

EMENTA:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. EXCLUSÃO DO ICMS


NA BASE DE CÁLCULO DO PIS E COFINS. DEFINIÇÃO DE FATURAMENTO.
APURAÇÃO ESCRITURAL DO ICMS E REGIME DE NÃO CUMULATIVIDADE.
RECURSO PROVIDO. 1. Inviável a apuração do ICMS tomando-se cada
mercadoria ou serviço e a correspondente cadeia, adota-se o sistema de
apuração contábil. O montante de ICMS a recolher é apurado mês a mês,
considerando-se o total de créditos decorrentes de aquisições e o total de
débitos gerados nas saídas de mercadorias ou serviços: análise contábil ou
escritural do ICMS. 2. A análise jurídica do princípio da não
cumulatividade aplicado ao ICMS há de atentar ao disposto no art. 155,
§ 2º, inc. I, da Constituição da República, cumprindo-se o princípio da
não cumulatividade a cada operação. 3. O regime da não cumulatividade
impõe concluir, conquanto se tenha a escrituração da parcela ainda a se
compensar do ICMS, não se incluir todo ele na definição de faturamento
aproveitado por este Supremo Tribunal Federal. O ICMS não compõe a
base de cálculo para incidência do PIS e da COFINS. 3. Se o art. 3º, § 2º,
inc. I, in fine, da Lei n. 9.718/1998 excluiu da base de cálculo daquelas
contribuições sociais o ICMS transferido integralmente para os Estados,
deve ser enfatizado que não há como se excluir a transferência parcial
decorrente do regime de não cumulatividade em determinado momento
da dinâmica das operações. 4. Recurso provido para excluir o ICMS da
base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão no julgamento do Recurso
Extraordinário nº 574.706/PR, Tribunal Pleno, rel. Min. Cármen Lúcia, j. 15 de
março de 2017, publicação em 2 de outubro de 2017. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/dl/acordao-icms-nao-integra-base-calculo.pdf>.
Acesso em: 1º de março de 2020.

1. Repercussões: retorno de discussões sobre se tributos podem estar na


base de cálculo de outros tributos (por exemplo, o ISS na base de cálculo
de PIS/COFINS) e saber qual é o ICMS a ser retirado – se o destacado na
nota ou se o ICMS-próprio;
2. Repercussão para o próximo tópico: os tributos com repercussão
econômica pertencem sempre ao Estado?
3. Este julgamento teve caráter de recurso repetitivo (jurisprudência
vinculante).

Devedor contumaz e crime contra a ordem tributária

1. “Devedor contumaz” é um conceito administrativo-tributário, que


geralmente atrai um regime especial de fiscalização;
2. Art. 2º, II, da Lei 8.137/1990: “Constitui crime da mesma natureza:
deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição
social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de
obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos. Pena – detenção, de
6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa”;
3. O tipo penal não diz respeito ao devedor contumaz, aquele que deve
muito e sistematicamente (em SP, por exemplo, 6 meses de ICMS), o que
abriria margem de interpretação para que dever 1 mês de ICMS é
suficiente para incidir a norma penal;
4. HC 399.109/SC: “A conduta de não recolher ICMS em operações próprias
ou em substituição tributária enquadra-se formalmente no tipo previsto no
art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990 (apropriação indébita tributária), desde
que comprovado o dolo”;
5. O STF chancelou esta tese no RHC 163.334, formulando nova tese: “O
contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação,
deixa de recolher o ICMS cobrado do adquirente da mercadoria ou serviço
incide no tipo penal do art. 2º, inciso II, da Lei 8.137/1990”.

EMENTA:

DIREITO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. NÃO RECOLHIMENTO DO


VALOR DE ICMS COBRADO DO ADQUIRENTE DA MERCADORIA OU SERVIÇO.
TIPICIDADE . 1. O contribuinte que deixa de recolher o valor do ICMS cobrado
do adquirente da mercadoria ou serviço apropria-se de valor de tributo,
realizando o tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/1990. 2. Em primeiro
lugar, uma interpretação semântica e sistemática da regra penal indica
a adequação típica da conduta, pois a lei não faz diferenciação entre as
espécies de sujeitos passivos tributários, exigindo apenas a cobrança do
valor do tributo seguida da falta de seu recolhimento aos cofres
públicos. 3. Em segundo lugar, uma interpretação histórica, a partir dos
trabalhos legislativos, demonstra a intenção do Congresso Nacional de tipificar a
conduta. De igual modo, do ponto de vista do direito comparado, constata-se
não se tratar de excentricidade brasileira, pois se encontram tipos penais
assemelhados em países como Itália, Portugal e EUA. 4. Em terceiro lugar, uma
interpretação teleológica voltada à proteção da ordem tributária e uma
interpretação atenta às consequências da decisão conduzem ao
reconhecimento da tipicidade da conduta. Por um lado, a apropriação
indébita do ICMS, o tributo mais sonegado do País, gera graves danos ao erário
e à livre concorrência. Por outro lado, é virtualmente impossível que alguém
seja preso por esse delito. 5. Impõe-se, porém, uma interpretação
restritiva do tipo, de modo que somente se considera criminosa a
inadimplência sistemática, contumaz, verdadeiro modus operandi do
empresário, seja para enriquecimento ilícito, para lesar a concorrência
ou para financiar as próprias atividades. 6. A caracterização do crime
depende da demonstração do dolo de apropriação, a ser apurado a
partir de circunstâncias objetivas factuais, tais como o inadimplemento
prolongado sem tentativa de regularização dos débitos, a venda de
produtos abaixo do preço de custo, a criação de obstáculos à
fiscalização, a utilização de “laranjas” no quadro societário, a falta de
tentativa de regularização dos débitos, o encerramento irregular das
suas atividades, a existência de débitos inscritos em dívida ativa em
valor superior ao capital social integralizado etc. 7. Recurso desprovido. 8.
Fixação da seguinte tese: O contribuinte que deixa de recolher, de forma
contumaz e com dolo de apropriação, o ICMS cobrado do adquirente da
mercadoria ou serviço incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/1990.
1. Crítica relativa à não-cumulatividade. As elementares do tipo penal
“destacado” e “cobrado” se referem a tributos com hipóteses de
responsabilidade tributária ou monofasia. O ICMS-próprio não é
“destacado” e “cobrado” com exatidão. O ICMS-próprio somente é
apurado depois do encontro dos débitos e dos créditos, sendo muito
comum, inclusive, que em meses de reposição de estoques, haja
mais créditos que débitos. Nesses meses, os contribuintes podem
não ter saldo de ICMS a pagar, mas mesmo assim teriam, segundo
o STF e o STJ, “destacado e cobrado imposto”, não repassando o
que deveriam pagar em razão das vendas de mercadorias;
2. Crítica relativa à natureza do preço. O preço é um elemento de direito
privado. Nunca se sabe exatamente qual parte do preço é relativa ao
tributo, nem se sabe se, olhando para o preço, o comerciante repassou ou
não o ICMS ao consumidor final;
3. Crítica à utilização da tese para substituir a ineficácia das execuções
fiscais (exacerbação do punitivismo) e à ausência de regulamentação
supraestatal sobre o que é “contumácia”. REsp 1.867.109/SC: “a ausência
de contumácia – o débito com o fisco se refere a tão somente 1 (um) mês
–, conduz ao reconhecimento da atipicidade da conduta e, por
conseguinte, à absolvição do Réu”.

V - IMPOSTO SOBRE A RENDA

PARTE I – GENERALIDADES E REGRA MATRIZ DE INCIDÊNCIA DO IRPF

Legislação aplicável

1. Art. 153, III e § 2º, da CF;


2. Arts. 43 a 45 do CTN;
3. Leis 7.713/1988, 9.250/1995 e 13.149/2015;
4. IN 1.500/2014 da Receita Federal do Brasil;
5. Regulamento do Imposto de Renda – Decreto 9.580/2018
6. Competência federal;
7. Lançamento por homologação.

Princípios específicos do imposto sobre a renda

1. Art. 153, §2º, I, da CF: “O imposto no inciso III será informado pelos
critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade”:
a. Generalidade (em relação ao sujeito passivo). Renato Romeu
Renck: “Com este fundamento, pode-se afirmar que a renda deve
ser reconhecida com a observância do critério da generalidade, em
que não se admitem classes de contribuintes. Todos,
indistintamente, são contribuintes, potenciais, ou de fato, do
imposto. Por isso igualmente não se pode admitir classe de
patrimônio, nem espécies de renda: todos os ganhos – todo
acréscimo novo decorrente do ato de produção de renda – deve ser
objeto de tributação respeitado o critério da progressividade”;
b. Universalidade (em relação à base de cálculo). Leandro
Paulsen: “Em face do critério constitucional da universalidade, ter-
se-ia de considerar a totalidade das rendas do contribuinte como
uma unidade, sem estabelecer distinções entre tipos de rendas para
efeito de tributação diferenciada”;
c. Progressividade (em relação à alíquota). Leandro Paulsen:
“Como imposto de natureza pessoal, o IR deve, necessariamente,
ser graduado segundo a capacidade econômica do contribuinte
também por força de determinação expressa constante do art. 145,
§1º, da CF. A progressividade, aliás, serve de instrumento para a
tributação da renda conforme a capacidade contributiva”.

1. Leandro Paulsen: “Os critérios, da generalidade, da universalidade e da


progressividade, se aplicados adequadamente, fariam com que todos
pagassem imposto de renda sobre a totalidade dos rendimentos auferidos
com carga progressiva, conforme a capacidade contributiva de cada qual.
Porém, o legislador segmenta o imposto de renda, criando tributações
distintas para determinadas classes de rendimentos, como, por exemplo,
a tributação exclusiva na fonte dos rendimentos de aplicações financeiras
(de 15% a 22,5%, varriando conforme o tempo de aplicação, sendo que
os rendimentos de caderneta de poupança são isentos) e a tributação
isolada dos ganhos de capital (15%), sujeitas, cada qual, como se vê, a
alíquotas distintas daquelas aplicáveis aos rendimentos em geral, como os
provenientes do trabalho (tabela progressiva, até 27,5%). Ademais, o
legislador exclui da base de cálculo do imposto de renda, por exemplo, os
lucros e dividendos recebidos por sócios, acionistas ou titulares de
empresa individual, com o que não são gravados pelo imposto de renda.
De qualquer modo, não resta impedida a concessão de isenções objetivas
ou subjetivas fundadas na ausência de capacidade contributiva ou em
finalidades extrafiscais. O que os critérios de tributação
constitucionalmente estabelecidos impedem é a exclusão apriorística de
determinada categoria de pessoas ou rendimentos do rol dos sujeitos
passivos ou dos fatos tributáveis”.

Critério material IRPF e IRPJ

1. Art. 153, III, da CF: “Compete à União instituir impostos sobre renda e
proventos de qualquer natureza”;
2. Art. 43 do CTN: “O imposto, de competência da União, sobre a renda e
proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da
disponibilidade econômica ou jurídica: I – de renda, assim entendido
o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II – de
proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos
patrimoniais não compreendidos no inciso anterior”;
a. Aquisição: obter, conseguir, passar a ter;
b. Disponibilidade: qualidade ou estado do que é disponível, do que se
pode usar livremente, qualidade dos valores e títulos integrantes do
ativo de um comerciant;
c. Disponibilidade jurídica: regime de competência para a maioria das
pessoas jurídicas (art. 187, §1º, “a” e “b”, da Lei 6.404/1976);
d. Disponibilidade econômica: regime de caixa e todas as pessoas
físicas. Riqueza livre e desembaraçada.
3. Teorias econômicas: renda real como um todo, tudo que tiver
expressão econômica. Produto do capital (lucro ou salário), qualquer
influxo de riqueza ou mesmo o acréscimo de valor patrimonial sem
representar fluxo de riqueza (valorização de um ativo fixo), colheita de
frutos, consumo de um bem, satisfação psíquica;
4. Teorias da renda-produto: renda como produto da atividade
desempenhada com o capital (fonte produtiva), sendo irrelevante a renda
real e a renda psicológica. São concepções:
a. Renda-produto stricto sensu (teoria das fontes): renda é aquilo que
advém de uma fonte produtiva com certa periodicidade e com a
aptidão para se renovar. É muito restrito, porque só abarca o lucro
(produto do capital) e o salário (produto do trabalho);
b. Renda-produto lato sensu (teoria da renda separada do capital):
renda é aquilo que advém de uma fonte produtiva, mas se separa
da sua fonte – a periodicidade e a manutenção da fonte são
características secundárias, o importante é que a renda esteja
separada da fonte para a aquisição da disponibilidade. Ainda é
restrita, porque há renda que se separa da fonte, como é o caso
dos ganhos de capital.
5. Teorias da renda-acréscimo patrimonial: renda é acréscimo
patrimonial, riqueza nova, acréscimo de riqueza representativo da
obtenção de produto, da ocorrência de fluxo de riqueza ou de simples
aumento no valor do patrimônio. É irrelevante a renda real e a renda
psicológica. Aqui, haverá renda a partir de um encontro de influxos e
defluxos em um período de tempo, a partir do qual, se houver
resultado positivo, haverá tributação;
6. Para Bulhões Pedreira, o CTN adotou a teoria da renda-acréscimo, por dar
à “renda” e aos “proventos de qualquer natureza” o mesmo tratamento,
porque define os proventos de qualquer natureza como “acréscimos
patrimoniais não compreendidos no inciso anterior”. Polizelli entende que
o CTN positivou as teorias da renda-produto e da renda-acréscimo
patrimonial;
7. Renda: fruto de uma fonte produtora duradoura;
8. Proventos: fruto de uma fonte que já cessou.
9. Mesmo que não haja consenso sobre a existência de um conceito bem
delimitado de “renda”, Luís Queiroz entende que há;
10. Para Queiroz, saber o que é “renda” envolve três etapas:
a. Desprezar, no texto constitucional, qualquer menção a “renda” que
não se refira à norma de incidência do imposto;
b. Investigar as teorias construídas ao longo de séculos para a
delimitação do conceito de renda. Não há teoria perfeita, tanto
que o Brasil “combina” duas. Neste caso, utiliza-se o conceito
mais amplo possível;
c. Com o conceito mais amplo possível, concatenam-se os elementos
do conceito com normas que o conformam. Por exemplo: igualdade,
universalidade, capacidade contributiva, mínimo existencial etc.;
11. Conceito constitucional de renda para Luís Queiroz: “Renda e
proventos de qualquer natureza (ou renda em sentido amplo ou
simplesmente renda) é conceito que está contido em normas
constitucionais relativas ao imposto sobre a renda e proventos de
qualquer natureza e que designa o acréscimo de valor patrimonial,
representativo da obtenção de produto ou de simples aumento no valor do
patrimônio, apurado, em certo período de tempo, a partir da combinação
de todos os fatos que contribuem para o acréscimo de valor do patrimônio
(fatos-acréscimos) com certos fatos que, estando relacionados ao
atendimento das necessidades vitais básicas ou à preservação da
existência, com dignidade, tanto da própria pessoa quanto de sua família,
contribuem para o decréscimo de valor do patrimônio (fatos-
decréscimos)”;
12. Este conceito constitucional é refletido pela legislação.
13. Incidência de IRPF: em razão do princípio da universalidade,
“tudo” (art. 3º, caput e §1º, da Lei 7.713/1988);
14. Não incidência de IRPF:
a. Imunidades constitucionais (art. 150, VI, da CRFB/1988). O artigo
153, §2º, II, da CRFB/1988, foi revogado;
b. Não incidência stricto sensu (“não é renda” = não é acréscimo
patrimonial):
1. Indenizações trabalhistas: súmulas 498, 463, 386, 215, 136
e 125 do STJ;
1. Juros de mora em razão de atraso no pagamento de
remuneração em razão de emprego, cargo ou função:
o art. 16, § único, da Lei 4.506/1964 não foi
recepcionado pela Constituição, conforme julgamento
no RE 855.091/RS;
2. Indenização por desapropriação para fins de reforma agrária:
Art. 22, § único, da Lei 7.713/1988 e súmula 42 do CARF;
3. Indenizações constituídas por danos emergentes (lucros
cessantes não!) e extrapatrimoniais;
4. Lucro inflacionário;
c. Isenções (art. 6º da Lei 7.713/1988): apresentar em sala;
d. Isenções (arts. 5º a 11 da IN 1.500/2014): apresentar em sala;
e. Isenção (art. 10 da Lei 9.249/1995): sobre lucros ou dividendos
pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no
lucro real, presumido ou arbitrado.

Critério temporal

1. O fato gerador do Imposto de Renda é complexivo (fato gerador


periódico, instantâneo e complexivo);
2. A polêmica súmula 584 do STF;
3. Para as pessoas físicas, o critério temporal somente pode ser anual, no
último átimo de segundo de 31 de dezembro. Leandro Paulsen: “No
IRPF, considera-se ocorrido o fato gerador em 31 de dezembro do ano-
calendário. Até 30 de abril do subsequente, verifica-se o imposto sobre a
renda e proventos efetivamente devido, compensando-se o montante que
já foi objeto de adiantamentos mensais (carnê-leão ou retenção),
apurando-se, então, o saldo a restituir (em caso de pagamento
antecipado a maior) ou a pagar (em caso de pagamento antecipado a
menor), efetuando-se o recolhimento, se for o caso, à vista ou
parceladamente. O prazo para pagamento é o mesmo daquele para o
cumprimento da obrigação acessória consistente na apresentação da
declaração de ajuste e de bens”.

Critério espacial

1. O sujeito ativo é a União (tributo administrado e fiscalizado pela Receita


Federal do Brasil). Ler a súmula 447 do STJ;
2. Os contribuintes do IRPF são pessoas físicas residentes ou domiciliadas no
Brasil (art. 1º da Lei 7.713/1988 e art. 1º do RIR/2018);
a. Responsáveis tributários stricto sensu: art. 3º, §1º, do RIR/2018
(pais, tutores, curadores ou guardiões pelos filhos, tutelados,
curatelados); arts. 5º a 8º do RIR/2018 (sociedade conjugal ou
união estável, a depender do caso); art. 9º do RIR/2018 (espólio
pelo inventariante); art. 13 do RIR/2018 (renda dos bens em
condomínio pelos titulares proporcionais dos bens); arts. 21 a 25 do
RIR/2018 (situações já previstas no CTN); (continua)

Critério pessoal

a. Substituição tributária concomitante – retenção na fonte na


qualidade de substituído: inúmeras hipóteses (Título I do Livro
III – arts. 677 a 713 do RIR/2018), como:
i. Trabalho assalariado pago ou creditado por pessoa física ou
jurídica (art. 681 do RIR/2018);
ii. Férias de empregados (art. 682 do RIR/2018);
iii. PLR (art. 683 do RIR/2018);
iv. Trabalho não assalariado (art. 685 do RIR/2018);
v. Royalties e aluguéis pagos por pessoas jurídicas a pessoas
físicas (art. 688 do RIR/2018);
vi. Benefícios pagos por entidades de previdência privada,
inclusive resgate (art. 690 do RIR/2018);
vii. Valores recebidos em decorrência de cobertura por
sobrevivência em apólices de seguro de vida (art. 694 do
RIR/2018);
viii. Pro labore e outros pagamentos feitos por pessoas jurídicas
aos titulares, sócios, dirigentes, administradores e
conselheiros de pessoas jurídicas (arts. 698 e 699 do
RIR/2018); (continua)
b. Substituição tributária concomitante – retenção na fonte na
qualidade de substituído: inúmeras hipóteses (Título I do Livro
III – arts. 677 a 713 do RIR/2018), como:
i. 13º salário (art. 700 do RIR/2018);
ii. Rendimentos recebidos acumuladamente (art. 702 do
RIR/2018);
iii. Qualquer pagamento feito por pessoa jurídica a pessoa física
para o qual não haja incidência específica e não esteja
incluído entre aqueles tributados exclusivamente na fonte
(art. 701 do RIR/2018);
iv. Juros sobre o capital próprio pagos a pessoa física (art. 726
do RIR/2018);
v. Prêmios em dinheiro (art. 732 do RIR/2018) e em bens e
serviços (art. 733 do RIR/2018);
vi. Juros e lucros cessantes quando decorrentes de sentença
judicial (art. 738 do RIR/2018);
vii. Rendimentos decorrentes de decisão da Justiça Federal (art.
739 do RIR/2018) e em qualquer sentença judicial (art. 776
do RIR/2018);
viii. Remessas de renda e proventos ao exterior provenientes de
fontes situadas no Brasil (art. 741 do RIR/2018);
ix. Qualquer aplicação em renda fixa ou variável, cujos
rendimentos são pagos a pessoa jurídica (art. 790 do
RIR/2018) e fundos de investimento (art. 799 do RIR/2018);
x. Ganhos com operações em bolsa ou fora de bolsa (art. 839
do RIR/2018), inclusive com ouro ativo financeiro;
c. ATENÇÃO: se a retenção na fonte se referir a rendimento sujeito à
tributação comum (com ajuste anual), ela será considerada no
ajuste anual; se se referir à tributação definitiva, a retenção na
fonte não está sujeita a ajuste.
Critério quantitativo com ajuste anual (deduções legais)

1. A base de cálculo são os rendimentos brutos da pessoa física (art. 33


do RIR/2018), autorizadas deduções;
a. Despesas médicas próprias e com dependentes em lista exaustiva
(médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos,
terapeutas ocupacionais e hospitais, e as despesas com exames
laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e
próteses ortopédicas e dentárias (não são admitidas deduções com
despesas a título de lentes corretivas, como óculos e lentes de
contato);
b. Despesas com educação/instrução própria (limite de R$3.561,50) e
com dependentes (limite de R$2.063,64), na educação infantil,
fundamental, média, superior e profissional – ver a ADI 4.927/DF;
c. Despesas com pensão alimentícia, observadas as normas do Direito
de Família – ver a ADI 5422/DF;
d. Despesas escrituradas em Livro-Caixa (permitida para os leiloeiros,
titulares de serviços notariais e de registro, pessoas físicas que
exercem atividade rural e as que recebem rendimentos do trabalho
não assalariado);
e. Despesas com dependentes (limite de R$2.275,08);
f. Despesas com previdência (FAPI, INSS e previdência privada de
natureza pública destinada a custear benefícios complementares
assemelhados aos da previdência social – limite de R$1.200,32).
2. Recolhimento Mensal Obrigatório (“RMO” ou Carnê-Leão – art. 118 do
RIR/2018): fica sujeita ao pagamento mensal do imposto a pessoa física
que receber de outra pessoa física ou de fontes situadas no exterior
rendimentos que não tenham sido tributados na fonte no Brasil, tais como
os seguintes. Estão sujeitos a ajuste anual com base na tabela
progressiva (art. 55 da IN 1.500/2014);
a. Arrendamento, subarrendamento, locação e sublocação de móveis
ou imóveis, e os decorrentes do trabalho não assalariado, assim
compreendidas todas as espécies de remuneração por serviços ou
trabalhos prestados sem vínculo empregatício (art. 53, I, da IN
1.500/2014 da RFB);
b. Emolumentos e custas dos serventuários da Justiça, como
tabeliães, notários, oficiais públicos, entre outros, quando não
forem remunerados exclusivamente pelo erário;
c. Rendimentos recebidos em dinheiro, a título de alimentos ou de
pensões inclusive alimentos provisionais;
d. Rendimentos de aluguéis recebidos de pessoas físicas;
e. Rendimentos de prestação a pessoas físicas de serviços de
transporte de carga ou de passageiros;
f. Rendimentos de prestação a pessoas físicas de serviços com trator,
máquina de terraplanagem, colheitadeira e assemelhados;
1. Recolhimento Mensal Facultativo (“RMF” ou Mensalão – art.
67 da IN 1.500/2014 da RFB): é facultado ao contribuinte
antecipar o imposto devido na DAA mediante o recolhimento
complementar do imposto, que pode ser retido,
mensalmente, por uma das fontes pagadoras (pessoa
jurídica), desde que haja concordância da pessoa física
beneficiária.

Critério quantitativo (com ajuste anual) – desconto simplificado

1. A base de cálculo é de 80% dos rendimentos brutos da pessoa física


(art. 77 do RIR/2018), sem direito a deduções. O desconto simplificado de
20% está sujeito a um limite de R$16.754,34.

Critério quantitativo (SEM ajuste anual) – tributação definitiva

1. A base de cálculo são os rendimentos brutos da pessoa física (arts. 128


a 157 do RIR/2018 e arts. 12 a 21 da IN 1.500/2014 da RFB), não
sujeitos a ajuste anual, por exemplo:
a. 13º salário (art. 13 da IN 1.500/2014 da RFB) – sujeito à tabela
progressiva;
b. PLR (art. 17 da IN 1.500/2014 da RFB);
c. Renda fixa ou renda variável (art. 19, I, da IN 1.500/2014 da RFB)
– sujeito à tabela regressiva;
d. Valores pagos aos participantes ou assistidos de planos de
benefícios de caráter previdenciário (benefícios ou resgates) quando
tenham optado pelo regime de tributação da Lei 11.053/2004;
e. Várias espécies de ganho de capital (artigo 21 da IN 1.500/2014 da
RFB);
2. Aqui, a retenção na fonte, se houver, não gera crédito e os rendimentos
não comporão a base de cálculo na Declaração de Ajuste Anual (DAA).

Critério quantitativo (com ajuste anual) – deduções legais e desconto


simplificado

1. A alíquota é progressiva e determinada pela seguinte tabela progressiva


(art. 1º da Lei 11.482/2007, com redação dada pela Lei 13.149/2015):
2. Estas alíquotas devem ser corrigidas suficientemente, sob pena de
subversão do conceito constitucional de renda (Ives Gandra Martins).

Critério quantitativo (sem ajuste anual) – tributação definitiva

1. São específicas as seguintes alíquotas:


a. Tributação em cima de ganho de capital pela venda de bens
e direitos (artigo 22 da Lei 9.250/1995): 15%. Há isenção em
relação à venda do único imóvel que o titular possua, cujo valor de
alienação seja de até R$440 mil, desde que não tenha sido
realizada qualquer outra alienação nos últimos 5 anos. Há também
isenção em relação à alienação de bens e direitos de pequeno valor
– R$20 mil ou R$35 mil (artigo 23 da Lei 9.250/1995), e em
relação à alienação de bem imóvel residencial para comprar outro
dentro de 180 dias (artigo 39 da Lei 11.196/2005);
b. Rendimentos de capital (renda variável): 15%;
c. Rendimentos de capital (renda fixa): se de 180 dias, 22,5%; se
de 181 a 360 dias, 20%; se de 361 a 720 dias, 17,5%; se mais de
720 dias, 15%;
d. PLR: até R$6.677,55, isenção; de R$6.677,56 a R$9.922,28,
7,5%; de R$9.922,29 a R$13.167,00, 15%; de R$13.167,01 a
R$16.380,38, 22,5%; acima de R$16.380,38, 27,5%;
e. Rendimentos advindos de prêmios e sorteios em dinheiro
(art. 56 da Lei 11.941/2009): 30%, com isenção até a primeira
faixa da tabela progressiva, R$1.903,98.

Obrigações acessórias

1. Declaração de Ajuste Anual (DAA – art. 70 da IN 1.500/2014 da RFB):


2. Declaração de Ganho de Capital (DGCAP – art. 30 da IN 84/2001 da SRF);
3. Carnê-Leão (art. 118 do RIR/2018 e art. 53 da IN 1.500/2014 da RFB).

PARTE II – REGRA MATRIZ DE INCIDÊNCIA DO IRPJ

Legislação aplicável
1. Art. 153, III e § 2º, da CF;
2. Arts. 43 a 45 do CTN;
3. Leis 8.981/1995, 9.249/1995 e 9.430/1996;
4. IN 1.700/2017 da Receita Federal do Brasil;
5. Regulamento do Imposto de Renda – Decreto 9.580/2018
6. Competência federal;
7. Lançamento por homologação.

Critério material

1. Art. 153, III, da CF: “Compete à União instituir impostos sobre renda e
proventos de qualquer natureza”;
2. Art. 43 do CTN: “O imposto, de competência da União, sobre a renda e
proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da
disponibilidade econômica ou jurídica: I – de renda, assim entendido
o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II – de
proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos
patrimoniais não compreendidos no inciso anterior”;
a. Aquisição: obter, conseguir, passar a ter;
b. Disponibilidade: qualidade ou estado do que é disponível, do que se
pode usar livremente, qualidade dos valores e títulos integrantes do
ativo de um comerciant;
c. Disponibilidade jurídica: regime de competência para a maioria das
pessoas jurídicas (art. 187, §1º, “a” e “b”, da Lei 6.404/1976);
d. Disponibilidade econômica: regime de caixa e todas as pessoas
físicas. Riqueza livre e desembaraçada.
3. Incidência de IRPJ: em razão do princípio da universalidade, “tudo”
(art. 1º, caput, da Lei 9.430/1996 e art. 26 da Lei 8.981/1995);
4. Não incidência de IRPF:
a. Imunidades constitucionais (art. 150, VI, da CRFB/1988 e arts. 179
a 183 do RIR/2018);
b. Não incidência stricto sensu (“não é renda” = não é acréscimo
patrimonial):
1. Indenizações constituídas por danos emergentes (lucros
cessantes não!) e extrapatrimoniais;
2. Lucro inflacionário;
3. Benefícios fiscais de outros tributos;
4. Juros de mora;
5. Rendimentos de sociedades cooperativas relativos à atividade
econômica, sem proveito de lucro (artigo 193 do RIR/2018);
c. Isenções (arts. 13 a 25 da IN 1.700/2017 e arts. 184 a 195 do
RIR/2018): apresentar em sala;
d. Isenção (art. 10 da Lei 9.249/1995): sobre lucros ou dividendos
pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no
lucro real, presumido ou arbitrado.
Critério temporal

1. O fato gerador do Imposto de Renda é complexivo (fato gerador


periódico, instantâneo e complexivo);
2. A polêmica súmula 584 do STF;
3. Para as pessoas jurídicas, o critério temporal pode ser anual ou trimestral.
Se anual, somente para as pessoas jurídicas que optarem pelo lucro real,
será o último átimo de segundo de 31 de dezembro, com antecipações
mensais. Se trimestral, ocorrerá ao final de cada trimestre: 31 de março,
30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro (art. 1º da Lei
9.430/1996).

Critério espacial

1. O Imposto de Renda rege-se aprioristicamente pelo princípio da


territorialidade, porém, após a vigência do texto constitucional e da edição
de leis específicas, vigora também, em determinados casos, a
extraterritorialidade em razão da universalidade. Leandro Paulsen: “A
Lei 7.713/88, no §4º do seu art. 3º, estabeleceu a extraterritorialidade
para o imposto de renda das pessoas físicas, em redação muito
semelhante à atribuída, posteriormente, pela Lei complementar n.
104/2001, ao §1º do art. 43 do CTN, enquanto a Lei 9.249/95, através de
seu art. 25, a instituiu relativamente às pessoas jurídicas”. Ler estes
dispositivos;
2. Modo de evitar a bitributação: tratados e convenções internacionais de
bitributação, ou em acordos de tratamento recíproco.
3. Coligadas e controladas (arts. 77 e 81 da Lei 12.973/2014):
respectivamente, influência significativa e controle acionário majoritário
pela controladora;
4. Controladas no exterior que transferem lucros para as controladoras em
território nacional: tributação de IRPJ no ajuste do valor do investimento
da controladora no Brasil;
5. Coligada no exterior que transfere lucros para as controladoras em
território nacional: tributação de IRPJ no momento da distribuição dos
lucros para a controladora brasileira (regime de caixa). A coligada não
pode estar localizada em país ou dependência com tributação
favorecida, ou não seja beneficiária de regime fiscal privilegiado (paraíso
fiscal – IN 1.037/2010), caso contrário haverá tributação do ajuste do
valor do investimento da pessoa jurídica no Brasil;
1. Este artifício, em tese, de estabelecer o momento em que se dá a
disponibilidade e onde ocorrerá a tributação foi permitido com o
artigo 43, §2º, do CTN, modificado pela Lei complementar
104/2001. A disponibilidade econômica da renda se dá somente ao
cabo do período de apuração, não antes. A lei não poderia definir
momento anterior porque isso violaria o critério temporal e o
princípio da irretroatividade do fato jurídico-tributário – daí vem a
tese de que este tratamento dispensado pela Lei 12.973/2014 é
inconstitucional.

Critério pessoal

1. O sujeito ativo é a União (tributo administrado e fiscalizado pela Receita


Federal do Brasil);
2. Os contribuintes do IRPJ são pessoas jurídicas e empresas individuais,
independentemente de estarem regularmente constituídas, bastando que
configure unidade econômica ou profissional (art. 158 do RIR/2018);
a. Pessoas jurídicas: de direito privado domiciliadas no Brasil, sejam
quais forem os seus fins, a sua nacionalidade ou os participantes
em seu capital; as filiais, sucursais, agências ou representações no
Brasil de pessoas jurídicas com sede no exterior; comitentes
domiciliados no exterior, quanto aos resultados das operações
realizadas por seus mandatários ou seus comissários no Brasil (art.
159 do RIR/2018); sociedades em conta de participação são
equiparadas (art. 160 do RIR/2018); (continua)
3. (continuação)
a. Empresários individuais:
1. Empresário individual pessoa física (art. 966 a 969 do CC);
2. Pessoas físicas que, em nome individual, explorem habitual e
profissionalmente, qualquer atividade econômica de natureza
civil ou comercial, com o fim especulativo de lucro, por meio
da venda a terceiros de bens ou serviços;
1. Exceções: profissões específicas (médico, engenheiro,
advogado, dentista, veterinário, professor,
economista, contador, jornalista, pintor, escritor,
escultor e assemelhados); profissões, ocupações e
prestação de serviços não comerciais; agentes e
representantes; serventuários da Justiça como
tabeliães, notários, oficiais públicos; corretores,
leiloeiros e despachantes, seus prepostos e adjuntos;
exploração individual de contratos de empreitada
unicamente de lavor; exploração de obras artísticas,
didáticas, científicas, urbanísticas, projetos técnicos de
construção, instalações ou equipamentos, exceto
quando não explorados diretamente pelo autor ou pelo
criador do bem ou da obra;
3. Pessoas físicas que promovam a incorporação de prédios em
condomínio ou loteamento de terrenos.
4. Responsabilidade tributária stricto sensu: arts. 196 a 201 do RIR/2018;
5. Substituição tributária concomitante (retenção na fonte): inúmeras
hipóteses, em que a pessoa jurídica é substituída (vide as
situações da aula de IRPF, em que a pessoa jurídica é substituta
da pessoa física);
a. Rendimentos recebidos acumuladamente recebidos por pessoa
jurídica (art. 702 do RIR/2018);
b. Importâncias pagas ou creditadas por pessoas jurídicas a outras
pessoas jurídicas, civis ou mercantis, pela prestação de serviços
caracterizadamente de natureza profissional (art. 714 do
RIR/2018): administração de bens ou negócios em geral,
advocacia, análise clínica laboratorial, arquitetura, assistência
social, contabilidade, consultoria, economia, engenharia,
fisioterapia, medicina (exceto aquela prestada por ambulatório,
banco de sangue, casa de saúde, hospital e pronto-socorro),
odontologia, psicologia, urbanismo, veterinária, entre outros;
(continua)
6. Substituição tributária concomitante (continuação);
a. Importâncias pagas ou creditadas por pessoas jurídicas a outras
pessoas jurídicas pela prestação de serviços de limpeza,
conservação, segurança, vigilância e locação de mão de obra (art.
716 do RIR/2018);
b. Comissões, corretagens ou outra remuneração pela representação
comercial ou pela mediação na realização de negócios civis e
comerciais (art. 718 do RIR/2018);
c. Pagamentos efetuados por órgãos, autarquias e fundações da
Administração Pública federal (inclusive empresas estatais e demais
entidades em que a União detenha a maioria do capital social com
direito a voto e que dela recebam recursos do Tesouro Nacional e
estejam obrigadas a registrar a execução orçamentária e financeira
na modalidade total no Siafi) a pessoas jurídicas pelo fornecimento
de bens ou pela prestação de serviços (art. 720 do RIR/2018).
Exceção: pessoas jurídicas optantes pelo Simples Nacional;
(continua)
7. Substituição tributária concomitante (continuação);
a. Juros sobre o capital próprio pagos ou creditados a pessoas
jurídicas (art. 726 do RIR/2018);
b. Pagamento a beneficiário não identificado (art. 730 do RIR/2018);
c. Prêmios em dinheiro (art. 732 do RIR/2018) e em bens e serviços
(art. 733 do RIR/2018);
d. Rendimentos decorrentes de decisão da Justiça Federal (art. 739 do
RIR/2018);
e. Remessas de rendimentos e ganhos de capital percebidos por
pessoa jurídica no exterior de fontes situadas no Brasil (art. 741 do
RIR//2018);
f. Remessas de pagamentos de royalties ao exterior (art. 767 do
RIR/2018);
g. Rendimentos pagos em cumprimento de decisão judicial (art. 776
do RIR/2018);
h. Qualquer aplicação em renda fixa ou variável, cujos rendimentos
são pagos a pessoa jurídica (art. 790 do RIR/2018) e fundos de
investimento (art. 799 do RIR/2018);
i. Ganhos com operações em bolsa ou fora de bolsa (art. 839 do
RIR/2018), inclusive com ouro ativo financeiro.

Critério quantitativo – lucro presumido

1. A base de cálculo pode ser o lucro presumido, o lucro arbitrado ou o


lucro real;
2. Lucro presumido: modalidade opcional baseada em presunções de
lucro da atividade. A opção deve ser realizada no primeiro pagamento
do DARF, o que não pode ser alterado para todo o exercício financeiro por
iniciativa da pessoa jurídica, salvo quando passar a ser obrigada a ser
tributada pelo lucro real ou quando houver arbitramento com base em
receita conhecida. O período de apuração é obrigatoriamente
trimestral;
3. Pessoas jurídicas que não podem optar pelo lucro presumido:
a. Pessoa jurídica com receita total no ano-calendário anterior
superior a R$78 milhões ou R$6,5 milhões multiplicados pelo
número de meses de atividade no período quando inferior a 12
meses;
b. Bancos e equiparados;
c. Pessoas jurídicas com lucros, rendimentos ou ganhos de capital
oriundos do exterior. Exceção: importadoras e exportadoras;
d. Pessoas jurídicas que usufruem de benefícios fiscais relativos à
isenção ou redução do imposto;
e. Pessoas jurídicas que exploram factoring;
f. Optantes do Simples Nacional.
1. A base de cálculo do lucro presumido é calculado a partir de uma
presunção de receita:
Base de cálculo = Receita bruta x percentual de presunção + acréscimos
obrigatórios não sujeitos à presunção
2. Receita bruta: art. 12 do Decreto-Lei 1.598/1977 (venda de bens e
serviços nas operações de conta própria e de conta alheia e receitas da
atividade ou objeto principal da pessoa jurídica não compreendida na
venda de bens e serviços, como locação de bens móveis e imóveis);
a. Não se incluem na receita bruta: o valor do IPI, ICMS-ST e
PIS/COFINS-ST ou monofásico – mas o ICMS, o ISS e PIS/COFINS
estão;
b. Devoluções, vendas canceladas, descontos incondicionais – mas as
vendas inadimplidas estão;
3. Acréscimos obrigatórios:
a. Ganhos de capital;
b. Outras receitas e resultados positivos: ganhos em operação de
cobertura (hedge), rendimentos e ganhos líquidos auferidos em
aplicações financeiras de renda fixa ou variável, JSCP, receitas de
aluguel quando não for objeto social, entre outros.

Critério quantitativo – lucro arbitrado

1. Lucro arbitrado: modalidade excepcional e suplementar da tributação do


IRPJ baseada em presunções de lucro da atividade. A principal
característica é que a empresa e o Fisco não conseguem apurar a base de
cálculo pelos regimes comuns (lucro real ou lucro presumido). Não é uma
penalidade, mas sim um arbitramento, que tem caráter extremo,
quando não for possível apurar a base de cálculo por outra forma.
O Fisco, em geral, tem que dar chances ao contribuinte para regularizar a
situação, sob pena de arbitramento. O período de apuração é
obrigatoriamente trimestral;
2. Situações que ensejam a adoção do lucro arbitrado:
a. Omissões contábeis-fiscais (ECF no SPED) graves;
b. Não atendimento da fiscalização. A apresentação de documentos
não é eficaz para afastar o arbitramento, devendo a pessoa jurídica
apresentar os cálculos e os livros/documentos, porque os fiscais
não são obrigados a fazer o cálculo pela empresa;
c. Não identificação da movimentação financeira ou do lucro real
(evidentes indícios de fraudes ou vícios, erros e deficiências que
tornem a escrituração contábil imprestável);
d. Opção indevida pelo lucro presumido;
e. Ausência de livro-razão (que organiza os lançamentos contábeis do
livro-diário em contas).
3. A base de cálculo do lucro arbitrado é calculada a partir de uma presunção
de receita exatamente como no lucro presumido quando a receita
bruta é conhecida. Os fatores de presunção são multiplicados por 1,2;
4. Quando a receita bruta não é conhecida, a legislação apresenta bases
alternativas com um fator de presunção:
a. Lucro real referente ao último período em que a pessoa
jurídica manteve escrituração de acordo com as leis
comerciais e fiscais – deve ser proporcionalizado (se for
conhecido o lucro real do ano de 2017, para o arbitramento do
lucro do 1º trimestre de 2021, ele deve ser dividido por 4). Fator:
1,5;
b. Soma dos valores do ativo circulante, realizável a longo prazo,
investimento, imobilizado e intangível, existentes no último
balanço patrimonial conhecido (bens e direitos) – multiplicado
pelo número de meses do período de apuração. Fator: 0,04;
c. Capital, inclusive a sua correção monetária contabilizada como
reserva de capital, constante do último balanço patrimonial
conhecido ou registrado nos anos de constituição ou alteração da
sociedade – multiplicado pelo número de meses do período de
apuração. Fator: 0,07;
d. Patrimônio líquido constante do último balanço patrimonial
conhecido – multiplicado pelo número de meses do período de
apuração. Fator: 0,05;
e. Compras de mercadorias efetuadas no mês (para atividades
comerciais) – multiplicado pelo número de meses do período de
apuração. Fator: 0,04;
f. Valores da folha de pagamento dos empregados e das
compras de matérias-primas, produtos intermediários e
materiais de embalagem (para atividades industriais). Fator:
0,4;
g. Soma dos valores devidos no mês a empregados (para
prestação de serviços) – multiplicado pelo número de meses do
período de apuração. Fator: 0,8;
h. Valor mensal do aluguel devido – multiplicado pelo número de
meses do período de apuração. Fator: 0,9.

Critério quantitativo – lucro real


1. Lucro real: modalidade opcional ou obrigatória baseada no lucro
contábil ajustado pelas determinações da legislação tributária. A
opção deve ser realizada no primeiro pagamento do DARF, o que não
pode ser alterado para todo o exercício financeiro por iniciativa da pessoa
jurídica. O período de apuração é trimestral ou anual (este último no
regime comum ou no regime de estimativas);
2. Pessoas jurídicas que são obrigadas a apurar o IRPJ pelo lucro real:
a. Pessoa jurídica com receita total no ano-calendário anterior
superior a R$78 milhões ou R$6,5 milhões multiplicados pelo
número de meses de atividade no período quando inferior a 12
meses;
b. Bancos e equiparados;
c. Pessoas jurídicas com lucros, rendimentos ou ganhos de capital
oriundos do exterior. Exceção: importadoras e exportadoras;
d. Pessoas jurídicas que usufruem de benefícios fiscais relativos à
isenção ou redução do imposto;
e. Pessoas jurídicas que exploram factoring;
f. Optantes do Simples Nacional.
1. A base de cálculo do lucro real é calculado a partir do lucro contábil com
ajustes:
Base de cálculo = Lucro contábil + Adições – Exclusões – Compensações
1. Lucro contábil (lucro comercial): lucro operacional + lucro não
operacional;
2. Adições: são o que não compôs o lucro contábil, mas que deveria compor
segundo a legislação tributária, e deverá ser adicionado para a base de
cálculo do lucro real;
a. Multas administrativas;
b. Perdas na realização de créditos (inadimplência);
3. Exclusões: são o que compôs o lucro contábil, mas que não deveria
compor segundo a legislação tributária, e deverá ser excluído da base de
cálculo do lucro real;
a. Depreciação de ativo fixo;
b. Dividendos distribuídos à pessoa jurídica;
4. Compensações: prejuízo contábil de períodos de apuração anteriores. Se
a pessoa jurídica apurou prejuízo contábil anteriormente, poderá
compensar no período atual até o limite de 30% do lucro real ajustado por
adições e exclusões do período atual. Estes prejuízos contábeis não
prescrevem e só podem ser compensados com IRPJ.

Critério quantitativo – lucro presumido

1. A alíquota é progressiva em duas faixas: 15% sobre a base de cálculo e


um adicional de 10% sobre o que exceder do lucro presumido a R$20 mil
vezes o número de meses de apuração (R$60 mil trimestrais ou R$240 mil
anuais).
Critério quantitativo – Lucro real (exemplo)

Critério quantitativo – Lucro presumido, em comparação


Obrigações acessórias

1. Declaração de Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (DIRF – art. 1004


do RIR/2018), quando substituta;
2. Declaração de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (art. 890 do
RIR/2018)
3. No lucro presumido e no lucro real (art. 600 do RIR/2018): ECF, Livro
Registro de Inventário e livros de escrituração obrigatórios por legislação
fiscal específica e documentos e papéis que serviram de base para
escrituração comercial e fiscal;
4. No lucro real: e-Lalur na ECF, composto pelas partes A (apuração) e B
(controle de ajustes para períodos de apuração futuros).

VI - IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL

Legislação aplicável

1. Art. 153, VI e §4º, da CF. Competência federal. Parafiscalidade pelos


Municípios: artigo 153, §4º, III, da CF;
2. Artigos 29 a 31 do CTN;
3. Lei 9.393/1996;
4. Lei 11.250/2005 (convênio do ITR);
5. Artigo 15 do Decreto-Lei 57/1966;
6. Decreto 4.382/2002 (Regulamento do ITR), bem desatualizado em razão
do Código Florestal de 2012;
7. Decreto 6.433/2008 (Comitê Gestor do ITR e opção dos Municípios);
8. IN 256/2002 da Receita Federal do Brasil (regras gerais);
9. IN 1.640/2016 da Receita Federal do Brasil (convênio do ITR);
10. Competência federal;
11. Lançamento por homologação.

Critério material

1. Art. 153, III, da CF: “Compete à União instituir impostos sobre


propriedade territorial rural”;
2. Art. 29 do CTN: “O imposto, de competência da União, sobre propriedade
territorial rural tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a
posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localização fora
da zona urbana do Município”;
a. Propriedade, domínio útil e posse: vide aula sobre o IPTU. Para
Leandro Paulsen, só a “propriedade” foi recepcionada pela CF. E o
IPTU? A posição majoritária do STJ segue a mesma linha do IPTU;
b. Imóvel rural (artigo 1º, §2º, da Lei 9.393/1996): “Para os efeitos
desta Lei, considera-se imóvel rural a área contínua, formada de
uma ou mais parcelas de terras, localizada na zona rural do
município”. Plano Diretor do Município;
a. O ITR não incide sobre qualquer imóvel em zona urbana,
salvo a hipótese do artigo 15 do Decreto-Lei 57/1966,
destinado à atividade rurícola/extrativista;
b. Áreas urbanizáveis ou de expansão urbana não são áreas
rurais: sujeitas ao IPTU, inclusive sítios de recreio (REsp
215.460/SP;
c. Pedro dos Santos Anceles: “área contínua” tem o sentido de
continuidade/utilidade econômica e aproveitamento da
propriedade rural. Terrenos cortados por estradas, rios e
cercas (módulo rural).
3. Incidência de ITR: propriedade, posse e domínio útil de imóvel rural ou
urbano no caso do artigo 15 do Decreto-Lei 57/1966 (REsp 1.112.646/SP
– repetitivo);
4. Não incidência de ITR:
a. Imunidades (art. 150, VI, da CRFB/1988), inclusive as específicas,
como a de pequenas glebas rurais (artigo 153, §4º, I, da CF c/c
artigo 2º da Lei 9.393/1996): 100ha em município na Amazônia
Ocidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense;
50ha em município do Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental;
30ha em qualquer outro município;
b. Não incidência lato sensu:
a. Esbulho e turbação (não incidência stricto sensu). O esbulho
e a turbação da posse são fatos relevantes para a não
incidência do ITR: REsp 1.144.982/PR (movimentos dos sem-
terra) e súmula 45 do CARF (áreas alagadas para fins de
constituição de reservatório de usinas hidrelétricas);
b. Artigo 1º, §1º, da Lei 9.393/1996 (não incidência stricto
sensu): “O ITR incide inclusive sobre o imóvel declarado de
interesse social para fins de reforma agrária, enquanto não
transferida a propriedade, exceto se houver imissão
prévia na posse”;
c. Artigo 2º, §1º, da Lei 9.393/1996 (não incidência stricto
sensu): “O ITR incide sobre a propriedade rural declarada de
utilidade ou necessidade pública, ou interesse social,
inclusive para fins de reforma agrária: I – até a data da
perda da posse pela imissão prévia do Poder Público na
posse; II – até a data da perda do direito de propriedade
pela transferência ou pela incorporação do imóvel ao
patrimônio do Poder Público”. Não incide depois destas datas
(perda da posse/propriedade);
d. Imóvel rural compreendido em programa oficial de reforma
agrária, caracterizado pelas autoridades competentes como
assentamento que atendam aos requisitos: ser explorado por
associação ou cooperativa de produção, que a fração ideal
por família assentada não ultrapasse os limites do artigo 2º
da Lei 9.393/1996 e que o assentado não possua outro
imóvel (isenção – artigo 3º, I, da Lei 9.393/1996);
e. Imóvel rural de um mesmo proprietário, cuja área total
observe os limites fixados no artigo 2º da Lei 9.393/1996,
desde que o explore só ou com sua família, admitida ajuda
eventual de terceiros e não possua imóvel urbano (isenção –
artigo 3º, II, da Lei 9.393/1996);
f. Imóvel rural oficialmente reconhecido como área ocupada por
remanescentes de comunidades de quilombos que estejam
sob a ocupação direta e sejam explorados, individual ou
coletivamente, pelos membros destas comunidades (isenção
– artigo 3º-A da Lei 9.393/1996).

Critério espacial

1. O terreno deve estar localizado no território da União, porém, caso se


trate de Município conveniado com a Secretaria da RFB, deve estar
localizado no território do Município conveniado;
2. E se o imóvel estiver localizado na linha divisória entre dois Municípios
conveniados?
a. O imóvel que pertencer a mais de um Município deverá ser
enquadrado no Município onde fique a sede do imóvel e, se esta
não existir, será enquadrado no Município onde se localize a maior
parte do imóvel (art. 1º, §3º, da Lei 9.393/1996).

Critério temporal

1. Fato gerador continuado, com eleição do critério 1º de janeiro, segundo


o art. 1º, caput, da Lei 9.393/1996;
2. Leandro Paulsen: “Cabe aqui um esclarecimento. O fato gerador não é a
propriedade, domínio útil ou a posse anual, ou seja, pelo prazo de um
ano. Fato gerador é a propriedade, domínio útil ou a posse (aspecto
material) em 1º de janeiro de cada ano (aspecto temporal). O imposto é
exigido, por força disso, anualmente (periodicidade). Assim, verificada a
propriedade em 1º de janeiro, situação necessária e suficiente para o
surgimento da obrigação tributária, é devido o tributo, tal como
estabelecido por lei. O fato de, posteriormente, durante o ano, vir a
ocorrer descontinuidade na titularidade, não tem qualquer implicação
sobre a obrigação tributária, não ensejando repetição parcial do tributo”.

Critério pessoal

1. O sujeito ativo é a União ou o Distrito Federal ou Município conveniado;


a. Segue-se a legislação federal de regência do imposto (artigo 1º,
§1º, da Lei 11.250/2005), devendo as ações serem processadas na
Justiça Federal e contra a União (artigo 16 do Decreto 6.433/2008)
e a opção pelo convênio não pode implicar redução do imposto ou
qualquer outra forma de renúncia fiscal (artigo 1º, §2º, da Lei
11.250/2005);
b. A celebração do convênio estará condicionada: a) à protocolização
do termo de opção pelo Município ou pelo Distrito Federal e b) ao
cumprimento dos requisitos e condições necessários à celebração
do convênio estabelecidos pela Receita Federal do Brasil e pelas
resoluções do Conselho Gestor do ITR (artigo 10 do Decreto
6.433/2008). A opção é irretratável a partir do primeiro dia útil do
segundo mês subsequente à data da sua realização (artigo 10, §2º,
do Decreto 6.433/2008). O indeferimento é formalizado pelo
Conselho Gestor do ITR (artigo 10, § 5º, do Decreto 6.433/2008);
c. Requisitos a serem cumpridos pelo Distrito Federal ou pelo
Município conveniado (artigo 7º da IN 1.640/2016): a) estrutura de
tecnologia da informação suficiente para acessar os sistemas da
RFB, que contemple equipamentos e redes de comunicação, b) lei
vigente instituidora de cargo com atribuição de lançamento de
créditos tributários, c) servidor aprovado em concurso público de
provas ou de provas e títulos para o cargo do item “b”, em efetivo
exercício, d) opção pelo Domicílio Tributário Eletrônico;
d. O convênio pode ser denunciado: a) pelo Município ou pelo Distrito
Federal, se quiserem; b) pela União, se não for cumprido algum
requisito ou condição necessária à celebração do convênio (artigo
11 do Decreto 6.433/2008).
2. O sujeito passivo (contribuinte) é o proprietário do imóvel, o titular do seu
domínio útil ou seu possuidor a qualquer título (artigo 31 do CTN);
3. Promessa de compra e venda de bem imóvel. REsp 1.073.846/SP: “Os
impostos incidentes sobre o patrimônio (ITR e IPTU) decorrem de relação
jurídica tributária instaurada com a ocorrência de fato imponível
encartado, exclusivamente, na titularidade de direito real, razão pela qual
consubstanciam obrigações propter rem, pondo-se sua assunção a todos
aqueles que sucedem ao titular do imóvel. Consequentemente, a
obrigação tributária, quanto ao IPTU e ao ITR, acompanha o imóvel em
todas as suas mutações subjetivas, ainda que se refira a fatos imponíveis
anteriores à alteração da titularidade do imóvel, exegese que encontra
reforço na hipótese de responsabilidade tributária por sucessão prevista
nos artigos 130 e 131, I, do CTN […]. Consequentemente, não se
vislumbra a carência da ação executiva ajuizada em face do promitente
vendedor, para cobrança de débitos tributários atinentes ao ITR, máxime
à luz da assertiva de que inexistente, nos autos, a comprovação da
translação do domínio ao promitente comprador através do registro no
cartório competente”.
4. Há hipóteses de responsabilidade ordinárias (artigo 5º da Lei 9.393/1996,
que remete aos artigos 128 a 133 do CTN), principalmente a do artigo
130 do CTN (responsabilidade dos sucessores por aquisição) e as dos
artigos 130 e 131 do CTN (responsabilidade dos sucessores por
reorganização empresarial – cisão, fusão, incorporação ou transformação
– e por aquisição de fundo de comércio);
5. Outras hipóteses de responsabilidade são aplicáveis, como as do artigo
134 do CTN (responsabilidade de terceiros), as do artigo 135 do CTN
(responsabilidade de terceiros por atos praticados com excesso de
poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos) e as do artigo 137
do CTN (responsabilidade por infrações).

Critério quantitativo

1. A base de cálculo é o valor fundiário (artigo 30 do CTN), que é calculado


a partir de variados conceitos extraídos do artigo 10, §1º, I a III, da Lei
9.393/1996. A base econômica é a propriedade territorial, não a
predial e territorial, como no IPTU:
a. VTN (Valor da Terra Nua). É o valor do imóvel, excluídos os valores
relativos a: a) construções, instalações e benfeitorias, b) culturas
permanentes e temporárias, c) pastagens cultivadas e melhoradas,
d) florestas plantadas;
b. Área tributável. É a área total do imóvel, excluídas as áreas: a) de
preservação permanente e de reserva legal, assim definidas pelo
Código Florestal (APP e RL), b) de interesse ecológico para a
proteção dos ecossistemas, assim declaradas mediante ato do
órgão competente, federal ou estadual, e que ampliem as restrições
de uso previstas no item “a”, c) comprovadamente imprestáveis
para qualquer exploração agrícola, pecuária, granjeira, aquícola ou
florestal, declaradas de interesse ecológico mediante ato do órgão
competente, federal ou estadual, d) sob regime de servidão
ambiental, e) cobertas por florestas nativas, primárias ou
secundárias em estágio médio ou avançado de regeneração, f)
alagadas para fins de constituição de reservatório de usinas
hidrelétricas autorizada pelo poder público;
c. VTNt (Valor da Terra Nua tributável). É o resultado da operação:
VTN × (Área tributável/Área total);
2. Segundo o artigo 11, caput, da Lei 9.393/1996, a base de cálculo é o
VTNt (Valor da Terra Nua tributável);
3. As RLs (e as servidões ambientais) são constituídas pelos proprietários
segundo os ditames da lei – o proprietário fará a averbação no cartório de
registro de imóveis e no Cadastro Ambiental Rural (CAR). As APPs se dão
independente de constituição, segundo o que dispõe o Código
Florestal, podendo ser identificadas a olho nu. A exigência de Ato
Declaratório Ambiental para excluir as RLs e as servidões ambientais da
base de cálculo do ITR ainda persiste, mas não para as APPs (EREsp
1.027.051/SC).
4. A alíquota é determinada pela tabela anexa à Lei 9.393/1996, segundo a
área total (fiscalidade) e o Grau de Utilização da propriedade rural (vide
artigo 10, §1º, IV e V, da Lei 9.393/1996), uma decorrência do artigo
153, §4º, I, da CF, instituindo a progressividade para desestimular a
manutenção de propriedades improdutivas, de modo que quanto maior o
grau, menor será a alíquota aplicável (extrafiscalidade):
a. Área aproveitável. É a que for passível de exploração agrícola,
pecuária, granjeira, aquícola ou florestal, excluídas as áreas: a)
ocupadas por benfeitorias úteis e necessárias e b) todas as
exceções ao conceito de “área tributável”, no item 1, “b”, do slide
anterior;
b. Área efetivamente utilizada. É a porção do imóvel que no ano
anterior tenha: a) sido plantada com produtos vegetais, b) servido
de pastagem, nativa ou plantada, observados índices de lotação por
zona de pecuária, c) sido objeto de exploração extrativa,
observados os índices de rendimento por produto e a legislação
ambiental, d) servido para exploração de atividades granjeira e
aquícola, e e) sido objeto de implantação de projeto técnico para a
desapropriação para fins de reforma agrária;
c. Grau de Utilização. É o resultado da operação Área
aproveitável/Área efetivamente utilizada.

Obrigações acessórias

1. Cadastro de Imóveis Rurais (CAFIR – IN 2.008/2021): cadastro de


imóveis rurais, atribuindo a cada imóvel um Número do Imóvel na Receita
Federal (NIRF);
2. Declaração do Imposto sobre a Propriedade Rural (DITR – artigo 36 da IN
256/2002): declaração e apuração do ITR, que apura o valor do imposto.
Entrega definida por IN – no caso do ITR do ano de 2022, a DITR deve ser
entregue entre 15 de agosto e 30 de setembro de 2022, com pagamento
em até 4 parcelas, a primeira em 30 de setembro e as outras até o último
dia de cada mês subsequente (IN 2.095/2022). Ela é composta dos
seguintes documentos:
a. Declaração de Informação e Atualização Cadastral do ITR (DIAC –
artigo 6º da Lei 9.393/1996): informações cadastrais de cada
imóvel no ato de inscrição no CAFIR e todas as alterações
cadastrais, que deverão integrar o Cadastro de Imóveis Rurais
(CAFIR – artigo 6º, §2º, da Lei 9.393/1996). A não entrega da
DIAT implica multa de 1% do valor do ITR, não inferior a R$50,00,
mais juros de mora pela falta ou insuficiência de recolhimento do
imposto ou quota. Os isentos e imunes não estão dispensados
de entregar a DIAC;
b. Documento de Informação e Apuração do ITR (DIAT – artigo 8º da
Lei 9.393/1996): declara o VTN, refletido no preço de mercado de
terras, apurado em 1º de janeiro do ano a que se referir o DIAT. Os
isentos e imunes estão dispensados de entregar a DIAT.
Aplicam-se as mesmas multas do DIAC.

VII – IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS

Legislação aplicável

1. Art. 153, III e §3º, da CF;


2. Artigos 46 a 51 do CTN;
3. Lei 4.502/1964;
4. Lei 9.779/1999;
5. Decreto 7.212/2010 (Regulamento do IPI);
6. Decreto 11.158/2022 (Tabela de Incidência do IPI), com alterações
recentes;
7. Lançamento por homologação.

Critério material

1. Art. 153, III, da CF: “Compete à União instituir impostos sobre produtos
industrializados”. Art. 46 do CTN: “O imposto, de competência da
União, sobre produtos industrializados tem como fato gerador: I – o seu
desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira; II – a sua
saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do artigo
51; III – a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado
a leilão”. Art. 1º da Lei 4.502/1964;
a. IPI-importação: apesar de não haver uma competência tributária
expressa da União para o IPI-importação, o STF chancela a
existência da competência tributária porque, se não houvesse,
haveria menos tributação sobre os produtos estrangeiros que sobre
os produtos nacionais. Leandro Paulsen: “Costuma-se destacar a
importância da cobrança do IPI na importação como modo de
evitar a discriminação inversa. Não fosse cobrado IPI na
importação de produtos industrializados, teríamos tratamento
tributário mais gravoso ao produto nacional que ao estrangeiro. Na
importação, incidem os tributos que gravam a produção
internamente (IPI, ICMS, PIS e COFINS) e, ainda, o imposto de
importação (II), de caráter predominantemente extrafiscal”, o que
decorreria do princípio da igualdade tributária (artigo 150, II,
da CF) e da livre concorrência (artigo 170, IV, da CF). São
pontos trazidos no RE 723.651/PR:
i. O IPI é substituto do Imposto sobre o Consumo (Lei
4.502/1964) – todas as Constituições e a legislação
infraconstitucional previram a incidência deste imposto na
importação. Em 2006, no RE 255.682/RS, o STF decidiu que
não incidia IPI-importação para consumidores finais em razão
do princípio da não-cumulatividade (o consumidor não dá
saída ao produto, então não tem como escoar o crédito), o
que também era seguido para o ICMS-importação. Houve um
overruling RE 723.651/PR: “Incide, na importação de bens
para uso próprio, o Imposto sobre Produtos Industrializados,
sendo neutro o fato de tratar-se de consumidor final”, caso
de importação de veículo automotor para uso próprio;
ii. Melhor, sobre o princípio da livre concorrência, Luís Roberto
Barroso no RE 723.651/PR: “Registro, ainda, que em termos
de comércio internacional, se adota o princípio da tributação
do país de destino como regra, o que importa na
desoneração das exportações e, consequentemente, na
concentração da tributação na importação (destino). Em
relação ao IPI, a adoção desse princípio fica muito clara
quando se observa que há norma expressa na Constituição
desonerando as exportações (art. 153, IV, 3º, III, da CF).
Essa desoneração não significa que para ser permitida a
incidência na importação por pessoas físicas e não
contribuintes deveria existir regra expressa. Pelo contrário,
em verdade, essa regra implicitamente constitucionaliza o
princípio do país de destino, reforçando a necessidade de
tributação na entrada desses bens industrializados no país,
independente da destinação”.
2. [...];
a. IPI-próprio: saída dos estabelecimentos dos contribuintes (artigo
51 do CTN) de produtos industrializados. Para Leandro Paulsen,
“saída” equivale a “operações”, então o IPI-próprio pressupõe a
industrialização e a saída de produtos industrializados. São os
elementos:
i. Operação: negócio jurídico que transfere a posse ou a
propriedade de um objeto (vide a aula de ICMS);
ii. Produto: qualquer bem tangível resultado da produção,
destinado ou não à venda posterior (isto é, destinado à
venda ou ao consumo). Obtém-se de uma operação física
com insumos, considerados matéria-prima, produto
intermediário ou material de embalagem;
iii. Industrializado: submissão a processo de industrialização,
significando a modificação da natureza ou da finalidade, ou
aperfeiçoando o produto para o consumo;
b. IPI-arrematação: arrematação de produtos industrializados
quando apreendidos ou abandonados e levados a leilão.

1. Espécies de insumos:
a. Matéria-prima: todo bem empregado no processo de
industrialização que não se caracteriza como produto industrializado
e será modificado para atingir o produto final, incorporando-se a
ele;
b. Produto intermediário: todo bem empregado no processo de
industrialização que já se caracteriza como produto industrializado,
incorporando-se a ele;
c. Material de embalagem: bem empregado no processo de
industrialização para apresentação ao consumidor final que não
necessariamente modificará a natureza, as características
principais, o seu funcionamento ou a finalidade do produto.

1. Industrialização (artigo 46, § único, do CTN c/c artigo 3º da Lei


4.502/1964 c/c artigo 4º do RIPI/2010): qualquer operação, mesmo
incompleta, parcial ou intermediária, consistente na alteração da
natureza, do funcionamento, da utilização, do acabamento ou da
apresentação do produto, como:
a. Transformação: exercida sobre matérias-primas ou produtos
intermediários, importe na obtenção de espécie nova. Exemplo:
produção de pneus a partir de látex;
b. Beneficiamento: que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de
qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o
acabamento ou a aparência do produto. Exemplos: galvanoplastia,
anodização, estamparia, blindagem, costura, plastificação,
acabamento. É um conceito extremamente amplo, cheio de
vagueza. Possível conflito de competência com o ISS (item 14.05
da lista anexa da Lei Complementar 116/2003);
c. Montagem: que consista na reunião de produtos, peças ou partes
e de que resulte um novo produto ou unidade autônoma, ainda que
sob a mesma classificação fiscal. Exemplos: produção de
eletrodomésticos, automóveis, instrumentos, equipamentos em
geral. Possível conflito de competência com o ISS (item 14.06 da
lista anexa da Lei Complementar 116/2003);
d. Acondicionamento ou reacondicionamento: que importe em
alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem,
ainda que em substituição da original, (embalagem promocional ou
de apresentação) salvo quando a embalagem colocada se destine
apenas ao transporte da mercadoria (embalagem técnica).
Exemplo: acondicionamento de vinho anteriormente comprado em
tonéis para garrafas de vidro com rótulo da marca. Divergência
doutrinária: há autores, como Hugo de Brito Machado, que
entendem que estas operações excedem ao conceito constitucional
de industrialização (para estes, este conceito seria muito restrito,
abarcando só transformação, beneficiamento ou montagem);
i. Embalagem promocional/de apresentação: qualquer
embalagem que não é embalagem técnica (artigo 6º, I e II,
do RIPI/2010). Embalagem técnica é aquela que consiste
em caixas, engradados, barricas, latas, tambores, sacos,
embrulhos e semelhantes, sem acabamento e rotulagem de
função promocional e que não objetive valorizar o produto
em razão da qualidade do material nele empregado, da
perfeição do seu acabamento ou da sua utilidade adicional e
que tenha capacidade acima de 20kg superior àquela em que
o produto é comumente vendido no varejo aos consumidores
(artigo 6º, §1º, I e II, do RIPI/2010). Quando o produto for
vendido sem embalagem (produtos a granel), haverá
incidência de IPI de qualquer jeito;
e. Renovação ou recondicionamento: exercida sobre produto
usado ou parte remanescente de produto deteriorado ou inutilizado,
renove ou restaure o produto para utilização. Exemplos:
reciclagem, reparação de salvados de sinistro, recauchutagem de
pneus. Divergência doutrinária: há autores, como Humberto
Benevides Borges, que entendem que estas operações excedem ao
conceito constitucional de industrialização (para estes, este conceito
seria muito restrito, abarcando só transformação, beneficiamento
ou montagem).

1. Imunidades (artigo 18 do RIPI): imunidade dos livros/papel, dos


produtos industrializados destinados ao exterior, do ouro como ativo
financeiro, da energia elétrica, derivados de petróleo, combustíveis e
minerais do País. IPI-importação para imunidades subjetivas (posição do
STF), em razão da identidade entre o contribuinte de fato e o contribuinte
de direito;
2. Não incidência lato sensu.
a. Isenções. Não se considera industrialização (art. 5º do RIPI):
i. I – o preparo de produtos alimentares não acondicionados
em embalagem de apresentação na residência do preparador
ou em restaurantes, bares, sorveterias, confeitarias,
padarias, quitandas e semelhantes, desde que os produtos se
destinem a venda direta a consumidor ou em cozinhas
industriais quando destinados a venda direta a pessoas
jurídicas e a outras entidades, para consumo de seus
funcionários, empregados ou dirigentes;
ii. II – o preparo de refrigerantes à base de extrato concentrado
por meio de máquinas automáticas ou não em restaurantes,
bares e estabelecimentos similares, para venda direta a
consumidor [somente os produzidos diretamente pelos
estabelecimentos para comercialização direta;
iii. III – a confecção ou preparo de produto de artesanato (vide
o artigo 7º, I, do RIPI/2010);
iv. IV – a confecção de vestuário, por encomenda direta do
consumidor ou usuário, em oficina ou na residência do
confeccionador [alfaiates e estilistas] (vide o artigo 7º, II, do
RIPI/2010);
v. V – o preparo de produto, por encomenda direta do
consumidor ou usuário, na residência do preparador ou em
oficina, desde que, em qualquer caso, seja preponderante o
trabalho profissional [incidência de ISS] (vide o artigo 7º, II,
do RIPI/2010); [continua]

a. Isenções. Não se considera industrialização (art. 5º do RIPI):


vi. VI – a manipulação em farmácia, para venda direta a
consumidor, de medicamentos oficiais e magistrais, mediante
receita médica [incidência de ISS];
vii. VII – a moagem de café torrado, realizada por
estabelecimento comercial varejista como atividade
acessória;
viii. VIII – a operação efetuada fora do estabelecimento
industrial, consistente na reunião de produtos, peças ou
partes e de que resulte edificação, instalação de oleodutos,
usinas hidrelétricas, torres de refrigeração, estações e
centrais telefônicas ou outros sistemas de telecomunicação e
semelhantes, ou fixação de unidades ou complexos
industriais ao solo. Não exclui a incidência do IPI sobre os
produtos, partes ou pelas utilizados nas operações aqui
referidas (art. 5º, § único, do RIPI/2010);
ix. IX – a montagem de óculos, mediante receita médica;
x. X – acondicionamento de produtos alimentícios em cestas de
natal e semelhantes;
xi. XI – conserto, restauração e recondicionamento de produtos
usados, nos casos em que se destinem ao uso da própria
empresa executora ou quando essas operações sejam
executadas por encomenda de terceiros não estabelecidos
com o comércio de tais produtos, bem como o preparo, pelo
consertador, restaurador ou recondicionador, de partes ou
peças empregadas exclusiva e especificamente naquelas
operações; [continua]
b. Isenções. Não se considera industrialização (art. 5º do RIPI):
vi. XII – o reparo de produtos com defeito de fabricação,
inclusive mediante substituição de partes e peças, quando a
operação for executada gratuitamente, ainda que por
concessionários ou representantes, em virtude de garantia
dada pelo fabricante;
vii. XIII – a restauração de sacos usados, executada por
processo rudimentar, ainda que com emprego de máquinas
de costura;
viii. XIV – a mistura de tintas entre si, ou com concentrados de
pigmentos, sob encomenda do consumidor ou usuário,
realizada em estabelecimento comercial varejista, efetuada
por máquina automática ou manual, desde que fabricante e
varejista não sejam empresas interdependentes,
controladora, controlada ou coligadas;
ix. XV – a operação de que resultem tabaco total ou
parcialmente destalado, quando exercida por produtor rural
pessoa física;
c. Outras isenções de produtos industrializados (artigo 7º da Lei
4.502/1964):
vi. III – os produtos industrializados por estabelecimentos
públicos e autárquicos federais, estaduais ou municipais,
quando não se destinarem ao comércio;
vii. IV – os produtos industrializados pelos estabelecimentos
particulares de ensino, quando para fornecimento gratuito
aos alunos; [continua]
d. Outras isenções de produtos industrializados (artigo 7º da Lei
4.502/1964):
vi. V – as amostrar de diminuto ou de nenhum valor comercial,
assim considerados os fragmentos ou parte de qualquer
mercadoria, em quantidade estritamente necessária para dar
a conhecer sua natureza, espécie e qualidade, para
distribuição gratuita, desde que tragam, em caracteres bem
visíveis, declaração neste sentido;
vii. VIII – as obras de escultura, quando vendidas por seus
autores;
viii. XV – os caixões funerários;
ix. XVI – os produtos de origem mineral, inclusive os que
tiverem sofrido beneficiamento para eliminação de
impurezas, através de processos químicos, desde que
sujeitos ao imposto único (ICMS);
x. XVII – preparações que constituem típicos inseticidas,
carrapaticidas, herbicidas e semelhantes, segundo lista
organizada pelo órgão competente do Ministério da Fazenda,
ouvidos o Ministério da Agricultura e outros órgãos técnicos;
xi. XVIII – as embarcações de mais de 100 toneladas brutas de
registo, excetuadas as de caráter esportivo e recreativo;
xii. XXVI – panelas e outros artefatos rústicos de uso doméstico
fabricados de pedra ou de barro bruto, apenas umedecido e
amassado, com ou sem vidramento de sal; [continua]
e. Outras isenções de produtos industrializados (artigo 7º da Lei
4.502/1964):
vi. XXVIII – chapéus, roupas e proteção, de couro, próprios para
tropeiros;
vii. XXXVI – material bélico, quando de uso privativo das Forças
Armadas e vendido à União;
viii. XXXVII – as aeronaves de uso militar, suas partes e peças,
quando vendidas à União;
f. Outras isenções de produtos industrializados (artigos 54 e 55
do RIPI/2010), como troféus e medalhas para eventos culturais e
científicos, veículos para bombeiros, urnas eletrônicas, táxis e
veículos para pessoas com deficiência etc.;
g. Outras isenções de produtos industrializados não listadas
(alíquota zero na TIPI). Exemplos: vários dos capítulos 1, 3, 4,
5, 6, 7, 8, 9, 10 e 12 da TIPI, dando direito a crédito na entrada
por ocasião das aquisições de matéria-prima, produtos
intermediários ou material de embalagem;
h. Outras isenções de produtos industrializados importados
(artigo 8º da Lei 4.502/1964);
vi. Importados pelos entes federativos, autarquias e demais
entidades que gozam de imunidades;
vii. Importados por missões diplomáticas e representações, no
país de organismos internacionais de que o Brasil seja
membro; [continua]
i. Outras isenções de produtos industrializados importados
(artigo 8º da Lei 4.502/1964);
vi. Que constituírem a bagagem de passageiros e imigrantes;
vii. Que constituírem equipamentos destinados a investimentos
essenciais ao processo de desenvolvimento econômico do
país, especialmente das regiões menos desenvolvidas;
[continua]
viii. Importados sob o regime de drawback;
j. Não incidência stricto sensu. Produtos roubados ou furtados
(EREsp 734.403/RS), assim como, por analogia, quando houver
qualquer outro fato que impede o recebimento, como o
perecimento, a desistência do negócio e a perda da coisa (aqui, é o
conceito de “operação” que não ocorre). Transferência de produto
industrializado entre estabelecimentos da mesma pessoa jurídica;
k. Não incidências stricto sensu de produtos industrializados
não listadas (não tributados na TIPI): a indicação “NT”
significa uma não incidência stricto sensu, porque a interpretação
da TIPI é que nenhuma das cinco hipóteses de industrialização é
praticada nestes casos. Não dão direito a crédito na entrada por
ocasião das aquisições de matéria-prima, produtos intermediários
ou material de embalagem. Exemplos: vários dos capítulos 1, 3, 4,
5, 6, 7, 8, 9, 10 e 12 da TIPI.

Critério espacial

1. Não há menção no RIPI/2010 sobre o critério espacial, então, em regra,


utiliza-se o critério da territorialidade (território nacional, por se tratar de
imposto federal). Dadas as ficções jurídicas da importação de produto
industrializado, Leandro Paulsen pontua: “Tal desembaraço ocorrerá no
território nacional, mas, indiretamente, por força desse fato gerador
especial do IPI, tem-se a tributação da saída do produto industrializado do
estabelecimento do fornecedor estrangeiro, numa espécie de
extraterritorialidade do IPI relativamente aos produtos colocados no
mercado nacional”.

Critério temporal

1. O fato gerador do IPI é instantâneo, assim como o ICMS. O critério


temporal está nos artigos 35 e 36 do RIPI/2010:
1. IPI-importação: na data do registro da declaração de importação no
SISCOMEX ou na data do desembaraço aduaneiro pela repartição
alfandegária;
2. IPI-próprio: na saída do bem industrializado do estabelecimento
definido em lei como sujeito passivo (industrial ou equiparado). A
saída pode ser real (do próprio estabelecimento vendedor para o
comprador) ou ficta (quando há venda por encomenda e entrega do
produto por um estabelecimento da mesma pessoa jurídica que é
mero detentor do produto – vide a aula de ICMS e o próximo slide);
3. IPI-arrematação: na data da arrematação em hasta pública (leilão).
Critério pessoal

1. O sujeito ativo é a União. O sujeito passivo é definido pelo artigo 51 do


CTN (contribuinte) e pelos artigos 3º e 4º da Lei 4.502/1964, sendo o
importador ou equiparado, o industrial ou equiparado, o comerciante de
produtos sujeitos ao imposto que os forneça aos industriais e o
arrematante de produtos apreendidos ou abandonados levados a leilão –
vide o artigo 24 do RIPI/2010. Estabelecimento industrial é o que
executa qualquer das operações de industrialização de que resulte
produto tributado, ainda que de alíquota zero ou isento (artigo 8º do
RIPI/2010). Estabelecimento equiparado é o que não executa operações
de industrialização, mas pode ser obrigado a cumprir as obrigações
tributárias, ou pode optar;
2. São estabelecimentos equiparados obrigatoriamente a industrial (artigo
9º do RIPI/2010):
a. Importadores de produtos de procedência estrangeira, que derem
saída a esses produtos;
b. Atacadistas ou varejistas (vide artigo 14 do RIPI/2010), que
receberem, para comercialização, diretamente da repartição que os
liberou, produtos importados por outro estabelecimento da mesma
firma;
c. Filiais e demais estabelecimentos atacadistas que exercerem o
comércio de produtos importados, industrializados ou mandados
industrializar por outro estabelecimento da mesma firma, salvo se
aqueles operarem exclusivamente na venda a varejo e não
estiverem enquadrados na hipótese acima. Se o destinatário do
produto for varejista da mesma empresa, está sujeito ao valor
tributável mínimo (90% do preço comum – artigo 195, II, do
RIPI/2010, evitando o split de operações);
d. Estabelecimentos comerciais de produtos cuja industrialização
tenha sido realizada por outro estabelecimento da mesma firma ou
de terceiro, mediante a remessa, por eles efetuada, de matérias-
primas, produtos intermediários, embalagens, recipientes, moldes,
matrizes ou modelos (por encomenda);
e. Estabelecimentos comerciais de bebidas, líquidos alcoólicos e
vinagres (Capítulo 22 da TIPI), cuja industrialização tenha sido
encomendada a estabelecimento industrial, sob marca ou nome
fantasia de propriedade do encomendante, de terceiro ou do
próprio executor da encomenda; [continua]
3. São estabelecimentos equiparados obrigatoriamente a industrial (artigo
9º do RIPI/2010):
a. Atacadistas que comercializem pérolas, metais preciosos, metais
folheados ou chapeados, artigos de joalheria, de ourivesaria e
outras obras;
b. Atacadistas ou varejistas, que adquirirem produtos de procedência
estrangeira, importados por encomenda ou por sua conta e
ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora (trading
company). Importação por conta e ordem: o adquirente paga tudo
e a importadora somente resolve a burocracia e o despacho
aduaneiro (o próprio adquirente compra a mercadoria no exterior e
contrata a importadora para fazer o desembaraço). Importação por
encomenda: a importadora paga tudo e revende a mercadoria para
o adquirente, também se responsabilizando pela burocracia (a
mercadoria é comprada pela importadora);
c. Atacadistas vendedores de automóveis de passageiros e outros
veículos automóveis principalmente concebidos para transporte de
pessoas, incluindo os de uso misto e automóveis de corrida;
4. São estabelecimentos equiparados opcionalmente a industrial (artigo 11
do RIPI/2010):
a. Estabelecimentos comerciais que derem saída a bens de produção,
para estabelecimentos industriais ou revendedores, exceto a
particulares em quantidade que não exceda a normalmente
destinada ao seu próprio uso;
b. Cooperativas que se dedicarem à venda em comum de bens de
produção, recebidos de seus associados para comercialização;
5. Há diversas hipóteses de responsabilidade (artigo 25 do RIPI/2010),
inclusive solidária (artigo 27 do RIPI/2010) e por infração (artigo 30 do
RIPI/2010).

Critério quantitativo

1. A base de cálculo é definida pelo artigo 47 do CTN:


a. IPI-importação: preço normal que o produto alcançaria em uma
venda em condições de livre concorrência no Brasil (preço “CIF”,
que contém frete e seguro)+ II + tarifas aduaneiras + encargos
cambiais efetivamente pagos pelo importador ou dele exigíveis;
b. IPI-próprio: o valor da operação, sem frete ou seguro (se não
houver o valor, será o preço corrente da mercadoria no mercado
atacadista da praça do remetente);
c. IPI-arrematação: o preço da arrematação;
2. Juros em vendas financiadas de produtos não englobam a base de cálculo
do IPI (REsp 1.149.424/BA);
3. Frete não compõe a base de cálculo do IPI, dependendo de lei
complementar (RE 636.714/RS);
4. Descontos, abatimentos e diferenças concedidos incondicionalmente não
compõem a base de cálculo (inconstitucionalidade do artigo 14, §2º, da
Lei 7.798/1989 no RE 567.935/SC);
5. O IPI terá reduzido seu impacto sobre a aquisição de bens de capital
(artigo 153, §3º, IV, da CF), que são bens destinados à produção de
outros bens e mercadorias. Não se pode extrair imunidade, isenção ou
alíquota zero do texto constitucional. A lei tem que regulamentar isto, e
em geral isso é feito pela redução de alíquotas, pela instituição de alíquota
zero e pela autorização de creditamento de IPI incidente no bem de
capital comprado.
6. A alíquota será definida na TIPI, anexa ao Decreto 11.158/2022, seguindo
o critério da seletividade pela essencialidade do produto (artigo 153, §3º,
I, da CF c/c artigo 48 do CTN). Vide, por exemplo, o capítulo 22. A
essencialidade pode ser tanto individual como coletiva;
7. As alíquotas são organizadas por NCM, segundo a sua classificação fiscal –
a indeterminação da linguagem e avanços tecnológicos trazem
complexidade para esta classificação, abrindo margem para
planejamentos;
8. As alíquotas podem ser alteradas por meio de decreto livremente, até o
limite legal (artigo 153, §1º, da CF), que é de 30% além das alíquotas
constantes para cada produto da TIPI (artigo 69 do RIPI/2010).

Não cumulatividade

1. O IPI é não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada


operação com o montante cobrado nas anteriores (artigo 153, §3º, II, da
CF). Segundo o artigo 49, caput, do CTN, o imposto é não-cumulativo,
dispondo a lei de forma que o montante devido resulte da diferença a
maior, em determinado período, entre o imposto referente aos produtos
saídos do estabelecimento e o pago relativamente aos produtos nele
entrados. O saldo verificado, em determinado período, em favor do
contribuinte, transfere-se para o período ou períodos seguintes (artigo 49,
§ único, do CTN). Diferentemente do ICMS, em tese, a não-
cumulatividade do IPI é mais restrita, porque a CF não repetiu,
para o IPI, o que existe no artigo 155, §2º, I e II, que estipula que
a lei pode quebrar a cadeia de não-cumulatividade e autorizar o
creditamento de insumos não onerados – isto não é levado a sério
pelo STF!;
2. No IPI, os créditos são físicos, reais e condicionados (Ricardo Lobo
Torres). Crédito físico: crédito relativo à aquisição de MP, PI e ME que se
exaure no processo de industrialização do produto. Crédito real: apenas o
montante incidente nas operações anteriores dá direito ao abatimento,
não nascendo direito ao crédito nas isenções ou não incidências. Crédito
condicionado: é condicionado à ulterior saída tributada, estornando-se o
crédito da entrada se houver desgravação na saída, isto é, se a saída
passar a ser não tributada, ou se sofrer alíquota zero;
a. Aquisição de bens integrantes do ativo permanente da empresa não
gera direito a creditamento de IPI (súmula 495 do STJ), assim
como energia elétrica e combustíveis, materiais de limpeza, de
expediente, uniformes, capacetes, botas, luvas, cintos de
segurança, demais equipamentos individuais obrigatórios, etc.

Obrigações acessórias

1. Rotulagem, marcação e numeração dos produtos com indicação da


firma, do número da inscrição do estabelecimento (CNPJ), a situação do
estabelecimento (localidade, rua e número), a expressão “Indústria
Brasileira” e outros elementos requeridos pelo RIPI/2010 e outras normas
complementares expedidas pela Receita Federal do Brasil (artigo 273 do
RIPI/2010). Os isentos terão a expressão “Isento do IPI”. A falta de
rotularem importa considerar o produto como não identificado com o
descrito nos documentos fiscais;
2. Selo de controle (artigos 284 e seguintes do RIPI/2010), confeccionado
pela Casa da Moeda e aposto a determinados produtos, fornecido aos
fabricantes, importadores e adquirentes em licitação dos produtos sujeitos
ao seu uso mediante o pagamento de uma taxa (artigo 298-A do
RIPI/2010). A falta do selo importa considerar o produto como não
identificado com o descrito nos documentos fiscais. Artigos 16 e
seguintes, inclusive o Anexo I, da IN 2.100/2022 (bebidas). Artigos 15 e
seguintes, inclusive o Anexo I-A, da IN 770/2007 (cigarros e cigarrilhas);
3. Abstenção dos transportadores de despachar produtos com
documentos em desacordo com o regulamento (artigos 323 e seguintes
do RIPI/2010), inclusive se responsabilizando pelo extravio dos
documentos;
4. Obrigações específicas. Bebidas do capítulo 22 só podem ser vendidas
em recipientes de 1L (artigo 339 do RIPI/2010), registros especiais para
produtores de bebidas e cigarros, entre outras;
5. Documentos fiscais (artigo 392 do RIPI/2010): nota fiscal, modelos 1
ou 1-A, segundo os modelos anexos ao RIPI/2010, Documento de
Arrecadação (DARF) utilizado para o recolhimento do IPI (artigo 441 do
RIPI/2010), Declaração do IPI (vide abaixo e o artigo 443 do RIPI/2010) e
Documento de Prestação de Informações Adicionais de interesse da
Administração Tributária (artigo 443 do RIPI/2010);
6. Livros fiscais (artigo 444 do RIPI/2010) a serem entregues na EFD-
ICMS/IPI (artigo 453 do RIPI/2010): registro de entradas, registro de
saídas, registro de controle da produção e do estoque, registro de entrada
e saída do selo de controle, registro de impressão de documentos fiscais,
registro de utilização de documentos fiscais e termos de ocorrências,
registro de inventário, registro de apuração do IPI. A EFD-ICMS-IPI só
substitui os livros registro de entradas/saídas, de registro de inventário e
de registro de apuração (livros mais gerais).

VIII – IMPOSTOS SOBRE A IMPORTAÇÃO E SOBRE A EXPORTAÇÃO

Legislação aplicável

1. Art. 153, I e II e §3º, da CF;


2. Artigos 19 a 28 do CTN;
3. II: Decreto-Lei 37/1966, Decreto-Lei 2.472/1988, Lei 10.833/2003 e Lei
12.350/2010;
4. IE: Decreto-Lei 1.578/1977, Lei 9.716/1988 e MP 2.158-35/2001 (com
força de lei até hoje pela EC 32/2001);
5. Decreto 92.930/1986 (General Agreement on Trades and Tariffs);
6. Decreto 6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro);
7. Atos normativos expedidos pela Receita Federal do Brasil e pela Câmara
de Comércio Exterior (CAMEX – Ministério da Fazenda), da Secretaria de
Comércio Exterior (SECEX – Ministério do Desenvolvimento) e da
Coordenadoria de Administração Aduaneira (COANA – Receita Federal do
Brasil): IN 1984/2020, IN 1.600/2015, IN 241/2002, Portaria SECEX
23/2011, Portaria SECEX 44/2020, Portaria COANA 72/2020, entre muitos
outros;
8. Lançamento por homologação.

Procedimentos de importação e exportação – despachos de importação e de


exportação (regime comum de importação e de exportação)

1. Despacho de importação (artigos 542 a 576 do RA/2009): chegado um


produto num estabelecimento alfandegado, o importador é chamado a,
em um prazo (artigo 23 do Decreto-Lei 1.455/1976), registrar a
Declaração de Importação, e já pagar o II – neste caso, o lançamento é
por homologação. O controle aduaneiro é uma série de atos concatenados
em que a autoridade aduaneira exerce poder de polícia para fiscalizar o
processo de importação e verificar se os passos seguintes estão corretos:
a. Despacho de importação (artigos 542 e seguintes do RA/2009) :
procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados
declarados pelo importador em relação à mercadoria importada,
aos documentos apresentados e à legislação específica. Todos os
produtos estão sujeitos ao despacho, podendo ser efetuado em
zona primária ou secundária. Este despacho se inicia na data do
registro da declaração de importação (no Portal SISCOMEX);
b. Licenciamento de importação (artigo 550 do RA/2009) :
licenciamento por meio do Portal Único do SISCOMEX, autorizando
o uso do Radar (IN 1.984/2020 e Portaria COANA 72/2020). O
importador pessoa jurídica deve provar que tem capacidade de
importar e assumir riscos. No Radar, os importadores podem ser
habilitados para modalidades abaixo, com limites semestrais. A
Receita Federal do Brasil pode rever as modalidades de ofício no
Radar. Importar uma mercadoria acima do limite importa em
paralisação do processo de controle aduaneiro, responsabilizando-
se o importador pelo prazo de 3 meses para promover à
nacionalização da mercadoria. Outras habilitações mais específicas
podem ser requeridas por outros órgãos com poder de polícia
(Ministério da Agricultura, Banco Central do Brasil etc.). Não se
enquadram nestes limites: exportação, internação na ZFM,
importação por conta e ordem de terceiros (trading) e importação
sem cobertura cambial (hedge);
i. Modalidade expressa (empresas estatais e empresas com
capital aberto e ações negociadas em bolsa de valores): sem
limite de negócio;
ii. Modalidade limitada (vale para todas as outras empresas e
pessoas físicas que não se enquadram na modalidade
expressa): com limite de negócio, conforme avaliação e
autorização da Receita Federal do Brasil caso a caso,
analisando a própria base de dados da Receita Federal do
Brasil em relação aos tributos recolhidos nos últimos 5 anos.
São os limites: a) até US$50 mil (valor “CIF”) ou b) até
US$150 mil (valor “CIF);
iii. Modalidade ilimitada (declarante de mercadorias cuja
capacidade financeira estimada para realizar operação de
importação em cada período consecutivo de 6 meses seja
superior a US150 mil): sem limite de negócio; [continua]

Licenciamento de importação (artigo 550 do RA/2009 –


continuação): o importador pessoa física não se submete aos
limites do Radar/SISCOMEX, porém só pode importar nas seguintes
hipóteses: a) a realização de suas atividades profissionais, inclusive
na condição de produtor rural, artesão, artista ou assemelhado, b)
seu uso e consumo próprio e c) suas coleções pessoais (artigo 4º,
§3º, da IN 1.984/2022 da RFB);
c. Declaração de Importação (artigos 551 e seguintes do RA/2009) :
expedição e registro, no Portal SISCOMEX, pelo importador, da
Declaração de Importação. Deve ser instruída com: a) a via original
do conhecimento de carga ou documento de efeito equivalente, b) a
via original da fatura comercial, assinada pelo exportador e c) o
comprovante de pagamento dos tributos, se exigível;
i. Conhecimento de carga: documento que prova características
da mercadoria (peso, volume, tipo de carga, nome do
transportador, nome e endereço do destinatário), auxiliando
o fisco e os transportadores, em geral emitido pelo
exportador. Um único conhecimento de carga pode instruir
mais de uma Declaração de Importação;
ii. Fatura comercial: documento com diversas informações,
como as básicas do exportador e do importador, a marca, a
quantidade e a espécie dos volumes, o peso bruto e líquido, o
país de origem e o de aquisição, o preço unitário, o custo de
transporte, as condições e a moeda de pagamento, e o
Incoterm (termo da condição de venda);
iii. Comprovante de pagamento dos tributos, se exigível: trata-
se do pagamento do II, do IPI-importação e de PIS/COFINS-
importação, e do Adicional ao Frete para Renovação da
Marinha Mercante (Taxa – artigo 575 do RA/2009) e do
ICMS-importação (artigo 576 do RA/2009). Não se trata de
sanção política, como será visto a seguir;
d. Conferência aduaneira (artigos 564 e seguintes do RA/2009) :
fiscalização eletrônica e física das mercadorias e dos documentos,
principalmente para verificar informações relativas à natureza, à
classificação fiscal, à qualificação, ao valor e à confirmação do
cumprimento de todas as obrigações fiscais e outras, exigíveis, em
razão da importação. As remessas são parametrizadas em canais
[continua]
i. Canal verde: desembaraço automático. Poderá ser objeto de
conferência física ou documental quando forem encontrados
indícios de irregularidade na importação;
ii. Canal amarelo: será realizado exame documental. Não sendo
constatada irregularidade, ocorre o desembaraço sem
verificação da mercadoria;
iii. Canal vermelho: exame documental e verificação física da
mercadoria;
iv. Canal cinza: exame documental, verificação física da
mercadoria e a aplicação de procedimento especial de
controle aduaneiro (PECA), para verificar elementos
indiciários de fraude;
f. Desembaraço aduaneiro (artigos 571 e seguintes do RA/2009) :
conclusão da conferência aduaneira, com a liberação do produto
para o transportador ou para o importador.

1. Despacho de exportação (artigos 580 a 596 do RA/2009):


procedimento similar, inclusive aplicadas as normas estabelecidas para o
despacho de importação no que couber, para verificar a exatidão dos
dados declarados pelo exportador em relação à mercadoria, aos
documentos apresentados e à legislação específica. No momento em que
a mercadoria do exportador chega a um recinto alfandegado, deverá
protocolar uma Declaração de Exportação em um prazo e já pagar o IE –
neste caso, o lançamento é por homologação;
a. Registro de exportação (artigos 584 e seguintes do RA/2009) : é a
habilitação para exportação no Radar/SISCOMEX;
b. Declaração de Exportação (artigos 586 e seguintes do RA/2009) :
expedição e registro, no Portal SISCOMEX, pelo importador, da
Declaração de Exportação. Deve ser instruída com: a) a primeira
via da nota fiscal, b) a via original do conhecimento e do manifesto
internacional de carga (similar ao conhecimento de carga – vide o
artigo 44 do RA/2009), nas exportações por via terrestre, fluvial ou
lacustre e c) outros documentos exigidos na legislação específica;
c. Conferência aduaneira (artigos 589 e seguintes do RA/2009) :
fiscalização eletrônica e física das mercadorias e dos documentos,
principalmente para verificar informações relativas à natureza, à
classificação fiscal, à qualificação, ao valor e à confirmação do
cumprimento de todas as obrigações fiscais e outras, exigíveis, em
razão da exportação. Também se submete aos mesmos canais de
parametrização;
d. Desembaraço aduaneiro (artigos 591 e seguintes do RA/2009) :
registro da conclusão da conferência aduaneira, autorizando o
embarque ou a transposição de fronteira da mercadoria,
entregando ao transportador.

Procedimentos de importação e exportação – regime de tributação especial de


bagagem

1. Regime de bagagem (artigos 101 e 102 do RA/2009, Portaria MF


440/2010 e Portaria ME 15.224/2021): importação/exportação de
produtos no conceito de bagagem, sem destinação comercial. Neste caso,
o lançamento é por declaração;
a. Conceito de bagagem: bens novos ou usados que um viajante, em
compatibilidade com as circunstâncias de sua viagem, puder
destinar para seu uso ou consumo pessoal, bem como para
presentear, sempre que, pela sua quantidade, natureza ou
variedade, não permitirem presumir importação com fins comerciais
ou industriais. Bens de uso pessoal: são aqueles que a pessoa física
importadora utiliza por ocasião da viagem, sem caráter comercial –
segundo o artigo 155, IV, do RA/2009, são artigos de vestuário,
higiene e demais bens de caráter manifestamente pessoal. São os
bens permitidos:
i. Livros, folhetos e periódicos;
ii. Bens de uso ou consumo pessoal;
iii. Outros bens, observado o limite de valor global abaixo;
b. Importação: isenção de II, IPI-importação e PIS/COFINS-
importação para bagagens acompanhadas (no mesmo veículo do
transporte do passageiro) com valor de US$1.000 (via aérea e
marítima) ou US$500 (via terrestre, fluvial ou lacustre). Os outros
bens (item 3) também se submetem a limites quantitativos: 12L de
bebidas alcoólicas, 10 maços de cigarros com no máximo 20
unidades, 25 charutos ou cigarrilhas, 250 gramas de fumo – em
relação a outros bens, se tiverem valor inferior a US$10, no
máximo 20 unidades, sendo 10 idênticas; se tiverem valor superior
a US$10, no máximo 20 unidades, sendo 3 idênticas. Aparelhos
tecnológicos (relógios, câmeras, celulares, notebooks,
computadores, tablets e congêneres) só têm isenção em uma
unidade por gênero – os excedentes se limitam à cota de isenção. A
isenção do item 3 só pode ser utilizada uma vez por mês;
[continua]
c. Compras em lojas francas (free shops) se limitam a um limite
adicional de US$1.000 (via aérea e marítima) ou US$500 (via
terrestre, fluvial ou lacustre), segundo o artigo 25 da IN
2.075/2022. As lojas francas também podem entregar em
domicílio, com a comprovação do pagamento do imposto (artigo 33
da IN 2.075/2022);
d. Bagagens desacompanhadas só gozam da isenção em relação aos
itens 1 e 2 e devem chegar no território aduaneiro dentro de 3
meses anteriores até 6 meses posteriores à chegada do viajante,
devendo provir do local ou de um dos locais de estada ou de
procedência do viajante;
e. Tributação do excedente: alíquota de 50%;
f. Aplica-se o regime comum do II (Regime de Importação Comum)
quanto aos bens importados que não se enquadrem como bagagem
e que excedam os limites quantitativos (artigo 13 da Portaria MF
440/2010). Por exemplo, o excedente da bagagem (sem intuito
comercial) não declarado sujeita a multa de 50% (artigo 702, III,
“b”, do RA/2009) – esta é a multa punitiva! ainda há a multa de
ofício e a multa de mora, e se uma obrigação acessória foi
descumprida, há a multa isolada. A “bagagem” com intuito
comercial, mesmo que não excedente aos limites quantitativos e
qualitativos, está sujeita a perdimento (artigo 689, V, e artigo 690
do RA/2009);
g. Exportação: isenção de IE aos bens integrantes do conceito de
bagagem (itens 1 e 2). Quanto a outros bens, há um limite de
exportação de US$2.000 (artigo 15 da Portaria MF 440/2010).
Também se aplica o regime comum do II (Regime de Importação
Comum) quanto aos bens exportados que não se enquadrem como
bagagem e que excedam os limites quantitativos (artigo 16 da
Portaria MF 440/2010).
2. Regime de remessas internacionais (artigos 99 e 100 do RA/2009,
artigos 21 e seguintes da IN 1.737/2017 e IN 611/2006):
importação/exportação de produtos no conceito de remessas
internacionais. O produto sai do exterior, chega ao posto alfandegado com
os documentos providenciados pelo transportador, o contribuinte paga o
tributo, se for o caso, a declaração (DSI) é registrada, o controle
aduaneiro é feito e há o despacho aduaneiro;
a. Conceito de remessa internacional: a remessa postal internacional
transportada sob responsabilidade dos Correios e a remessa
expressa internacional transportada sob responsabilidade de
empresa de courier, independentemente do tratamento tributário
ou da declaração aduaneira utilizada. Na verdade, existem diversas
espécies de remessas: remessa postal internacional, remessa
expressa internacional, encomenda aérea internacional etc. Neste
caso, o importador recebe o produto em casa;
b. O despacho aduaneiro de importação e de exportação no regime de
remessas internacionais é feito pela transportadora no SISCOMEX
Remessa (artigo 12, IX, da IN 1.737/2017), responsabilizando-se
também pelas informações ao cliente sobre o estágio da sua
remessa e sobre a necessidade do pagamento dos tributos, se for o
caso. Poderá haver fiscalização não invasiva (artigo 18 da IN
1.737/2017). O despacho aduaneiro é realizado em recinto
alfandegado no qual estiver habilitada a empresa de courier ou em
recinto alfandegado dos Correios, com base nos seguintes
documentos:
i. Declaração registrada no SISCOMEX Remessa (semelhante à
Declaração de Importação);
ii. Declaração de Remessas de Exportação (DRE) ou Declaração
de Remessas de Importação (DRI);
iii. Declaração registrada no SISCOMEX Importação ou no Portal
Único de Comércio Exterior; ou
iv. Formulário de Declaração Simplificada de Importação – esta
é a forma mais usual, constante de um formulário mais
simples que a Declaração de Importação, entregue pelo
transportador à Receita Federal do Brasil, que procederá ao
controle aduaneiro com a conferência (dispensável em alguns
casos) e o desembaraço aduaneiros. Ela é instruída com: a)
via original do conhecimento de carga ou documento
equivalente, b) via original da fatura comercial, quando for o
caso, c) via original da receita médica, quando se tratar de
medicamento, d) DARF que comprove o recolhimento dos
tributos, quando for o caso, e) outros documentos exigidos
por Acordos Internacionais ou legislação específica e f) nota
fiscal de saída, quando for o caso; [continua]
c. Pessoas físicas que queiram importar bens sem intuito comercial
ou para destinar à industrialização, ressalvadas as
importações realizadas por produtor rural, artesão, artista
ou assemelhado (artigo 30 da IN 1.737/2017): limite de
US$3.000, com incidência de 60% de II e isenção de IPI-
importação e de PIS/COFINS-importação;
d. Pessoas jurídicas que queiram importar bens, sem intuito comercial
(consumo): limite de US$3.000,00, com incidência de 60% de II e
isenção de IPI-importação e de PIS/COFINS-importação;
e. Pessoas jurídicas que queiram importar bens com intuito de
revender ou destinar à industrialização: limite de US$150.000, com
incidência de 60% de II e isenção de IPI-importação e de
PIS/COFINS-importação;
f. Isenção: US$50 (artigo 2º da Portaria MF 156/1999). O artigo 2º,
II, do Decreto-Lei 1.804/1980 permite isenção de até US$100.
Mesmo assim, órgãos do Judiciário, principalmente no TRF-4, já
decidiram que o limite de isenção pode ser US$100. É consenso
que o artigo 2º da Portaria MF 156/1999 extrapolou a lei no
sentido de exigir que o remetente e o destinatário têm que
ser pessoas físicas;
g. Medicamentos importados por pessoa física para uso próprio ou
individual, desde que cumpridos todos os requisitos estabelecidos
pelos órgãos de controle administrativo: US$10.000, com isenção
total de II, IPI-importação e PIS/COFINS-importação;
h. Proibições: bebidas alcoólicas, fumo e produtos de tabacaria,
mercadorias sujeitas a licenciamento no SISCOMEX Importação
pelo Ministério da Defesa, pelo Comando do Exército ou pela Polícia
Federal, animais e vegetais da vida silvestre, diamantes, moeda
corrente, alguns bens usados ou recondicionados (artigo 39 da IN
1.737/2017);
i. Pode ser aplicado o regime de bagagem aos bens contidos em
remessa internacional quando a remessa e os bens estiverem de
acordo com os requisitos previstos na norma específica de bagagem
e desde que já não tenha ocorrido o desembaraço da declaração de
importação em outro regime (artigo 27 da IN 1.737/2017).

Critério material – II
1. Art. 153, I, da CF: “Compete à União instituir impostos sobre importação
de produtos estrangeiros”. Art. 19 do CTN: “O imposto, de
competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem
como fato gerador a entrada destes no território nacional”. Artigo 1º do
Decreto-Lei 37/1966: “O Imposto sobre a Importação incide sobre
mercadoria estrangeira e tem como fato gerador sua entrada no
Território Nacional”;
a. Entrada: ingresso físico de um produto no território nacional com o
objetivo de incorporar este produto à economia brasileira, com uso
comercial, industrial ou consumerista, excluindo-se as hipóteses de
mero trânsito, como nos casos de automóveis de turistas que
entram no Brasil e o ingresso de produto estrangeiro por porto ou
aeroporto brasileiro com destino a outro país (admissão temporária,
com suspensão do II);
b. Produtos estrangeiros: qualquer produto (mercadorias e outros
bens não destinados à revenda) cuja fabricação tenha ocorrido no
estrangeiro;
i. Também é produto estrangeiro a mercadoria nacional ou
nacionalizada exportada que retorne ao país, salvo se: a)
enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado,
b) devolvida por motivo de defeito técnico, para reparo ou
para substituição, c) por motivo de modificações na
sistemática de importação por parte do país importador, d)
por motivo de guerra ou de calamidade pública ou e) por
outros fatores alheios à vontade do exportador (artigo 70 do
RA/2009);
ii. Apesar de o artigo 1º fazer referência a “mercadoria”,
interpreta-se mais extensivamente, abarcando também
qualquer bem que não necessariamente será vendido – REsp
392/RS: “As expressões ‘mercadoria’ e ‘produto’, do contexto
do Decreto-Lei 37/66, foram utilizadas com o mesmo sentido
[...]. A importação de produtos em geral, ainda que
destinados ao ativo fixo e não ao comércio, sujeita-se ao
imposto de importação”;
iii. Incidirão nas operações internacionais com energia elétrica:
ICMS, II e IE (artigo 155, §3º, da CF);
c. Território nacional: deve ser interpretado mais restritivamente
como “território geográfico”, excluídas as ficções legais, como
representações diplomáticas no exterior, aeronaves e embarcações
brasileiras. O artigo 2º do RA/2009 fala em “território aduaneiro”,
que equivale ao território nacional, com as seguintes divisões:
i. Zona primária, constituída pelas áreas demarcadas pela
autoridade aduaneira local (área terrestre ou aquática,
contínua ou descontínua, nos portos alfandegados; área
terrestre, nos aeroportos alfandegados; área terrestre, que
compreende os pontos de fronteira alfandegados);
ii. Zona secundária: o restante do território aduaneiro, incluídas
as áreas territoriais e o espaço aéreo.

1. Incidência: entrada de qualquer produto estrangeiro no território


nacional (aduaneiro);
2. Não incidência lato sensu:
a. Imunidades: o STF tem expandido os conceitos de “patrimônio,
renda e serviços” no artigo 150, VI, da CF, dando, por exemplo,
imunidade de II e IPI-importação a entidades de assistência social
sem fins lucrativos (RE 630.790/SP – Tema 336 de Repercussão
Geral);
b. Isenções ou não incidências stricto sensu (artigo 71 do
RA/2009):
i. Não incidência stricto sensu: mercadoria estrangeira que,
corretamente descrita nos documentos de transporte, chegar
ao País por erro inequívoco ou comprovado de expedição, e
que for redestinada ou devolvida para o exterior;
ii. Não incidência stricto sensu: mercadoria estrangeira idêntica,
em igual quantidade e valor, e que se destine a reposição de
outra anteriormente importada que se tenha revelado, após o
desembaraço aduaneiro, defeituosa ou imprestável para o
fim a que se destinava, desde que observada a
regulamentação editada pelo Ministério da Fazenda;
iii. Não incidência stricto sensu: mercadoria estrangeira que
tenha sido objeto da pena de perdimento, exceto na hipótese
em que não seja localizada, tenha sido consumida ou
revendida;
iv. Não incidência stricto sensu: mercadoria estrangeira
devolvida para o exterior antes do registro da declaração de
importação, observada a regulamentação editada pelo
Ministério da Fazenda;
v. Não incidência stricto sensu: mercadoria estrangeira
destruída, sob controle aduaneiro, sem ônus para a Fazenda
Nacional, antes de desembaraçada;
vi. Isenção (revogação da suspensão): mercadoria estrangeira
em trânsito aduaneiro de passagem, acidentalmente
destruída; [continua]

2. Não incidência lato sensu:


c. Isenção: regime de ex-tarifário (Portaria ME 309/2019). Trata-se
de uma redução temporária e condicional do II sobre bens de
capital (BK) ou bens de informática e de telecomunicações (BIT),
assim como suas partes, peças e componentes, quando
comprovado que não há produção nacional equivalente, devendo
estar assinalados na tabela da Tarifa Externa Comum (TEC), isto é,
deve ter uma NCM, ainda que sob a forma de combinação de
máquinas ou unidade funcional (como linhas de montagem). Neste
caso, o contribuinte pede à SECEX o deferimento do ex-tarifário de
II para um determinado produto ou um conjunto de produtos,
devendo cada pedido atender aos requisitos do artigo 3º. O ex-
tarifário pode ser renovado dentro do período de vigência (com
antecedência máxima de 180 dias do seu vencimento) ou, se já
expirados, até 2 anos após o fim da vigência. O ex-tarifário pode
ser revogado por demanda ou iniciativa governamental por
existência de produção nacional equivalente. Os pedidos de ex-
tarifários serão disponibilizados em consultas públicas, sem
indicação do autor do ex-tarifário, porque o benefício pertence à
NCM. Pode haver contestações aos pedidos, que podem ser
respondidas pelos pleiteantes. Concedido o ex-tarifário, poderá
haver a importação com a redução do imposto. Os ex-tarifários
deferidos também constarão de uma lista pública;
d. Suspensão: drawback, trânsito aduaneiro e Regime de Admissão
Temporária;
i. Drawback (artigo 383 a 403 do RA/2008): suspensão ou
isenção dos tributos incidentes nas importações e aquisições
no mercado interno de mercadorias utilizadas em produto
exportado ou a exportar (só pode ser utilizado por empresas
exportadoras e não optantes do Simples Nacional), devendo
comprovar a regularidade fiscal. Serve para que as empresas
nacionais consolidem melhor o mercado consumidor no
estrangeiro. A empresa se submete à fiscalização da Receita
Federal do Brasil e da SECEX. Se a empresa não cumprir os
requisitos, deverá recolher todos os tributos;
1) Drawback suspensão: a empresa pede a suspensão
dos tributos (II, IPI-importação, PIS/COFINS-
importação, ICMS-importação, Taxa AFRMM) antes ou
depois das mercadorias serem desembaraçadas (antes
da industrialização) condicionada à posterior
exportação – pode ser perigoso porque nesse meio
tempo da industrialização, exportar pode ficar
desvantajoso. Drawback isenção: a empresa que
comprovar ter importado mercadorias com o regular
pagamento de tributos e ter exportado mercadorias
industrializadas tem o direito de repor o estoque com
isenção de tributos incidentes na importação (II, IPI-
importação, PIS/COFINS-importação, ICMS-
importação, Taxa AFRMM). Drawback restituição: a
empresa que comprovar ter importado mercadorias
com o regular pagamento de tributos e ter
industrializado mercadorias exportadas pode pedir a
restituição dos tributos incidentes na importação (em
desuso em razão do caráter descontínuo do benefício);
[continua]
e. Suspensão: drawback, trânsito aduaneiro e Regime de Admissão
Temporária;
i. Trânsito aduaneiro (artigos 315 e seguintes do RA/2009):
permite o trânsito de um ponto a outro do território
aduaneiro, com suspensão do pagamento de tributos, desde
que a carga não tenha sinal de avaria, perda de peso etc. A
declaração de trânsito (DTA) ampara a carga;
ii. Regime de Admissão Temporária (artigos 353 e seguintes do
RA/2009): permite a importação de bens que devam
permanecer no País durante prazo fixado, com suspensão
total do pagamento de tributos, ou com suspensão parcial,
no caso de utilização econômica. O importador deve cumprir
um termo de responsabilidade e oferecer garantia das
obrigações fiscais. Só bens relacionados pela Receita Federal
do Brasil podem ser objeto deste regime. O prazo, sem
utilização econômica, é fixado pela autoridade aduaneira
(não pode ser prorrogado); se tiver, também é fixado, não
podendo ultrapassar 100 meses. No caso de não utilização
econômica, há suspensão dos tributos incidentes na
importação; no caso de utilização econômica, há pagamento
proporcional ao tempo que o bem ficará no Brasil;
f. Isenção (alíquota zero): qualquer hipótese de produto tributado
à alíquota zero.

Critério material – IE

1. Art. 153, II, da CF: “Compete à União instituir impostos sobre


exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou
nacionalizados”. Art. 19 do CTN e artigo 1º do Decreto-Lei 37/1966: “O
imposto, de competência da União, sobre a exportação, para o
estrangeiro, de produtos nacionais ou nacionalizados tem como fato
gerador a saída destes do território nacional”;
a. Saída: saída física de um produto do território nacional com caráter
de definitividade, para também incorporá-lo à economia de um país
estrangeiro;
b. Produtos nacionais ou nacionalizados: produtos nacionais são os
produzidos em território nacional; produtos nacionalizados são os
produzidos em território estrangeiro e nacionalizados no Brasil
mediante importação (desembaraço);
c. Exterior: conceito, por exclusão, de “território nacional”. A
legislação infraconstitucional que faz referência à ZFM (artigo 4º do
Decreto-Lei 288/1967) não foi recepcionada pela Constituição
Federal de 1988;
2. Incidência: saída de qualquer produto nacional ou nacionalizado do
território nacional (aduaneiro);
3. Não incidência lato sensu:
a. Imunidades: específicas sobre o IE, não existem, então
permanece sendo uma barreira alfandegária ativa e patrimonial,
mesmo que muito residual. Outros tributos que, em tese,
incidiriam na venda de produtos ao estrangeiro, têm imunidades
específicas, como é o caso do IPI (artigo 153, §3º, III, da CF) e do
ICMS (artigo 155, §2º, X, “a”, da CF);
b. Não incidência strcto sensu:
i. Isenção (artigos 218 e seguintes do RA/2009): café,
produção de excedentes do setor sucroalcooleiro (açúcar,
álcool, mel), bagagem e o comércio de subsistência nas
cidades situadas nas fronteiras terrestres;
ii. Isenção (alíquota zero): qualquer hipótese de produto
tributado à alíquota zero.

Critério espacial – II e IE

1. O fato gerador ocorre no território nacional, como consectário do critério


material, excluídas as representações diplomáticas no exterior, as
aeronaves e as embarcações brasileiras. Trata-se do território aduaneiro,
devendo as operações de importação e de exportação passar pela zona
primária para o controle e a fiscalização da Administração Tributária.

Critério temporal – II e IE

1. Como os dois impostos são lançáveis por homologação, dependem de


uma providência muito importante para o Fisco: que o contribuinte
declare e pague o tributo. Este evento é a Declaração de Importação
ou a Declaração de Exportação. Nos artigos 213 do RA/2009 e 23 do
Decreto-Lei 37/1966, fica claro que o critério temporal é a data do
protocolo da declaração no SISCOMEX;
2. Na importação, se o contribuinte tiver pedido prévio de ex-tarifário e se
ele tiver protocolado a declaração no SISCOMEX, o contribuinte poderá ter
direito ao benefício (REsp 1.664.778/PR);
3. O roubo ou a avaria ocorrido posteriormente, por ocasião do seu
transporte interno, não torna indevido o tributo (REsp 1.172.027/RJ e
MAS 2000.70.03.003696-5/PR, TRF-4, 1ª Turma).
4. Leandro Paulsen: “O recolhimento do Imposto sobre a Importação,
através do SISCOMEX, constitui ato contínuo ao registro da declaração de
importação, ocorrendo eletronicamente, on-line, mediante débito na conta
do importador. Isso porque o Regulamento Aduaneiro (Decreto
6.759/2009), em seu art. 107, determina que o imposto será pago na
data do registro da declaração de importação. Aliás, o pagamento do
Imposto sobre a Importação, assim como o do Imposto sobre Produtos
Industrializados e do ICMS, é condição para o desembaraço aduaneiro do
produto, sem que, com isso, haja qualquer ofensa à Súmula 323 do STF.
De fato, sendo tais tributos devidos por força da própria operação de
importação, a exigência do seu pagamento para a liberação do produto
não é descabida nem configura meio impróprio para a satisfação do
crédito tributário. Portanto, não se cuida de constrangimento passível de
ser encarado como ‘sanção política’”. Vide AGRAG 186.759 e o RE
1.090.591/SC (Tema de Repercussão Geral 1042), neste último caso,
havendo subfaturamento da importadora para se furtar ao pagamento
maior dos tributos, o que levou ao arbitramento do valor da operação pela
autoridade aduaneira;
5. Não é sanção política a retenção da mercadoria para o pagamento dos
tributos incidentes na importação porque se trata do procedimento legal
do desembaraço aduaneiro.

Critério pessoal – II

1. O sujeito ativo é a União. O sujeito passivo é definido nas seguintes


hipóteses:
a. O importador ou equiparado (qualquer pessoa física ou jurídica,
inclusive quando a importação for irregular) – artigo 22, I, do CTN e
artigo 31, I, do Decreto-Lei 37/1966;
b. O arrematante de produtos apreendidos ou abandonados – artigo
22, II, do CTN. Leandro Paulsen: “Mas o legislador ordinário
não exerceu a prerrogativa de obrigar o arrematante como
contribuinte. Isso poderia se dar no caso de, ao bem importado
irregularmente, ser aplicada pena de perdimento em razão de
contrabando ou de descaminho ou, ainda, de simples abandono do
produto cujo desembaraço não foi providenciado no prazo legal, e
restar arrematado em leilão”. Nestes casos, o produto sofre perda
de perdimento e vira do Estado, mas não perde a condição de
produto estrangeiro, uma vez que não houve o desembaraço
aduaneiro. Quando alguém arremata em leilão, ele pode ser
desembaraçado, motivo pelo qual o arrematante em leilão é, na
verdade, um importador, depois que promove o desembaraço
aduaneiro com o pagamento do tributo. Assim, ele é um
importador, para fins do artigo 22, I, do CTN;
c. O destinatário de remessa postal internacional indicado pelo
respectivo remetente (artigo 31, II, do Decreto-Lei 37/1966). Assim
como com o arrematante, o destinatário de remessa postal
internacional é um importador, para fins do artigo 22, I, do CTN :
d. O adquirente de mercadoria entrepostada (artigo 31, III, do
Decreto-Lei). O regime de entreposto aduaneiro (artigo 404 do
RA/2009) permite a permanência de produtos em recintos
alfandegados com suspensão dos tributos incidentes na importação.
Assim como o arrematante, o adquirente de mercadoria
entrepostada também é um importador, para fins do artigo 22, I,
do CTN;
2. São responsáveis os do artigo 32 do Decreto-Lei 37/1966, com outras
instituições de responsabilidade solidária:
a. O transportador, quando transportar mercadoria procedente do
exterior ou sob controle aduaneiro, inclusive em percurso interno –
mas o roubo ou motivo de força maior (dano ou avaria) são fatos
hábeis a desonerar o transportador da responsabilidade (REsp
1.172.027/RJ). Se houver extravio (falta de diligência do
importador) da mercadoria pelo transportador antes de chegar ao
Brasil, e se ela for isenta, o transportador não responde; se a
mercadoria fosse tributada com redução, o transportador
responderá pela quantidade de imposto que incidiria nesta operação
(REsp 1.090.518/RJ);
b. O depositário, assim considerada qualquer pessoa incumbida da
custódia de mercadoria sob controle aduaneiro.

Critério pessoal – IE

1. O sujeito ativo é a União. O sujeito passivo é o exportador, assim


entendido qualquer pessoa que promova a saída do produto do território
nacional, ou quem a lei a ele equiparar (artigo 27 do CTN, artigo 5º do
Decreto-Lei 1.578/1977 e artigo 217 do RA/2009). Não há hipóteses de
responsabilidade.

Critério quantitativo – II

1. A base de cálculo é definida pelo artigo 20 do CTN:


a. Quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada
pela lei tributária;
b. Quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto,
ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda
em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar
de entrada do produto no País;
c. Quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a
leilão, o preço da arrematação – leilão administrativo, não judicial!
Em leilão judicial, é o preço da arrematação (REsp 1.089.289/ES –
regime de entreposto aduaneiro);
2. Segundo o artigo 2º do Decreto-Lei 37/1966 e o artigo 75 do RA/2009, a
base de cálculo se chama, no caso do artigo 20, I, do CTN, a quantidade
de mercadoria expressa na unidade de medida estabelecida; no caso do
artigo 20, II, do CTN, o valor aduaneiro;
3. O valor aduaneiro é determinado segundo as normas do artigo 7º do
General Agreement on Trades and Tarrifs (GATT), internalizado pelo
Decreto 92.930/1986: em regra, segue-se a soma dos valores indicados
nos documentos fiscais que acompanham a carga – valor da mercadoria,
frete e seguro (preço “CIF”). Quando os valores estão muito distantes da
realidade (muito abaixo do comumente praticado no mercado) ou quando
os documentos comprobatórios da Declaração de Importação não
estiverem em boa ordem e conservação (artigo 86 da MP 2.158-35), a
autoridade aduaneira se valerá do GATT para arbitrar o valor aduaneiro.
4. São os critérios para a valoração, nos artigos 1º a 6º do GATT:
a. O valor da transação (preço CIF, tarifas aduaneiras e elementos
incorporados ao valor da transação);
b. O valor de mercadorias idênticas;
c. O valor de mercadorias similares (geralmente com artigos muito
customizados);
d. O valor dedutivo – método de decomposição do valor de revenda
(composição de custos de quem irá revender, o importador);
e. O valor computado ou verificação do custo ou valor de insumos e
de fabricação (composição de custos de quem fabricou o produto,
no país exportador, reconstruindo todo o processo de fabricação);
f. Por fim, o valor com base em critérios razoáveis ou métodos
residuais;
5. As alíquotas são estabelecidas pela Tarifa Externa Comum do Mercosul
(TEC) segundo a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) do produto,
podendo cada país estabelecer uma Lista de Exceções à TEC conforme
autorização do Conselho do Mercado Comum, geralmente quando houver
desabastecimento ou em casos de ex-tarifário. Entre países do Mercosul,
as alíquotas são zeradas para todos os produtos, salvo as exceções
internas;
6. As alíquotas podem ser reduzidas e restabelecidas até o limite legal
(artigo 153, §1º, da CF e artigo 1º do Decreto-Lei 2.162/1984): 60% para
as operações em geral;
7. A tarifa antidumping será cobrada para neutralizar os efeitos do dumping:
introdução de um bem no mercado doméstico, inclusive sob as
modalidades de drawback, a preço de exportação inferior ao preço
efetivamente praticado para o produto similar nas operações mercantis
normais, que o destinem a consumo interno no país exportador (artigos
784, I, e seguintes, do RA/2009). Há divergência sobre a sua natureza:
adicional de II, tarifa (decorrente do poder de polícia insculpido no artigo
174 da CF) ou sanção pecuniária (multa).
Critério quantitativo – IE

1. A base de cálculo é aquela do art. 24 do CTN: “A base de cálculo do


imposto é: I – quando a alíquota seja específica, a unidade de medida
adotada pela lei tributária; II – quando a alíquota seja ad valorem, o
preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da
exportação, em uma venda em condições de livre concorrência. [...]”;
2. Art. 2º, §1º, do Decreto-lei 1.578/1977: o preço à vista do produto, FOB
ou posto na fronteira é indicativo do preço normal – FOB designa a
cláusula padrão no comércio internacional em que as obrigações do
vendedor se encerram quando a mercadoria está a bordo da embarcação.
Quando o preço for de difícil apuração ou for suscetível de oscilações
bruscas no mercado, o Poder Executivo, por meio do Conselho Monetário
Nacional, fixará critérios específicos ou estabelecerá pauta de valor
mínimo para apuração de base de cálculo (art. 2º, §2º, do Decreto-lei
1.578/1977). Para efeito de determinação da base de cálculo do
imposto, o preço de venda das mercadorias exportadas não poderá
ser inferior ao seu custo de aquisição ou produção, acrescido dos
impostos e das contribuições incidentes e de margem de lucro de
15% sobre a soma dos custos, mais impostos e contribuições (art.
2º, §3º, do Decreto-lei 1.578/1977);
3. As alíquotas podem ser alteradas por meio de decreto livremente, até o
limite legal (artigo 153, §1º, da CF);
4. A alíquota está fixada no art. 3º do Decreto-lei 1.578/1977, em 30%,
reduzível, restabelecível e majorável pelo Poder Executivo diretamente
(artigo 153, §1º, da CF). Se houver elevação, ela não pode exceder o
quíntuplo (artigo 3º, § único, do Decreto-Lei 1.578/1977). A maioria dos
produtos está com a alíquota zerada, salvo armas e castanhas, por
exemplo.

Obrigações acessórias

1. No Regime Comum de Importação, o Registro de Exportadores e


de Importadores (REI): cadastro básico para realizar uma importação
ou exportação. Dá-se com a primeira operação no SISCOMEX, ao informar
o CGC/CNPJ ou o CPF;
2. Registro no SISCOMEX e uso do Radar conforme as normas;
3. Na importação: Licença de Importação (só para os produtos que
precisam) e Declaração de Importação (para o controle administrativo
e aduaneiro). A Declaração Única de Importação está em vias de se tornar
obrigatória;
4. Na exportação: Declaração Única de Exportação (substitui a
Declaração de Exportação e o Registro de Exportação, para o controle
aduaneiro e administrativo);
5. Tolerar a fiscalização.

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