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Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Processual Contemporâneo

PROCESSO TRIBUTÁRIO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL

Professor: Aloísio Lopes Júnior


Alunos: Bianca Ribeiro Rufino de Souza, Carlos Eduardo Aporcino, Fernanda
Barbosa Garcia da Cruz, Pedro Augusto Gomes e Víctor de Barros

Estudo de Caso

Por meio do regular exercício do poder de fiscalização, a sociedade


empresária Alpha Importação e Exportação S/A, foi autuada pelo
descumprimento de obrigação principal tributária, qual seja, o regular
recolhimento, trimestral, por meio de retenção, do Imposto de renda de pessoa
jurídica dos valores pagos a sociedade empresária Delta Softwares de Gestão
Sociedade Anônima, situada em Lisboa/Portugal. A relação comercial
formalizada pelas partes tinha como seu objeto a locação, sem transferência de
tecnologia, de sistema de gestão e navegação de aeronaves.

Diante do quadro apresentado elabore, parecer técnico, apontando o


tipo de ação tributária a ser promovida, seus fundamentos e procedimentos.

Parecer

O Tipo de ação tributária a ser promovida é uma “Ação anulatória de


lançamento tributário c/c pedido de suspensão de exigibilidade do crédito
tributário”, por força do art. 38 lei nº 6.830/1980, isto porque o objeto da
autuação é o auferimento de valores decorrentes da prestação de serviços de
locação, sem transferência de tecnologia, de sistema de gestão e navegação
de aeronaves da empresa Delta Softwares de Gestão Sociedade Anônima para
a sociedade empresária Alpha Importação e Exportação S/A, que em tese
deveria ter sido declarado no regular recolhimento, trimestral do Imposto de
renda.
A controvérsia que deverá ser levada para análise do poder judiciário
repousa na fixação na capacidade tributária de recolhimento do Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), com previsão no artigo 156, inciso III
da Constituição da República Federativa do Brasil e Lei Complementar n.º
116/03, bem como em especial o local do recolhimento do ISSQN.
Inicialmente pontua-se que a relação comercial em tela aparenta se
tratar de um contrato de arrendamento mercantil. O chamado leasing
operacional é aquele no qual o arrendatário não tem intenção de comprar o
bem ao final do contrato, preferindo prorrogar o contrato ou devolver os
equipamentos. Tal espécie contratual assegura uma infraestrutura de TI
sempre moderna e em bom estado, evitando a obsolescência dos
equipamentos.
Nos contratos de leasing incide os impostos sobre serviços – ISSQN,
conforme item 15.09 da Lei Complementar 116/03, nesse mesmo sentido a
Súmula 138 do STJ afirma que incide ISSQN nas operações de arrendamento
mercantil de coisas móveis.
O artigo 24, inciso I, Parágrafo 1º c/c artigo 30, inciso I da Constituição
da República Federativa do Brasil, estabelece regras de fixação de capacidade
tributária em todo o territorial nacional, por meio da Lei Complementar n.º
116/03, que estabelece rol taxativo de hipóteses em que o local da situação da
empresa será determinante para fixação da regra de recolhimento tributário.
Esta citada regra encontra amparo nos arts. 3º e 4º da Lei
Complementar n.º 116/03, que tem por escopo unificar os critérios de fixação
do direito a percepção dos recursos provenientes da arrecadação tributária,
evitando, desta forma, a ocorrência de Bitributação ou, até, de insegurança
jurídica no desenvolvimento da atividade econômica.
Sobre o ISSQN, sigla para: Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza
(ou ISS), merece destaque, segundo Eduardo Sabbag 1, o fato de que é um
tributo que veio substituir o mais que secular “Imposto sobre indústrias e

1
SABBAG, Eduardo de Moraes. Manual de Direito Tributário. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 1.
1469p.
profissões” (IIP), inicialmente estadual (a partir da Proclamação da República)
e, após a Constituição Federal de 1946, um imposto municipal. Trata-se de
“vinho velho em pipa nova”.
O atual art. 156, III, da Carta Magna de 1988 estabelece ser de
competência dos municípios a instituição do ISS.
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos
sobre:
(...) III – serviços de qualquer natureza, não
compreendidos no art. 155, II, definidos em lei
complementar (...).
Na mesma esteira, segundo Hugo de Brito Machado Segundo 2, a
referência ao art. 155, II, significa que o ISS incide sobre todos os serviços que
venham a ser definidos em lei complementar, excepcionados aqueles serviços
já tributados pelo ICMS, que são os de transporte interestadual e intermunicipal
e de comunicações.
Excetuados esses, todos os demais, desde que definidos em lista
constante de lei complementar federal, podem ser tributados pelos Municípios.
Atualmente, essa lista está anexa à LC nº 116/2003, e a jurisprudência
considera que um serviço que não esteja nela previsto não pode ser tributado
pelos Municípios (a lista é taxativa)
Assim sendo, caberá aos Municípios, mediante a edição de uma lei
ordinária, a instituição do ISS, porém sua estrutura normativa está disciplinada
em legislação complementar federal de âmbito nacional, a atual LC n.
116/2003, o que nos faz concluir que a competência tributária para a sua
instituição é “limitada”3
A base de cálculo do ISS é, em regra, o valor do serviço e
ordinariamente o ISS é submetido a lançamento por homologação. O próprio
sujeito passivo apura e paga o montante considerado devido, aguardando
posteriormente pela homologação da autoridade competente.
O contribuinte do imposto é o prestador do serviço (LC nº 116/2003, art.
5º). Para evitar conflitos de competência entre Municípios, a LC nº 116/2003

2
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de Direito Tributário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
v. 1. 443p.
3
SABBAG, Eduardo de Moraes. Manual de Direito Tributário. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 1.
1469p.
dispõe que o fato gerador do ISS se considera ocorrido no local onde o
prestador do serviço possui estabelecimento, ou, na falta deste, onde possui
seu domicílio (art. 3º).
Hugo de Brito Machado4 explica ainda que:
O art. 4º da LC nº 116/2003 dispõe que se deve
considerar estabelecimento prestador o local onde o
contribuinte desenvolva a atividade de prestar
serviços, de modo permanente ou temporário, e que
configure unidade econômica ou profissional, sendo
irrelevantes para caracterizá-lo as denominações de
sede, filial, agência, posto de atendimento, sucursal,
escritório de representação ou contrato ou
quaisquer outras que venham a ser utilizadas. Em
outros termos, não importa em qual Município está,
“no papel”, localizada a sede da empresa: relevante
será a localização da unidade econômica – seja que
nome tiver – à qual se pode imputar a realização do
serviço. Será ao Município onde essa “unidade
profissional ou econômica” estiver situada que o ISS
será devido.
Neste sentido o Superior Tribunal de Justiça, por meio do julgamento do
RESP n.º 1.439.753-PE, já fixou o entendimento, a saber:
TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ISS.
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS. COLETA DE
MATERIAL. UNIDADES DIVERSAS. LOCAL DO
ESTABELECIMENTO PRESTADOR. RECURSO
ESPECIAL CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. Discussão
a respeito da definição do sujeito ativo do ISS quando a
coleta do material biológico dá-se em unidade do
laboratório estabelecida em município distinto daquele
onde ocorre a efetiva análise clínica. (...) 4. O ISS recai
sobre a prestação de serviços de qualquer natureza

4
MACHADO SEGUNDO, Hugo de brito. Manual de Direito Tributário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
v. 1. 445p.
realizada de forma onerosa a terceiros. Se o
contribuinte colhe material do cliente em unidade
situada em determinado município e realiza a análise
clínica em outro, o ISS é devido ao primeiro
município, em que estabelecida a relação jurídico-
tributária, e incide sobre a totalidade do preço do
serviço pago, não havendo falar em fracionamento, à
míngua da impossibilidade técnica de se dividir ou
decompor o fato imponível. 5. A remessa do material
biológico entre unidades do mesmo contribuinte não
constitui fato gerador do tributo, à míngua de relação
jurídicotributária com terceiros ou onerosidade. A hipótese
se assemelha, no que lhe for cabível, ao enunciado da
Súmula 166/STJ, verbis: "Não constitui fato gerador do
ICMS o simples deslocamento de mercadoria de uma
para outro estabelecimento do mesmo contribuinte"
(REsp 1.439.753-PE, rel. min. Arnaldo Esteves Lima, rel.
para acórdão min. Benedito Gonçalves, julgado em
6/11/2014, DJe 12/12/2014).

Assim, da leitura do julgado verifica-se que o entendimento pacífico dos


tribunais superiores é que para haver a correta tributação deve-se considerar
além das características do contrato o local onde efetivamente foi prestado o
serviço, ou seja, o ISSQN deverá ser aplicado no local em que o serviço
tributado realizar-se efetivamente, a partir das condições necessária e
suficientes à sua ocorrência, conforme dicção do artigo 114 do CTN.
Nesse sentido, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça, nos autos do
Resp. n.º 1.060.210/SC, pacificou o entendimento de que, em regra, o
recolhimento tributário relacionado ao ISSQN será devido no local de efetiva
prestação do serviço e não onde se encontra edificada sua sede física, senão
vejamos:
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO
INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. ISS.
COMPETÊNCIA PARA O RECOLHIMENTO DO
TRIBUTO. ART. 3º. DA LC 116/2003. LOCAL DA
EFETIVA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESP
1.060.210/SC, REL. MIN. NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, DJE 5.3.2013, REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA. A ALTERAÇÃO DO JULGADO
QUANTO À ANÁLISE DO LOCAL EM QUE FORAM
PRESTADOS OS SERVIÇOS IMPLICA O
REVOLVIMENTO DE PROVAS, PROVIDÊNCIA VEDADA
EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO INTERNO DA
INSTITUIÇÃO BANCÁRIA A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. A solução adotada na decisão
vergastada se amolda à jurisprudência deste Tribunal
de que a competência tributária ativa para a cobrança
do ISSQN, no sistema da Lei Complementar 116/2003,
recai, em regra, sobre o Município em que é
efetivamente realizado o serviço, e não sobre aquele
em que formalmente estabelecida a sede da
prestadora (REsp. 1.060.210/SC, Rel. Min. NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, submetido ao rito dos recursos
repetitivos, nos termos do art. 543-C do CPC/1973). 2.
Concluindo a Corte a quo que os serviços foram
prestados no Município de Paranavaí/PR, alterar tal
conclusão significa adentrar no contexto fático-probatório
dos autos, o que é vedado em Recurso Especial.3.
Agravo Interno da Instituição Bancária a que se nega
provimento. (AgInt no REsp 1794623/PR, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 28/09/2020, DJe 01/10/2020).

Entretanto, considerando que a relação comercial estabelecida entre as


duas empresas se dá entre Estados diferentes, Brasil e Portugal, e
considerando a existência do Decreto nº 4.012/2001 que Promulga a
Convenção entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa
Destinada a Evitar a Dupla Tributação e a Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria
de Impostos sobre o Rendimento, o regramento que irá reger tal relação é
aquele disposto no art. 7º, item 1, do mencionado.
Dessa forma, depreende-se que os lucros da empresa Delta (contratada)
referentes a prestação de serviços para a empresa Alfa (contratante) serão
feitos em Portugal, pois aquela exerce a sua atividade no outro Estado
Contratante por meio de um estabelecimento estável lá situado, sob pena de
bitributação. Considerando que a empresa exerce a sua atividade deste modo,
os seus lucros podem ser tributados em Portugal, caso seja imputável a esse
estabelecimento estável declarar para o fisco a origem dos valores recebidos.

Da Bitributação e a Ocorrência desta em Operações Internacionais:

O presente caso nos traz a necessidade de falar sobre a bitributação


que é um termo que se refere à condição em que um contribuinte é tributado de
forma duplicada. Isto é, quando dois Direitos Públicos (União, estados ou
municípios) cobram a mesma pessoa física ou jurídica o mesmo imposto.
Segundo a Constituição Federal, a bitributação é uma prática ilegal,
exceto em duas situações específicas: caso iminente de guerra e bitributação
internacional. Na situação de guerra externa, a legislação permite que o
Governo Federal institua impostos extraordinários.
Na bitributação internacional, esse imposto duplicado ocorre quando
dois países cobram os mesmos impostos sobre uma operação ou atividade,
como fonte de renda, lucros, royalties, dividendos e outros casos específicos.
Por isso, quem realiza operações internacionais precisa ficar atento à
legislação do país em questão para não correr o risco de ficar em dívida ou o
inverso: pagar mais do que deveria. Para não acabar pagando dobrado, é
importante entender a chamada soberania das nações.
Internamente, existe uma hierarquia entre os entes dos países, mas de
um país para outro não há, exceto se houver um acordo específico entre as
nações. Portanto, cada país tem a autonomia de cobrar os impostos que lhes
são de direito.
Se internamente no país acontece a cobrança duplicada, significa que
há conflitos na aplicação dos tributos e um ente está invadindo a competência
tributária do outro, o que é um erro de administração e não do contribuinte.
Na bitributação internacional, considera-se legal o imposto sobre juros,
lucros, royalties e serviços como remessas internacionais. Por isso, pode ser
necessário pagar a bitributação em operações como repatriação de
investimentos e remessas de capital vindas do exterior.
Nesses casos, alguns países estabelecem acordos bilaterais para
chegar a um acordo de taxas reduzidas, para melhorar a relação internacional
e comércio exterior. O Brasil possui uma lista de países no qual apresenta
acordo internacional para minimizar a bitributação. Até o ano de 2016, o país
apresenta cerca de 32 acordos internacionais com o intuito de reduzir essas
tributações. De modo geral, existem várias formas de tornar o custo de
transferências e operações internacionais mais econômicas.
Para fim de conhecimento, os primeiros tratados para evitar dupla
tributação internacional datam ainda do século XIX 5; mas foi com o fim da I
Guerra Mundial e a expansão das relações comerciais entre os Estados que
esses acordos ganharam maior força, estando atualmente situados no centro
temático dos tratados internacionais celebrados em matéria tributária, em
função do amplo desenvolvimento das atividades econômicas internacionais6.
No entanto, os objetivos perseguidos com a celebração de tais
convenções também foram se ampliando: se inicialmente restringiam-se
apenas a fomentar o empreendedorismo transfronteiras (eliminando,
delimitando ou reduzindo as atividades fiscais que poderiam atuar como
empecilho aos investimentos internacionais), passaram também a focar em
outros pontos estratégicos, como a possibilidade de troca de informações entre
os Estados (importante instrumento para evitar as evasões fiscais) e a
transferência de know how, por exemplo.
Pode-se conceituar, pois, os tratados para evitar bitributação como
acordos formais, celebrados por escrito entre pessoas jurídicas de direito
internacional público, atinentes à matéria tributária, com objetivo de evitar que,
5
As primeiras convenções sobre o tema seria a celebrada entre a Prússia e a Saxônia (1869), a celebrada
entre a Áustria e a Hungria (1869) e a celebrada entre a Áustria e a Prússia (1899).
6
Conforme dados da Receita Federal, o primeiro tratado assinado pelo Brasil para evitar ou diminuir
dupla tributação data de 1967 – trata-se de acordo com o Japão relativo à matéria de impostos sobre
rendimentos; os mais recentes acordos sobre o tema referem-se ao imposto de renda e datam de 2006
(acordo celebrado em Lima, com o Governo da República do Peru), 2008 (acordo celebrado em Brasília,
com o Governo da República de Trinidad e Tobago) e 2010 (acordo celebrado em Foz do Iguaçu, com o
Governo da República da Turquia). Disponível em
<http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/acordosinternacionais/acordosduplatrib.htm>. Acesso em:
10 jun 2023.
sobre um mesmo contribuinte, com base em um mesmo fato gerador ocorrido
em determinado período de tempo, recaia dupla tributação em razão do
exercício de soberania tributária por cada um dos Estados contratantes.
Nesses acordos – frequentemente bilaterais, especialmente em virtude
da dificuldade de se conciliar os interesses de vários países –, os Estados
fazem concessões mútuas restringindo seu poder de tributar. Busca-se, assim,
em primeiro lugar, fomentar o comércio internacional, eliminado barreiras que
poderiam desestimular o investimento e a aferição de rendas além fronteiras.
Mas, como ressaltando, podem existir ainda outras pretensões em jogo, como:
o estabelecimento de cooperação entre as administrações tributárias, visando
especialmente o combate à evasão e a elisão fiscal (cite-se o problema dos
paraísos fiscais e dos países com sistemas fiscais favorecidos), inclusive com a
estipulação de trocas de informações entre os signatários; a proteção dos
contribuintes, proporcionando-lhes segurança jurídica em operações que
extravasam as fronteiras; o aniquilamento de discriminação contra estrangeiros
não residentes; e, uniformizado o regime de tributação entre os dois países, a
estipulação de procedimento amigável para a solução de eventuais
controvérsias 7– não é incomum que os acordos busquem abarcar todos esses
aspectos.
Tudo isso – bem como as consequências da bitributação, já expostas
anteriormente –, deve ser considerado quando da celebração de um tratado
para evitar dupla tributação. Deve-se atentar para o fato de que a celebração
desse tipo de tratado impõe, quase necessariamente, a renúncia fiscal por um
dos Estados contratantes – desta forma, a assinatura de um acordo desse
deve ter em conta também esses outros objetivos a serem alcançados, bem
definidos e que compensem essa perda, especialmente quando um dos
Estados contratantes é um país em desenvolvimento que, a priori, não pode
prescindir dessa receita fiscal.
Antônio de Moura Borges destaca que os objetivo de prevenção,
mitigação ou eliminação da bitributação pelos tratados internacionais pode ser
atingido pela adoção de duas regras diferentes: (i) a tributação de
determinadas categorias de rendimentos fica exclusivamente atribuída a cada
7
(Possíveis soluções para o problema da dupla tributação internacional. In Revista Fórum de Direito
Tributário. Belo Horizonte, n. 27, ano 5, Maio / Junho 2007. Disponível em:
<http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=40966>. Acesso em 10 jun. 2023).
um dos Estados; (ii) delimitam-se categorias de rendimentos que podem ser
tributadas tanto pelo Estado da residência quanto pelo Estado da fonte a
atribui-se a um desses Estados o dever de eliminar ou atenuar a dupla
tributação utilizando, em regra, o método da isenção, o método da imputação
(mais comum) ou uma combinação entre os dois métodos.8
Acerca da forma dos acordos em questão, há dois modelos principais de
convenções para evitar a dupla tributação: o modelo elaborado pela OCDE
(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e o elaborado
pelas Nações Unidas.
A Convenção Modelo da OCDE (versão inicial de 1963 e posteriores
revisões) constitui exemplo de soft law (sua adoção não é obrigatória), mas não
se nega o reconhecimento mundial de seu conteúdo e sua incorporação na
maioria das convenções bilaterais para evitar dupla tributação. Os comentários
elaborados às suas normas servem de guia comumente aceito para
negociação, aplicação e interpretação dos acordos ou convenções sobre dupla
tributação. Mas, ressalte-se que, embora o Brasil venha adotando
frequentemente o modelo da OCDE, o país não é membro daquela
organização, razão pela qual a força interpretativa dos comentários é bastante
tênue, não tendo, nos tribunais brasileiros, valor muito superior ao da doutrina
em geral9.
A Convenção modelo da ONU, publicada em 1980, foi resultado de mais
de 10 anos de trabalhos do Grupo de Peritos criado em 1967 10. Pretendeu-se
elaborar um modelo que servisse de contraponto ao modelo de Convenção da
OCDE, que havia sido desenvolvido para um contexto de aplicação que
envolvia, regra geral, apenas países desenvolvidos. Assim, norteou (ou deveria
ter norteado) a elaboração do modelo de convenção das Nações Unidas o
objetivo de salvaguardar os interesses de arrecadação tanto dos países
desenvolvidos quanto dos países subdesenvolvidos.
8
BORGES, Antônio de Moura. Considerações Sobre a Dupla Tributação Internacional. Jus Navigandi,
Teresina, ano 6, n. 51, 1 out. 2001. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/2088>. Acesso em: 10 jun
2023.
9
PAULSEN, Leandro. Direito tributário: constituição e código tributário à luz da doutrina e da
jurisprudência. 11ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora; ESMAFE, 2009, p. 763.
10
A Resolução n° 1237 do Conselho Econômico e Social determinou a criação do Grupo Ad Hoc de
Peritos em Tratados Internacionais entre Países Desenvolvidos e em Desenvolvimento, cujo objetivo era
promover e facilitar a elaboração de acordos aceitáveis por ambas as partes, já que o modelo de
convenção da OCDE havia sido elaborado considerando o contexto de acordos entre países
desenvolvidos.
A ideia seria privilegiar o princípio da territorialidade, garantindo uma
maior alocação de tributos nos países em desenvolvimento. No entanto, Márcio
Ladeira Ávila destaca que o modelo em análise não tem produzido o impacto a
que se propôs, especialmente porque várias de suas disposições foram
baseadas na convenção modelo da OCDE (ideia prevalecente de neutralidade
tributária, relegando-se a segundo plano, por exemplo, a possibilidade de atrair
investimentos para os países importadores de capital). O autor destaca ainda,
em crítica, que a ONU tem se limitado basicamente a atualizar sua Convenção
Modelo, deixando de lado discussões de temas outros, igualmente relevantes,
e que, ao que parece, os recursos financeiros destacados para esse trabalho
têm sido bastante limitados, o que também reduz seu potencial de abrangência
e possibilidade de modificação11.
A legislação fiscal brasileira admite a compensação do imposto pago no
exterior, contanto que o país onde a renda foi recebida possua acordo de
bitributação assinado com o Brasil, como no caso de Portugal.
O acordo tributário entre o Brasil e Portugal, Decreto nº 4.012/2001, foi
promulgado, visando evitar a dupla tributação e prevenir a evasão fiscal em
matéria de impostos sobre o rendimento.
Sendo assim, se o imposto já é tributado no Brasil, não será tributado
em Portugal, evitando, dessa forma, a bitributação. Basta que a pessoa
residente em Portugal comprove o acordo para evitar a bitributação de renda,
demonstrando que o país da renda tributada está amparado pela convenção.
Cada um desses acordos feitos pelo Brasil com os demais países, pode
ser encontrado no site do Ministério da Economia, onde pode verificar os
detalhes principais de cada um dos documentos.
Diante das considerações acima, impõe-se acrescentar que o êxito do
processo de integração econômica do mercado mundial depende,
fundamentalmente, do respeito aos princípios do Direito Internacional,
especificamente do Direito Tributário Internacional, com o escopo de assegurar
um desenvolvimento igualitário e sustentável dos Estados. Prima-se, por

11
ÁVILA, Márcio Ladeira. O direito ao desenvolvimento e as convenções brasileiras contra a dupla
tributação celebradas com países desenvolvidos. Biblioteca Digital Revista Fórum de Direito Tributário –
RFDT, Belo Horizonte, ano 9, n. 49, jan./fev. 2011, p. 5 e 6 Disponível em:
<http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=71908>. Acesso em: 10 jun 2023.
conseguinte, pela adequação dos sistemas tributários internacionais, a fim de
eliminar os efeitos danosos da bitributação internacional.

Considerações

Portanto, inegável o reconhecimento, de que o recolhimento tributário


formalizado na localidade onde a efetiva prestação de serviços ocorreu,
inexistindo, desta forma, a suposta irregularidade decorrente da não realização
do regular recolhimento, trimestral do Imposto de renda de pessoa jurídica dos
valores pagos pela sociedade empresária Alpha Importação e Exportação S/A.
A controvérsia a ser observada está na capacidade tributária de
recolhimento do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e no
local do recolhimento desse imposto. Salienta-se também, que o ISSQN é um
imposto municipal instituído pelos municípios, que substituiu o antigo Imposto
sobre Indústrias e Profissões (IPP), e sua base de cálculo é o valor do serviço
prestado. O próprio prestador do serviço é o contribuinte do imposto.
A fixação da capacidade tributária e o local do recolhimento do ISSQN
são regulamentados pelo artigo 156, inciso III, da Constituição Federal e pela
Lei Complementar 116/03. Essas normas estabelecem critérios para
determinar o local de recolhimento do imposto, levando em consideração a
situação da empresa. O objetivo é evitar a bitributação e garantir a segurança
jurídica no desenvolvimento da atividade econômica.
As decisões trazidas ao longo do texto, do Superior Tribunal de Justiça,
dão conta que o ISSQN é devido no local onde o serviço foi efetivamente
prestado, considerando as condições necessárias e suficientes à sua
ocorrência. Assim, a competência tributária ativa do ISSQN recai sobre o
município onde o serviço é efetivamente realizado.
Destarte, a relação comercial do estudo apresentado ocorre entre
empresas de países distintos, quais sejam, Brasil e Portugal, e deve-se
considerar o tratado internacional de dupla tributação.
Portanto, a controvérsia central da ação tributária será a definição da
capacidade tributária e do local de recolhimento do ISSQN, considerando as
disposições constitucionais, a Lei Complementar 116/03 e as particularidades
do contrato de arrendamento mercantil em questão.

Referências:

ÁVILA, Márcio Ladeira. O direito ao desenvolvimento e as convenções


brasileiras contra a dupla tributação celebradas com países
desenvolvidos. Biblioteca Digital Revista Fórum de Direito Tributário – RFDT,
Belo Horizonte, ano 9, n. 49, jan./fev. 2011, p. 5 e 6 Disponível em:
<http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=71908>. Acesso em:
10 jun 2023.

BORGES, Antônio de Moura. Noções de Direito Tributário Internacional. In


Revista Fórum de Direito Tributário – RFDT. Belo Horizonte, n. 26, ano 5 Março
/ Abril 2007 Disponível em: <http://bid.editoraforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?
pdiCntd=40235>. Acesso em: 10 jun 2023.

BORGES, Antônio de Moura. Possíveis soluções para o problema da dupla


tributação internacional. In Revista Fórum de Direito Tributário. Belo
Horizonte, n. 27, ano 5, Maio / Junho 2007. Disponível em:
<http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=40966>. Acesso em:
10 jun 2023.

PAULSEN, Leandro. Direito tributário: constituição e código tributário à luz


da doutrina e da jurisprudência. 11ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora; ESMAFE, 2009.

TEIXEIRA, Glória. Manual de direito fiscal. 2ª ed. Coimbra: Almedina, 2010.

BORGES, Antônio de Moura. Considerações Sobre a Dupla Tributação


Internacional. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 51, 1 out. 2001. Disponível
em:
<http://jus.com.br/artigos/2088>. Acesso em: 10 jun 2023.
SABBAG, Eduardo de Moraes. Manual de Direito Tributário. 9. ed. São
Paulo: Saraiva, 2017. v. 1.

MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de Direito Tributário. 11. ed.


São Paulo: Atlas, 2019. v. 1.

Possíveis soluções para o problema da dupla tributação internacional. In


Revista Fórum de Direito Tributário. Belo Horizonte, n. 27, ano 5, Maio / Junho
2007. Disponível em: <http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?
pdiCntd=40966>. Acesso em 10 jun. 2023).

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