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Ações autônomas de impugnação


Ações autônomas de impugnação

Marielli Favaro

Publicado em 06/2018. Elaborado em 06/2018.

Principais aspectos relacionados às ações autônomas de


impugnação existentes no direito brasileiro, suas hipóteses de
cabimento e formas de propositura.

As ações autônomas de impugnação são sanções cabíveis contra decisões criminais


condenatórias já com transito em julgado (diferente dos recursos, que só pode ser
interpostos se a decisão ainda não transitou em julgado), ou contra as quais não
haja previsão de recurso. São três as espécies de ações autônomas de impugnação:
revisão criminal, habeas corpus e mandado de segurança em matéria criminal.

REVISÃO CRIMINAL

Esta ação autônoma de impugnação visa a reexaminar sentença condenatória ou


decisão condenatória proferida por tribunal ja transitada em julgada.

No processo penal, a revisão criminal se assemelha com o que ocorre no processo


civil com a ação rescisória, pois seu objetivo precípuo é a desconstituição da coisa
julgada material. No entanto, no processo penal, a revisão criminal só pode ser
oferecida em favor do réu, em proteção ao seu estado de liberdade, atendendo ao
favor rei e à verdade real, não sendo possível, portanto, manejo desta ação pro
societate.

HIPÓTESES DE CABIMENTO

As hipóteses de cabimento da revisão criminal têm previsão no artigo 621 do CPP.


O rol é taxativo, motivo pelo qual não é possível o oferecimento de revisão
criminal contra sentença absolutória ou que reconheça prescrição.
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:

I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei


penal ou à evidência dos autos;

II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames


ou documentos comprovadamente falsos;

III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência


do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição
especial da pena.

Há ainda que se ressaltar que essa ação de impugnação pode ser oferecida contra
qualquer espécie de decisão condenatória, inclusive aquela proferida no Tribunal
do Júri, sem que isso implique em violação do princípio constitucional da
soberania dos vereditos.

Quanto ao prazo, não há nenhuma previsão legal para o oferecimento da revisão


criminal, nos termos do artigo 622, caput, do CPP. Para seu cabimento, como
pressuposto logico, exige-se apenas o transito em julgado da decisão penal
condenatória.

De qualquer forma, com base no artigo 622, parágrafo único do CPP, “não será
admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas provas”.

LEGITIMIDADE AD CAUSAM

A legitimidade ad causam ativa para o oferecimento da revisão criminal tem


previsão no artigo 623 do CPP, ditando que “ a revisão poderá ser pedida pelo réu
ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo
cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão”.

Quanto a legitimidade ad causam passiva, embora não haja previsão legal,


entende-se que seja do Estado ou da União, a depender do órgão jurisdicional que
prolatou a decisão impugnada.

FORMA DE PROPOSITURA E RITO

A revisão criminal deve ser proposta mediante petição, encaminhada ao tribunal


competente, contendo requerimento “instruído com a certidão de haver passado
em julgado a sentença condenatória e com as peças necessárias a comprovação
dos fatos arguidos”. (Artigo 625, parágrafo 1º, CPP).

Esta ação deve se referir necessariamente a umas das hipóteses de cabimento


previstas no artigo 621, CPP. (Fundamentação vinculada).

O rito da revisão criminal é o rito especial, previsto no artigo 625, caput e


parágrafo 2º e 5º, do CPP.
HABEAS CORPUS

O habeas corpus é uma ação autônoma de impugnação, de caráter penal, que visa
proteger a liberdade de locomoção quando ameaçada ou violada por ilegalidade ou
abuso de poder.

O Habeas corpus poderá ser preventivo (quando a privação da liberdade estiver


prestes a acontecer), ou repressivo (quando a privação de liberdade de locomoção
já tiver ocorrido – habeas corpus liberatório).

Diante da essência do instituto, são aplicados os princípios da celeridade


(qualquer do povo pode impetrar, mesmo sem advogado), gratuidade (o
impetrante não necessita recolher custas processuais), e informalidade (não há
forma previamente definida).

A jurisprudência tem indicado a possibilidade de utilização do instituto como


sucedâneo recursal, em situações em que não há previsão legal de oferecimento de
recurso, como por exemplo, a decisão de recebimento da denúncia ou queixa no
procedimento comum. Isso somente será possível se a pena a ser aplicada for
privativa de liberdade. Caso a decisão condenatória aplique multa, ou se a
infração penal prevê como única pena a pena pecuniária, não caberá habeas
corpus.

Também é possível a utilização do habeas corpus após o transito em julgado de


sentença condenatória, desde que a condenação seja equivocada e haja prova pré-
constituída disso.

O habeas corpus pode ser usado, também, para trancar inquérito policial ou ação
penal, se houver ameaça ou violação à liberdade do agente (desde que não haja
previsão de recurso contra a decisão que ameaça ou viola o direito de liberdade),
como no caso de faltar justa causa, a exemplo de um fato ser manifestamente
atípico.

O resultado do habeas corpus implica em uma ordem judicial, seja de alvará de


soltura (se repressivo), seja salvo conduto (se preventivo).

HIPÓTESES DE CABIMENTO

A causa de pedir da ação de habeas corpus é a violação ou ameaça de violação


à liberdade de ir e vir do indivíduo, nos termos do artigo 5º inciso LXVIII,
da CF, e do artigo 647, do CPP.

Nesses termos, ele pode ser preventivo, ou repressivo (liberatório). Há também o


habeas corpus suspensivo, que é aquele a ser impetrado quando já existe
constrangimento ilegal, mas o sujeito ainda não foi preso.
Há necessariamente que se indicar a prova pré-constituída para a impetração de
habeas corpus, a qual é ônus do impetrante.

LEGITIMIDADE

Há três sujeitos processuais envolvidos:

- Impetrante: é quem inventa a ação penal. Pode ser qualquer do povo, pessoa
física ou jurídica, inclusive o Ministério Público, não exigindo a atuação de
advogado. O HC pode ser concedido também de ofício pelo juiz ou tribunal, o que
implica em relaxamento da prisão, sendo exceção ao princípio da inercia – art.
654, parágrafo 2º CPP.

- Paciente: é o beneficiado pelo habeas corpus. Pode acontecer de o paciente ser


também o impetrante. Não pode, no entanto, ser pessoa jurídica, pois ela não é
sujeita a pena privativa de liberdade.

- Impetrado: é a parte passiva da ação, responsável pelo ato ilegal. Não precisa
ser necessariamente uma autoridade. O habeas corpus pode ser interposto ainda
contra ato de Juízo civil, nas prisões cíveis do devedor de pensão alimentícia,
apesar de ser cabível o recurso de agravo.

FORMAS DE PROPOSITURA E RITO

O habeas corpus tem forma livre de propositura, podendo ser escrito (digitado,
datilografado ou de próprio punho, em qualquer tipo de papel), ou oral. Pode ser
interposto, também, por telegrama, radiograma, telefone ou e-mail.

O habeas corpus segue o rito sumário. É possível a concessão de medida liminar,


com ou sem oitiva previa do coator, mesmo sem previsão legal expressa nesse
sentido.

Em seguida, a autoridade julgadora poderá requisitar as informações do coator


por escrito (artigo 662 do CPP). Importante salientar que o julgamento do habeas
corpus tem prioridade em relação a todos os outros - art. 664 do CPP.

MANDADO DE SEGURANÇA EM MATÉRIA CRIMINAL

O mandado de segurança é a ação autônoma de impugnação cabível para proteger


direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente
de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Constata-se que o
mandamus tem caráter subsidiário, vez que cabível sempre que não couber habeas
corpus ou habeas data.

O mandado de segurança ainda é admitido como sucedâneo recursal, ou seja,


sempre que não for admitido recurso.
Pode ser impetrado de forma preventiva (quando há ameaça a direito líquido e
certo) ou repressiva (quando há violação a direito líquido e certo).

O mandado de segurança tem previsão na Lei 12.016/09, que revogou a Lei


1.533/51.

Possui cognição sumária, no sentido de que no seu curso, é apurada apenas a


violação ou ameaça a violação de direito líquido e certo por ato ilegal ou arbitrário
de autoridade ou de pessoa no exercício de função pública, verificável tão somente
com base em provas documentais.

Mandado de Segurança admite a formulação de pedido liminar.

HIPÓTESES DE CABIMENTO

Para o cabimento do mandando de segurança, é necessário que tenha havido


ameaça ou violação a direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou
habeas data, por ato ilegal ou arbitrário de autoridade ou de pessoa no exercício de
função pública, podendo esse ato ser comissivo ou omissivo.

Essa violação deve encontrar respaldo em prova pré-constituída, sob pena de


denegação da segurança, o que, todavia, não impede o oferecimento de novo
mandado de segurança (artigo 6º, parágrafo 6º, Lei nº 12.016/09), ou a utilização
das vias ordinárias (artigo 19 da Lei nº 12.016/09), desde que, em ambos os casos,
não tenha ocorrido o julgamento do mérito da causa.

Cumpre dizer que não cabe o mandamus contra lei em tese, contra ato judicial
passível de recurso ou correição, nem contra decisão com transito em julgado.

O artigo 5º da Lei 12.016/09 também evidencia algumas hipóteses do não


cabimento do mandando de segurança:

I - Ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,


independentemente de caução;

II - decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;

III - decisão judicial transita em julgado. Contudo, ele pode ser utilizado
como sucedâneo recursal (se não houver previsão de recurso contra
determinada decisão), assim como para garantir efeito suspensivo ao
recurso (se esse não o possui).

É possível ainda o manejo da ação para o trancamento de inquérito policial ou


ação penal, se o crime não for punido com pena privativa de liberdade, bem como
se envolver pessoa jurídica (pois ela não está sujeita a pena de privativa de
liberdade).

O mandado de segurança tem prazo decadencial de 120 dias.


LEGITIMIDADE

No polo ativo, tem-se a figura do impetrante, que é quem sofre a violação ou


ameaça de direito líquido e certo. Pode ser pessoa física ou jurídica. Pode ser o
acusado, querelante, defensor, ofendido (assistente de acusação) e o Ministério
Público.

Ao contrário do que ocorre com o habeas corpus, o mandado de segurança exige a


representação por meio de advogado.

Já o sujeito passivo é a autoridade coatora, embora na atual sistemática, da Lei nº


12.016/09, a pessoa jurídica interessada também deva ser comunicada acerca do
oferecimento da ação para que, caso queira, intervenha no feito (art. 7º inciso II,
da referida Lei).

PROCEDIMENTO

A petição inicial do mandado de segurança deve ser apresentada em duas vias e


indicar a autoridade coatora e a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha
vinculada ou a qual exerce atribuições. (artigo 6º, caput, da Lei nº 12.016/09).

Deve vir, necessariamente acompanhada dos documentos indispensáveis à


comprovação do direito líquido e certo, pois não será admitida dilação probatória.
(Art. 6º, caput. Lei nº 12.016/09).

Após a apresentação da inicial, o órgão jurisdicional competente deverá


determinar a notificação da autoridade coatora para, no prazo de 10 dias,
apresentar a suas informações. Deverá também dar ciência do feito ao órgão de
representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da
inicial, para que, querendo, ingresse no feito.

Poderá também conceder medida liminar suspendendo o ato que deu motivo ao
pedido, com ou sem oitiva previa da autoridade impetrada.

Contra a decisão que concede ou denega a liminar, cabe o recurso de agravo de


instrumento previsto no CPC. Caso o mandamus tenha sido interposto pelo
Ministério Público, deverá também determinar a citação do acusado.

Em seguida, deverá abrir vista dos autos ao Ministério Público, para que participe
do feito como custos legis, manifestando-se no prazo de 10 dia.

Por fim, há o julgamento do mandado de segurança, obrigatoriamente no prazo de


30 dias, que pode ou não confirmar a medida liminar.

Contra a decisão do mandado de segurança, se proferido em primeiro grau, caberá


recurso de apelação cível, mesmo envolvendo matéria criminal. Além disso, se
essa sentença for condenatória da segurança, está sujeita ao duplo grau de
jurisdição obrigatória.

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