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Colégio Moderno – Ciência Política 12º

O que é Ciência Política

Política – Palavra de origem grega [πολιτικος, politikós] que vem de polis (cidade). É
a ciência da governação da cidade, do interesse pela cidade, ou em sentido mais lato,
de tudo quanto diz respeito aos cidadãos.

Definição do Dicionário PRIBERAM (http://www.priberam.pt/dlpo/)

Política s. f. 1. Ciência do governo das nações; 2. Arte de regular as relações


de um Estado com os outros Estados; 3. Sistema particular de um governo; 4.
Tratado de política; 5. Fig. Modo de haver-se, em assuntos particulares, a fim
de obter o que se deseja; 6. Esperteza, finura, maquiavelismo; 7. Cerimónia,
cortesia, civilidade, urbanidade.

Embora este uso mais atual e corrente diga respeito ao governo dos Estados, a política
também existe noutras instituições (académicas, empresariais, religiosas…).
Podemos considerar que existe em todos os grupos organizados, pois em todos eles há
a necessidade de tomar decisões coletivas e estabelecer relações de poder. Na sua obra
A montanha mágica, o escritor alemão Thomas Mann escreve que “Tudo é político”.

O ser humano organiza-se em grupos/comunidades/sociedades praticamente desde


que a Humanidade surgiu. E até em certas espécies animais se observa uma hierarquia
com papéis de liderança bem definidos, os quais por vezes motivam disputas.
O poder, a sua conquista e o seu exercício sempre estiveram presentes.

É, contudo, no período Neolítico (9500 a.C.-3500 a.C.) que a sociedade se começa a


organizar de forma hierarquizada. A passagem do ser humano caçador-recoletor para
agricultor, com a respetiva necessidade de distribuir os recursos produzidos. É
também nesta altura que surgem os primeiros – e incipientes – registos escritos.

Desde então até hoje, a política esteve sempre presente no mundo. Entretanto o ser
humano, com a sua curiosidade natural, teve vontade de estudá-la e analisá-la. Nasce,
dessa forma, a Ciência Política.

A Ciência Política é uma ciência social e humana que tem por objeto as questões
relativas ao poder político, ao modo como ele é exercido e aos limites ao seu
exercício, as questões relativas ao Estado, a sua natureza, as suas funções e a sua
legitimidade, e ainda os problemas relativos às formas como o exercício do poder
político e a organização do Estado se refletem na vida quotidiana dos cidadãos.

Um cientista político – ou politólogo – interessa-se pelos processos de decisão, pelas


transferências de poder, pelo papel dos governos e das instituições internacionais. O
êxito da governação é medido por critérios como estabilidade, justiça, prosperidade,
paz. Como calculam, são critérios subjetivos, complexos de avaliar. O que nos leva a
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uma consideração sobre esta ciência: ela tem um objeto complexo, volúvel, como
todas as ciências sociais.

Alguns estudiosos limitam o objeto da Ciência Política ao Estado (ver definição do


dicionário, acima), entendendo que é nele que reside o poder e no seu âmbito que se
desenrola a atividade política. É disso exemplo Marcel Prélot. “A Ciência Política
temsido, há já uns séculos e com o consentimento geral, a ciência do Estado”, escreve
em A Ciência Política atual (Bertrand, 1974). Note-se que Prélot inclui nesta
definição fenómenos para-estatais (sociedade feudal), infra-estatais (autonomias não
soberanas) e organizações supra-estatais.

No entanto, a maioria dos politólogos atuais considera essa definição redutora.


Pensadores como Raymond Aron (1955) ou Maurice Duverger (1976) defenderam
que a interdependência entre os Estados, a existência de organizações internacionais
(ex.: ONU), supranacionais (ex.: UE) e transnacionais (ex.: movimentos
antiglobalização) – e de outras sem um território físico (ex.: Al-Qaeda –, por onde
torna a anterior conceção algo ultrapassada. “Estão em causa não só o estado como as
coletividades locais, os sindicatos, as empresas e as igrejas”, escreveu Thomas Cook.
Na verdade, o poder não reside só no Estado; pensemos no poder mediático,
financeiro, económico, religioso, etc. É por isso que há quem chame à Ciência Política
a “História do Presente”.

Tendo em conta que a política afeta todas as áreas da vida coletiva de uma sociedade,
a Ciência Política relaciona-se com várias outras áreas do saber: História,
Economia, Sociologia, Filosofia, Antropologia, Psicologia, Direito, Estatística,
Cultura… partilhando com algumas delas métodos e técnicas de análise.

Como qualquer ciência, a Ciência Política observa e recolhe dados, que depois estuda
e analisa, visando obter generalizações/sistematizações, isto é, regras abrangentes.

Já vimos que o objeto de estudo da Ciência Política tem fronteiras difusas. Outra
dificuldade inerente a muitas ciências humanas é a inexistência de um “meio
laboratorial” que permita isolar variáveis para as estudar. Outro obstáculo com que
frequentemente o politólogo se depara é a dificuldade em obter certas informações. O
jogo político implica, muitas vezes, segredo. Este pode partir dos atores políticos,
raramente dispostos a “mostrar o jogo”, mas também dos cidadãos, sensíveis na
proteção das suas convicções.

Entre as fontes de informação consultadas em Ciência Política contam-se fontes


diretas, como documentos históricos e registos oficiais; e indiretas, como artigos de
jornais, noticiários de rádio e TV, artigos académicos, sondagens, análises estatísticas,
entrevistas, estudos de caso e modelos. Outros dados provêm da observação da vida
política e da sociedade que ela afeta. Analisando-os e comparando os dados, o
politólogo procura extrair conclusões.

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Perspetiva histórica

A Ciência Política nasce muito ligada à filosofia. Surge nas cidades da Grécia Antiga
– onde também nasceu, recordemos, o termo política – e tem, de início, um caráter
muito normativo, isto é, procura estabelecer o que deve ser a governação ideal de um
Estado perfeito, mais do que observar o fenómeno político tal como se desenrola.

Os nomes mais sonantes da Ciência política neste período são os dos filósofos Platão
(427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.). O primeiro escreveu A República, um
texto sobre a cidade-Estado ideal, justa e perfeita. Aristóteles, no livro A Política,
defendeu que o homem é um “animal político”. Embora mais observador e analista do
que Platão, Aristóteles também não resistiu a tentar definir o que é o bom governo.
Considerava, de resto, que “a política é a continuação da ética”.

Outros autores da Grécia antiga que se pronunciaram de algum modo sobre a política
foram Homero, Hesíodo, Tucídides, Xenofonte e Eurípides.

Mais tarde, durante o Império Romano, Políbio, Lívio e Plutarco escreveram sobre a
República romana e outras formas de organização das nações. Outro nome a reter é o
de Cícero (106-43 a.C.), que se centrou sobretudo nas questões jurídicas e no direito,
que considerava abranger todos os cidadãos. Os pensadores romanos eram muito
influenciados pelos gregos (como toda a sociedade romana, veja-se o caso da adoção
dos deuses gregos pelos romanos), particularmente pelo pensamento estoicista. Os
estoicos defendiam que a “perfeição moral e intelectual” não admitia que um
indivíduo cedesse às emoções e sustentavam que uma pessoa era melhor avaliada pelo
seu comportamento do que pelo seu discurso. Curiosamente, nem alguns dos
membros desta corrente – como Séneca e Marco Aurélio – conseguiram escapar às
contradições entre as aspirações e a vida real.

Na Idade Média, uma das principais mudanças foi o surgimento das religiões
monoteístas (cristã, muçulmana, judaica). Neste período a autoridade volta a estar
muito concentrada e as igrejas são locais de poder e de saber (recordemos que a
maioria das pessoas não sabia ler nem escrever). Santo Agostinho (354-430 d.C.)
escreve A cidade de Deus, que funde as filosofias pré-existentes, no que à política diz
respeito, com a tradição da igreja cristã. Mais do que as leis comuns a todos, para
Agostinho o que unia uma comunidade era uma dimensão mais afetiva, de
propriedade comum (ou comunhão).

Mais tarde, São Tomás de Aquino (1225-1274) irá pegar nas ideias de Cícero e dos
gregos (escreveu uma recensão à Política de Aristóteles, In Libros Politicorum
Aristotelis Expositio), mas submetendo a política – e todas as restantes ciências e artes
– à teologia.

Na mesma altura, e apenas para terem noção de que não era só a Europa que pensava,
a Ciência Política dava os primeiros passos noutras zonas do globo. Na Índia,
Chanakya (350-283 a.C.) escreveu Arthashastra, um tratado politico-económico que
refletia sobre assuntos tão variados como política monetária e fiscal, relações
internacionais, Estado social, estratégias bélicas, etc. Na Pérsia, encontramos reflexão
sobre governação nos poemas épicos de Ferdowsi (940-1020) e até nas Rubaiyat
(odes ao vinho) de Omar Khayyam (1048-1141). No Médio Oriente, nomes como
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Avicena (980-1037), Maimónides (1135-1204) e Averroes (1126-1198) também


contribuíram para o desenvolvimento da Ciência Política.

Na era renascentista surge uma das obras-primas da Ciência Política: O príncipe, de


Nicolau Maquiavel (1469-1527). Mais do que o “bom governo” almejado pelos
gregos, pretende refletir sobre como chegar a um governo eficaz. E tenta ater-se aos
factos observados, mais do que a juízos de valor. Em vez do bem comum, do bem-
estar social, fala-nos – fruto da sua observação empírica – da crua realidade da disputa
pelo poder e pela sua preservação. Ficou, injustamente ou não, associado à ideia de
que “os fins justificam os meios”, ainda hoje visível no termo “maquiavélico”.
Maquiavel teve em conta, também, a forma como as circunstâncias em que o poder é
exercido influenciam o próprio exercício do poder.

Na chamada Idade das Luzes, Montesquieu (1689-1755) deu continuidade à análise e


estendeu as comparações feitas por pensadores anteriores ao campo geográfico. A sua
obra O espírito das leis procura racionalizar e sistematizar as diferentes formas de
governação. Montesquieu desenvolveu a teoria da separação de poderes (legislativo,
executivo, judicial), essencial a seu ver para evitar o despotismo.

Outro grande estudioso do fenómeno político foi Alexis de Tocqueville (1805-1859),


que empreendeu uma viagem pelos Estados Unidos da América para uma observação
direta dos factos, com abundante recurso à técnica da entrevista. O seu livro A
democracia na América (1840) é um clássico da Ciência Política.

Na mesma altura (1848), Karl Marx publica O capital, tentativa de explicar o poder e
a política do ponto de vista das relações económicas e da luta de classes.

É apenas no final do século XIX, nos EUA, que a Ciência Política começa a ser
ensinada nas Universidades. Muito interligada a outras áreas do saber, tardou em
conseguir o seu espaço, nunca livre de contestação. A Europa ganha um interesse
especial por esta área do pensamento após a II Guerra Mundial, possivelmente
angustiada com os dois conflitos globais que tinham tido origem no seu solo.

Ramos da Ciência Política

O desenvolvimento da Ciência Política e o evoluir do mundo levaram – como sucede


a praticamente todas as ciências – à especialização em vários ramos. Não devemos,
porém, encará-los como estanques. Estão inter-relacionados e em permanente
contacto.

Teoria política – estudo dos conceitos e ideias políticas (liberdade, poder, igualdade,
democracia, justiça, direitos, leis, etc.), procurando estipular como deve ser a vida
coletiva;

Relações Internacionais – estudo das relações entre os países (políticas, económicas,


sociais), mas também das organizações internacionais, ONG, movimentos globais,
etc.; está muito ligada a outras áreas do saber e, nos tempos atuais, abarca assuntos
como globalização, soberania, sustentabilidade, proliferação nuclear, nacionalismo,
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desenvolvimento económico, sistema financeiro, terrorismo, crime organizado,


segurança humana, intervencionismo e direitos humanos;

Políticas Públicas – estudo das ações e medidas tomadas pelo Estado numa
determinada área, supostamente em nome do bem coletivo (leis, medidas, atribuição
de fundos); estudo do processo de decisão que tal implica, tendo em conta todos os
intervenientes;

Estudos de área – estudos quase sempre interdisciplinares centrados numa dada


região geográfica ou cultural. Frequentemente têm em conta fenómenos como a
emigração e debruçam-se sobre a diáspora de uma dada região.

Estudos Europeus – estudos centrados no continente europeu, nas instituições e na


integração europeia;

Política Comparada – mais distinta pelo método do que pelo conteúdo, trata-se de
uma abordagem empírica baseada em comparações entre várias realidades políticas,
explicando semelhanças e diferenças.

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