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Unidade da esquerda e amplitude são imprescindíveis ao antifascismo.

O que é fascismo e o movimento fascista?


Primeiramente é necessário estabelecer uma diferenciação entre o que é o fascismo
enquanto regime político e o que é o movimento fascista. O fascismo enquanto regime político,
assim como a Ditadura Militar e o Bonapartismo é um forma particular de “estado de exceção”
capitalista.
Por sua vez, o movimento fascista é um movimento de massas de extrema-direita,
composto sobretudo pelas classes médias e por parcelas da burguesia, que tem como objetivo
transitar de regime político e implantar uma ditadura de tipo fascista, destruindo as liberdades
democráticas e as organizações populares.
O fascismo historicamente foi um regime político de exceção, num contexto marcado por
uma crise profunda do imperialismo entre as duas grandes guerras mundiais. Durante a crise, as
ideias liberais foram suplantadas pela extrema-direita, possibilitando a emergências de regimes
fascistas na Itália, Alemanha, Espanha, Portugal e no Japão.
Segundo o filósofo italiano Domenico Losurdo, há uma relação umbilical entre o fascismo e
as ideias racistas de supremacia racial. Hitler e Mussolini tinham como objetivo colonizar todo o
mundo, exterminando judeus, negros, ciganos, LGBTs, e também socialistas, comunistas, e todos
aqueles que se opusessem ao seu plano de dominação política.

O antifascismo como reação popular contra o fascismo.

O antifascismo, portanto, é a reação popular contra o fascismo ou contra a ameaça fascista.


Ela tem como base a unidade entre os diversos setores de esquerda: social-democratas, socialistas,
comunistas e anarquistas, ao mesmo tempo que busca ampliar o movimento a todos os setores
democráticos ou contrários ao fascismo.
Neste sentido, o antifascismo não se restringe a um método de luta baseado na ação direta
ou no enfrentamento à violência policial. Tampouco o antifascismo é um lócus de autoidentificação
pessoal ou coletiva, como querem alguns agrupamentos autonomistas. Essas concepções restritas
de antifascismo ganharam força sobretudo durante as décadas de 90 e 2000, devido a profunda
crise ideológica pós-queda da União Soviética e das experiências de transição no Leste Europeu.
Vale destacar que sem o movimento comunista internacional e o exército vermelho
soviético, seria impossível derrotar o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial.
Como reação popular, o antifascismo deve combinar as diversas formas de luta: a ação
direta, a luta de massas, a luta institucional, ideológica e, dependendo do contexto histórico,
formas superiores de luta.

A frente antifascista é uma frente somente de esquerda?

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o enfrentamento ao fascismo parte da compreensão


de que é preciso derrotar um “inimigo em comum”, e esse objetivo unificou historicamente não
somente os setores de esquerda, mas também setores defensores da democracia liberal e em
alguns lugares até conservadores.
A frente antifascista recebeu diversos nomes em cada país. Mas o seu conteúdo
fundamental é a defesa da democracia e das liberdades democráticas. E ao mesmo tempo que
buscava amplitude, garantia a independência aos trabalhadores e trabalhadoras para defenderem
seu programa estratégico. Após a derrota dos regimes fascistas, essas diversas forças políticas
voltaram a se confrontar na disputa pelo poder político. Foi assim na China, Iugoslávia, Vietnã,
Alemanha e Itália.

O neo-fascismo e o desafio das forças populares.

Em meio a uma profunda crise econômica internacional e em especial com a eleição de


Donald Trump nos Estados Unidos, ganharam força movimentos de extrema-direita e
supremacistas por todo mundo. Governos de extrema-direita foram eleitos na Hungria e no Brasil.
Antes disso, já havia através de um golpe, assumido um governo neo-fascista na Ucrânia. O neo-
fascismo se configura como fascismo do século XXI.
No Brasil, desde a eleição de Bolsonaro, um grande desafio está posto para as forças
populares: como impedir a escalada autoritária do governo federal e a transição para um regime
fascista. Este desafio coloca no centro do debate entre as forças populares, a importância da
questão democrática e a necessária ampla unidade antifascista.
A crise sanitária gerada pela pandemia do coronavírus e seus quase 30 mil mortos no Brasil,
aprofundam ainda mais a crise econômica e política, trazendo contornos ainda mais dramáticos. O
Fora Bolsonaro passou a ser uma questão humanitária. As manifestações protagonizadas no dia 31
de maio pelas torcidas organizadas apontaram o caminho, o neo-fascismo só será derrotado pela
mobilização popular. Ao mesmo tempo, as experiências históricas nos ensinam que neste
momento o sectarismo e o dogmatismo só atrapalham. Unidade da esquerda, amplitude e
combinação das formas de luta são imprescindíveis ao antifascismo.

Paulo Henrique Lima. Historiador e integrante da Direção Nacional da Consulta Popular.

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