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Atualização da

Conjuntura
DIREÇÃO EXECUTIVA NACIONAL DA CUT | 2019-2023
Presidente Secretária-adjunta de Saúde do Trabalhador
Sergio Nobre Maria de Fátima Veloso Cunha
Vice-presidente Secretário de Meio Ambiente
Vagner Freitas Daniel Gaio
Secretária-geral Secretário de Mobilização
Carmen Helena Ferreira Foro e Movimentos Sociais
Secretário-geral adjunto Janeslei Albuquerque
Aparecido Donizeti da Silva Secretária de Políticas Sociais
Secretário de Administração e Finanças e Direitos Humanos
Ariovaldo de Camargo Jandyra Uehara
Secretária-adjunto de Administração Secretária de Combate ao Racismo
e Finanças Anatalina Lourenço
Maria Aparecida Faria
Secretária-adjunta de Combate ao Racismo
Secretário de Relações Internacionais Rosana Sousa Fernandes
Antonio de Lisboa Amâncio Vale
Secretária de Organização e
Secretário-adjunto de Política Sindical
Relações Internacionais
Maria das Graças Costa
Quintino Marques Severo
Secretário-adjunto de Organização e
Secretário de Assuntos Jurídicos
Política Sindical
Valeir Ertle
Jorge de Farias Patrocínio
Secretário de Comunicação
Roni Anderson Barbosa
DIRETORES EXECUTIVOS
Secretário-adjunto de Comunicação
Admirson Medeiros Ferro Junior (Greg) Aline Marques
Secretário de Cultura Ângela Maria de Melo
José Celestino (Tino) Claudio Augustin
Cláudio da Silva Gomes
Secretário-adjunto de Cultura
Francisca Trajano dos Santos
Eduardo Lírio Guterra
Ismael Cesar José
Secretária de Formação Ivonete Alves
Rosane Bertotti João Batista (Joãozinho)
Secretária-adjunta de Formação José de Ribamar Barroso
Sueli Veiga de Melo Juvândia Moreira Leite
Secretária de Juventude Marcelo Fiorio
Cristiana Paiva Gomes Marcelo Rodrigues
Mara Feltes
Secretário de Relações de Trabalho
Maria Josana de Lima
Ari Aloraldo do Nascimento
Maria Julia Nogueira
Secretária-adjunta de Marize Souza Carvalho
Relações de Trabalho
Milton dos Santos Rezende (Miltinho)
Amanda Gomes Corsino
Pedro Armengol
Secretária da Mulher Trabalhadora Rogério Pantoja
Junéia Batista Sandra Regina Santos Bitencourt
Secretária de Saúde do Trabalhador Virginia Berriel
Madalena Margarida da Silva Teixeira Vitor Carvalho

16ª Plenária Nacional da CUT | Atualização da Conjuntura 3


APRESENTAÇÃO

No Caderno do Texto Base, apontamos que chegamos a 2021 desafiados a realizar a 16a
Plenária Nacional em um contexto adverso e por um meio totalmente novo desde a nossa
fundação, com a pandemia de covid-19 afetando o mundo todo e intensamente a população
brasileira, pela negligência criminosa de políticas públicas de um governo genocida coman-
dado por negacionistas e por uma elite inescrupulosa.
E que uma das principais tarefas dessa 16a Plenária Nacional da CUT é atualizar a nossa
reflexão e estratégia política e organizativa para que o resultado, as nossas diretrizes de
ação comuniquem à classe trabalhadora e à sociedade as lutas que devemos encampar no
próximo período.
Portanto, esse Texto de Conjuntura, é mais um momento de atualização dessa reflexão e lei-
tura da situação atual e um subsídio para os debates que ocorrerão de 20 a 24 de outubro na
Plenária Nacional. Após, será novamente atualizado e comporá o texto final de Resoluções
da 16a Plenária Nacional da CUT.

São Paulo, 18 de outubro de 2021.

Coordenação da 16a Plenária Nacional da CUT “João Felício e Kjeld Jakobsen”

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A CONJUNTURA INTERNACIONAL

1. Neste final de 2021, o mundo ainda está mergulhado na enorme crise do sistema ca-
pitalista, que era anterior à pandemia e foi acelerada por ela, com seus impactos eco-
nômicos e sociais atacando as condições de vida da classe trabalhadora e dos povos,
enquanto as grandes corporações transnacionais defendem e ampliam os seus lucros
e os bilionários multiplicam os seus patrimônios num cenário de depressão e desem-
prego que atingem simultaneamente todos os países.

2. Nesse quadro, até mesmo a vacinação – com a produção de vacinas monopolizadas


pela Big Pharma – se torna um fator de aumento da desigualdade social no interior dos
países e em escala global. Segundo os últimos dados da OMS, mais de 6,4 bilhões de
doses de vacinas já foram administradas globalmente, com quase um terço da popula-
ção mundial totalmente vacinada contra a Covid-19. No entanto, os países mais ricos
usaram 75% de todas as vacinas produzidas até agora e os de renda baixa, menos de
0,5% dessas vacinas. Na África, menos de 5% das pessoas estão completamente vacina-
das e no Haiti, no Caribe, não há qualquer programa de vacinação.

3. O ritmo desigual da imunização não é motivo de preocupação apenas para o controle


da pandemia – com o temor, por exemplo, do surgimento de novas variantes do coro-
navírus – mas também para a recuperação da economia global, que depende da circu-
lação de mercadorias, sem contar os setores que são mais impactados pela pandemia,
como o de serviços, turismo, logística, cultura e entretenimento etc.

4. Se é fato que a pandemia representa um grande desafio para a humanidade, as ilusões


de que seria possível o surgimento de novos instrumentos de cooperação internacio-
nal e, dessa forma, um mundo mais coeso e solidário, foram soterradas, pois é a própria
crise do sistema capitalista mundial que faz prevalecerem os interesses das grandes
potências disputando um mercado mundial saturado, como demonstra em particular a
“guerra comercial” entre Estados Unidos e China.

5. O discurso anticiência e negacionista em relação a pandemia tem servido de mote


organizador da extrema-direita mundial. Nesse aspecto, o Brasil de Bolsonaro lidera
uma diplomacia paralela que, além da defesa de medicamentos ineficazes contra o co-

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ronavírus, combate as vacinas e outras medidas de prevenção ao vírus (como másca-
ras e distanciamento), prioriza temas ultraconservadores – sobretudo, em relação aos
direitos das mulheres e da comunidade LGTBQIA+ – além do já conhecido discurso de
ódio, fake news e teorias da conspiração. Toda essa temática esteve, inclusive, presen-
te no discurso que Bolsonaro fez na abertura da última Assembleia Geral das Nações
Unidas (ONU).

6. Um fato novo e revelador da crise que atinge o próprio imperialismo dominante, o


dos Estados Unidos, foi a desastrosa forma que aconteceu a retirada de suas tropas do
Afeganistão – negociada ainda no governo Trump – e que ocupavam o país desde 2001
(atentados do 11 de setembro). O que deixou patente o fracasso de mais de vinte anos
de guerra “contra o terror”.

7. A comunidade internacional abandonou o povo afegão a sua própria sorte, tendo que
lidar com a miséria – estima-se que 42% da sua população está em níveis de crise ou
de emergência de insegurança alimentar – e com o retorno do Taleban ao poder. Após
alguns “acenos de moderação”, o Taliban – que retomou o controle de praticamente
todo o território do país em questão de dias – anunciou as que vai reintroduzir um dos
piores símbolos do seu primeiro governo no país, de 1996 a 2001: execuções e ampu-
tação de membros de cidadãos acusados de cometerem crimes e delitos. Além disso,
crescem as denúncias de violações de direitos humanos, especialmente, das mulheres
e jovens afegãs.

8. As humilhantes cenas do caos instaurado no Afeganistão durante e após a retirada das


tropas estadunidenses, ampliaram as pressões ao governo de Joe Biden. Tanto no front
interno, em meio ao crescimento dos casos de Covid-19 e as dificuldades para uma
efetiva recuperação econômica, quanto na política extrema, marcada, principalmente,
pela tensão cada vez maior com a China.

9. Essa tensão teve um novo e importante capítulo com a assinatura de um pacto militar
entre Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, com o objetivo de armar a Austrália
com submarinos de propulsão nuclear. O acordo significa mais um passo de Biden
para pressionar Pequim no Indo-Pacífico – região estratégica e vital para os planos
econômicos e militares da China. A China criticou duramente o acordo, afirmando que
o movimento minou seriamente a paz e a estabilidade da região, e vai contribuir para
intensificação de uma corrida armamentista. O acordo também desagradou a França

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que, além de ser preterida em um negócio de mais de 90 bilhões de dólares, ainda teve
que lidar com o fato que seus aliados negociavam em segredo, os deixando à margem
de qualquer negociação.

10. Ainda na Europa, os dezesseis anos de Merkel à frente do governo alemão, se encer-
ram com a derrota do seu partido nas eleições parlamentares de 26 de setembro. Em
um pleito apertado, a eleição pode marcar o retorno do SPD (social-democracia), que
participava da “grande coalizão” com a democracia-cristã no governo Merkel, ao poder.
Com quase 26% dos votos, o SPD foi o mais votado e tenta, agora, construir uma coa-
lizão capaz de alcançar a maioria necessária para formar um novo governo. Liderado
pelo atual ministro de finanças, Olaf Scholz, o SPD busca uma coalizão com os Verdes,
o partido que mais cresceu na eleição. A extrema-direita da AfD – que, recentemente,
esteve no Brasil para se “confraternizar” com Bolsonaro – depois de ver fracassar a sua
estratégia de relativizar o holocausto, perdeu ainda mais espaço no parlamento.

11. A necessidade de resposta à crise climática ganhou ainda mais urgência após a divul-
gação do novo relatório sobre mudanças climáticas do IPCC (Painel Intergoverna-
mental sobre Mudanças Climáticas). O painel mostra que algumas mudanças recentes
no clima não têm precedentes ao longo de séculos e até milhares de anos– e algumas
delas irreversíveis. Ainda segundo o IPCC, todas as regiões do planeta já são afeta-
das por eventos extremos como ondas de calor, chuvas fortes, secas e ciclones tropi-
cais provocadas pelo aquecimento global. Reduções fortes e sustentadas na emissão
de dióxido de carbono (CO²) e outros gases de efeito estufa ainda podem limitar as
mudanças climáticas, mas essas reduções são cada vez mais urgentes. O capitalismo
verde tenta apresentar saídas à crise se apoiando em mecanismos de mercado que ga-
nham força nos espaços de negociação e lá beneficiam setores econômicos que nos le-
varam à atual crise. A CUT, junto com o movimento sindical internacional e movimen-
tos sociais e ambientalistas, defendem a urgência da mudança para uma economia de
baixo carbono com a garantia de uma transição justa para a classe trabalhadora. E luta
também por uma real mudança de paradigmas, numa série de reformas estruturais que
devem acontecer de forma ampla e democrática, visando a recuperação econômica,
social e ambiental à atual crise e caminhar para um modelo que rompa com as atuais
dinâmicas insustentáveis de mercado e que coloque no centro a vida e o trabalho.

12. À medida que as questões ambientais ganham importância e relevância nas discus-
sões multilaterais, o isolamento internacional do governo Bolsonaro se aprofunda.
Nesse sentido, destacamos as pressões envolvendo a paralisação dos aportes do “Fun-

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do Amazônia” – e a pressão internacional contra o desmatamento e os incêndios em
biomas como o amazônico e o pantanal.

13. A nossa região, a América Latina, que já registrava os maiores índices de desigualdade
no mundo, sofreu e sofre os impactos negativos da combinação da crise estrutural do
sistema capitalista e a pandemia de forma aguda. O que vem provocando a resistên-
cia dos trabalhadores e povos em vários países – “paro nacional” de mais de 40 dias
na Colômbia contra o governo Duque (direita), continuidade da luta do povo chileno
contra o governo direitista de Piñera, com a instalação da Convenção Constitucional
com maioria de “independentes” entre os eleitos (crise dos partidos tradicionais) e a
proximidade de eleições gerais (presidente e congresso) – em 21 de novembro – com
boas possibilidades de uma frente de esquerda (PC e Frente Ampla); a surpreendente
eleição de Pedro Castillo em 2º turno no Peru, contra a direitista Keiko Fujimori, levan-
tando a bandeira de uma Assembleia Constituinte, governo que hoje está submetido
a todo o tipo de pressões por parte do imperialismo e da burguesia local para “mode-
rar-se”; a retomada da luta de massas e nas ruas pelo Fim do governo Bolsonaro no
Brasil; da vitória no Uruguai da campanha por um plebiscito que revogue a LUC (lei de
ataque aos direitos do governo Lacalle Pou), que recolheu 800 mil adesões (num país
de 3,5 milhões de habitantes), para ficar em alguns exemplos. Entretanto o panorama
geral segue marcada pela instabilidade política, sob o pano de fundo de uma queda
brutal das condições de vida das amplas massas.

14. Na Venezuela, onde o governo logrou um acordo com a oposição para sua participa-
ção nas eleições deste ano, esvaziando, dessa forma, o “autoproclamado” Guaidó, a
situação econômica e social segue dramática, pois o abrandamento de sanções por
parte dos Estados Unidos ainda não se deu, e mesmo a recente mudança monetária
não assegura o fim da hiperinflação que atinge brutalmente as camadas populares.
Ainda sobre a Venezuela, por meio de uma iniciativa da CUT, foi firmado acordo com
o governo da Venezuela para ampliar o fornecimento de oxigênio hospitalar a Manaus
durante o momento mais agudo da crise hospitalar da capital do Amazonas – quando,
em janeiro desse ano, o descaso do governo Bolsonaro, permitiu que Manaus vivesse
um colapso com hospitais sem oxigênio, doentes levados a outros estados, cemitérios
sem vagas, toque de recolher etc. Em retribuição ao gesto venezuelano, a CUT lançou
campanha de solidariedade para socorrer a Venezuela na produção e no transporte de
oxigênio.

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15. Em Cuba, as reformas econômicas promovidas pelo governo Diaz-Canel, provocaram
tensões e descontentamento legítimos, mas que também foram instrumentalizados por
grupos contrarrevolucionários e pressões e ingerências do exterior. Na Argentina, o
governo de Alberto Fernández passa por um processo de reestruturação, diante, in-
clusive, do recrudescimento da pressão política e eleitoral da direita. O Haiti, assola-
do pela pilhagem promovida por governos submissos aos Estados Unidos e por uma
minúscula elite local, após grandes manifestações de massa contra o partido no poder
e por uma “solução haitiana para a crise”, sem ingerência dos Estados Unidos, sofre
também as conseqüências de um novo terremoto, exigindo a solidariedade de todo o
movimento sindical das Américas às organizações de luta do povo haitiano.

16. A CUT tem reforçado suas ações de solidariedade com os países da América Latina e
Caribe, com destaque para o apoio e organização dos trabalhadores/as migrantes em
solo brasileiro – tais como, as companheiras e companheiros bolivianos, haitianos, ve-
nezuelanos etc. No caso da Bolívia, a CUT participou, em La Paz e Cochabamba, ainda
em dezembro de 2020, de diversas agendas com sindicalistas, o presidente Luis Arce
e o ex-presidente Evo Morales, sobre a resistência dos bolivianos ao golpe de estado
de novembro de 2019, a integração latino-americana, além de empenhar apoio aos mi-
grantes bolivianos que moram no Brasil – somente na cidade de São Paulo, residem
quase 60 mil bolivianos. Luis Arce participou, em fevereiro desse ano, por meio de uma
iniciativa da CUT, do programa Entrevista Especial da TVT.

17. A CUT, através da CSA e a partir de relações bilaterais com as centrais sindicais dos
demais países latino-americanos, Canadá e Estados Unidos, tem desenvolvido ações
comuns em defesa dos direitos dos trabalhadores, da soberania nacional contra a in-
gerência do imperialismo e de solidariedade, nesse cenário convulsivo que atravessa-
mos. Merece registro a organização, por parte da CSA, da “Jornada Continental pela
Democracia e contra o Neoliberalismo”; as Conferências continentais “Transformar e
fortalecer o sindicato para Representar e organizar toda a Classe Trabalhadora”, além
das Conferências sobre Educação e Formação Sindical “Paulo Freire” e uma outra so-
bre Comunicação Sindical.

18. A CUT também tem atuado no âmbito da Comissão Sociolaboral do Mercosul contra a
retórica neoliberal dos presidentes do Brasil e do Uruguai de “flexibilizar o Mercosul”,
que, na prática, seria o fim do bloco. Defendemos um Mercosul que além de uma União
Aduaneira, também seja um agente de promoção da Livre Circulação de Pessoas, da
Integração Produtiva, Científica e Tecnológica e que possa, dessa forma, se converter

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em um projeto de promoção da paz e da redução das desigualdades econômicas e
sociais.

19. Diante de todo esse cenário, a CUT, em conjunto com outras centrais sindicais de todo
o mundo, lançou o manifesto “Por uma nova governança global baseada em direitos
universais e justiça social”. O documento propõe, dentre outros pontos, o direito à saú-
de como direito humano e a quebra das patentes de vacinas e demais medicamentos
contra a COVID-19; empregos decentes e direitos trabalhistas e sociais, assim como
um outro modelo de desenvolvimento, baseado em desenvolvimento sustentável com
democracia efetiva, transição justa e medidas emergenciais para salvar vidas, proteger
o emprego e a renda. Defendemos o fim das privatizações e a garantia de serviços
públicos de qualidade e universais como saúde e educação, além de sistemas fiscais
mais justos e a criação de impostos sobre serviços digitais para gigantes da tecnologia
e grandes fortunas.

A CONJUNTURA NACIONAL

20. O ano de 2021, sob o pano de fundo da pandemia que já atingiu mais de 600 mil mor-
tos, em grande parte evitáveis, não fosse a política negacionista e genocida do gover-
no que apostou na imunização de rebanho e no tratamento precoce em vez do isola-
mento social e a vacinação, registrou ainda o agravamento do desemprego, pobreza e
abandono dos trabalhadores e trabalhadoras. Essa situação que vem piorando desde o
golpe de 2016, com o congelamento do orçamento e o desmonte das políticas sociais,
as reformas trabalhista e previdenciária e a aceleração da crise econômica, tem como
responsável o governo Bolsonaro. É uma questão de sobrevivência e de autodefesa da
classe trabalhadora a luta para colocar um fim neste governo, o quanto antes, através
da mobilização nos locais de trabalho e nas ruas.

21. Segundo dados da Pnad, a situação da classe trabalhadora é dramática. Temos mais de
14 milhões de trabalhadores e trabalhadoras desempregados; quase 25 milhões traba-
lhando por conta própria; os que estão na informalidade, sem carteira assinada ou sem
remuneração chegam 35,6 milhões de pessoas. Temos ainda 7,5 milhões de brasileiros
subocupados. Os que estão desalentados somam 5,6 milhões. Os dados revelam como
a crise econômica atinge a classe trabalhadora e a medíocre recuperação econômica
desde 2017.

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22. Para milhares de famílias, não restou alternativa senão viver na rua. É assustador o
que estamos vendo nas grandes cidades, crianças e idosos jogados nas calçadas. O
descaso é completo. O último estudo (2020) dava conta de 222 mil pessoas, mas salta
aos olhos o aumento, desde o início da pandemia.

23. A fome voltou ao Brasil. Em 2014, tínhamos saído do mapa da fome, hoje a estimativa
é que 19 milhões de brasileiros não têm o que comer. As imagens de pessoas brigando
por um pedaço de osso são revoltantes. A inflação acumulada nos últimos 12 meses
chegou a 10,25%, processo que atinge de forma mais aguda os mais pobres. O preço
absurdo da luz, da gasolina e do gás de cozinha empurram mais e mais pessoas para
uma situação de insegurança alimentar.

24. A política deliberada de desmonte do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do pro-


grama de aquisição de alimentos, das políticas de incentivo à agricultura familiar e
desenvolvimento agrário mostram o descaso do governo com os trabalhadores e tra-
balhadoras do campo, responsáveis pela produção da maior parte dos alimentos que
chegam à mesa dos brasileiros. Milhares de famílias estão na fila do bolsa família e do
miserável auxílio emergencial.

25. Enquanto isso se privilegia o agronegócio, para produção de commodities agrícolas


que servem para a exportação e que não alimentam o povo brasileiro, além de se ba-
sear no uso extensivo de agrotóxicos e avançar sobre os biomas e suas comunidades.
O governo Bolsonaro atua para destruir os mecanismos da política ambiental existen-
tes para favorecer setores econômicos, como o agronegócio e o da mineração, que se
baseiam em um modelo predatório de exploração da natureza e da classe trabalhadora.
A CUT luta pela promoção de um novo paradigma de sustentabilidade que rompa com
as lógicas do capitalismo, que nos levaram à atual crise ambiental e social, colocando
a vida e o trabalho no centro com o protagonismo das comunidades, trabalhadoras e
trabalhadores rurais e urbanos, povos indígenas e comunidades tradicionais.

26. Para os que conseguem manter-se no emprego formal – o que deveria ser um direito
assegurado a todos e todas - as longas jornadas, a baixa remuneração e o adoecimento
se tornaram mais intensos nesse período. Novas formas de superexploração, como o
“home-office” e a “plataformização”, foram intensificadas durante a pandemia, aumen-
tando o lucro e a exploração da força de trabalho.

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27. Setores mais vulneráveis da nossa classe – mulheres, jovens e negros – são as maiores
vítimas da violência, da precarização do trabalho, da pandemia e da desigualdade so-
cial. O povo negro é o que tem menos acesso à vacina, ao emprego, à saúde e à comida.
Os jovens são as maiores vítimas do desemprego e do trabalho precário, habitando as
periferias e as ruas. A violência contra as mulheres e a juventude negra só aumenta.

28. Os sindicatos, nesse cenário, enfrentam dificuldades. No primeiro semestre de 2021,


o Sistema de Acompanhamento de Greves do DIEESE registrou 366 greves (69% da
esfera privada), praticamente a mesma quantidade registrada no primeiro semestre de
2020, o menor patamar de paralisação, para os primeiros seis meses do ano, na última
década. A maioria das greves foi encerrada no mesmo dia em que foi iniciada. As pau-
tas de reivindicação tiveram caráter defensivo, visando proteger direitos e condições
de trabalho.

29. Neste período desafiador, a CUT propôs em março de 2019 uma Pauta Emergencial
para o enfrentamento da pandemia, da crise econômica e social, assumida pelo conjun-
to das centrais, que previa o pagamento de um auxílio emergencial de um salário-mí-
nimo, medidas para preservação dos empregos, garantias de medidas sanitárias e de
proteção à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras dos serviços essenciais, exigência
da testagem em massa e condições de trabalho para o home office. Incluímos também
propostas econômicas visando garantir a sobrevivência das pequenas, microempresas
e dos empreendimentos familiares, responsáveis por quase 50% dos empregos urbanos
do país e para a agricultura familiar, responsável por 70% da produção dos alimentos
que são consumidos pela população.

30. Essa agenda tornou-se referência para que nossos sindicatos e o movimento sindical
brasileiro pudesse pressionar e negociar com o parlamento medidas protetivas que
o governo se recusava a adotar. O governo, na contramão de todo o debate mundial
da preservação da vida e das condições econômicas e sociais para atravessar a crise,
e aproveitando das dificuldades para mobilizações e ações presenciais retomou com
mais intensidade a agenda da destruição de direitos por meio de medidas provisórias
e decretos, aprofundando a desregulamentação e flexibilização do trabalho, a preva-
lência dos acordos individuais sobre a negociação coletiva e o ataque à organização
sindical e a Justiça do Trabalho.

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31. Enfrentamos um difícil aprendizado de mobilizações virtuais, denúncias e pressões,
para organizar a resistência. A despeito das dificuldades e da experimentação de novos
instrumentos de luta e pressão pelos meios virtuais, das mobilizações simbólicas, gre-
ves, denúncias e medidas judiciais, tivemos algumas vitórias parciais que conseguiram
minimizar em parte os efeitos da pandemia e da crise social e econômica. O auxílio
emergencial de R$ 600,00, mesmo abaixo do que propusemos (R$ 1.045,00), foi três ve-
zes maior dos R$ 200,00 proposto pelo governo. Garantimos a participação dos sindi-
catos nas negociações de redução de jornada e salários, a liberação de pagamentos do
auxílio desemprego para quem estivesse em lockdown, as negociações coletivas para
home office, garantia de distribuição de máscaras, álcool gel, equipamento de proteção
individual e distanciamento social para os serviços essenciais, dentre outras medidas.
Sabemos que essas pequenas vitórias não foram suficientes para impedir a imensa
destruição que esse governo promove contra as conquistas da classe trabalhadora;
contudo devem ser valorizadas porque foram obtidas em condições adversas nunca
enfrentadas pelo movimento sindical e social brasileiro.

32. A resistência também se ampliou para além dos setores organizados. No caso dos en-
tregadores, que ganharam maior visibilidade durante a pandemia, há sinais de uma
organização que começa a tomar corpo. Em 2020 e 2021, eles chamaram a atenção da
sociedade com paralisações como os breques e os apagões de aplicativos, mobiliza-
ções que contaram com a simpatia e solidariedade de parte da população. No Brasil e
em vários países pelo mundo, as paralisações se multiplicaram.

33. A CUT e nossas entidades também tiveram e estão tendo uma experiência importante
na solidariedade de classe ao se aproximar dos movimentos sociais e comunitários
para campanhas de arrecadação de alimentos e produtos básicos para as famílias que
estão excluídas dos programas sociais. Principalmente agora nesse momento em que
mais de 19 milhões de pessoas estão voltando ao mapa da fome e não conseguem
sequer exercer suas atividades na informalidade. Muito além do mero assistencialis-
mo, nossas entidades têm dado exemplo de solidariedade de classe e possibilitado
que a discussão do abandono do estado com suas políticas neoliberais, seus efeitos e
consequências possam ser feitas com os movimentos comunitários e as comunidades
envolvidas. É também nessas comunidades e periferias que se encontram muitos dos
trabalhadores e trabalhadoras que, sem emprego formal, estão trabalhando nas plata-
formas digitais ou como MEIs. Se pretendemos e devemos organizar esses milhares de
explorados, esse pode ser um bom lugar para começar.

16ª Plenária Nacional da CUT | Atualização da Conjuntura 13


34. Ao longo do tempo, durante a pandemia, também aprendemos e aperfeiçoamos nos-
sos mecanismos de pressão e mobilização virtuais e simbólicos que nos ajudaram a
impedir outras investidas contra os direitos, como foi a derrota da MP 1045, que tentou
retomar todo o processo de reforma trabalhista promovido em 2019. A retomada das
mobilizações presenciais, com o avanço da vacinação por pressão social e popular,
aliada ao aprendizado da pressão através dos meios digitais também está proporcio-
nando que o governo não consiga os votos necessários para fazer a antirreforma ad-
ministrativa que acaba com os serviços públicos, tira direitos dos servidores e deixa
a população sem serviços de saúde, educação, segurança e os atendimentos básicos.

35. A realidade mostra que o povo trabalhador está vivendo em uma situação terrível, en-
quanto os grandes empresários, banqueiros e os bilionários aumentam os seus lucros!
Nessas condições, a CUT elegeu como prioridade a luta pelo fim do governo Bolso-
naro, desde já, sem esperar as eleições de outubro de 2022, pois cada dia a mais desse
governo genocida - privatizador e destruidor dos serviços públicos e das condições de
vida da esmagadora maioria do povo - será de mais ataques e destruição de tudo que o
povo trabalhador conquistou com luta nos últimos anos, a destruição da própria nação
brasileira.

36. Fustigado pela CPI da Covid, pelas denúncias da ação criminosa do ex-ministro do
meio ambiente, pela pressão da sociedade para a continuidade do auxílio emergencial
e pelo aprofundamento da crise, o governo Bolsonaro assiste ao aumento do índice de
sua reprovação e às manifestações de rua exigindo o seu fim – seja pelo impeachment,
cuja maioria do Congresso impede, seja pela cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.
Continua, no entanto, apoiado pela parcela população (cerca de 25%) alinhada ao pro-
jeto autoritário, além de contar com a aliança com o “centrão” para garantir sua sobre-
vivência.

37. Eventuais tensões no interior do bloco no poder não chegaram a abalar substancial-
mente o acerto feito em janeiro para manter a governabilidade. Não houve recuo na
agenda neoliberal, situação que manteve o apoio do grande capital internacional e
nacional e a aposta na linha predatória de exploração do trabalho, de devastação do
meio ambiente, de destruição do Estado e das políticas públicas. Apesar da tensão
permanente em relação à democracia, não tem havido descontinuidade em relação à
agenda econômica. Seguem tramitando ataques à classe trabalhadora como a PEC 32
e a aceleração no processo de privatizações, em detrimento de pautas de desenvolvi-
mento econômico e social.

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38. A CUT participa da Campanha Fora Bolsonaro juntamente com outras centrais e enti-
dades do movimento popular no sentido de forjar a mais ampla unidade pela derruba-
da imediata desse governo. Estamos conscientes da necessidade de a classe trabalha-
dora entrar nessa luta com os seus métodos próprios – paralisações, greves, associar
as reivindicações à luta pelo fim desse governo, dialogando com a situação de fome e
carestia que aflige a esmagadora maioria do povo.

39. A CUT denuncia as articulações chamadas pela grande imprensa de “terceira via”
como portadoras da mesma política que favorece o grande capital privado contra as
necessidades básicas e urgentes do povo, cujo sentido é o de, de forma fraudulenta,
traçar um sinal de igual entre Bolsonaro e Lula (“nem um, nem outro”). Não há terceira
via, mas somente dois projetos em disputa, um de caráter democrático e popular que
tem em Lula sua maior representação; e outro de caráter neoliberal que tem se mos-
trado incompatível com a democracia. As posições desses partidos nas votações que
dizem respeito aos interesses de nossa classe, é que é o critério de seleção de quem
são os verdadeiros aliados da classe trabalhadora e quem são seus inimigos, ainda que
disfarçados de “democratas”.

40. E deve intervir no debate eleitoral com a Plataforma da Classe Trabalhadora, apresen-
tando propostas para as questões que afligem o povo trabalhador: para enfrentamento
do desemprego, da precarização das condições de trabalho; deve também organizar e
mobilizar para a luta em torno de bandeiras mais universalistas: salário mínimo, redu-
ção de jornada, regulamentação crescente de direitos para trabalhadores de aplicativos
e plataformas, defesa da renda básica e políticas públicas, sustentabilidade ambiental
visando alcançar o conjunto da classe.

41. Diante da gravidade da conjuntura e do grau de abandono dos trabalhadores e traba-


lhadoras, é fundamental fortalecer a organização sindical CUTista seguindo a linha
proposta no Texto Base da Plenária, ampliar a mobilização pelo fim do governo Bol-
sonaro e construir uma estratégia e uma agenda – Plataforma da Classe Trabalhadora
– para organizar a classe trabalhadora para a retomada do desenvolvimento com valo-
rização do trabalho e inclusão social.

16ª Plenária Nacional da CUT | Atualização da Conjuntura 15


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