No último dia 13 de maio, um conjunto de entidades do movimento negro que se articulam
nacionalmente na Convergência Negra saíram as ruas de todo o país com um duplo objetivo. Primeiro, denunciar a falsa Abolição da Escravatura, que neste dia rememorava 133 anos. Segundo, gritar em alto e bom som que “nem de bala, nem de fome e nem de covid” morrerá a população negra no Brasil. Conforme o Atlas da Violência, pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no ano de 2018, 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras. Ou seja, três em cada quatro brasileiros assassinados no país em 2018 eram negros. No intervalo de dez anos, entre 2008 e 2018, o número de homicídios de pessoas negras registrou um aumento de 11.5%, enquanto a mesma taxa de homicídio para a população não negra caiu 12,9%. A atual pandemia do coronavírus também tem atingido de forma desigual a população brasileira. Seja pela fome, que hoje ameça a vida de 19,1 milhões de brasileiros, em situação de extrema miséria. Ou pelas condições precárias de saúde e de trabalho a qual são submetidas a maioria da população negra no Brasil. Segundo dados do IBGE, mulheres, negros e pardos são os mais afetados pela doença. Nesse sentido, diante das mais de 430 mil mortes devido ao coronavírus e perante o absurdo de operações policiais, tal como a ocorrida na favela do Jacarezinho no Rio de Janeiro, na qual foram chacinadas 28 pessoas, é possível afirmar que vivenciamos hoje um genocídio da população negra no Brasil. Esse genocídio em curso tem raízes mais profundas na história e na sociedade brasileira, mas são agravadas pelo negacionismo e pelo militarismo do governo federal. A única solução para a grave crise que vivemos é a vacinação em massa do povo brasileiro. Somente 17,8% da população brasileira foram vacinadas com a primeira dose, e apenas 8,88% com a segunda. Por tudo isso, é extremamente pertinente combinar a luta pela vacinação do povo brasileiro, com a luta por uma Segunda Abolição, que ponha fim as condições de pobreza e opressão pelas quais são submetidas a população negra no Brasil, e que são os fundamentos econômicos do genocídio. Como nos lembra o saudoso Florestan Fernandes, “A liberdade não é uma dádiva, mas uma conquista”. Que a luta do movimento seja o prenúncio da vacinação em massa do povo brasileiro e pelo fim do governo Bolsonaro.