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Basílica de Nossa Senhora de Lourdes

RAÍZES IDEOLÓGICAS
DO PENSAMENTO PÓS
MODERNSITA
Apostila
Luís Guilherme Netto Andrade

Hugo Santiago de Albuquerque

30.01.2017

A proposta deste trabalho é abordar uma análise dos pressupostos filosóficos


que geraram o pensamento contemporâneo e as ferramentas utilizadas para a
revolução cultural globalista anti-cristã.
Sumário
Sumário.........................................................................................................................................................2

Introdução....................................................................................................................................................3

A Origem da Escola de Frankfurt..............................................................................................................4

Karl Korsch......................................................................................................................................5
Max Horkheimer..............................................................................................................................6
Estruturalismo de Claude Lévi-Strauss.....................................................................................................9

O Pós Estruturalismo................................................................................................................................19

Ideologia de gênero....................................................................................................................................24

Karl Marx e a origem da família...................................................................................................24


A Escola de Frankfurt...................................................................................................................27
A contribuição do pós-estruturalismo de Derrida, Foucault e Louis Althusser............................28
A contribuição feminista de Kate Millet e Shullamith Firestone..................................................29
Contribuição de Kingsley Davis e a sociologia..............................................................................31
Judith Butler e a Ideologia de Gênero...........................................................................................33
As Grandes Fundações e as Ideologias....................................................................................................36

Saúde Reprodutiva: uma estratégia para os anos 90.....................................................................38


Breve conclusão..........................................................................................................................................43

Bibliografia.................................................................................................................................................44
Introdução

Em meio marcados por amplas transformações sociais, cientificas a tecnológicas do XIX,


as ciências humanas se desenvolveram de tal maneira que passaram a ocupar maior destaque na
virada do século XIX para o XX. O legado ilustrado influenciou a filosofia e o pensamento
científico da época, tornando-os mais materialistas e dialéticos.

O cientificismo tomou conta do pensamento corrente e os ideais marxistas ganharam


corpo a partir dos escritos de Hegel e Feuerbach, e o mundo e a concepção da verdade nunca
mais seriam como antes.

Diante das novas perspectivas e das influências políticas do período entre guerras
mundiais, ideólogos marxistas, almejando a efetivação do processo revolucionário, verificaram
que a teoria de Marx não teve êxito desejado tanto na Comuna de Paris nem na revolução
bolchevique. Os ideais foram colocados de lado e somente foi efetivado um processo
revolucionário militar sem a criação de uma cultura marxista. O marxismo deveria deixar de ser
meramente ativista e dar lugar à mudança da sociedade por dentro.

Nesse contexto o marxismo prático passa ao campo intelectual e filosófico, como


veremos adiante, e em paralelo, muitas iniciativas de mudança de pensamento aconteceram para
chegarmos aos problemas da modernidade: o relativismo, aborto, gênero, etc...

Nesse curso demonstraremos como se sucedeu o plano corrosivo das ideias centrais do
pensamento pós moderno, desde a origem marxista no princípio do século XX, como influenciou
a sociedade e seus frutos na atualidade.
A Origem da Escola de Frankfurt
Nos meados do século XX, com o passar do tempo e observando os efeitos da revolução
bolchevique, certos teóricos marxistas começam a questionar tanto o marxismo ativista da
Alemanha como o marxismo Leninista da Rússia. As previsões que Marx havia feito em suas
obras não se cumpriram, o número de empresários era cada vez maior e a disposição para a luta
armada por parte de uma classe operária não se realizará, pois a exploração era menor na Europa
e possuíam cada vez mais direitos. Além disso, a própria revolução russa não foi realizada por
uma classe proletária amadurecida, como desejava Marx, mas foi feita pelos socialistas do
partido e se tornou uma ditadura.

Esses autores, buscando uma solução para esses dilemas, resolvem iniciar um estudo
mais aprofundado das obras de Marx e procuram o acervo menos conhecido do autor, composto
por uma série de textos filosóficos que antecederam O Manifesto Comunista e o Capital, mas até
então não eram tão conhecidos e explorados. Nesse percurso, foi-se retornando às raízes
hegelianas do pensamento de Marx.

Nesse tempo, apareceu Felix Weil(1898-1975), argentino que estudou ciências políticas
na faculdade e aumentou gradativamente seu interesse pelo socialismo e marxismo. Em 1923,
ele utiliza o dinheiro de seu pai, Hermann Weil - um grande negociante alemão de grãos de trigo
na Argentina -, para financiar o Erste Marxistische Arbeitswoche (“Primeira Semana de trabalho
Marxista”) que deveria ser o início de uma série simpósios anuais com o escopo de unir as maiores
mentes do pensamento marxista para que essas chegassem a um acordo de como deveria ser
conduzido o desenvolvimento desse pensamento. Tentando dessa forma encontrar uma saída
para os empasses no quais o marxismo se encontrava.

Dentro da primeira conferência, importantes pensadores apresentaram suas ideias como


Karl Korsch, Georg Lukács, Karl August Wittfogel, Friedrich Pollock, e outros; porém, seria o
texto apresentado por Karl Korsch chamdo Marxismo e Filosofia que, naquele momento, seria a
base para que um grupo de filósofos marxistas fundassem um novo instituto na cidade de
Frankfurt, Alemanha.
Karl Korsch
Karls Korsch(1886-1961) foi um importante filósofo do pensamento marxista que, como
afirmado anteriormente, participou da conferência organizada por Weil. Lá, ele apresentou o seu
célebre trabalho chamado Marxismo e Filosofia. Nesse pequeno trabalho, o autor defende a
importância de uma mudança no abordagem marxista, pois era preciso fomentar uma filosofia
revolucionária o que até então não era visto como um marxismo ortodoxo. Ele afirma que:

“Uma práxis revolucionária que se limitasse à ação direta contra o núcleo


terreno das concepções nebulosas da ideologia, sem se preocupar com a revolução e a
superação das próprias ideologias, seria naturalmente tão abstrata e não dialética quanto o
método teórico assim descrito, que se contenta, como o de Feuerbach, com a remissão de

todas as representações ideológicas ao seu núcleo terreno”.1

Portanto, para Korsch, o método o revolucionário que estava sendo aplicado até então
não era o suficiente, pois se focava apenas em combater a infraestrutura que, de acordo com
Marx, seriam compostas pelas bases materiais e econômicas que sustentavam o poder; e que se
manifestavam na relação produtiva entre o opressor e o oprimido. O autor manifesta a
necessidade de uma superação de toda superestrutura ideológica, isto é, sentimentos, maneiras de
pensar e concepções de vida, todas advindas da sociedade burguesa e servindo para manutenção
da infraestrutura do poder.

Sem uma superação de todos os conceitos e ideias que compõem essa superestrutura,
mesmo que se faça a revolução armada, com o tempo, as coisas tenderiam a retornar para o
estado anterior empurradas por ideias de: Estado, justiça, direito, filosofia, família, etc. Por isso,
a práxis social deve ser apoiada e seguida por uma crítica científica da sociedade baseada no
método materialista dialético apresentado por Marx. Korsch afirma que:

“Assim como a ação econômica da classe revolucionária não torna


supérflua a ação política, a ação econômica e política em conjunto não tornam
supérflua a ação espiritual: esta, ao contrário, deve ser também conduzida a seu
termo, na teoria e na prática, enquanto crítica científica revolucionária e trabalho
de agitação antes da tomada do poder pelo proletariado e enquanto trabalho
científico de organização e ditadura ideológica após a conquista do poder. E o

1
KORSCH, K., Marxismo e filosofia, UFRJ, Rio de Janeiro: 2008, pp. 51-51
que vale em geral para a ação espiritual contra as formas de consciência próprias
à sociedade burguesa tal como a conhecemos vale ainda mais para a ação
filosófica em particular A consciência burguesa deve igualmente ser combatida
no plano filosófico pela dialética materialista revolucionária, a filosofia da classe
proletária, até que seja, ao fim desse combate, TOTALMENTE SUPERADA E
SUPRIMIDA no plano teórico, simultaneamente à total transformação, no plano
prático, da sociedade existente e de suas bases econômicas. ‘Não podeis superar a
filosofia sem antes realizá-la”2

Em meados da década de 1920, Felix Weil percebe que o trabalho de Korsch era a linha
de orientação que deveria guiar o pensamento marxista e desiste de fazer outras conferências
anuais, mas, ao em vez disso, ajuda com suas posses financeiras a fundar o Instituto de Pesquisa
Social junto à Universidade Frankfurt na Alemanha. Esse terá como primeiro diretor Karl
Griinberg, marxista austriaco, historiador da classe operaria; sucede-lhe inicialmente Friedrich
Pollock e mais tarde, em 1931, Max Horkheimer. E foi com esse terceiro diretor que o Instituto
passou a adquirir uma importância e prestígio crescente, tornando-se a conhecida Escola de
Frankfurt famosa por propagar com toda a força a denominada “teoria crítica da sociedade”

Max Horkheimer
Max Horkheimer tornou-se diretor do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt em 1931,
com ele a escola vai se caracterizar como um centro de elaboração e propagação da teoria crítica
da sociedade. Ele escreveu um importante ensaio sobre o tema chamado Teoria Tradicional e
Teoria Crítica em 1937. A teoria crítica é o pilar metodológico para o começo de uma revolução
intelectual marxista e servirá de fundamento para os seus teóricos entrarem na luta das ideias,
desvencilhando o combate apenas do campo político e bélico como Korsch havia proposto.

Ele apresenta uma espécie de nova epistemologia que estaria implícita nas obras de Marx,
um novo modo de raciocinar, uma espécie de nova lógica em contraposição à percepção
tradicional da relação entre o objeto e o sujeito. Na teoria tradicional, o sujeito pressupõe a
verdade metafísica do objeto e busca compreender em sua inteligência aquilo que apreendeu por
um processo inicial de abstração feito à partir da experiência sensível do objeto.

2
Ibidem, p. 63
A teoria crítica altera essa ordem, porque o objeto passa a ser visto como fruto de outros
sujeitos externos ao indivíduo, pois, no ato de conhecer, temos que perceber que o objeto foi
feito de tal forma a nos manter reféns de um estado burguês, de uma mentalidade própria
determinada por quem detém o poder. Por isso, não podemos conhecer a coisa enquanto tal, isso
é impossível. O que nos cabe é criticar, duvidar que qualquer coisa é o que parece; seria a
instituição de uma desconfiança universal supondo uma intencionalidade burguesa implícita
contida no ato de conhecer que nos mantém refém de uma superestrutura ideológica criada pela
relação de opressão contida na infraestrutura material e econômica da sociedade.

Os burgueses estão muito interessados que eu seja eu mesmo e que eu pense que sou
quem sou, mas eu preciso entender que o meu ser é produção de outras pessoas, deideias criadas
fora de mim. Logo, preciso duvidar das coisas até o ponto de duvidar de mim mesmo e da minha
própria pessoa.

Em seu ensaio chamado Autoridade e Família, ele diz que a ideia de autoridade é gerada
na família com a relação da criança e o pai, o que vai sendo incutido desde a mais tenra idade.
Depois, essa autoridade vai se consolidando nas instituições da sociedade, sendo sacralizada
pelas diversas religiões e, por último, se torna real, concreta e histórica no Estado. Logo, o
Estado é a representação máxima da ideia de autoridade sobre o indivíduo que foi aprendida
inicialmente na família.

Se a ideia de autoridade não for combatida em sua fonte que é a família, não será possível
querer a subversão do Estado. Para conseguir operar a revolução é necessário alterar a ideia de
autoridade dentro da família que é a responsável por reproduzir a mentalidade do poder e
sociedade como entendemos.

“A família cuida da representação dos caráteres humanos tal como os exige a vida social,
e lhes empresta em grande parte a aptidão imprescindível para o comportamento
especificamente autoritário, do qual depende amplamente a sociedade burguesa”. (A tarefa da
família é) “educar para o comportamento autoritário”.3

Então, para Horkheimer, a autoridade é transmitida pela família tradicional e é a maior


força contrária à revolução. Para aplicar a teoria crítica e destruir a ordem vigente sustentada
3
HORKHEIMER, M., Autoridade e família, em Teoria Crítica, vol. I, Perspectiva, São Paulo: 2012.
sobre uma ideia de autoridade, é preciso agir sobre a família que é a indispensável influência
para reproduzir os determinados tipos de caráter autoritário. Visando a desconstrução dessa
mentalidade, essa ideia de autoridade que é defendida pois os argumentos frutos da autoridade
social seriam os únicos apresentados para se defender perante às críticas feitas contra a sociedade
burguesa. Logo, ela vai gradualmente concluindo que é a autoridade provinda da família a
principal responsável por auxiliar na perpetuação da relações de opressão econômicas que
sustentam a sociedade e os que se encontram no poder.

“A estrutura de autoridade de uma dada família pode, no entanto, ser forte o


bastante para que o pai mantenha seu papel, mesmo que tenha desaparecido a base
material para isso, do mesmo modo que, na sociedade, determinados grupos podem
continuar dominando, por pouco que tenham a oferecer no total. Os poderes psíquicos e
físicos que procederam do econômico demonstram, então, sua capacidade de resistência.
De fato, eles resultam originariamente da base material da sociedade, da posição do
homem neste regime de produção, mas as consequências desta dependência geral ainda
podem, num caso isolado, ser atuantes num momento em que o pai já tenha perdido há
tempos a posição, seja porque ele conseguiu infiltrar tão profundamente seu poder na
alma dos seus quando ainda era de fato o provedor, seja porque a convicção geral e
firmemente arraigada do papel de pai faz a sua parte para ajudar mulher e filhos” 4

De tal forma seria contundente a força da autoridade, que mesmo com a relação real da sociedade
que é a econômica sendo afetada, ainda geraria convicções fortes o bastante, isto é, ideologias
suficientemente convincentes para a perpetuação de determinados grupos no poder. Portanto, esse autor
vai colocando um pilar importante para entendermos a ênfase, por exemplo, que existe nas Ideologias
pós-modernas, em combater a estrutura familiar tradicional. Ideias que poderemos observar
constantemente no pensamento marxista e feminista da atualidade.

Estruturalismo de Claude Lévi-Strauss


O conceito do termo ‘estrutura’ se dá, segundo Giovani Reale e Dário Antiseri, em sua
obra História da Filosofia vol.III, capítulo XXXIV, pelo conjunto de sistemas de transformações
que se autorregualam. É um conjunto de leis que definem um âmbito de objetos e entes,

4
Ibidem.
estabelecendo relações entre eles e especificando seu comportamento e/ou suas maneiras típicas
de se desenvolverem.

O termo ganhou uma conotação filosófica pelo trabalho de pensadores como Lévi-
Strauss, Althusser, Foucault e Lacan. Tais pensadores pretendendo, de certa maneira, inverter a
forma como eram vistas as ciências humanas, destronando o sujeito e suas celebradas
capacidades de liberdade, autodeterminação e autotranscendência; para “estruturas profundas e
inconscientes, onipresentes e onideterminantes” a fim de tornar científicas as ciências humanas.

O estruturalismo surgiu na França, no começo do século XX, e foi incorporado ao


método de diversas disciplinas humanas, começando pela linguística e se estendendo a outras
como: antropologia, sociologia, psicologia e filosofia. O base do estruturalismo é a linguística
estrutural de Ferdinand de Saussure, pois, a partir dessa visão estruturalista da linguagem, foi
tomando corpo a ideia de que todas as ciências giram em torno da linguística, visto que tudo o
que constitui o propriamente humano ocorre dentro dos limites da linguagem. O estruturalismo
se insere, portanto, na análise da consciência linguística que caracterizaria o pensamento
contemporâneo.

Não se trata de um conjunto compacto de doutrinas, caracteriza-se mais por ser uma
polêmica comum mantida pelos autores estruturalistas contras as correntes do subjetivismo,
humanismo, o historicismo e o empirismo. O estruturalismo retira o foco do homem no “ser” e o
transfere para a relação, “estrutura”. Diante disso, ressaltamos o trecho de Reale e Antiseri, in
verbis:

“De Saussure em diante, a linguística estrutural mostrou os complexos


mecanismos (fonológicos, sintáticos etc.) da estrutura que da linguagem, dentro de cujas
possibilidades move-se nosso pensamento; a etnolinguística (Sapir e Whorf) mostrou
como e em que medida nossa visão de mundo depende da linguagem que falamos; o
marxismo evidenciou o peso da estrutura econômica na construção do indivíduo, de suas
relações e de suas ideias; a psicanálise mergulhou nosso olhar na estrutura inconsciente
que sustenta os fios dos comportamentos conscientes de nosso eu; a antropologia e as
ciências etnográficas põem a nu sistemas compactos de regras, valores, ideias e mitos que
nos plasmam desde o nascimento e nos acompanham até o túmulo. E uma historiografia
renovada, sobretudo sob os estímulos de Bachelard (É central a sua ideia de "ruptura
epistemológica"), nos põe diante de uma história do saber como desenvolvimento
descontínuo de estruturas que informam o pensamento, a prática e as instituições de
diversas épocas e, com isso, de segmentos culturais diferentes da história do homem.” 5

O estruturalismo passa a dar nova abordagem ao homem, pretendia, portanto, ter “o


homem” como objeto, mas por outra perspectiva. Ao admitir que seu escopo de conhecimento se
dá pela relação, chega a afirmar que “o homem estaria morto”, conforme dita Reale e Antiseri
em seu referido livro supracitado. In verbis:

‘(...) podemos dizer que, para o estruturalismo filosófico, a categoria ou ideia de


fundo não é o ser, mas a relação; não é o sujeito, mas a estrutura.

A exemplo das peças do jogo de xadrez, das cartas do jogo de cartas, ou então
dos entes linguísticos, matemáticos ou geométricos, os homens não têm significado e
"não existem" fora das relações que os instituem, os constituem e especificam seu
comportamento. Os homens, os sujeitos são formas, não substâncias.

O humanismo (e "o existencialismo é um humanismo" - como dizia Sartre)


exalta o homem, mas não o explica. O estruturalismo, ao contrário, pretende explicá-lo.
Mas, explicando-o, o estruturalismo proclama que o homem está morto.Nietzsche
afirmou que Deus está morto; hoje, os estruturalistas afirmam que o homem é que está
morto. E teria sido morto pelas ciências humanas. A ciência do homem não é possível
sem anular a consciência do homem. Como escreveu Lévi-Strauss em O pensamento
selvagem, "o fim último das ciências humanas não consiste em constituir o homem, mas
em dissolvê-lo".6

Diante desse quadro, destaca-se, Claude Lévi-Strauss.

Antropólogo de formação e tendo concluído o doutorado em Paris, publicou sua


dissertação com o título Les Structures élémentaires de la parente (The Elementary Structures of
Kinship, 1969)7, revolucionando as relações de parentesco até então presentes concebidas. Seis
anos mais tarde, Lévi-Strauss publicou uma narrativa de viagem antropológica, Tristes Tropiques

5
REALE, G., e ANTISERI, D., História da Filosofia - de Freud até a atualidade, vol. VII, ed. Paulus, São Paulo,
pág. 134
6
Ibidem
7
LÉVI-STRAUSS, C., The Elementary Structures of Kinship, 1969
(1955). Passados três anos, veio a consolidar-se uma coleção de artigos, Anthropologie
structurale (1958; Structural Anthropology, 1963a). Nesse momento Lévi-Strauss havia
consolida o estruturalismo. O estruturalismo é uma teoria que procura apreender as qualidades
gerais de sistemas significativos, sistemas de parentesco e de mitos. Tais sistemas se
consubstanciam em elementos, quais sejam relações.

Em sua obra, As Estruturas Elementares de Parentesco (The Elementary Structures of


Kinship, 1969), ele abriu novas perspectivas, abandonando o estudo monográfico e setorial das
relações de parentesco, chegando à conclusão de que este estudo não permitiria obter leis de
validade universal, capazes de dominar a maior variedade dos modos e das relações de
parentesco. Lévi-Strauss utiliza o modelo da linguística evidenciando estruturas constantes
relacionadas ao sistema de parentesco. Nessa linha de raciocínio haveria uma guia e estrutura
que guia o caos dos fenômenos humanos partindo da ideia de que "as regras do matrimônio e os
sistemas de parentesco devem ser considerados como urna espécie de linguagem. Tal conjunto
de operações serviria para assegurar, entre os indivíduos e os grupos, certo tipo de
comunicação", Lévi-Strauss conseguiu estabelecer que as regras de matrimônio observáveis nas
sociedades humanas "representam modos de assegurar a circulação das mulheres no seio do
grupo social, isto é, substituir um sistema de relações consanguíneas, de origem biológica, por
um sistema sociológico de aquisição de parentesco". Em outros termos, o que Lévi-Strauss
demonstra que "a finalidade profunda das estruturas segundo as quais os 'primitivos' constroem
suas relações de parentesco consistem em impedir que cada clã familiar se feche isoladamente
em si mesmo

Ao tomarmos o exemplo de um sistema de parentesco, conforme verificamos na teoria


presente de Lévi-Strauss, que se trata de um sistema significativo, e assim, o objeto de estudo
consiste em relações, mais do que em posições (status). “Um pai não é em si mesmo um pai, mas
apenas em relação a seus filhos”. Ao acrescentar aos estudos, Erikssen complementa:

Tal interpretação das estruturas elementares do parentesco, enquanto de um lado


consegue por ordem em uma série ilimitada de fenômenos à primeira vista desconexos
ou, de qualquer modo, nunca vistos da perspectiva de um princípio único, do outro
explica a proibição universal do incesto. Essa proibição não deve ser explicada com
argumentações de tipo biológico ou com razões morais. Ela é muito mais consequência
da estrutura inconsciente e universal que impõe a instauração das relações abertas de
parentesco.8

Ao acrescentar aos estudos, Erikssen complementa:

A ideia do significado como relação não era em si nova. Ela constituía um


componente importante da linguística estrutural de Jakobson e também da lingüística
semiótica criada por Ferdinand de Saussure antes da í Guerra Mundial. Em ambos o
significado deriva da relação - o contraste ou a diferença - entre elementos lingüísti- cos
(fonemas, palavras, signos). O significado relacional era também fundamental na
cibernética - como Bateson gostava de dizer, significado é uma “diferença que faz
diferença” (1972: 453). Finalmente, e mais importante, o significado relacional está
implícito na análise que Mauss fez do presente. Aqui os objetos ficam carregados com o
poder mágico das relações pelas quais eles transitam. É a troca que dá ao presente o
significado que ele tem (ver Lévi-Strauss 1987a [1950]).

Evidentemente, a integridade dessa escolha deve ser salvaguardada. Ela não


deve parecer como determinada pela natureza. Você não deve casar-se com seu irmão ou
irmã; eles são “próximos demais”, “naturais demais”, seria algo muito parecido a você se
casar com você mesmo. Não adiantaria nada “escancarar” o seu mundo, dar-lhe
significado relacionando-o com alguma outra coisa.9

Lévi-Strauss relaciona uns aos outros os objetos encontrados, e a partir deles arquiteta
estruturas de significado, estas quais narradas como mitos pelos povos mais primitivos. Desta
forma, são criadas estrutura a partir dos eventos.

Para a antropologia e filosofia anglo-saxãs, Lévi-Strauss teve influência limitada devido


ao fato de poucas obras suas serem traduzidas até meados dos anos 1970, o que adiou a chegada
do pensamento estruturalista na América. Todavia, Erikssen assinala a o êxito desta corrente na
França e nos demais países da Europa, in verbis:

Na França o estruturalismo se tomou uma alternativa ao marxismo e à


fenomenologia nos anos 1950, e o seu impacto sobre a vida intelectual de modo geral foi
pelo menos tão forte quanto na antropologia. Intelectuais importantes de campos
diferentes da antropologia, como Roland Barthes, Michel Foucault e Pierre e Bourdieu,
8
ERIKSEN, Thomas; NIELSEN, Finn. História da Antropologia., Tradução: Euclides Luiz Calloni, Ed.Vozes.
(2007) pág. 128
9
Ibidem, pág. 129
foram educados no estruturalismo e mais tarde se rebelaram contra ele - e essa revolta foi
por sua vez detectada e debatida pelos antropólogos, que acabaram introduzindo esses
autores nos cânones da antropologia.

Na Inglaterra Leach foi o primeiro antropólogo importante ajuntar-se a Lévi-


Strauss. O próprio Lévi-Strauss havia comentado bastante extensamente sobre o
parentesco entre os kachins, e Leach reconheceu imediatamente a relevância das
conclusões do francês para os seus próprios estudos. Leach descobriu no estruturalismo
uma alternativa sofisticada ao empirismo inglês, frequentemente(sic) caracterizado pelo
senso comum e pelo prosaísmo, e em 1970 ele escreveu uma introdução a Lévi-Strauss
que aumentou substancialmente o conhecimento da obra do autor francês no mundo de
língua inglesa. O antropólogo de Oxford, Rodney Needham, que havia estudado com
Josselin de Jong em Leiden, foi outro entusiasta inicial de Lévi-Strauss, apesar de ter
certas reservas desde o princípio (Needham 1962). Essas reservas aumentaram ainda mais
depois de uma troca de correspondência infeliz com o próprio Lévi-Suauss que, num
prefácio de expressões carregadas à edição inglesa do seu livro sobre parentesco, rejeitou
a interpretação dada por Needham à sua teoria do parentesco. De sua parte, Needham
continuou a desenvolver o pensamento estruturalista sobre classificação e parentesco em
direções inovadoras, mas sem fazer qualquer referência a Lévi-Strauss. A maioria dos
antropólogos anglo-americanos, porém, suspeitava profundamente do estruturalismo. O
que os perturbava eram os modelos abstratos e o raciocínio dedutivo de Lévi-Strauss.
Muitos consideravam sua obra inútil porque não podia ser testada empiricamente (uma
avaliação da qual Lévi-Strauss discordava enfaticamente).10

A teoria do parentesco de Lévi-Strauss (muitas vezes referida como teoria da aliança, em


oposição à teoria da descendência estrutural-funcionalista) era outrora debatida na Inglaterra na
década de 1950, apesar de haver incompreensões inevitáveis devido à falta de traduções para o
vernáculo britânico. Entre os pensadores da filosofia estrutural-funcionalista aumentava cada vez
mais a insatisfação com a teoria da descendência, a qual se mostrava insuficiente para
compreender os chamados “sistemas de parentesco não unilineares”.

O escopo de estudo estruturalista sobre troca e aliança parecia dar pressupostos e


condições para solver os problemas encontrados acima, de forma que dava maior relevância às
relações de parentesco laterais em detrimento das lineares; desta maneira, foi muito bem aceito

10
Ibidem, pág. 132
por antropólogos que estudavam em sociedades desprovidos grupos de descendência claramente
unilineares. Em suma Reale e Antiseri fazem a seguinte análise do pensamento:

A ação humana é urna ação toda regulada pelas poucas normas "formais" que o
estruturalismo faz emergir. A história humana é como um jogo de xadrez, com peças que
se deslocam segundo as indicações das regras. As mais diversas configurações das peças
no tabuleiro podem parecer arbitrárias e sempre "novas" para o observador externo que
ignora as regras. Mas não é assim para quem conhece as regras. E o estruturalista
pretende captar as regras que, encastoadas no "espírito da humanidade", estruturam não
apenas as configurações da vida social dos homens, mas também seus produtos mentais. 11

Desta forma, existe razão oculta que guia e estrutura o caos dos fenômenos humanos.
Lévi-Strauss parte do principio que as relações de parentesco devem ser consideradas como
espécie de linguagem. É um conjunto de operações destinadas a assegurar certo tipo de
comunicação entre indivíduos e grupos. Lévi-Strauss propõe que, como observa nas sociedades
humanas, “a finalidade profunda das estruturas segundo as quais os ‘primitivos’ constroem
relações de parentesco consiste em impedir que cada clã familiar feche-se em si mesmo”.

A transição do “período de parentesco” ao “período da mitologia” descritos por Lévi-


Strauss é percebido na obra The Savage Mind. Posteriormente a obra mais notável desse período,
chamado “período mitológico” é Mythologiques. Esta é uma compilação de quatro volumes que
consiste na análise do mito nativo americano, publicada entre 1967 e 1974. Contudo, a obra The
Savage Mind se popularizou mais devido à sua simplicidade popular que viabilizou a difusão da
antropologia estruturalista com a análise de povos primitivos. Por fim, trazemos a lume a
preciosa contribuição de Erikssen:

Essa tese, ou seja, a ideia de que existem estruturas "psico1ógicas profundas,


estruturas elementares do pensamento humano, Lévi-Strauss demonstra-a, de um lado,
com o exame do pensamento selvagem e, de outro, com a análise dos mitos. Em seus
estudos sobre os "primitivos", Lucien Lévy-Bruhl acentuara os aspectos emocionais da
mentalidade dos povos primitivos, sustentando que encontramos nela urna

quase ausência de funções lógicas. Pois bem, em O pensamento selvagem


(1962), com base em rica documentação, Lévi-Strauss sustenta a falsidade da posição de
11
REALE, G., e ANTISERI, D., História da Filosofia - de Freud até a atualidade, vol. VII, ed. Paulus, São Paulo,
pág. 138
Lévy- Bruhl. O pensamento "selvagem", diz ele, não é de modo algum menos lógico do
que o pensamento do homem "civilizado", o que pode ser visto na catalogação que os
"primitivos" fazem dos fenômenos naturais ou em suas classificações totêmicas. O
pensamento selvagem é ordenação da natureza que revela urna racionalidade bem clara.

Da mesma forma, urna rígida lógica estrutural revelada pelos mitos, analisados
por Lévi-Strauss nos quatro volumes das Mitológicas (O cru e o cozido, 1964; Do me1 às
cinzas,1966; A origem dos bons modos à mesa,1968; 0 homem nu, 1972). O mito é
frequentemente considerado como o espaço da fantasia e da arbitrariedade. Mas Lévi-
Strauss afirma que ele é uma estrutura lógico-formal que dá lugar a produtos (Os mitos)
com os quais a mente humana ordena, classifica e dá sentido aos fenômenos. Estudados
no plano de sua organização sintática, desdobrados em seus elementos e considerados em
suas relações,

geralmente binárias, conjuntivas, opositivas etc. (o herói e a vítima, o amigo e o


inimigo, o pai e a mãe, o cru e o cozido etc.), os mitos de diversas sociedades,
aparentemente diversos e sem vinculações, podem ser agrupados e ordenados.

O que Lévi-Strauss faz é "trazer à luz não tanto o que há nos mitos [...I e sim,
muito mais, o sistema de axiomas e postulados que definem o melhor código possível,
capaz de dar significado comum e elaborações inconscientes, inerentes a espíritos, a
sociedades e a culturas escolhidos entre os mais distantes uns dos outros". Existe,
portanto, a lógica dos mitos, que é imanente à própria mitologia. E "Os esquemas míticos
apresentam eminentemente o caráter de objetos absolutos".12

Paul Ricoeur aduz que o estruturalismo de Lévi-Strauss é de certo modo como um


kantismo sem sujeito transcendental: há um inconsciente (de tipo kantiano e não freudiano)
formado de categorias, que constituiria a matriz de todas as outras estruturas. O estruturalista
pretende captar as regras que, encastoadas no "espírito da humanidade", estruturam não apenas
as configurações da vida social dos homens, mas também seus produtos mentais.

O Funcionalismo de Émile Durkheim

Émile Durkheim(1855-1917) é um importante intelectual francês considerado


fundador da sociologia moderna. Em seu livro As regras do método sociológico(1895),
12
ERIKSEN, Thomas; NIELSEN, Finn. História da Antropologia., Tradução: Euclides Luiz Calloni, Cap.
Ed.Vozes. pág. 136 (2007)
Durkheim afirma que a sociologia é uma ciência autônoma que deve ter seu objeto próprio bem
especificado e sua própria metodologia.
Nessa obra, ele descreve como objeto específico da sociologia os “fatos sociais”, que ele
define da seguinte forma: “É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, (...) que é geral na extensão de uma sociedade
dada, e, ao mesmo tempo, possui existência própria, independente de suas manifestações
individuais.”13
Portanto, os fatos sociais são o conjunto de normas que orientam a vida do
indivíduo e possuem como principais características a exterioridade e coercibilidade. Eles são
tratados como coisas, ou seja, possuiriam existência própria e exterior, independente da
consciência dos indivíduos. Eles exercem sobre estes um poder coercitivo, o que observamos
ocorre quando alguém não observa uma regra, institucionalizada ou não pelo sistema do Direito,
e por isso recebe uma sanção correspondente, oriunda de outra pessoa ou instituição. Assim se
expressa Durkheim:

Podemos assim representar-nos, de maneira precisa, o domínio da sociologia.


Ela compreende apenas um grupo determinado de fenômenos. Um fato social se
reconhece pelo poder de coerção externa que exerce ou é capaz de exercer sobre os
indivíduos; e a presença desse poder se reconhece, por sua vez, seja pela existência de
alguma sanção determinada, seja pela resistência que o fato opõe a toda tentativa
individual de fazer-lhe violência. Contudo, pode-se defini-lo também pela difusão que
apresenta no interior do grupo, contanto que, conforme as observações precedentes,
tenha-se o cuidado de acrescentar como segunda e essencial característica que ele existe
independentemente das formas individuais que assume ao difundir-se. 14

Por fim, podemos perceber que os fatos sociais são distintos de simples condutas
repetidas pelos membros de uma determinada sociedade, pois o modo de fazer ou ser,
representado por um fato social possui maior caráter de perenidade que algumas condutas mais
efêmeras que determinadas sociedades praticam. Por exemplo, uma regra moral, que para
Durkheim possuiria bases bem mais rígidas que costumes profissionais ou modismos. Uma
cerimônia de um funeral, por exemplo, é um hábito bem mais arraigado do que o costume
13
DURKHEIM, É. As Regras do Método Sociológico, São Paulo, Martins Fontes, 2007
14
Ibidem
relativo a utilizar chapéus em dias de sol, ainda que seja a moda atual, a ponto de ser considerado
um fato social, em nossa sociedade.
Durkheim estava convencido de que as sociedades eram sistemas lógicos, integrados,
em que todas as partes eram dependentes umas das outras e trabalhavam juntas para manter o
todo. A sociedade seria um “organismo social” - fazendo analogia ao corpo humano - em que
cada parte tem uma função específica e o Funcionalismo seria basicamente o estudo dessas
inúmeras funções e suas consequências.
Dessa estrutura funcional identificada na sociedade é que emergiria o fato social que seria
o objeto responsável por delimitar o estudo da sociologia, pois todo fenômeno social tem um
função que é possível de ser identificada como ocorre em um organismo vivo e os órgãos que o
compõem.
Em seu livro O Suicídio(1897), ele aplica as regras que descreve no seu método
sociológico para estudar a questão do suicídio que é um fato social. Ele procura demonstrar sua
tese de que as estruturas sociais influenciam, como um fato externo e determinante, os
comportamento demonstrados pelos indivíduos na sociedade. Tentando também comprovar por
esse trabalho a própria viabilidade de uma ciência social:
“Escolhemos o suicídio para esta publicação...porque, como há poucos que sejam mais
facilmente determináveis, este nos pareceu um exemplo particularmente oportuno...Dessa
maneira conseguimos encontrar verdadeiras leis que provam melhor que qualquer argumentação
dialética a possibilidade da sociologias.”
Ao longo da obra, ele analisa diversos índices, cria tipologias e acaba concluindo que a
taxa de suicídio depende diretamente dos laços sociais mantidos pelos indivíduos, pois observa
que o número de suicídios é maior em famílias com menos filhos do que em famílias numerosas,
entre solteiro que casados, onde as estruturas religiosas são mais fracas 15, etc. Seria a estrutura
familiar o principal determinante do suicídio e não os problemas psicológicos. Portanto, o
suicídio seria um fato que deve ser explicado por motivos estruturais sociológicos e não por atos
pessoais de tendência autodestrutiva. Podendo chegar a afirmar que são os problemas da
estrutura social que levariam aos problemas psicológicos fomentadores do suicídio.
15
Ele se refere a estruturas religiosas similares à estrutura família, como o catolicismo por
exemplo.
Essa obra foi uma exemplificação do seu método sociológico, pois ele tenta mostrar que
a estrutura social induz o comportamento, condiciona as decisões das pessoas e, por fim, o
próprio ser humano. Foi uma tentativa prática de demonstrar pelo estudo do suicídio o seu
entendimento funcionalista da estrutura da sociedade e tal forma estrutural é essencial para
compreender o próprio agir dos indivíduos.
O pensamento de Durkheim influenciou importantes sociólogos do século XX que foram
além, pois, à partir do entendimento da tessitura social que o funcionalismo os proporcionou,
eles passaram a tentar não só compreender o funcionamento da sociedade, mas serem capazes de
poder modificar as estruturas sociais, criar novos fatos sociais pelas mudanças nas estruturas
básicas e suas funções.

O Pós Estruturalismo
Essa corrente de pensamento tem seu surgimento diante dos protestos e revoluções
ocorridos no ano de 1968, especialmente na França, pois a estudaremos com o enfoque dado
pelos trabalhos de Louis Althusser, Michel Foucault e Jacques Derrida.
O pós-estruturalismo se dá numa superação da perspectiva estruturalista que vimos
anteriormente e influenciou as mais diversas áreas do conhecimento. Esta corrente não é
propriamente uma "escola", pois caracteriza-se tão-somente pela recusa em atribuir ao sujeito
qualquer privilégio gnoseológico ou axiológico, evidenciando uma análise das formas simbólicas
da linguagem como constituintes da subjetividade e não como constituídas por esta.
Não se trata de uma corrente em contraposição ao estruturalismo, ocorre que levou-se às
últimas consequências os conceitos e desenvolvimentos do estruturalismo até então. Com isso,
chegando ao desconstrutivismo, relativismo e pós-modernismo.
Houve também, a retomada dos temas nietzschianos, a qual foi uma das marcas mais
significativas para os pós-estruturalistas. Tais temas foram mencionados trazidos à baila, quais
sejam: a crítica da consciência e do negativo (por Deleuze), o projeto genealógico (por Foucault),
a radicalização e a superação da valorização ontológica da linguagem heideggeriana e uma
perspectiva anti-dogmática e anti-positivista.
Diante disso podemos afirmar que: os pós-estruturalistas rejeitam definições que
encerram verdades absolutas sobre o mundo e a verdade, pois esta seria totalmente dependente
do contexto histórico de cada indivíduo particular e da sociedade a qual pertence.
O pós-estruturalismo está intrinsecamente vinculado ao pós-modernismo. Michael Peters
traz à lume o vínculo, contudo atentando para a distinção de conceitos que são frequentemente
confundidos no meio acadêmico:
"o Pós-estruturalismo tem sido, muito frequentemente, confundido com o termo
afim, Pós-modernismo. Na verdade, alguns críticos chegam a argumentar que o conceito
de Pós-estruturalismo deve ser subordinado ao de Pós-modernismo. (...) [O pós-
estruturalismo] é, decididamente, interdisciplinar, apresentando-se por meio de muitas e
diferentes correntes".16

O pós-estruturalismo inicia-se na liberação do texto para uma pluralidade de sentidos


culminando em uma desconstrução na análise literária. Tomando os princípios básicos da análise
estruturalista, a corrente pós-estruturalista passa a diagnosticar a realidade como uma construção
social e subjetiva, sendo assim:
"o Pós-estruturalismo não pode ser simplesmente reduzido a um conjunto de
pressupostos compartilhados, a um método, a uma teoria ou até mesmo a uma escola. É
melhor referir-se a ele como um movimento de pensamento - uma complexa rede de
pensamento - que corporifica diferentes de prática crítica"17.

Os pós-estruturalistas avançam nas análises da linguagem em relação à filosofia e


sociedade e, diferentemente dos estruturalistas, vêem o significante e o significado como
separáveis e independentes. Fazem parte de uma ruptura com os esquemas metanarrativos, os
16
PETERS, Michael. PÓS-ESTRUTURALISMO E FILOSOFIA DA DIFERENÇA. p. 29 2000, , ed. Autêntica, p.
12
17
Ibidem, pág.29
quais são retoricamente vazios indo de confronto ao positivismo, o qual parte do pressuposto
binomial de "ser" e "dever ser" que retrata o social como coisa.
Na filosofia os principais representantes do pós-estruturalismo são: Michel Foucault,
Jacques Derrida, Louis Althusser e Gilles Deleuze. Podemos elencar também ao rol dos pós-
estruturalistas por terem proximidade acadêmica de pensamento Jean Baudrillard, Judith Butler,
Philippe Lacoue-Labarthe e Jean-Luc Nancy.
Dentre esses, Gilles Deleuze, a partir do pressuposto estruturalista de que não existe o
indivíduo, mas sim a relação, afirma que não há nenhuma premissa absoluta e de que tudo seria
relativo uma vez que algo só seria “uma coisa” quando existisse relação com outro.
Seguindo a onda contestatória de 1968, Louis Althusser, que tinha forte influência
marxista e desenvolvendo a teoria de Karl Korsch, propõe que as instituições sociais são os
grandes aparelhos ideológicos do Estado e estas sustentam as estruturas. Podemos verificar em
seu trecho no livro Contradição e sobredeterminação a explicação de como se dá a interação da
estrutura e superestrutura para que a revolução possa ter êxito:
Quando nesta situação entra em jogo, no mesmo jogo, uma prodigiosa
acumulação de “contradições”, das quais algumas são absolutamente heterogêneas, e nem
todas tem a mesma origem, nem o mesmo sentido, nem o mesmo nível e lugar de
aplicação, e que entretanto se fundem numa unidade de ruptura, já não se pode falar mais
de uma única virtude simples da “contradição” (...) Não se pode pretender com todo rigor
que estas “contradições” e a sua fusão sejam seu puro fenômeno (...) Constituindo essa
unidade, constituem e levam a cabo a unidade fundamental que as anima, mas fazendo-o,
indicam também a natureza desta unidade: que esta contradição é inseparável da estrutura
do corpo social todo inteiro, no qual ela atua, inseparável de condições formais de sua
existência e das instâncias mesmas que governa; que ela é a primeira afetada, no mais
profundo do ser, por estas instâncias, determinante mas também determinada por um só e
mesmo movimento, e determinada pelos diversos níveis e as diversas instâncias da
formação social que ela anima; poderíamos dizer: sobredeterminada em seu princípio. 18

Posteriormente Althusser mostra como se deveria se balizar a sobreposição de


contradições, verificamos em sua obra Aparelhos ideológicos do Estado, in verbis:
Nós designamos Aparelhos Ideológicos do Estado (AIE) um certo número de
realidades que se apresentam ao observador imediato sob a fora de instituições distintas e
especializadas. (...) AIE religioso, AIE escolar, AIE familiar, AIE jurídico, AIE político,
18
ALTHUSSER, L. Contradicción y sobre determinación in IDEM, la revolución teórica de Marx, Sigloventiuno
editores, México, 1967, p.80-81
AIE sindical. (...) Os AIE funcionam de forma massivamente prevalente à ideologia mas
tudo para o funcionamento secundário da repressão.19

Para Althusser, estes Aparelhos ideológicos compõem as estruturas ideológicas que


sustentam o aparelho repressivo do Estado, os quais deveriam ser desconstruídos para a
reconstrução de toda sociedade após seu aniquilamento.
Prosseguindo com o pensamento de Althusser, Jacques Derrida, segue a onda
contestatória, critica a razão instrumental, uma vez que esta se dá como forma de opressão da
sociedade na medida que vai uniformizando o pensamento. Para ele toda filosofia ocidental se
baseia em um logocentrismo (Deus, homem, verdade, bem), em um centro uniformizado pela
razão.
Esse logocentrismo se baseia na criação de ideias centrais e que cada um desses centros
corresponderia a uma antítese (Deus e diabo, verdade e mentira, homem e mulher). Para o
filósofo francês, essas ideias centrais criariam uma ideia de opressão e dominação, uma vez que
ao dar valor absoluto a um dos elementos dessa dualidade e negar o outro é apenas construção
social utilizadas para instrumentalizar como forma de dominação social. Desta forma, ele propõe
desconstruir essas ideias e suas distorções.
Jacques Derrida enxerga que destruindo essas concepções acabariam os mecanismos de
poder. Diante disso, ele verifica que todas as instituições se mantém por causa de discursos.
Dentro do arcabouço pós-estruturalista, Jacques Derrida se baseia nos pressupostos
linguísticos de Ferdinand Saussurre (1857-1913) para conceber ideia de que a história esta
fundamentada em discursos decomponíveis, aos quais subjaz apenas a “vontade de poder”.
Nasce aí o desconstrutivismo, que se dá por uma corrente filosófica dentro do conjunto do pós-
estruturalismo.
Portanto, propõe que para realizar a revolução seria necessário trazer as instituições para
o mundo das palavras, para desconstruí-las pelo método dialético, assim, colocando-se uma
palavra contra a outra, destruir-se-iam os discursos por dentro.
Michel Foucault percebendo o vínculo entre estruturas da linguagem e outros planos de
análise, trouxe essa contribuição para a análise das estruturas de poder. Foucault afirma que o
poder dilui-se em várias esferas de micropoder, dilui-se em cada mínimo espaço nas relações

19
Ibidem, p. 83
interpessoais (policial e multa, na família, etc...), e verifica que a destruição do poder é muito
mais complexa, não bastando, apenas a modificação das leis, mas sim das relações interpessoais.
O poder, para Foucault não se concentraria no setor político, mas sim nas microfísicas de
poder que formariam a macroestrutura de poder, sendo este esquema mais eficaz na manutenção
do mesmo, em que as pessoas interioriozariam as normas de disciplina social. Para Foucault
esses poderes seriam distribuídos com uma pequena cota de conhecimento do macrossaber do
Estado (Lógica da relação entre saber e poder), e ao adquirir determinado saber especializado
seria adquirido uma cota de poder especializado, e, assim o poder estaria em toda parte de forma
que esses micropoderes comporiam a estrutura de uma sociedade opressora.
Foucault ao criticar as instituições de poder reduz as mesmas a discursos e a verdade
seria uma produção histórica da sociedade opressora detentora de poder. Podemos verificar em
sua obra:
“[...] Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as
interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o
poder. Nisto não há nada de espantoso, visto que o discurso [...] não é simplesmente
aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é objeto do desejo; e
visto que – isto a história não cessa de nos ensinar – o discurso não é simplesmente
aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se
luta, o poder do qual nos queremos apoderar.20.”

Assim, o poder se manteria mesmo com a vigilância ausente. Desta maneira, pela via dos
discursos que seria feita a revolução, baseia-se no revisionismo marxista que a revolução deveria
ser verbal. No livro A Ordem do Discurso, ele afirma:
“Creio que essa vontade de verdade assim apoiada sobre um suporte e uma distribuição
institucional tende a exercer sobre os outros discursos – estou sempre falando de nossa
sociedade – uma espécie de pressão e como que um poder de coerção. (...) Se o discurso
verdadeiro não é mais, com efeito, desde os gregos, aquele que responde ao desejo ou aquele
que responde ao poder, na vontade de verdade, na vontade de dizer este discurso verdadeiro, o
que está em jogo, senão o desejo de poder?”21

20
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. São Paulo: Edições Loyola, 2008, p.9-10
21
Ibidem
Foucault, assim como Derrida, pensa que todos os discursos seriam destruídos pela
ferramenta da dialética e as instituições, que precisariam ser aparelhos ideológicos de poder,
deveriam ser destruídas pela força das palavras.
Foi-se dado conta de que as estruturas sociais seriam pura ideologia, puro discurso, e que
sua subversão somente poderia se dar por meio da manipulação da linguagem. O
desconstrutivismo marxista tem que ser verbal.

Ideologia de gênero

Falaremos agora sobre o surgimento da ideologia de gênero que surge como um


desdobramento de todos os pensamentos que vimos até agora e de algumas outras contribuições
filosóficas.
Falaremos agora sobre o surgimento das ideologias modernas, mais especificamente a do
gênero, que surgiram a partir da culminância filosófica pós-moderna de viés marxista e tem
ficado em voga nas pautas globais. Estudaremos a gênese e o desenvolvimento filosófico dos
princípios que deram origem a esse pensamento e hoje influenciam à escala mundial.
Posteriormente falaremos sobre quem estaria por trás deles.
Essa ideologia segue a linha de raciocínio marxista de ataque à família e o
desconstutivismo da sociedade utilizando a ferramenta da dialética hegeliana disposta na Escola
de Frankfurt e dos pensadores socialistas anteriormente explicados. A tentativa de trazer ao jogo
de palavras e transformar tudo em discurso foi vista de maneira eficiente para implantar “as
chamas da revolução”.
Aparentemente essas ideologias são distintas entre si, e não teriam qualquer relação.
Porém, conforme tentaremos demonstrar, apesar de terem a gênese distinta, possuem os mesmos
princípios filosóficos e o mesmo objetivo: a destruição das superestruturas das instituições da
sociedade vigente por meio da linguagem.

Karl Marx e a origem da família

Podemos dividir a vida literária de Karl Marx em fases importantes. A primeira é sua fase
de filósofo em que escreve seu doutorado comparando o Materialismo de Demócrito e Epicuro, a
Ideologia Alemã e diversas obras filosóficas influenciadas pela filosofia de Hegel. À partir de “O
manifesto comunista” inicia a sua segunda e mais famosa fase em que escreve textos sobre
economia, cuja obra mais famosa foi o “Capital”. Por fim, na terceira fase, Marx escreve e seu
livro “A origem da família, da propriedade privada e do estado”, o qual é postumamente
publicado por Engels e apresenta certa mudança fundamentais em sua análise dos problemas
sociais.
Os seus textos filosóficos eram menos conhecidos, mas foram as bases e fundamentos
para Marx. Ele afirmava que o ser humano é um animal que produz seus instrumentos de
trabalho e não um animal racional, conforme vemos em sua obra:
“Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou por tudo
que se queira. Mas eles próprios começaram a diferenciar–se dos animais tão logo que
começam a produzir seus meios de existência, e esse passo a frente é a própria consequência da
organização corporal.”22

22
MARX, K., A ideologia alemã, Martins Fontes, São Paulo: 2002, p. 10
E na medida que fazem esses instrumentos, começam a ter divisão do trabalho conforme
o trabalho vai se dividindo, levado pela sofisticação da economia, as recompensas dessa divisão
vão sendo dadas como partes diferentes para cada indivíduo da sociedade. Então, apareceria a
maior ideologia que é a propriedade privada. A opressão teria seu início com a divisão do
trabalho, mas teria seu ápice com a propriedade privada e a criação de toda uma superestrutura
social para sustentar essa ideologia

Contudo, próximo ao fim da sua vida, entra em contato com o livro do antropólogo
americano Lewis Henry Morgan, Ancient Society, que tenta determinar certos padrões familiares
americanos que, segundo ele, provinham de reminiscências indígenas. Marx tentará generalizar
os estudos de Morgan através de sua compreensão da história pela dialética materialista em sua
obra Sobre a origem da família, da propriedade privada e do Estado23.
Ele firma que os seres humanos primitivos viveriam em espécies de hordas, nas quais
todos mantinham relações sexuais uns com os outros e a sociedade era matriarcal, pois só
erapossível identificar a mãe do indivíduo.
Com o passar do tempo e a mudança do meio de produção, pois o homem teria deixado
de ser nômade e se tornado sedentário, ou seja, trocou a caça, a pesca, pela agricultura;
aspróprias relações sociaissão modificdas. O homempassa a ser mais produtivo e decide que
deseja ter um herdeiro para deixar oseuexcesso deprodução, a sua riqueza. Contudo, para isso,
ele precisaria aprisionar uma mulher para garantir que o filho fosse realmente seu. Asssim
nasceria a família, pela forçado homem que aprisiona a mulher para garantir a “produção
sexual”. Logo, o matrimônio teria sido o primeiro patrimônio, aprimeirapropriedade privada
ideológica para sustentar a infraestrutura produtiva agrícola daquela sociedade.
Como para Marx a desigualdade vem da divisão do trabalho e da propriedade privada –
podemos dizer que a família seria a primeira divisão do trabalho, uma vez que os papéis que a
constituem, pai e mãe, são eles mesmos uma divisão do trabalho sexual, e gerariam as
desigualdades. Podemos verificar na obra supramencionada. In verbis:
“Existiu uma época primitiva em que reinava, no seio da tribo, o comércio sexual sem
limites, de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem
igualmente a todas as mulheres (…) Aquele estado social primitivo, pertence a uma época tão

23
O manuscrito principal foi escrito por Marx, mas foi editado e publicado por Engels que, contudo, deixa claro
autoria de Marx no prefácio de texto o que é comumente aceito pelos estudiosos.
remota que não podemos esperar encontrar provas diretas de sua existência, nem mesmo nos
fósseis sociais, entre os selvagens mais atrasados”.24

(...)
“Que significam relações sexuais sem restrições? Significa que não se aplicavam os
limites vigentes hoje ou numa época anterior. (…) Antes da invenção do incesto (porque é uma
invenção, aliás, das mais valiosas), as relações sexuais entre pais e filhos não podia ser mais
repugnante do que aquelas que ocorriam entre outras pessoas de gerações diferentes, sem
causar grande horror”.25

(...)
“[A família monogâmica] Baseia-se no domínio do homem com a finalidade expressa
de procriar filhos cuja paternidade fosse indiscutível e essa paternidade é exigida porque os
filhos deverão tomar posse dos bens paternos, na qualidade de herdeiros diretos”. 26
(...)
“Hoje posso acrescentar que a primeira oposição de classes que apareceu na história
coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher, na monogamia, e
que a primeira opressão de classe coincide com a opressão do sexo feminino pelo masculino. A
monogamia foi um grande progresso histórico, mas, ao mesmo tempo, inaugura, juntamente
com a escravidão e as riquezas privadas, aquele período que dura até nossos dias, no qual cada
progresso é simultâneamente um relativo retrocesso, e no qual o bem-estar e o
desenvolvimento de uns se realizam às custas da dor e da repressão de outros. Ela é a forma
celular da sociedade globalizada.”27

Portanto, verificamos que o mundo imaginado por Marx passa pela destruição da família.
Porém, Os aplicadores imediatos das teorias de Marx concentraram-se apenas em seus
aspectos materiais. O marxismo teve grande insucesso já que as condições dos operários
passariam por mudanças, e começa a aumentar o número de empresários, bem como, o
esvaziamento do marxismo na revolução russa, uma vez que tornou-se militante, somente
implantando-se os princípios econômicos e políticos, não filosóficos.
Portanto, para Marx, a relação entre homem e mulher é antagônica, não complementar,
consiste na primeira oposição de classes e é a fonte primária de toda desigualdade social.

24
ENGELS, F., Sobre a origem da família, da propriedade privada e do Estado, Ed. Escala, São Paulo: s/d, pp. 46-47
25
Ibidem, pág. 51
26
Ibidem, pág. 80
27
Ibidem, pág. 84-85
A Escola de Frankfurt
Conforme estudamos no capítulo sobre a escola de Frankfurt, o marxismo passa por uma
reformulação filosófica. Korsch na obra Marxismo e Filosofia irá afirmar que a mudança na
estrutura não será possível, apenas alterando-a, mas seria imprescindível a mudança na
superestrutura. Deveria mexer no plano ideológico através de uma filosofia revolucionária.
Como vimos também, Max Horkheimer vai além, pois, aplicando os princípios de
Korsch, em seu ensaio “Autoridade e família”, ele tenta demonstrar que demonstrou que a ordem
vigente é sustentada pela ideia de autoridade que é gerada no interior da família. Essa autoridade
reproduziria as estruturas da sociedade conservando a estrutura burguesa de dominação e
perpetuação do poder.
Portanto, em algum grau, ele acaba seguindo a mudança paradigmática de Marx e
colocando a questão sobre a família como fator central para a revolução. Contudo, curiosamente,
ele não consegue explicar como os indivíduos não detestam a família.

“Hegel reconheceu e expôs este contraste entre família e comunidade. Era, para
ele, ‘o mais ético e, portanto, o mais trágico’. Para Hegel, à lei humana, ‘manifesta’, ou
seja, à lei que vigora na sociedade e no Estado, segundo a qual os homens concorrem
entre si como ‘sistemas que se isolam’, opõe-se a ‘lei eterna’, pela qual as
individualidades são valiosas por causa delas mesmas”.28

.
Os aplicadores do marxismo não entenderam de cara a importância da dissolução da
família na época desse trabalhos, porém, o que é válido destacar nesse tópico é que a semente já
estava sendo plantada pelo trabalho de Korsch e Horkheimer.

A contribuição do pós-estruturalismo de Derrida, Foucault e Louis Althusser


Estudamos anteriormente que as instituições seriam grandes aparelhos ideológicos do
estado para sustentar as estruturas e para isso deveriam ser destruídas pelos discursos e, ao
colocar uma palavra contra a outra, destruir-se-ia os discursos por dentro. Logo, pela via dos
discursos seria possível realizar a revolução.
Louis Althusser mapeia as estruturas ideológicas do Estado, isto é, ele faz um esforço
para mapear e mostrar claramente o que é a superestrutura, ele define os aparelhos repressivos do
28
HORKHEIMER, M., Autoridade e família, em Teoria Crítica, vol. I, Perspectiva, São Paulo: 2012,, p. 226
Estado pelo qual é manifestado sua força e os aparelhos ideológicos que sustentam a
infraestrutura que é o Estado economicamente mantido. Os aparelhos ideológicos ele lista como
sendo a igreja, a família e a escola – os três primeiros e mais importante, o aparato legislativo, os
sindicatos,etc. A revolução não se faz entrando apenas pelo aparelho repressivo, masépreciso
entrar no aparelho Ideológico e a família é um aparelho ideológico que sustenta o Estado.
Derrida com seu desconstrucionismo partido de Saussure, diz que as instituições se
regem segundo discursos epara mexer na sociedade precisamos mudar os discursos e para isso
basta jogar a dialética para dentro dos discursos colocando uma palavracontra outra até destruir o
discurso e os valores que estão ali embutidos, as ideias que fundamentam aquelas posturas éticas
e políticas. Portanto, o fundamental é destruir o discurso. Portanto, ele transpõe a dialética para
os discursos visando a sua desconstrução.
Foucault, por fim, reduz todas as instituições ao discurso – igreja, escola, família, etc.
Portanto, se todas as instituições são discursos e estes podem ser desconstruídos segundo
disse Derrida. Se essas instituições são aparelhos ideológicos do Estado por onde vem o conceito
de autoridade e é através desse aparelhamento ideológico que deve ser feita a revolução como
defendeu Karl Korsch. Então, basta reduzir tudo a discursos e desconstruir.
A família, reduzida a um discurso em meio a um jogo de palavras 29, é catalogada dentro
de uma categoria e desconstruída.
Portanto, o movimento revisionista marxista sendo influenciado desde a Escola de
Frankfurt a esses pensadores pós-estruturalistas acaba chegando à conclusão de que a revolução
se dará por meio da linguagem, a revolução tem que ser verbal, isto é, pela força das palavras. O
esforço de transformar tudo em discurso foi visto de maneira eficiente para implantar a
revolução.

A contribuição feminista de Kate Millet e Shullamith Firestone


Na década de 70, as feministas do partido comunista contribuem com a compreensão de que
a verdadeira natureza da revolução seria produzir uma profunda subversão sexual. Nesse quadro,
surge Kate Millet com sua obra Sexual Politics (1969), que levanta a bandeira da revolução
sexual em tom de manifesto. Millet era uma feminista radical, formada no seio do partido
comunista, e seu texto equivaleu ao “Manifesto Comunista” para o movimento feminista.

29
Família tradicional, família conservadora, família biológica, família primitiva, etc.
Texto dotado de rigor científico não teve grande alcance especulativo, sendo uma análise
histórica que soava como um manifesto contra a sociedade patriarcal. Em Sexual Politics,
explica, demonstra um pouco do seu entendimento de revolução sexual quando fala as causas
pelas quais Lênin não havia conseguido abolir a família, como podemos ver nas palavras da
própria autora:
“A causa mais profunda para isto reside no fato de que, além da declaração de que a família
compulsória estava extinta, a teoria Marxista falhou ao não oferecer uma base ideológica
suficiente para uma revolução sexual e foi notavelmente ingênua em relação à força histórica e
psicológica do patriarcado. Engels havia escrito apenas sobre a história e a economia da família
patriarcal, mas não investigou os hábitos mentais nela envolvidos, e até mesmo Lenin admitiu
que a revolução sexual não era adequadamente compreendida. Com efeito, no contexto de uma
política sexual, as transformações verdadeiramente revolucionárias deveriam ser a influência, à
escala política, sobre as relações entre os sexos. Justamente porque o período em questão não
viu concretizar-se as transformações radicais que parecia prometer, conviria definir aquilo que
deveria ser uma revolução sexual bem sucedida. Uma revolução sexual exigiria, antes de tudo
o mais, o fim das inibições e dos tabus sexuais, especialmente aqueles que mais ameaçam o
casamento monogâmico tradicional: a homossexualidade, a ilegitimidade, as relações pré-
matrimoniais e na adolescência. Isto permitiria uma integração de subculturas sexuais, uma
assimilação de ambos os lados da experiência humana até aqui excluídos da sociedade. Da
mesma forma, seria necessário reexaminar as características definidas como masculinas e
femininas. O desaparecimento do papel ligado ao sexo e a total independência econômica da
mulher destruiriam ao mesmo tempo a autoridade e a estrutura econômica. Parece improvável
que tudo isto possa acontecer sem um efeito dramático
sobre a família patriarcal.”30

A partir daí foi produzida uma vasta bibliografia sobre essa temática. Uma das pessoas
que se destacou e por transformar o assunto em uma “ideologia política” foi Shulamith Firestone
na obra A Dialética do Sexo(1976). Firestone desceu com mais profundidade ao ideal de uma
revolução sexual, a qual seria a única forma de realizar uma autêntica revolução social e
econômica.
Ela falava de um sistema alternativo que libertaria as mulheres. Eis aqui algumas
sugestões do sistema alternativo nas próprias palavras da autora:

30
Kate Millett: Sexual Politics, 1969, Rupert Hart-Davis, London
“1. A libertação das mulheres da tirania de sua biologia reprodutiva por todos os meios
disponíveis e a ampliação da função reprodutiva e educativa a toda a sociedade globalmente
considerada. Estamos falando de uma mudança radical. Libertar as mulheres de sua biologia
significa ameaçar a família, que é a unidade social que está organizada em torno da sua
reprodução biológica e da sujeição das mulheres ao seu destino biológico.
2. A total autodeterminação, incluindo a independência econômica, tanto das mulheres quanto
das crianças. É por isso que precisamos falar de um socialismo feminista. Com isso atacamos a
família em uma frente dupla, contestando aquilo em torno de que ela está organizada: a
reprodução das espécies pelas mulheres, e sua consequência, a dependência física das mulheres
e das crianças. Eliminar estas condições já seria suficiente para destruir a família, que produz a
psicologia do poder. Contudo, nós a destruiremos ainda mais.
3. A total integração das mulheres e das crianças em todos os níveis da sociedade. Todas
aquelas instituições que segregam os sexos ou separam as crianças da sociedade adulta, por
exemplo, a escola elementar, devem ser destruídas. Abaixo a escola! E, se as distinções
culturais entre homens e mulheres e entre adultos e crianças forem destruídas, nós não
precisaremos mais da repressão sexual que mantém estas classes diferenciadas, sendo pela
primeira vez possível a liberdade sexual “natural”
4. Assim, chegaremos, à liberdade sexual para que todas as mulheres e crianças possam usar a
sua sexualidade como quiserem. Não haverá mais nenhuma razão para não ser assim. Em nossa
nova sociedade a humanidade poderá finalmente voltar à sua sexualidade natural
“polimorfamente diversa”. Serão permitidas e satisfeitas todas as formas de sexualidade. A
mente plenamente sexuada tornar-se-ia universal”.31

Firestone chega às seguintes conclusões:


1.É necessário libertar as mulheres da tirania de sua Biologia.
2.Acabar com a família - instituição burguesa - tornando a mulher e as crianças
independentes.
3.As distinções entre homens e mulheres são culturais, ou seja, invenções artificiais,
ideologias da sociedade.
4.A Liberdade sexual para mulheres e crianças como forma de libertação de classes.
Firestone entendeu que deveria haver a revolução sexual, porém, ainda não sabia os
meios mais adequados de transformar essa ideologia política em prática social e revolucionária.

31
Firestone, Sh., La dialectica de los sexos. En defensa de la revolucción feminista, Editorial Kairós, Barcelona:
1976, pp. 258-262
Contribuição de Kingsley Davis e a sociologia
Kinglsey Davis, sociólogo, diretor do Centro Internacional de Pesquisas Populacionais e
Urbanas da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), demógrafo e preocupado com o
crescimento populacional, levantou a problemática da política populacional e do planejamento
familiar. Ele faz parte de uma tradição sociológica que foi influenciada pelo Funcionalismo de
Durkheim que já estudamos nesse trabalho.
Escreve seu artigo mais famoso em 10 de outubro de 1967 chamado “Population Policy:
Will Current Programs Succeed?” ( Política Populacional: os programas atuais terão sucesso?)
na revista científica Science. Este artigo era um resumo de um trabalho apresentado em 14 de
março do mesmo ano no encontro anual do National Research Council, fruto de pesquisas que
vinham sendo desenvolvidas há muitos anos pela comunidade científica. Ele procura criticar que
a visão que dominava a política populacional naquele momento que era dominada por uma
mentalidade de anticoncepcionimso.
Davis afirma os anticoncepcionais são apenas paliativos e não resolvem o problema do
crescimento populacional, mas o que é necessário é uma abordagem menos médica e mais
sociológica, visando mudar a forma das mulheres pensarem e fazer com que elas já não queiram
ter filhos. Ele afirma criticando a visão dominante:
“Suponhamos, porém, que a mulher não queira usar nenhum anticonceptivo até que tenha tido
quatro filhos. Este é o tipo de pergunta que raramente se levanta na literatura sobre
planejamento familiar. Nesta literatura o desejo de um número específico de filhos se toma
como uma motivação completa, porque implica num desejo de controlar o tamanho da família.
A mulher problema, do ponto de vista dos planejadores familiares, é aquela que quer ‘os que
vierem’, ou ‘os que Deus mandar’. Sua atitude se interpreta como devendo-se à ignorância e
aos ‘valores culturais’, e a política julgada necessária para mudá-la é a ‘educação’.” 32

Ele acredita que era preciso mudar o fato social, isto é, as normas implícitas na sociedade
que afetam a motivação, o desejo de ser mãe; necessitava-se de “Mudanças suficientemente
básicas para afetar a motivação de ter filhos seriam mudanças na estrutura da família, no papel
das mulheres e nas normas sexuais.”. Por fim, ele mesmo apresenta sugestões de como fazer
isso:
“Já que o período de reprodução da mulher é breve e geralmente mais fecundo na primeira
metade do que na segunda, o adiamento do matrimônio para além dos 20 anos tende
32
DAVIS, K., Population Policy: Will Current Programs Succeed?, Science, 10 novembro 1967
biologicamente a reduzir os nascimentos. Sociologicamente, dá às mulheres tempo para obter
uma melhor educação, adquirir interesses não relacionados com a família e desenvolver uma
atitude cautelosa com relação à gravidez. As pessoas que não se casaram antes dos 27 ou 29
anos, freqüentemente não se casam nunca” .
(...)
“Qualquer sugestão de que a idade do matrimônio deveria ser aumentada como parte de uma
política demográfica costuma ser contestada pelo argumento de que "mesmo que se
promulgasse uma lei neste sentido, a mesma não seria respeitada". É interessante notar que esta
objeção pressupõe que a única maneira de se controlar a idade do casamento seja por meio da
legislação direta, embora outros fatores determinem a idade real. A idade real é determinada
não pela lei, mas por condições sociais e econômicas.”
(...)
“Outorgar maiores recompensas para os cargos não familiares do que para os familiares
ajudaria como meio de se encorajar a limitação da reprodução dentro do matrimônio e também
o adiamento do mesmo. Um modo muito simples de conseguir isto seria permitir que se
atribuíssem vantagens econômicas às pessoas solteiras em contraposição às casadas, e às
famílias pequenas em contraposição às grandes. O governo poderia pagar, por exemplo, às
pessoas que se submetessem à esterilização, poderia pagar também todos os custos do aborto,
poderia cobrar uma quantia voluptuosa para uma licença matrimonial, exigir que os casos de
gravidez ilícitos fossem abortados. Menos espetacularmente os governos poderiam
simplesmente reverter as políticas existentes que fomentam a procriação. Poderiam, por
exemplo, deixar de conceder isenções fiscais especiais para os pais de família, reduzir as
pensões familiares, revogar as legislações que proíbem o aborto e a esterilização. Um método
estreitamente relacionado para se retirar a ênfase dada à família seria a modificação da
complementaridade dos papéis do homem e da mulher. Atualmente os homens podem
participar no mundo mais amplo ao mesmo tempo em que se regozijam com a satisfação de ter
diversos filhos porque o cuidado com a casa e com a educação das crianças pesa
principalmente sobre as suas esposas. As mulheres são levadas a buscar este papel por causa de
sua noção idealizada do matrimônio e da maternidade, reforçada seja pela escassez de papéis
alternativos, seja pela dificuldade de combiná-los com os papéis familiares. Para modificar esta
situação, poderia ser exigido que as mulheres trabalhassem fora de casa ou fazer com que
fossem compelidas a isto pelas circunstâncias. O fato de que a inclusão das mulheres na força

de trabalho tem um efeito negativo na reprodução é indicado por comparações regionais.” .33

33
Ibidem
Kingsley Davis propõe uma manipulação comportamental através de mudanças na
estrutura social. Em seu livro, A Sociedade Humana ele afirma que a sociologia não é mais
apenas uma ciência descritiva, como em Durkheim, mas deve buscar altera a estrutura funcional
da sociedade. Ele foi uma peça chave, pois é com ele que a sociologia americana toma um outro
caminho, passando de uma ciência descritiva para militante pretendendo mexer na sociedade.

Judith Butler e a Ideologia de Gênero


Por fim, unindo essas contribuições, percebemos que através do pensamento feminista
temos claro o objetivo, isto é, o que deve ser feito: a revolução sexual. Pela influência da nova
sociologia passa-se a entender qual deve ser a profundidade da mudança, pois percebe que para
mudar a sociedade é preciso identificar e alterar a estrutura social; não bastaria apenas uma
mudança superficial. E, por fim, do movimento revisionista marxista, entende-se como fazer, ou
seja, pelas palavras desconstruindo os discursos.
São essas as contribuições que, no início dos anos 90, possibilitaram o surgimento do
trabalho de Judith Butler que, influenciada pelo conceito de gênero inicialmente desenvolvido
pelo psicólogo neozelandês professor na John Hopkins University de Baltimore, apresenta o
conceito filosófico moderno de gênero sob a forma que poderia ser aplicado, através do
movimento feminista, para conduzir à destruição da família, necessária para promover a
revolução socialista.
Segundo Butler, quando as feministas se pensam a si mesmas como mulheres, já estão
com isto, construindo um discurso que as impedem de emancipar-se dos homens. As feministas
não deveriam mais falar da mulher como sujeito do seu movimento, mas deveriam, em vez disso,
substituir tanto a feminilidade como a masculinidade pelo conceito amorfo e variável de gênero.
Conforme explicado em sua obra Gender Trouble(“O Problema de Gênero”):
Durante a maior parte do tempo a teoria feminista supôs que haveria uma
identidade existente, entendida através da categoria da mulher, que constituía o sujeito
para o qual se construía a representação política. Mas recentemente esta concepção da
relação entre a teoria feminista e a política foi questionada a partir de dentro do próprio
discurso feminista. O próprio sujeito “mulher” não pode ser mais entendido em termos
estáveis ou permanentes. Há uma farta literatura que mostra que há muito pouco acordo
sobre o que constitui, ou deveria constituir, a categoria “mulher”. O filósofo Michel
Foucault mostra que os sistemas jurídicos de poder produzem os sujeitos que eles em
seguida passam a representar. Nestes casos, recorrer não criticamente a um sistema como
este para emancipar as mulheres é obviamente auto sabotador. A denúncia de um
patriarcado universal não goza mais da mesma credibilidade de outrora, mas é muito mais
difícil desconstruir anoção de uma concepção comum de mulher, que é conseqüência do
quadro do partriarcado. A construção da categoria “mulher” como um sujeito coerente é,
no fundo, uma reificação de uma relação de gênero. E esta reificação é exatamente o
contrário do que pretende o feminismo. A categoria “mulher” alcança estabilidade e
coerência somente no contexto da matriz heterossexual. É necessário, portanto, um novo
tipo de política feminista para contestar as próprias reificações de gênero e de identidade,
uma nova política que fará da construção variável da identidade não apenas um pré-
requisito metodológico e normativo, mas também um objetivo político. Paradoxalmente o
feminismo somente poderá fazer sentido se o sujeito “mulher” não for assumido de
nenhum modo” 34.

O que verdadeiramente está acontecendo é que o conceito de ‘gênero’ está sendo


utilizado para promover uma revolução cultural sexual de orientação neo-marxista com o
objetivo de extinguir da textura social a instituição familiar. Na submissão do feminino ao
masculino através da família, Marx e Engels enxergaram o protótipo de todos os subseqüentes
sistemas de poder. Se esta submissão é conseqüência da biologia, não há nada a que se fazer.
Mas se ela é uma construção social, ou um gênero, então, a longo prazo, ela poderá ser
modificada até chegar-se à uma completa igualdade onde não haverá mais possibilidade de
opressão de gênero, mas também onde não haverá mais famílias, tanto as heterossexuais como
demais famílias alternativas. Neste contexto a educação caberia como uma tarefa exclusiva do
Estado, e não existiria mais traços diferenciais entre o masculino e o feminino. Em um mundo de
genuína igualdade, segundo esta concepção, todos teriam que ser educados como bissexuais e a
masculinidade e a feminilidade deixariam de ser naturais.
A essência da questão foi muito bem exposta pelo Padre José Eduardo de Oliveira,
professor de Teologia Moral, em uma entrevista concedida à agência Zenit e recentemente
publicado em livro intitulado “Caindo no Conto de Gênero”:
“Sintetizando em poucas palavras, a ideologia de gênero consiste no
esvaziamento jurídico do conceito de homem e de mulher, e as conseqüências são as
piores possíveis. Conferindo status jurídico à chamada “identidade de gênero” não há
mais sentido falar em “homem” e “mulher”; falar-se-ia apenas de “gênero”, ou seja, a

34
BUTLER, J.: Gender Trouble, feminism and the subsversion of identity, 1990, Routledge, New York.
identidade que cada um criaria para si. Portanto, não haveria sentido em falar de
casamento entre um “homem” e uma “mulher”, já que são variáveis totalmente
indefinidas. Mas, do mesmo modo, não haveria mais sentido falar em “homossexual”,
pois a homossexualidade consiste, por exemplo, num “homem” relacionar-se
sexualmente com outro “homem”. Todavia, para a ideologia de gênero o “homem 1” não
é “homem”, nem tampouco o “homem 2” o seria. Em poucas palavras, a ideologia de
gênero está para além da heterossexualidade, da homossexualidade, da bissexualidade, da
transexualidade, da intersexualidade, da pansexualidade oude qualquer outra forma de
sexualidade que existir. É a pura afirmação de que a pessoa humana é sexualmente
indefinida e indefinível. Os ideólogos de gênero, às escondidas, devem rir
às pencas das feministas. Como defender as mulheres, se elas não são mulheres? Qual
seria o objetivo, portanto, da “agenda de gênero”? O grande objetivo por trás de todo este
absurdo - que, de tão absurdo, é absurdamente difícil de ser explicado – é a pulverização
da família com a finalidade do estabelecimento de um caos no qual a pessoa se torne um
indivíduo solto, facilmente manipulável. A ideologia de gênero é uma teoria que supõe
uma visão totalitarista do mundo35.

As Grandes Fundações e as Ideologias


As grandes fundações, no final do século XIX, começaram a ser criadas e eram
dedicadas a realizar obras beneméritas: auxílio educacional, a cura dos doentes, subsídio à
agricultura, etc. Porém, com a chegada da Primeira Grande Guerra Mundial, elas entenderam que
todo o seu esforço era inútil, pois todas as obras acabavam sendo facilmente destruídas por uma
guerra de tal magnitude.
Começaram a perceber a necessidade de gerar uma cultura de paz, o que só
poderia ser realizado por certo domínio comportamental, pois desejavam mudar um
comportamento constantemente observado ao longo da história humana e que agora, dado o
desenvolvimento tecnológico, crescia em magnitude e destruição, que é a guerra. Através de
muito estudo e reflexão procurando as causas da guerra, foram concluindo que uma possível
saída seria a instituição de um governo mundial que poderia coibir o instinto bélico normalmente
encontrado nas nações e a assim estabelecer uma espécie de paz definitiva.
Portanto, para manter a paz seria preciso abolir a soberania das nações, criar um governo
mundial forte, controlar o comportamento humano alterando a estrutura da sociedade e, por
35
Padre José Eduardo Oliveira: Caindo o Conto do Gênero, entrevista à Zenit, in
http://www.zenit.org/pt/articles/caindo-no-conto-do-genero
último, controlar o crescimento populacional. Entendia-se que uma população muito inflada e
populosa é mais difícil de ser controlada e dificultaria a distribuição dos bens econômicos entre
pobres e ricos, o que estimularia a guerra.
Em 1946, John Rockefeller III tenta mudar a estrutura da Fundação Rockefeller para que
seu principal objetivo não seja mais a luta contra as doenças. Os três principais objetivos
apresentados em um memorando à diretoria seriam (1) os problemas políticos e econômicos
internos de Estados Unidos, (2) as relações internacionais, “para construir um mundo em que a
paz possa crescer”, e (3) o estudo do comportamento humano dirigido para “o entendimento dos
fatores que modificam ou controlam o comportamento humano”. Os diretores da Fundação
rejeitam o projeto, mas John Rockfeller III passa a exercer um lobby maciço junto ao governo
federal americano para que este reconheça ao menos a questão do controle demográfico mundial
como um problema político de segurança interna dos Estados Unidos. Deste trabalho resulta,
depois de várias etapas, o relatório Kissinger(1974) 36, aprovado quando seu irmão Nelson
Rockefeller era vice-presidente dos Estados Unidos, em que propunha o controle demográfico
mundial como matéria de segurança nacional dos Estados Unidos. Afirmava que nenhum país
jamais conseguiu reduzir a taxa de crescimento populacional sem recorrer ao aborto.
No ano de 1947, com a morte de Henry Ford, 90% das ações da companhia são doados à
Fundação Ford e o restante 10% aos seus herdeiros. A Fundação Ford se transforma na maior
fundação filantrópica da história humana, quatro vezes maior que a Fundação Rockefeller, que
passa a ocupar o segundo lugar. Rowan Gaither é chamado para reestruturar a Fundação Ford e
faz suas as linhas básicas da reforma que Rockefeller tentou promover em 1946.
Em um relatório de 1949, a Ford afirma que a maior contribuição que a fundação pode
fazer é uma ação direta sobre a política de países independentes e das Nações Unidas para evitar
a Guerra, pois o risco iminente de conflito era o grande mal que assombrava o mundo e descreve
o que seria necessário para manter a paz:
“o Comitê e seus conselheiros acreditam que a manutenção da paz depende em grande parte da
vontade e da habilidade das nações em implementar e fortalecer as nações unidas, até o ponto
onde que essa organização venha a se tornar efetivamente a estrutura de uma ordem mundial
legal e judicial. Antes, porém, que esse objetivo possa ser plenamente alcançado muitos
36
Aos 24 de abril de 1974 o Dr. Henry Kissinger assinou um documento intitulado "Memorando de Estudo para a
Segurança Nacional n° 200 - Implicações do Crescimento da População Mundial para a Segurança dos Estados
Unidos da América e seus interesses ultramarinos (NSSM 2000)". Ficou conhecido como Relatório Kissinger o
texto foi feito pelo John Rockfeller III.
problemas devem ser resolvidos dentro do quadro das Nações Unidas, problemas que em seu
emaranhado e complexidade parecem quase irrespondíveis. No curso dessa série de grandes
tarefas, muitos conceitos tradicionais tais como o da soberania das nações deverão ser
submetidos a plebiscito e redefinição.”37
Fica claro que o objetivo é o estabelecimento de uma nova ordem mundial que desfaça a
soberania das nações que será redefinida do modo que se achar melhor por plebiscito, etc. A
análise documental dos principais difusores do aborto no mundo, por exemplo, nos traz a
convicção de que existe muito mais por trás desses objetivos do que o alegado controle do
crescimento populacional. Como veremos no documento da Ford que será analisado em seguida.
Por volta da década de 70, como demonstrado no capítulo anterior, sociólogos
perceberam a importância da mudança nas estruturas sociais como engenharia social capaz de
mudar o comportamento humano. Para alterar a estrutura da sociedade, precisavam alterar o
padrão familiar por um método de modificação da relação de complementariedade dos papéis do
homem e mulher.
Do outro lado desse processo, estavam os marxistas que estavam há quase 100 anos
trabalhando pela revolução operária e ignorando a nova lógica social desenvolvida pelo
pensamento marxista que pressupunha a extinção da família como necessária para o progresso da
humanidade. E havia também as feministas preocupadas em emancipar a mulher da sociedade
machista patriarcal que começaram a perceber que, já havendo alcançado os objetivos políticos–
o voto, o direito de ter uma boa escolaridade, trabalho, etc -, ainda ficava um entrave que
impedia a total igualdade entre homem e mulher. Elas começam a se voltar para os textos de
Marx e percebem que o grande mal que impedia a libertação completa da mulher era a família e,
portanto, a mulher precisava ser libertada da opressão familiar. Para isso, aplicariam a lógica
dialética de Marx para fomentar uma revolução sexual que emanciparia a mulher destruindo a
família tradicional.
As intencionalidades dos sociólogos americanos e das feministas marxistas se cruzavam,
pois ambos almejavam a destruição da entidade familiar, uma vez que essa se fazia um
empecilho para a realização do processo revolucionário. E isso se mostrou de grande interesse
para os metacapitalistas38 donos das fundações que desejavam utilizar as causas desses grupos
37
Report of the study for the Ford Foundation on policy and program, November, 1949, p. 59-60. Texto de tradução
própria. Acesso ao texto em inglês: https://www.pop.org/content/national-security-study-memorandum-nssm-200
38
Essa terminologia se refere aos antigos megacapitalistas que mudam a base mesma do seu poder, pois já não se
apoiam apenas na riqueza enquanto tal, mas desejam o controle de todo o processo político-social. Controle que
nasce pela ação de uma engenharia social subsidiada e sustentada por mentiras. Desejosos de uma espécie de poder
como ferramenta para galgar seus próprios objetivos de poder. Gênero e aborto, por exemplo,
são um único pacote a serviço de um processo de dominação que visa satisfazer a sede
gananciosa pela supremacia; anulando o outro pela imposição de uma nova cosmovisão, sem o
processo natural do convencimento por argumentos, mas através de estratégias sociológicas de
engenharia social e falsas premissas.

Saúde Reprodutiva: uma estratégia para os anos 90


Optamos por analisar esse documento por ele explicitar claramente o que já foi afirmado
até aqui, ter uma importância seminal devido ao fato de influenciado muitas pessoas por
pertencer à gigantesca Fundação Ford e ser facilmente acessível a todos.
Analisando o relatório da Ford - Saúde Reprodutiva: uma estratégia para os anos 90-
perceberemos todos esses elementos afirmados até aqui explicitados de maneira clara e
contundente:
“Durante a década de 50 e 60, em resposta a uma crescente preocupação em relação ao
aumento do número absoluto de pessoas no mundo, as fundações privadas financiaram a
pesquisa e o desenvolvimento de políticas e serviços destinados a reduzir as taxas de
crescimento populacional. Nos anos 70 as Nações Unidas e outros países em desenvolvimento,
movidos pelas mesmas preocupações, começaram a atuar neste campo e no fim dos anos 80
praticamente todos os governos passaram a adotar políticas populacionais, na maioria dos casos
com o objetivo de reduzir o crescimento populacional.”39
A Ford começa falando que inicialmente, a questão populacional era uma preocupação
das Fundações40, depois dos governos e, por fim, da própria ONU que, se pesquisarmos
atentamente, veremos que nesse tempo já tinha passado a ser subsidiada por fundações
internacionais41 privadas e exercendo sua influência diretamente nessa entidade.
dinástico durável capaz de atravessar incólume as variações da fortuna e a sucessão das gerações, abrigada no
castelo-forte do Estado e dos organismos internacionais.
39
Trecho do relatório Saúde Reprodutiva: uma estratégia para os anos 90 que pode ser lido aqui:
https://s3.amazonaws.com/padrepauloricardo-files/uploads/1u6ay68kzb0h632n57sg/3-Fundacao-Ford-Saude-
reprodutiva-um-estrategia-para-os-anos-90.pdf

40
Em 1952, por exemplo, John Rockefeller III, com mais 26 especialistas em demografia, entre os quais Warren
Thompson, Kingsley Davis e Frank Notestein, funda o Conselho Populacional para controlar o crescimento mundial
da população. Imediatamente a seguir a Fundação Ford se converte no principal parceiro do empreendimeto e coloca
o controle demográfico entre suas prioridades.

41
René A. Wormser em seu livro Fundações: seu poder e influência (1958) afirma que “Seria difícil encontrar uma
única organização apoiada por fundação com certa solidez que não tenha favorecido a ONU ou sistemas globais
Nos anos 80, um entendimento mais profundo das complexidade do processo das
decisões reprodutivas e de suas consequências para toda a família começou a mudar o esquema
conceitual a partir do qual as políticas populacionais eram discutidas. O reconhecimento de uma
discriminação histórica contra as mulheres em muitos aspectos de suas vidas conduziu a um
entendimento mais amplo de que o status das mulheres é um fator chave para sua motivação de
decidir controlar sua fertilidade.
Portanto, pouco a pouco, chegaram à conclusão de que era preciso mudar o discurso. Não
se deveria mais falar em controle populacional, mas em saúde reprodutiva da mulher. Era preciso
uma nova abordagem, fazer um discurso mais feminista para chegar à mesma conclusão de que
se precisa reduzir o crescimento populacional.
Continua a Ford, “Esta abordagem (mais feminista) não pode omitir-se em reconhecer a
necessidade de promover o aborto seguro.”. Então, o aborto “seguro” não se promove para o bem
das mulheres, como ouvimos tradicionalmente, mas para promover o controle populacional
almejado pela Fundação. Eles dizem como fazer isso:
“Propomos três objetivos específicos para o trabalho da Fundação em saúde reprodutiva são:
A. Desenvolver um esquema conceitual abrangente socioeconômico, legal e biomédico para a
saúde reprodutiva intensificando a pesquisa em ciência social e sua utilização na formulação de
políticas e no projeto de serviços.
B. Empoderar as mulheres para melhor entender, articular e atuar suas próprias necessidades de
saúde reprodutiva nos níveis familiar, comunitário e político.
C. Promover o debate público e promover a consciência pública sobre saúde reprodutiva e
temas populacionais, incluindo o desenvolvimento de esquemas conceituais éticos e legais em
diferentes sociedades, com a finalidade de implementar políticas e serviços.”. 42
De acordo com o primeiro objetivo, para alcançar a finalidade é preciso estudar
sociologia focando nas áreas socioeconômicas, legal e biomédica para fundar uma sociologia que
explique os mecanismos e equacione esses fatores para uma determinada finalidade que se deseja
alcançar.
O segundo objetivo deseja fomentar um trabalho que faça as mulheres acreditarem
naquilo que foi dito pelos sociólogos (“entender”), e assim deve-se repetir os discursos

similares. Embora as somas de dinheiro investidas pelas fundações com mentalidade internacionalista possam
parecer relativamente pequenas em comparação com concessões maiores gastas em outra parte, elas permitiram que
suas organizações-satélite ou subsidiadas desempenhassem um papel manifesto e dominante. Isso era
comparativamente fácil de realizar porque não havia oposição organizada ou apoiada por fundação.”.
42
Trecho do relatório Saúde Reprodutiva: uma estratégia para os anos 90.
produzidos pelos sociólogos de maneira atrativa para as mulheres. Elas precisam seguir esseas
ideias e tudo que esses sociólogo - que elas desconhecem quem são - estão escrevendo sobre elas
e suas vidas nos diversos níveis sócias: família, comunidade, política.
O terceiro objetivo se refere à necessidade de fazer os discursos feitos pelos sociólogos e
transferidos para as mulheres alterarem a ética da sociedade, os padrões, as leis, os ordenamentos
jurídicos. É um mecanismo de manipulação escrito explicitamente no documento da própria Ford
visando mudar as instituições sociais. Continua a Ford:
“Os estudos sobre a prevalência dos abortos ilegais e inseguros em um determinado país e
sobre as demandas que exigem dos serviços de saúde do país irá fornecer a informação
específica do país essencial para um debate informado e o subseqüente desenvolvimento de
reformas legais e de saúde. Estes dados deverão constituir-se no pano de fundo contra os quais
deverão ser discutidos os valores morais envolvidos. A disseminação destas pesquisas políticas
para grupos chaves de advogados, organizações de mulheres, líderes religiosos e agentes
políticos, assim como profissionais de saúde, é essencial para um melhor debate público
informado.”43
Portanto, eles estão afirmando que é preciso pegar os dados sobre o aborto inseguro
criados por pesquisas provocadas artificialmente e criar uma crise social de maneira proposital.
Utilizando-se dessa situação de crise para poder recomeçar a discutir os próprios valores éticos
vigentes naquela sociedade; chegando inclusive aos “líderes religiosos”, ou seja, pode-se criar
organizações religiosas para promover esses novos valores. Dessa forma, vai causando a
comoção necessária para que toda a sociedade seja enganada e modificada, enquanto a finalidade
que eles ocultamente cultivam é alcançada.
Logo, não se trata de ajudar as mulheres ou qualquer dita “minoria”, mas uma
instrumentalização colossal para criar uma espécie de grande ditadura, ou ao menos para
alcançar uma maior poder político e social; na qual marxistas, minorias homoafetivas, feministas
estão sendo usados a serviço de uma revolução que eles dizem combater.
Por fim, vão causando divisões sociedade que são totalmente falsas como o feminismo x
marchismo que são rótulos que tentam nos convencer de uma espécie de entrincheiramento
social que não conseguimos observar na prática. Na vida real, observamos que em geral os
homens gostam da mulher e vice-versa, podendo esses gostar ser explicitado pela atração sexual
ou pelo mais natural afeto humano. Ou a homoafetividade x homofobia, como se houvesse uma

43
Ibidem
perseguição de morte digna do mais cruel regime nazista explicitada na sociedade contra os
homossexuais.
Observamos uma espécie de inflação de dados forçada que qualquer pessoas com o
mínimo de bom senso percebe. Vão criando uma dialética em discursos que faz com que todo
aquele que não se declare pró um determinado movimento seja automaticamente identificado
como uma força contrária e oposta ao mesmo. Logo, se você não se declara a favor da agenda
LGBT, é automaticamente (ipso facto) favorável ao preconceito; se não defende o movimento
feminista, é um machista patriarcalista opressor etc.
Vão-se criando essas discussões paralelas para se evitar ir à essência do problema, como
na questão de gênero por exemplo que tenta se afirmar que seria um debate relativo a questões de
preconceito, mas como vimos nada mais é que a criação de um vocabulário enganosos para
ludibriar e manipular a nossa percepção da realidade.
Aqueles que desviam o assunto para temas periféricos são os próprios causadores dessas
ideologias que têm como objetivo essa espécie de nova ordem mundial. Eles deslocam para
temas periféricos para que as pessoas não descubram as causas mais profundas e contundentes.
Só entenderemos realmente esses problemas com muita pesquisa, estudo e reflexão profunda que
nos auxilie a entender a sua essência e quem são seus causadores.
Breve conclusão
A verdade é que existe uma cultura da morte que é um pacote de elementos que têm
como fim último o governo mundial. Os temas ideológicos que compõe essa cultura são muitos e
aqui no curso focamos os mais próximos de nossos dias: aborto e gênero. Contudo, ainda
poderíamos falar de eutanásia, suicídio assistido, ou qualquer outro ato grotesco que contraria o
bom senso e a percepção racional da lei natural.
A cultura da morte é contra a natureza humana, contra a ciência e de modo especial
contra o Cristianismo. De modo mais especial ainda contra a Igreja Católica que é claramente
hostilizada e perseguida pelos defensores de todas essas ideologias.
Precisamos tomar consciência do que está acontecendo, acorda desse grande sono.
Para reagir, precisamos estudar como tarefa individual, intransferível e necessária. Hoje,
se faz um trabalho gigante para o emburrecimento, por isso o estado educacional e a
manipulação da juventude. São dadas músicas de péssima qualidade, ensina-se desde cedo a
perversão moral, fazendo com que eles se percam num completo desinteresse pelo ensino e
educação formal que é uma realidade que tantas vezes escutamos nossos professores
testemunharem. Não devemos ser agentes passivos, mas estudar, ir atrás do jovens e acordá-los
para essas realidades de manipulação. Temos que criar uma cultura onde de consciência na
sociedade enraizada em uma profunda vida de estudo e oração que nos torne capaz de exercer o
Ofício do Sábio tão magnificamente explicado por Santo Tomás na Suma Contra os Gentios de
forma que consigamos combater a cultura da morte e criar a cultura da vida.
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