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Marlis Morosini Polidori
Virgínia Feix
Ágata Cristina Silveira Pamplona (Assistente
Editorial)
Léia Alves de Souza (Editora executiva)
ISBN: 978-85-99738-20-7
ISBN: 978-85-397-0247-3
CDD 372.832
CDU 372.832
Introdução 9
Escola e valores 35
Considerações finais 63
Referências bibliográficas 65
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da técnica” (REALE, 1991, p. 511). Nos dias atuais, esse assunto não se
restringe somente à Filosofia.
Se os educadores (as) não atribuem nenhuma importância ou
pouca importância à reflexão sobre os valores éticos, e consequente-
mente à formação cidadã, então a escola está perdendo a oportunidade
de discutir temas fundamentais que podem influenciar na melhoria das
condições das relações humanas.
Desta forma, partimos da hipótese de que o debate, a discussão e
a reflexão sobre os valores éticos, se bem trabalhados em sala de aula,
podem contribuir para a formação cidadã e o entendimento crítico dos
valores sociais numa perspectiva da inclusão social.
Ao longo da História, a escola tem sido considerada uma institui-
ção fundamental na formação do ser humano, caracterizada essencial-
mente pelo seu caráter competitivo por estar fortemente vinculada ao
êxito acadêmico e pela sua pretensão exclusivamente instrutiva. Porém,
a partir da reflexão de autores como Piaget, Kohlberg ou Freire, hoje
em dia está se fazendo um evidente esforço para superar a concepção
da escola como mera transmissora de conhecimento em favor de uma
ampliação dos processos educativos que inclua a educação nos valores e
atitudes que exigem a convivência pacífica e participativa na sociedade.
Essa inquietação acompanhou a reflexão pedagógica do século
XX. Nos movimentos de renovação pedagógica dos anos 20, em especial
na Escola Nova, se falava de educação para a paz. Outros movimentos
e pedagogos têm reforçado essa posição: a Escola Moderna de Freinet,
a Escola de Summerhill de Neill, a Escola de Barbiana de Milani ou a
Pedagogia Libertadora de Paulo Freire. No Brasil, os Parâmetros Cur-
riculares Nacionais de 1998, na proposta de eixos transversais são o
ponto de referência para uma profunda modificação no modelo peda-
gógico brasileiro, começando pelo resgate da ética e convívio social a
partir da própria escola.
A realidade parece contradizer este propósito. A violência, a intole-
rância, o preconceito, dentro e fora dos muros escolares, impõem morte
e exclusão no espaço de criação de subjetividades por excelência. E nossa
juventude é a maior vítima dessa situação. Neste sentido, dois eventos,
entre muitos outros, têm nos impactado de forma direta: o massacre de
12 crianças numa escola do bairro carioca de Realengo, no dia 7 de abril
de 2011, e o assassinato do Prof. Kássio Gomes, no dia 7 de dezembro
de 2010, por um aluno inconformado com a sua reprovação. O primeiro
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Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental indicam
seis temas que devem ser trabalhados como Temas Transversais, são eles: Ética,
Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo, e Pluralidade
Cultural. A transversalidade se dá pelo fato de os temas não se constituírem em
novas disciplinas. Eles devem ser contemplados nos planos de ensino dos professores
(as) e nos Projetos Pedagógicos da escola, mas, sobretudo, devem ser desenvolvidos
pelos professores (as) de qualquer disciplina. Isso significa que qualquer professor
(a) estaria apto para refletir sobre esses temas a partir de sua área ou disciplina.
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Minha vista, quer seja aguda, quer seja fraca, não vê senão a certa distância.
Vivo e ajo nesse espaço, essa linha do horizonte é meu mais próximo destino,
grande ou pequeno, ao qual não posso escapar. Em torno de cada ser se es-
tende assim um círculo concêntrico que lhe é particular. Igualmente o ouvido
nos encerra num pequeno espaço, da mesma forma que o sentido do tato. E a
partir desses horizontes, onde nossos sentidos encerram cada um de nós, como
nos muros de uma prisão, que avaliamos o mundo, dizendo que tal coisa está
perto, tal outra está longe, tal coisa é grande, tal outra é pequena, tal coisa é
dura e tal outra é mole: chamamos “sensação” essa forma de medir — e tudo
isso é simplesmente um erro em si! A partir da quantidade de experiências e
emoções que nos são possíveis em média num espaço de tempo dado, avalia-
mos nossa vida, a achamos curta ou longa, rica ou pobre, cheia ou vazia: em
função da média da vida humana, avaliamos aquela de todos os outros seres
— e isso, tudo isso, é simplesmente um erro em si! Se tivéssemos uma vista
cem vezes mais penetrante para as coisas próximas, o homem nos pareceria
enorme; poderíamos até imaginar órgãos por meio dos quais o homem pareceria
incomensurável. Por outro lado, certos órgãos poderiam ser constituídos de
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tal maneira que reduziriam e limitariam sistemas solares inteiros, para torná-
-los semelhantes a uma única célula: e para seres inversamente constituídos,
uma única célula do corpo humano poderia apresentar-se em sua construção,
seu movimento e sua harmonia como um sistema solar. Os hábitos de nossos
sentidos nos envolveram num tecido de sensações enganadoras que são, por
sua vez, a base de todos os nossos juízos e de nosso “entendimento” — não há
absolutamente saída, não há escapatória, não há senda voltada para o mundo
real! Estamos em nossa teia como aranhas e ainda que apanhemos alguma
coisa, podemos apanhar somente e sempre o que se deixar prender em nossa
teia (NIETZSCHE, 2007b, p. 94).
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Educar para a tolerância adultos que atiram uns nos outros por motivos
étnicos e religiosos é tempo perdido. Tarde demais. A intolerância selvagem
deve ser, portanto, combatida em suas raízes, através de uma educação
constante que tenha início na mais tenra infância, antes que possa ser es-
crita em um livro, e antes que se torne uma casca comportamental espessa
e dura demais (ECO, 1998, p. 117).
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mudar coisa alguma. Quem pensa dessa maneira entende também que
as aulas de Filosofia, Sociologia e Ensino Religioso não têm nenhuma
serventia. Porém, ao mesmo tempo, temos receio de que um livro que
demonstre intolerância e racismo possa influenciar os estudantes. O
caso mais recente foi a discussão em torno de um trecho do livro de
Monteiro Lobato, no qual a Tia Nastácia é comparada a uma macaca.
Além desses exemplos, a comunidade também expressa temor
diante de filmes, panfletos e textos sobre a homossexualidade ou expe-
riências religiosas diferentes que possam mudar a concepção do aluno.
Em relação à última questão, há o debate sobre o Ensino Religioso.
Ora, se as disciplinas de caráter humanistas não interferem no
pensamento dos educandos, por que então se preocupar com elas? Por
que a sociedade teme que o Ensino Religioso possa interferir na forma
dos educandos enxergarem sua experiência religiosa? Se de fato as
disciplinas humanísticas não tivessem essa capacidade de interferên-
cia, não haveria necessidade de preocupação. Por que essa lógica de
pensamento somente é válida nesses casos? Por que a discussão sobre
ética não pode influenciar o aluno e mudar o seu modo de enxergar a
realidade? Ou seja, se entendemos e nos preocupamos que uma aula
de Ensino Religioso pode interferir na maneira como o aluno enxerga
a realidade, por que não fazemos essa mesma lógica quando se refere
à discussão sobre valores ou ética?
Reafirmamos que é inteiramente concebível que o educador (a)
tenha preocupação e compromisso com valores que reforçam a cidadania
e a solidariedade. Seria igualmente estranho, num ambiente de sala de
aula, o educador (a) se omitir ou fazer vistas grossas para uma situação
de claro desrespeito, discriminação, preconceito ou violência, como se
não fosse sua função interferir e até mesmo corrigir práticas desumanas.
Infelizmente, muitas escolas se transformaram em espaços de
ações violentas, de discriminação, de intolerância e preconceito. Uma
notícia divulgada pela Folha de S. Paulo constatou que o preconceito
piora o desempenho de alunos.
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Marco Antônio Oliveira de Azevedo discute muito bem este problema em: Razões
para agir (ou como Lewis Carrol nos ajudou a entender também os raciocínios
práticos). Revista Veritas. Porto Alegre. v. 52, n. 2, junho 2007.
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Mas não é bastante ter uma arte qualquer sem praticá-la. Uma arte qualquer,
pelo menos, mesmo quando não se pratique, pode ser considerada como
ciência; mas a virtude afirma-se por completo na prática, e seu melhor
uso consiste em governar a República e converter em obras as palavras
que se ouvem nas escolas (EPICURO, LUCRÉCIO, CÍCERO, SÊNECA, MARCO
AURÉLIO, 1988, p. 139).
Platão, em seu texto sobre A República (Livro III), afirma que esta-
va desiludido com a vida pública. Para Platão, os governantes deveriam
se comprometer em buscar um modo de vida virtuoso, fundamentado
na verdade e na justiça. A cidade também deveria ter como fundamento
esses valores a fim de poder formar verdadeiros cidadãos. Acontece que
ele presenciou exatamente o contrário. Ele viu de perto a violência, a
injustiça e a tirania dos governantes. A partir disso, concluiu que po-
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É por isso que Platão considera tanto mais paradoxal a tese de que a educação
não começa pela verdade, mas sim pela mentira. [...] Ora, em todas as coisas,
e na educação especialmente< têm grande importância os primórdios, pois
a educação parte da fase mais primitiva e maleável da evolução do homem.
As idéias que assim lhes incutimos são muitas vezes as que se opõem pre-
cisamente às convicções que deverão possuir quando forem adultas. Platão
defende, por essa razão, que aqueles que contam histórias e lendas devem
ser vigiados, pois deixam na alma da criança um traça mais duradouro que
as mãos dos que lhe cuidam do corpo (WERNER, 1994, p. 769).
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Bioética é uma disciplina que analisa os dilemas éticos causados pelas descobertas,
posicionamentos ou uso de tecnologia na área da saúde, especialmente pela biologia
e medicina, em contraposição com os valores morais.
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ele mesmo está atolado em corrupção? Penso que Epicuro pode nos
fornecer uma luz quando afirma que “há na medicina substâncias que,
sem que se tenha necessidade de prová-las ou de tocá-las, agem pelo
aroma; assim é a virtude: sua benfazeja influência se exerce mesmo
a distância e sem que ela seja visível” (EPICURO, LUCRÉCIO, CÍCERO,
SÊNECA, 1988, p. 202).
É necessário que as ações éticas sejam visíveis, mas mesmo que
não sejam visíveis, elas devem ser percebidas. De qualquer forma, o
comportamento moral deve estar claro, os posicionamentos devem
ser firmes e seguros para que não haja dúvida e para que sirvam de
exemplos e parâmetros para as ações.
Platão, como vimos, acreditava que os conteúdos presentes nos
textos utilizados na educação das crianças poderiam ser devastadores
caso não fossem conteúdos que contribuíssem para a formação de um
ser humano virtuoso. Ele desenvolve essa ideia em sua obra A República.
Por isso, como já dissemos, ele fez uma grande crítica aos poetas, uma
vez que as obras destes eram utilizadas na educação das crianças. A
educação, para Platão também se dá pela imitação. É necessário que
exista um modelo digno de ser imitado pela sua compostura moral e
ética. Esse modelo não precisaria ser necessariamente uma pessoa,
segundo Platão, poderia ser o próprio conteúdo que servia de base
para a formação do cidadão.
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O cinismo surge com Antístenes, discípulo de Sócrates, no IV século a.C. No entanto,
é Diógenes quem se tornará mais conhecido pelo fato de assumir verdadeiramente
uma vida cínica. A propósito, o nome cínico, provavelmente deriva do termo grego
“kyon” (cão). O seu jeito de agir e de se comportar deve ter contribuído e reforçado
a ideia do filósofo “cão”. Caracterizavam-se por seu visual. Andavam descalços, com
um manto, um bastão e uma sacola. Seu modo de vida estava baseado na natureza,
ou seja, imitavam a natureza. O início do cinismo (IV século até o fim do III a.C.) está
documentado por Diógenes Laércio no sexto livro de sua obra: Vida dos Filósofos
Ilustres. Há uma edição em português publicada pela Universidade de Brasília.
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Vejo, porém, que todos aqueles que ensinam praticam o que ensinam a fim
de edificar pelo exemplo os que aprendem, a passo igual que os estimulam
pela palavra. Sei que Sócrates era para seus discípulos modelo vivo de vir-
tuosidade e que lhes administrava as mais belas lições acerca da virtude e
o mais que ao homem concerne (SÓCRATES, 1987, p. 38).
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Essa visão é compartilhada por Aldo Pontes, doutor em Educação pela USP, em en-
trevista concedida ao Jornal Estado de São Paulo, do dia 16 de agosto de 2010, sob
o título “Crianças podem aprender com a ‘máquina de socialização’ chamada TV”.
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PROJETO DE LEI Nº 2.654 /2003 (Da Deputada Maria do Rosário). Dispõe sobre a
alteração da Lei 8.069, de 13/07/1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, e da
Lei 10.406, de 10/01/2002, o Novo Código Civil, estabelecendo o direito da criança
e do adolescente a não serem submetidos a qualquer forma de punição corporal,
mediante a adoção de castigos moderados ou imoderados, sob a alegação de quais-
quer propósitos, ainda que pedagógicos, e dá outras providências.
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Ver meu texto: O papel da avaliação na formação de professores. In: ANDREOLA,
Balduíno Antônio; PAULY, Evaldo Luis; KROMBAUER, Luiz Gilberto; ORTH, Miguel
Alfredo. A formação de Educadores. Da itinerância das universidades à escola
itinerante. Ijué: Unijui, 2010. p. 201-223.
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instrumento de reflexão ética, visto que a reflexão pode ser feita levando
em consideração a busca pelas razões da escolha, ou buscando as justifi-
cativas e razões pelas quais os alunos consideram suas opções a melhor
alternativa. Desta forma, busca-se analisar o sentido da ação humana.
Este exercício dialético de contrapor a ideia do educando com
outras que possam fazê-los reavaliar a sua postura, principalmente
quando esta postura se manifesta como violenta, discriminatória ou
preconceituosa, pode conduzir o educando a reformar suas atitudes e
promover ações pró-sociais. Isso não significa relativização ética e, sim,
a possibilidade de o aluno contrapor sua escolha e seus argumentos
com outros considerados eticamente mais abrangentes.
Essa experiência já foi posta em prática e foram observados bons
resultados. A pesquisa desenvolvida por Muñoz (2011) mostra a propos-
ta de uma metodologia que privilegia o diálogo, a mediação de conflitos,
a promoção de comportamentos pró- sociais e a diminuição da violência;
tendo como objetivo principal a educação para a paz. A tese demonstrou
que a ausência dos conteúdos que podem conduzir a comportamentos
pró-sociais, interferem no aumento de comportamentos agressivos e
violentos. Nessa pesquisa, o autor demonstrou que, quando os alunos
refletiam sobre suas ações, buscando as motivações e justificativas que
determinavam suas escolhas, em geral, os alunos que apresentavam
comportamentos antissociais, mudavam sua forma de agir.
Isso significa, como já dissemos, que, embora não possamos che-
gar a um consenso sobre quais valores morais devem ser discutidos
na escola, podemos sustentar que a prática da reflexão pode amenizar
a intolerância, a violência e contribuir para a construção de compor-
tamentos pró-sociais, bem como desenvolver a consciência de uma
prática que tenha como objetivo a formação da cidadania.
Outra pesquisa realizada por Gustavo Venturi concluiu que a
escola é determinante para o fim da homofobia.
Sozinha, a escola não será capaz de combater o preconceito contra gays,
lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. Mas o ambiente escolar é o
local mais promissor para pôr fim à homofobia. Essa é conclusão de um
estudo realizado pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com a Fun-
dação Rosa Luxemburgo Stiftung (RLS), em 150 municípios brasileiros em
todas as regiões do País. Por isso, Gustavo Venturi, coordenador do estudo,
defende que o debate sobre esse tipo de discriminação faça parte das aulas,
inclusive na infância.
Entre os rapazes com idade entre 16 e 17 anos, 47% dos entrevistados
admitiram preconceito contra gays, lésbicas, travestis. “Esse é mais um
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ciadas por essa visão. Podemos estar falando algo óbvio. No entanto,
percebo que muitas vezes os objetivos traçados nos Projetos Políticos
Pedagógicos e nos Planos de Ensino aparecem ali apenas como mais
um item obrigatório, sem muita preocupação em atingi-los.
Nunca presenciei um aluno questionar o professor no final do
semestre por não ter alcançado o objetivo proposto no plano de aula.
Também são poucos os educadores (as) que costumam avaliar, com os
alunos, se os objetivos do plano de aula foram alcançados.
Quero dizer com isso que uma instituição de ensino pode deter-
minar que em sua instituição serão enfatizados os seguintes valores:
respeito, tolerância, democracia, etc., da mesma forma que se decide
por uma linha política ou educacional. Se analisarmos os Projetos Pe-
dagógicos das escolas e os documentos oficiais que regulam o ensino,
veremos que esses valores, mencionados, já estão presentes. Portanto,
concluímos que não basta simplesmente constar nos documentos, tem
que haver ações efetivas para que estas orientações sejam concretizadas.
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O documento (...), sugere que as aulas deveriam ser mais direcionadas para
a preparação das crianças para a vida fora das escolas. O relatório (...) afir-
ma que lições sobre bem-estar emocional e aptidões sociais deveriam ser
parte compulsória do currículo. (...) Segundo o relatório, os alunos devem
ter “qualidades pessoais, sociais e emocionais essenciais para sua saúde,
bem- estar e para viver como cidadãos responsáveis no século 21”. O rela-
tório, (...) sugere que sejam adotadas seis amplas “áreas de aprendizagem”.
Essas áreas seriam: compreensão de inglês, comunicação e línguas; enten-
dimento matemático; entendimento científico e tecnológico; entendimento
humano, social e ambiental; entendimento de bem-estar e saúde física e
entendimento das artes e desenho... (RELATÓRIO, 2008).
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Considerações finais
Uma das teses que defendemos neste livro foi a de que a escola
já conta com um aliado nesse debate. Os Temas Transversais foram
propostos com a função de discutir temas relevantes que conduzem os
educandos a entenderem os principais problemas da atualidade. Talvez
essa não seja a melhor solução para se discutir o assunto. No entanto,
os Temas Transversais de fato abordam muitos daqueles assuntos que
historicamente foram considerados como doutrinação ou propaganda
da “esquerda”. Agora, esses assuntos se apresentam simplesmente como
temas que contribuem para a formação cidadã. Quando dissemos que
talvez não fosse a melhor solução, estávamos nos referindo a proposta
da transversalidade. Como proposta de Temas Transversais eles podem
simplesmente continuarem sendo ignorados, mas como proposta de
temas, cremos que temos em mãos um instrumento que pode, no mí-
nimo, servir de base para iniciarmos a discussão.
Faz-se necessário lembrar que as instituições e as estruturas
econômicas e políticas também devem ser fomentadoras da ética, uma
vez que são representativas da sociedade e porque também possuem
função educativa.
O ser humano se torna humano pelo seu constante agir na His-
tória. Nem sempre o agir humano contribui para tornar o ser humano
mais humano. Mas o ser humano tem a capacidade de mudar, repensar
e redimensionar suas ações. Consegue reconhecer erros e perceber
ações que causam prejuízos ou sofrimentos aos outros e ao meio am-
biente. Nesse sentido, o ser humano pode tornar melhor tanto o seu
meio quanto a si mesmo, visto que é ele mesmo quem dá sentido e
significado à realidade.
A reflexão ética na escola se apresenta como oportunidade para
pensar os relacionamentos humanos em várias áreas, bem como as
relações políticas criadas pela própria sociedade. Evidentemente que
não mudaremos sistemas sociais apenas por meio de reflexões, mas
as reflexões podem se apresentar como instrumento de conscientiza-
ção. Numa sociedade na qual se valoriza o conhecimento científico, o
conhecimento tecnológico, o lucro, a individualidade e a competição,
é importante que também haja espaço para pensar as consequências
desse conhecimento.
É fundamental que educandos e educadores conheçam alternati-
vas que levam em conta as relações com o meio ambiente, que saibam
que é possível conviver com outros indivíduos que não compartilham
das mesmas tradições culturais, que existem ações que consideram a
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Referências bibliográficas
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O Brasil é um país jovem: 30% dos seus 191 milhões de habitantes têm menos de 18
anos e 11% da população possui entre 12 e 17 anos (UNICEF, 2011).
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dos casos). O índice é quase o dobro das mortes por doença (26,5%)
e mais do que o dobro das mortes por acidente (23,2%). O estudo
feito em 11 regiões metropolitanas aponta que os homicídios afetam
principalmente os rapazes (12 homens para cada jovem assassinada),
os negros (quase quatro negros ou pardos para cada branco ou ama-
relo) e moradores da periferia. O principal instrumento de assassinato
dos adolescentes é a arma de fogo. Estes dados são confirmados no
relatório da UNICEF sobre a situação mundial da infância em 2011:
entre 1998 e 2008 81 mil adolescentes brasileiros, de 15 a 19 anos
de idade, foram assassinados. Ainda segundo o relatório, atualmente
as oportunidades para a inserção social e produtiva dos adolescentes
brasileiros ainda são insuficientes. Assim, é o grupo etário mais vulne-
rável perante o desemprego e subemprego, a violência, a degradação
ambiental e redução dos níveis de qualidade de vida. O relatório nos
adverte ainda que as oportunidades são menores ainda quando,
além da idade, consideramos outras variáveis iníquas como renda,
condição pessoal, local de moradia, gênero, raça ou etnia.
Seguindo Graciani (2001), afirmamos o processo de “adultaliza-
ção precoce” de muitos desses adolescentes, obrigados a ser arrimo
de família. A desestruturação de muitos lares e a ausência de figura
paterna nas famílias os colocam nas ruas sem nenhuma orientação e
segurança, vivenciando uma constante instabilidade e violência. Pos-
so, igualmente, supor uma considerável desorientação em relação a
qualquer valor ético e limite.
Para o adolescente que vive no ambiente violento do tráfico de
drogas presente no dia a dia do bairro em que mora, a socialização
não acontece na família ou na escola, mas na rua junto ao seu grupo
de referência, que constrói suas próprias regras de convivência, códi-
gos de grupo, gírias ou modos de vestir-se. Conforme afirma Gilberto
Dimenstein (1990), quando a agressão e a rejeição são integrantes
naturais do cotidiano do adolescente não é estranho que a reação
seja também violenta, gerando um círculo vicioso. Nesse contexto de
anomia, é a lei do mais forte que domina, e a violência se torna um
fator predominante na convivência social. O uso da violência não
somente pode trazer benefícios econômicos, mas também simbólicos,
afetivos e psicológicos, enquanto o adolescente é valorizado, reconhe-
cido e acolhido no grupo. Nesta linha se expressa Luiz Eduardo Soares
(2005, p. 57), ao descrever a violência juvenil como uma estratégia de
sobrevivência psicológica:
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2 A síntese tem o interesse de ter sido realizada por educadores inseridos na realidade
escolar do país basco, submersa num contexto de extrema violência.
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b) Destruição de patrimônio:
(8) envolver-se deliberadamente na provocação de incêndio
com a intenção de causar sérios danos;
(9) destruir deliberadamente o patrimônio alheio (diferente
de provocação de incêndio).
c) Defraudação ou furto:
(10) arrombar residência, prédio ou automóvel alheios;
(11) mentiras frequentes para obter bens ou favores ou para
esquivar-se de obrigações legais (ludibria pessoas);
(12) roubo de objetos de valor sem confronto com a vítima
(furto em lojas, mas sem arrombar e invadir; falsificação).
d) Sérias violações de regras:
(13) frequente permanência na rua à noite, contrariando
proibições por parte dos pais, iniciando antes dos 13 anos
de idade;
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Este manual de classificação das doenças mentais foi elaborado pelos psiquiatras
da Associação de Psiquiatria Norte-americana, independentemente da classificação
elaborada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o CID. É um manual de diag-
nósticos que passou a tomar importância a partir da 3a. edição, na qual foi adotada
uma postura descritiva das doenças (fenomenológica) sem qualquer conotação
etiológica ou explicativa, restringindo-se ao trabalho de descrever os sintomas e
agrupá-los em síndromes.
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• é um problema comportamental;
• persistente (no mínimo seis meses) de forma a constituir padrão;
• manifesta-se em condutas agressivas ou desafiantes; e
• viola direitos, expectativas e normas sociais próprias da idade.
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Procedimento de escolha aleatória da amostra a ser estudada.
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A) Autoestima
É consenso entre os profissionais da Psicologia e a Pedago-
gia consultados na presente tese afirmarem a íntima relação entre
autoestima e comportamentos sociais. Toda pessoa possui uma ima-
gem de si própria que determina a avaliação que faz de si mesma e,
consequentemente, sua atitude e postura nas relações interpessoais.
O autoconceito é a compreensão que alguém tem de si próprio, é a
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C) Cooperação
É a capacidade de trabalhar em prol de uma meta comum, de
resolver problemas em conjunto. Neste sentido, tem a ver com a soli-
dariedade e a organização. O contato não é suficiente para superar o
conflito, é necessário o contato cooperativo. A cooperação tem efeitos
especialmente positivos quando leva as pessoas a definirem um novo
grupo abrangente que dissolve seus grupos anteriores. Transformar
“nós e eles” em “nós”, eliminar o binômio ganhador x perdedor, próprio
de uma sociedade competitiva.
Foram as pesquisas de Morton Deutsch, em 1949, sobre o com-
portamento das pessoas em grupos pequenos, que motivaram muitos
educadores desde os anos 70 a aprofundar no tema dos efeitos e
aplicar os princípios da aprendizagem cooperativa na escola com re-
sultados positivos. Esse p sicólogo social norte-americano, discípulo
de Kurt Lewin, procurou aplicar a teoria da motivação dele às situações
interpessoais. Os estudos dele têm orientado a pesquisa educacional
ao estudar as três estruturas de organização do grupo: individualista,
competitiva e cooperativa. A primeira é caracterizada pelo trabalho
solitário de um/a aluno/a que persegue uns objetivos independentes
e não relacionados com os de outros. Na segunda, os objetivos dos
sujeitos são tão distantes e contrários que a consecução deles por um
indivíduo exige a não consecução dos objetivos dos outros. Na estru-
tura cooperativa, os objetivos são alcançados se, e somente, todos os
sujeitos o conseguem.
As hipóteses fundamentais da aprendizagem cooperativa (BRO-
WN, 2004) são:
• Os indivíduos em situações cooperativas consideram que
a realização de seus objetivos é, pelo menos parcialmente,
consequência das ações dos outros participantes.
• Os membros dos grupos cooperativos valorizam mais as ações
dos companheiros que favorecem o objetivo comum e reagem
menos negativamente perante ações contrárias a esse objetivo.
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D) Resolução de conflitos
Quando a tensão e a desconfiança aumentam, a cooperação
e a comunicação podem se tornar inúteis. Quando os conflitos se
intensificam, as imagens tornam-se mais estereotipadas, a comunica-
ção mais difícil e os julgamentos mais rígidos. Terceiras partes neutras
podem sugerir propostas que seriam rejeitadas se um dos lados as
oferecesse. É a chamada “mediação”.
Entendemos mediação como um mecanismo de resolução alter-
nativo de conflitos baseado num sistema de negociação assistida em
que “as partes envolvidas em um conflito tentam resolver tudo por
si mesmas, com ajuda de um terceiro imparcial, que atua como um
condutor auxiliando as pessoas a encontrar uma solução que seja
satisfatória para ambas as partes” (CALAZANS, 2003, p. 88). As van-
tagens deste sistema são evidentes: a presença do mediador neutraliza
os comportamentos agressivos, é testemunha dos acordos e compro-
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1) Atributos da criança:
a) Ausência de deficiências orgânicas.
b) Temperamento fácil.
c) Idade precoce por ocasião do trauma.
d) Ausência de perdas e separações precoces.
2) Atributos do ambiente:
a) Maternagem competente:
(a) Resposta adequada às necessidades da criança.
(b) Oportunizar modelos de comportamento.
(c) Propiciar o desenvolvimento da criatividade e expressi-
vidade.
b) Boa rede de relações informais.
c) Apoio social formal (educação).
d) Atividade organizada.
e) Ter fé.
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25
20 1
15 1 Agressão física
2 2 Brincadeira agressiva
10
3 3 Comportamentos agressivos
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Considerações finais
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