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de café cercados por uma tela e um peque- Ah! Como espero por essa última au-
no galinheiro para observar. Confesso que la… Porém, não posso dizer que não quero
Aytan Belmiro Melo já me diverti algumas vezes, quando a pro- nem ao menos lembrar-me desta garagem.
fessora fazia uma pergunta e as primeiras Inesquecíveis lições tenho aprendido aqui:
a responder eram as galinhas, cacarejan- vendo o esforço de meus professores para
Enquanto um dos grandes cronistas ração se empolga só de pensar. A última do em alto e bom som. E não são só as ga- compensar o tempo perdido entre as cor-
que li e que me inspirou a escrever, ansia- aula na garagem! Você não imagina como linhas: há dias que a trilha sonora que nos ridas de uma garagem a outra, com os co-
va pelo inusitado ou pitoresco que daria esperamos por isso. embala é o animado sertanejo da vizinha, legas que ignoram o espaço em que esta-
luz a sua “última crônica”, o inusitado aqui A escola onde estudava, começou a em outros, o que nos abala é a “makita” dos mos e se dedicam aos estudos, com aque-
é o maior desejo deste pequeno aprendiz, desmoronar. Foi interditada. Os alunos fo- pedreiros na construção ao lado, tão irritan- les que sabem colorir, com alegria e leveza,
a razão e a emoção de meu texto: que a úl- ram “provisoriamente” (há seis anos) co- te que consegue desestabilizar até mesmo o nosso dia a dia. E, sobretudo, com a mi-
tima aula chegue logo. locados no salão paroquial. Não foi sufi- a firme professora de Geografia. nha comunidade que nos deixa uma belís-
Não me interprete mal, querido leitor. ciente. Arrumaram-nos umas garagens… Mas, finalmente e felizmente, essa sima lição, mostrando-nos que diante das
Não sou desses, como alguns dos meus Isso mesmo: garagens! Sabemos que de construção, assim como a da nossa esco- adversidades, não precisamos fazer as ma-
mais divertidos colegas, que chegam à pri- garagens saem boas bandas, tem lojinhas la, está na reta final. Nunca estivemos tão las e mudar de cidade ou de escola, mas
meira aula esperando ansiosamente pela que funcionam em garagens, costureiras e perto da última aula na garagem. Confesso sim, lutar para transformar a realidade. Li-
última. Muito pelo contrário, quando eles doceiras usam muito bem suas garagens. que uma emoção diferente me invade ao ções tão importantes que ultrapassam as
resolvem prolongar um feriado, aqui estou Mas, sala de aula, para uma turma intei- pensar numa escola com quadra, refeitó- linhas de minha crônica, as paredes des-
eu, sentadinho em minha cadeira. Sinto- ra?! É terrível… rio, sala de informática, biblioteca… Meu ta garagem e os limites de nossa cidade.
-me bem na escola. Todas as manhãs, E apesar de terrível, aqui estou escre- Deus! Eu vou estudar numa escola de ver-
quando a mão quentinha de minha mãe vendo minha crônica numa delas. Arrepian- dade! Uma escola que não começou de
me avisa que já são seis horas e tenho que do-me com o frio que nos abraça nas ma- graça, sem grito, nem choro. Foi na briga
me arrumar, não lamento. Sei da importân- nhãs de inverno, observando as colegas que mesmo. Naquele dia em que o povo da-
cia dos estudos para o meu futuro. Talvez se distraem com os gatinhos e os cães da qui entrou na onda de “acordar o gigante”.
por isso, anseio tanto por essa última aula. rua que vira e mexe nos visitam e ouvindo Pais, alunos e professores, vestiram uma
Acredito que essa última aula seja o gargarejo das galinhas – nossas vizinhas camisa de luto, tomaram a BR 116 que cor-
aguardada por todos na cidade. Pois, se do fundo. Afinal, nossa “garagem de aula” ta a cidade e gritaram:
apesar da demora, ela está tão próxima, fica na última casa de uma rua estreita e — Garagem não é sala, igreja também
Professora Silvania Paulina
devemos isso aos valentes santa-barbaren- sem saída. Quando os colegas querem tirar não! Senhor Governador, olha a situação…
Gomes Teixeira
ses… Quando esse dia chegar haverá fes- os olhos do quadro e viajar pela paisagem E só então, com as fotos e vídeos nos EE Monsenhor Rocha, Santa Bárbara
ta, haverá choro, haverá foguete! Meu co- atrás de nós, têm apenas alguns pezinhos jornais, começamos a ser percebidos. do Leste-MG
Já estava amanhecendo o dia, e como Quando ele finalmente consegue le- tes no chão. Tento ajudá-los. Que má ideia,
é rotina aqui no meu lugar, ele amanhe- vantar o galho e voar, decido segui-lo para essa! A mãe fica enfurecida com a minha
ce lindo, o sol aparece brilhante no pé da ver até onde ele consegue sustentar aquela presença, não aceita ajuda. Entendo tudo,
serra, feito segundo despertador de serta- bagagem. Muito comovido com a cena, en- sou desconhecido para ela, provável amea-
nejo, já que o primeiro é o cantar do galo, tro em uma mata fechada e nem percebo. ça, mãe é assim mesmo. Só ela sabe cuidar.
muitas vezes já acompanhado pelo coral Vendo o animal pequeno no tamanho Logo me afasto, e reflito sobre a ne-
dos pássaros que me convida a ser feliz. e gigante na coragem carregando aquele cessidade do respeito aos animais. Vol-
Da janela do meu quarto, contemplo galho, cambaleando no ar, penso comigo to para a cisterna, pego a água e sigo pa-
toda esta beleza. Aquele mar de plantas mesmo: estaria ele construindo seu ninho? ra minha casa, mamãe me espera. Antes
diversas que embelezam o meu sítio Jan- E mesmo com essa interrogação na minha de entrar, da porta aberta já observo mi-
gada, e abrigam tantos pássaros que co- cabeça, continuo seguindo o pássaro, que nha mãe naquela cadeira de madeira, com
migo dividem esse pedacinho de Jucuru- com certeza, nem percebe, pois está muito olhar aflito, preocupada com a minha de-
tu, no Rio Grande do Norte. concentrado na tarefa que realiza. mora, com certeza. Você sabe como é,
Como todo menino de sítio, o ama- Depois de muito segui-lo, o pássaro pa- mãe protege os filhos. E assim, penso ain-
nhecer é hora de trabalhar, de ajudar aos ra em uma árvore, e de longe observo que da mais na mãe dos passarinhos. Amor pu-
pais, e assim, logo coloco o boné na cabe- ele constrói seu ninho, arruma o galho direi- ro e verdadeiro.
ça, e como todos os dias, vou até a minha tinho, acho que está na fase de acabamen- Minha mãe e a mãe dos passarinhos,
cisterna pegar a água do consumo diário. to, os retoques finais, pois ali já havia mora- tão parecidas no amor, no cuidado, na luta
Quando ali, na portinha estreita do reser- dores; um barulhinho suave e insistente, um diária neste lugar de sol quente e de paisa-
vatório, avisto um passarinho com cores cantar baixinho denunciava isso. É o chiado gem que encanta. Mãe é tudo igual.
chamativas e ofuscantes, que mesmo pe- dos filhotes! Isso mesmo, toda aquela força
quenino tentava carregar em seu bico um era de uma mãe dedicada, pequena guer-
galho de mato bem maior do que ele, acho reira, zelando os filhos. Me emociono com
que era o dobro do seu tamanho. Fico ad- tanta sabedoria que vinha daquele amor ma-
Professora Isabel Francisca de Souza
mirado. Sabe como é menino, curiosidade terno. Um ninho pequeno, parecia desprote- EE Professora Maria das Graças Silva Germano,
despertada por tudo, e também sou assim. gido; e me aproximando, vejo os dois filho- Jucurutu-RN