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FEEDBACK

COMO REALIZAR E RECEBER


FEEDBACKS CONSTRUTIVOS

Andréa Gonçalves
João Luiz Francisco
Feedback
Como realizar e receber feedbacks construtivos

AUTORES

Andréa Gonçalves
João Luiz Francisco

TÍTULO

Como realizar e receber feedbacks construtivos

EDIÇÃO

LOCAL
Santo André

EDITORA
Elos Educacional

ANO DA PUBLICAÇÃO
2020

ISBN
978-65-86579-04-8
Feedback
Como realizar e receber feedbacks construtivos

‘Marina, reconheço a sua dedicação e comprometimento com o trabalho e, gostaria


de conversar com você sobre um assunto que pode estar atrapalhando a realização
das suas atividades.’

Diante dessa situação, como você reagiria se estivesse no lugar da Marina?


Como conduziria esta conversa?

Receber e realizar feedback de uma ação no trabalho ou na vida pessoal é


algo que fazemos cotidianamente, mas, como fazê-lo de forma que possa
contribuir para o desenvolvimento pessoal sem nos sentirmos
desconfortáveis? Como trazer à tona assuntos considerados delicados que
levam a pessoa a refletir e quem sabe mudar sua ação ou comportamento? É
possível ensinar a receber feedback?

Neste e-book, buscamos trazer até você, o que entendemos por feedback
construtivo, sua contribuição na comunicação, algumas dicas práticas para
sua realização, bem como reflexões sobre como recebê-lo.

Desse modo trataremos dos seguintes assuntos:

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Feedback
Como realizar e receber feedbacks construtivos

O QUE É UM FEEDBACK CONSTRUTIVO

Feedback é uma palavra inglesa que significa realimentar, dar retorno de uma
informação, resposta ou reação. Williams (2013) afirma que o feedback é a
base de todas as relações interpessoais, é o que determina como as pessoas
pensam, como se sentem, como reagem aos outros e, em grande parte, é o
que origina a forma com que as pessoas encaram suas responsabilidades no
dia a dia.

Para que ele seja construtivo e contribua para o desenvolvimento, o


processo comunicativo estabelecido tem que ser mútuo, no qual os
envolvidos irão fornecer informações, discutir e refletir sobre determinadas
situações e comportamentos com o objetivo de aprimorá-los ou desenvolvê-
los.

Para isso, o emissor das informações, a pessoa que irá conduzir o feedback,
tem que transmiti-la de uma maneira que não ofenda quem as recebe,
possibilitando que o receptor, ou seja, quem recebe o feedback:

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Feedback
Como realizar e receber feedbacks construtivos

Lago (2018) apresenta que o feedback construtivo é um ato de


generosidade, como se alguém dissesse: ‘eu tenho informações que podem
auxiliar você a lidar melhor com essa situação’, sendo assim, pode ser visto
como um presente, uma conversa para o aprendizado.

O aprendizado também é efetivo para quem realiza o feedback, uma vez que,
se faz necessário:

Sendo assim, o feedback é um dos elementos no processo de comunicação,


e, de acordo com Williams (2013), quando melhoramos nossas habilidades
nesse tipo de conversa, estabelecemos um processo de compreensão,
respeito e confiança em uma relação.

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Como realizar e receber feedbacks construtivos

DICAS PARA UM FEEDBACK CONSTRUTIVO

Realizar um feedback nem sempre é fácil. Muitas vezes, ficamos


preocupados com a reação do outro: e se a pessoa chorar? Pode se sentir
ofendida? E se eu falar algo que não deveria? Em algumas situações, nossa
tendência é desistir. Deixamos o que o outro fez e nos incomodou de lado e,
simplesmente, esperamos que não aconteça novamente.

Essa, no entanto, embora pareça mais fácil, acaba se tornando a pior


decisão. Ao não falar ao outro o que nos incomodou, há uma grande
tendência que o caso se repita. Isso pode nos levar a uma situação de
estresse e desgaste da relação. Quando decidimos não falar, estamos
tirando a oportunidade do outro de evoluir. Além disso, também estamos
deixando de melhorar as atividades, processo e as relações nos ambientes
em que atuamos.

Com base nos estudos de Williams (2013) e Lago (2018) a seguir, iremos
apresentar algumas dicas que podem contribuir para um feedback de
sucesso:

Planejamento: isso significa planejar o que queremos


dizer, pensar nas palavras que usaremos, para que elas
não soem como julgamento, bem como, as perguntas que
faremos para promover a reflexão da situação discutida.

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Como realizar e receber feedbacks construtivos

Tempo para ser realizado e o local: o tempo entre a


situação ocorrida e o feedback não pode ser muito
distante além disso, reserve um local apropriado para a
conversa afinal, as críticas nunca devem ser feitas em
público.

Abordagem específica: apresente as informações que


representam o que de fato de fato aconteceu, de forma
clara e compreensiva.

Equilíbrio: procure trazer pontos positivos (comece a


conversa por eles), e aspectos que podem ser
melhorados.

Descrição do assunto: descreva a situação que irão


tratar, afinal, é essencial que a pessoa compreenda o
que será conversado.

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Feedback
Como realizar e receber feedbacks construtivos

Descrição dos sentimentos: evidencie os sentimento


envolvidos na situação discutida, bem como sua
repercussão nos envolvidos.

Incentive o diálogo: encoraja a outra pessoa a


expressar seu ponto de vista e então, escute
atentamente o que ela diz.

Ouça: não interfira enquanto a pessoa está falando,


dando tempo para ela responder e para que possa
compreender o que ela está tentando dizer.

Pontos para aprimoramento: finalize o feedback com


sugestões acordados por ambos.

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Como realizar e receber feedbacks construtivos

PARA REFLETIR

É possível desenvolver um feedback construtivo de forma escrita?

Realizar um feedback escrito, pode ser ainda mais desafiador, pois não temos
o tom de voz e a possibilidade de olhar nos olhos do outro. Desta forma, é
preciso cuidar de cada palavra.

A seguir, apresentamos um exemplo:

Olá, Paula. Tudo bem com você?

Fiquei contente ao receber a sua atividade antes mesmo da data prevista. Assim,
você evita acúmulo de tarefas. Veja minhas observações a seguir:

1) Na questão 1, você respondeu de forma correta. Isto é ótimo. Que tal


presentar um exemplo prático?
2) O que mais poderia ser feito para relacionar os 3 componentes citados na
questão 4 e assim deixar sua resposta mais completa?

Visando um melhor aproveitamento nos estudos destes conceitos, o que você


acha de enviar uma outra versão até o dia 27/06?

Acredito no seu comprometimento com a disciplina e desejo que continue assim.


Como consequência de suas ações, certamente você terá uma melhor
aprendizagem. Muito obrigada.

Um forte abraço e saiba que estou aqui caso você precise.

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Como realizar e receber feedbacks construtivos

COMO A COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA


(CNV) PODE CONTRIBUIR PARA UM
FEEDBACK CONSTRUTIVO

Enquanto Marshall (2006) estudava os fatores que afetam


nossa capacidade de nos mantermos compassivos, ele ficou
impressionado com o papel crucial da linguagem e do uso das
palavras. Desde então, o autor identificou uma abordagem
específica da comunicação — falar e ouvir — que nos leva a
nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos
outros de maneira tal que permite que nossa compaixão
natural floresça. A essa abordagem ele chamou de
Comunicação Não-Violenta (CNV).

Marshall (2006, p. 25) diz que a “CNV se baseia em


habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a
capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições
adversas.”

A CNV é uma ferramenta que pode nos auxiliar na maneira de


nos expressarmos e ouvirmos os outros. Assim, ao invés de
reagirmos de forma automática e repetitiva, conseguimos ter
respostas mais conscientes, baseadas no que estamos
percebendo, sentindo e desejando, aspectos esses que
auxiliam no desenvolvimento do feedback.

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Como realizar e receber feedbacks construtivos

Desse modo, a CNV é constituída de 4 elementos:

1. OBSERVAÇÃO
2. SENTIMENTO
3. NECESSIDADE
4. PEDIDO

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Veja como podemos estruturar a CNV em um feedback construtivo:

Como estrutrar a CNV em um feedback construtivo

“Observei que ___(fato)____

eu me sinto ___(seus sentimento)___

e entendo ser importante ___(sua necessidade)___.

Você estaria disposto a ____(pedido)____?”

Veja os exemplos de conversa abaixo. Em um deles utilizamos a CNV e no


outro não:

SEM UTILIZAR CNV UTILIZANDO CNV

Notei que na semana passada, você não


Todos os seus colegas vêm para a sala
veio até a sala dos professores no
dos professores nos intervalos das
momento do intervalo. Sinto, pois assim
aulas, mas você não, então nunca
não consigo me comunicar com toda a
consigo falar com todos ao mesmo
equipe. Precisamos garantir que todos
tempo. Você nunca sabe nada o que
saibam o que está acontecendo na
está acontecendo na escola. Não escola. Posso contar com a sua presença
quero mais que você fique nas salas na sala dos professores nos momentos
de aula ou no pátio durante o dos intervalos das aulas quando eu for
intervalo! transmitir algum recado?

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Como realizar e receber feedbacks construtivos

A CNV nos ensina a observarmos cuidadosamente (e sermos capazes de


identificar) os comportamentos e as condições que estão nos afetando e
assim, podemos aprender a identificar e a articular claramente o que de fato
desejamos em determinada situação.

VOCÊ SABIA?

Você sabe porque a girafa é o símbolo da CNV?

Marshall Rosenberg, fundador da CNV, usou a metáfora da girafa para


demonstrar como as intenções, palavras e ações contribuem para a vida ou nos
alienam dela.

A girafa é o mamífero terrestre com o maior coração. O seu coração tem que
levar o sangue pelo seu pescoço acima, até o cérebro. Com um coração assim
tão
grande, a ideia é de que as “girafas” ouvem com o coração, sem fazerem
julgamentos de valor, apenas observando, com empatia e uma presença
afetuosa.

O longo pescoço representa a visão, a capacidade de ver claramente o cerne da


questão.

Além disso, as girafas se alimentam de acácia, uma planta com muitos espinhos,
assim podemos aprender com as girafas como atravessar os “espinhos” das
relações e encontrar o prazer e a nutrição que sustentam e dão sentido à nossa
vida.
(Disponível em: https://www.facebook.com/517399621661624/photos/por-que-a-cnv-%C3%A9-a-
l%C3%ADngua-das-girafasmarshall-rosenberg-fundador-da-cnv-usou-a-me/996621677072747/ .
Acesso em 23 junh. De 2020.)

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COMO PRATICAR A ESCUTA ATIVA EM UM


FEEDBACK CONSTRUTIVO

Uma das atividades fundamentais para “conseguir ver mais longe”, é


adotarmos uma postura de escuta ativa. Essa também é uma das
características de um bom feedback, e para o desenvolvimento da CNV,
como já colocado.

A escuta ativa é saber ouvir o outro quando estamos nos comunicando com
ele. Isso é fundamental quando estamos realizando ou recebendo um
feedback. Escutar pode parecer fácil ou até óbvio, no entanto, ruídos na
comunicação muitas vezes ocorrem por não prestarmos atenção de forma
verdadeira no que a outra pessoa está querendo dizer e nos precipitamos em
tirar conclusões.

Desse modo, Rekowsky (2020) apresenta oito passos que podem nos ajudar
a ter uma escuta mais ativa:

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Como realizar e receber feedbacks construtivos

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COMO RECEBER UM FEEDBACK?

Stone e Heen (2014) acreditam que o foco nas formações sobre


feedback deveria estar em ensinar a recebê-lo e não a realizá-lo.
De acordo com os autores, precisamos desenvolver maiores
habilidades para estar na posição de aprendizes. Dentre essas
habilidades, a de reconhecer e administrar nossas resistências.

Saber receber um feedback está relacionado a fazer as escolhas


conscientes de como utilizaremos as informações que estamos
recebendo, e como nós iremos aprender. É necessário gerenciar
nossas emoções para que, seja possível entender o que o outro
está falando e estar aberto para novos caminhos.

Algumas vezes, quando estamos recebendo um feedback,


simplesmente passamos a agir por reação. Nossas habilidades de
comunicação são perdidas, logo, não conseguimos pensar e
aproveitar o momento para aprender; ficamos na defensiva. No
entanto, ignorar esse movimento de reação e fingir que ele não
existe não é o caminho mais adequado. Entender nossas reações
pode nos ajudar a lidar com elas.

Stone e Heen (2014) apresentam três comportamentos como


gatilhos, que podem ser desencadeados quando estamos
recebendo um feedback.

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Stone e Heen (2014) destacam que nossos gatilhos são obstáculos, porque
eles não permitem que nos engajemos em uma conversa produtiva. Receber
bem o feedback é um processo de classificação e filtragem. Precisamos
aprender como a outra pessoa vê as coisas e experimentar ideias que a
princípio parecem inadequadas

Para superar esses gatilhos segue algumas sugestões de como receber um


feedback:

Seja receptivo à novas ideias: esteja aberto a opiniões


e perspectivas diferentes da sua, você poderá aprender
algo que vale a pena.

Ouça o feedback dado: tente não agir na defensiva, ou


se justificar a cada colocação, de forma a interromper o
que está sendo dito. Concentre-se em ouvir o que está
sendo dito. A Escuta ativa pode ser pratica tanto por
quem realizada como por quem recebe o feedback.

Reflita sobre o que foi dito e decida o que fazer:


analise o que foi dito e procure compreender o que
pessoa está lhe transmitindo e por qual motivo, para
que possa decidir o que fazer com as informações
recebidas.

Entenda a mensagem: faça perguntas para


esclarecimentos, a fim de certificar-se que está
entendendo o que está sendo dito para você.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Utilizando os pontos apresentados, veremos como o feedback


é uma das formas mais poderosas de comunicação. Ao
melhorar nossas habilidades com essa prática, estabelecemos
um processo de compreensão, respeito e confiança em uma
relação. Também é necessário destacar que só adquirimos uma
habilidade estudando e praticando, por isso, desejamos que
você ultrapasse o desconforto inicial de dar ou receber um
feedback e comece a vê-lo como uma maneira de
desenvolvimento.

Entender as outras pessoas e a maneira como elas reagem é


essencial para aprimorar seu feedback e isso é algo que se
conquista aos poucos e, assim, aos poucos, vamos também nos
aperfeiçoando.

Desejamos que as dicas práticas e reflexões que apresentamos


lhe ajude no momento de dar ou receber um feedback. Busque
desenvolver as sugestões aqui colocadas e leve em
consideração seus gatilhos no momento de recebê-lo. Além
disso, não se esqueça, independentemente do papel que você
estiver, pratique a CNV e tenha sempre uma escuta ativa.

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Como realizar e receber feedbacks construtivos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ENCONTRO. Roteiro: Fabio Porchat. Rio de Janeiro: Porta dos Fundos, [2014].
Son., color.

FLORES, Angelita Marçal. O feedback como recurso para a motivação e


avaliação da aprendizagem na educação a distância. 2009. Disponível em:
http://www2.abed.org.br/congresso2009/CD/trabalhos/1552009182855.pdf.
Acesso em: 27 maio 2020.

INSTITUTO CNV BRASIL. Cê sabia a relação entre CNV e a Girafa? Disponível


em: https://www.institutocnvb.com.br/post/voce-sabia-a-relacao-entre-cnv-e-
a-girafa. Acesso em: 29 abr. 2020.

INSTITUTO CNV BRASIL. Cultura de paz nas escolas com a CNV. Disponível em:
https://www.institutocnvb.com.br/paznasescolas. Acesso em: 08 maio 2020.

London, M. (1997). Feedback do trabalho: fornecendo, buscando e usando


feedback para melhoria de desempenho. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum
Associates.

REKOWSKY, Ricardo. 8 passos para a escuta ativa. Disponível em:


https://www.ricardorekowsky.com.br/pensamentos-que-impulsionam/8-passos-
para-a-escuta-ativa/. Acesso em: 08 maio 2020.

ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar


relacionamentos pessoas e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.

STONE, Douglas; HEEN, Sheila. Thanks fot the feedback. New York: Peguin
Group, 2014.

WILLIAMS, Richard L. Preciso saber se estou indo bem: uma história sobre a
importância de dar e receber feedback. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.

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AUTORES

ANDRÉA GONÇALVES

Mestre em Educação: Formação de Formadores


pela PUC-SP, pós-graduada em Gestão Escolar,
licenciada em História e Pedagogia. Foi
professora de Educação Infantil, Ensino
Fundamental I e II, Ensino Médio, EJA e assessora
técnica pedagógica de Secretaria de Educação de
SP. É professora em cursos de Pedagogia e pós-
graduação.

JOÃO LUIZ FRANCISCO

Mestre com foco em produtividade pela


Universidade de São Paulo e engenheiro naval
pela Universidade Federal de Santa Catarina, com
complementação pedagógica em Matemática e
experiência como professor da área. É alumni do
Programa de Desenvolvimento de Lideranças do
Ensina Brasil e membro da Rede de Talentos da
Educação da Fundação Lemann.

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