ROTEIRO DE AULA - 2ª PARTE

ART. 283/ART. 284. SOLIDARIEDADE PASSIVA, DIREITO DE REGRESSO E

CODEVEDOR INSOLVENTE.

Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um
dos codevedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o
houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os codevedores.

O ART. 283 DISPÕE SOBRE A SUB-ROGAÇÃO LEGAL QUE DECORRE DO

PAGAMENTO DO DÉBITO POR UM DOS DEVEDORES SOLIDÁRIOS. OU
SEJA, CASO DELES PAGUE A DÍVIDA POR INTEIRO, TERÁ DIREITO A EXIGIR
DE CADA UM DOS CODEVEDORES A SUA COTA.
POR OUTRO LADO, DETERMINA QUE A COTA-PARTE DO DEVEDOR
INSOLVENTE SERÁ DIVIDIDA ENTRE TODOS OS DEVEDORES SOLVENTES.
EX: A, B e C SÃO DEVEDORES SOLIDÁRIOS DE UM DÉBITO DE R$3.000,00
(TRÊS MIL REAIS). A QUITA INTEGRALMENTE O DÉBITO. B ESTÁ
INSOLVENTE (PASSIVO MAIOR DO QUE O ATIVO). A TERÁ QUE
SUPORTAR COM C O PREJUÍZO CAUSADO PELA INSOLVÊNCIA DE B,
PODENDO COBRAR DESTE – A PRINCÍPIO DEVEDOR DE R$1.000,00 (MIL
REAIS) - R$1.500,00 (MIL E QUINHENTOS REAIS).

Art. 284. No caso de rateio entre os codevedores, contribuirão também os

exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao
insolvente.

O ART. 284 APRESENTA A SOLUÇÃO PARA O CASO EM QUE UM DOS

DEVEDORES SOLIDÁRIOS TENHA FICADO INSOLVENTE, E O CREDOR
TENHA EXONERADO DA SOLIDARIEDADE UM OU ALGUNS DOS
CODEVEDORES. NESTE CASO, É DIREITO DE DOS CODEVEDORES DIVIDIR
ENTRE TODOS, INCLUSIVE O EXONERADO DA SOLIDARIEDADE, A COTA-
PARTE DO INSOLVENTE. ISSO OCORRE PORQUE O CREDOR, A DESPEITO
DE PODER EXONERAR DA SOLIDARIEDADE, NÃO PODE COM ESSE ATO
AGRAVAR A SITUAÇÃO DOS DEMAIS DEVEDORES SOLIDÁRIOS.
EX: A, B, C e D SÃO DEVEDORES SOLIDÁRIOS DE UM DÉBITO DE
R$6.000,00 (SEIS MIL REAIS). A QUITA INTEGRALMENTE O DÉBITO
OBJETO DE UMA RELAÇÃO OBRIGACIONAL ONDE B FOI EXONERADO DA
SOLIDARIEDADE. C ENCONTRA-SE INSOLVENTE. A TERÁ QUE SUPORTAR
COM B (EXONERADO DA SOLIDARIEDADE) E D O PREJUÍZO CAUSADO
PELA INSOLVÊNCIA DE C, PODENDO COBRAR DE CADA UM DAQUELES –
A PRINCÍPIO DEVEDORES DE R$1.500,00 (MIL E QUINHENTOS REAIS) -
R$2.000,00 (DOIS MIL REAIS).

OBS: ESSE TRATAMENTO TAMBÉM SERIA APLICADO NOS CASOS EM QUE

UM DOS CODEVEDORES OBTIVESSE A REMISSÃO DA SUA COTA NO
DÉBITO?
O ART. 385 DIZ QUE A REMISSÃO DA DÍVIDA, ACEITA PELO DEVEDOR,
EXTINGUE A OBRIGAÇÃO, MAS SEM PREJUÍZO DE TERCEIRO.
POR CONTA DESTE DISPOSITIVO, HÁ CORRENTE DOUTRINÁRIA
DEFENDENDO NESSES CASOS QUE O CODEVEDOR QUE OBTEVE A
REMISSÃO DA SUA COTA-PARTE NO DÉBITO DEVERIA RESPONDER
JUNTAMENTE COM OS DEMAIS PELA COTA-PARTE DO INSOLVENTE. O
CREDOR, A DESPEITO DE PODER REMITIR UM DOS DEVEDORES
SOLIDÁRIOS, NÃO PODE COM ESSE ATO AGRAVAR A SITUAÇÃO DOS
DEMAIS (CONSIDERADOS COMO TERCEIROS PREJUDICADOS).
OUTRA CORRENTE DEFENDE QUE A EXPRESSÃO “SEM PREJUÍZOS DE
TERCEIROS” NÃO ABRANGERIA OS DEMAIS DEVEDORES, POIS SERIAM
PARTE NA RELAÇÃO OBRIGACIONAL E NÃO “TERCEIROS”, ESTRANHOS
AO VÍNCULO.

Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores,

responderá este por toda ela para com aquele que pagar.

O ART. 285 TRATA DE HIPÓTESE DE RESPONSABILIDADE (HAFTUNG) SEM

DÉBITO (SHULD). É POSSÍVEL QUE NUMA RELAÇÃO OBRIGACIONAL A
RESPONSABILIDADE (HAFTUNG) DO DEVEDOR SEJA TAMBÉM ATRIBUÍDA
A OUTRA PESSOA, O GARANTIDOR. ESTE, QUE NÃO É O DEVEDOR DA
PRESTAÇÃO – ASSUMINDO TÃO-SOMENTE A RESPONSABILIDADE DE
PAGAR EM CASO DE INADIMPLEMENTO -, NÃO FICA OBRIGADO A
REEMBOLSAR O DEVEDOR POR QUALQUER PARTE NO DÉBITO QUE
TENHA SIDO INTEGRALMENTE PAGO AO CREDOR.

DO ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

1 -TEORIA DO PAGAMENTO

A - CONCEITO: O PAGAMENTO É O CUMPRIMENTO DA PRESTAÇÃO

DEVIDA – NÃO SÓ RELATIVO A OBRIGAÇÃO DE DAR DINHEIRO -,
PRINCIPAL MODALIDADE DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES.

B - NATUREZA JURÍDICA DO PAGAMENTO:

PARA PARTE DA DOUTRINA, O PAGAMENTO SERIA SIMULTÂNEAMENTE
UM DEVER E UM DIREITO DO DEVEDOR – VIDE ART. 335, INCISO I, DO
CÓDIGO CIVIL.
PARA OUTROS, SERIA UM FATO JURÍDICO. PORÉM, ENTRE OS QUE
DEFENDEM ESTE ENTENDIMENTO, HAVERIA DIVERGÊNCIA QUANTO À
ESPÉCIE DE FATO JURÍDICO QUE SERIA O PAGAMENTO:
ALGUNS ENTENDEM O PAGAMENTO COMO UM ATO JURÍDICO EM
SENTIDO ESTRITO: COMPORTAMENTO HUMANO VOLUNTÁRIO NÃO
NEGOCIAL, CUJO EFEITO ESTÁ PREVISTO NA LEI.
OUTROS, COMO UM NEGÓCIO JURÍDICO. (CAIO MÁRIO).
PABLO STOLZE DEFENDE QUE “NÃO SE PODE ADOTAR POSIÇÃO
DEFINITIVA A RESPEITO DO ASSUNTO. SOMENTE A ANÁLISE DO
CASO CONCRETO PODERÁ DIZER SE O PAGAMENTO TEM OU NÃO
NATUREZA NEGOCIAL, E BEM ASSIM, CASO SEJA
CONSIDERADO NEGÓCIO SE É UNILATERAL OU BILATERAL”.
OBS: A GRANDE UTILIDADE DE SE RECONHECER A NATUREZA NEGOCIAL
DO PAGAMENTO É A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DOS VÍCIOS DO
NEGÓCIO JURÍDICO.

C - CONDIÇÕES DO PAGAMENTO:

1) CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PAGAMENTO: SE REFEREM AOS SUJEITOS

DO PAGAMENTO – ART. 304 a ART. 312 DO CÓDIGO CIVIL;

2) CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO: SE REFEREM AO OBJETO E

PROVA DO PAGAMENTO, AO LUGAR DO PAGAMENTO E AO TEMPO DO
PAGAMENTO – ART. 313 a ART. 333 DO CÓDIGO CIVIL.

1.1 CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PAGAMENTO:

1) QUEM PODE PAGAR À LUZ DO ART. 304 DO CÓDIGO CIVIL

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o

credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e
à conta do devedor, salvo oposição deste.

EM PRIMEIRO LUGAR, QUEM DEVE EFETUAR O PAGAMENTO É O

DEVEDOR. NO ENTANTO, SEGUNDO O REFERIDO DISPOSITIVO LEGAL,
OUTRAS PESSOAS TAMBÉM PODEM EFETUAR O PAGAMENTO, ALÉM DO
DEVEDOR.
PODEM EFETUAR O PAGAMENTO:

1 – O TERCEIRO INTERESSADO: A PESSOA QUE INTEGRA A RELAÇÃO

OBRIGACIONAL E QUE PODE SOFRE OS EFEITOS JURÍDICOS DO
INADIMPLEMENTO. EX: FIADOR, AVALISTA.
OBS: UM DOS EFEITOS DO PAGAMENTO REALIZADO PELO TERCEIRO
INTERESSADO É O DE SUB-ROGAR-SE NOS DIREITOS DO CREDOR EM
RELAÇÃO AO DEVEDOR, CONFORME O DISPOSTO NO ARTIGO 346,
INCISO III, DO CÓDIGO CIVIL.

2 – TERCEIRO NÃO INTERESSADO: É AQUELE QUE NÃO É DEVEDOR, NEM

PODE SER CONSTRANGIDO PELO CREDOR A EFETUAR O PAGAMENTO,
MAS, APESAR DISSO, DESEJA PAGAR. EX: PAI QUE PAGA A DÍVIDA DO
FILHO. AMIGO QUE PAGA A DÍVIDA DE OUTRO.
NO ENTANTO, O CÓDIGO ESTABELECE EFEITOS DIVERSOS AO
PAGAMENTO FEITO PELO TERCEIRO INTERESSADO:
1 – SE ELE FAZ O PAGAMENTO EM NOME E À CONTA DO DEVEDOR, O
RECIBO DE QUITAÇÃO SAIRÁ EM NOME DO DEVEDOR, CONFIGURANDO
UM ATO DE LIBERALIDADE, QUE INVIABILIZARÁ A SUB-ROGAÇÃO NOS
DIREITOS DO CREDOR, BEM COMO O REEMBOLSO DO QUE PAGOU,
CONFORME SE DEPREENDE DO DISPOSTO NO ART. 305 DO CÓDIGO
CIVIL, A CONTRARIO SENSO.

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem
direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no
vencimento.

DE FATO, DE ACORDO COM O PREVISTO NO ART. 305, O TERCEIRO NÃO

INTERESSADO QUE FAZ O PAGAMENTO, OBTENDO O RECIBO DE
QUITAÇÃO EM SEU PRÓPRIO NOME, PODE TÃO-SOMENTE PLEITEAR DO
DEVEDOR O REEMBOLSO DO QUE PAGOU, NÃO SE SUB-ROGANDO NOS
DIREITOS DO CREDOR EM FACE DAQUELE.

OBS: O TERCEIRO INTERESSADO, EM CASO DE RECUSA DO CREDOR, SÓ

PODERÁ SE VALER DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO – NA HIPÓTESE
DO ART. 335, INCISO I, DO CÓDIGO CIVIL -, CASO PRETENDA EFETUAR O
PAGAMENTO EM NOME DO DEVEDOR E POR CONTA DO DEVEDOR.

POR FIM, SE EFETUAR A QUITAÇÃO ANTES DO VENCIMENTO, SÓ

PODERÁ PLEITEAR O REEMBOLSO A PARTIR DO EFETIVO VENCIMENTO.
SE ASSIM NÃO FOSSE, O DEVEDOR FICARIA PREJUDICADO, TENDO QUE
PAGAR ANTECIPADAMENTE ALGO QUE NÃO FOI CONVENCIONADO.

Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do

devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para
ilidir a ação.

PARA GRANDE PARTE DA DOUTRINA, O ARTIGO 306 SE APLICARIA TÃO-

SOMENTE AO TERCEIRO NÃO INTERESSADO QUE FAZ O PAGAMENTO EM
SEU PRÓPRIO NOME, UMA VEZ QUE O DISPOSITIVO FALA EM
REEMBOLSO, SILENCIANDO ACERCA DE SUB-ROGAÇÃO – QUE OCORRE
QUANDO O PAGAMENTO É FEITO POR TERCEIRO INTERESSADO.

PARA OUTRA PARTE, NO ENTANTO, A HIPÓTESE SE APLICARIA TAMBÉM

AO TERCEIRO INTERESSADO QUE EFETUASSE O PAGAMENTO, POIS A
NORMA FAZ MENÇÃO A TERCEIRO, NÃO DISTINGUINDO ENTRE
INTERESSADO E NÃO INTERESSADO.