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CRIMES CONTR O PATRIMÔNIO E A FÉ PÚBLICA suas formas (coautoria e participação), pode facilmente se a) Emprego de artifício, ardil ou qualquer outro

o, ardil ou qualquer outro meio VANTAGEM ILÍCITA: IRRELEVÂNCIA DA NATUREZA


Prof. Msc. Willibald Quintanilha Bibas Netto configurar. fraudulento; ECONÔMICA
OBS.: “...vantagem indevida pode ser para si (o sujeito b) Induzimento ou manutenção da vítima em erro; Heleno Cláudio Fragoso, Lições de Direito Penal, v. 1, p.
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ativo) ou para outrem”: pode ser coautor ou partícipe do c) Obtenção de vantagem patrimonial ilícita em 452:
O Título II da Parte Especial do Código Penal cuida dos crime, sendo alcançada pelo concurso de pessoas (art. 29 prejuízo alheio (do enganado ou de terceiros).  Qualquer Vantagem — na extorsão mediante
crimes contra o Patrimônio, que é dividido em oito do CP) OU terceiro estrado e isento de crime. EMPREGO DE ARTIFÍCIO, ARDIL OU QUALQUER OUTRO sequestro (art. 159) - “a vantagem há de ser econômica”
capítulos. Sete deles dizem respeito a delitos. Em espécie Sujeito passivo: Qualquer pessoa, física ou jurídica; MEIO FRAUDULENTO;
e o último cuida das disposições gerais a eles aplicáveis, a podendo haver dois “sujeitos passivos”, quando, por  Vantagem Ilícita — no estelionato (art. 171) - “a
 Artifício: é toda simulação ou dissimulação idônea
saber: exemplo, a pessoa enganada for diversa da que sofre o vantagem há de ser econômica”
para induzir uma pessoa ao erro, levando-a à percepção
 Capítulo I – Do furto – arts. 155 e 156; prejuízo (o empregado sofre o golpe (fraude) do agente, Na primeira, dizia, “embora haja aqui uma certa
de uma falsa aparência da realidade
imprecisão da lei, é evidente que o benefício deve ser de
 Capítulo II – Do roubo e da extorsão – arts. 157 a mas quem suporta o prejuízo da ação é o empregador). A  Ardil: é a trama, o estratagema, a astúcia;
vítima efetiva quem sofre o dano material decorrente da ordem econômica ou patrimonial, pois de outra forma
160;  Qualquer outro meio fraudulento: é uma fórmula este seria apenas um crime contra a liberdade individual”.
 Capítulo III – Da usurpação – arts. 161 e 162; ação (prejuízo). genérica para admitir qualquer espécie de fraude que Na segunda, relativamente ao estelionato, mantendo
 Capítulo IV – Do dano – arts. 163 a 167; OBS.: sujeito passivo deve, necessariamente, ser possa enganar a vítima.
pessoa(s) determinada(s). Tratando-se de pessoas sua coerência tradicional, pontificava: “por vantagem
 Capítulo V – Da apropriação indébita – arts. 168 a Não se deve esquecer, contudo, que a interpretação
indeterminadas, pode configurar-se crime contra a ilícita deve entender-se qualquer utilidade ou proveito de
170; em matéria penal-repressiva deve ser sempre restritiva, e
economia popular ou contra as relações de consumo. ordem patrimonial, que o agente venha a ter em
 Capítulo VI – Do estelionato e outras fraudes – somente nesse sentido negativo é que se pode admitir o detrimento do sujeito passivo sem que ocorra justificação
arts. 171 a 179; CRIANÇA E ENFERMO MENTAL X EXISTÊNCIA DE FRAUDE, arbítrio judicial, sem ser violada a taxatividade do
CRIANDO OU MANTENDO ALGUÉM EM ERRO: legal”
 Capítulo VII – Da receptação – arts. 180 e 180-A; princípio da reserva legal. A seguinte expressão de Nélson Magalhães Noronha, Direito penal, cit., v. 2, p. 287.
 Capítulo VIII – Disposições gerais – arts. 181 a 183. IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO “OBJETO” DO ERRO. Hungria ilustra muito bem esse raciocínio: “Não pode ser
Para a vítima poder ser enganada, é indispensável que  Qualquer Vantagem — na extorsão mediante
temido o arbitrium judicis quando destinado a evitar, pro
tenha capacidade de discernimento, se não tiver, dois sequestro (art. 159)
ESTELIONATO libertate, a excessiva amplitude prática de uma norma
caminhos: “O Código fala em qualquer vantagem, não podendo o
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, penal inevitavelmente genérica”. adjetivo referir-se à natureza desta, pois ainda aqui,
em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em  Se a vítima não tiver capacidade de INDUZIMENTO OU MANUTENÇÃO DA VÍTIMA EM ERRO;
autodeterminação, como a criança ou o enfermo mental, evidentemente, ela há de ser, como no art. 158,
erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio  Induzir: significa suscitar o surgimento de uma econômica, sob pena de não haver razão para o delito ser
fraudulento: o crime será o do art. 173 do CP. ideia, tomar a iniciativa intelectual, fazer surgir no
 Não tiver capacidade natural de ser iludida (ex. classificado no presente título”
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de pensamento de alguém uma ideia até então inexistente.
ébrio em estado de coma), o crime será o de furto.  Vantagem Ilícita — no estelionato (art. 171)
quinhentos mil réis a dez contos de réis. Por meio da indução o indutor anula a vontade de alguém
FRAUDE CIVIL X FRAUDE PENAL: DOUTRINA. “Essa vantagem pode não ser econômica, e isso é
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o  Manter: que quer dizer que a vítima já se encontra claramente indicado por nossa lei, pois, enquanto que, na
prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto Nélson Hungria estabeleceu a seguinte distinção entre em erro, limitando-se o agente, com sua ação fraudulenta,
ilícito penal e ilícito civil: extorsão, ela fala em indevida vantagem econômica, aqui
no art. 155, § 2º. a não alterar os fatos. Contudo, se a conduta do agente menciona apenas a vantagem ilícita.”
BEM JURÍDICO TUTELADO: “Ilícito penal é a violação da ordem jurídica, contra a qual, for meramente omissiva ou não revestir-se de fraude, não
pela sua intensidade ou gravidade, a única sanção Cezar R. Bitencourt, Tratado de direito penal: parte
O bem jurídico protegido é a inviolabilidade do se poderá falar em crime de estelionato. Importante especial: crimes contra o patrimônio até crimes contra o
patrimônio, particularmente em relação aos atentados adequada é a pena, e ilícito civil é a violação da ordem destacar que a conduta é comissiva, pois para “manter” o
jurídica, para cuja debelação bastam as sanções sentimento religioso e contra o respeito aos mortos - arts.
que podem ser praticados mediante fraude. Tutela-se agente deve agir positivamente. 155 a 212. v.3. Editora Saraiva, 2022. (LER NO LIVRO).
tanto o interesse social, representado pela confiança atenuadas da indenização, da execução forçada ou in OBTENÇÃO DE VANTAGEM PATRIMONIAL ILÍCITA EM
natura, da restituição ao status quo ante, da breve prisão A vantagem tem de ser injusta, ilegal, indevida. Se for
recíproca que deve presidir os relacionamentos PREJUÍZO ALHEIO (DO ENGANADO OU DE TERCEIRO). justa estará afastada a figura do estelionato, podendo
patrimoniais individuais e comerciais, quanto o interesse coercitiva, da anulação do ato, etc.” (Nélson Hungria, A conduta nuclear, por excelência, está representada
Comentários ao Código Penal, v. 7, p. 178.) configurar, em tese, exercício arbitrário das próprias
público de reprimir a fraude causadora de dano alheio. pelo verbo “obter”, isto é, conseguir proveito ou razões (art. 345 do CP).
“...não é considerado como um fato limitado à Comerciar é a arte de negociar, de tirar vantagem vantagem ilícita em razão de engano provocado no
econômica do negócio ou qualquer transação que se Concluindo, a vantagem ilícita não precisa ter natureza
agressão do patrimônio de Tício ou de Caio, mas antes ofendido. econômica, mas deve, necessariamente, ser injusta, ao
como manifestação de delinquência que violou o preceito realize. Assim, é normal, nas transações comerciais ou  Vantagem ilícita: é todo e qualquer proveito ou
civis, certa dose de malícia entre as partes, que, com passo que o prejuízo alheio, em razão do bem jurídico
legislativo, o qual veda o servir-se da fraude para benefício contrário à ordem jurídica, isto é, não permitido violado, deve ser economicamente apreciável.
conseguir proveito injusto com dano alheio, quem quer habilidade, procuram ocultar eventuais deficiências de seu por lei. A obtenção da vantagem ilícita, ao contrário do
produto para, assim, realizar um negócio mais lucrativo ou TIPO SUBJETIVO: ADEQUAÇÃO TÍPICA
que seja a pessoa prejudicada em concreto. O que ocorre nos crimes de furto e de apropriação indébita, É o Dolo. Representado pela vontade livre e consciente
estelionatário é sempre um criminoso, mesmo que tenha vantajoso. é elemento constitutivo do estelionato.
TIPO OBJETIVO: ADEQUAÇÃO TÍPICA de ludibriar alguém, por qualquer meio fraudulento, para
fraudado em relações que, por si mesmas, não merecem  Prejuízo alheio: significa perda, dano, diminuição obter vantagem indevida, em prejuízo de outrem.
proteção jurídica, porque sua ação é, em qualquer caso, No estelionato, há dupla relação causal: de lucro ou de patrimônio, pertencente a outrem.
1 - a vítima é enganada mediante fraude, sendo esta a Deve abranger não apenas a ação como também o meio
moral e juridicamente ilícita”. A vantagem ilícita deve corresponder, fraudulento, a vantagem indevida e o prejuízo alheio.
(Vicenzo Manzini, Trattado di Diritto Penale, v. 9, p. 527.) causa e o engano o efeito; simultaneamente, um prejuízo alheio; a ausência de
2 - nova relação causal entre o erro, como causa, e a Hungria, a seu tempo, já chamava a atenção para esse
SUJEITOS ATIVO E PASSIVO: qualquer dos dois descaracteriza o crime de estelionato. aspecto:
Sujeito ativo do crime de estelionato pode ser obtenção de vantagem ilícita e o respectivo prejuízo, Se o sujeito ativo obtiver a vantagem ilícita, mas não
como efeito. “Não existe o crime sem a vontade conscientemente
qualquer pessoa, sem qualquer condição especial (crime causar prejuízo a terceiro faz-se necessário que se dirigida à astucia mala que provoca ou mantém o erro
comum). O concurso eventual de pessoas, em qualquer de A configuração do crime de estelionato exige a presença examine a possibilidade teórica da ocorrência da
dos seguintes requisitos fundamentais: alheio e à correlativa locupletação ilícita em detrimento
tentativa. de outrem”.
O erro sobre a justiça ou legalidade da vantagem d) Há concurso material: para esta corrente é Fraude no pagamento por meio de cheque Não é necessário que a reparação ou a restituição sejam
constitui erro de tipo, pois incide sobre uma elementar indiferente que a falsidade seja de documento público ou VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em espontâneas: basta que sejam voluntárias, podendo, pois,
típica. particular (TJSP, RJTJSP, 85:366). poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. (cheque o agente ser convencido a reparar o dano ou restituir a
Faz-se necessário, ainda, o elemento subjetivo especial ESTELIONATO PRIVILEGIADO pré-datado) (lembrar que não tem previsão culposa). coisa. No entanto, não ocorrerá o benefício se o agente
do tipo, constituído pelo especial fim de obter vantagem Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, FRAUDE ELETRÔNICA for obrigado, de qualquer forma, a indenizar ou restituir o
patrimonial ilícita, para si ou para outrem. A simples em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em (Estelionato Qualificado) objeto material, mesmo que por sentença judicial.
finalidade de produzir dano patrimonial ou prejuízo a erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio Art. 171. (...) c) A reparação ou restituição devem ocorrer antes
alguém, sem visar a obtenção de proveito injusto, não fraudulento: Fraude eletrônica do recebimento da denúncia ou da queixa — Ocorrendo a
caracteriza o estelionato. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de § 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, reparação ou a restituição após o recebimento da
Não há previsão de modalidade culposa de estelionato, quinhentos mil réis a dez contos de réis. e multa, se a fraude é cometida com a utilização de denúncia ou da queixa, funcionará apenas como
a despeito da possibilidade de alguém ser induzido ou § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o informações fornecidas pela vítima ou por terceiro atenuante genérica (art. 65, III, b, in fine, do CP).
mantido em erro, por imprudência ou negligência. prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto induzido a erro por meio de redes sociais, contatos AÇÃO PENAL
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: (TEXTO DE DOUTRINA) no art. 155, § 2º.X telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou Art. 171. (...)
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: OBS.: no furto se exige pequeno valor da “res furtiva”, por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído § 5º Somente se procede mediante representação, salvo
Consuma-se o estelionato, em sua forma fundamental, necessitando, consequentemente, ser avaliado o efetivo pela Lei nº 14.155, de 2021) se a vítima for: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
no momento e no lugar em que o agente obtém o prejuízo sofrido pela vítima. O “pequeno prejuízo” deve § 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, I - a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído
proveito a que corresponde o prejuízo alheio. ser verificado, via de regra, por ocasião da realização do considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta- pela Lei nº 13.964, de 2019)
Não se pode falar em consumação sem a presença do crime, e, na hipótese de tentativa, é aquele que decorreria se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
binômio proveito ilícito-prejuízo alheio. da pretendida consumação. praticado mediante a utilização de servidor mantido fora 2019)
Tratando-se de crime material, que admite seu OBS.: Para o reconhecimento de tal privilégio tem do território nacional. (Incluído pela Lei nº 14.155, de III - pessoa com deficiência mental; ou (Incluído pela Lei nº
fracionamento, é perfeitamente admissível a tentativa, predominado o entendimento de que o limite é um salário 2021). 13.964, de 2019)
uma vez que o iter criminis pode ser interrompido, por mínimo. ESTELIONATO MAJORADO IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
causas estranhas à vontade do agente. FIGURAS EQUIPARADAS (Causas de Aumento de Pena) (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).
No estelionato, crime que requer a cooperação da § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Art. 171. (...)
vítima, o início de sua execução se dá com o engano da Disposição de coisa alheia como própria § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é DANO
vítima. Quando o agente não consegue enganar a vítima, I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em cometido em detrimento de entidade de direito público Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
o simples emprego de artifício ou ardil caracteriza apenas garantia coisa alheia como própria; (Ex.: o agente vende ou de instituto de economia popular, assistência social ou Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
a prática de atos preparatórios, não se podendo cogitar de carro como se fosse o dono) beneficência. DANO QUALIFICADO
tentativa de estelionato. Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria OBS.: (O Banco do Brasil é sociedade por ações de Dano qualificado
ESTELIONATO (art. 171) E FALSIDADES II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia economia mista, que não se confunde com “entidade de Parágrafo único - Se o crime é cometido:
Falsificação de documento público coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou direito público” Em sede de direito penal material, é I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante inadmissível interpretação extensiva ou analógica para II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se
público, ou alterar documento público verdadeiro: pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer agravar a situação do acusado.) o fato não constitui crime mais grave
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. dessas circunstâncias; (Ex.: o agente vende uma casa Estelionato contra idoso ou vulnerável (Redação dada III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito
Falsificação de documento particular penhorada) pela Lei nº 14.155, de 2021) Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública,
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento Defraudação de penhor § 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o empresa pública, sociedade de economia mista ou
particular ou alterar documento particular verdadeiro: III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo crime é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada empresa concessionária de serviços públicos; (Redação
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando a relevância do resultado gravoso. (Redação dada pela Lei dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
a) O estelionato absorve a falsidade: Quando esta tem a posse do objeto empenhado; nº 14.155, de 2021) – (ler crítica doutrinária: Cezar R. IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável
for o meio fraudulento utilizado para a prática do crime- (Ex.: o agente dono de uma loja de penhor aceita como Bittencourt). para a vítima:
fim, que é o estelionato. Súmula 17 do STJ: “Quando o garantia um bem, mas o revende para ter mais lucro). ESTELIONATO (art. 171 do CP) E ARREPENDIMENTO Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além
falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade Fraude na entrega de coisa POSTERIOR (art. 16 do CP) da pena correspondente à violência.
lesiva, é por este absorvido”. IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de O arrependimento posterior, tecnicamente BEM JURÍDICO TUTELADO:
b) Há concurso formal entre estelionato e o crime coisa que deve entregar a alguém; (Ex.: compra diamante considerado, exige a presença dos seguintes requisitos: O bem jurídico protegido é o patrimônio, público ou
de falso: Para essa corrente é indiferente a espécie ou pela internet e chega vidro) (Ex.: Pagou pelo Iphone X, a) Crime praticado sem violência ou grave ameaça à privado, tanto sob o aspecto da posse quanto da
natureza da falsidade: material, ideológica, documento mas chegou Iphone 6 e 4 com carta poli.) (Ex.: vende 5 pessoa — A violência contra a coisa, como ocorre no propriedade. Não é necessário o animus lucrandi.
público ou particular, ou simples uso de documento falso computadores, mas chega apenas 2) (não confundir com crime de furto qualificado ou de dano, não exclui a O objetivo da norma é preservar a integridade e a
(STF, RTJ, 117:70; TRF da 4ª Região, DJU, 5 set. 1990, p. art. 275 do CP) minorante. integralidade dos bens ou interesses para o proprietário
20104-5). Fraude para recebimento de indenização ou valor de b) Reparação do dano causado pelo crime ou ou possuidor, abrangendo não apenas o valor substancial
c) O crime de falso prevalece sobre o estelionato: seguro restituição da coisa — A reparação do dano deve ser como também a utilidade que possam ter para estes (que
mas somente quando se tratar de falsidade de documento V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, pessoal, completa e voluntária. A restituição também não deixa de ser valor).
público, cuja pena é superior à do estelionato (TRF da 2ª ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as deve ser total. Se a restituição não for pessoal, completa e SUJEITOS ATIVO E PASSIVO:
Região, DJU, 20 jul. 1993, p. 28577). conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver voluntária, constituirá somente circunstância atenuante Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, sem qualquer
indenização ou valor de seguro; (não precisa do efetivo genérica, a ser considerada no momento da aplicação da condição especial.
prejuízo). pena.
Entretanto: b) Destruição de tapumes (art. 161) DANO PRATICADO COM VIOLÊNCIA: CONTRA PATRIMÔNIO DA UNIÃO, ESTADO, DISTRITO
- O Proprietário? (“coisa alheia”) c) Sabotagem (art. 202, in fine) Concurso material de crimes X cúmulo material de penas FEDERAL, MUNICÍPIO OU DE AUTARQUIA, FUNDAÇÃO
- e o Possuidor? d) Violação de sepultura com violência à coisa (art. Quando da violência empregada para produzir o dano PÚBLICA, EMPRESA PÚBLICA, SOCIEDADE DE ECONOMIA
- Titular da nua propriedade X Usufrutuário? 210) resultar: MISTA OU EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇOS
- Condômino X outros proprietários da coisa comum? e) Destruição de prova documental (art. 305).  Lesões Corporais + Dano Qualificado pela violência PÚBLICOS
(Mas só se não se tratar de coisa fungível e não ultrapassa Exemplos de dano como elementar do tipo (crimes = Aplicação cumulativa das penas correspondentes  As coisas locadas ou usadas pelos órgãos públicos,
a quota a que tem direito) contra a incolumidade pública) Entretanto isso não implica dizer que sempre haverá o que não são de sua propriedade, não qualificam o dano,
Sujeito passivo, normalmente, é o proprietário, mas a) Incêndio (art. 250) concurso material de crimes (pluralidade de condutas) exatamente porque não integram o patrimônio público,
não está excluído o possuidor da coisa (aquisições com b) Explosão (art. 251) O Dano qualificado, por meio de regra específica (§Ú) nos limites estritos da tipicidade penal.
alienações fiduciárias, reservas de domínios, longas posses c) Inundação (art. 254) impõe um cúmulo material de penas, ainda que haja  O fundamento político criminal para qualificar o
mansas e pacíficas etc.). d) Desabamento ou Desmoronamento (art. 256). concurso formal de crimes (uma única conduta). crime de dano quando praticado contra patrimônio
TIPO OBJETIVO: Adequação Típica OBS.: Em todos os casos supracitados o dano não é um Exemplos: (como devem ser aplicados os crimes e penas público decorre da própria natureza desses bens, que a
- Dano Material X Dano Moral fim em si mesmo, ele é sempre absorvido, nunca nos seguintes casos?) todos pertencem e de ninguém recebem cuidado e
Destruir: A coisa deixa de existir em sua absorvente. a) O agente, após praticado o dano, sendo atenção especial, sendo, consequentemente, mais
individualidade, ainda que subsista a matéria que a DANO QUALIFICADO surpreendido pela vítima, agride-a, produzindo lesões vulneráveis à ação predatória de vândalos e outros
compõe. (Ex.: matar um animal, estilhaçar uma vidraça, Dano qualificado corporais. infratores de qualquer natureza.
quebrar um telefone celular). Parágrafo único - Se o crime é cometido: b) O agente, para causar o dano, primeiro agride à POR MOTIVO EGOÍSTICO OU COM PREJUÍZO
Inutilizar: A coisa perde somente a adequação ao fim a I - com violência à pessoa ou grave ameaça; vítima, produzindo lesões corporais. CONSIDERÁVEL PARA A VÍTIMA
que se destinava, desaparecendo sua utilidade, mas não II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se c) O agente, em uma mesma conduta causa o dano e O legislador brasileiro elegeu um motivo e uma
sua individualidade (Ex.: telefone celular que não faz o fato não constitui crime mais grave agride vítima, produzindo o lesões corporais. consequência, que considerou agravarem sobremodo a
ligação ou não acessa a internet). III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito d) O agente, para causar o dano, primeiro agride o censurabilidade dessa infração penal, um subjetivo, outra
Deteriorar: Enfraquece sua essência, diminuindo seu Federal, de vigia do bem, produzindo lesões corporais. objetiva: motivo egoístico ou prejuízo considerável para a
valor ou utilidade (Ex.: telefone celular com a tela Município ou de autarquia, fundação pública, empresa Exemplos (respostas): vítima.
trincada). pública, sociedade de economia mista ou empresa a) Dano Simples (art. 163, caput) + Lesão Corporal Motivo egoístico: Não é qualquer impulso antissocial
Pensamento Crítico: Mas e a conduta de “fazer concessionária de serviços públicos; (Redação dada pela (art. 129) = em concurso material de crimes e cumulo característico de todo crime de dano. Egoístico é somente
desaparecer” (quando não houver perecimento da coisa)? Lei nº 13.531, de 2017) material de penas. o motivo que se prende a futuro interesse, econômico ou
(Ex.:?). IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável b) Dano Qualificado (art. 163, §Ú, inciso I) + Lesão moral. Assim, como exemplificava Hungria, a danificação
É o Dolo. Segundo Nelson Hungria, tal elemento para a vítima: Corporal (art. 129) = em concurso material de crimes e do trabalho ou equipamento de um concorrente para
subjetivo deve ser representado pela vontade livre e Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além cumulo material de penas. vencer a competição ou para valorizar seu similar.
consciente de causar prejuízo a terceiro. da pena correspondente à violência. c) Dano Qualificado (art. 163, §Ú, inciso I) + Lesão Assim, nessa modalidade é possível que aparecer,
Na concepção de Cezar Roberto Bittencourt, a São casos em que o modus operandi do crime de Corporal (art. 129) = em concurso formal de crimes, mas excepcionalmente, o animus lucrandi.
produção do dano é criminalizada porque gera um dano apresenta particularidades de maior gravidade na haverá cúmulo material penas (§Ú). Devemos tomar cuidado, pois o motivo egoístico não
prejuízo desautorizado a terceiro. violação do patrimônio alheio, tornando a conduta mais d) Dano Qualificado (art. 163, §Ú, inciso I) + Lesão se vincula à satisfação de qualquer sentimento menos
De qualquer forma, dano sempre deve ser um fim em censurável. Corporal (art. 129) = em concurso formal de crimes, mas nobre, tal como ódio, despeito, inveja ou desprezo, sob
si mesmo. Entretanto, é possível que haja algum proveito  Conduta mais censurável: Desvalor da ação X haverá cúmulo material penas (§Ú). pena de confundir-se com o dano simples, que,
econômico ao sujeito ativo, decorrente de outro Desvalor do resultado. COM EMPREGO DE SUBSTÂNCIA INFLAMÁVEL OU normalmente, é motivado por algum sentimento dessa
acontecimento, mas tal acontecimento foi produzido pelo Agravantes......Majorantes.....Qualificadoras.....mais grave. EXPLOSIVA, SE O FATO NÃO CONSITUI CRIME MAIS ordem.
dano. COM VIOLÊNCIA À PESSOA OU GRAVE AMEAÇA GRAVE Prejuízo considerável para a vítima: Deve ser aferido
Exemplos de Nelson Hungria:  Aumento consideravelmente o desvalor da ação, A utilização de substância inflamável ou explosiva deve em relação ao patrimônio do ofendido, que não deixa de
a) Ferreiro que destrói o alambique de um fabricante justificando sua maior punibilidade. ser meio para a prática / execução do crime de dano. ser um critério extremamente relativo, na medida em que
de açúcar, na esperança de obter a encomenda de outro.  Ofende outros bens jurídicos (incolumidade, Pode ser utilizada apenas como forma de grave ameaça? um dano de grande monta, genericamente considerado,
b) Apostador que envenena o cavalo favorito para liberdade individual etc.). A subsidiariedade da qualificadora do crime de dano em pode não representar “prejuízo considerável para a
aumentar a probabilidade de êxito do outro cavalo em  Violência à pessoa... (vítima do dano: proprietária relação aos crimes contra a incolumidade pública (arts. vítima” possuidora de grande fortuna; por outro lado,
que apostou. ou possuidora do bem danificado ou pessoa que tenha 250 a 259) pequeno dano, nas mesmas circunstâncias, pode destruir
c) Indivíduo que corta arvora secular do vizinho para alguma relação de meio e fim entre ela e o dano)  Incêndio: Art. 250 - Causar incêndio, expondo a economicamente alguém de pouquíssimas posses.
lhe proporcionar melhor vista.  A violência e a grave ameaça tanto podem ser perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de Segundo Fragoso e Hungria, somente se configurará a
Bem móvel: Analisar o especial fim de agir. utilizadas durante a execução do crime como para outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. qualificadora do prejuízo considerável se houver dolo em
O especial fim de agir servir para desnaturar o crime de assegurar sua consumação. Logo, se empregada após a  Explosão: Art. 251 - Expor a perigo a vida, a relação a esse prejuízo grave, isto é, se o agente o quis
dano, em caso de bem móvel, uma vez que o dano pode consumação do dano, não há qualificadora (mas.....) integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante (tendo dele consciência) ou, pelo menos, assumiu o risco
ser meio de execução ou elementar de outro crime,  A violência e a grave ameaça devem visar a prática explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de de produzi-lo.
momento em que o dano deixa de ser um fim em si do dano, ou seja, devem ser o meio utilizado para a dinamite ou de substância de efeitos análogos: Pena - Consumação e Tentativa:
mesmo. produção do prejuízo. reclusão, de três a seis anos, e multa. Consuma-se o crime com o efetivo dano causado, isto
Exemplos de dano como meio de execução Ameaça (art. 147) e Vias de Fato (art. 21 da LCP) São Assim, se o fato é acompanhado de perigo comum, o é, com a destruição, inutilização ou deterioração da coisa
a) Furto com rompimento de obstáculo (art. 155, absorvidas pelo Dano Qualificado (art. 163, §Ú, inciso I) crime único a ser reconhecido será o de incêndio, ou alheia. O dano é crime material, que só se configura
§4º, inciso) explicação etc. quando há prejuízo para a vítima, decorrente da
diminuição do valor ou da utilidade da coisa destruída, BEM JURÍDICO TUTELADO: seja possuidor ou detentor, independentemente de haver TIPO SUBJETIVO: Adequação Típica
inutilizada ou deteriorada. O bem jurídico protegido é a inviolabilidade do recebido a posse ou detenção de terceiro. É o Dolo: A vontade livre e consciente de apropriar-se
O dano admite a tentativa, quando o agente é patrimônio, particularmente em relação à propriedade. Ex.: O nu-proprietário, por exemplo, que vende a coisa de coisa alheia móvel de que tem a posse em nome de
interrompido na ação que executava objetivando a Na verdade, protege o direito de propriedade, direta e que o usufrutuário, por alguma razão, lhe emprestara outrem, ou, em outros termos, a vontade definitiva de
deterioração, inutilização ou destruição de coisa alheia. imediatamente, contra eventuais abusos do possuidor, responderá pelo crime de estelionato; contudo, o não restituir a coisa alheia ou desviá-la de sua finalidade.
É interessante notar que não é o ideal entender que que possa ter a intenção de dispor da coisa alheia como se usufrutuário que a aliena sem o consentimento do nu Eventual desconhecimento de um ou outro elemento
estaria configurada a tentativa quando o agente não fosse sua. Esse já era o entendimento sustentado por proprietário responde por apropriação indébita. constitutivo do tipo constitui erro de tipo, excludente do
obtém o resultado pretendido, uma vez que o resultado Galdino Siqueira: “A transferência da coisa deve ser feita a Sujeito passivo, é qualquer pessoa, física ou jurídica, dolo. O dolo é, na espécie, como afirma Fernando
parcial já é suficiente para consumar o crime de dano. Na título precário, com a obrigação de restituí-la ou de fazer titular do direito patrimonial atingido pela ação tipificada; Fragoso, “a vontade de assenhorear-se de bem móvel
verdade, a tentativa somente pode configurar-se quando dela uso determinado, por isso que a apropriação indébita em regra, é o proprietário, e, excepcionalmente, o mero (animus rem sibi habendi), com consciência de que
o estrago não for relevante. é uma ofensa ao direito de propriedade e não ao direito possuidor, quando a posse direta decorra de direito real pertence a outrem, invertendo o título da posse”
A ação penal é de iniciativa privada na figura simples de posse”. (usufruto ou penhor), uma vez que se relacionam à O Dolo é subsequente:
(caput) e na figura qualificada na hipótese do parágrafo Ao contrário do que ocorre no crime de furto, a posse propriedade.  O agente obtém a posse lícita da coisa. Sem o
único, IV. Nas outras três hipóteses de formas qualificadas não recebe, por este dispositivo, a tutela jurídica. PRESSUPOSTO DO CRIME: animus rem sibi habendi (vontade de assenhorar-se de
(parágrafo único, I, II e III) a ação penal é pública É necessário e suficiente que a justa posse ou detenção O pressuposto do crime de apropriação indébita é a bem móvel).
incondicionada (art. 167). exercida pelo agente, alieno domine, sobre a coisa alheia, anterior posse lícita da coisa alheia, da qual o agente se  Passar a ter o Dolo (atual) (não anterior e nem
Caso concreto de aplicação do crime de dano: preexista à ilícita apropriação. apropria indevidamente. A posse, que deve preexistir ao posterior).
Condenação dos acusados pelos atos antidemocráticos O empréstimo em dinheiro, com efeito, não pode ser crime, deve ser exercida pelo agente em nome alheio, isto  Se apropria da coisa móvel.
do dia 08/01/2023: objeto de apropriação indébita não por se tratar de coisa é, em nome de outrem. Ninguém pode apropriar-se de Consumação e Tentativa:
Análise de parte do Voto do Ministro Alexandre de fungível, mas pela singela razão de que o empréstimo coisa própria, isto é, daquilo que lhe pertence, cuja posse O momento consumativo do crime de apropriação
Moraes (referente ao crime de Dano). transfere o domínio do valor correspondente ao mutuário, já lhe é própria e lícita. A posse mencionada no dispositivo indébita é de difícil precisão, pois depende, em última
INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM perdendo, consequentemente, a natureza de posse lícita sub examine deve ser entendida em sentido amplo, análise, de uma atitude subjetiva.
PROPRIEDADE ALHEIA de coisa alheia. abrangendo, inclusive, a simples detenção, como prevê o A consumação da apropriação indébita conincide com
Art. 164. Introduzir ou deixar animais em propriedade Em outros termos, com o empréstimo de coisa art. 168, in fine, do CP, e até o poder de disposição direta aquele momento em que o agente, por ato voluntário e
alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que fungível, o mutuário adquire a “propriedade” do objeto do sobre a coisa. consciente, inverte o título da posse exercida sobre a
do fato resulte prejuízo: mútuo, tornando-se, por isso, insuscetível de apropriação Se a posse for obtida mediante violência, fraude ou coisa, passando a dela dispor como se proprietário fosse.
Pena — detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, ou indébita. Não é o que ocorre, por exemplo, com a erro, não se tratará de posse lícita, mas ilícita, restando, Contudo, a certeza da recusa em devolver a coisa
multa. retenção de valores correspondentes a tributos, com a por conseguinte, ausente aquele pressuposto básico do somente se caracteriza por algum ato externo, típico de
APROPRIAÇÃO INDÉBITA obrigação de posterior recolhimento. Em momento algum crime de apropriação indébita, comum ou especial, qual domínio, com o ânimo de apropriar-se dela.
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem esse valor pode ser considerado como tendo ingressado seja, “a anterior posse lícita da coisa alheia”. A simples demora na devolução da res, quando não
a posse ou a detenção: no “domínio” de quem o reteve, pois o fez em nome de  Violência..... extorsão (art. 158 do CP) existe prazo previsto para tanto, não caracteriza o delito
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. terceiro.  Fraude.... estelionato (art. 171 do CP) de apropriação indébita.
Aumento de pena Por essa razão, sustentamos que, em tese, é  Erro.... estelionato (art. 171 do CP) Portanto: A tentativa é possível, embora de difícil
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente perfeitamente admissível a apropriação indébita de TIPO OBJETIVO: Adequação Típica configuração: Depende da possibilidade concreta de se
recebeu a coisa: valores em dinheiro, que, na verdade, é a forma mais  Apropriar-se: é tomar para si, isto é, inverter a constatar a exteriorização do ato de vontade do
I - em depósito necessário; frequente de apropriar-se indevidamente de coisa alheia natureza da posse, passando a agir como se dono fosse da Sujeito Ativo.
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, móvel. Assim, por exemplo, um banco que recebe os coisa alheia de que tem posse ou detenção. Na Ex.: Mensageiro que é surpreendido no momento de
inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; depósitos de terceiros, seja em conta corrente, seja em apropriação indébita, ao contrário do furto e do violar o envelope que sabe contar valores.
III - em razão de ofício, emprego ou profissão. poupança, o faz em nome de terceiro, para administrá-los estelionato, o sujeito ativo tem, anteriormente, a posse Pode-se identificar a tentativa toda vez que a
Os antecedentes mais remotos do crime de ou investi-los em nome de seus correntistas. Portanto, ao lícita da coisa. Recebe-a legitimamente (posse legítima de apropriação se executa mediante um ato reconhecível no
apropriação indébita remontam aos Códigos de Hamurabi apropriar-se indevidamente dos valores de centenas de coisa alheia móvel). mundo dos fatos, como por exemplo, venda ou penhor.
e de Manu, que, no entanto, puniam como furto a milhares de poupadores, lançando-os como lucro próprio,  É fundamental a presença do elemento subjetivo Ex.2: O proprietário surpreende o possuidor que está
apropriação de coisas perdidas, recebidas em depósito, o banco inverte a natureza da posse desses valores, transformador da natureza da posse, de alheia para efetuando a venda de coisa que lhe pertence e somente a
compradas sem contrato ou testemunhas, além da assumindo-a como própria, incorrendo no crime previsto própria. Ao contrário do crime de furto, o agente tem a sua intervenção — circunstância alheia à vontade do
descoberta de tesouro. No entanto, até fins do século no art. 168 do Código Penal. posse lícita da coisa. Recebe-a legitimamente. Muda agente — impede a tradição da coisa ao comprador,
XVIII, a apropriação indébita era somente uma espécie do Enfim, não é, por certo, a natureza de coisa fungível somente o animus que o liga à coisa. desde que nenhum ato anterior tenha demonstrado essa
gênero furto. que apresenta dificuldade de caracterização da  No entanto, se o sujeito ativo age de má-fé, intenção.
O direito romano desconheceu até mesmo a distinção apropriação indébita de valores em dinheiro, mas a mantendo em erro a vítima, que entrega a coisa, Causas de Aumento de Pena (formas majoradas)
entre apropriação indébita e estelionato (furtum natureza do título que acompanha a posse de tais valores. ludibriada, pratica o crime de estelionato, e não o de A apropriação indébita não possui qualificadoras, mas
proprium e furtum improprium), que somente mais tarde SUJEITOS ATIVO E PASSIVO: apropriação indébita. Ao contrário, se a vontade de apenas majorantes (incisos I, II e III do §1ºdo art. 168).
foi elaborada pela doutrina alemã, por política criminal, ao Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, que tenha a possuir a coisa, isto é, o animus, antecede a posse, que já § 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente
pretender limitar o conceito do crime de furto, evitando a posse ou detenção legítima de coisa alheia móvel. O é adquirida em nome próprio e não no de terceiro, não se recebeu a coisa:
exacerbação de penas. proprietário não pode ser sujeito ativo desse crime; assim, configura apropriação indébita. I - em depósito necessário;
sujeito ativo será sempre pessoa diversa do proprietário,
A coisa recebida em depósito necessário, sendo que d) Testamenteiro: é o incumbido de promover o Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou Essa procedência criminosa do objeto da receptação
direito civil distingue: Depósito Necessário (art. 647 do cumprimento de disposições de última vontade do de ambas as penas. define sua natureza acessória, dependente, parasitária de
CC): cujus, isto é, seu testamento. RECEPTAÇÃO MAJORADA outro crime, na linguagem de Hungria.
Art. 647. É depósito necessário: e) Depositário judicial: é o funcionário encarregado Art. 180 – (...)  Adquirir: que pode significar compra, permuta,
I - o que se faz em desempenho de obrigação legal; (legal) de receber em depósito a guarda de móveis, joias, títulos § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou troca, dação em pagamento, recebimento de herança.
II - o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, de crédito, metais preciosos, objeto de ações ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. Aquisição é a obtenção da coisa a título de domínio, em
como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque. processos judiciais. Se for funcionário público, responderá § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode definitivo. Somente se aperfeiçoa com a efetiva tradição
(miserável) por peculato. Incorrerá, contudo, na majorante em exame o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de da coisa. Antes da traditio pode existir tentativa de
Depósito Voluntário (art. 627 do CC): se se tratar de particular nomeado pelo juiz. aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto receptação.
Art. 627. Pelo contrato de depósito recebe o depositário f) Síndico: era a denominação que se dava ao no § 2º do art. 155.  Receber: Tem sentido mais abrangente; pode
um objeto móvel, para guardar, até que o depositante o encarregado da administração da falência, mais § 6° Tratando-se de bens do patrimônio da União, de significar aceitar o que lhe é oferecido ou entregue;
reclame. especificamente da massa falida, sob direção e Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, recolher o que lhe é devido, entrar na posse da coisa que
Em depósito necessário; Significa que o sujeito passivo superintendência do juiz na antiga Lei de Falências fundação pública, empresa pública, sociedade de lhe é entregue etc. Seria “utilizar de qualquer modo”.
não tem outra escolha, está obrigado a confiar o objeto (Decreto-lei n. 7.661/45). Atualmente, porém, a nova Lei economia mista ou empresa concessionária de serviços  Transportar (sinônimo da próxima conduta):
ou valor ao agente. Por isso o desvalor da ação é mais de Falências (Lei n. 11.101/2005) denomina públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput consiste em deslocar o objeto da receptação (produto de
grave, sendo merecedor de maior reprovação, em razão “administrador judicial” a pessoa que exerce essa função. deste artigo. crime) de um lugar para outro, não necessariamente para
da vulnerabilidade do sujeito passivo, que ficou à mercê Em razão de ofício, emprego ou profissão. BEM JURÍDICO TUTELADO: o receptador, pois pode estar sendo desviado para algum
do depositário. Igualmente aqui o sujeito ativo viola deveres inerentes É o patrimônio, público ou privado. Admite-se que a intermediário etc. (essa conduta amplia exageradamente
O depósito miserável é aquele feito em situações a sua qualidade profissional-funcional. Ou seja, em razão posse também seja objeto da tutela penal, na medida em para alcançar o simples motorista do veículo que efetua o
excepcionais, que reduzam, embora não anulem, a da natureza da atividade laborativa, o sujeito ativo tem que representa um aspecto importante do patrimônio, e, transporte do objeto receptado). Significa ainda carregar,
possibilidade de escolha do depositante (calamidade, sua ação criminal facilitada, em razão da confiança podendo ser objeto do crime de furto ou roubo, satisfaz a levar ou conduzir a coisa receptada de um lugar para
como incêndio, inundação, naufrágio ou saque). Ocorre existente entre ele e a vítima. exigência de ser produto de crime precedente; não se outro.
que, é justamente ele o tratado pelo inciso I. É indispensável que a apropriação indébita se pode negar, contudo, que a propriedade é o bem jurídico  Conduzir (sinônimo da conduta anterior): também
Assim, não faz parte desta majorante, o chamado concretize por meio de ato característico de ofício, protegido por excelência. amplia a criminalização, atingindo o condutor do veículo
depósito legal (por que?). emprego ou profissão. Objeto de receptação somente pode ser coisa móvel que apenas efetua o transporte, por isso, essas duas
OBS.: O Código Civil equiparou o depósito originado de Ex.: Ourives faz o serviço em uma joia (produto de crime), embora o Código Penal não faça essa condutas — transportar e conduzir — devem ser
hospedagem ao depósito necessário (art. 649).  Fica com o dinheiro do cliente. exigência expressa na descrição típica. analisadas, casuisticamente, com extremo cuidado, para
Entretanto, não se pode esquecer, que em direito penal  Fica com a joia do cliente. Nélson Hungria que “um imóvel não pode ser não penalizar indevidamente um mero funcionário que,
não prevalecem as ficções do direito privado. Apropriação Indébita (art. 168) X Estelionato (art. 171) X receptado, pois a receptação pressupõe um deslocamento por vezes, desconhece o significado do que está fazendo a
Assim, os hospedeiros que se apropriarem dos objetos Furto (art. 155) da ‘res’, do poder de quem ilegitimamente a detém para o mando de alguém, é levar de um lugar para outro,
dos hóspedes que lhes tenham sido confiados cometerão Ação Penal: Pública Incondicionada. receptador, de modo a tornar mais difícil a sua carregar, “transportar”, mas também pode significar
apropriação indébita, mas com outra majorante (art. 168, recuperação por quem de direito”. dirigir, manobrar, manejar ou guiar um veículo automotor.
§ 1º, III, do CP). RECEPTAÇÃO SUJEITOS ATIVO E PASSIVO:  Ocultar: expressa a ideia de esconder
Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa, independente fraudulentamente alguma coisa de alguém. É a conduta
inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser de qualidade ou condição especial, menos o coautor ou de dissimular a posse ou detenção da coisa de origem
Esse rol contido no inciso II é numerus clausus, não produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a partícipe do crime anterior (participar do crime anterior, criminosa, escondendo-a; é colocar o objeto da
admitindo a inclusão de qualquer outra hipótese adquira, receba ou oculte: por exemplo, e a seguir comprar a parte dos demais), que receptação em local onde seja difícil encontrá-lo ou
semelhante, ou seja, não abrange pessoa que Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. seja pressuposto da receptação. A receptação para localizá-lo.
desempenhe função diversa das relacionadas no RECEPTAÇÃO QUALIFICADA eventual participante do crime antecedente (coautor ou Ex.: Esconde a coisa abandonada pelo ladrão para
dispositivo, sob pena de violar o princípio da reserva legal. Art. 180 – (...) partícipe) constitui pós-fato impunível. acobertar-se de suspeitas, e a oculta, para posteriormente
Em todas essas funções, a honestidade e a idoneidade § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter Sujeito passivo, normalmente, é o proprietário, mas entregá-la, mediante recompensa.
moral assumem importância transcendental, e em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, não está excluído o de que proveio a coisa, bem ou objeto Receptação Imprópria:
exatamente por isso a violação desse dever justifica maior expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito da receptação; ou seja, é o mesmo sujeito passivo do “...ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira,
punição. “Envolve a traição a um múnus público”. (Nelson próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou crime anterior. receba ou oculte.”.
Hungria). industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: TIPO OBJETIVO: Adequação Típica Divergência doutrinária: “Influir”
a) Tutor: é quem, assume o dever de orientar, reger Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. Receptação é o crime que produz a manutenção,  Magalhães Noronha - O agente se conduz como
e educar menor não sujeito ao pátrio poder, ou “poder § 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do consolidação ou perpetuidade de uma situação mediador, pois não executa as ações incriminadas.
familiar”, além de administrar seus bens. parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular patrimonial anormal, decorrente de crime anterior (apenas estimula o terceiro de boa-fé).
b) Curador: é quem exerce, basicamente, as mesmas ou clandestino, inclusive o exercício em residência. praticado por outrem.  Paulo José da Costa Jr. - Ao influir que terceiro de
funções, mas em relação a pessoas maiores declaradas RECEPTAÇÃO CULPOSA Não é necessário que o crime precedente seja contra o boa-fé fique com a coisa produto de crime, não age como
incapazes, que, por deficiência mental, não podem Art. 180 – (...) patrimônio. Contudo, em razão do bem jurídico mediador, mas como autor intelectual do crime, que se
autoadministrar-se nem administrar seus bens. § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou (patrimônio) que esse tipo penal tutela, é indispensável aperfeiçoa mesmo que sua sugestão não seja aceita.
c) Inventariante: é quem, administra o espólio até o pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela que o pressuposto dele (crime anterior) proporcione ao OBS.: o terceiro induzido a erro deve estar de boa-fé, caso
final julgamento da partilha condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por sujeito passivo vantagem econômica, que a receptação se contrário será coautor da receptação!
meio criminoso: encarrega de garantir ou assegurar.
OBS.: “Influir” representaria mera atividade de partícipe, CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:  Facilita a repressão estatal, mas dificulta a possibilidade de inclusão, no tipo, de outras ações não
mas nesse tipo de crime constitui o núcleo do tipo penal. Receptação própria (1ª figura): É crime material e sobremodo a defesa do imputado, na medida em que consagradas no texto legal corresponde a ofensa
A receptação é crime estritamente comissivo, sendo consuma-se com a efetiva tradição da coisa proveniente inverte o ônus da prova, tendo de demonstrar que, a manifesta ao princípio da legalidade, sob o enfoque da
impossível praticá-lo mediante omissão, salvo a figura de crime. É admissível a tentativa, considerando-se tratar- despeito de tal produto encontrar-se em suas estrita reserva legal.
representada pelo verbo-núcleo “ocultar”. se de crime material; por conseguinte, admite o dependências, desconhecia sua origem ilícita, não TIPO SUBJETIVO: Adequação Típica
Em relação à Receptação Imprópria, percebe-se que o fracionamento de sua fase executória. autorizou nem tomou parte na ação de depositar e até É o Dolo: Segundo a doutrina tradicional, contém duas
legislador olvidou-se de acrescentar à figura da O simples acordo entre o ladrão e o futuro receptador que não sabia da existência de tal depósito. espécies de dolo:
receptação imprópria — representada pelo verbo “influir” não constitui tentativa (ato preparatório). Contudo, se Desmontar: significa desarmar determinado a) O agente sabe que é produto de crime: (que sabe)
— as condutas de “transportar” e de “conduzir”, as esse acordo for celebrado antes da prática do crime mecanismo, invenção, veículo, computador ou qualquer ser produto de crime — dolo direto;
mesmas que foram introduzidas na figura da receptação anterior, poderá, em princípio, configurar a participação outro aparato, separando-lhe as respectivas peças, total b) Devia saber que é produto de crime: (que deve
própria pela Lei n. 9.426/96. do pretenso receptador, como coautor ou partícipe, ou parcialmente. saber) ser produto de crime — dolo eventual.
Ex.: Se alguém influir para que terceiro de boa-fé dependendo das circunstâncias concretas (art. 29 do CP). Montar: Significa encaixar ou arrumar determinados O dolo deve ser antecedente ou contemporâneo, não
transporte ou conduza coisa que sabe ser produto de Receptação imprópria (2ª figura), É crime formal, componentes, cada qual em sua posição funcional, cujo se admitindo o dolo subsequente. Não há dolo
crime, praticará uma conduta penalmente irrelevante. consumando-se com a influência exercida pelo sujeito somatório representará outro objeto, artefato ou subsequente em direito penal. Quem adquire coisa alheia
PENSAMENTO CRÍTICO: ativo, embora parte da jurisprudência entenda necessária instrumento resultante do conjunto harmonioso de peças móvel de boa-fé e só posteriormente descobre tratar-se
A Lei nº 9.426/96 ampliou a abrangência do crime, a realização da conduta típica pelo induzido. Portanto, a previamente elaboradas normalmente para essa de produto de origem criminosa não pratica o crime de
incluindo no caput, ao lado das condutas tradicionais — tentativa é, teoricamente, inadmissível. finalidade. receptação. Poderá, contudo, praticar a receptação se, a
adquirir, receber, ocultar e influir —, novos núcleos RECEPTAÇÃO QUALIFICADA Ex.: Em um caso de furto continuado, onde o nubente, partir desse conhecimento, procura ocultar tal aquisição.
típicos, que, em si mesmos, não apresentam nenhum Art. 180 – (...) pretendendo casar-se e não dispondo dos recursos RECEPTAÇÃO CULPOSA
conteúdo lesivo: transportar e conduzir. Além das § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter necessários, vai subtraindo da indústria em que trabalha Art. 180 – (...)
novidades incluídas nos §§ 1º e 2º. em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, peças individuais, que, ao final, montadas, garantem-lhe a § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou
 Não levou em consideração a natureza jurídica e expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito geladeira de que necessita (furto continuado). Quem, nas pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
histórica da receptação; próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou circunstâncias, podendo saber da origem criminosa das condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
 “Transportar” e “Conduzir” dificilmente poderão industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: peças, montá-la, visando proveito próprio ou de terceiro, meio criminoso:
assumir a conotação sugerida pela definição de Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. em princípio praticaria receptação qualificada. Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou
receptação de acarretar a manutenção, consolidação ou § 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do Entretanto, dependendo do tipo de material produto ambas as penas.
perpetuidade de uma situação patrimonial anormal, parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular de crime que é montado, está mais para favorecimento TIPO SUBJETIVO: Adequação Típica
 “Transportar” e “Conduzir” dificilmente acarreta ou clandestino, inclusive o exercício em residência. real (art. 349) do que para receptação qualificada. É a CULPA: Entretanto, analisando criticamente este
proveito econômico decorrente de crime anterior MODALIDADE QUALIFICADA Vender ou expor à venda: dispositivo (§3º), percebe-se uma situação excepcional,
praticado por outrem. Para parte da Doutrina:  Vender é alienar algo a alguém por um preço particularmente na definição de sua modalidade culposa,
 Crime de Favorecimento (art. 349 do CP) X O § 1º, a que se refere o § 2º, não define figura típica convencionado, trocar, no caso, por dinheiro a coisa que foge completamente à tradição e ao método adotado
Receptação: O primeiro é crime contra a administração da qualificada. Trata-se de uma figura penal independente: produto de crime; vender é comerciar, negociar o produto na definição dos crimes culposos.
justiça e o segundo está entre os crimes contra o contém verbos que não estão previstos no caput, repete do crime. Vender é transferir a outrem, mediante Parte Geral do Código Penal:
patrimônio. O animus lucrandi é que distingue a outros e exige elementos subjetivos do tipo. pagamento, a coisa obtida com o crime anterior. Art. 18 - (...)
receptação do favorecimento. (“Transportar” e “Conduzir” Como assevera Alberto Silva Franco: “...forçoso é  Expor à venda é colocar em exposição o objeto II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por
dificilmente implicam nesse animus) convir que o tipo, tal como foi estruturado, expressa uma material (produto de crime) para atrair comprador; é a imprudência, negligência ou imperícia.
 Verdadeira anomalia tipológica no direito pátrio, péssima qualidade técnica de composição típica.”. exibição do corpus delicti para ser vendido. Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei,
simples amostra da criminosa retalhação do Código Penal Crime Próprio: A receptação qualificada exige do Utilizar: é fazer uso da coisa, empregá-la de qualquer ninguém pode ser punido por fato previsto como crime,
a que se está procedendo com a inflação diária, sujeito ativo uma qualidade especial, qual seja, tratar-se modo. A redação do texto legal não é das mais felizes senão quando o pratica dolosamente.
desordenada e descriteriosa de leis esparsas, chamada de de comerciante ou industrial, que deve praticá-lo no quando utiliza, depois de arrolar onze verbos, a expressão Parte Especial do Código Penal:
“reformas pontuais”. exercício de seu mister profissional, mesmo que irregular genérica “ou de qualquer forma utilizar...”. Tal  Se o homicídio é culposo (Art. 121, §3º);
Receptação de receptação: Possibilidade. ou clandestino. generalização pode conduzir a divergência doutrinária.  Se a lesão é culposa (Art. 129, §6º)
Seria mantida por meio de intercorrentes aquisições de O legislador se excedeu ao elencar doze condutas Para Luiz Regis Prado: “denota a necessidade de  Se culposo o incêndio (Art. 250, §2º)
má-fé. Assim, quem adquire coisa que fora recebida ou nucleares que, de modo geral, não trazem a mesma força aplicação de interpretação analógica, de forma que  Se o crime é culposo (art. 270, §2º); (art. 272,
adquirida por terceiro de boa-fé não pratica crime de lesiva típica dos crimes mais graves do Código Penal qualquer conduta do comerciante ou do industrial, à §2º); (art. 273, §2º); (art. 278, §Ú); (art. 280, §Ú).
receptação, mesmo que saiba que a coisa provém de (matar, extorquir, sequestrar, constranger etc.). similitude daquelas exemplificadamente expostas pelo Assim, surpreendentemente, no crime de receptação,
crime. Ter em depósito: significa receber produto de crime, legislador, que implicar em uso da coisa obtida o legislador mudou o método tradicional, afastou a
“Não há crime no caso de quem adquiria as coisas retendo-o e conservando-o, em proveito próprio ou de criminosamente, caracteriza o delito em epígrafe” técnica até então adotada e emitiu a seguinte definição de
delituosas de um possuidor de boa-fé já que estas coisas terceiro. Para Cezar Roberto Bittencourt: A locução “de receptação culposa: adquirir ou receber coisa que, por sua
em consequência da posse de boa-fé perderam a  Modalidade de conduta, de duvidosa técnica qualquer forma” está se referindo tão somente “ao modo natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou
qualidade de delituosas” (Giuseppe Maggiore, Derecho legislativa enquanto definidora de ação humana, afasta de utilizar” a coisa produto de crime, tratando-se de crime pela condição de quem a oferece, deve presumir-se
Penal, v. 5, p. 1067.). possível discussão sobre como a coisa produto de crime de forma livre; isto é, na modalidade de utilizar, pode ser obtida por meio criminoso (§ 3º).
veio parar nas mãos do sujeito ativo, isto é, se houve praticado de qualquer modo que o agente eleger. É Segundo Cezar Roberto Bittencourt: “...os indícios
aquisição, recebimento ou “qualquer outra forma” de inadmissível a adoção de analogia ou mesmo de específicos de culpa relacionados pelo legislador
utilização. interpretação analógica em matéria repressiva pena, pois
demonstram a necessidade de cautela nas operações Frederico Marques ensina que os benefícios são de produção, ainda que abatido ou dividido em partes,
mencionadas. Esses indícios são os seguintes: também direitos, pois o campo do status libertatis se vê que deve saber ser produto de crime:
a) natureza da coisa; ampliado por eles, de modo que, satisfeitos seus Pena — reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
b) desproporção entre o valor e o preço; pressupostos, o juiz é obrigado a concedê-los. Além disso, DISPOSIÇÕES GERAIS
c) condição de quem oferece.”. é inconcebível que uma causa extintiva de punibilidade Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos
Assim, a inobservância desses requisitos representa, na fique relegada ao puro arbítrio judicial. crimes previstos neste título, em prejuízo:
realidade, a imprudência ou negligência do agente. Nesse sentido, quando a lei possibilita o perdão judicial I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
A análise dessas questões deve ser extremamente “tendo em consideração as circunstâncias” (arts. 176, II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco
criteriosa, na medida em que a aparente falta de cautela, parágrafo único, e l80, § 5º, do CP), ela prevê requisito legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
por si só, não implica necessariamente a violação do dever implícito, qual seja, a pequena ofensividade da conduta, Art. 182 - Somente se procede mediante representação,
objetivo de cuidado, pois o agente pode ter fundadas que, se estiver caracterizada, obrigará à concessão do se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
razões para não duvidar da legitimidade da origem da perdão. I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
coisa, ainda que, a final, se comprove sua origem RECEPTAÇÃO PRIVILEGIADA (§5º, 2ª parte) II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
criminosa. Nesses casos, a conduta é atípica. Na receptação dolosa é admissível o tratamento III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
RECEPTAÇÃO MAJORADA previsto para o furto privilegiado (art. 155, § 2º): a Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos
Art. 180 – (...) primariedade e o pequeno valor da coisa produto de anteriores:
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou crime permitem substituir a pena de reclusão por I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral,
isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. detenção, reduzi-la de um a dois terços ou aplicar quando haja emprego de grave ameaça ou violência à
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode somente multa. A “privilegiadora”, presentes os requisitos pessoa;
o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de legais, aplica-se a qualquer das espécies de receptação II - ao estranho que participa do crime.
aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto própria ou imprópria. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual
no § 2º do art. 155.  Primário: É quem nunca sofreu qualquer ou superior a 60 (sessenta) anos.
§ 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de condenação irrecorrível.
Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,  Reincidente: É quem praticou um crime após o
fundação pública, empresa pública, sociedade de trânsito em julgado de decisão condenatória (em primeiro
economia mista ou empresa concessionária de serviços ou segundo grau), enquanto não tenha decorrido o prazo
públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput de cinco anos do cumprimento ou da extinção da pena.
deste artigo.  Não reincidente: Aquele que comete o segundo
AUTONOMIA DA RECEPTAÇÃO: INDEPENDÊNCIA ou terceiro crime antes do trânsito em julgado de crime
RELATIVA anterior ou quem comete novo crime após o decurso de
Afirma o § 4º, a receptação é punível mesmo que seja cinco anos do cumprimento de condenação anterior.
desconhecido ou isento de pena o autor do crime  Pequeno valor da coisa: definição que está longe
anterior, bastando a certeza de que a coisa é produto de de ser pacífica quer na doutrina, quer na jurisprudência.
crime. Como elemento normativo do tipo, para interpretá-lo
A inexistência de condenação do crime precedente é adequadamente, dever-se-á ter em consideração as
irrelevante, sendo suficiente a comprovação de sua peculiaridades e as circunstâncias pessoais e locais de
existência, algo que pode ser feito no próprio processo onde o fato é praticado.
que investiga a receptação. A doutrina, em geral, tem definido como pequeno
Assim, sobre a necessidade de comprovação da valor aquele cuja perda pode ser suportada sem maiores
existência efetiva do crime precedente, pode-se afirmar dificuldades pela generalidade das pessoas, mas a
que a independência ou autonomia da receptação é orientação majoritária é no sentido de que pequeno valor
relativa, pois tal autonomia repousa tão somente em sua é a coisa que não ultrapassa o equivalente ao salário
punibilidade, que é absolutamente independente da mínimo.
punibilidade do crime precedente, e não em sua RECEPTAÇÃO MAJORADA (§ 6º)
configuração típica, que, ontologicamente, deve estar Em razão da natureza dos bens, pertencentes ao
vinculada a outra infração penal precedente. Estado, agrava-se exageradamente a pena. Elevou-se o
PERDÃO JUDICIAL (§5º, 1ª parte) mínimo de um para dois anos de reclusão.
Perdão judicial é o instituto por meio do qual a lei Nelson Hungria observa que: “Em código algum figura
possibilita ao juiz deixar de aplicar a pena diante da a receptação com pena aprioristicamente mais grave do
existência de circunstâncias expressamente determinadas: que a daqueles de que pode provir”
(exs.: arts. 121, § 5º; 129, § 8º; 140, § 1º, I e II; 180, § 5º, RECEPTAÇÃO DE ANIMAL
1ª parte; 242, parágrafo único; 249, § 2º) Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir,
Mero benefício ou favor do juiz X Direito Público ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de
subjetivo de liberdade do indivíduo (que preenche os produção ou de comercialização, semovente domesticável
requisitos legais).

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