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DISCIPLINA_ Fatos e Negócios Juridicos 1

Profa.. Dra. Vera Lucia Gebrin


Tema abordado_ DA COAÇÃO

Conceito:
Carlos R. Gonçalves, Maria Helena Diniz, Caio Mário da Silva Pereira, Orlando Gomes , e outros
autores destacam na coação o emprego da pressão moral ou psicológica a viciar a vontade.

Ou seja:
É o temor despertado pela coação que torna defeituosa a vontade, incidindo diretamente na
inteligência da vítima.

Elpidio Donizetti conceitua coação como “a violência psicológica ou física que força o agente a
emitir uma declaração de vontade que não emitiria se não temesse sofrer um dano”

O Prof. Nehemias, “ coação é a pressão moral ou pressão psicológica com ameaça de causar
um mal grave ao próprio individuo, sua família ou seus bens, com a finalidade de obriga-lo,
contra a sua vontade, a realizar determinado negocio”

Previsto no art. 151 do código civil de 2002:


“ A coação para viciar a declaração de vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado
temor de dano iminente e considerável a sua pessoa, a sua família, ou aos seus bens”
(Os grifos são meus)

Espécies de coação:
a) ABSOLUTA OU FISICA _ vis absoluta_;
b) RELATIVA OU MORAL _ vis compulsiva_

a) Coação absoluta ou fisica ( vis absoluta) na visão do Prof. Nehemias “é aquela que
tolhe totalmente a vontade do individuo, de forma a se poder afirmar que não há
vontade” ( MELLO, 2016, p. 217)

Exemplifica o autor:
O assaltante aponta arma para a cabeça da vitima e a obriga a assinar um documento.

Pelo visto, a vantagem é obtida pelo coator mediante emprego de força física pelo coator
sobre a vitima.

Ex. a colocação da impressão digital do analfabeto no contrato, agarrando com força o seu
braço (Carlos R. Gonçalves)
Em verdade, inexiste aí qualquer consentimento ou manifestação de vontade.

Alguns autores, dentre eles o Prof. Nehemias, consideram tal ato como nulo, porque
inexistente aí a vontade que é elemento essencial do negócio jurídico.

b) Coação relativa ou moral (vis compulsiva) –


Torna anulável o ato nos termos do art. 171, II_ (coação psicológica)
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Para o autor, este tipo de coação é o que nos interessa, porque trata-se de vicio de vontade
propriamente dito.

Na sua preleção, neste, existe para o coagido uma certa possibilidade de escolha entre:
a) expor-se ao mal resultante da ameaça......... ou ................... b) concluir o negocio.

Ou seja: “ a vontade é cerceada, mas não é totalmente excluída” afirma ele a pág. 217

Exemplifica: “alguém ameaça sequestrar seu filho se a vitima não assinar um documento”

OBSERVAÇÃO:
Neste tipo de coação, o coator deixa o coagido em uma situação tal que ele acaba praticando
o ato que, na verdade, não queria praticar.

Exemplo fornecido por Maria Helena Diniz, Carlos R. Gonçalves:


Diz o assaltante: “ a bolsa ou a vida”.

Requisitos para existencia da coação:

P/ caracterização da coação se configure, é verificar a presença dos seguintes elementos:

1. Deve ser a causa determinante do ato_ há que se ter uma causalidade entre a
coação e o ato realizado;

2. Deve ser grave_


Dispõe o art. 152:
“ No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o
temperamento do paciente e todas as demais circunstancias que possam incluir na
gravidade desta”
OBSERVAÇÃO:
Há que observar-se a força da coação dirigida a um adulto e a dirigida a um idoso;

3. A injustiça (= contrária ao direito, ilícita)


Neste ponto, há que distinguir-se entre o exercicio regular de um direito e a
coação.

O exercício regular de um direito, é o exercício normal do direito subjetivo de cada


um ( Mello, 2016, p. 219)

Exemplifico: se o locador ameaça a propositura de uma ação de despejo contra o


inquilino, tal é exercício regular de um direito.
No entanto, será coação se aquele ameaçar o locatário com uma arma.

Com efeito dispõe o art. 153:


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“Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o
simples temor reverencial”

Temor reverencial é o “receio de desgostar alguém a quem se deve obediência e respeito,


como os familiares, o superior hierárquico ou chefe religioso”( p. 219)

Exemplifica o Prof. Nehemias:


“alguém ameaça contar para o pastor um fato condenável da vida da pessoa ameaçada, p/
dessa forma força-la a realizar determinado negocio”.

4. A intenção de coagir;

REVISÃO:
Vejamos:
Analise do código civil sobre os requisitos da coação:

I. No art. 151:
“ A coação, para viciar a declaração de vontade, há de ser tal que incuta ao
paciente fundado temor de dano iminente e considerável, a sua pessoa, a sua
família, ou aos seus bens.
II. No § único do art. 151:.
“Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com
base nas circunstancias, decidirá se houve coação”

Na coação deve haver a relação de causalidade entre a coação exercida e o ato extorquido, de
forma que provocou na vítima fundado temor de grave ameaça ou violência de dano moral
ou patrimonial a sua pessoa, a sua família ou aos seus bens.

O magistrado, na avaliação da gravidade da coação, deverá ater-se em cada caso, às


condições particulares ou pessoais da vítima, levando em conta, o sexo, a idade, a condição,
a saúde, temperamento e demais circunstâncias que cercaram a vítima.

III. A 1ª parte do art. 153, dispõe:


“Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito”.
Ex.:
o proprietário que ameaça propor uma ação de despejo contra o inquilino que
está com os aluguéis atrasados, tal é exercício normal de um direito.

No entanto, se o proprietário ameaça o locatário, dizendo:


“ Você tem até amanhã para pagar os alugueis atrasados, senão atiro em sua cabeça”
aí sim, teremos coação!

IV. Já pela 2ª segunda parte do art. 153:


“não se considera coação o simples temor reverencial”
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Ex.: o filho celebra determinado negócio para não desgostar o pai;


Ex.: o soldado vende a moto para não desagradar seu superior hierárquico no quartel
( Maria Helena Diniz),

Ex.: Se, Caio, ameaça Silvio de contar à noiva deste sobre a amante de Silvio, o temor é
reverencial, e Silvio não pode alegá-lo para se dizer coagido ( Elpidio Donizetti)

V. A coação deve ser injusta, ou seja, ilícita, contrária ao direito.

Dano atual e iminente, significa nas lições de Clóvis Beviláqua: “atual e inevitável” e
não dano impossível, remoto ou evitável, mediante auxílio de outras pessoas.

A ameaça de prejuízo à pessoa ou aos bens da vítima ou a pessoas de sua família_


pode ocorrer de diversas formas. Exs.: sofrimentos físicos, cárcere privado, tortura.

VI. Igualmente pode ocorrer ameaça aos bens da vítima a provocação de dano
patrimonial, como incêndio, depredação, greve.....

VII. A ameaça de dano à família pode ocorrer da seguinte forma.


A expressão “família”, usada no art. 151, tem hoje acepção ampla, referindo-se
portanto, a família:
a. que resulta do casamento,
b. da união estável,
c. dos laços de consanguinidade (parentesco), ou da
d. adoção ( art. 227, parágrafo 6º da Constituição Federal).
e. Incluem-se também aí, as ameaças feitas a parentes afins, como sogra (o),
cunhado (a)......

Vejamos agora a COAÇÃO EXERCIDA POR


TERCEIRO:_

O art. 154 dispõe:


“ vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, tornando-o anulável, se
dela a parte a quem aproveite (declaratário) tomou conhecimento ou devesse tomar
conhecimento, caso em que ambos, tanto o coator quanto a parte beneficiada, serão
responsáveis solidariamente pelas eventuais perdas e danos”.

É a adoção do princípio da boa fé, da tutela da confiança da parte que recebe a


declaração de vontade, sem ter, nem podendo ter, conhecimento do vício da
vontade.

Ou seja:
A coação exercida por terceiro só vicia e permite sua anulação se, a outra parte a que
se beneficiou, dela teve, ou devesse ter conhecimento.
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Há, portanto aí cumplicidade do beneficiário, que responderá perante à vítima pelas
perdas e danos devidas àquele.

Exs.: no testamento e na promessa de recompensa,


A coação de terceiro, sempre ensejará anulação da parte da vítima e a reparação por
perdas e danos da parte do beneficiado pela coação.

Elpidio Donizetti fornece exemplo:


Se uma pessoa pretende forçar outra a lhe dar certa quantia em dinheiro e ameaça
“bombardear uma escola” e o coagido sabe que essa possibilidade é remota, não há
coação.
Mas, se o coator é membro de uma organização terrorista, ou é ligado ao crime
organizado, a situação muda de figura ( p. 174)

Se, contudo, a parte beneficiária não tinha conhecimento da coação exercida por
terceiros em seu beneficio, o negocio valerá e a pessoa que foi coagida terá direito de
ação contra o coator para ser indenizado de todos os prejuizos que o ato lhe causou,
leciona o Prof. Nehemias ( p. 220)

É o que oferece a redação do art. 155:


“ Subsistirá o negocio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a
quem aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento: mas o autor da coação
responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto”

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