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ILUSTRÍSSIMO SENHOR SUPERINTENDENTE DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DO

MEIO AMBIENTE DE FLORIANÓPOLIS - FLORAM

Processo administrativo...
Auto de infração ambiental n...

RECORRENTE, casado, empresário, inscrito no RG sob o


n... e CPF..., residente e domiciliado na Rua..., número...,
Bairro..., Florianópolis/SC, CEP..., vem, por seu advogado, à
presença de Vossa Senhoria, com fundamento no art. 127 e
seguintes do Decreto 6.514/08, interpor

RECURSO HIERÁRQUICO
com pedido de efeito suspensivo

contra decisão administrativa proferida nos autos em


epígrafe que julgou improcedente a defesa prévia
apresentada pelo Recorrente, e se não for caso de
retratação no prazo de cinco dias (art. 127, § 1º, Decreto
6.514/08), requer seja concedido o efeito suspensivo, pois,
presente o justo receio de prejuízo de difícil ou incerta
reparação (art. 128, § 1º, Decreto 6.514/08), e encaminhado
à autoridade superior para julgamento, cujas razões seguem
acostas.

Pede deferimento.

Florianópolis/SC, 12 de fevereiro de 2021.

ADVOGADO
OAB/SC
[ASSINADO DIGITALMENTE]

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR SECRETÁRIO MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E
DESELVOLVIMENTO URBANO PRESIDENTE DO COMDEMA

Recorrente...
Advogado...
Processo administrativo...
Auto de infração ambiental n...

ILUSTRE RELATOR
NOTÁVEIS MEMBROS DO COMDEMA

RAZÕES DO RECURSO HIERÁRQUICO

1. BREVE SÍNTESE DO AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL E DA DECISÃO


ADMINISTRATIVA QUE JULGOU IMPROCEDENTE A DEFESA PRÉVIA

O Recorrente é proprietário de uma unidade autônoma do Condomínio,


construído pela empresa....
No dia 21.01.2020, fiscais da Fundação Municipal do Meio Ambiente de
Florianópolis – Floram constataram problemas de vazamento de água do Condomínio para a
rede pluvial da Prefeitura, e, posteriormente, autuaram o Recorrente com base no art. 61 do
Decreto 6.514/08, assim redigido:
Art. 61.  Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou
possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de
animais ou a destruição significativa da biodiversidade:
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de
reais). 
Parágrafo único.  As multas e demais penalidades de que trata o caput serão
aplicadas após laudo técnico elaborado pelo órgão ambiental competente,
identificando a dimensão do dano decorrente da infração e em conformidade com a
gradação do impacto. 

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Intimado por carta com aviso de recebimento da lavratura do auto, o
Recorrente apresentou defesa prévia alegando que somente tomou conhecimento do vazamento
após a fiscalização da Floram, cujo extravasor do sumidouro que causou o suposto dano
ambiental foi instalado pela própria construtora, conforme revela o próprio projeto hidro sanitário.
Ou seja, não se trata de “lançamento irregular dos efluentes da fossa séptica e
sumidouro com a utilização de tubo extravasor da fossa ou sumidouro para rede de águas
pluviais da PMF, ocasionando danos ambientais”, conforme entenderam os fiscais da Floram, os
quais nem puderam afirmar com certeza, se o vazamento era do sumidouro ou da fossa séptica.
Ocorre que, o Recorrente, a autoridade de primeira instância julgou
improcedente a defesa prévia contra o auto de infração ambiental, aplicando multa ambiental no
valor de R$ 5.000,00.
No entanto, o auto de infração é manifestamente nulo, porquanto lavrado em
face de terceira pessoa que não deu causa ao dano, de modo que a reforma da decisão da
autoridade julgadora é medida que se impõe.

2. DA NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO POR VÍCIO INSANÁVEL –


VULNERAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA DAS PENAS
Ao julgar o auto de infração, a autoridade de primeira instância desconsiderou
por completo as alegações do Recorrente de que o tubo extravasor do sumidouro havia sido
instalado pela própria construtora do Condomínio, de modo que não foi o responsável pelo
alegado dano ambiental, e como já dito, emitiu decisão administrativa genérica e padronizada.
Há muito, os Tribunais pacificaram o entendimento de que a responsabilidade
civil pela reparação dos danos ambientais adere à propriedade, como obrigação propter rem,
sendo possível cobrar também do atual proprietário, condutas derivadas de danos
provocados pelos proprietários antigos.
Contudo, a responsabilidade administrativa por dano ambiental é exclusiva do
infrator, assim como a criminal, não sendo possível a aplicação de nenhuma sanção a terceiros
que não tenham infringido diretamente a legislação ambiental.
Isso porque, pelo princípio da intranscendência das penas (art. 5º, inc. XLV,
CF/88), aplicável não só ao âmbito penal, mas também ao Direito Administrativo Sancionador,
não é possível lavrar auto de infração ambiental contra pessoa que não tenha dado causa ao
dano ambiental, por força da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo
alegado transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do
nexo causal entre a conduta e o dano.

In casu, o Recorrente adquiriu uma unidade autônoma do Condomínio


construído pela empresa..., única e exclusiva responsável pelo alegado dano ambiental. Aliás,

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consta no próprio auto de infração que o lançamento de efluentes ocorria através de um tubo
extravasor da fossa ou sumidouro para rede de águas pluviais.

Ou seja, se o Recorrente não construiu o Condomínio, por óbvio, não


implantou o tubo extravasor, de modo que não pode sofrer nenhuma sanção administrativa, sob
pena de violação do princípio da intranscendência das penas.

Com efeito, não ficou demonstrado que o aludido lançamento irregular dos
efluentes tenha sido causado pelo Recorrente, de modo que, nem o fiscal da Floram, nem a
autoridade julgadora, caracterizaram a responsabilidade subjetiva do Recorrente, vale dizer, não
houve por parte da Administração a caracterização de que a conduta/omissão do Recorrente
tenha contribuído culposamente para a ocorrência do acidente ambiental.

Como se vê, debruçando-se sobre o entendimento atual, para a


responsabilização administrativa ambiental (ao contrário da cível), faz-se necessário caracterizar,
na conduta ou omissão, o elemento subjetivo (dolo ou culpa), não sendo suficiente para
imposição de sanção a mera ocorrência do dano.

Portanto, não restou demonstrado nos autos que a autuação administrativa


tenha identificado o elemento subjetivo imputável ao Recorrente, nem o nexo causal entre o
acidente e a suposta ação/omissão, de modo que a imposição da sanção pecuniária carece de
fundamento.

Ora. Incumbia ao fiscal da Floram, para que fosse válida a autuação, apontar
no auto infracional qual a conduta imprudente ou negligente praticada pelo Recorrente a justificar
o enquadramento como infração administrativa ambiental, de maneira a justificar a multa
imposta. O que não ocorreu. Aliás, sequer indicou o inciso do art. 62 supostamente violado.

É claro que o Recorrente poderia ser demandado na esfera cível, dada a


obrigação propter rem, mas jamais pode sofrer sanção administrativa devido à natureza
sancionadora desta, porquanto o extravasor que causou o alegado dano, advém da própria
construção do Condomínio em que o Recorrente reside. À propósito, era o próprio Condomínio
que deveria ter sido autuado, não o Recorrente. Portanto, impõe-se a reforma da decisão de
primeira instância para declarar nulo o auto de infração guerreado.

3. DO EFEITO SUSPENSIVO

O art. 128 do Decreto 6.514/08 dispõe que o recurso interposto contra decisão
proferida pela autoridade julgadora somente terá efeito suspensivo no tocante a penalidade de
multa (§ 2º), mas faz uma ressalva em seu § 1º quanto às demais sanções, autorizando a

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autoridade recorrida ou a imediatamente superior a conceder tal efeito na hipótese de justo
receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação.

No caso dos autos, faz-se necessário conceder o efeito suspensivo ao recurso


porquanto, ao lançar a decisão administrativa hostilizada, a autoridade julgadora determinou que
o Recorrente providencie a adequação do sistema de esgoto, sob pena de elevada multa diária:

Ademais, o autuado deve ser compelido à obrigação de fazer, no prazo de 90


(noventa) dias, providenciando a adequação do sistema de tratamento de esgoto ou
construção de novo, atendendo a legislação e normas técnicas NBR's 7229 e 13969
da ABNT, caso já tenha feito apresentar documentos que comprovem, sob pena de
multa diária no valor de R$ 100,00 leem reais) até comprovação da regularização,
conforme art. 123 do Decreto 6514/2008.

No entanto, o Condomínio já sanou a irregularidade apontada pelo fiscal da


Floram no momento da fiscalização, e inclusive, construiu um novo sumidouro, retirando o
aludido extravasor, conforme consta na documentação dos autos de origem, de modo que não
há de se falar em obrigação de fazer sob pena de multa diária.

Portanto, requer seja concedido efeito suspensivo ao recurso até seu


julgamento definitivo, para obstar a aplicação de multa diária.

4. DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

a) Seja concedido efeito suspensivo ao presente recurso hierárquico, ante o justo receio de
prejuízo de difícil ou incerta reparação consubstanciado em multa diária.

b) Seja conhecido e provido o recurso hierárquico, para reformar a decisão da autoridade


julgadora de primeira instância, declarando nulo o auto de infração ambiental epigrafado,
pela violação ao princípio da intranscendência das penas em razão de não ter sido o
Recorrente que instalou o aludido extravasor.

c) Requer a intimação do Recorrente no seu endereço, por via postal com aviso de
recebimento, de todos os atos processuais, sob pena de nulidade.

Requer e espera provimento.

Florianópolis/SC, 12 de fevereiro de 2021.

ADVOGADO
OAB/SC

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