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Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar o percurso e construção histórica do
poder de requisição da Defensoria Pública, que culminou na improcedência Ação Direta de
Inconstitucionalidade 6.852/DF, proposta pelo Procurador-Geral da República, na tentativa de
invalidar tal prerrogativa institucional, e julgada pelo Supremo Tribunal Federal, ocasião em
que houve a confirmação do poder de requisição, a ser pautado pela responsabilidade e pela
ética de cada membro defensorial, como instrumento institucional. Foram utilizados elementos
históricos, legais e jurisprudenciais. A partir desse fluxo de raciocínio, é que se construiu a
reflexão acerca do contexto histórico desde a antiga figura romana do tribunus plebis, e da
importância da concretização da ampla defesa, munida de isonomia e capacidade eficiente em
realizar, por todos os meios legais, sua maior expressão, qual seja, o direito à produção
probatória.
Abstract: The present work aims to present the trajectory and historical construction of the
Public Defender's requisition power, which culminated in the dismissal of Direct Action of
Unconstitutionality 6.852/DF, proposed by the Attorney General of the Republic, in an attempt
to invalidate such institutional prerogative, and judged by the Federal Supreme Court, when
there was confirmation of the power of requisition, to be guided by the responsibility and ethics
of each defense member, as an institutional instrument. Historical, legal and jurisprudential
elements were used. Based on this flow of reasoning, the reflection was built on the historical
context since the ancient Roman figure of the tribunus plebis, and on the importance of
achieving a broad defense, equipped with isonomy and efficient capacity to carry out, by all
legal means, its greatest expression, namely, the right to produce evidence.
Introdução
Ao iniciar os levantamentos derivados das inquietações para escrever o presente texto,
podemos constatar que o direito a uma defesa de qualidade decorre, primeiro, de uma evolução
natural da sociedade, em termos de civilização mesmo, quando se começa a conscientização
da racionalidade da limitação do uso do poder, que depois vai ficar consagrada histórica e
1
Defensor Público do Estado de Alagoas. Pós-graduando em: Perícia Criminal.
constitucionalmente no cânone do devido processo legal; e, segundo, decorre, a rigor, de um
passado histórico de certa forma imemorial, como sói ocorrer com a construção e a
consolidação das instituições sociais e, mais propriamente ainda, dos chamados institutos
jurídicos.
É dizer, o direito a uma defesa jurídica de qualidade (que nasceu como a direito a uma defesa,
sem adjetivação), irradiado do cânone do devido processo legal, nasceu difusamente, podendo-
se concluir, originado da lenta evolução civilizatória, ou até mesmo do sentimento caritativo
de matriz religiosa.
Na transcrição dos pensamentos componentes desta reflexão, buscamos, mesmo que de modo
ainda incipiente, conjugar elementos históricos, legais e jurisprudenciais que estabeleçam um
fio condutor direcionado à estima e à valorização desse direito fundamental, que é o direito
universal, isto é, para todas as pessoas, sem exceção, a uma defesa jurídica de qualidade.
No primeiro capítulo, pois, tentamos buscar um contexto histórico da origem e da verdadeira
importância desse direito, busca esta que encontrou referência identitária na remota e peculiar
figura do tribunus plebis (tribuno da plebe), que desempenhou uma magistratura sui generis de
fundamental relevo na atmosfera da República Romana.
Nesse mesmo intento, girando o molde para terras brasileiras, assinalamos referência nas
Ordenações Filipinas, na atuação caritativa estimulada pelo Instituto Brasileiro de Advocacia
e na gestação da institucionalização da Defensoria Pública inicialmente dentro das estruturas
organizacionais do Ministério Público e da Advocacia Pública.
No segundo capítulo, desdobramos e enaltecemos a indispensabilidade do aprimoramento da
interlocução institucional com os órgãos de segurança pública, para além de uma exclusividade
do Ministério Público, como inafastável expressão do direito à prova. A propósito,
contrastamos o caráter privativo da titularidade da ação penal com a ausência da mesma nota
de exclusividade na interlocução institucional e nem mesmo quanto ao controle externo da
atividade policial, que a rigor trata-se deveria se tratar de um, por que não, rigoroso controle
social de prestação de contas de caráter abrangente, como possibilitado pela Lei de Acesso à
Informação (Lei 12.527/11), a qual, como se sabe, resulta dos marcos de controle da atividade
da administração pública insculpidos constitucionalmente.
Por fim, no terceiro capítulo, pautados pelo posicionamento do Supremo Tribunal Federal na
ADI 6852, cujo acórdão foi publicado em 29.03.22, enaltecemos a responsabilidade
institucional e ética que incumbe à Defensora Pública ao lhe confirmada a prerrogativa do
poder de requisição como instrumento institucional, em decorrência do seu regime normativo,
fixado em seu estatuto nacional (Lei Complementar 80/94) e amparado com realce
constitucional, sempre direcionado à concretização horizontal do devido processo legal.
Adicionalmente, na esteira da análise dos votos escritos na ADI 6852, frisamos que o STF
reconheceu o poder de requisição à Defensoria Pública como poder implícito, expressão do
princípio da isonomia em similitude e paralelismo com o mesmo poder conferido ao Ministério
Público, para equiparação de forças institucionais, dentre outros argumentos também
referenciados no decorrer do capítulo.
Com precisão, no desenvolvimento do voto, aduziu acerca da distinção do regime jurídico entre
Defensoria Pública e Advocacia, com o estabelecimento de maior semelhança e equiparação
daquela com o Ministério Público, especialmente a partir da EC 80/14:
“O Poder Constituinte Reformador evidenciou, inclusive, a distinção entre as atividades da
Defensoria Pública e da Advocacia, ao estabelecer seções diversas, na alocação do texto
constitucional, para cada uma dessas funções essenciais à justiça, as quais, antes da
promulgação da EC 80/2014, estavam disciplinadas conjuntamente.
(...)
O paralelismo deontológico e axiológico entre a Defensoria Pública e o Ministério Público foi
muito bem ressaltado pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL na ADI 5296, no voto condutor
da eminente Relatora, a Ministra ROSA WEBER (...).”
Por sua vez, o Min. Gilmar Mendes enfatizou a relevância da EC 80/14 para o fortalecimento
de um regime jurídico diferenciado à Defensoria Pública:
“Com o advento da Emenda Constitucional 80/2014, qualquer possibilidade de crise
identitária da instituição foi sanada. (...)
Nesse ponto, é claro que não se pode limitar a Defensoria Pública, nos atuais moldes, a um
mero conjunto de defensores dativos. Tal se consubstancia em visão ultrapassada, que ignora
a interpretação sistemática a ser feita. A topografia constitucional atual, ademais, não deixa
margem a dúvidas de que são funções essenciais à Justiça, em categorias apartadas, mas
complementares: Ministério Público, Advocacia Pública, Advocacia e Defensoria Pública.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS