DISCIPLINA: DIREITO INTERNACIONAL
Finalidades Específicas: Os protocolos são
PROFESSORA: CARLA NOURA TEIXEIRA
ATIVIDADE 01: Leitura de texto sobre Tratados
Internacionais e realização de questionário.
Temas:
1. Conceito
2. Terminologia
3. Classificação dos Tratados Internacionais
4. Gênese dos Tratados Internacionais –
negociações
5. Assinatura dos Tratados Internacionais
6. Importância da Língua – o idioma
7. Manifestação de Consentimento: ratificação e
adesão
8. Sistemática brasileira frente aos Tratados
Internacionais
9. Reservas
10. Vigência do Tratado Internacional
11. Vícios de Consentimento - Nulidades dos
Tratados Internacionais – art. 69 da Convenção de Viena
12. Extinção dos Tratados Internacionais – Arts. 54,
55, 56, 59, 60, 61, 62, 63, e 70 da Convenção de Viena.
QUESTIONÁRIO:
1) A expressão Protocolo induz dependência do
Tratado Internacional a outro compromisso
internacional?
A expressão "Protocolo", no contexto do direito
internacional, é bastante ampla e pode ter diferentes
significados dependendo do contexto em que é utilizada.
No entanto, um entendimento comum é que um
protocolo é um tipo de tratado ou acordo internacional
que se relaciona com outro tratado de maneira
complementar, modificativa ou de implementação.
1. Dependência e Complementaridade: Um
protocolo muitas vezes é dependente de um tratado
principal, no sentido de que ele é criado para
complementar, modificar, ou detalhar as disposições
desse tratado. Por exemplo, o Protocolo de Kyoto,
adotado em 1997, é um protocolo ao tratado da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima (UNFCCC), de 1992. O Protocolo de Kyoto
complementa a UNFCCC estabelecendo obrigações legais
específicas para a redução de emissões de gases de efeito
estufa.
2. Autonomia: Embora muitos protocolos sejam
criados em relação a um tratado principal e possam
depender dele para seu contexto e aplicação, isso não
significa que todos os protocolos sejam juridicamente
inseparáveis de outros compromissos internacionais.
Alguns protocolos podem ser tratados como acordos
independentes, que possuem suas próprias disposições e
mecanismos de entrada em vigor, embora ainda estejam
relacionados a um tratado principal de alguma forma.
3.
frequentemente utilizados para abordar questões
específicas que não foram totalmente resolvidas no
tratado principal ou que surgiram após a conclusão do
tratado. Isso permite que os Estados Partes adaptem ou
expandam suas obrigações internacionais de forma mais
flexível, sem a necessidade de renegociar o tratado
principal.
4. Processo de Adesão: A adesão a um protocolo
pode ser condicionada à adesão ao tratado principal, mas
isso varia de acordo com as disposições específicas de
cada protocolo. Em alguns casos, países podem aderir a
um protocolo sem serem partes do tratado principal, se
isso for permitido pelo texto do protocolo.
Em resumo, a relação entre um protocolo e um
tratado internacional pode variar significativamente.
Embora muitos protocolos sejam de fato dependentes e
sirvam para complementar ou modificar tratados
principais, cada protocolo tem suas próprias
características, objetivos e requisitos de adesão, que
podem permitir certo grau de autonomia em relação ao
tratado ao qual estão associados. A análise específica da
dependência de um protocolo a outro compromisso
internacional requer uma avaliação detalhada do texto do
protocolo em questão e do tratado relacionado.
2) Disserte sobre a classificação dos tratados
segundo os seguintes critérios: a) Número de partes; b)
Possibilidade de participação; c) Modo de entrada em
vigor; e d) Quanto à matéria regulada.
A classificação dos tratados internacionais é um
tema complexo e multifacetado, refletindo a diversidade e
a complexidade das relações internacionais. Os tratados,
enquanto instrumentos legais vinculativos entre Estados
e/ou organizações internacionais, podem ser classificados
segundo diversos critérios, entre os quais se destacam: o
número de partes envolvidas, a possibilidade de
participação por outros Estados, o modo de entrada em
vigor, e a matéria regulada. Vamos explorar cada um
desses critérios detalhadamente.
a) Número de partes
Os tratados podem ser classificados, quanto ao
número de partes, em bilaterais e multilaterais.
- Tratados bilaterais são aqueles celebrados entre
dois sujeitos de Direito Internacional, geralmente dois
Estados. Este tipo de tratado foca em questões específicas
de interesse mútuo entre as partes, como acordos de
comércio, defesa ou fronteiras.
- Tratados multilaterais envolvem três ou mais
partes. Eles tendem a abordar questões de interesse
comum a uma ampla gama de países, podendo
estabelecer normas de comportamento ou criar
organizações internacionais. Exemplos incluem a
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e a
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança
do Clima.
b) Possibilidade de participação
Quanto à possibilidade de participação, os tratados
podem ser abertos ou fechados.
- Tratados abertos são aqueles que permitem a
adesão de outros Estados que não participaram das
negociações iniciais, desde que cumpram certos critérios
estabelecidos no tratado.
- Tratados fechados são limitados aos Estados que
originalmente negociaram e assinaram o acordo, não
permitindo a adesão de novos membros posteriormente.
c) Modo de entrada em vigor
A entrada em vigor de um tratado pode ocorrer de
diferentes maneiras, dependendo de suas disposições
específicas.
- Alguns tratados entram em vigor assim que são
assinados, enquanto outros exigem a ratificação ou
adesão dos Estados partes para que se tornem legalmente
vinculativos.
- Em muitos casos, um tratado multilateral
especificará que entrará em vigor após um determinado
número de Estados terem depositado seus instrumentos
de ratificação ou adesão.
d) Quanto à matéria regulada
Os tratados também podem ser classificados de
acordo com a matéria que regulam, abrangendo uma
ampla gama de áreas, como:
- Tratados de Direitos Humanos: visam proteger e
promover os direitos e liberdades fundamentais dos
indivíduos, como a Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(CEDAW).
- Tratados de Comércio: buscam regular as relações
comerciais entre os Estados partes, como o Tratado
Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA).
- Tratados Ambientais: destinam-se a proteger e
conservar o meio ambiente, como o Protocolo de Quioto.
- Tratados de Defesa: relacionam-se com a
segurança coletiva e a defesa mútua, como a Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Esta classificação dos tratados, embora não
exaustiva, oferece uma visão geral das várias formas como
os tratados podem ser organizados e compreendidos no
contexto do Direito Internacional. Cada categoria reflete
diferentes objetivos, procedimentos, e implicações legais,
sublinhando a complexidade e a riqueza do Direito dos
Tratados como campo de estudo e prática.
3) A que se refere o requisito da publicidade no
tocante aos Tratados Internacionais?
O requisito da publicidade no contexto dos Tratados
Internacionais é um princípio fundamental que assegura a
transparência e o acesso à informação sobre esses
acordos. Vamos explorar este conceito em detalhes para
entender sua importância e aplicação.
Significado e Importância
A publicidade, no âmbito dos tratados
internacionais, refere-se à obrigação de tornar o conteúdo
e a existência do tratado acessíveis ao público e às partes
interessadas. Este requisito visa garantir que os Estados,
as organizações internacionais, os cidadãos e outras
entidades tenham conhecimento dos compromissos
assumidos pelos Estados e possam monitorar sua
implementação. A transparência promovida pela
publicidade é essencial para a confiança mútua entre os
Estados e para o funcionamento eficaz do direito
internacional.
Aspectos Legais e Convenções Relevantes
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
de 1969, que é um instrumento fundamental no direito
dos tratados, estabelece normas sobre a celebração,
aplicação e interpretação dos tratados. Embora não
especifique diretamente o princípio da publicidade,
implica a necessidade de transparência ao estabelecer
procedimentos para o registro e a publicação de tratados
nas Nações Unidas, conforme estipulado no Artigo 102 da
Carta das Nações Unidas. Este artigo exige que todos os
tratados e acordos internacionais sejam registrados e
publicados pela Secretaria da ONU, tornando-os acessíveis
aos Estados membros e ao público.
Implementação e Desafios
Na prática, a implementação do requisito de
publicidade envolve várias etapas, incluindo a assinatura,
ratificação e, posteriormente, a publicação do texto do
tratado em fontes acessíveis, como jornais oficiais, diários
da República ou bases de dados eletrônicas
governamentais e internacionais. No entanto, existem
desafios, como a demora na publicação de tratados, a
dificuldade de acesso em regiões remotas ou para pessoas
sem acesso à internet, e a questão da disponibilidade de
traduções em idiomas compreensíveis para todas as
partes interessadas.
Conclusão
O requisito da publicidade é essencial para a
eficácia e a legitimidade dos tratados internacionais.
Promove a transparência, permite a fiscalização por parte
dos Estados e da sociedade civil e contribui para a
prevenção de conflitos ao assegurar que os compromissos
internacionais sejam conhecidos e compreendidos. Apesar
dos desafios na sua implementação, os esforços contínuos
para melhorar o acesso à informação sobre tratados são
cruciais para o fortalecimento do direito internacional e
das relações internacionais baseadas em regras e na
confiança mútua.
 4) Faça a distinção entre tratado guarda-chuva e
tratado-quadro.
A distinção entre um tratado guarda-chuva e um
tratado-quadro reside principalmente na sua abordagem e
estrutura para lidar com questões internacionais
complexas, especialmente no âmbito do direito
internacional e das relações internacionais. Vou detalhar
cada um para uma compreensão mais aprofundada.
Tratado Guarda-Chuva
Um tratado guarda-chuva é um tipo de acordo
internacional que abrange uma ampla gama de questões
relacionadas a um tema específico, oferecendo um
"guarda-chuva" sob o qual vários acordos mais detalhados
ou específicos podem ser negociados e implementados.
Este tipo de tratado estabelece princípios gerais e
objetivos amplos, deixando espaço para acordos
subsequentes que detalham a implementação desses
princípios e objetivos.
Por exemplo, um tratado guarda-chuva na área de
desarmamento nuclear pode estabelecer o compromisso
geral dos signatários em trabalhar em direção à redução
de armas nucleares, sem entrar em detalhes específicos
sobre como isso será alcançado. Acordos subsequentes
sob este guarda-chuva poderiam então abordar questões
específicas como inspeções, reduções numéricas de
ogivas, e medidas de verificação.
Tratado-Quadro
Um tratado-quadro, por outro lado, é um tipo de
acordo que estabelece uma estrutura legal ou
institucional básica dentro da qual as partes podem
cooperar em questões específicas. Este tipo de tratado
normalmente não se destina a resolver todas as questões
relacionadas a um tema de imediato, mas a fornecer uma
estrutura para negociações e acordos futuros mais
detalhados. Tratados-quadro muitas vezes incluem
disposições sobre como serão tomadas decisões, como as
partes podem se juntar ou sair do tratado, e como
disputas serão resolvidas.
Um exemplo clássico de tratado-quadro é a
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima (UNFCCC), que estabelece uma estrutura para a
cooperação internacional na luta contra a mudança
climática. A UNFCCC não estabelece metas específicas de
redução de emissões para os países; em vez disso, serve
como uma plataforma para negociações subsequentes
que levaram a acordos mais específicos, como o Protocolo
de Kyoto e o Acordo de Paris.
Diferenças Chave
- Abordagem e Escopo: O tratado guarda-chuva
tende a abordar um tema amplo com princípios gerais,
enquanto o tratado-quadro estabelece uma estrutura
para cooperação e negociações futuras.
- Detalhamento: Tratados guarda-chuva geralmente
deixam detalhes específicos para acordos futuros sob seu
"guarda-chuva", enquanto tratados-quadro focam em
estabelecer uma estrutura legal ou institucional para esses
futuros detalhamentos.
- Objetivo: O objetivo de um tratado guarda-chuva é
cobrir um tema amplo com um acordo abrangente,
enquanto o tratado-quadro visa criar uma base para
cooperação contínua e negociações detalhadas.
Ambos os tipos de tratados são fundamentais no
direito e nas relações internacionais, permitindo que os
países abordem questões complexas e multifacetadas de
maneira estruturada e progressiva.
5) Quais os efeitos no direito brasileiro da distinção
entre tratados-leis e tratados-contratos?
A distinção entre tratados-leis e tratados-contratos
no direito brasileiro tem implicações significativas, tanto
do ponto de vista do direito interno quanto do direito
internacional. Essa diferenciação é fundamental para
entender como os tratados são incorporados e aplicados
no Brasil, bem como suas consequências jurídicas.
Tratados-Leis
Os tratados-leis são aqueles tratados que criam
normas gerais e abstratas, destinadas a produzir efeitos
jurídicos de maneira ampla e uniforme para todos os
Estados Partes. Eles têm por objetivo estabelecer regras
que se aplicam indistintamente, sem focar em situações
particulares de relações específicas entre Estados. No
direito brasileiro, esses tratados, uma vez ratificados e
promulgados, integram o ordenamento jurídico como
norma supralegal, posicionando-se abaixo da Constituição
mas acima da legislação interna. Isso significa que, em
caso de conflito entre uma norma interna e o tratado,
prevalece o tratado.
Tratados-Contratos
Já os tratados-contratos são acordos que têm por
objeto relações específicas entre Estados, criando
obrigações e direitos específicos para as partes. Eles são
comparáveis aos contratos do direito privado, pois
regulam interesses particulares dos Estados que os
assinam. No direito brasileiro, esses tratados também são
incorporados ao ordenamento jurídico mediante
ratificação e promulgação, mas sua aplicação é mais
restrita às partes envolvidas e às matérias específicas que
regulam.
Efeitos Jurídicos da Distinção
1. Hierarquia Normativa: Enquanto os tratados-leis
têm uma posição hierárquica supralegal, os tratados-
contratos, por regularem relações específicas, são
frequentemente interpretados à luz das regras específicas
que eles estabelecem, sem necessariamente afetar a
hierarquia geral das normas.
2. Aplicabilidade Direta: Os tratados-leis, por serem
normas gerais e abstratas, tendem a ter aplicabilidade
direta, podendo ser invocados por indivíduos em juízo. Já
os tratados-contratos, por tratarem de questões
específicas entre Estados, muitas vezes requerem atos
normativos internos para sua execução e aplicação.
3. Conflito Normativo: Em caso de conflito entre
um tratado-lei e uma lei interna posterior, prevalece a
norma mais favorável aos direitos humanos, conforme o
entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a
matéria. No caso dos tratados-contratos, a análise de
conflitos normativos pode ser mais complexa,
dependendo do objeto e das partes envolvidas.
4. Controle de Constitucionalidade: Os tratados-
leis, assim como qualquer outra norma que integre o
ordenamento jurídico brasileiro, estão sujeitos ao controle
de constitucionalidade. Os tratados-contratos, embora
também sujeitos a esse controle, são analisados
principalmente sob a ótica das obrigações específicas que
estabelecem entre as partes.
Conclusão
A distinção entre tratados-leis e tratados-contratos
no direito brasileiro é crucial para compreender a forma
como esses instrumentos internacionais são incorporados
e aplicados no país. Essa diferenciação afeta a hierarquia
normativa, a aplicabilidade, o tratamento de conflitos
normativos e o controle de constitucionalidade,
evidenciando a complexidade do direito internacional no
contexto jurídico nacional.
6) Como ocorre a conclusão dos Tratados
Internacionais?
A conclusão de Tratados Internacionais é um
processo complexo e detalhado que envolve várias
etapas. Os tratados são acordos formais entre Estados (e,
em alguns casos, organizações internacionais) regidos
pelo direito internacional. O processo de conclusão desses
tratados pode variar dependendo das leis e
procedimentos internos de cada país, bem como das
regras estabelecidas em tratados anteriores, como a
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969.
Aqui, delinearei o processo geralmente seguido para a
conclusão de tratados internacionais:
1. Negociação: A primeira fase envolve a
negociação entre as partes interessadas. Durante esta
etapa, os representantes dos Estados ou organizações
discutem os termos e condições do tratado. As
negociações podem ser diretas ou através de conferências
internacionais. O objetivo é chegar a um consenso sobre o
texto do tratado.
2. Assinatura: Após as negociações, o tratado é
redigido e assinado pelos representantes dos Estados. A
assinatura indica a concordância preliminar com o
tratado, mas não o vincula juridicamente. Serve
principalmente como um ato de boa fé, indicando que os
Estados pretendem continuar com o processo de
ratificação.
3. Ratificação: Este é o processo pelo qual um
Estado expressa seu consentimento em ser vinculado pelo
tratado. A ratificação pode exigir a aprovação do tratado
por um órgão legislativo nacional, como o Parlamento ou
o Congresso, dependendo do sistema jurídico do país. A
ratificação formaliza a intenção do Estado de cumprir os
termos do tratado.
4. Depósito: Após a ratificação, o instrumento de
ratificação (um documento que formaliza o
consentimento do Estado em estar vinculado pelo
tratado) é depositado junto a uma autoridade designada,
que pode ser um dos Estados partes, uma organização
internacional ou outro ente designado no tratado.
5. Entrada em vigor: O tratado entra em vigor
quando um número especificado de Estados o ratificou e
depositou seus instrumentos de ratificação, conforme
estipulado no próprio tratado. A entrada em vigor marca o
momento em que o tratado se torna juridicamente
vinculante para os Estados partes.
6. Implementação: Após a entrada em vigor, os
Estados partes implementam o tratado em sua legislação
nacional, conforme necessário. Isso pode envolver a
adoção de novas leis ou a modificação das existentes para
garantir a conformidade com os termos do tratado.
7. Reservas e declarações: Durante o processo de
ratificação ou adesão, um Estado pode fazer reservas ou
declarações com relação a certas disposições do tratado.
Isso significa que o Estado pretende excluir ou modificar o
efeito jurídico de certas disposições do tratado em relação
a si mesmo.
O processo de conclusão de tratados é fundamental
para a cooperação internacional e o desenvolvimento do
direito internacional. Ele reflete o compromisso dos
Estados com a ordem jurídica internacional e a
cooperação mútua em diversas áreas, como comércio,
direitos humanos, proteção ambiental e segurança
coletiva.
7) Qual é a importância do idioma na consecução
dos Tratados Internacionais?
A importância do idioma na consecução dos
Tratados Internacionais é multifacetada e profundamente
enraizada nas dinâmicas de comunicação, compreensão
legal e cultural, e na eficácia da implementação desses
acordos. A linguagem não é apenas um veículo para a
articulação de compromissos e direitos, mas também uma
ferramenta essencial para a negociação, interpretação e
aplicação de tratados em um contexto global. Vamos
explorar essas dimensões em detalhe.
Facilitação da Comunicação e Negociação
O idioma desempenha um papel crucial nas fases
iniciais de negociação dos tratados, onde a clareza da
comunicação é fundamental para o entendimento mútuo
entre as partes. A escolha de um idioma comum ou de
vários idiomas oficiais permite que todas as partes
envolvidas expressem suas posições, necessidades e
reservas de maneira eficaz, minimizando mal-entendidos
que podem levar a conflitos ou interpretações errôneas
dos termos do tratado.
Precisão na Formulação Legal
A redação de um tratado internacional requer uma
precisão linguística impecável, pois cada palavra pode ter
implicações significativas em termos de obrigações legais
e direitos dos Estados partes. O uso cuidadoso do idioma
ajuda a evitar ambiguidades e disputas sobre a
interpretação do tratado. Além disso, a tradução jurídica
exata entre vários idiomas oficiais garante que o tratado
mantenha sua integridade e intenção em todas as
jurisdições.
Respeito pela Diversidade Cultural e Linguística
O reconhecimento de múltiplos idiomas nos
tratados internacionais também reflete o respeito pela
diversidade cultural e linguística dos Estados partes. Isso
não apenas facilita uma participação mais inclusiva nas
negociações, mas também promove a aceitação e o
respeito mútuo entre as nações. A inclusão de várias
línguas pode aumentar a legitimidade e a aceitação do
tratado, pois as partes se sentem reconhecidas e
respeitadas em suas especificidades culturais e
linguísticas.
Implementação e Cumprimento
Para a eficaz implementação e cumprimento dos
tratados, é essencial que os textos sejam compreensíveis
para todas as partes envolvidas, incluindo autoridades
nacionais, instituições e o público em geral. Traduções
precisas e acessibilidade linguística garantem que os
tratados sejam corretamente interpretados e aplicados
em diferentes contextos nacionais. Isso é crucial para a
harmonização das políticas e práticas nacionais com as
obrigações internacionais.
Resolução de Disputas
Na eventualidade de disputas relativas à
interpretação ou aplicação de um tratado, a clareza
linguística e a precisão são fundamentais para uma
resolução justa. Tribunais e órgãos de arbitragem
internacional frequentemente se deparam com a tarefa
de interpretar tratados em diferentes idiomas, onde a
fidelidade ao texto original e a intenção das partes é
primordial.
Conclusão
Em resumo, o idioma é um pilar central na
estruturação, negociação, implementação e interpretação
dos Tratados Internacionais. Ele não apenas facilita uma
comunicação eficaz e minimiza mal-entendidos, mas
também reflete a diversidade cultural, promove a inclusão
e garante a precisão legal necessária para a eficácia destes
instrumentos globais. A escolha e o uso cuidadoso do
idioma em tratados internacionais são, portanto,
essenciais para a cooperação internacional harmoniosa e
efetiva.
8) Explique o conteúdo dos seguintes termos em
relação aos Tratados Internacionais: ratificação, adesão e
denúncia.
Os termos "ratificação", "adesão" e "denúncia" são
fundamentais no contexto dos Tratados Internacionais,
representando diferentes estágios e ações que os Estados
podem tomar em relação a esses acordos. Vamos detalhar
cada um desses conceitos para compreender melhor suas
implicações no direito internacional.
Ratificação
A ratificação é um ato pelo qual um Estado indica
seu consentimento em ser vinculado por um tratado
internacional. Este processo ocorre após a assinatura do
tratado, servindo como um segundo passo formal na
aceitação de suas disposições. A assinatura do tratado
indica a intenção preliminar de aderir ao tratado,
enquanto a ratificação é a confirmação oficial dessa
intenção.
A ratificação permite que os Estados examinem o
tratado internamente e adotem as medidas necessárias
para sua implementação antes de se comprometerem
formalmente. Esse processo pode envolver, por exemplo,
a aprovação do tratado pelo parlamento do Estado ou
outra autoridade legislativa. Apenas após a ratificação, o
Estado se torna parte do tratado com todas as obrigações
que isso implica.
Adesão
A adesão é um processo similar à ratificação, mas é
utilizado por Estados que não participaram das
negociações ou da assinatura do tratado. Através da
adesão, um Estado pode se tornar parte de um tratado
internacional após este já ter entrado em vigor. O
processo de adesão geralmente requer que o Estado
aderente aceite as condições do tratado conforme
estabelecido pelos Estados participantes originais.
A adesão é particularmente importante para
tratados abertos, que são projetados para permitir que
novos membros se juntem mesmo após o tratado ter sido
estabelecido e ter entrado em vigor. Isso facilita a
expansão do número de partes em tratados importantes,
promovendo a cooperação internacional em diversas
áreas.
Denúncia
A denúncia é o processo pelo qual um Estado
manifesta sua intenção de retirar-se de um tratado
internacional. Este ato é uma prerrogativa soberana, mas
deve ser realizado de acordo com as disposições do
próprio tratado, que geralmente especifica as condições e
o procedimento para tal retirada.
A denúncia pode ter várias motivações, incluindo
mudanças políticas internas, discordâncias sobre a
interpretação ou implementação do tratado, ou a crença
de que o tratado não serve mais aos interesses do Estado.
Uma vez efetivada, a denúncia resulta na cessação das
obrigações do tratado para o Estado denunciante, embora
geralmente haja um período de espera entre a notificação
da denúncia e a efetivação da retirada, durante o qual o
Estado ainda é considerado parte do tratado.
Esses conceitos são cruciais para a dinâmica dos
tratados internacionais, refletindo a complexidade das
relações internacionais e a necessidade de mecanismos
que permitam aos Estados gerenciar sua participação em
acordos internacionais de forma flexível e responsável.
9) O que consiste a reserva nos Tratados
Internacionais? Explique seus efeitos.
A reserva nos Tratados Internacionais é um
conceito jurídico de grande relevância no direito
internacional público, permitindo que os Estados
manifestem, no momento da assinatura, ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão a um tratado, a intenção
de não se considerarem vinculados a determinadas
disposições deste tratado. Essas reservas são declarações
unilaterais por meio das quais um Estado procura
modificar ou excluir os efeitos jurídicos de certos aspectos
do tratado em sua aplicação a esse Estado, criando assim
uma exceção personalizada às suas obrigações sob o
tratado.
Efeitos das Reservas nos Tratados Internacionais
1. Modificação das Obrigações do Tratado para o
Estado que Faz a Reserva
O principal efeito de uma reserva é permitir que um
Estado se torne parte de um tratado internacional sem se
comprometer com todas as suas disposições. Isso significa
que as disposições específicas às quais a reserva se aplica
não serão aplicáveis a esse Estado, alterando assim o
escopo de suas obrigações legais sob o tratado. Essa
flexibilidade é crucial para que Estados com diferentes
sistemas jurídicos, políticos e culturais possam aderir a
tratados internacionais abrangentes, facilitando assim
uma maior adesão global.
2. Impacto nas Relações entre os Estados Partes
As reservas também podem afetar as relações entre
os Estados partes de um tratado. De acordo com a regra
da reciprocidade, um Estado parte pode aplicar a mesma
reserva em relação ao Estado que a formulou. Isso
significa que se um Estado A faz uma reserva a um artigo
específico de um tratado, o Estado B, que é parte desse
tratado e não fez tal reserva, pode decidir que o artigo em
questão não se aplicará nas relações entre ele e o Estado
A. Essa dinâmica pode levar a uma complexidade nas
relações jurídicas internacionais, com diferentes Estados
tendo diferentes obrigações uns para com os outros sob o
mesmo tratado.
3. Possíveis Limitações às Reservas
É importante notar que há limitações ao uso de
reservas. A Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados de 1969 estabelece que uma reserva não é
permitida se for incompatível com o objeto e o propósito
do tratado. Além disso, alguns tratados especificam
expressamente quais disposições podem ou não ser
objeto de reservas. Essas limitações visam preservar a
integridade e os objetivos fundamentais dos tratados
internacionais, garantindo que as reservas não minem a
eficácia geral do acordo.
4. Efeitos Jurídicos e Políticos
As reservas podem ter tanto efeitos jurídicos
quanto políticos. Juridicamente, alteram as obrigações do
Estado sob o tratado. Politicamente, a formulação de uma
reserva pode ser vista como uma vontade de
compromisso, permitindo a adesão a um tratado
enquanto se protegem interesses nacionais específicos.
No entanto, reservas amplas ou controversas podem
também gerar tensões diplomáticas, especialmente se
outros Estados partes considerarem que tais reservas
comprometem significativamente o tratado.
Em suma, as reservas desempenham um papel
crucial na facilitação da participação dos Estados em
tratados internacionais, permitindo um equilíbrio entre a
adesão aos objetivos comuns e a proteção dos interesses
nacionais específicos. Contudo, seu uso é cuidadosamente
regulado para assegurar que não comprometam a eficácia
e os propósitos fundamentais dos tratados internacionais.
10) Como ocorre a vigência dos Tratados
Internacionais?
A vigência dos Tratados Internacionais é um
processo que envolve várias etapas e princípios,
fundamentados principalmente pelo Direito Internacional
Público. Os tratados são acordos formais entre dois ou
mais sujeitos de direito internacional, geralmente Estados
ou organizações internacionais, com o objetivo de criar,
modificar ou extinguir relações jurídicas entre eles. Para
que um tratado entre em vigor e se torne vinculante para
as partes envolvidas, diversas fases devem ser cumpridas:
1. Negociação: É o primeiro passo, onde os
representantes dos Estados ou organizações discutem os
termos do tratado. As negociações podem ser diretas ou
através de conferências internacionais.
2. Assinatura: Após a conclusão das negociações, o
tratado é assinado pelos representantes dos Estados. A
assinatura indica a concordância preliminar com o
tratado, mas não o torna obrigatório. Serve
principalmente como um ato de fé de que o Estado
seguirá os procedimentos internos necessários para a
ratificação.
3. Ratificação: Este é o processo pelo qual um
Estado expressa seu consentimento em ser vinculado pelo
tratado, geralmente após a aprovação conforme os
procedimentos internos de cada país, que podem incluir a
aprovação pelo parlamento ou pelo chefe de Estado. A
ratificação é um passo crucial para a vigência do tratado
em relação a esse Estado.
4. Depósito: A ratificação é formalizada pelo
depósito de um instrumento de ratificação junto a uma
autoridade designada, frequentemente um país ou uma
organização internacional que atua como depositário do
tratado.
5. Entrada em Vigor: A maioria dos tratados
estabelece em seus textos as condições para sua entrada
em vigor, que geralmente ocorre após um número
específico de Estados terem depositado seus
instrumentos de ratificação. Alguns tratados entram em
vigor imediatamente após a ratificação por um número
acordado de partes, enquanto outros podem especificar
um período de tempo após o qual o tratado entra em
vigor.
6. Adesão: Estados que não participaram das
negociações ou da assinatura do tratado podem, em
muitos casos, aderir ao tratado posteriormente. A adesão
tem o mesmo efeito legal que a ratificação.
7. Reservas: Durante a ratificação, adesão ou em
momentos especificados pelo tratado, um Estado pode
fazer reservas, que são declarações visando excluir ou
modificar o efeito jurídico de certas disposições do
tratado em sua aplicação a esse Estado.
8. Publicação e Implementação: Após a entrada em
vigor, o tratado deve ser publicado de acordo com as leis
internas de cada Estado parte e implementado, se
necessário, através da adoção de legislação interna
apropriada.
A vigência de um tratado internacional é, portanto,
um processo complexo que envolve a interação entre o
direito internacional e o direito interno dos Estados. A
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969
é um dos principais instrumentos que regula a celebração,
entrada em vigor, aplicação e interpretação dos tratados
internacionais.
11) Quais as hipóteses de extinção dos Tratados
Internacionais?
A extinção de Tratados Internacionais pode ocorrer
sob diversas circunstâncias, sendo regulada
principalmente pela Convenção de Viena sobre o Direito
dos Tratados de 1969, que estabelece as normas gerais de
direito internacional para a criação, execução e extinção
de tratados entre Estados. Abaixo, detalho algumas das
principais hipóteses de extinção desses tratados:
1. Consentimento mútuo:
Os Estados partes de um tratado podem, a qualquer
momento, concordar mutuamente em terminá-lo,
modificar suas disposições ou suspender sua aplicação,
desde que tal acordo esteja em conformidade com o
tratado.
2. Conclusão do prazo:
Muitos tratados são estabelecidos por um período
de tempo específico. Ao chegar ao fim desse prazo, o
tratado automaticamente deixa de vigorar, a menos que
haja uma disposição para sua renovação.
3. Cumprimento do objetivo ou propósito:
Quando o objetivo ou propósito para o qual o
tratado foi estabelecido é alcançado, o tratado pode ser
considerado extinto.
4. Denúncia ou retirada:
Alguns tratados incluem cláusulas que permitem a
um Estado parte retirar-se unilateralmente do tratado
após o cumprimento de determinadas condições, como
notificação prévia dentro de um prazo específico.
5. Violação substancial:
Uma violação substancial de um tratado por uma
das partes pode dar às outras partes o direito de
considerar o tratado como terminado ou suspender a
aplicação de suas disposições. Uma violação substancial
geralmente envolve a violação de uma disposição
essencial para o cumprimento do objetivo do tratado.
6. Superveniência de uma nova norma de jus
cogens:
Se surgir uma nova norma imperativa de direito
internacional geral (jus cogens) que seja incompatível com
as disposições de um tratado, esse tratado torna-se nulo e
deve ser terminado.
7. Impossibilidade de cumprimento:
A impossibilidade de cumprimento, não resultante
de culpa de nenhuma das partes, como mudanças radicais
das circunstâncias, pode levar à extinção de um tratado.
8. Guerra e conflitos armados:
Embora não seja uma regra geral, certos conflitos
armados ou guerras podem afetar a aplicabilidade ou a
existência de tratados, especialmente se eles alterarem
radicalmente as condições sob as quais o tratado foi
concluído.
É importante notar que a extinção de tratados deve
sempre seguir os procedimentos estabelecidos no próprio
tratado, se houver, e na Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados. A prática e os princípios do direito
internacional também desempenham um papel crucial na
interpretação e aplicação dessas hipóteses de extinção.
12) Explique a ocorrência e os efeitos dos vícios de
consentimento nos Tratados Internacionais?
Os vícios de consentimento nos tratados
internacionais referem-se a situações em que o acordo
entre as partes é afetado por elementos que
comprometem a genuinidade da manifestação de
vontade. Esses vícios podem levar a questionamentos
sobre a validade e a eficácia do tratado. No Direito
Internacional, os principais vícios de consentimento são o
erro, o dolo, a corrupção do representante do Estado, a
coação e a violência.
1. Erro (Artigo 48 da Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados de 1969): Ocorre quando um Estado
entra em um tratado baseado em uma falsa percepção ou
entendimento incorreto de fatos ou de direito essenciais
àquele tratado. O erro deve ser substancial, ou seja, deve
ser de tal magnitude que, se não fosse pelo erro, o Estado
afetado não teria consentido em se vincular ao tratado.
2. Dolo (Artigo 49 da Convenção de Viena): Refere-
se à indução ao erro de um Estado por outro Estado
participante nas negociações. O dolo implica em
manipulação ou engano intencional para obter o
consentimento de um Estado em um tratado.
3. Corrupção do representante do Estado (Artigo
50 da Convenção de Viena): Ocorre quando o
consentimento de um Estado em um tratado foi obtido
por meio da corrupção direta ou indireta de seu
representante por outro Estado negociador. Isso
compromete a integridade do processo de negociação e a
validade do consentimento.
4. Coação sobre o representante do Estado (Artigo
51 da Convenção de Viena): Envolve atos ou ameaças
dirigidos contra o representante de um Estado para forçá-
lo a assinar um tratado. A coação pode ser física ou
psicológica, mas, em ambos os casos, torna o
consentimento inválido.
5. Coação sobre o Estado por ameaça ou uso da
força (Artigo 52 da Convenção de Viena): Esta disposição
proíbe o consentimento de um Estado em um tratado que
tenha sido obtido pela ameaça ou uso da força em
violação aos princípios fundamentais do direito
internacional consagrados na Carta das Nações Unidas.
Efeitos dos Vícios de Consentimento
A presença de vícios de consentimento pode levar à
invalidação do tratado. Um Estado afetado por um vício
de consentimento pode invocar esse vício como
justificativa para não cumprir as obrigações estabelecidas
no tratado ou para retirar-se ou terminar o tratado. No
entanto, a Convenção de Viena estabelece procedimentos
específicos e condições sob as quais os vícios de
consentimento podem ser invocados, incluindo prazos
para alegação de tais vícios após a descoberta.
É importante notar que a invocação de vícios de
consentimento deve ser feita de boa-fé e com a devida
consideração pelas consequências que tal ação pode ter
nas relações internacionais e na estabilidade dos tratados
internacionais como fonte de direito internacional. A
prática internacional mostra que os Estados são
geralmente cautelosos ao invocar vícios de
consentimento, muitas vezes preferindo buscar soluções
diplomáticas para resolver disputas relacionadas a
tratados.
ATIVIDADE 02: LEITURA DA CARTA DAS NAÇÕES
UNIDAS, DEBATES EM GRUPO E REALIZAÇÃO DE
QUESTIONÁRIO.
QUESTIONÁRIO:
1) O que consiste a Carta da ONU?
A Carta das Nações Unidas é o documento fundador
da Organização das Nações Unidas (ONU), assinado em 26
de junho de 1945, em São Francisco, ao final da
Conferência das Nações Unidas sobre Organização
Internacional. Ela entrou em vigor em 24 de outubro de
1945, após ser ratificada pelos cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança - China, França,
União Soviética, Reino Unido e Estados Unidos - e por uma
maioria dos outros 46 signatários. Esta data é agora
comemorada anualmente como o Dia das Nações Unidas.
A Carta da ONU estabelece os princípios
fundamentais, propósitos, estruturas e o funcionamento
da ONU. Ela foi criada com o objetivo de promover a paz e
a segurança internacionais, desenvolver relações
amistosas entre as nações e alcançar a cooperação
internacional em resolver problemas internacionais de
caráter econômico, social, cultural ou humanitário. A
Carta também promove o respeito pelos direitos humanos
e pelas liberdades fundamentais para todos, sem distinção
de raça, sexo, língua ou religião.
A Carta é composta por um preâmbulo e 111
artigos, divididos em 19 capítulos. Os principais elementos
da Carta incluem:
1. Princípios e Propósitos (Capítulos I e II):
Define os propósitos da ONU, como a manutenção
da paz e segurança internacionais, e estabelece os
princípios orientadores, incluindo a igualdade soberana de
todos os seus membros e a resolução de disputas por
meios pacíficos.
2. Membros (Capítulo II):
Descreve os critérios para a admissão e participação
dos Estados-membros.
3. Órgãos Principais (Capítulos III-V):
Estabelece os seis órgãos principais da ONU: a
Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho
Econômico e Social, o Conselho de Tutela, a Corte
Internacional de Justiça e o Secretariado.
4. Manutenção da Paz e Segurança
Internacionais (Capítulos VI-VIII):
Detalha os procedimentos para a resolução pacífica
de conflitos, ações em casos de ameaças à paz ou atos de
agressão, e disposições sobre o sistema de segurança
coletiva.
5. Arranjos Administrativos e
Orçamentários (Capítulos IX-XV):
Inclui disposições sobre cooperação econômica e
social internacional e estabelece a estrutura
administrativa da ONU.
 6. Disposições Transitórias e Finais
(Capítulos XVI-XIX):
Aborda questões de ratificação e possíveis
emendas à Carta.
A Carta da ONU representa um marco histórico no
direito internacional e na cooperação global,
estabelecendo um quadro para a ação coletiva em prol da
paz, segurança e bem-estar da humanidade. Ela reflete o
desejo dos povos do mundo de evitar a repetição dos
horrores da Segunda Guerra Mundial e de construir um
futuro baseado no respeito mútuo e na cooperação
internacional.
2) Qual é a finalidade principal da ONU?
A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada
em 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial,
com o objetivo primordial de promover a paz e a
segurança internacionais, evitando conflitos armados e
facilitando a cooperação entre os países. Além disso, a
ONU tem como finalidades:
1. Desenvolver relações amistosas entre as nações,
baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos
e da autodeterminação dos povos. Isso inclui esforços
para promover a justiça, a igualdade social e o
desenvolvimento econômico, especialmente em países
em desenvolvimento.
2. Cooperar na solução de problemas internacionais
de ordem econômica, social, cultural ou humanitária, e na
promoção e encorajamento do respeito aos direitos
humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem
distinção por raça, sexo, língua ou religião.
3. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das
nações para a consecução desses objetivos comuns.
A ONU atua em diversas áreas, incluindo
desenvolvimento sustentável, meio ambiente, refugiados,
combate ao terrorismo, desarmamento e não
proliferação, promoção da democracia, direitos humanos,
assistência humanitária, combate à pobreza, fome e
doenças. Ela funciona como uma plataforma para o
diálogo internacional, oferecendo um fórum para que os
países possam discutir e trabalhar juntos em questões
globais.
A organização é composta por 193 Estados-
membros e possui um sistema complexo de órgãos e
agências especializadas para lidar com uma vasta gama de
assuntos. Entre seus principais órgãos, estão a Assembleia
Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e
Social, o Tribunal Internacional de Justiça, e o
Secretariado, liderado pelo Secretário-Geral.
Através de suas missões de paz, programas de
desenvolvimento, iniciativas humanitárias e normas e
regulações internacionais, a ONU desempenha um papel
crucial na gestão de questões globais e na promoção de
um mundo mais seguro, justo e sustentável.
3) Como atua a Corte Internacional de Justiça?
A Corte Internacional de Justiça (CIJ), também
conhecida como Tribunal Internacional de Justiça, é o
principal órgão judiciário das Nações Unidas. Sua sede fica
em Haia, nos Países Baixos. A Corte tem um papel
fundamental no direito internacional, atuando
principalmente em duas grandes áreas: a solução de
controvérsias legais entre Estados (conhecido como
contencioso) e a emissão de pareceres consultivos sobre
questões legais apresentadas a ela por órgãos autorizados
e agências especializadas das Nações Unidas.
Funções e Procedimentos
1. Contencioso: A Corte tem a capacidade de
resolver disputas de natureza legal entre Estados que
reconhecem sua jurisdição. As disputas podem abranger
uma ampla gama de questões de direito internacional,
incluindo, mas não limitado a, disputas territoriais,
questões ambientais, direitos humanos e interpretações
de tratados. Para que um caso seja submetido à Corte,
ambos os Estados envolvidos devem concordar com sua
jurisdição. Uma vez decidido, o julgamento é final e
obrigatório para as partes envolvidas.
2. Pareceres Consultivos: A Corte também pode dar
pareceres sobre questões legais a pedido de órgãos da
ONU ou agências especializadas. Embora esses pareceres
não sejam vinculativos, eles são altamente respeitados e
influenciam o desenvolvimento do direito internacional.
Composição
A Corte é composta por 15 juízes, eleitos para
mandatos de nove anos pela Assembleia Geral das Nações
Unidas e pelo Conselho de Segurança. Os juízes são
escolhidos com base em suas qualificações,
independentemente de sua nacionalidade, garantindo
uma representação geográfica equitativa. Eles devem
possuir a mais alta moralidade e serem reconhecidos
competentes em direito internacional.
Processo
Os casos são apresentados à Corte por Estados (e
não por indivíduos, empresas ou ONGs). O processo
envolve várias etapas, incluindo a apresentação de
memoriais escritos, audiências orais e, finalmente, a
deliberação dos juízes. Durante as audiências orais, os
Estados podem apresentar seus argumentos, evidências e
responder a perguntas dos juízes. Após as audiências, os
juízes se reúnem em sessão privada para deliberar e,
eventualmente, emitir sua decisão.
Impacto
As decisões da Corte Internacional de Justiça
desempenham um papel crucial no desenvolvimento do
direito internacional, ajudando a resolver disputas de
forma pacífica e a esclarecer questões de direito
internacional. Embora a implementação das decisões
possa apresentar desafios, a autoridade e o respeito pela
Corte contribuem significativamente para a manutenção
da ordem jurídica internacional.
 Em resumo, a Corte Internacional de Justiça tem um
papel indispensável na promoção da justiça internacional,
solucionando disputas entre Estados de acordo com o
direito internacional e contribuindo para o agressão e recomendar procedimentos ou ações para
desenvolvimento e a clarificação desse corpo de leis.
4) Qual é a composição do Conselho de Segurança
da ONU?
O Conselho de Segurança das Nações Unidas é um
dos seis órgãos principais da ONU e tem a
responsabilidade primordial de manter a paz e a
segurança internacionais. Sua composição é definida tanto
por membros permanentes quanto por membros não
permanentes, totalizando 15 países.
Membros Permanentes
O Conselho de Segurança possui cinco membros
permanentes, conhecidos como os "P5". Esses países têm
o poder de veto, o que significa que qualquer um deles
pode bloquear a adoção de uma resolução substancial. Os
membros permanentes são:
1. Estados Unidos: Uma das principais potências
econômicas e militares do mundo, os EUA têm um papel
significativo nas decisões de política internacional.
2. Rússia: Herdeira da cadeira da União Soviética, a
Rússia é uma importante potência militar e nuclear.
3. China: Com a maior população do mundo e uma
das maiores economias globais, a China tem crescido em
influência política e econômica.
4. França: Uma das nações fundadoras da União
Europeia, a França tem uma longa história de
envolvimento em questões de segurança global.
5. Reino Unido: O Reino Unido, com sua história de
império colonial e sua influência global, é um membro
chave no cenário internacional.
Membros Não Permanentes
Além dos membros permanentes, o Conselho de
Segurança inclui 10 membros não permanentes. Estes são
eleitos pela Assembleia Geral da ONU para mandatos de
dois anos, sem direito a reeleição imediata. A escolha
desses membros segue um critério de distribuição
geográfica para assegurar uma representação equitativa
das diferentes regiões do mundo. As regiões são:
 África (3 assentos)
 Ásia-Pacífico (2 assentos, frequentemente
incluindo países do Oriente Médio)
 América Latina e Caribe (2 assentos)
 Europa Ocidental e outros Estados (2 assentos)
 Europa Oriental (1 assento)
Os países eleitos para esses assentos variam a cada
eleição, trazendo uma rotação de nações que contribuem
com suas perspectivas regionais para as discussões e
decisões do Conselho.
Funções e Responsabilidades
O Conselho de Segurança é encarregado de
determinar a existência de uma ameaça à paz ou ato de
restaurar a paz e a segurança internacionais. Suas funções
incluem a autorização de intervenções militares,
imposição de sanções econômicas e outras medidas para
prevenir ou resolver conflitos.
Poder de Veto
O poder de veto dos membros permanentes é um
aspecto central da dinâmica do Conselho de Segurança.
Uma "veto" de qualquer membro permanente pode
bloquear a aprovação de uma resolução,
independentemente do apoio de outros membros. Isso
significa que, para uma resolução ser adotada, ela deve
não apenas receber a maioria dos votos, mas também não
ser vetada por nenhum dos membros permanentes.
Críticas e Reformas
Há um debate contínuo sobre a reforma do
Conselho de Segurança, incluindo propostas para expandir
o número de membros permanentes e ajustar o direito de
veto para refletir melhor o mundo contemporâneo.
Críticos argumentam que a estrutura atual não representa
adequadamente a distribuição geopolítica e econômica
global, limitando sua eficácia e legitimidade.
A composição e as funções do Conselho de
Segurança refletem tanto a realidade do pós-guerra,
quando foi criado, quanto os desafios contemporâneos na
manutenção da paz e segurança globais. A dinâmica entre
seus membros e a busca por consenso, apesar do poder
de veto, são fundamentais para entender seu papel no
cenário mundial.
5) O que consiste o chamado “direito de veto” de
alguns Estados? Explique.
O "direito de veto" na Organização das Nações
Unidas (ONU) é uma prerrogativa concedida
exclusivamente aos cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, Reino
Unido, França, Rússia e China. Esses países são
frequentemente referidos como os P5. Este direito
permite que qualquer um desses cinco países impeça a
adoção de qualquer resolução substantiva pelo Conselho
de Segurança, independentemente do nível de apoio
internacional que a resolução possa ter entre os outros
membros do Conselho ou na Assembleia Geral da ONU.
O Conselho de Segurança da ONU é um dos seis
órgãos principais da ONU e tem como principal
responsabilidade a manutenção da paz e segurança
internacionais. Ele tem 15 membros, dos quais 10 são
não-permanentes e eleitos pela Assembleia Geral para
mandatos de dois anos. Os cinco membros permanentes,
no entanto, têm assento permanente devido ao seu papel
como principais potências aliadas vencedoras na Segunda
Guerra Mundial.
 O direito de veto foi estabelecido com a Carta das
Nações Unidas em 1945. A lógica por trás de sua criação
foi a de garantir que as principais potências da época
permanecessem engajadas na nova organização
internacional, evitando assim os erros que levaram ao
fracasso da Liga das Nações após a Primeira Guerra
Mundial. Acreditava-se que concedendo a esses países
uma influência desproporcional nos processos decisórios,
seria possível assegurar sua cooperação contínua e, por
extensão, a eficácia da ONU na prevenção de conflitos
globais.
No entanto, o direito de veto tem sido objeto de
intensa controvérsia e crítica. Muitos argumentam que ele
confere poder demais a um pequeno grupo de países,
permitindo-lhes bloquear ações que têm amplo apoio
internacional. Isso pode levar a impasses em situações de
crise, onde a ação internacional rápida e decisiva é
necessária. Por exemplo, o veto tem sido usado para
bloquear resoluções sobre conflitos em regiões como a
Síria, o que, segundo críticos, impede a ONU de cumprir
sua missão de manter a paz e proteger os direitos
humanos.
Existem propostas e discussões em andamento
sobre a reforma do Conselho de Segurança, incluindo
mudanças no direito de veto. Algumas sugestões incluem
a limitação do uso do veto em casos de atrocidades em
massa ou a expansão do número de membros
permanentes para incluir outras grandes potências ou
representantes de regiões atualmente sub-representadas.
No entanto, qualquer alteração à Carta da ONU requer o
consentimento de todos os cinco membros permanentes,
o que torna as reformas significativas particularmente
desafiadoras.
6) Quais são os efeitos da Carta da ONU?
A Carta das Nações Unidas, assinada em 26 de
junho de 1945, é um documento fundador que
estabeleceu a Organização das Nações Unidas (ONU). Ela
tem um papel crucial no direito internacional e nas
relações internacionais, gerando uma série de efeitos
significativos que moldam as políticas globais e a
cooperação entre os países. Vamos explorar esses efeitos
em detalhes:
1. Estabelecimento de Princípios Fundamentais: A
Carta da ONU estabelece princípios fundamentais que
guiam as relações internacionais, como a igualdade
soberana de todos os seus membros, a solução pacífica de
disputas, e a proibição do uso da força nas relações
internacionais, exceto em casos de legítima defesa ou
quando autorizado pelo Conselho de Segurança.
2. Promoção da Paz e Segurança Internacionais:
Um dos principais objetivos da ONU, conforme delineado
na Carta, é manter a paz e a segurança internacionais. Isso
é realizado por meio de várias medidas, incluindo
operações de manutenção da paz, sanções internacionais
e mediação em conflitos. O Conselho de Segurança, em
particular, desempenha um papel vital neste aspecto,
tendo a autoridade para tomar decisões vinculativas para
os Estados membros.
3. Fomento da Cooperação Internacional: A Carta
promove a cooperação entre os países em uma ampla
gama de questões, incluindo desenvolvimento econômico,
social, cultural e humanitário. Isso é feito por meio de
vários órgãos e agências especializadas da ONU, que
trabalham para alcançar objetivos como a erradicação da
pobreza, a promoção da educação e a proteção dos
direitos humanos.
4. Desenvolvimento do Direito Internacional: A
Carta da ONU e as atividades da organização contribuíram
significativamente para o desenvolvimento do direito
internacional. Isso inclui a criação de normas e tratados
internacionais em áreas como os direitos humanos, direito
ambiental e direito do mar. A própria Carta é considerada
um tratado internacional, formando a base jurídica para a
atuação da ONU.
5. Promoção dos Direitos Humanos: A Carta
menciona a promoção e o encorajamento do respeito
pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais
para todos. Isso levou à adoção da Declaração Universal
dos Direitos Humanos em 1948 e ao subsequente
desenvolvimento de uma ampla gama de tratados
internacionais de direitos humanos.
6. Ajuste e Reforma das Relações Internacionais: A
Carta da ONU representa um esforço para ajustar as
relações internacionais a um novo paradigma, buscando
evitar os erros que levaram às duas Grandes Guerras. Ela
promove a ideia de que as nações devem trabalhar juntas
para enfrentar desafios globais, em vez de recorrer ao
conflito e à competição desenfreada.
7. Influência na Resolução de Conflitos e
Reconstrução: Através do estabelecimento de missões de
paz e intervenções autorizadas, a ONU, sob a égide da
Carta, tem desempenhado um papel na resolução de
conflitos e na reconstrução de nações pós-conflito. Isso
inclui esforços para estabelecer a paz, ajudar em
processos democráticos e na reconstrução de
infraestruturas.
Em resumo, a Carta da ONU tem um impacto
profundo e abrangente nas relações internacionais
contemporâneas, guiando a ação coletiva para a paz, a
cooperação internacional e o respeito aos direitos
humanos. Ela estabelece um quadro legal e moral para a
atuação da comunidade internacional, buscando um
mundo mais pacífico, justo e sustentável.
7) Classifique a Carta da ONU segundo os critérios
de número de parte, possibilidade de adesão e
conteúdo.
A Carta das Nações Unidas é um tratado
internacional que estabelece os princípios fundamentais
das relações internacionais e a estrutura da Organização
das Nações Unidas (ONU). Assinada em 26 de junho de
1945, em São Francisco, pelos representantes dos 50
países participantes da Conferência das Nações Unidas
sobre Organização Internacional, ela entrou em vigor em
24 de outubro de 1945. Desde então, a ONU tem
desempenhado um papel central na promoção da paz, dos
direitos humanos e do desenvolvimento sustentável
global.
Número de Partes: A Carta originalmente foi
assinada e ratificada por 51 Estados-membros (incluindo a
Polônia, que não estava presente na assinatura, mas cuja
adesão foi considerada original). Desde então, o número
de Estados-membros das Nações Unidas aumentou
significativamente, alcançando 193 países. Isso reflete não
apenas o crescimento do número de países
independentes no mundo desde 1945, mas também a
universalidade e a aceitação global dos princípios da ONU.
Possibilidade de Adesão: A adesão à ONU está
aberta a todos os "Estados amantes da paz" que aceitam
as obrigações contidas na Carta da ONU e, na opinião da
Organização, são capazes e dispostos a cumprir tais
obrigações. A decisão sobre a admissão de novos
membros é tomada pela Assembleia Geral sob
recomendação do Conselho de Segurança. Portanto, a
possibilidade de adesão é ampla, mas sujeita a critérios
específicos e à aprovação dos órgãos competentes da
ONU.
Conteúdo: A Carta da ONU é composta por um
preâmbulo e 111 artigos, divididos em 19 capítulos. Ela
estabelece os quatro propósitos principais da ONU:
manter a paz e a segurança internacionais; desenvolver
relações amistosas entre as nações; cooperar na solução
de problemas internacionais e na promoção do respeito
pelos direitos humanos; e ser um centro para harmonizar
as ações das nações para alcançar esses objetivos comuns.
Os principais elementos da Carta incluem:
1. Princípios da Igualdade Soberana dos Estados:
Todos os membros têm igualdade soberana.
2. Resolução de Conflitos por Meios Pacíficos: A
Carta incentiva a resolução de disputas por meios
pacíficos, evitando o uso da força ou ameaças contra a
integridade territorial ou a independência política de
qualquer estado.
3. Cooperação Internacional: Estabelece a base
para a cooperação econômica, social, cultural e
humanitária.
4. Estrutura Organizacional da ONU: Define a
estrutura da ONU, incluindo a Assembleia Geral, o
Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o
Tribunal Internacional de Justiça, o Secretariado e o
Conselho de Tutela.
A Carta também inclui disposições sobre o
funcionamento interno da ONU, o papel dos Estados-
membros, os procedimentos para a tomada de decisões e
as operações de manutenção da paz. Ela foi modificada e
complementada por várias emendas ao longo dos anos
para se adaptar às mudanças no cenário internacional e às
necessidades da comunidade global.
Em resumo, a Carta da ONU é um documento vivo,
adaptável e fundamental para a governança global e a
cooperação internacional, refletindo os princípios e
valores compartilhados pelos Estados-membros em busca
de um mundo mais pacífico, justo e sustentável.
8) O que é o Conselho de Tutela? Qual é o seu
objetivo?
O Conselho de Tutela da Organização das Nações
Unidas (ONU) é um dos seis órgãos principais da ONU,
estabelecido logo após a Segunda Guerra Mundial com a
assinatura da Carta das Nações Unidas em 1945. Seu
propósito primordial era supervisionar a administração
dos territórios que estavam sob tutela, os quais eram
principalmente territórios coloniais que não tinham
alcançado ainda a capacidade de autogovernar-se.
Objetivos e Funções: O principal objetivo do
Conselho de Tutela era assegurar que os interesses dos
habitantes desses territórios tutelados fossem a
prioridade, promovendo o avanço político, econômico,
social e educacional desses povos, além de guiar esses
territórios no caminho para a autonomia ou
independência. A Carta das Nações Unidas estabeleceu
que a administração desses territórios deveria ser
conduzida de maneira a:
1. Promover a paz e a segurança internacionais;
2. Promover o progresso político, econômico, social
e educacional dos habitantes dos territórios tutelados;
3. Encorajar o respeito pelos direitos humanos e
pelas liberdades fundamentais para todos, sem distinção
de raça, sexo, língua ou religião;
4. Garantir o reconhecimento da soberania dos
povos e dos direitos inerentes à sua independência e
autodeterminação.
Funcionamento: O Conselho de Tutela era
composto por membros permanentes e temporários. Os
membros permanentes eram aqueles que administravam
os territórios sob tutela (como a França e o Reino Unido,
por exemplo), além dos membros permanentes do
Conselho de Segurança da ONU que não administravam
territórios. Os membros temporários eram eleitos pela
Assembleia Geral para mandatos específicos.
Desativação: Com o passar dos anos, à medida que
os territórios sob tutela alcançaram a independência, a
função do Conselho de Tutela foi gradualmente se
tornando obsoleta. O último território sob tutela, Palau,
alcançou a independência em 1994. Embora o Conselho
de Tutela tecnicamente ainda exista, ele não se reúne
regularmente desde então. Sua estrutura e mandato
permanecem nos textos da Carta da ONU, mas, na prática,
suas funções foram concluídas.
 Legado: O legado do Conselho de Tutela reside na
sua contribuição para a descolonização e para o avanço da
autodeterminação dos povos ao redor do mundo. Ele
desempenhou um papel fundamental no período pós-
guerra, ajudando a moldar o cenário geopolítico atual
através do suporte à independência de diversos
territórios. A existência do Conselho de Tutela reflete a
evolução das normas internacionais em relação ao
colonialismo e à soberania dos povos.
9) Qual é a composição da Assembleia Geral da
ONU?
A Assembleia Geral das Nações Unidas é um dos
principais órgãos constitutivos da ONU e serve como um
fórum para a deliberação multilateral entre todos os seus
membros. A composição da Assembleia Geral é bastante
abrangente, incluindo todos os 193 Estados-membros da
Organização das Nações Unidas. Cada Estado-membro
tem direito a um assento na Assembleia Geral, o que
significa que todos têm a oportunidade de participar das
discussões e expressar suas opiniões sobre questões
internacionais.
A Assembleia Geral realiza sessões regulares, com
sua sessão ordinária começando em setembro de cada
ano, na sede da ONU em Nova York. Durante essas
sessões, representantes dos Estados-membros se reúnem
para discutir e trabalhar em uma ampla gama de questões
internacionais abrangidas pela Carta das Nações Unidas,
incluindo paz e segurança internacionais, cooperação
econômica e social, direitos humanos, e questões
humanitárias. Além disso, a Assembleia Geral pode
convocar sessões especiais e de emergência para abordar
questões urgentes e de grande importância.
Cada Estado-membro tem direito a um voto nas
decisões da Assembleia Geral. Embora as decisões sobre
questões importantes, como recomendações sobre paz e
segurança, admissão de novos membros e questões
orçamentárias, exijam uma maioria de dois terços, a
maioria das outras decisões é tomada por maioria simples.
Isso significa que a Assembleia Geral opera em um espírito
de cooperação internacional, buscando alcançar o
consenso entre seus membros sempre que possível.
A Assembleia Geral também é responsável por
eleger os membros de outros órgãos da ONU, como o
Conselho de Segurança (para os assentos não
permanentes), o Conselho Econômico e Social e o Tribunal
Internacional de Justiça. Além disso, ela desempenha um
papel crucial na avaliação e aprovação do orçamento da
ONU, bem como na formulação de recomendações para
promover o desenvolvimento econômico e social global.
Em resumo, a composição da Assembleia Geral da
ONU reflete sua natureza universal e inclusiva, fornecendo
uma plataforma única para o diálogo e a cooperação entre
todos os países do mundo em questões de interesse
global. Esta abordagem coletiva é fundamental para o
trabalho da ONU na promoção da paz, segurança e bem-
estar para todos.
10) Qual é a participação do Brasil na ONU?
A participação do Brasil nas Nações Unidas (ONU) é
ampla e multifacetada, refletindo o status do país como
uma das maiores economias do mundo e um ator
importante nos assuntos globais. Desde a fundação da
ONU em 1945, o Brasil tem sido um membro ativo,
contribuindo para diversas áreas da agenda global,
incluindo a paz e segurança internacionais, o
desenvolvimento sustentável, os direitos humanos, e a
assistência humanitária. Vou detalhar alguns aspectos-
chave da participação brasileira na ONU:
1. Membro Fundador e Engajamento Político: O
Brasil foi um dos 51 membros fundadores da ONU,
demonstrando seu comprometimento com os princípios
da Carta das Nações Unidas desde o início. O país tem
buscado um papel ativo nas discussões e negociações
internacionais, defendendo a reforma das estruturas de
governança global, incluindo a reforma do Conselho de
Segurança da ONU, onde o Brasil aspira a um assento
permanente.
2. Participação em Missões de Paz: O Brasil tem
uma longa história de contribuição para as operações de
paz da ONU. Desde a participação na Força de Emergência
das Nações Unidas no Egito, em 1956, até a liderança da
Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti
(MINUSTAH), de 2004 a 2017, o Brasil tem demonstrado
seu compromisso com a manutenção da paz e segurança
internacionais. As Forças Armadas e a Polícia brasileira
têm sido destacadas por sua competência e humanismo
nessas missões.
3. Desenvolvimento Sustentável e Direitos
Humanos: O Brasil é um defensor ativo dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, buscando
integrar esses objetivos em suas políticas nacionais. O país
tem participado ativamente de conferências globais sobre
desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas,
biodiversidade e direitos humanos. A Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
também conhecida como Eco-92 ou Rio-92, realizada no
Rio de Janeiro, é um exemplo emblemático do
compromisso do Brasil com as questões ambientais
globais.
4. Apoio Humanitário e Cooperação Técnica: O
Brasil contribui para o sistema da ONU através de várias
agências, fundos e programas, fornecendo assistência
humanitária e apoio ao desenvolvimento em países em
desenvolvimento. A Agência Brasileira de Cooperação
(ABC) coordena a cooperação técnica do Brasil com outros
países, promovendo a transferência de conhecimento e
experiências em áreas como agricultura, saúde e
educação.
 5. Atuação nas Agências Especializadas da ONU: O
Brasil é membro ativo de várias agências especializadas,
programas e fundos da ONU, como a Organização Mundial
da Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), e o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O
país participa ativamente na formulação de políticas e na
implementação de programas nessas agências.
Conclusão:
A participação do Brasil na ONU é caracterizada por
um compromisso contínuo com o multilateralismo, a
cooperação internacional e a promoção da paz, do
desenvolvimento sustentável e dos direitos humanos. O
Brasil busca ampliar sua influência nas estruturas de
governança global, ao mesmo tempo em que contribui
para a solução de desafios globais, refletindo seu papel
como um ator global responsável e engajado.
Análise da Emenda Constitucional n. 45 de 08/12/2004
em consonância aos princípios de Direito Internacional
Público – incorporação e hierarquia dos tratados
internacionais – e a temática de Direitos Humanos.
QUESTIONÁRIO
1) Explique como ocorre a incorporação dos
tratados internacionais no ordenamento jurídico
brasileiro.
A incorporação dos tratados internacionais no
ordenamento jurídico brasileiro é um processo que
envolve várias etapas, refletindo a complexidade das
relações internacionais e a importância de alinhar os
compromissos externos do país com sua legislação
interna. Este processo é regido tanto pela Constituição
Federal de 1988 quanto por legislações
infraconstitucionais e práticas jurídicas estabelecidas.
Vamos detalhar cada uma dessas etapas para
compreender melhor como os tratados internacionais se
tornam parte do direito brasileiro.
1. Assinatura do Tratado: A primeira etapa envolve
a negociação e assinatura do tratado. Esta fase é
conduzida pelo Poder Executivo, através do Presidente da
República e do Ministério das Relações Exteriores, que
representam o Brasil nas negociações internacionais. A
assinatura do tratado indica a concordância preliminar do
Brasil com o texto negociado, mas não o vincula
juridicamente.
2. Aprovação pelo Congresso Nacional: Após a
assinatura, para que um tratado internacional tenha
efeito no ordenamento jurídico brasileiro, ele deve ser
aprovado pelo Congresso Nacional. Esse processo é
realizado por meio de um Decreto Legislativo, conforme o
artigo 49, inciso I, da Constituição Federal. A aprovação
pelo Congresso Nacional é essencial para assegurar que os
compromissos internacionais estejam em conformidade
com os interesses nacionais e respeitem a soberania do
país.
3. Ratificação pelo Presidente da República: Uma
vez aprovado pelo Congresso Nacional, o tratado retorna
ao Poder Executivo para a ratificação. A ratificação é o ato
pelo qual o Brasil confirma, de maneira definitiva, seu
consentimento em estar vinculado ao tratado, tornando-
se uma parte oficial do mesmo. O Presidente da República
é responsável por ratificar o tratado, formalizando o
compromisso do Brasil.
4. Promulgação e Publicação: Após a ratificação, o
tratado é promulgado por meio de um Decreto
Presidencial, o qual deve ser publicado no Diário Oficial da
União. A promulgação é o ato que confirma a
incorporação do tratado ao ordenamento jurídico
brasileiro, determinando sua execução e cumprimento. A
publicação oficial é fundamental para garantir a
publicidade e a transparência, permitindo que o tratado
seja conhecido e aplicado.
5. Hierarquia Normativa: A Constituição de 1988
estabelece que os tratados internacionais, após
incorporados, situam-se abaixo da Constituição mas acima
da legislação infraconstitucional. Contudo, os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacional,
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais
(art. 5º, § 3º, da CF/88), tendo, portanto, status
supralegal.
6. Controle de Constitucionalidade: Após a
incorporação, tratados internacionais podem ser objeto
de controle de constitucionalidade, assim como qualquer
outra norma do ordenamento jurídico brasileiro. Isso
significa que, se um tratado for considerado incompatível
com a Constituição, ele pode ser declarado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.
Conclusão
A incorporação de tratados internacionais no
ordenamento jurídico brasileiro é um processo que reflete
o compromisso do país com a ordem jurídica
internacional, ao mesmo tempo em que assegura a
soberania nacional e o respeito à Constituição. Este
processo é marcado por etapas que envolvem tanto o
Poder Executivo quanto o Legislativo, culminando na
promulgação e publicação do tratado, que passa a ter
força de lei no território brasileiro.
2) Explique as diversas correntes doutrinárias que
descrevem o tratamento jurídico que é conferido aos
tratados internacionais após a incorporação na ordem
jurídica brasileira.
A questão do tratamento jurídico conferido aos
tratados internacionais após sua incorporação na ordem
jurídica brasileira é um tema complexo e multifacetado,
que tem suscitado diversas correntes doutrinárias. Essas
correntes buscam explicar a posição hierárquica e a
aplicabilidade dos tratados internacionais no direito
interno brasileiro, especialmente em relação às normas
constitucionais e infraconstitucionais. A Constituição
Federal de 1988, com a alteração promovida pela Emenda
Constitucional nº 45/2004, trouxe importantes
disposições sobre a matéria, mas ainda assim,
interpretações doutrinárias variadas persistem. Abaixo,
detalharemos as principais correntes doutrinárias sobre o
tema:
1. Dualismo ou Dualista: Esta corrente defende a
separação estrita entre o direito internacional e o direito
interno. Segundo os dualistas, um tratado internacional
precisa ser transformado em lei interna por meio de um
ato específico de incorporação (no Brasil, por meio de
decreto legislativo, seguido de promulgação pelo
Presidente da República) para que possa ter efeitos
jurídicos no plano interno. Antes dessa transformação, o
tratado não teria eficácia na ordem jurídica interna.
2. Monismo com primazia do direito interno: Os
adeptos desta corrente acreditam que o direito
internacional e o direito interno formam um único sistema
jurídico, mas, em caso de conflito, as normas internas
prevaleceriam sobre as internacionais. Nessa perspectiva,
os tratados internacionais, mesmo após sua incorporação
formal, ocupariam uma posição hierárquica inferior à
Constituição e, dependendo da interpretação, também às
leis federais.
3. Monismo com primazia do direito internacional:
Contrapondo-se à corrente anterior, esta visão sustenta
que o direito internacional e o direito interno compõem
um único sistema, no qual as normas internacionais
prevalecem sobre as internas. Assim, em caso de conflito
entre um tratado internacional e uma norma interna,
prevaleceria o tratado. Esta corrente, contudo, é menos
prevalente no Brasil, dada a especificidade da Constituição
Federal sobre a matéria.
4. Posição Híbrida ou Intermediária: Após a
Emenda Constitucional nº 45/2004, que introduziu o § 3º
no artigo 5º da Constituição Federal, estabelecendo que
os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos aprovados com o mesmo procedimento de
emendas constitucionais (quórum de 3/5 em dois turnos,
em ambas as Casas do Congresso Nacional) terão
equivalência às emendas constitucionais, consolidou-se
uma posição intermediária. Essa corrente reconhece uma
hierarquia diferenciada para os tratados de direitos
humanos, colocando-os acima das normas
infraconstitucionais, mas abaixo da Constituição, exceto
quando aprovados pelo procedimento especial, caso em
que se equiparam às emendas constitucionais.
5. Teoria da Incorporação Automática com Status
Supralegal: Uma visão mais moderna, influenciada pela
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF),
defende que os tratados internacionais, uma vez
regularmente incorporados ao ordenamento jurídico
brasileiro (após a ratificação e promulgação), ocupam uma
posição hierárquica supralegal, ou seja, acima das leis
ordinárias e complementares, mas abaixo da Constituição.
Esta posição não distingue entre tratados de direitos
humanos e outros tratados, exceto pelo fato mencionado
anteriormente, de que tratados de direitos humanos
aprovados pelo rito especial se equiparam às emendas
constitucionais.
Cada uma dessas correntes doutrinárias reflete uma
compreensão diferente sobre a relação entre o direito
internacional e o direito interno, evidenciando a
complexidade e a riqueza do debate jurídico sobre o
tema. A escolha entre essas correntes tem implicações
significativas para a aplicabilidade e a interpretação dos
tratados internacionais no Brasil, afetando desde a
proteção de direitos humanos até questões comerciais,
ambientais e outras áreas cobertas por acordos
internacionais.
3) “Art. 5º - .............§ 3º Os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais”.
Considerando o conteúdo do § 3º, do art. 5º inserido na
Constituição Federal brasileira pela Emenda
Constitucional n. 45 proceda a análise das seguintes
hipóteses:
a) Se os tratados sobre direitos humanos têm
status constitucional, considerando seu conteúdo e
localização topográfica no texto constitucional, isto é,
dentre o rol de direito e garantias individuais, poderão
ser considerados como clausulas pétreas?
A questão do status dos tratados sobre direitos
humanos no ordenamento jurídico brasileiro e sua
classificação como cláusulas pétreas é uma matéria de
grande relevância e complexidade no Direito
Constitucional. Para abordá-la com a profundidade
requerida, é essencial considerar diversos aspectos,
incluindo as disposições da Constituição Federal de
1988, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
(STF) e os princípios do Direito Internacional.
Primeiramente, é importante destacar que a
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, § 3º
(incluído pela Emenda Constitucional nº 45/2004),
estabelece que os tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos que forem aprovados em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais. Isso confere a
esses tratados um status especial, posicionando-os no
topo da hierarquia normativa, logo abaixo da própria
Constituição, mas acima de outras normas
infraconstitucionais.
A classificação de normas como cláusulas pétreas
está prevista no artigo 60, § 4º, da Constituição, que
proíbe a deliberação de propostas de emenda
tendentes a abolir: I - a forma federativa de Estado; II -
o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a
separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias
individuais. A interpretação prevalente é de que as
cláusulas pétreas têm por objetivo proteger os
fundamentos da ordem constitucional, garantindo a
perpetuidade de determinados valores essenciais ao
Estado Democrático de Direito.
Sobre a questão específica de se os tratados de
direitos humanos podem ser considerados como
cláusulas pétreas, é importante considerar que, embora
não haja um consenso absoluto, a tendência da
doutrina e da jurisprudência é de reconhecer a
natureza especial desses tratados. Isso se deve ao fato
de que eles tratam de direitos e garantias individuais,
os quais, conforme mencionado, são protegidos contra
abolição por emendas constitucionais.
A jurisprudência do STF tem evoluído no sentido
de reconhecer a importância e a hierarquia elevada dos
tratados de direitos humanos. No entanto, a Corte
ainda não se posicionou de maneira definitiva sobre a
equiparação desses tratados às cláusulas pétreas,
embora exista uma forte argumentação nesse sentido.
Isso se deve ao reconhecimento de que os direitos
humanos fundamentais são essenciais para a dignidade
da pessoa humana e para a estrutura do próprio Estado
Democrático de Direito, alinhando-se, portanto, aos
valores que as cláusulas pétreas visam proteger.
Em síntese, embora não haja uma declaração
explícita do STF que equipare os tratados de direitos
humanos a cláusulas pétreas, a interpretação dos
princípios constitucionais e dos direitos fundamentais,
bem como a relevância dada aos tratados
internacionais de direitos humanos, sugerem que tais
tratados gozam de uma proteção reforçada, alinhada à
ideia de que os direitos e garantias individuais são
inalienáveis e imprescindíveis à ordem constitucional
brasileira.
b) Como interpretar o novo § 3º o art. 5º da
Constituição Federal frente à dicção do § 2º do mesmo
artigo? Haverá conflito entre as normas?
A interpretação do § 3º do art. 5º da Constituição
Federal (CF) em relação ao seu § 2º requer uma análise
detalhada do texto constitucional e dos princípios que
regem a interpretação das normas jurídicas no Brasil.
Primeiramente, é importante contextualizar esses
dispositivos:
- O § 2º do art. 5º da CF estabelece que "Os
direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte." Esse
dispositivo é uma cláusula de abertura que permite a
incorporação e o reconhecimento de direitos não
expressamente listados na Constituição, mas que são
compatíveis com os valores e princípios nela
consagrados, incluindo aqueles provenientes de
tratados internacionais.
- O § 3º do art. 5º, inserido pela Emenda
Constitucional nº 45/2004, dispõe que "Os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,
em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais." Esse dispositivo eleva o status de
certos tratados de direitos humanos ao nível
constitucional, desde que cumpram o rito legislativo
qualificado estipulado.
A relação entre esses dois parágrafos não é de
conflito, mas sim de complementaridade e reforço
mútuo. O § 2º reconhece a importância de direitos e
garantias não expressamente listados na Constituição,
abrindo espaço para a incorporação de normas
internacionais de direitos humanos. Já o § 3º especifica
um mecanismo pelo qual determinados tratados
internacionais de direitos humanos podem ser
incorporados ao ordenamento jurídico com status
equivalente ao das emendas constitucionais, o que lhes
confere uma força normativa muito elevada e reafirma
o compromisso do Brasil com a proteção dos direitos
humanos.
A interpretação conjunta desses dispositivos deve
considerar o princípio da máxima efetividade das
normas constitucionais, que orienta o intérprete a
conferir o maior sentido possível à norma, de forma a
maximizar sua eficácia e o espectro de proteção dos
direitos fundamentais. Assim, longe de haver conflito, o
§ 3º reforça o compromisso constitucional com os
direitos humanos, estabelecendo um procedimento
especial para que tratados internacionais possam ter
uma força normativa elevada, complementando e
fortalecendo o sistema de direitos e garantias
fundamentais previsto no art. 5º da CF e seus incisos.
Portanto, a interpretação harmônica desses
dispositivos reforça a abertura do ordenamento jurídico
brasileiro aos direitos humanos internacionais,
promovendo uma integração construtiva entre o direito
interno e o direito internacional, em prol da efetivação
dos direitos fundamentais.