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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

AULA 4 - FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL


PÚBLICO (TRATADOS INTERNACIONAIS)
Prof. Dr. Vladmir Oliveira da Silveira
vladmiracademico@gmail.com
/vladmiroliveirasilveira
professorvladmirs
TÓPICOS

1. Noções preliminares;

2. Fontes do DIP – Tratados Internacionais;

 Bibliografia básica;

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1. NOÇÕES PRELIMINARES

o O DIP, como qualquer outro ramo do Direito, confere aos seus


sujeitos tanto direitos quanto obrigações. Todavia, questiona-se o
momento em que os direitos e/ou as obrigações tornam-se válidos e
obrigatórios.
o Entende-se que a validade é conferida quando o direito deriva de
uma fonte reconhecida, seja essa fonte direta ou indireta.
o O Estatuto da Corte Internacional de Justiça de 1946 (CIJ), que
entrou em vigor no ordenamento jurídico brasileiro, por meio do Decreto
n. 19.841, de 22 de outubro de 1945, enumera as fontes de direito
internacional (artigo 38):

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1. NOÇÕES PRELIMINARES

o Artigo 38.

1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as


controvérsias que lhe forem submetidas, deverá aplicará:
a. as convenções internacionais, quer gerais, quer particulares, que
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo
o direito;
c. os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas;
d. sob ressalva da disposição do artigo 59, as decisões judiciais e as doutrinas
dos publicistas mais qualificados das diferentes Nações, como meio auxiliar para a
determinação das regras de direito.
2. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um
litígio ex aequo et bono, se convier as partes.

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1. NOÇÕES PRELIMINARES

o Do artigo citado se extrai que as fontes primárias ou principais do DIP estão


definidas como sendo:
(i) os tratados e as convenções internacionais;
(ii) os costumes internacionais e
(iii) os princípios gerais de direito.

o Ao se referir à jurisprudência e à doutrina, o Estatuto as define como


“meios auxiliares” para a determinação do direito. No mesmo sentido, ao tratar
da equidade (ex aequo et bono), o Estatuto adverte que tal princípio será aplicado
somente se as partes envolvidas estiverem de acordo (aplicação dependerá da
manifestação expressa das partes envolvidas, não sendo mandatória de plano).

o Note-se que fontes primárias têm força suficiente para gerar uma regra
jurídica internacional, ao passo que as demais fontes não possuem essa
capacidade, muito embora sirvam de base para a compreensão e aplicação do
pactuado.
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1. NOÇÕES PRELIMINARES

o É recorrente a doutrina afirmar que o artigo 38 do Estatuto não limita as


fontes do DIP. Caso assim fosse, engessaria sua evolução e seu desenvolvimento
e, consequentemente, a progressiva organização da sociedade internacional.

o Nos dias atuais, a atuação das Organizações Internacionais (OI’s), mais


notadamente da Organização das Nações Unidas, nos permite afirmar que as
resoluções do Conselho de Segurança e as recomendações ou declarações da
Assembleia Geral são fontes adicionais do DIP, entre outras.

o Traçadas essas linhas gerais, passemos a estudar as fontes do DIP.

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2. FONTES DO DIP

2.1. TRATADOS INTERNACIONAIS

o Historicamente, imputa-se ao continente americano uma importante


participação na regulamentação internacional do direito dos tratados.
Antes mesmo da Primeira Convenção de Viena e por ocasião da Sexta
Convenção Internacional Americana (Havana, 1928), foi realizada uma
Convenção sobre Tratados, contendo vinte e um artigos e sendo ratificada
por oito Estados, incluindo o Brasil (objetivou-se regular a forma como os
tratados internacionais seriam celebrados, a forma de ratificação pelos
Estados, como seriam interpretados, a entrada em vigor, a possibilidade
de denúncia, dentre outros aspectos).

o No entanto, referida Convenção tinha um alcance mais regional do


que global e, talvez, por essa razão, não obteve os efeitos esperados.

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2. FONTES DO DIP

o A partir de 1949 a Comissão de Direito Internacional da ONU


trabalhou sobre o tema, até que em 1969 teve origem a primeira
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, contendo oitenta e
cinco artigos e um anexo.

o Entrou em vigor no ordenamento jurídico brasileiro, por meio do


Decreto n. 7.030, de 14 de dezembro de 2009. Nesse primeiro momento,
apenas os Estados eram destinatários da referida Convenção (artigo 1°),
considerados como os principais atores no cenário internacional,
porquanto sujeitos originários de DIP.

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2. FONTES DO DIP

o Contudo, a contemporaneidade proporcionou o surgimento de outro


ator, cuja participação no cenário internacional o erigiu, igualmente, à
condição de sujeito (porém derivado) de DIP. Sendo assim, uma segunda
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1986) foi elaborada,
incluindo em seu rol de sujeitos as Organizações Internacionais (OIs). Essa
Convenção ainda não entrou em vigor no ordenamento jurídico brasileiro,
muito embora seja usado como costume internacional.

o O tratado internacional é definido na Convenção de Viena de 1969:


“um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regidos
pelo Direito internacional, quer conste de um instrumento único, quer de
dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação
específica” (artigo 2°).

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2. FONTES DO DIP

o Convenção de Havana: “é condição essencial nos tratados, a forma


escrita. A confirmação, prorrogação, renovação ou recondução serão
igualmente feitas por escrito, salvo estipulação em contrário” (artigo 2°).
o Por ser considerado um acordo formal, os tratados e as convenções
internacionais são necessariamente escritos, que é exatamente o que os
diferencia do costume internacional.
o Assim, o tratado internacional é uma manifestação de vontade de
um ou mais Estados, OIs e/ou outros sujeitos de DIP, objetivando a
produção de efeitos jurídicos entre as partes envolvidas (animus
contrahendi), isto é, desencadeia efeitos de direito, gera obrigações e
prerrogativas.

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2. FONTES DO DIP

o Importante distinguir os tratados e as convenções internacionais dos


gentlemen’s agreement ou memorandum of understanding. Estes são
meros acordos informais entre as partes envolvidas, que podem ser duas
ou mais. Sua essência se deve ao princípio da confiança mútua entre os
agentes, não sendo considerados mandatórios, ou seja, não visam criar
uma obrigação legal para as partes envolvidas no âmbito internacional,
mas demonstrar uma intenção, um entendimento mútuo.

o Tem seu fundamento, portanto, na honra e, via de regra, são


condicionados no tempo, vez que procuram estabelecer um programa de
ação política.

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2. FONTES DO DIP

o Roberto Luiz da Silva: entende haver distinção entre o acordo de


cavalheiro e o memorando de entendimentos. Para ele, acordo de
cavalheiros “afirma a existência de normas morais relacionadas a um
programa de ação política conjunta entre as partes contratantes”, ao
passo que o memorando de entendimentos é por ele entendido como
documento “utilizado para atos de forma bastante simplificada,
destinados a registrar princípios gerais que orientarão as relações entre
as partes”.
o Cita como exemplos, no primeiro caso, a Carta do Atlântico (1941) e
o Acordo de Yalta (1945), e, no segundo caso, o Memorando de
Entendimento n° 01 entre Brasil e Itália (1981), sobre as linhas gerais de
orientação e modalidades de realização de um programa conjunto para
definição, desenvolvimento, produção e apoio durante a fase de emprego
de um caça-bombardeio-reconhecedor ligeiro.
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2. FONTES DO DIP

o Nenhuma das Convenções de Viena sobre Direito dos Tratados


exigem que um tratado seja celebrado de forma ou com denominação
específica ou ainda contendo elementos específicos, com exceção do
requisito “consentimento” ou da “intenção”. Da mesma forma, as diversas
variações do gênero tratado exprimem a ideia de tratado internacional
(por exemplo, constituição, carta, acordo, convênio, protocolo,
compromisso arbitral, dentre outros).

o Apenas a concordata possui uma conceituação singular, reservados


aos tratados internacionais celebrados entre a Santa Sé e algum sujeito
do direito internacional publico.

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2. FONTES DO DIP

2.2. VALIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS


o Seus requisitos podem ser extraídos da própria Convenção de Viena de
1969, a saber:
o (i) capacidade das partes envolvidas (artigo 6°): competência negocial é dos
Estados e das OIs.

o (ii) habilitação dos agentes signatários ou apresentação de pleno poderes


(artigo 7°): os Chefes de Estado e de governo são agentes signatários por
excelência; por sua vez, os plenipotenciários são terceiras pessoas (que pode ser
Ministro de Estado ou Chefe de Missão Diplomática – Itamaraty) que precisam de
carta de plenos poderes;
o Chefe de Estado: capacidade originária (art. 84, VII da CF/88)
o Chefe de Missão Diplomática e Ministro das Relações Exteriores:
capacidade derivada
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2. FONTES DO DIP

2.2. VALIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS


(iii) consentimento mútuo (artigos 9° e 11 a 17): livre direito de opção do Estado,
manifestada de forma solene. Passível de ocorrência de vício, nos termos das
Convenção de Viena, tornando nulo o tratado internacional; e
o Tipos de vícios: erro, dolo, corrupção, coação, conflito com uma norma de
direito internacional (jus cogens) e poder conferido a um representante que tiver
sido objeto de restrição específica (de não fazer).

(iv) objeto lícito e possível (artigo 18): serão considerados nulos todos e
quaisquer tratados internacionais que conflitem com uma norma imperativa de
direito internacional geral (jus cogens). Da mesma forma, não serão lícitas nem
possíveis a conclusão de tratados internacionais contrários à moral e aos bons
costumes internacionais.

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2. FONTES DO DIP

2.2. VALIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS


o Observe-se que os requisitos de validade são idênticos aos dos
contratos, haja vista, repita-se, a natureza jurídica contratual dos tratados
internacionais.

o O descumprimento de tais regras de validade importará no não


reconhecimento do conteúdo prescrito no tratado internacional, salvo,
no caso de ato praticado por pessoa sem autorização do Estado, haja a
confirmação posterior (artigo 8° da Convenção de Viena – Anulável X
Nulo).

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2. FONTES DO DIP

2.3. CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

o Os tratados internacionais são classificados de duas formas:

2.3.1. Classificação Formal


a. Número de partes;
b. Extensão do procedimento adotado.

2.3.2. Classificação Material


a. Natureza das normas expressas no tratado;
b. Execução no tempo;
c. Execução no espaço.

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2. FONTES DO DIP

2.3.1. CLASSIFICAÇÃO FORMAL

a. Quanto ao Número de Partes

o a.1.) Bilateral: duas partes contratantes (tratados entre Estados e/ou OI). E
no caso de tratado com blocos econômicos (por exemplo, União Europeia, com
27 Estados-membros)?
- Francisco Rezek: “é evidente a bilateralidade de todo tratado entre Estado
e organização internacional, ou entre duas organizações, qualquer que seja o
número de seus membros. A organização, nessas hipóteses, ostenta sua
personalidade singular, distinta daquela dos Estados componentes”.

o a.2.) Multilateral ou coletivo: número de contratantes igual ou superior a


três, podendo ser aberto (a qualquer sujeito de DIP) ou fechado (limitação
imposta para cláusula de adesão).
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2. FONTES DO DIP

2.3.1. CLASSIFICAÇÃO FORMAL

b) Quanto ao Procedimento Adotado

o b.1.) Tratado stricto sensu: procedimento complexo composto por duas


fases: (i) negociação até a assinatura e (ii) assinatura até a ratificação (aprovação
no Congresso Nacional e promulgação interna).

o b.2.) Tratado de forma simplificada (acordo executivo ou troca de notas não


gravosos ao patrimônio nacional): única fase, consistente na assinatura, sem
consentimento do Congresso Nacional, apenas do Chefe do Executivo. Possível no
Brasil? Vide artigo 84, VIII e artigo 49, I, CF/88.
- Parte significativa da doutrina brasileira só considera possível a concretização de
acordos executivos, no sistema jurídico brasileiro, em três situações: (i) acordos
que complementam tratado internacional já existente; (ii) acordos que têm como
finalidade interpretar cláusula de tratado internacional já vigente; e (iii) acordo
que vise estabelecer bases para negociações futuras.
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2. FONTES DO DIP

2.3.2. CLASSIFICAÇÃO MATERIAL


a. Quanto à Natureza das Normas (perda de prestígio**)
o a.1.) Contratuais: por meio deles as partes realizam uma operação jurídica
(por exemplo, acordos de comércio, de aliança, de cessão territorial). Regulam
interesses recíprocos e específicos dos Estados (estipulam regras recíprocas das
respectivas prestações e contraprestações com fim comum). Via de regra, são
bilaterais.
o b.1.) Normativos (law making treaties): por meio deles as partes editam
uma regra de direito objetivamente válida, a fim de codificar o DIP. Geralmente
celebrado por um grande número de Estados e possuem cláusula de adesão.
Exemplo por excelência: Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados.
** Essa classificação anda perdendo o prestígio porque até os tratados-contratos
possuem elementos normatizadores (tais como cláusulas finais – ratificação,
entrada em vigor, possibilidade de denúncia, etc.).

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2. FONTES DO DIP

b. Quanto à Execução no Tempo


o b.1.) Transitórios: perduram no tempo, mas sua execução é feita de forma
instantânea (cessão de territórios, limites de fronteiras, etc.).
o b.2.) Indeterminados: aqueles cuja execução se prostrai no tempo
(cooperação no comércio, proteção dos direitos humanos). É o caso da maioria
dos tratados internacionais.
o b.3) Determinados: aqueles com prazo de duração (Protocolo de Quioto,
com prazo de duração até 2012).

c. Quanto à Execução no Espaço


o Será aplicado a todo o território sujeito àquela soberania.
o Artigo 29, Convenção de Viena (1969): “A menos que uma intenção
diferente resulte do tratado, ou seja, de outro modo estabelecida, um tratado
obriga cada uma das partes em relação a todo o seu território”.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
o ACCIOLY, Hildebrando; NASCIMENTO E SILVA, G. E.; COSELLA,
Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público. 23.ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 2017, p. 152-172

o HUSEK, Carlos Roberto. Curso de Direito Internacional Público.


13.ed. São Paulo: LTr, 2015, p. 82-89

o REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: Curso


Elementar. 13.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 38-57.

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OBRIGADO!

Prof. Dr. Vladmir Oliveira da Silveira


vladmir.silveira@ufms.br
vladmiroliveirasilveira
professorvladmirs

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