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Noções Preliminares do Direito
Internacional Privado
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DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Noções Preliminares do Direito Internacional Privado
Anderson Silva
Sumário
Noções Preliminares de Direito Internacional Privado.....................................................4
1. Introdução...................................................................................................................5
2. Denominação............................................................................................................... 7
3. Objeto.........................................................................................................................8
4. História...................................................................................................................... 11
5. Fontes....................................................................................................................... 12
5.1. Tratados................................................................................................................. 12
5.2. Lei...........................................................................................................................17
5.3. Costume................................................................................................................. 18
5.5. Jurisprudência........................................................................................................ 18
5.6. Doutrina................................................................................................................. 19
6. Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público.................................... 20
7. Conceitos Básicos de Direito Internacional Privado................................................... 20
7.1. Norma Indicativa.................................................................................................... 20
7.2. Qualificação...........................................................................................................22
7.3. Ordem Pública. .......................................................................................................24
7.4. Reenvio..................................................................................................................29
7.5. Fraude à lei.............................................................................................................32
7.6. Questão Prévia.......................................................................................................32
7.7. Direito Adquirido....................................................................................................33
Resumo.........................................................................................................................34
Questões Comentadas em Aula.....................................................................................36
Questões de Concurso...................................................................................................39
Gabarito........................................................................................................................44
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1. Introdução
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O Direito Internacional Privado (DIPRI ou DIPr) é exatamente o ramo do Direito que estu-
da as normas que regulam as relações jurídicas com conexão internacional. Essas normas
cuidam, basicamente, das respostas às três questões acima: conflitos de normas no espaço,
conflitos de jurisdição e cooperação jurídica internacional. Em outras palavras, o DIPRI não
se preocupa com a solução a ser dada às causas com conexão internacional, mas, principal-
mente, com o direito aplicável, além da jurisdição competente e das medidas de cooperação
jurídica internacional.
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Certo.
As normas de DIPRI não se preocupam com a solução da controvérsia ou com conflitos de
normas materiais internas, mas, principalmente, com a identificação do direito que deve ser
aplicado a uma relação jurídica que atrai a incidência de vários sistemas jurídicos.
2. Denominação
A denominação Direito Internacional Privado começou a ser empregada no século XIX.
Foi utilizada pela primeira vez pelo norte-americano Joseph Story em 1834 e consolidou-se a
partir da publicação, em 1843, do livro Tratado de Direito Internacional Privado, do alemão M.
Foelix.
A denominação sempre foi alvo de muitas críticas doutrinárias. Afirma-se que não se trata
propriamente de “Direito”, mas de “sobredireito”, uma vez que as normas de DIPRI não resol-
vem controvérsias, mas apenas indicam as normas a elas aplicáveis.
Também não seria correto chamá-lo de “Internacional”, porque a maior parte das normas
jurídicas estudadas na disciplina é de direito interno.
Nem se cuidaria de Direito “Privado”, pois as normas objeto do DIPRI são de Direito Público,
embora muitas vezes sirvam para apontar o direito aplicável para resolver relações jurídicas de
direito privado.
Errado.
Apesar do nome, o Direito Internacional Privado não é propriamente um direito “Privado”, pois
as suas normas são de Direito Público, embora muitas vezes sirvam para apontar o direito
aplicável para resolver relações jurídicas de direito privado.
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3. Objeto
Não há consenso doutrinário sobre o objeto do DIPRI. Na doutrina alemã e italiana, por
exemplo, o objeto do DIPRI restringe-se ao conflito de normas no espaço. No direito anglo-sa-
xão, o DIPRI tem como objeto o conflito de normas no espaço e o conflito de jurisdições. No
direito francês, o objeto do DIPRI é mais amplo, abrangendo: o conflito de normas no espaço,
o conflito de jurisdições, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro e, às vezes, os
direitos adquiridos na sua dimensão internacional.
No Brasil, há divergência entre os principais autores. O único consenso existente é que o
objeto do DIPRI alcança o conflito de normas no espaço, havendo estudiosos que restringem o
objeto do DIPRI a esse tópico, e outros que o ampliam para alcançar outros.
Jacob Dolinger, por exemplo, tem uma concepção parecida com a francesa a respeito do
assunto. Para esse Professor, o DIPRI (2014: 20- 21):
“(...) abrange o exame de sua nacionalidade, o estudo de seus direitos como estrangeiro, as jurisdi-
ções a que poderá recorrer e às quais poderá ser chamado, o reconhecimento das sentenças profe-
ridas no exterior, assim como as leis que lhe serão aplicadas”
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OBJETO DO DIPRI
Direito alemão e direito italiano Conflito de normas no espaço.
Direito anglo-saxão Conflito de normas no espaço e conflito de jurisdições.
Conflito de normas no espaço, conflito de jurisdições,
Direito francês nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro e, às
vezes, direitos adquiridos.
Conflitos de normas no espaço, conflitos de jurisdição e
Direito brasileiro
cooperação jurídica internacional.
Certo.
Não há consenso doutrinário sobre o objeto do DIPRI. Na doutrina alemã e italiana, por exem-
plo, o objeto do DIPRI restringe-se ao conflito de normas no espaço. No direito anglo-saxão, o
DIPRI tem como objeto o conflito de normas no espaço e o conflito de jurisdições. No direito
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francês, o objeto do DIPRI é mais amplo, abrangendo: o conflito de normas no espaço, o con-
flito de jurisdições, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro e, às vezes, os direitos
adquiridos na sua dimensão internacional. No Brasil, há divergência entre os principais auto-
res. Entendo que a compreensão mais adequada e atual é a de André de Carvalho Ramos, para
quem (2015:3):
Discute-se, ainda, se as normas estudadas pelo DIPRI resolvem conflitos em relações ju-
rídicas de caráter exclusivamente privado ou também podem reger conflitos em relações ju-
rídicas de natureza pública. No Brasil, a doutrina majoritária sustenta que o DIPRI abrange
também relações de direito público, entendimento que é seguido por Pimenta Bueno, Haroldo
Valladão, Irineu Strenger, Jacob Dolinger e André de Carvalho Ramos (DOLINGER, 2014:20; RA-
MOS, 2015:3; RECHSTEINER, 2013:31).
Certo.
No Brasil, a doutrina majoritária sustenta que o DIPRI abrange também relações de direito
público, entendimento que é seguido por Pimenta Bueno, Haroldo Valladão, Irineu Strenger, Jacob
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Porém, não há controvérsia – essa é outra questão – que, uma vez identificado o direito
aplicável à relação jurídica com conexão internacional, o juiz deve também levar em conside-
ração as normas de direito público pertinentes ao caso concreto. Já houve entendimento de
que o juiz do foro não poderia aplicar normas de direito público de direito estrangeiro aplicável
conforme as normas de DIPRI. Todavia, a doutrina pacificou-se no sentido da possibilidade,
tese que restou confirmada pelo Instituto de Direito Internacional, segundo o qual “o caráter
público atribuído a uma disposição legal do direito estrangeiro, designada como direito apli-
cável pela regra de conflito de leis, não representa obstáculos a sua aplicação, sob reserva de
respeito ao princípio da ordem pública” (RECHSTEINER, 2013: 46).
4. História
Os editais dos concursos públicos costumam trazer um ponto sobre a evolução histórica
do DIPRI. Assim, embora não seja um tópico muito cobrado nas provas, convém deixar regis-
tradas algumas informações básicas.
Questões de conflitos de jurisdições ou de normas no espaço começaram a receber im-
portância no final da Idade Média, por meio dos estudos da Escola dos Glosadores sobre os
conflitos de estatutos (statuta), que eram o conjunto de normas jurídicas legais ou costumei-
ras de cada cidade. Assim, durante os séculos XIV a XVIII, desenvolveram-se diversas Escolas
Estatutárias, das quais as mais destacadas foram a italiana, francesa, holandesa e alemã (RA-
MOS, 2015: 428-430).
Mas somente se pode dizer que se iniciou a construção da ciência do DIPRI na primeira
metade do século XIX, quando foram publicadas as obras de três juristas muito influentes: Jo-
seph Story (1779-1845), Friedrich Carl von Savigny (1779-1861) e Pasquale Stanislao Mancini
(1817-1888), que tiveram o mérito de romper com a antiga tradição dos estatutos (RECHSTEI-
NER, 2013: 233).
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5. Fontes
Não é possível avançar sem que sejam tecidas algumas considerações sobre as fontes
do DIPRI, que são os tratados, as leis, o costume, a jurisprudência e a doutrina, sendo que
alguns autores também incluem os princípios gerais de direito, os princípios gerais do Direito
Internacional Privado, os atos das organizações internacionais e o soft law (PORTELA, 2014:
655). A seguir, destacaremos as principais informações sobre os tratados, as leis, o costume,
a jurisprudência e a doutrina.
5.1. Tratados
5.1.1. Tratados no Direito Brasileiro
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Assim, para que o tratado seja completamente incorporado ao direito brasileiro, é impres-
cindível que o Presidente da República, depois de ratificá-lo, expeça um decreto, que o promul-
ga, publica e dá executoriedade. Somente com esse decreto é que o tratado vincula interna-
mente o Estado brasileiro.
O processo de incorporação dos tratados no direito brasileiro é explicado com muita didá-
tica no seguinte trecho da ementa da ADI 1480-MC, de relatoria do Min. Celso de Mello:
O exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos tratados internacionais
e a sua incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo Brasil, de um ato
subjetivamente complexo, resultante da conjugação de duas vontades homogêneas: a do Congresso
Nacional, que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou atos in-
ternacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da República, que, além de poder celebrar esses atos de di-
reito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe - enquanto Chefe de Estado que é - da competência
para promulgá-los mediante decreto. O iter procedimental de incorporação dos tratados internacionais
- superadas as fases prévias da celebração da convenção internacional, de sua aprovação congressio-
nal e da ratificação pelo Chefe de Estado - conclui-se com a expedição, pelo Presidente da República,
de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos que lhe são inerentes: (a) a promulgação do
tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu texto; e (c) a executoriedade do ato internacional,
que passa, então, e somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo interno.
Quanto à hierarquia dos tratados na ordem jurídica brasileira, o STF entendeu, até 1977,
que os tratados (sobre direitos humanos ou não) prevaleciam sobre o direito interno infracons-
titucional, ou seja, tinham status supralegal (Pedido de Extradição n. 7, de 1913; Apelação Cível
n. 7.872, de 1943; Apelação Cível n. 9.587, de 1951). A partir de 1977, com o julgamento do RE
80.004, a Corte Suprema modificou a sua jurisprudência para assentar que os tratados têm a
mesma hierarquia da legislação ordinária.
Contudo, em 2008, ao enfrentar a questão da possibilidade da prisão do depositário infiel,
no julgamento do RE 466343-1/SP, o STF adotou a tese do status supralegal dos TDH.
Na oportunidade, a Corte Constitucional brasileira teve que examinar a compatibilidade
dos arts. 1.287 do Código Civil de 1916, 652 do Código Civil de 2002 e 4º do Decreto-Lei n. 911,
de 1969, que admitiam a prisão do depositário infiel, com os arts. 7.7 da CADH, e 11 do PIDCP,
que não preveem essa possibilidade. A Corte entendeu que os TDH se situam numa posição
especial na ordem jurídica brasileira, abaixo da CRFB, mas acima da legislação, de modo que
as normas legais com eles incompatíveis têm a sua eficácia paralisada. Veja a ementa do
acórdão:
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Nesse julgamento, o Min. Celso de Mello adotou a tese de Flávia Piovesan e de Cançado
Trindade, votando pelo status constitucional de todos os TDH, mas restou vencido.
É importante lembrar que, nesse ínterim, a EC n. 45/2004, incluiu o § 3º no art. 5º da CRFB,
que estabelece que os TDH que forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes a emen-
das constitucionais.
No atual cenário, portanto, os TDH podem ocupar duas posições na ordem jurídica brasi-
leira: status supralegal, se aprovados pelo rito simples, ou status constitucional, se aprovados
segundo o rito especial do art. 5º, § 3º, da CRFB.
Desse modo, recorrendo à famosa figura da pirâmide do ordenamento jurídico, podemos
representar a hierarquia dos TDH da seguinte maneira:
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Letra b.
No julgamento do RE 466343-1/SP, o STF entendeu que os TDH têm uma posição especial na
ordem jurídica brasileira: status supralegal, ou seja, situam-se abaixo da CRFB, mas acima da
legislação.
a) Errada. Os tratados de direitos humanos têm hierarquia supralegal (RE 466343-1/SP).
c) Errada. Segundo o STF, o direito brasileiro não alberga a aplicabilidade imediata dos TDH.
d) Errada. Somente os TDH incorporados pelo rito especial do art. 5º, § 3º, da CRFB, são equi-
valentes às emendas constitucionais.
e) Errada. A assertiva está errada porque nem todos os tratados têm hierarquia supralegal,
somente os que versam sobre direitos humanos.
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criada em 1893, que tem como objetivo principal “a uniformização contínua das regras de di-
reito internacional privado” (art. 1º do Estatuto da Conferência da Haia de Direito Internacional
Privado, de 1951, incorporada pelos Decretos n. 3.832, de 2001, e n. 7.156, de 2010). A Confe-
rência tem, atualmente, oitenta e cinco Membros.
O Brasil é parte de diversos tratados elaborados pela Conferência da Haia, merecendo des-
taque os seguintes:
• Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização de Documentos Públicos
Estrangeiros, de 1961 (Decreto n. 8.660, de 2016);
• Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, de 1980
(Decreto n. 3.413, de 2000);
• Convenção sobre o Acesso Internacional de Justiça, de 1980 (Decreto n. 8.343, de 2014);
• Convenção Relativa à Proteção de Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção In-
ternacional, de 1993 (Decreto n. 3.087, de 1999);
• Convenção sobre a Cobrança Internacional de Alimentos para Crianças e Outros Mem-
bros da Família e o Protocolo sobre a Lei Aplicável às Obrigações de Prestar Alimentos,
de 2007 (Decreto n. 9.176, de 2017).
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Art. 1º A determinação da norma jurídica aplicável para reger situações vinculadas com o direito
estrangeiro ficará sujeita ao disposto nesta Convenção e nas demais convenções internacionais
assinadas, ou que venham a ser assinadas no futuro, em caráter bilateral ou multilateral, pêlos
Estados Partes.
Na falta de norma internacional, os Estados Partes aplicarão as regras de conflito do seu direito
interno.
5.2. Lei
A lei é a principal fonte do DIPRI na maioria dos países. No Brasil, a principal fonte do DIPRI
é o Decreto-Lei n. 4.657, de 1952, outrora chamado de Lei de Introdução ao Código Civil e,
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desde a alteração promovida pela Lei n. 12.376, de 2010, de Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro.
Também há importantes normas de DIPRI no CPC, na Lei n. 9.307/1996 (Lei de Arbitra-
gem), na Lei n. 13.455, de 2017 (Lei de Migração), e na própria Constituição da República Fe-
derativa do Brasil.
5.3. Costume
O costume é uma prática geral, uniforme e reiterada, reconhecida como juridicamente exi-
gível. O costume, por conseguinte, é formado por dois elementos: um material ou objetivo, que
é a prática geral, uniforme e reiterada (chamado de inveterada consuetudo); e outro psicológico
ou subjetivo, que é a convicção de que essa prática é juridicamente obrigatória (opinio neces-
sitatis sive obligationis).
No direito brasileiro, o costume não é verdadeira fonte do direito, mas método integrativo,
pois o art. 4º da LINDB prevê que o costume somente é aplicado nos casos em que a lei é
omissa. Como consequência, pouco espaço lhe é reservado no DIPRI.
Errado.
Pelo contrário, conforme o art. 4º da LINDB, o costume somente é aplicado nos casos em que
a lei é omissa (método integrativo do direito).
5.5. Jurisprudência
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No âmbito internacional, é possível notar uma crescente força normativa das decisões pro-
feridas pelos tribunais internacionais. As decisões da Corte Europeia de Justiça, por exemplo,
influenciam diretamente o DIPRI dos Estados-membros da União Europeia.
Há, infelizmente, poucas decisões de DIPRI na jurisprudência brasileira. Merece destaque
a antiga jurisprudência do STF, da época em que tinha competência para processar e julgar
ações de homologação de sentença estrangeira e pedidos de exequatur de cartas rogatórias, e
do STJ, que atualmente tem essa competência.
5.6. Doutrina
A doutrina costuma ser arrolada entre as fontes do DIPRI, mas, por não possuir status nor-
mativo, não é correto, a nosso ver, a sua inclusão entre as fontes do direito. De toda sorte, a
doutrina tem influenciado a evolução do DIPRI desde o seu surgimento, merecendo destaque
os trabalhos da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado e do Instituto de Direito
Internacional.
Letra b.
São consideradas fontes do DIPRI, os tratados (por exemplo, o Código Bustamante), a lei (es-
pecialmente a LINDB), a doutrina e a jurisprudência. Não são considerados fontes do DIPRI os
contratos internacionais privados, uma vez que não geram normas gerais e abstratas.
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A partir de agora, estudaremos os conceitos com os quais você se deparará durante toda
a sua jornada de estudo do DIPRI.
Já aprendemos que o DIPRI é o ramo do Direito que estuda as normas que regulam as re-
lações jurídicas com conexão internacional. E uma das primeiras questões que surgem diante
de uma relação jurídica dessa natureza é sobre o direito a ela aplicável.
Mas, o que fazer para se identificar o direito aplicável a uma dada relação jurídica com co-
nexão internacional?
A resposta é: recorrer a uma norma indicativa.
As normas indicativas (ou indiretas ou de conexão) são as normas que determinam o direi-
to aplicável à relação jurídica com conexão internacional.
Portanto, a causa de direito privado com conexão internacional é resolvida por meio de
duas operações consecutivas: primeiro, o juiz competente identifica o direito aplicável de acor-
do com a norma indicativa; em seguida, aplica o direito indicado ao caso concreto.
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No nosso exemplo inicial (dois argentinos domiciliados na Colômbia que se casaram Vene-
zuela, onde estabeleceram o primeiro domicílio conjugal, que vieram a residir no Brasil, vindo
um deles a ajuizar uma ação de anulação de casamento em face do outro), a primeira opera-
ção mental a ser feita pelo juiz competente é identificar o direito aplicável. O art. 7º, caput, da
LINDB estabelece que “a lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre
(...) os direitos de família”. Logo, o direito aplicável é o colombiano. A operação seguinte é a
aplicação, pelo juiz brasileiro, do direito colombiano sobre casamento à relação jurídica.
Note que a norma indicativa tem sempre duas partes: o objeto de conexão e o elemento de
conexão.
O objeto de conexão descreve a matéria à qual se refere a norma indicativa, abordando
conceitos jurídicos, como capacidade, nome, direitos reais, entre outros.
A segunda parte da norma indicativa, o elemento de conexão, corresponde ao critério utili-
zado pela norma indireta para determinar o direito nacional aplicável à matéria. São exemplos
de elemento de conexão o domicílio, a nacionalidade, a lex fori, entre outros.
Assim, na norma indicativa contida no art. 7º, caput, da LINDB (“A lei do país em que domi-
ciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capa-
cidade e os direitos de família”), os objetos de conexão são começo e o fim da personalidade,
o nome, a capacidade e os direitos de família e o elemento de conexão é o domicílio.
Por fim, vale registrar que as normas indiretas podem ser uni ou bilaterais. As primeiras
se referem a apenas um direito como o aplicável (geralmente, o direito doméstico). Exemplo:
o art. 10, § 1º, da LINDB, dispõe que “[a] sucessão de bens de estrangeiros, situados no País,
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem
os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
As segundas – bilaterais – não especificam se o direito a ser aplicado é o estrangeiro ou
o doméstico. Exemplo: art. 10, caput, da LINDB, segundo o qual “[a] sucessão por morte ou por
ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que
seja a natureza e a situação dos bens”. As normas indiretas bilaterais são a regra.
Teremos uma aula específica para estudar as principais normas indicativas do direito
brasileiro.
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Certo.
As normas indicativas (ou indiretas ou de conexão) são as principais normas de DIPRI e ser-
vem exatamente para a determinar o direito aplicável à relação de direito privado com conexão
internacional. A norma indicativa tem sempre duas partes: o objeto de conexão e o elemento
de conexão. O objeto de conexão descreve a matéria à qual se refere a norma indicativa, abor-
dando conceitos jurídicos, como capacidade, nome, direitos reais, entre outros. A segunda par-
te da norma indicativa, o elemento de conexão, corresponde ao critério utilizado pela norma
indireta para determinar o direito nacional aplicável à matéria. São exemplos de elemento de
conexão o domicílio, a nacionalidade, a lex fori, entre outros.
7.2. Qualificação
Para que o intérprete recorra à norma indireta apropriada, é necessário que, antes, ele defi-
na que tipo de relação jurídica com conexão internacional está diante dele. Em outras palavras:
é preciso saber qual a natureza jurídica da relação jurídica com conexão internacional para que
o intérprete saiba qual norma indireta utilizar.
Assim, impõe-se saber se aquela relação jurídica tem, por exemplo, natureza contratual,
para que seja aplicada a norma indireta sobre contratos. Esse processo é chamado pela dou-
trina de qualificação.
Desse modo, a qualificação pode ser definida como o processo pelo qual uma relação jurí-
dica com conexão internacional é classificada.
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Certo.
A qualificação pode ser definida como o processo pelo qual uma relação jurídica com conexão
internacional é classificada. É plenamente possível que a lei utilizada para qualificar seja a bra-
sileira (lex fori ou lei do local onde está sendo processada a demanda) e, após ser identificada
a norma indireta adequada ao caso, essa indique o direito estrangeiro como o aplicável.
Mas, para que eu possa qualificar uma relação jurídica com conexão internacional, eu pre-
ciso de uma ordem jurídica como parâmetro, concorda? Uma relação pode ser obrigacional em
uma ordem jurídica e, em outra, ser real. Daí, surgiu a questão: qual o direito aplicável para se
fazer a qualificação?
As principais teorias que surgiram para esclarecer a questão sobre o direito aplicável ao
processo de qualificação foram (RECHSTEINER, 2013: 168):
• Lex fori: o juiz deve qualificar a relação jurídica nos termos de seu próprio direito;
• Lex causae: a relação jurídica deve ser qualificada à luz da do direito estrangeiro, que
deveria ser aplicado tão integralmente como é concebido no ordenamento de origem; e
• Por referência a conceitos autônomos e universais.
O Brasil adota a teoria das qualificações pela lex fori (lei de onde está sendo processada a
demanda). Logo, para saber a natureza de uma relação jurídica com conexão internacional, o
juiz brasileiro deve olhar para o direito brasileiro.
Mas existem duas exceções: os bens e as obrigações.
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Art. 8º Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país
em que estiverem situados.
Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
Por conseguinte, a qualificação dos bens é feita à luz do direito de onde estiverem situados,
e a qualificação das obrigações, pelo direito de onde se constituírem.
Errado.
Os bens e relações a eles concernentes são qualificados pela lei de onde estão situados (art.
8º da LINDB: “Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a
lei do país em que estiverem situados”).
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Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não te-
rão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
Art. 26. (...)
§ 3º Na cooperação jurídica internacional não será admitida a prática de atos que contrariem ou que
produzam resultados incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro.
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Art. 39. O pedido passivo de cooperação jurídica internacional será recusado se configurar manifes-
ta ofensa à ordem pública.
Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão:
(...)
VI – não conter manifesta ofensa à ordem pública.
Art. 216-F. Não será homologada a decisão estrangeira que ofender a soberania nacional, a dignida-
de da pessoa humana e/ou a ordem pública.
Art. 216-P. Não será concedido exequatur à carta rogatória que ofender a soberania nacional, a dig-
nidade da pessoa humana e/ou a ordem pública.
Certo.
No Brasil, a ordem pública é mencionada, entre outros dispositivos, pelo art. 17 da Lei de Intro-
dução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n. 4.657/1942):
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não te-
rão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
É interessante ressaltar que o STF e o STJ sempre entenderam que as decisões estran-
geiras em causas de competência exclusiva das autoridades judiciárias brasileiras violam a
ordem pública brasileira, não podendo, por isso, produzir efeitos no Brasil. Esse entendimento
foi positivado pelo CPC. Confira:
Art. 964. Não será homologada a decisão estrangeira na hipótese de competência exclusiva da
autoridade judiciária brasileira.
Parágrafo único. O dispositivo também se aplica à concessão do exequatur à carta rogatória.
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Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao in-
ventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens
situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do
território nacional.
Certo.
Embora viole a ordem pública brasileira a sentença estrangeira que, em divórcio, separação
judicial ou dissolução de união estável, proceda à partilha de bens situados no Brasil, o STJ
considera legítima a sentença homologatória de acordo celebrado pelos ex-cônjuges quanto à
partilha de bens situados no Brasil. Confira a ementa transcrita a seguir:
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(...)
4. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não obstante o disposto no art. 89, I,
do CPC de 1973 (atual art. 23, I e III, do CPC de 2015) e no art. 12, § 1º, da LINDB, autoriza
a homologação de sentença estrangeira que, decretando o divórcio, convalida acordo
celebrado pelos ex-cônjuges quanto à partilha de bens imóveis situados no Brasil, que
não viole as regras de direito interno brasileiro.
(...)
(STJ, SEC 11.795-EX, Rel. Min. Raul Araújo, Corte Especial, Data de Julgamento:
07/08/2019, Data de Publicação: 16/08/2019)
Antes de concluir o estudo da ordem pública, quero destacar três precedentes importantes
do STJ.
O primeiro é o que o STJ pacificou o entendimento de que “a citação, no procedimento
arbitral, não ocorre por carta rogatória, pois as cortes arbitrais são órgãos eminentemente
privados” (STJ, SEC 8.847/EX, Relator: Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, Data de
Julgamento: 20/11/2013, Data de Publicação: 28/11/2013). Nesse sentido, o art. 39, parágrafo
único, da Lei n. 9.307/1996 (Lei de Arbitragem), dispõe que:
O STJ também decidiu que não ofende a ordem pública a concessão de exequatur para
citar alguém a se defender contra cobrança de dívida de jogo contraída e exigida em Estado
estrangeiro, onde tais pretensões são lícitas (STJ, AgRg na CR 3198-US, Relator: Min. Humber-
to Gomes de Barros, Corte Especial, Data de Julgamento: 30/06/2008, Data de Publicação:
11/09/2008).
Por fim, o STJ já afirmou que a parcialidade do juízo arbitral que emitiu o laudo homolo-
gando viola a ordem pública brasileira (STJ, SEC 9.412/EX, Relator: Min. Felix Fischer, Rel. p/
Acórdão: Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, Data de Julgamento: 19/04/2017, Data
de Publicação: 30/05/2017).
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7.4. Reenvio
O reenvio de segundo grau dá-se quando o DIPRI do país B, já indicado pelo DIPRI do país
A, remete para o direito de um país C (envolve três países):
Por fim, é possível ainda cogitar de um reenvio de terceiro grau, quando o DIPRI do país B,
indicado pelo país A, aponta o direito de um país C que, por sua vez, indica a ordem jurídica do
país D (envolve quatro países):
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Certo.
Como vimos, o reenvio pode ser classificado por graus. O reenvio de primeiro grau ocorre
quando o DIPRI do país A remete para o direito do país B, e o DIPRI deste remete para o país A
(envolve dois países). O reenvio de segundo grau dá-se quando o DIPRI do país B, já indicado
pelo DIPRI do país A, remete para o direito de um país C (envolve três países). Por fim, é possí-
vel ainda cogitar de um reenvio de terceiro grau, quando o DIPRI do país B, indicado pelo país
A, aponta o direito de um país C que, por sua vez, indica a ordem jurídica do país D (envolve
quatro países).
Um dos argumentos favoráveis ao reenvio consiste na ideia de que o juiz do foro deve se
comportar como se comportaria o juiz estrangeiro cuja lei é apontada como aplicável. Assim,
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como o juiz estrangeiro aplicaria o seu DIPRI que, por sua vez, indica o direito do juiz do foro,
este deveria fazer o mesmo e aplicar a sua lei material (DOLINGER, 2014: 364).
Nada obstante, o reenvio não é possível no DIPRI brasileiro, pois a remessa à legisla-
ção estrangeira não alcança as suas remissões a outra legislação. É o que dispõe o art. 16
da LINDB:
Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á
em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei.
Letra a.
O reenvio, também chamado de retorno, remissão, devolução, opção, renvoi (francês) ou re-
mission (inglês), não é admitido no direito brasileiro (art. 16 da LINDB: “Quando, nos termos
dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição
desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei”).
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A fraude à lei (fraus legis) é a prática de manobra legal extraordinária com a finalidade de
evitar a aplicação de determinadas normas, geralmente com a transferência de atividades e
praticando atos no exterior. O principal exemplo mencionado pela doutrina é a realização de
divórcio no exterior, quando a lei interna o proíbe. O direito internacional privado proíbe tal prá-
tica, considerando-a uma forma de abuso de direito.
A consequência da prática de um ato em fraude à lei é a sua ineficácia, ou seja, esse ato
(embora possa permanecer válido) não será considerado para a definição do direito aplicável.
É o que dispõe o art. 6º da Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito Interna-
cional Privado. Confira:
Art. 6º Não se aplicará como direito estrangeiro o direito de um Estado Parte quando artificiosa-
mente se tenham burlado os princípios fundamentais da lei de outro Estado Parte.
Ficara a juízo das autoridades competentes do Estado receptor determinar a intenção fraudulenta
das partes interessadas.
Questão prévia é aquela cuja solução deve preceder necessariamente à da questão princi-
pal. Por exemplo, a qualidade de filho de determinada pessoa deve ser definida antes da análi-
se da sucessão do de cujus.
Existem duas possibilidades para que o juiz determine o direito aplicável à questão prévia.
A primeira é aplicar à questão prévia o mesmo direito que aplicará à questão principal. A outra
é definir o direito aplicável à questão prévia independentemente do direito aplicável à questão
principal.
Não existe regra expressa sobre o direito aplicável às questões prévias. O art. 8º da Conven-
ção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito Internacional Privado, por exemplo, apenas
diz que as questões prévias não devem necessariamente ser resolvidas de acordo com a lei
que regula a questão principal. Veja:
Art. 8º As questões prévias, preliminares ou incidentes que surjam em decorrência de uma questão
principal não devem necessariamente ser resolvidas de acordo com a lei que regula esta última.
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Normalmente, o que o legislador faz é apontar a lei aplicável a aspectos parciais das re-
lações jurídicas. Inexistindo regra específica, a tendência é aplicar à questão prévia o mesmo
direito que será empregado na questão principal.
Certo.
Transcrição do art. 8º da Convenção Interamericana sobre normas gerais de DIPRI: “As ques-
tões prévias, preliminares ou incidentes que surjam em decorrência de uma questão principal
não devem necessariamente ser resolvidas de acordo com a lei que regula esta última”.
O direito adquirido é aquele ao qual uma pessoa faz jus ao preencher os requisitos para a
sua aquisição. O direito adquirido sob a égide de um ordenamento jurídico estatal acompanha
a pessoa em outro Estado e é neste reconhecido, sem o que restaria desrespeitada a própria
soberania do ente estatal onde o indivíduo obteve esse direito. Entretanto, o direito adquirido
não será acolhido se ofender a ordem pública.
Veja o que diz o art. 7º da Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito Inter-
nacional Privado:
Art. 7º As situações jurídicas validamente constituídas em um Estado Parte, de acordo com todas
as leis com as quais tenham conexão no momento de sua constituição, serão reconhecidas nos
demais Estados Partes, desde que não sejam contrárias aos princípios da sua ordem pública.
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RESUMO
O Direito Internacional Privado (DIPRI ou DIPr) é exatamente o ramo do Direito que estuda
as normas que regulam as relações jurídicas com conexão internacional.
A denominação sempre foi alvo de muitas críticas doutrinárias. Afirma-se que não se trata
propriamente de “Direito”, mas de “sobredireito”, uma vez que as normas de DIPRI não resol-
vem controvérsias, mas apenas indicam as normas a elas aplicáveis.
Também não seria correto chamá-lo de “Internacional”, porque a maior parte das normas
jurídicas estudadas na disciplina é de direito interno.
Nem se cuidaria de Direito “Privado”, pois as normas objeto do DIPRI são de Direito Público,
embora muitas vezes sirvam para apontar o direito aplicável para resolver relações jurídicas de
direito privado.
Não obstante suas impropriedades, é praticamente impossível desvencilhar-se da denomi-
nação “Direito Internacional Privado”, porquanto já se encontra consagrada na doutrina nacio-
nal e estrangeira.
Não há consenso doutrinário sobre o objeto do DIPRI. Na doutrina alemã e italiana, por
exemplo, o objeto do DIPRI restringe-se ao conflito de normas no espaço. No direito anglo-sa-
xão, o DIPRI tem como objeto o conflito de normas no espaço e o conflito de jurisdições. No
direito francês, o objeto do DIPRI é mais amplo, abrangendo: o conflito de normas no espaço,
o conflito de jurisdições, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro e, às vezes, os
direitos adquiridos na sua dimensão internacional.
No Brasil, há divergência entre os principais autores. Entendo que a compreensão mais
adequada e atual é a de André de Carvalho Ramos, para quem o DIPRI tem como objeto os
conflitos de normas no espaço, os conflitos de jurisdição e a cooperação jurídica internacional.
As fontes do DIPRI são os tratados, as leis, o costume, a jurisprudência e a doutrina, sendo
que alguns autores também incluem os princípios gerais de direito, os princípios gerais do
Direito Internacional Privado, os atos das organizações internacionais e o soft law (PORTELA,
2014: 655).
As normas indicativas (ou indiretas ou de conexão) são as normas que determinam o di-
reito aplicável à relação jurídica com conexão internacional.
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A qualificação é o processo pelo qual uma relação jurídica com conexão internacional é
classificada.
A ordem pública é o conjunto de normas jurídicas fundamentais de uma ordem jurídica. É
importante registrar que há uma tendência da doutrina moderna de DIPRI relacionar o conteú-
do da ordem pública aos direitos humanos (ARAÚJO, 2018: 100).
O reenvio, também chamado de retorno, remissão, devolução, opção, renvoi (francês) ou
remission (inglês), ocorre quando o direito apontado pela norma indireta aponta outra ordem
jurídica como a aplicável à relação jurídica com conexão internacional.
A fraude à lei (fraus legis) é a prática de manobra legal extraordinária com a finalidade de
evitar a aplicação de determinadas normas, geralmente com a transferência de atividades e
praticando atos no exterior.
Questão prévia é aquela cuja solução deve preceder necessariamente à da questão prin-
cipal.
O direito adquirido, aquele ao qual uma pessoa faz jus ao preencher os requisitos para a
sua aquisição, acompanha a pessoa em outro Estado e é neste reconhecido, desde que não
ofenda a ordem pública.
CONCEITOS BÁSICOS
Normas que determinam o direito aplicável à relação jurídica com conexão
Norma indicativa
internacional.
Processo pelo qual uma relação jurídica com conexão internacional é classifi-
Qualificação
cada.
Ordem pública Conjunto de normas jurídicas fundamentais de uma ordem jurídica.
Ocorre quando o direito apontado pela norma indireta aponta outra ordem
Reenvio
jurídica como a aplicável à relação jurídica com conexão internacional.
Prática de manobra legal extraordinária com a finalidade de evitar a aplicação
Fraude à lei
de determinadas normas.
Questão prévia Aquela cuja solução deve preceder necessariamente à da questão principal.
Aquele ao qual uma pessoa faz jus ao preencher os requisitos para a sua
Direito adquirido aquisição, que acompanha a pessoa em outro Estado e é neste reconhecido,
desde que não ofenda a ordem pública.
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QUESTÕES DE CONCURSO
Questão 17 (ESAF/ESPECIALISTA/ANAC/2016/ADAPTADA) O Direito Internacional Priva-
do é primordialmente estruturado por normas de sobredireito, que estabelecem regras de co-
nexão para a escolha de uma entre as leis em conflito.
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cional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalen-
tes às emendas constitucionais.
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c) Nesse caso, não se aplicam normas de ordem pública, pois se trata de relação jurídica de
direito internacional privado, e não, de direito internacional público.
d) O juiz não deverá aplicar, nessa situação, o direito estrangeiro.
e) A lei brasileira assemelha-se à da Tunísia, razão pela qual esta deverá ser aplicada.
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GABARITO
17. C 29. C 41. C
18. C 30. E 42. E
19. E 31. C 43. C
20. E 32. C 44. E
21. E 33. E 45. C
22. C 34. E 46. E
23. E 35. C 47. C
24. C 36. E 48. C
25. E 37. E 49. E
26. E 38. d 50. E
27. C 39. E
28. E 40. E
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GABARITO COMENTADO
Questão 17 (ESAF/ESPECIALISTA/ANAC/2016/ADAPTADA) O Direito Internacional Priva-
do é primordialmente estruturado por normas de sobredireito, que estabelecem regras de co-
nexão para a escolha de uma entre as leis em conflito.
Certo.
Afirma-se que o DIPRI não é propriamente de “Direito”, mas “sobredireito”, uma vez que as suas
normas não resolvem controvérsias, mas apenas indicam as normas a elas aplicáveis.
Certo.
Apesar de ser chamado de Direito Internacional Privado, a maior parte das normas jurídicas
estudadas nessa disciplina é de direito interno.
Errado.
Apesar de ser chamado de Direito Internacional Privado, a maior parte das normas jurídicas
estudadas nessa disciplina é de direito interno. Além disso, as relações jurídicas tratadas pelas
normas de DIPRI não são estritamente internacionais, como diz na assertiva, mas de direito
interno. Também podemos apontar na assertiva o equívoco de limitar o objeto do DIPRI às re-
lações jurídicas de direito privado, uma vez que as suas normas também abrangem relações
de direito público.
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Noções Preliminares do Direito Internacional Privado
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Errado.
O objeto do DIPRI, de acordo com a doutrina majoritária, abrange: conflitos de normas no es-
paço, conflitos de jurisdição e cooperação jurídica internacional, aqui incluídas a disciplina da
homologação de sentença estrangeira.
Errado.
A aprovação dos tratados não demanda aprovação em dois turnos, nas duas casas. Tal proce-
dimento é aplicável exclusivamente aos TDH na hipótese do art. 5º, § 3º, da CRFB.
Certo.
O STF tem jurisprudência antiga no sentido de que os tratados comuns têm, em regra, hierar-
quia de legislação ordinária (RE 80.007-/RJ, Rel. Min. Antonio Neder, Primeira Turma, Data de
Julgamento: 11/10/1977, Data de Publicação: 31/10/1977).
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Noções Preliminares do Direito Internacional Privado
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Errado.
O STF tem jurisprudência antiga no sentido de que os tratados comuns têm, em regra, hie-
rarquia de legislação ordinária, devendo ser aplicados, em caso de conflito, os critérios tradi-
cionais de conflito de leis no tempo (RE 80.007-/RJ, Rel. Min. Antonio Neder, Primeira Turma,
Data de Julgamento: 11/10/1977, Data de Publicação: 31/10/1977). Desse modo, no caso de
conflito entre tratado comum e lei nacional posterior, esta prevalece, por força do princípio do
lex posterior derogat legi priori.
Certo.
A EC n. 45/2004, incluiu o § 3º no art. 5º do texto constitucional para prever que “os tratados
e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, se-
rão equivalentes às emendas constitucionais”.
Errado.
A lei, e não o tratado, é a principal fonte do DIPRI na maioria dos países. No Brasil, a principal
fonte do DIPRI é o Decreto-Lei n. 4.657, de 1952, outrora chamado de Lei de Introdução ao
Código Civil e, desde a alteração promovida pela Lei n. 12.376, de 2010, de Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro.
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Noções Preliminares do Direito Internacional Privado
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Errado.
O costume internacional é uma prática geral, uniforme e reiterada das pessoas internacionais,
reconhecida como juridicamente exigível. O costume, por conseguinte, é formado por dois ele-
mentos: um material ou objetivo, que é a prática generalizada, reiterada, uniforme e constante
(chamado de inveterada consuetudo); e outro psicológico ou subjetivo, que é a convicção de
que essa prática é juridicamente obrigatória (opinio necessitatis sive obligationis). Não há ne-
cessidade de que a prática e a aceitação sejam unânimes, bastando que sejam gerais.
Certo.
No direito brasileiro, o costume não é verdadeira fonte do direito, mas método integrativo, pois
o art. 4º da LINDB prevê que o costume somente é aplicado nos casos em que a lei é omissa.
Errado.
As fontes do DIPRI são os tratados, as leis, o costume, a jurisprudência e a doutrina, sendo que
alguns autores também incluem os princípios gerais de direito, os princípios gerais do Direito
Internacional Privado, os atos das organizações internacionais e o soft law (PORTELA, 2014:
655).
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Noções Preliminares do Direito Internacional Privado
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Certo.
As fontes do DIPRI são os tratados, as leis, o costume, a jurisprudência e a doutrina. A lei é
a principal fonte do DIPRI na maioria dos países. No Brasil, a principal fonte do DIPRI é o De-
creto-Lei n. 4.657, de 1952, outrora chamado de Lei de Introdução ao Código Civil e, desde a
alteração promovida pela Lei n. 12.376, de 2010, de Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro.
Errado.
O DIPRI busca a indicação a norma nacional aplicável a uma relação jurídica com conexão in-
ternacional entre ordenamentos eventualmente aplicáveis. Embora a disciplina do DIPRI abran-
ja também relações de direito público, as relações reguladas pelo DIPRI são, por excelência,
privadas.
Certo.
As normas indicativas (ou indiretas ou de conexão) são as principais normas de DIPRI e servem
exatamente para a determinar o direito aplicável à relação jurídica com conexão internacional.
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Noções Preliminares do Direito Internacional Privado
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Certo.
A qualificação é o processo pelo qual uma relação jurídica com conexão internacional é clas-
sificada. Trata-se de questão preliminar à identificação da norma indireta (somente é possível
identificar a norma indireta se se souber a natureza da questão colocada) e à própria definição
da jurisdição.
Errado.
A qualificação pode ser definida como o processo pelo qual uma relação jurídica com conexão
internacional é classificada. Mas nem toda qualificação se relaciona às obrigações, podendo
se relacionar a questões de personalidade, capacidade, contratos, bens, família, sucessões
etc.
Errado.
Os bens e relações a eles concernentes são qualificados pela lei de onde estão situados (art.
8º da LINDB: “Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a
lei do país em que estiverem situados”).
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Certo.
Não podem produzir efeitos no Brasil as decisões que violem a ordem pública brasileira (que
abrange a soberania, os bons costumes e a dignidade humana). É o que se extrai, por exemplo,
dos arts. 26, § 3º, e 39, do CPC, no art. 17 da LINDB e nos arts. 216-F e 216-P do RISTJ.
Errado.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que “a citação, no procedimento arbitral, não
ocorre por carta rogatória, pois as cortes arbitrais são órgãos eminentemente privados” (STJ,
SEC 8.847/EX, Relator: Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, Data de Julgamento:
20/11/2013, Data de Publicação: 28/11/2013). Além disso, o art. 39, parágrafo único, da Lei n.
9.307/1996 (Lei de Arbitragem), dispõe que:
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Errado.
As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, somente
terão eficácia no Brasil se não violarem a nossa ordem pública. É o que dispõe expressamente
o art. 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n. 4.657/1942):
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não
terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
Letra d.
A norma jurídica da Tunísia, segundo a qual somente são reconhecidos como filhos os conce-
bidos no curso do matrimônio, viola a ordem pública brasileira e, por isso, não pode ser aplica-
da pelo juiz brasileiro, por força do art. 17 da LIDNB.
a) Errada. A reserva de ordem pública é expressamente prevista no art. 17 da Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n. 4.657/1942):
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não te-
rão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
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b) Errada. A norma jurídica da Tunísia, segundo a qual somente são reconhecidos como filhos
os concebidos no curso do matrimônio, viola a ordem pública brasileira e, por isso, não pode
ser aplicada pelo juiz brasileiro, por força do art. 17 da LIDNB.
c) Errada. A reserva de ordem pública é aplicável às relações jurídicas de direito internacional
privado.
e) Errada. A lei brasileira é diferente da tunisiana, pois a CRFB estabelece que “[o]s filhos, havi-
dos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” (art. 227, § 6º).
Errado.
A melhor forma de definir a ordem pública é como o conjunto de normas jurídicas fundamen-
tais de uma ordem jurídica, havendo uma tendência da doutrina moderna de DIPRI relacionar o
conteúdo da ordem pública aos direitos humanos (ARAÚJO, 2018: 100).
Errado.
A ordem pública é um conceito fundamental do DIPRI. A principal função do conceito de ordem
pública é ser um filtro pelo qual necessitam passar normas, decisões judiciais e atos estran-
geiros para que possam ser aplicados ou reconhecidos no Brasil. Se a norma, decisão ou ato
estrangeiro em geral for incompatível com a ordem jurídica brasileira, não pode ser aplicado.
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Certo.
A principal função do conceito de ordem pública é ser um filtro pelo qual necessitam passar
normas, decisões judiciais e atos estrangeiros para que possam ser aplicados ou reconheci-
dos no Brasil. Se a norma, decisão ou ato estrangeiro em geral apontado pela norma conflitual
for incompatível com a ordem jurídica brasileira, não pode ser aplicado.
Errado.
O reenvio não é admitido no direito brasileiro (art. 16 da LINDB: “Quando, nos termos dos ar-
tigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta,
sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei”).
Certo.
Um dos argumentos favoráveis ao reenvio consiste na ideia de que o juiz do foro deve se com-
portar como se comportaria o juiz estrangeiro cuja lei é apontada como aplicável. Assim, como
o juiz estrangeiro aplicaria o seu DIPRI que, por sua vez, indica o direito do juiz do foro, este
deveria fazer o mesmo e aplicar a sua lei material (DOLINGER, 2014: 364).
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Errado.
A teoria da subsidiariedade estabelece que a lex fori (a lei de onde está sendo processada a
demanda) é sempre subsidiária à lei indicada por qualquer das normas indiretas.
Certo.
O reenvio não é admitido no direito brasileiro (art. 16 da LINDB: “Quando, nos termos dos ar-
tigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta,
sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei”).
Errado.
O reenvio não é admitido no direito brasileiro (art. 16 da LINDB: “Quando, nos termos dos ar-
tigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta,
sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei”).
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Certo.
O reenvio pode ser classificado por graus. O reenvio de primeiro grau ocorre quando o DIPRI
do país A remete para o direito do país B, e o DIPRI deste remete para o país A (envolve dois
países). O reenvio de segundo grau dá-se quando o DIPRI do país B, já indicado pelo DIPRI do
país A, remete para o direito de um país C (envolve três países). Por fim, é possível ainda co-
gitar de um reenvio de terceiro grau, quando o DIPRI do país B, indicado pelo país A, aponta o
direito de um país C que, por sua vez, indica a ordem jurídica do país D (envolve quatro países).
Certo.
O reenvio pode ser classificado por graus. O reenvio de primeiro grau ocorre quando o DIPRI
do país A remete para o direito do país B, e o DIPRI deste remete para o país A (envolve dois
países). O reenvio de segundo grau dá-se quando o DIPRI do país B, já indicado pelo DIPRI do
país A, remete para o direito de um país C (envolve três países). Por fim, é possível ainda co-
gitar de um reenvio de terceiro grau, quando o DIPRI do país B, indicado pelo país A, aponta o
direito de um país C que, por sua vez, indica a ordem jurídica do país D (envolve quatro países).
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Errado.
Não há reenvio quando o direito do país B indica, na mesma hipótese, a aplicação do seu pró-
prio direito material nacional. Somente haveria reenvio se o direito do país B indicasse o direito
do país A ou de um terceiro país como o aplicável.
Errado.
Questão prévia é aquela cuja solução deve preceder necessariamente à da questão principal.
A questão prévia diz respeito à lei aplicável à relação jurídica com conexão internacional, e não
à jurisdição/competência.
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REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Nadia de. Direito Internacional Privado: teoria e prática brasileira. 7ª. ed. rev. atual. e
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018.
CASTRO, Amílcar de. Direito Internacional Privado. 6ª. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: Parte Geral. 11ª. ed. ver. atual. e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2014.
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado: incluindo no-
ções de direitos humanos e direito comunitário. 6ª. ed. ver. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm,
2014.
RAMOS, André de Carvalho. Direito Internacional Privado e seus Aspectos Processuais: a Coo-
peração Jurídica Internacional. In: MENEZES, Wagner. RAMOS, André de Carvalho (Org.). Direi-
to Internacional Privado e a Nova Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Arraes
Editores, 2015.
RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado: teoria e prática. 16ª. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2013.
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ANEXO
DECRETO-LEI N. 4.657, DE 1952 (LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO)
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costu-
mes e os princípios gerais de direito.
(...)
Art. 8º Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei
do país em que estiverem situados.
(...)
Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
(...)
Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira,
ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra
lei.
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de von-
tade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e
os bons costumes.
CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE NORMAS GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL
PRIVADO
Art. 1º A determinação da norma jurídica aplicável para reger situações vinculadas com
o direito estrangeiro ficará sujeita ao disposto nesta Convenção e nas demais convenções
internacionais assinadas, ou que venham a ser assinadas no futuro, em caráter bilateral ou
multilateral, pelos Estados Partes.
Na falta de norma internacional, os Estados Partes aplicarão as regras de conflito do seu
direito interno.
(...)
Art. 6º Não se aplicará como direito estrangeiro o direito de um Estado Parte quando artifi-
ciosamente se tenham burlado os princípios fundamentais da lei de outro Estado Parte.
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Ficara a juízo das autoridades competentes do Estado receptor determinar a intenção frau-
dulenta das partes interessadas.
Art. 7º As situações jurídicas validamente constituídas em um Estado Parte, de acordo
com todas as leis com as quais tenham conexão no momento de sua constituição, serão re-
conhecidas nos demais Estados Partes, desde que não sejam contrárias aos princípios da sua
ordem pública.
Art. 8º As questões prévias, preliminares ou incidentes que surjam em decorrência de uma
questão principal não devem necessariamente ser resolvidas de acordo com a lei que regula
esta última.
Anderson Silva
Juiz federal substituto na Justiça Federal da 1ª Região. Bacharel em Direito pela Universidade Estadual
de Santa Cruz (UESC). Mestrando em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília (UnB).
Ex-procurador da Fazenda Nacional. Ex-analista judiciário. Ex-técnico judiciário. Professor de Direito Inter-
nacional Público e Privado e Direitos Humanos.
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