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CENTRO UNIVERSITÁRIO DOCTUM DE TEÓFILO OTONI

DIREITO

ADRIANA PEREIRA GONÇALVES


ANA GABRIELA FERREIRA AMARAL
CLARA VITÓRIA NASCIMENTO GUIMARÃES

IMERSÃO NA REALIDADE PRISIONAL FEMININA:


UM ESTUDO SOBRE OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS MULHERES DURANTE
A RECLUSÃO NA CIDADE DE TEÓFILO OTONI- MG.

TEÓFILO OTONI
2023
ADRIANA PEREIRA GONÇALVES
ANA GABRIELA FERREIRA AMARAL
CLARA VITÓRIA NASCIMENTO GUIMARÃES

IMERSÃO NA REALIDADE PRISIONAL FEMININA:


UM ESTUDO SOBRE OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS MULHERES DURANTE
A RECLUSÃO NA CIDADE DE TEÓFILO OTONI-MG.

Projeto de Pesquisa apresentado ao curso de


Direito do Centro Universitário Doctum de
Teófilo Otoni, como requisito para aprovação na
disciplina de TCC II, orientado pelo Prof. Marco
Antônio Poubel Ministério Filho.
Área de Concentração: Direito Penal,
Criminologia e Direito Constitucional.

TEÓFILO OTONI
2023
ADRIANA PEREIRA GONÇALVES
ANA GABRIELA FERREIRA AMARAL
CLARA VITÓRIA NASCIMENTO GUIMARÃES

IMERSÃO NA REALIDADE PRISIONAL FEMININA:


UM ESTUDO SOBRE OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS MULHERES DURANTE
A RECLUSÃO NA CIDADE DE TEÓFILO OTONI-MG.

Projeto de Pesquisa apresentado ao curso de


Direito do Centro Universitário Doctum de
Teófilo Otoni, como requisito para aprovação na
disciplina de TCC II, orientado pelo Prof. Marco
Antônio Poubel Ministério Filho.

Teófilo Otoni, de de 2023.

Banca Examinadora:
_________________________________
Orientador
_________________________________
Co-orientador (Opcional)
_________________________________
Membro da Banca
_________________________________
Membro da Banca
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer imensamente à Deus. Sem Ele não teríamos
realizado o sonho de cursar Direito, não chegaríamos até aqui, porque através dEle tivemos
forças para ultrapassar todos os obstáculos e vencer todas as barreiras na busca desse grande
sonho. Em segundo lugar, mas não menos importante, agradecemos às nossas famílias, que
sempre nos deram todo suporte, incentivo, força, amor e carinho durante esses anos fazendo
com que a caminhada fosse mais leve e florida. Aos nossos pais, pilares principais, por
sempre incentivarem na busca pelo conhecimento e a todo momento presentes, terem sido
essenciais para que jamais perdêssemos a força e a coragem de seguir adiante.

Agradecemos ainda a todos os amigos que formamos ao longo desses anos de faculdade, que
sempre estiverem por perto com uma palavra amiga, um incentivo e até mesmo um caderno
para ajudar nos momentos de aflição. Aos professores comprometidos e cheios de novos
ensinamentos que passaram por nossas vidas, que plantaram em nós conhecimento e amor
pela profissão que escolhemos a seguir.
RESUMO

O presente artigo cientifico aborda a experiência das mulheres detidas na cidade de Teófilo
Otoni, Minas Gerais, no sistema prisional. O objetivo principal é analisar os desafios
enfrentados por essas mulheres durante o período de reclusão. A pesquisa baseou-se em
abordagens qualitativas e envolveu entrevistas, observações e análise de documentos. Os
resultados destacam a complexidade da vivência das detentas, revelando problemas
relacionados à superlotação, falta de estrutura, acesso limitado a cuidados de saúde e
educação, bem como a presença de estigmas sociais associados à prisão. Além disso, as
detentas enfrentam obstáculos adicionais, como a separação de suas famílias e a falta de
oportunidades de reinserção social. Os resultados indicam a necessidade urgente de melhorias
nas condições do sistema prisional feminino em Teófilo Otoni, bem como a implementação de
programas de reintegração social e assistência psicossocial para apoiar as detentas na
transição para a vida pós-prisão. Esta pesquisa contribui para a compreensão das questões
enfrentadas pelas mulheres no sistema prisional e destaca a importância de abordar essas
questões de forma holística e humanitária. Em resumo, o estudo realça a necessidade de
reformas no sistema prisional para garantir o respeito aos direitos humanos e a dignidade das
mulheres encarceradas em Teófilo Otoni-MG.

Palavras-Chaves: Direito Penal; Processo Penal; Cárcere Feminino; Lei de Execuções


Penais; Lei de Drogas; Direitos Humanos.
ABSTRACT

This scientific article addresses the experience of women detained in the city of Teófilo Otoni,
Minas Gerais, in the prison system. The main objective is to analyze the challenges faced by
these women during their period of imprisonment. The research was based on qualitative
approaches and involved interviews, observations and document analysis. The results
highlight the complexity of the inmates' experience, revealing problems related to
overcrowding, lack of structure, limited access to health care and education, as well as the
presence of social stigmas associated with prison. Furthermore, inmates face additional
obstacles, such as separation from their families and a lack of opportunities for social
reintegration. The results indicate the urgent need for improvements in the conditions of the
female prison system in Teófilo Otoni, as well as the implementation of social reintegration
and psychosocial assistance programs to support inmates in the transition to post-prison life.
This research contributes to understanding the issues faced by women in the prison system
and highlights the importance of addressing these issues in a holistic and humanitarian way. In
summary, the study highlights the need for reforms in the prison system to guarantee respect
for human rights and the dignity of women incarcerated in Teófilo Otoni-MG.

Keywords: Criminal Law; Criminal proceedings; Women's Prison; Criminal Executions Law;
Drug Law; Human rights.
SUMÁRIO
1. O ENCARCERAMENTO FEMININO

A imersão na realidade prisional feminino é um tema de suma importância e de grande


impacto para o sistema carcerário, devido a precariedade e os desafios enfrentados pelas
mulheres durante o período de reclusão. No contexto do estado de Minas Gerais, os desafios
enfrentados não são diferentes tendo em vista que o encarceramento detém de diversas falhas
quando as questões são relacionadas a este gênero.

Sabemos que os estabelecimentos penais foram projetados arquitetonicamente para o gênero


masculino, na qual dificulta internamente nas condições dignas e humanas no cumprimento da
pena. Além de que a locação não atende às peculiaridades básicas femininas, de forma em que
submetem as detentas a revistas íntimas vexatórias e acarretam no posicionamento de celas
escuras, úmidas e desproporcionais. Outro ponto a ser observado se trata do descaso familiar das
detentas durante o período de reclusão, pois a ausência do contato familiar torna a estadia mais
cruel e solitária, observando ainda que as visitas são extremamente humilhantes, desumanas e
constrangedoras, pois a maioria dos serventuários que trabalham nesses estabelecimentos são do
gênero masculino.

Neste estudo possuímos o objetivo de analisar os desafios enfrentados pelas mulheres no


sistema prisional feminino na cidade de Teófilo Otoni/MG, observando ainda o contexto
histórico a fim de demonstrar os fatores que se tornaram causas das dificuldades atuais,
analisando as condições de vida no sistema prisional na cidade de Teófilo Otoni, incluindo
aspectos como infraestrutura, saúde, alimentação, educação e acesso a serviços básicos,
identificando e compreendendo o perfil das mulheres que adentram nos presídios e
penitenciárias na cidade de Teófilo Otoni e demonstrar a incumbência do Estado dentro do
encarceramento feminino frente à lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984, propondo recomendações
e estratégias para melhorar as condições de vida e reintegração social de mulheres encarceradas,
considerando criação de políticas públicas e programas de capacitação e conscientização.

O presente ainda é uma crítica no tratamento e condições desumanas nas quais as detentas
são submetidas durante a reclusão, e como são desrespeitados todos os direitos estabelecidos
pelo nosso ordenamento jurídico até mesmo pelas cortes internacionais, tendo em vista que
nenhum indivíduo deve ser submetido a isso.
2. A IMERSÃO NA REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL FEMININO

A imersão na realidade do sistema prisional F aborda as características de vida e os


obstáculos enfrentados pelas mulheres durante o período de reclusão. O Estado de Minas
Gerais, como demais Estados brasileiros, possui um contexto histórico marcado pela criação
de entidades prisionais destinadas ao gênero masculino, o que compromete a condição de vida
e a ressocialização das sentenciadas.
Este artigo tem o objetivo de trazer dados atualizados sobre a situação do sistema
prisional feminino na cidade de Teófilo Otoni/MG, um polo regional onde atuam os presentes
pesquisadores, afim de comprovar a tese da necessidade de mudanças nesses locais. E isso
não somente por questões estruturais do sistema prisional feminino, como também na gestão
de recursos a ele destinado.

2.1 Contexto Histórico: Prisão e gênero

No contexto histórico, observa que a imagem da mulher era limitada por papéis pré-
estabelecidos socialmente. No século médio, o radicalismo religioso predominava sobre a
mulher, na visão da igreja como condição de agente do mal, uma vez representante da Eva, a
mulher bíblica que permitiu a entrada do mal no mundo a partir da atenção dada a serpente. A
mulher, no entendimento religioso medieval, era dada ao descontrole da curiosidade, além de ser
voltada à transgressão e vista como a corruptora dos valores civilizados e corretos.
No período historicamente compreendido como “moderno” a mulher se localizava
socialmente entre duas opções de mundo. Em uma opção a mulher seria vista como a “Virgem
mãe”, desconexa dos prazeres sexuais que remetem ao mau, protetora e atenciosa para com os
filhos, reclusa no lar e livre das influencias mundanas que poderiam leva-la a perdição. Na outra
opção, a mulher seria considerada igual à Eva, uma mulher perdida, sedutora, consumida pela
sexualidade e pelo mal, agente das vontades maléficas prejudiciais à sociedade (BRANDEN,
1992:30).
Del Priore (DEL PRIORE, 1993), descreve que ao observar as atitudes da igreja em
relação ao papel que a mulher brasileira desempenhava no período colonial, entende-se que a
importância do matrimonio estabelecido no pela Igreja na sociedade, tinha como objetivo o
fortalecimento enquanto instituição hegemônica. Vale ressaltar que essa estrutura do controle do
matrimonio se interligava com o poder que a Igreja possuía sobre os indivíduos, principalmente
com a posição que defendia a submissão da mulher ao homem. É por essa razão que
enfatizamos que as desigualdades entre homens e mulheres não são tão recentes na história da
humanidade e podem ser encontradas em quase todas as culturas no mundo.
Nesse entendimento, a mulher não era socialmente compreendida como capaz de
cometer crimes. Sob esse ângulo, Franco, (2015, p.10) descreve "em razão de uma imagem
estereotipada da mulher, vista como dócil e incapaz de cometer crimes, por muito tempo,
associou-se a ela tão somente a prática de delitos passionais ou daqueles chamados crimes
contra a maternidade (aborto e infanticídio)".
Seguindo a mesma base de entendimento, Coelho explica que "os crimes que têm como
agente a mulher limitaram-se ao que podemos chamar de crimes de gênero, associados a sua
sexualidade: prostituição, aborto, infanticídio, crimes passionais, quase nunca contra a pessoa e
contra a propriedade" (2013, p. 53). O foco da legislação penal não se voltava à mulher que
cometia delitos e sim, notadamente ao homem, sujeito ativo dominador, hostil e perigoso, o que,
como visto, é fruto de uma construção social baseada em um modelo de dominação simbólica
masculina.
Este fato foi uma condicionante, ao longo do tempo, fazendo com que o Estado não
tenha se interessado em construir e destinar um tratamento diferenciado às mulheres criminosas,
que chegaram a ficar, inclusive, no mesmo presídio que os homens.
Na atualidade, a essência medieval do encarceramento feminino segue presente,
mesmo após a divisão de gênero, foi nítido a diferenças de tratamentos masculinas que tinham
o objetivo de ressocializar o detento, enquanto nas prisões femininas o intuito era converter
essa encarcerada a um modelo de mulher socialmente aceito.
Em um contexto contemporâneo brasileiro um grande marco histórico prisional
ocorreu em 1940 através da reforma no código penal, no qual iniciou assim o surgimento do
encarceramento feminino, instituindo o cumprimento de pena por mulheres em
estabelecimento individualizado. Como Olga Espinoza expõe em sua obra ―A Prisão
Feminina desde um Olhar da Criminologia Feminista, no trecho abaixo transcrito:

Uma vez criada a prisão como instituição, entendeu-


se necessário a separação de homens e mulheres
para aplicar a eles e elas tratamentos diferenciados.
Com essa medida buscava-se que a educação 15
penitenciárias restaurasse o sentido de legalidade e
de trabalho nos homens presos, enquanto, no tocante
às mulheres, era prioritário reinstalar o sentimento
de pudor. (ESPINOZA, 2003, p.52).

Quando nos referimos à palavra cárcere, deparamos com um ambiente no qual as


transgressões de direitos são comuns e indiscutíveis. As penitenciárias brasileiras são
caracterizadas pela sobrelotação, instalações deficientes e acesso limitado à assistência médica e
educação. No que diz respeito às instituições penitenciárias femininas, a situação é ainda mais
grave.
Ao ingressar no sistema prisional, a mulher é deixada em total negligência e isolamento,
tanto por parte da família quanto pelo Estado, que ao estabelecer um cárcere não considerou
suas particularidades, bem como implementa poucos programas governamentais de reintegração
social e ajuda para ex-detentas. Com isso, ocorre uma maior probabilidade de reincidência e,
consequentemente, um completo fracasso na almejada reintegração social.
2.2. Elementos Determinantes Na Criminalidade Feminina

A análise dos elementos determinantes na criminalidade feminina tem ligação com


aspectos sociais, em sua maioria a combinação de alguns fatores, mas com destaque para : o
crescimento da mulher na condição de única provedora do lar e o desemprego. Logicamente o
estudo de um fator não descarta os demais, sendo a combinação entre os mesmos associado ao
vislumbre de uma mudança na sua realidade financeira contribui como agravante para a inclusão
desta mulher na criminalidade.
No brasil segundo dados o IBGE( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 48%
dos lares brasileiros têm mulheres exercendo o papel de chefe de família, recebendo salários
20% menores, se comparados ao dos homens, é também este grupo que mais sofre com o
desemprego cerca de 14,9% enquanto para homens o índice é 12%. Se for considerado os lares
de baixa renda o número proporcional quase dobra chegando a 81,6%. O desemprego é maior
entre as mulheres, o que coloca este gênero em mais um patamar de desigualdade se comparado
com o gênero oposto, e a sua recolocação no mercado de trabalho demora mais tempo para
acontecer.
Buscando prover condições de vida melhores a seus filhos, e em sua maioria com baixa
escolaridade e nenhuma qualificação profissional necessária para ocupar cargos que lhe
proporcione uma independência financeira, muitas veem na criminalidade uma forma de suprir
as suas demandas financeiras. Neste contexto, muitas têm o tráfico de drogas como a principal
porta de entrada para o submundo do crime, como de acordo com dados do Sistema Prisional
Brasileiro que apontam que no ano de 2022, 54% das mulheres que estão encarceradas se
devem pela relação com o tráfico de drogas. Sendo assim, o aumento do encarceramento
feminino como resultado das vias penais de resposta social, não podem ser analisados de forma
separada da realidade socioeconômica do indivíduo.
A desigualdade social compreende diversos tipos de desigualdades: a de oportunidades, a
de resultado, a de escolaridade, a de renda, a de gênero, entre outras. A desigualdade econômica
gera a falta de condições de sobrevivência e a falta de oportunidades tão necessárias para o bom
andamento da vida em sociedade (PACI, 2015).A influência destes fatores no cotidiano deste
grupo, faz com que sua ação criminosa proceda de circunstâncias gravosas determinadas pelo
meio que vive. Como resultado, as jovens são cada vez mais atraídas para o submundo do crime.
As mulheres encarceradas, em geral, são jovens de baixa renda, com filhos e família
dependentes economicamente delas, e a sua ida para a prisão se deu devido ao de tráfico de
drogas, por pequenos furtos e também por assassinatos (QUEIROZ, 2015). Todos os fatores
citados somados a vulnerabilidade social, e a falta de oportunidade colaboram para o
crescimento da criminalidade feminina, mas vale evidenciar que o peso de chefiar uma família e
o desemprego predominam como causas determinantes neste processo.
2.3 Direitos Da Mulher Encarcerada No Sistema Prisional

A princípio, quando uma pessoa está encarcerada por ter sido atribuída a autoria de um ato
considerado crime pela legislação penal vigente, o Estado exerce o seu papel de punir através das
sanções penais. O Estado, única entidade dotada de poder soberano, é o titular exclusivo do direito de
punir (para alguns, poder-dever de punir). Mesmo no caso da ação penal exclusivamente privada, o
Estado somente delega ao ofendido a legitimidade para dar início ao processo, isto é, confere-lhe o jus
persequendi in judicio, conservando consigo a exclusividade do jus puniendi.(CAPEZ,2023, p.16)

A Constituição Federal assegura os direitos e garantias fundamentais, juntamente com a


dignidade da pessoa humana, de modo a garantir um tratamento digno sem preconceitos de nenhuma
origem a todos os cidadãos e cidadãs, e isso independe do seu status quo. Sendo assim, uma mulher
que esteja reclusa tem os mesmos direitos que qualquer outra que não esteja privada da liberdade.
Ademais, a mulher encarcerada possui esta cobertura constitucional dos direitos elencados no artigo 5,
e em especial o dispositivo onde resguarda a presa o cumprimento da pena em estabelecimento penal
distinto do homem. Consequentemente, assegurar que a interna tenha a sua integridade física e moral
respeitados, como previsto na legislação constitucional, também é mais um direito garantido e
reforçado na Cartilha da Mulher Presa do Conselho Nacional de Justiça, como no trecho seguinte
transcrito.

Nenhuma autoridade ou servidor penitenciário pode usar de violência física ou psicológica.


(Cartilha da Mulher Presa, p.11). Mas também existem direitos garantidos pela Carta Magna que são
direcionados a interna, observando a questão de gênero devido às suas especificidades, como a
condição de permanecer com o filho durante o período de amamentação. Você tem direito de
aleitamento ao filho recém-nascido. A Constituição Federal assegura, em seu art. 5o, inciso L, que seu
filho recém-nascido permaneça ao seu lado durante o período de amamentação. Em razão disso, deve
existir na penitenciária ala reservada para as mulheres grávidas e para as internas que estão
amamentando.(Cartilha da Mulher Presa, p.13).

A Lei de Execução Penal também trata este tema, reforçando o cuidado durante a gestação e
sucessivamente no pós- parto, como preleciona Brito (2023).

Em alteração promovida pela Lei n. 14.326/2022 a


atenção à mulher grávida foi reforçada. Desde 2009 a
Lei de Execução Penal assegurava o cuidado pré-natal e
pós-parto da mãe e do recém-nascido e o Código de
Processo Penal veda o uso de algemas durante os atos
preparatórios, durante o parto e no puerpério
consequente (art. 292, parágrafo único). Com a
alteração legal garante-se também que o tratamento
seja humanitário com assistência integral à mãe e ao
recém-nascido. Um tratamento humanitário ou
humanizado significa, dentre outras coisas, a
informação completa e periódica sobre os
procedimentos e condições de saúde, atendimento
individualizado de forma a estabelecer confiança com o
paciente tratando-o pelo nome, empatia pelo caso,
respeito às crenças.(BRITO,2023, p.57).
A LEP estabelece o direito à assistência material para a interna, visando atender a suas
necessidades básicas, ainda que esteja em um estabelecimento penal.A legislação preconiza que o
Estado deverá fornecer alimentação, vestuário e instalações higiênicas ao preso (LEP, art. 12).

Para tanto, é necessário que questões como superlotação, que é um dos geradores de um
ambiente prisional insalubre, seja revisto com atenção, incentivando a criação de políticas públicas
com o intuito de sanar essa defasagem. Essas condições dispostas pelas Regras Mínimas colacionam
procedimentos considerados indispensáveis aos reclusos e nenhum pode ser considerado como regalia
ou luxo. A leitura tranquila dos direitos enunciados evidencia a natureza de minimum de dignidade a
quem perdeu a liberdade.(BRITO,2023, p.56)

2.4 Desafios enfrentados pelas mulheres encarceradas

Os encargos relativos à prisão começam no momento em que esta mulher é


direcionada ao estabelecimento penal, onde não será mais reconhecida pelo nome que consta
em sua certidão de nascimento, mas sim por um número que a ela foi atribuído no sistema
prisional. A exclusão social inerente a sua nova condição, impõe barreiras que a afasta
silenciosamente do convívio familiar, pois agora tanto a detenta quanto a família precisam
respeitar as regras e preencher os requisitos impostos pela Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária (SEAP), que estabelece quantidade de vagas para visitantes,
podendo algumas internas ficarem meses sem a visita de um familiar.

Consoante a essas ocorrências internas comuns ao sistema prisional, resulta muitas


vezes em alterações psicológicas e físicas que ao longo do processo de cumprimento da pena,
podem causar doenças crônicas e graves. Nesse cenário, é essencial que a efetivação das
normas que protegem essas mulheres encarceradas esteja em pleno funcionamento, garantindo
o suporte básico de saúde para a manutenção da sua integridade física e mental, como também
está previsto nas Regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres presas e medidas
não privativas de liberdade para mulheres infratoras (Regras de Bangkok) que tem a
finalidade de dar atenção específica as mulheres.

3. SISTEMA PRISIONAL

3.1. SISTEMA PRISIONAL FEMININO BRASILEIRO

O sistema prisional brasileiro é marcado por um estado contínuo de precariedade, sendo


que este nunca operou de maneira satisfatória. Uma pesquisa realizada pelo World Female
Imprisonment List, no final do ano de 2022, revelou que o Brasil apresenta a terceira maior
população carcerária feminina do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da
China. Com cerca de 40 mil mulheres encarceradas, nos últimos anos o País apresentou um
crescimento exponencial desses números, quadruplicando essa população em apenas 20
anos. Cerca de 45% dessas mulheres se encontram em prisão preventiva, segundo
levantamento realizado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Conforme o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), atualmente o sistema prisional


brasileiro é formado por 798.929 sentenciados com penas privativas de liberdade, sendo
cerca de 49.971 são do gênero feminino e 748.755 do gênero masculino. A cada dia que
passa o encarceramento feminino tem seu mostrado progressivo, mesmo com o
crescimento da população carcerária feminina no sistema prisional, ainda é possível
identificar a carência de informações oficiais e específicas sobre a condição do
encarceramento deste gênero, contribuindo desta forma cada vez mais com a invisibilidade
deste público e reforça os sinais da desigualdade de gênero que permeiam a sociedade
brasileira.

3.2. SISTEMA PRISIONAL FEMININO MINEIRO


O sistema prisional feminino no estado de Minas Gerais enfrenta desafios e questões
significativas que afetam as vidas das detentas. Assim como em muitos outros estados do Brasil,
as prisões femininas em Minas Gerais frequentemente sofrem com a superlotação. Isso resulta
em condições de vida precárias, instalações inadequadas e dificuldades na implementação de
programas de reabilitação. As mulheres encarceradas em Minas Gerais têm um perfil
diversificado, mas muitas delas foram condenadas por crimes relacionados a roubo,
drogas/tráfico de drogas, furto e etc. Um desafio adicional enfrentado pelas detentas é a falta de
políticas específicas de gênero no sistema prisional. A falta de programas de reabilitação
adaptados às necessidades das mulheres, bem como a ausência de assistência adequada às mães
encarceradas, é uma questão crítica. A assistência médica e os cuidados de saúde reprodutiva
também são preocupações, uma vez que muitas mulheres no sistema prisional têm necessidades
específicas nesses aspectos.
A reintegração social das mulheres após a prisão é uma tarefa árdua. A falta de
programas de reabilitação e de apoio à empregabilidade torna mais difícil para as ex-detentas
reconstruírem suas vidas após a liberação. Além disso, a violência de gênero nas prisões é uma
preocupação constante, com relatos de assédio sexual e riscos de segurança enfrentados pelas
detentas.
No entanto, algumas iniciativas de reforma estão em andamento. Organizações da
sociedade civil e defensores dos direitos humanos têm pressionado por mudanças no sistema
prisional feminino em Minas Gerais. Isso inclui o desenvolvimento de programas de reabilitação
mais centrados no gênero, a melhoria das condições de detenção e a promoção de alternativas ao
encarceramento para mulheres de baixo risco.
É importante lembrar que a situação nas prisões femininas pode variar de uma unidade para
outra em Minas Gerais, e as condições e políticas podem evoluir ao longo do tempo. Portanto, a
obtenção de informações atualizadas junto a fontes confiáveis e organizações dedicadas aos
direitos das detentas é fundamental para entender completamente a situação no estado.

3.2.1 Condições De Vida Dentro Das Entidades Prisionais Mineiras

É de conhecimento de toda a sociedade as dificuldades enfrentadas dentro das entidades


prisionais em todo território brasileiro, entretanto, de maneira específica iremos abordar as
dificuldades que são enfrentadas dentro das entidades que comportam o gênero feminino
dentro do Estado de Minas Gerais. Analisar a responsabilidade do Estado em garantir as
condições básicas de vida às detentas que estão em cumprimento de pena dentro desses
estabelecimentos. Pois é de ciência, que desde o momento que o processo se tem como
sentenciado, o único direito restrito é o de liberdade, fato que não altera demais direitos
garantidos pela Carta Magna de 1988 e toda legislação vigente que protege as mulheres
encarceradas durante o período de reclusão.
Trazer para a realidade prisional feminina a assistência que está elencada na Lei de
Execução Penal (LEP) em seu artigo 10, e atender as necessidades básicas de um ser humano
trazendo para o ambiente prisional mais dignidade e menos violações das garantias
constitucionais. A privação da liberdade é a pena imposta pelo Estado como meio de coerção
pelo delito cometido, não cabendo em mesmo patamar outras restrições de direitos quando
essa mulher já se encontra em cárcere. Através do encarceramento o poder estatal busca sanar
uma falha na conduta humana e atender um anseio da sociedade. (especificar)
Podendo ser citado o entendimento de Alexis Brito (2023,15):

A execução penal pressupõe, obviamente, uma pena concreta. E a


pena, para ser aplicada, necessita de um processo. Neste, assim que
apurada a existência do fato e sua autoria, aplicar-se-á a pena
abstratamente cominada para o tipo de crime praticado. Como
consequência, todos os envolvidos no episódio receberão sua parte. A
sociedade: o exemplo; o condenado: o tratamento; e a vítima: o
ressarcimento. (BRITO,2023,15)

Ademais, quando qualquer inciso do artigo 11 da lei 7210/1984 não for cumprido por
negligência estatal, estabelece no ambiente prisional um sentimento de uma nova condenação,
sendo a segunda consequência da primeira.

3.3. PENITENCIARIA DE TEÓFILO OTONI

4. CAPITULO

-ESPECIFIDADES DAS DETENTAS NO BRASIL

-ESPECIFIDADES DAS DETENTAS EM MINAS GERAIS

-ESPECIFIDADES DAS DETENTAS NA PENITENCIARIA DE TEÓFILO OTONI

- COMPARAÇÕES COM OUTROS MODELOS (ESTADOS BRASILEIROS OU OUTROS


PAÍSES)
Soares e Ilgenfritz (2002, p.57) entenderam que a divisão do cumprimento de pena
ocorreu com a intenção de garantir a paz e a tranquilidade nos estabelecimentos prisionais
masculinos, entretanto esta divisão não atendia peculiaridades do gênero feminino pois as
acomodações eram arquitetonicamente projetadas para homens.
Podemos citar o entendimento do Roberto Porto em sua obra - Crime organizado e
sistema Prisional, no trecho abaixo transcrito:

A primeira prisão brasileira foi inaugurada em 1850 e denomina- da Casa de


Correição da Corte, mais conhecida nos dias de hoje como Complexo Frei
Caneca, no rio de Janeiro. Parodiando o modelo de auburn,1 no estado de New
York, famosa por ser a primeira prisão a estabelecer o regime de cela única, a
técnica punitiva aplicada na Casa de Correição da Corte consistia na reabilitação
dos presos atra- vés do trabalho obrigatório nas oficinas durante o dia e o
isolamento celular noturno (PORTO,2008, p 14)
REFERÊNCIAS

BRANDEN, N. A psicologia do amor romântico. RJ: Imago, 1992.

DEL PRIORE, Mary Del. As atitudes da igreja em face da mulher no Brasil colonial. In MARCILIO, Maria
Luiza (org). Família, mulher e sexualidade no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1993.

FRANCO, Nadiel Alves. As múltiplas punições do sistema penitenciário sobre a mulher:


Liberdade, direitos sexuais e reprodutivos. 48 f. Monografia (Curso de Direito) –
Universidade de Brasília, Brasília, 2015.

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