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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 1
2 JUSTIFICATIVA 3
3 OBJETIVOS 9
3.1 Geral 9
3.2. Específicos 9
4 METODOLOGIA DA PESQUISA 10
5 REFERENCIAL TEÓRICO 12
5.1 Humanização do parto
5.2 Políticas públicas voltadas à gestação e incentivo ao parto humanizado
no Brasil
5.3 Evolução histórica das maternidades ( ambiente do nascimento) 12
5.5 Arquitetura hospitalar humanizado
5.6 Aspectos bioclimáticos —
5.6 Maternidade com humanização em Teresina 15
17
REFERÊNCIAS 20
1. INTRODUÇÃO

O nascimento de uma criança é um momento especial e significativo,


que marca o início de uma nova vida e pode vir a ser marco da reestruturação
familiar, social e profissional perante a sociedade. Trata-se de um evento
fisiologicamente complexo, especialmente para a mulher, uma vez que o parto
é uma atividade íntima e familiar, que durante muitas décadas ocorria no
ambiente domiciliar, mediado por mulheres mais experientes conhecidas como
parteiras. Ocorrem simultaneamente dois eventos únicos: para a mulher, o
parto, para o bebê, o nascimento, momento este cheio singularidades e
peculiaridades, e que deve ser realizado com cautela e cuidados específicos
(FERREIRA et al., 2019).
Embora a medicalização do parto cirúrgico dentro da medicina tenha
sido um evento grandemente importante, este tem se tornado um procedimento
médico e não mais um evento fisiológico. Neste sentido, o Ministério da Saúde
tem buscado nos últimos anos humanizar o parto, prestando assistência de
maneira integral e de forma humanizada à mulher, garantindo-lhe segurança,
dignidade e assistência humanizada na gravidez, parto e pós-parto. Deste
modo, cabe ao Sistema Único de Saúde (SUS) o compromisso e a
obrigatoriedade de garantir uma atenção integral à saúde das gestantes
(VENDRÚSCOLO; KRUEL, 2015; BRASIL, 2011).
A assistência à saúde da gestante é tida como oportunidade de fomento
à saúde dela e do bebê, tendo os profissionais de saúde o papel de
mediadores e sendo indispensável a participação efetiva e consciente da
gestante e acompanhante no processo, a fim de zelar por seus direitos e
preferências. O incentivo ao parto natural não tem o intuito de retornar a
métodos antigos ou negar todo o avanço científico, mas que a ciência seja
aliada e esteja em favor da saúde da mulher e do bebê (REIS; PATRÍCIO,
2005).
Neste contexto, a neutralidade do ambiente de parto pode trazer a
sensação de conforto à parturiente, fazendo do ambiente hospitalar uma
ferramenta terapêutica que contribua para a sensação de bem-estar físico da
mãe. Desse modo, o arquiteto é fundamental no planejamento e
desenvolvimento destes ambientes, garantindo que a ambiência atenue as
sensações indesejadas, atendendo às recomendações para esta tipologia tão
complexa sem deixar de lado a visão global da instituição. Torna-se assim, o
profissional de arquitetura, um agente participativo no gerenciamento da
realização de todas as etapas do projeto, bem como na execução deste serviço
(CIACO, 2010; SAMPAIO, 2005).
Arquitetura e humanização do parto devem associar-se
intimamente, no conceito e na prática na elaboração desta proposta
arquitetônica de uma Maternidade em uma cidade no interior do Piauí,
favorecendo o estabelecimento de um ambiente humanizado à gestante e, por
conseguinte, ao bebê, uma vez que, um ambiente humanizado pode minimizar
as tensões inerentes ao momento do parto. Além disto, esta proposta trará a
inclusão de técnicas bioclimáticas e de automação, com a finalidade de realizar
um projeto arquitetônico que atenda às necessidades dos usuários e às
padronizações vigentes.
O intuito deste estudo é desenvolver a proposta arquitetônica de uma
maternidade na cidade de Piripiri que atenda às necessidades das gestantes e
no pré-parto, parto e pós-parto oferecendo um ambiente planejado com áreas
que favoreçam o processo humanizado do parto, seja natural ou cesárea e que
se distanciam em partes da estrutura e ambientação de hospitais tradicionais,
proporcionando ambientes mais aconchegantes. A proposta também contará
com ambientes estruturados para receber os bebês e a rede de apoio da
puérpera, contando ainda com um ambiente de integração e socialização, onde
as mães possam trocar experiências umas com as outras.
2. JUSTIFICATIVA

De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde – OMS, o


número de cesarianas continua a crescer no mundo inteiro e deve continuar
aumentando nas próximas décadas, com as cesáreas representando quase 1/3
dos partos até o ano de 2030. Até o ano de 2018, o Brasil estava em segundo
lugar no ranking mundial de cesarianas, representando estas mais de 50% dos
partos realizados no país, contrariando as recomendações da OMS, de que
este procedimento cirúrgico só deve ser realizado em situações de extrema
necessidade ou que representem risco à vida da gestante ou do bebê (OPAS,
2021; BRASIL, 2018).
No entanto, o Brasil ultrapassa em muito o percentual máximo
recomendado de partos cesarianas que é de até 15%, chegando a 84% no
setor privado e 40% no setor público (BRASIL, 2018). Considerando o número
excessivo de partos cirúrgicos realizados no país e a complexidade deste
procedimento e do pós-operatório, esta pesquisa norteia-se pela defesa do
parto natural e humanizado, visto que trata-se de um processo natural, onde a
mãe tende a sentir-se mais segura e a humanização deste processo garante
mais conforto e bem-estar físico e social para a mãe e para o bebê.

Figura 1 - Gráfico nascidos normal ou cesária em Teresina


Fonte: Elaborado com base nos dados de Fundação Municipal de Saúde
(FMS)

Em 2019, foram realizados 3.986 partos nas maternidades da rede


pública municipal administradas pela Fundação Municipal de Saúde (FMS).
Teresina mantém, atualmente, quatro maternidades, uma em cada zona da
cidade, que seguem as diretrizes da Rede Cegonha. Trata-se de uma série de
cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo,
assim como atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério. Também
pretende garantir às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento
e desenvolvimento saudáveis. Dos 3.986 partos, 2.353 (59%) foram partos
normais e 1.633 (41%) foram cesarianas. O parto natural é o método mais
incentivado pela política da Rede Cegonha.
De acordo com informações obtidas por meio do resultado de uma
pesquisa, realizada em 2010, que avaliou o parecer de 10 puérperas quanto ao
parto humanizado em uma maternidade pública de Teresina-PI, foi
considerável a aceitação deste tipo de procedimento. Todo o atendimento foi
realizado tendo como base o acesso às informações pertinentes, bem como
tendo a liberdade de escolha com relação ao procedimento e à presença ou
não de um acompanhante; dessa maneira, as gestantes se sentiram mais
seguras e tranquilas para realizar o trabalho de parto (MONTE; GOMES;
AMORIM, 2011).
Em contraposição, segundo a pesquisa Mulheres brasileiras e gênero
nos espaços público e privado divulgada no ano de 2010 pela Fundação
Perseu Abramo, 25% das mulheres afirmaram haver sofrido alguma violência
no atendimento ao parto. Essa taxa é evidentemente alta, ainda mais levando
em consideração que se trata de algo novo e pouco debatido e divulgado o que
motivou a Defensoria Pública do estado de São Paulo, com determinação do
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher, a realizar
campanhas com o intuito de orientar juridicamente as mulheres a respeito
dessa violência intitulada como Violência obstétrica (BRASIL, 2014).
As maternidades da Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina
realizaram de janeiro a junho de 2023 o total de 37.735 atendimentos, sendo
que 32.430 foram urgências. Foram realizados também: 2.009 partos normais,
1.621 partos cesarianos, 954 internações para tratamentos clínicos, 447
internações e 674 curetagens. ( Figura 2).
De acordo com a diretora de Atenção Especializada (DAE) da FMS,
Roberta Bert, as maternidades buscam concretizar que o nascimento no
ambiente hospitalar se caracteriza pela adoção de várias tecnologias e
procedimentos com o objetivo de torná-lo mais seguro para a mulher e seu
bebê. Atualmente, a FMS gerência quatro maternidades na capital, sendo
estas: maternidade do Buenos Aires, Maternidade do Wall Ferraz (CIAMCA),
Maternidade do Satélite e Maternidade do Promorar, que atendem emergência
de obstetrícia e ginecologia além de mulheres em processo de abortamento.

Figura 2 - Atendimentos em 2023

Fonte: Elaborado com base nos dados de Fundação Municipal de Saúde


(FMS)

A cidade de Piripiri, que, originalmente, possuía a grafia primitiva


Perypery, possui uma área 1.407,192 km² (IBGE, 2022), é um importante
município brasileiro do interior de Teresina no estado do Piauí (Figura 3),
localizado na Região Nordeste do Brasil. Conforme o Censo Demográfico de
2022, atualmente sua população é estimada 65.450 habitantes (IBGE, 2022),
sendo a 4ª (quarta) cidade mais populosa do Estado do Piauí, com distância de
165 km da capital.

Figura 3 - Localização de Piripiri - PI

Fonte : Wikipédia

Neste sentido, outra questão fundamental que justifica a escolha deste


tema é que a região de Piripiri (PI) não possui um ambiente público de
incentivo e apoio à prática do parto natural ou cesárea, embora o único hospital
público da cidade conte com as políticas de humanização do parto, a estrutura
do local não permite um tratamento mais específico e confortável durante o
parto e pós-parto. Outro desafio, é suprir, de forma humanizada as puérperas
da região em questão, visto que este hospital também atende muitas cidades e
povoados circunvizinhos, municípios como Brasileira, Capitão de Campo,
Domingos Mourão, Batalha, Lagoa de São Francisco e outros. ( Figura 4)
Figura 4 - Localização de Piripiri e circunvizinhos

Fonte : Elaborada pela autora pelo Google Earth Pro 2023

Figura 5 - Hospital Chagas Rodrigues

Foto: Sebastião Silva Neto


Fonte: Ascom Sesapi

O Hospital Regional Chagas Rodrigues (HRCR) (Figura 5), é a unidade


de referência para a macrorregião Litoral e região de saúde Cocais, que possui
23 municípios, e conta com 101 leitos para oferecer atendimento à população.
A unidade possui ainda uma média mensal de 15 mil pessoas atendidas no
hospital.

O HRCR, além das obras de reforma que irão influenciar positivamente


na prestação de serviços para a população da região, atualmente conta com os
serviços de maternidade, pediatria, ortopedia, centro cirúrgico, ultrassonografia,
urgência e emergência, raios X, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e exames
laboratoriais. No setor de maternidade serão quatro salas de parto onde a
mulher terá acolhimento no pré-parto, parto e pós-parto. Segundo o Secretário
de Estado da Saúde, Francisco Costa:

“Podemos falar com muito entusiasmo que aqui será a primeira


maternidade com salas de parto humanizado de acordo com o
que recomenda a portaria do Programa Rede Cegonha do
Ministério da Saúde. Nem na maternidade Dona Evangelina
Rosa temos essa estrutura)”.

Portanto, dentro da temática de assistência social e humanização do


parto, este projeto visa a criação de um ambiente de apoio às gestantes, as
puérperas e também aos bebês, desenvolvendo um projeto amplo que leve em
consideração, especialmente a ambientação, as técnicas bioclimáticas que
visam a melhoria da sensação térmica dentro da edificação e que tem como
consequência a redução do consumo de energia elétrica da edificação.

Além disso a proposta é voltada para uma edificação arquitetônica


totalmente pensada na humanização do parto e no bem-estar dos usuários,
abrangendo a região de Piripiri-PI e povoados vizinhos, inclusive
proporcionando estadia temporária à familiares de gestantes que por ventura
não possam se deslocar às suas cidades ou que permaneçam para auxiliar no
cuidado ao bebê recém-chegado.

Desta maneira será possível proporcionar à gestante e ao bebê mais


conforto, segurança e apoio durante o parto natural, para tanto, a proposta
arquitetônica será desenvolvida utilizando-se de estudos de casos com
proposta semelhantes, no mundo, no Brasil e no Piauí, visando criar uma
maternidade pública de referência no que tange ao parto normal humanizado.
3. OBJETIVOS

3.1 Geral

Propor o projeto arquitetônico de uma maternidade humanizada pública,


na cidade de Piripiri-PI e de apoio aos demais municípios circunvizinhos.

3.2. Específicos
a) Revisar a bibliografia para sustentação teórica da proposição de uma
Maternidade Pública Humanizada para Piripiri, PI;

b) Analisar e compreender as técnicas bioclimáticas para auxiliar na


melhoria da sensação térmica no interior da edificação e por
consequentemente na redução do consumo de energia elétrica.

b) Aplicar os conceitos e normas projetuais à humanização dos espaços.

c) Elaborar programa de necessidades que contemple espaços de


atendimento hospitalar no pré-parto, no parto e no pós-parto, para a mãe
e o bebê;

d) Analisar estudos de casos semelhantes no Mundo, no Brasil e no


Piauí aprimorando assim, o processo de projeto em andamento;

e) Analisar o terreno proposto para implantação do projeto, observando


as questões topográficas e suas limitações.
4. METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia do trabalho foi dividida em duas etapas: na primeira foi


elaborada a monografia sobre arquitetura hospitalar, tendo como enfoque
principal o projeto de uma maternidade humanizada; A segunda etapa foi o
desenvolvimento de um projeto arquitetônico e sua contextualização com o
local. O trabalho desenvolvido na primeira etapa serviu de base para a
elaboração do projeto na segunda etapa do trabalho.

Para o desenvolvimento da primeira etapa, inicialmente objetivando


compreender de que forma a proposta pode aderir a uma assistência
humanizada, automatizada e com técnicas bioclimáticas, a metodologia
utilizada foi de abordagem qualitativa descritiva para que se possibilite
identificar os meios que conduzem a esse resultado. Diante disso, foram
utilizadas como base teórica, pesquisas relacionadas ao tema, propostas e
artigos que trabalharam este mesmo viés, os manuais da Secretaria de Saúde
de Teresina, as exigências do Ministério da Saúde e da Organização Mundial
da Saúde, e legislação municipal vigente. Nessa etapa foram utilizados os
seguintes instrumentos de pesquisa:

a) Pesquisa bibliográfica, em que foram consultados conteúdos


impressos e eletrônicos que continham estudos específicos e
instrumentos legais relativos ao tema, como por exemplo jornais,
revistas, periódicos, livros, dissertações, teses, dentre outros;
b) Levantamento de dados da região a ser implantada, como
legislação municipal vigente e as normas da Secretaria de Saúde
de Teresina - FMS, as exigências do Ministério da Saúde e da
Organização Mundial da Saúde - OMS.
c) Realizou-se visitas à Maternidade Evangelina Rosa na capital de
Teresina-PI, e ao Hospital Chagas Rodrigues no setor de
maternidade no município de Piripiri-PI, com o objetivo de
entender o funcionamento dos mesmos e suas necessidades
quanto à infraestrutura.
d) Realizou-se estudos de casos e foi construído subsídio teórico
para definição do programa de necessidades; relações do
programa, pré- dimensionamento;
e) Foi escolhido e foram levantadas informações sobre o terreno a
ser implantado a maternidade, assim como foi realizada a análise
do seu entorno.
A segunda etapa do trabalho foi a elaboração do projeto
arquitetônico que se dividiu em:

a) Desenvolvimento do projeto em nível de estudo preliminar, que


conterá fluxograma, a definição do partido e do conceito
arquitetônico, estudos de orientação quanto a ventilação e
insolação do terreno;
b) Desenvolvimento do projeto em nível de anteprojeto e de projeto
básico.

c) Elaboração do projeto básico, detalhamento, estudos


volumétricos, bem como memorial justificativo e descritivo.

Tais estudos de caso envolvem um estudo detalhado e extenuante de


determinados objetos, possibilitando que se conheça seu todo profundamente.
Consistindo, assim, em executar a coleta e análise das informações
pertinentes; sendo necessário como premissa para isso que se tenha
seriedade, uma meta traçada, originalidade e congruência (PRODANOV;
FREITAS, 2013).

Desta forma, tem como objetivo contextualizar a importância de


entender e reconhecer as necessidades principais das gestantes no ambiente
hospitalar, identificando as suas particularidades e na qualidade no
atendimento humanizado para que, assim, possa seguir como referência afora.
5. REFERENCIAL TEÓRICO

Este referencial tem como objetivo apresentar uma temática teórica de


um projeto arquitetônico, auxiliando no desenvolvimento de uma maternidade
humanizada. Dividindo tópicos desde a humanização do parto à maternidade
humanizada.

5.1 Humanização do parto

Fisiologicamente o parto representa uma transição, marcada pelo


fim da gravidez e o nascimento de um novo ser. Neste processo, combinam-
se fenômenos mecânicos e fisiológicos que resultam na expulsão do feto pelo
organismo da mãe. Neste contexto, considere-se que o parto possa ocorrer
de maneira natural (parto normal), em ambiente hospitalar (cesárea) ou ainda
que em um ambiente hospitalar, com uma abordagem menos invasiva (parto
humanizado natural) (Figura 6) (FERREIRA et al., 2019).

Figura 6 – Tipos de parto.

Fonte: UFU, 2023. Disponível em:


https://comunica.ufu.br/noticias/2019/03/enfermagem-da-ufu-desenvolve-projeto-
para-reducao-de-cesarianas-desnecessarias.

Considerando a complexidade deste evento fisiológico é


importante que, a então parturiente, receba os cuidados necessários, a fim de
reduzir o estresse gerado pelo trabalho de parto, incluindo a garantia de que a
mãe receba todas as informações necessárias sobre o parto, contrações, tipo
de parto, alimentação entre outras informações. Trata-se de tornar a mãe
uma protagonista neste evento importante de sua vida, tendo autonomia
suficiente para decidir a melhor forma de fazê-lo (CARDOSO et al., 2020;
NASCIMENTO et al., 2018).
Atualmente, o modelo de parto em ambiente hospitalar é deficiente
no que se refere à saúde psicológica e física da mãe, especialmente quando
acontece na rede pública de saúde, sendo influenciada por hierarquia social
de classe, gênero e raça. Além disso, o parto realizado em ambiente
hospitalar não é isento de riscos, estando sujeito à imprudência, negligência e
diversos procedimentos desnecessários, inclusive com violência obstétrica
(MAIA, 2010).
Diante deste cenário, as últimas décadas foram marcadas por
mães que optam pela cirurgia de cesariana ao invés do parto normal em
ambiente hospitalar. Antes indicada apenas para casos de gravidez de risco,
a cesariana tem se tornado a principal escolha de muitas mulheres nos
últimos anos. Com o objetivo de melhorar a qualidade dos serviços prestados,
especialmente no serviço público, o Ministério da Saúde (MS) instituiu o
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH),
tornando-se, no ano de 2003 a Política Nacional de Humanização (PNH)
(BRASIL, 2013).
O programa busca, com suas diretrizes (quadro 1) melhorar o
relacionamento de servidores da saúde e a população assistida pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). Com isso, intensifica-se ainda mais a busca pela
humanização do parto, assim, considera-se a humanização como um ato de
tornar humano, ou seja, dar condições humanas. Com a disseminação da
cultura de humanização do parto a valorização da vida humana é colocada
em pauta, garantindo à mãe e ao bebê os seus direitos fundamentais
(MORAES, 2018).
O processo de humanizar o nascimento de uma criança visa
oferecer serviços de forma mais humana, enxergar as necessidades e
limitações da mãe e do bebê. Neste contexto, humanizar o parto engloba toda
a reorganização de procedimentos obstétricos durante o parto, considerando
as elevadas taxas de cesariana e principalmente a morbimortalidade materna
e perinatal.

Quadro 1 - Diretrizes da Política Nacional de Humanização.

Fonte: Brasil, 2006. Adaptado pelo autor.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a assistência


humanizada ao parto inclui: o direito da mãe em escolher alguém para lhe
acompanhar durante este momento, a garantia da privacidade e do acesso às
informações que achar necessárias, orientação sobre a liberdade de escolher
métodos de alívio para a dor no trabalho de parto assim como escolher a
posição que achar mais confortável e o uso de técnicas de relaxamento entre
outras escolhas (MATEI, 2003)
Nos grandes centros urbanos existe um aumento expansivo das
unidades de saúde que ofertam atendimento humanizado às parturientes ainda
que no SUS, no entanto, as pequenas cidades não possuem recursos
suficientes para oferecer uma assistência humanizada ao parto, uma vez que
nem sempre tem as condições mínimas para receber a mãe em trabalho de
parto. Portanto, estudar a viabilidade da criação de centros humanizados de
assistência ao parto nas pequenas cidades é de grande relevância para a
população de classes sociais menos favorecidas.

5.2 Humanização e arquitetura no ambiente hospitalar

Por muito tempo os hospitais foram considerados locais de abrigo


para peregrinos, ainda que não estivessem doentes. As instalações físicas
eram simples e atendiam aos costumes de cura, geralmente sendo associado
a igrejas ou estalagens. Com o avanço da tecnologia e da medicina, os
hospitais também passaram a ser vistos como locais de esperança,
nascimento e cura, mas a humanização dos espaços físicos ainda continuou
em segundo plano, direcionados apenas ao desempenho das funções
básicas aqui foram destinados.
Por muito tempo não houve preocupação com iluminação natural
ou com melhorias na ventilação, uma vez que esta era considerada uma via
de contaminação, um dos momentos históricos mais marcante para
arquitetura hospitalar foi a construção de um hospital coletivo em Lyon, na
França, chamado de Hôtel-Dieu – Albergue de Deus (Figura 7). O hospital,
pela sua complexa estrutura, apresentava um alto índice de contaminação e
no ano de 1772 passa por uma grande reforma após um incêndio.

Figura – 7 – Instalações físicas do Hôtel-Dieu – Albergue de Deus na França.

Fonte: SILVA, 2019. Disponível em: https://pt.aleteia.org/2019/08/23/a-fascinante-


historia-do-albergue-de-deus-de-paris/.

Toda esta movimentação levou à discussão as altas taxas de


mortalidade dos hospitais, com os procedimentos médicos e as
características físicas dos prédios em que se localizavam, assim, começam a
surgir diretrizes para a construção de hospitais considerando seu aspecto
arquitetônico. Despontam as primeiras discussões sobre hospitais
terapêuticos, com novas propostas hospitalares direcionadas à missão de
curar os doentes nestes ambientes, sendo a estrutura física uma parte
integrante deste processo (LIMA, 2010; BECHIMOL et al., 1990).
Um grande marco para a reorganização das estruturas
hospitalares foi o documento publicado por Florence Nightingale, uma
experiente enfermeira de hospitais militares de campanha que foi requisitada
para instruir e organizar construções hospitalares, instituindo algumas normas
para Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) com princípios e
diretrizes que são utilizadas até os dias atuais (DRAGONOV; SANNA, 2017).
Assim surge a preocupação com a humanização dos ambientes
hospitalares, visando melhorar as condições de saúde e associando-se à
tecnologia para projetar ambientes que promovam o bem-estar de maneira
mais acolhedora e que auxiliem no processo de cura. Neste contexto, surge a
preocupação com a humanização dos espaços de nascimento, voltando a
preocupação para as necessidades da mãe e do bebê, assim como para a
complexidade dos procedimentos realizados (MIQUELIN, 2012)
Tais espaços precisam atender a requisitos específicos de
ventilação, iluminação, utilização de mobiliário e até mesmo a combinação de
cores, garantindo uma sensação de bem-estar, acolhimento e segurança, e
trazendo à memória um ambiente familiar. Arquitetura e humanização devem
compor a construção de um ambiente onde será concebida uma criança, de
maneira prática, atendendo às expectativas materiais e também psicológicas
da mãe e de toda a sua rede de apoio, reunindo qualidades mínimas unindo
conforto, higiene, segurança e bem-estar dos usuários (CIACO, 2010).

5.3 Políticas públicas voltadas à gestação e incentivo ao Parto


Humanizado no Brasil

No Brasil, diversos programas e iniciativas tem como objetivo o incentivo


ao atendimento à gestante e ao parto humanizado, buscando além de atender
as necessidades das gestantes, proporcionar uma experiência mais adequada,
segura e respeitosa. Nesse sentido, alguns programas merecem destaque
como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, lançada em
2004, estabelece os princípios e diretrizes gerais acerca da saúde feminina e
tem por objetivo orientar as ações relacionadas à saúde da mulher de modo
geral. O PNAISM reúne, em um único documento, condutas que vão desde a
prevenção e controle de doenças até o planejamento familiar e pré-natal,
englobando, nesse meio, diversas áreas relacionadas à saúde da mulher
(PNAISM, 2004).
Apesar do PNAISM não ser voltado especificamente ao incentivo à
gestação e ao parto humanizado, contém princípios e diretrizes que estão
diretamente relacionados ao tema, mais especificamente quando destaca a
humanização como diretriz, ressaltando a importância da autonomia da mulher
em todas as fases da sua vida, inclusive durante a gestação e no parto, tendo
ela o direito de fazer escolhas e devendo, para tanto, ser tratada com respeito
e dignidade (PNAISM, 2004).
Ademais, o PNAISM traz como objetivos para melhorar a qualidade dos
cuidados prestados às gestantes e garantindo uma abordagem humanizada e
respeitosa, ações como: o incentivo à atenção obstétrica de qualidade, com
ênfase na humanização e inclusão em casos de aborto inseguro; o
estabelecimento de uma rede de atendimento que garanta assistência eficaz a
gestantes de alto risco; o fortalecimento da capacitação e qualificação dos
profissionais de saúde para humanização no atendimento de mulheres
gestantes e diante situação de aborto. Além desses, impõe como objetivos
ainda, situações práticas como a expansão da rede laboratorial e a garantia do
fornecimento de ácido fólico e sulfato ferroso a todas as gestantes, dentre
outros (PNAISM, 2004).
Outra política pública nacionalmente reconhecida é o Programa de
Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN), lançado em 2000. O PHPN
é uma política totalmente voltada ao parto humanizado, tendo como principal
objetivo aperfeiçoar a qualidade e humanizar a assistência do pré-natal e do
parto. O Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento é voltado para
profissionais de saúde, gestores e demais envolvidos na assistência ao parto,
buscando promover o parto normal bem como a humanização desse processo
(PHPN, 2000).
O PHPN se fundamenta em princípios essenciais, dentre os quais a
garantia do direito de toda gestante a um atendimento digno e de qualidade ao
longo da gestação, no momento do parto bem como durante o período de pós-
parto, inclusive o direito da gestante de saber onde será realizado seu parto.
Além disso, o programa garante que a assistência ao parto e puerpério seja
conduzida de maneira humanizada e segura, seguindo as diretrizes médicas
estabelecidas (PHPN, 2000).
Em 24 de junho de 2011, o Ministério da Saúde por meio da portaria nº
1459, lançou um novo programa para fortalecer a atenção ao pré-natal, parto e
pós-parto, a Rede Cegonha. A Rede Cegonha é uma estratégia que visa
promover a melhoria da atenção à saúde materna e neonatal, com foco na
promoção do parto humanizado e na redução da mortalidade materna e
neonatal, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
A Portaria nº 1459/11 estabelece as diretrizes, objetivos,
responsabilidades e estratégia da Rede Cegonha, bem como os critérios para a
habilitação de Centros de Parto Normal, Casa de Gestantes, Bebê e Puérpera
e as ações específicas para promover a assistência ao pré-natal e parto
humanizados.
A Rede Cegonha baseia-se em alguns princípios fundamentais que
incluem o respeito à proteção dos direitos humanos, a valorização da
diversidade cultural e racial, a promoção da equidade, o enfoque de gênero, a
garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, a participação e mobilidade social,
e a integração com as redes de atenção à saúde materna e infantil em
desenvolvimento nos estados.
Além das retro mencionadas políticas públicas, o Ministério da Saúde
periodicamente edita diretrizes e documentos específicos destinados à
assistência pré-natal e parto humanizado, são exemplos “o Guia do Pré-Natal
do Parceiro” e a “Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal”. O primeiro
tem por objetivo fornecer orientações sobre como envolver os parceiros na
assistência pré-natal e na promoção da saúde materna (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2023).
O segundo, por sua vez, busca estabelecer diretrizes e orientações a
nível nacional para a assistência ao parto humanizado no SUS, elencando
diversas recomendações relacionadas ao parto que vão desde indicação de
apoio emocional, passando por medidas de assepsia, à abordagem
farmacológica ou não à dor. É, portanto, uma ferramenta importante de
humanização do trabalho de parto (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).

História do Espaço da Maternidade


REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de


Humanização - PNH. Brasília: Ed. Ministério da Saúde, 2013c.

FERREIRA, C. M. et al. Percepções de profissionais de enfermagem sobre


humanização do parto em ambiente hospitalar. Portal de Revistas de Enfermagem, v.
20, e41409, 2019.

VENDRÚSCOLO. C. T.; KRUEL, C. S. A História do Parto: do domicílio do hospital; das


parteiras ao médico; de sujeito a objeto. Disciplinarum Scientia. v. 16, n. 1, p. 95-107,
2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Rede Cegonha. Atenção integral à saúde da mulher e da


criança. Estratégia de qualificação da atenção obstétrica e infantil. Brasília: Ministério
da Saúde, 2011

CIACO, R. J. A. S. A arquitetura no processo de humanização dos ambientes


hospitalares. 2010. 150f. Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo da EESC/USP. São Paulo, 2010.

VASCONCELOS, R. T. B. Humanização de ambientes hospitalares:


características responsáveis pela integração interior/exterior. 2004. 117f.
Dissertação (pós-graduação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2004.

BRASIL ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria


Colegiada -RDC Nº 36, 03/06/2008 . Regulamento Técnico para Funcionamento dos
Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal -Junho, 2008.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Taxas de cesarianas continuam


aumentando em meio a crescentes desigualdades no acesso, afirma OMS. Disponível
em:https://www.paho.org/pt/noticias/16-6-2021-taxas-cesarianas-continuam-
aumentando-em-meio-crescentes-desigualdades-no-acesso. Acesso em: 06 Out. 2023.

BRASIL. Cidades e Estados. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


[Piripiri]: IBGE, [2023?]. Disponível
em:https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pi/piripiri.html. Acesso em: 19 out. 2023.
BRASIL. Secretaria de Estado da Saúde. Portal da Saúde:Hospital Regional Chagas
Rodrigues receberá UCINCO para cuidados neonatais. A Unidade irá beneficiar
municípios como Pedro II, Domingos Mourão, Piracuruca, Brasileira entre outros.
[Piripiri]: Secretaria do Estado da Saúde, 08 fev. 2023. Disponível em:
https://portalodia.com/municipios/piripiri/hospital-regional-chagas-rodrigues,recebera-
unidades-para-cuidados-neonatais-373186.html. Acesso em: 19 out. 2023.

UNICEF. UNICEF chama atenção para a importância do trabalho de parto


espontâneo. [S.l], 2017. Disponível em:
<https://www.unicef.org/brazil/pt/media_35978.html>. Acesso em: 19 out. 2023.

PREFEITURA DO ESTADO DO PIAUÍ. Prefeitura de Teresina. Quase 40 mil


atendimentos foram realizados de janeiro a junho nas maternidades da FMS.
Teresina, 14 de junho 2023. 2 figura. Disponível em:
https://pmt.pi.gov.br/2023/07/14/quase-40-mil-atendimentos-foram-realizados-de-
janeiro-a-junho-nas-maternidades-da-fms/. Acesso em: 19 out. 2023.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de
Humanização. HumanizaSUS : documento base para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da
Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 3. ed. –
Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2006. 52 p. : il. color. (Série B. Textos Básicos de Saúde)

Quase 40 mil atendimentos foram realizados de janeiro a junho nas maternidades


da FMS

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